#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

[o inimigo do rei] PARTIDO TRABALHADOR



::txt::Martins Freire Lustrador::
::ntrdç::Tiago Jucá::

Esses dias, Rodrigo "Chaves" Jacobus fez uma de suas costumeiras visitas à redação dO DILÚVIO. Diz ele pra mim: "Mandachuva, te trouxe um presente, umas edições do O Inimigo do Rei, jornal que circulou a partir do final dos anos 70". Guardei o regalo, e deixei pra ler depois, com calma. Não pude deixar de rir já no primeiro sinal de manifestação de intenções do dito cujo: "um jornal antimonarquista", em época que a ditadura nem sonhava em ser a ditabranda. O pau comia até o atual presidente da república, personagem central do texto abaixo, do Lustrador, de setembro de 1979.

Há coisas ditas a 31 anos atrás que ou são proféticas ou são exatamente o contrário. O autor duvida que Lula consiga ter sucesso na criação de um partido somente de trabalhadores, mas já indica as ligações políticas do futuro partido com o MDB, hoje carne e unha da governabilidade.

Há também dentro do texto uma citação da Folha, um comentário hilário do periódico sampaulistano de quem um dia seria oposição "imparcial". Ahh, o tempo, meu amigo, o tempo.




Partido Trabalhador

Não faltasse a série de barbitúricos para adormecer e desviar o trabalhador da luta sindical direta, de enorme importância no momento e um grupo de “profetas illuminados”, inventou mais um.

O tal de partido trabalhador.

O que seja tal ajuntamento, nem os autênticos operários sabem ao certo.

Quando isso afirmamos excluímos, naturalmente, o “grupo de iluminados”, no qual pontifica o sabidíssimo “Lula”.

É através de seus pronunciamentos ou mais certeiramente através de suas “brizoladas”, de que vamos nos apercebendo o que venha ser tal agrupamento político, o denominado PT.

Inicialmente afirmou “Lula”, que o tal partido dos trabalhadores não visava a conquista do poder. Foi um Deus nos acuda, um corre no galinheiro que pega pra capar em chiqueiro de roça.

Seria o primeiro partido do brasil a não querer o poder. Algo assim como a roda quachada.

O “Lula” alertado em relação à “mancada”, muito timidamente retornou à ribalta e, como o menino que fez pipi nas calças na hora de recitar poesia, deu o dito por não dito, e o assunto caiu no esquecimento.

Muitos mais tarde, depois de inúmeras andanças, nas quais não faltaram afirmações de que o PT seria fundado, constituído e dirigido somente por trabalhadores, Luís Inácio deu violentíssima marcha a ré e delta falação, dizendo que alguns componentes do MDB poderiam fazer parte da agremiação política.

A partir desse fato, as águas ficaram muito mais claras. Ora, sabemos que o Luís Inácio não é suficientemente “tapado” para desconhecer que a lei orgânica eleitoral da ditadura em vigor estabelece que para fundação de qualquer partido é necessário um manifesto contando com assinatura de 10% de senadores e mais 10% dos deputados federais o que torna inviável a formação de um partido exclusivamente de trabalhadores.

Evidente que no presente caso teria que contar com a classe burguesa, pois a troco de que iriam deputados e senadores pedir a formação de um partido, senão fosse para se constituir em vanguarda dirigente. Salvo a hipótese de que a lei fosse modificada.

Agora, porém, o trapesista “Lula”, dá seu salto mortal, declarando que “não poderia separar a criação do PT daquele pessoal consequente do MDB que a imprensa chama de autênticos”, e que o PT “só vai aceitar quem não detem os meios de produção, que não são empregadores”. “Os dirigentes sindicais que defendem a formação do PT chegaram a conclusão de que devem participar politicamente por que dentro da atual estrutura sindical já tentaram fazer tudo para melhorar a situação do trabalhador, não conseguindo”. (Folha de São Paulo, 19,08,79).

Os “sábios iluminados” na melhor tradição paternalista, autoritária, confabularam e decidiram, as bases, os companheiros de fábricas, indústria, etc que escutem e acatem.

Estamos vendo como quinze anos de ditadura acabou formando uma série de discípulos proletários, decididos na continuidade do “cale a boca” e do “faça o que mando”.

Entretanto, os ventos que estão soprando nas hostes operárias indicam que os rumos são outros.

Desde a posse do general Figueiredo eclodiram no país 83 greves, envolvendo 1 milhão e duzentos mil operários, muitas delas feitas contra o desejo das diretorias sindicais quase sempre apelegadas e temorosas de perderem os mandatos expresso em assembleias gerais.

Há um trabalho pertinaz a ser executado na esfera sindical, visando à modificação da estrutura fascista, e não será, naturalmente o “Lula”, pessoa interessada nessa luta, pois seus objetivo claro agora é o de resolver seu problema pessoal se candidatando ao cargo de deputado pelo hipotético PT, e assim afastar a ameaça de voltar a ser operário metalúrgico.

E isso será efetivado através do PT. O diabo é que nesse momento de pseudo abertura uma série de partidos estão se autoproclamando como autênticos partidos dos trabalhadores. É o PC do senil Carlos Prestes, o PCBR do ressuscitado João Amazonas, o PTB do gozador Leonel Brizola e o PSB. Todos se proclamando a vanguarda operária. É vanguarda em demasia para tão escassa retaguarda. E é certo que os operários sofridos e curtidos na duríssima luta sindical não embarcarão nessas canoas furadas.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

[cc] O SERTÃO VAI VIRAR MAR



::txt::Carlos Brickmann::

Dizem que Rudolf Hess, por muitos anos o segundo homem da Alemanha nazista, quando morreu foi logo ao inferno, para encontrar-se com Hitler. Diante da pergunta a respeito das coisas na Terra, respondeu: "Führer, o senhor não vai acreditar. Os alemães estão fazendo negócios e os judeus estão fazendo guerra".

Ou, como diria Sebá, o último exilado, grande personagem de Jô Soares, "vocês não querem que eu volte". Pois não é que o Clube Militar promoveu um encontro sobre liberdade de expressão e o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo abrigou uma reunião contra a imprensa?

Está bem, não é "contra a imprensa". É "a favor da democratização da comunicação", contra "a velha mídia", "a imprensa golpista", "os que tentam o golpe midiático", "os jornais que assumiram o papel de partidos políticos de oposição". Em outras palavras, aqueles meios de comunicação que vivem inventando factóides a respeito de irregularidades no governo – factóides tão sem pé nem cabeça que o governo passou uma semana demitindo parentes da ministra-chefe da Casa Civil; factóides tão ridículos que a ministra anterior, Dilma Rousseff, disse que não tinha nada a ver com sua sucessora, e o presidente Lula, além de garantir que foi traído, afirmou que quem tenta se aproveitar de favores oficiais sempre acaba sendo surpreendido e derrubado.

O mais curioso, entretanto, é o que se entende por "democratização da comunicação". O PCdoB, por exemplo, partido comunista que segue a vertente chinesa, será favorável à democratização da comunicação? Há algum país comunista, linha soviética, chinesa, albanesa, norte-coreana, cubana, em que haja essa "comunicação democrática" que nos sirva de exemplo? Dizem que existe comunicação democrática, sim: todos têm acesso à mesma informação. E ai deles se não tiverem.

Mas sigamos o que diz o próprio manifesto que convocou a manifestação: "Vamos dar um basta às baixarias da direita!" Aonde foi parar o arco democrático? PCdoB pode, mas Cláudio Lembo não pode? O evento se proclamou pluripartidário – desde que só participe gente de esquerda. E que é ser de esquerda? Parece que o partido de Marcelinho Carioca, de Gabriel Chalita e de Paulo Skaf é de esquerda, tanto assim que uma representante do PSB fez um discurso muito aplaudido. Parece que o partido de Aldo Rebelo, porta-voz da bancada ruralista no Congresso, é de esquerda, porque foi um dos organizadores da manifestação. Parece que Ney Santos, aquele ex-presidiário que é dono de postos de gasolina, carros Ferrari e patrimônio de R$ 50 milhões, também é de esquerda, porque seu partido, o PSC de Régis de Oliveira (o vice de Celso Pitta), está coligado nacionalmente ao PCdoB e ao PT. Ou talvez não seja, porque em São Paulo apóia o PSDB de Alckmin e Serra. Só mesmo um profundo estudo ideológico poderá resolver o problema.

E, naturalmente, temos o astro maior dessa coligação marxista da linha Groucho: o revolucionário midiático Tiririca, do PR. Seus votos ajudarão a eleger não apenas Valdemar Costa Neto, líder de seu partido, idealizador de sua candidatura, mas também o pessoal do PT, PCdoB, PSC. É isso aí! E Netinho na cabeça, como já comprovaram alguns repórteres e também sua aterrorizada ex-mulher.



O nome das coisas

Há muitos e muitos anos, o grande Saul Galvão dizia que, para saber que o interlocutor era comunista, bastava prestar atenção no que dizia: chamava a Rússia de União Soviética e caboclo de camponês. Hoje a linguagem ficou mais requintada: para identificar um progressista, é preciso observar se chama a imprensa de "mídia", Fernando Henrique de "FHC", oposição de "golpismo", reportagens sobre irregularidades no governo de "factóides" ou "sensacionalismo". Importante: isso vale se as irregularidades ocorrerem no governo federal. Se envolverem governos estaduais de partidos que se opõem ao presidente Lula, não são espúrias: são é escondidas pela mídia, que nada divulga a esse respeito. (A propósito, como é que tomaram conhecimento dessas notícias? Bingo! Pela imprensa).



Cadê o meu?

Alguns colegas foram ainda mais longe do que a "democratização da informação": defenderam, nos acirrados debates provocados pela manifestação contra a imprensa dentro do Sindicato dos Jornalistas, a estatização dos meios de comunicação. OK, para eles deve ser bom: é a melhor maneira de conseguir emprego para quem não o consegue sem QI nem parentes importantes e bem situados na máquina.



Millôr, sempre Millôr

A propósito, a tese de que jornalismo é oposição não é da Associação Nacional de Jornais, nem da "velha mídia golpista": é muito mais antiga. Quem melhor a formulou foi Millôr Fernandes – que enfrentou a ditadura, que não pediu indenização por sua luta, que há muitos e muitos anos é um dos mais brilhantes jornalistas brasileiros: "Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". A imprensa tem de ser crítica, e portanto é objetivamente oposicionista. Mas tem de ser crítica seja Fernando Henrique o presidente, ou Lula, Dilma, Serra ou Marina. Um meio de comunicação pode tomar posição, nas eleições, declarando seu candidato. E, se esse candidato for eleito, será crítico do mesmo jeito.

Não, os meios de comunicação não devem se limitar a noticiar. Devem analisar, devem pesquisar, devem descobrir como é que as coisas acontecem, devem ser críticos. Devem ficar perto das autoridades o suficiente para obter informações e tão longe quanto possível para evitar contaminações. Imparcialidade quer dizer que isso se fará com qualquer governo, seja qual for.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

[cc] REVALORIZAR O PLÁGIO NA CRIAÇÃO



::txt::Critical Art Ensemble::
::plg::Baixa Cultura::

“Pegue suas próprias palavras ou as palavras a serem ditas para serem ‘as próprias palavras’ de qualquer outra pessoa morta ou viva. Você logo verá que as palavras não pertencem a ninguém. As palavras tem uma vitalidade própria. Supõem-se que os poetas libertam as palavras – e não que as acorrentam em frases. Os poetas não têm “suas próprias palavras”. Os escritores não são os donos de suas palavras. Desde quando as palavras pertencem a alguém?”Suas próprias palavras”, ora bolas! E quem é você?”

Não é de hoje que o plágio tem sido considerado um mal no mundo cultural. Normalmente, a palavra é usada para designar algo francamente ruim, um “roubo” de linguagens, ideias e imagens executado por pessoas pouco talentosas que só querem aumentar sua fortuna ou seu prestígio pessoal. No entanto, como a maioria das mitologias, o mito do plágio pode ser facilmente invertido. Não é exagero dizer que as ações dos plagiadores, em determinadas condições sociais, podem ser as que mais contribuem para o enriquecimento cultural.

Antes do Iluminismo, por exemplo, o plágio era muito utilizado na disseminação de ideias. Um poeta inglês poderia se apropriar de um soneto do poeta italiano Francesco Petrarca, traduzi-lo e dizer que era seu. De acordo com a estética clássica de arte enquanto imitação, esta era uma prática aceitável e até incentivada, pois tinha grande valor na disseminação da obra para regiões que de outro modo nunca teriam como ter acesso. Obras de escritores ingleses que faziam parte dessa tradição – Geofrey Chaucer, Edmund Spenser, Laurence Sterne e inclusive o todo-poderoso Shakespeare – ainda são parte vital de uma tradição inglesa, e continuam a fazer parte do cânone literário até hoje.

No oriente, a idéia do plágio é ainda mais disseminada. O plágio é parte do processo de aprendizado. Todos começam a escrever, calcular, dançar e se socializar por meio da imitação e da cópia. A estrutura social, da mitologia à autoajuda, é perpetuada pela reprodução. Mesmo entre os criativos são raros os músicos, escritores ou pintores que não tenham no plágio seu ponto de partida.



Ao mesmo tempo em que a necessidade de sua utilização aumentou com o passar dos séculos, o plágio foi, paradoxalmente, sendo jogado na “clandestinidade”, acusado de ser um crime de má fé contra à sobrevivência dos autores. Passou, então, a ser camuflado em um novo léxico por aqueles desejosos de explorar essa prática enquanto método e como uma forma legitimada de discurso cultural.

Assim é que, durante o século XX, surgem práticas como o ready-made, colagens, intertextos, remix, mashup, machinima, detournement, todas elas representando, em maior ou menor grau, incursões de plágio. Embora cada uma destas práticas tenha a sua particularidade, todas cruzam uma série de significados básicos à filosofia e à atividade de plagiar, pressupondo que nenhuma estrutura dentro de um determinado texto dê um significado universal e indispensável.

A filosofia manifestada nestas ações ainda hoje subversivas é a de que nenhuma obra de arte ou de filosofia se esgota em si mesma; todas elas sempre estiveram relacionadas com o sistema de vida vigente da sociedade na qual se tornaram eminentes. A prática do plágio, nesse sentido, se coloca historicamente contra o privilégio de qualquer texto fundado em mitos legitimadores como os científicos ou espirituais. O plagiador vê todos os objetos como iguais, e assim horizontaliza o plano do sua ação; todos os textos tornam-se potencialmente utilizáveis e reutilizáveis.

[o inimigo do rei] MILLÔR PERGUNTA PRA FRANCIS



::prgnt::Millôr Fernandes::
::rspst::Paulo Francis::
::chrg::Duke::

Millôr - Como você sabe (sabe?) nossos ministros se dividem em corruptos, incompetentes, cínicos e pura e simplesmente estúpidos. Tendo que formar seu gabinete no dia em que chegar ao Supremo Poder, e sem opção, que qualidade, das enumeradas acima, você preferiria? Cite nomes.

Francis – Se eu chegasse algum dia ao poder supremo eu decretaria a dissolução do Estado e renunciaria. Há quem diga que resulte em bagunça. Duvido que as pessoas pelo processo de tentativa e erro fossem capazes de nos infligir o que Estados nos infligem. Poucos dias antes de sair dos EUA, vi um juiz da Flórida passando pena de morte num cara, Theodore Bundy, acusado de estuprar e matar 32 jovens. Parece que o cara é culpado, e papa fina, se defendeu a sí próprio, não é o habitual negro ou destituídos hispânicos. E Bundy é nome de aristocrata. Não é parente dos Olundas. Ainda assim, ao ver a cara do juiz anunciando a sentença, a satisfação sádica do puto que me deu engulhos. Nenhum ser humanos pode ter poder sobre o outro, que se desumaniza e desumaniza o próximo. Sei que é utopia pretender o anarquismo, mas o que aí está me enoja tanto que acho que ser negativo é a melhor forma de ser positivo. Agora, se você quer formar mesmo um governo tu fica com a metade (te dou as três pastas militares) e eu com a metade (Fazenda minha).



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

[over12] EU SUJO A SUA CARA

::txt::Arlei Arnt::

Uma ótima campanha contra a sujeira causada pelo circo eleitoral. Não há ideias discutidas, nem projetos propostos. O candidato acredita, e com razão, pois você vota nele depois, que nomes, siglas e números são o suficiente pra atrair a minha simpatia por ele. Os números estão em toda parte. Eleição é número. Só isso interessa. Você duvida? Pergunte a urna, então. (pensamento em voz alta: a urna poderia ter um 0800 pra gente reclamar).

O circo é montado pra durar o dia inteiro. Você acorda cedo, liga a televisão pra ver o jornal. Pesquisa Datafoia e seus últimos números! Vai pro trampo, liga o rádio, horário político, o candidato diz ligeiro uma ou duas frases de efeito, e repete umas três vezes o número. 171, pra senador, vote 171. Na rua, placas com números. Pessoas entregam santinhos, aqueles papéis, saca, que vem com os números do demônio.

A noite, em casa, o circo vem pela TV. Jornais analisam o crescimento numérico de um e a derrocada de outro. Mais horário político. Debate. 3, 2, 1... candidato, o seu tempo acabou.

assista o vídeo da campanha abaixo ou clique aqui

[noéspecial] O CARÁTER REVOLUCIONÁRIO DO CANGAÇO



::txt::Tiago Jucá Oliveira::

Que aspectos de revolução tem os cangaceiros ? Como indivíduos, adverte Eric Hobsbawm, em “Bandidos”, são “menos rebeldes políticos ou sociais, e menos ainda revolucionários, do que camponeses que se recusam à submissão, e que, ao fazê-lo se destacam entre seus companheiros; excluídos da carreira habitual que lhes é oferecida, são forçados à marginalidade e ao crime”.

Os cangaceiros, em grupo, “representam pouco mais do que sintomas de crise e tensão na sociedade em que vivem; não constitui um programa para a sociedade camponesa, e sim uma forma de auto-ajuda, visando escapar dela, em dadas circunstâncias. Exceção feita à sua disposição ou capacidade de rejeitar a submissão individual, os bandidos não tem outras ideias senão as do campesinato de que fazem parte. São ativistas, e não ideólogos ou profetas dos quais se deve esperar nova visões ou novos planos de organização política”, define Hobsbawm.



De acordo com Rui Facó, “eram elementos ativos de uma transformação que prepara mudanças de caráter social, que subvertem a pasmaceira imposta pelo latifúndio durante séculos, provocam choques de classes, lutas armadas”. Segundo Facó, autor de “Cangaceiros e Fanáticos”, o cangaço não era ainda “a revolução social, mas são o seu prólogo”, muito menos uma luta pela terra, mas “uma luta em função da terra”.

Para Hobsbawm, “uma vez que os horizontes dos bandidos são estreitos e circunscritos, como os do próprio campesinato, os resultados de suas intervenções na História talvez não sejam o que eles esperavam”. Talvez “o oposto daquilo que esperavam”, o que não faz do banditismo “uma força histórica menor”.



No âmbito cultural, o cangaço é força constante há várias décadas. O Movimento Manguebit, surgido em Pernambuco nos anos 90, causou uma revolução na música brasileira, ao misturar os tambores de maracatu com riffs de guitarra, mangue com antena parabólica, caranguejos com cérebro, samba com noize. A sonoridade e a estética tinham discurso. A letra de “Monólogo ao Pé do Ouvido”, faixa inicial do primeiro álbum de Chico Science & Nação Zumbi, 'Da Lama ao Caos”, introduz heróis rebeldes pra embasar a novidade artística que o movimento propõe:

“Modernizar o passado/ é uma evolução musical/ cadê as notas que estavam aqui/ não preciso delas/ basta deixar tudo soando bem aos ouvidos/ Viva Zapata!/ Viva Sandino!/ Viva Zumbi!/ Antônio Conselheiro/ todos os Panteras Negras/ Lampião, sua imagem e semelhança/ eu tenho certeza eles também cantaram um dia”. Na música que vem na sequência, “Banditismo por uma questão de classe”, compara a violência do passado sertanejo com o presente suburbano:

“Oi sobe morro, ladeira, córrego, beco, favela/ a polícia atrás deles e eles no rabo dela/ acontece hoje, acontecia no sertão/ quando um bando de macaco perseguia Lampião/ E o que ele falava outros ainda falam/ 'Eu carrego comigo: coragem, dinheiro e bala'/ em cada morro uma história diferente/ que a polícia mata gente inocente/ e quem era inocente hoje já virou bandido/ pra poder comer um pedaço de pão todo fodido”.

A influência do cangaço sobre o imaginário popular e a cultura nordestina é um dos pilares do movimento que revolucionou alguns conceitos artísticos na final do breve século passado. Como diria Chico, “banditismo por pura maldade, por necessidade, por uma questão de classe”. A ruptura não foi somente na estética. O manguebit “roubou” a cena. E da lama, nos trouxe o caos.

*este texto pode ser plagiado.

domingo, 26 de setembro de 2010

[agência pirata] VOCÊS PRODUZEM, NÓS GANHAMOS!



::txt::Waldemar Rossi::

A euforia toma conta do mercado financeiro e a mídia nos mostra isso como uma grande vitória do país. Muita gente, desabituada a ver as notícias com olhos críticos, acaba por recebê-las com um grande sorriso nos lábios. Segundo a crença popular, cuja opinião é formada pelos meios de comunicação, isso é um sinal de que o país caminha certo e que nosso povo, finalmente, "terá paz e sossego na vida", como se canta durante a passagem do dia 31 de dezembro para o primeiro de janeiro. Desabituado a acompanhar no dia a dia o "vai e vem da valsa" financeira, não percebe que isto é um mero jogo fiscal e que quem ganha é exatamente quem vive como urubu que se nutre da carniça dos outros.

No último dia 19 a imprensa nos revelou que grandes empresas investiram 12 bilhões de dólares no país, entre janeiro e maio, na ciranda financeira dos altos juros que nosso governo garante e que são, segundo a mesma imprensa, os juros mais altos de todo o planeta.

A idéia que passa pela cabeça do povo é que a entrada de mais dinheiro no país significa mais produção, mais emprego e melhores condições de vida para todos. Infelizmente, inúmeros militantes partidários crêem que isto é bom para o país ou simplesmente repassam a "boa nova" como mérito do governo, até porque estão encastelados em gabinetes de parlamentares e se vêem forçados a aceitar a versão dos chefes, que lhes garantem uma renda mensal, também tirada do bolso do povo a quem enganam.

Muito ruim para o povo que vai se alimentando da ilusão. Não sabem que o enorme lucro que tais empresas financeiras obtêm da noite para o dia é fruto da espoliação aplicada em cima do próprio povo; que em vez de gerar mais desenvolvimento e distribuição de renda o que tais investimentos fazem é retirar lucro daquilo que é produzido pelos que trabalham; que o governo compra esses dólares com "papéis" oficiais, pagando os tais juros mais altos do planeta, e que esses dólares são aplicados no criminoso "superávit primário", que por sua vez serve para pagar os serviços da dívida pública, sem, porém, fazê-la baixar. Até pelo contrário, porque a dívida pública continua crescendo a passos de elefantes e velocidade de guepardo.

Em ano eleitoral, tudo o que se pode usar para alavancar candidaturas é usado e tido pelos espertos como válido, num condenável raciocínio de que os fins justificam os meios. Fala-se muita mentira e outro tanto de meias verdades para enganar os menos informados. Assim, o governante de plantão é tido como um estadista porque se locomove com desenvoltura no cenário internacional. E como não é nada bobo, e até muito "raposa", aproveita dessa popularidade plantada pelos meios de comunicação para se legitimar.

Mal compreende a maioria dos brasileiros que tal popularidade é também, e muito, fruto de um belo plano do capital nacional e internacional para garantir sua continuidade (seja com "A" ou com "B"), para que não se mate "a galinha de ovos de ouro" dos juros e da dívida eterna. Afinal, como nos informou o próprio presidente, "nunca antes neste país os ricos ganharam tanto dinheiro como neste governo". Lembram-se desta frase?

"Há dezesseis anos que faço viagens internacionais para ‘vender’ Brasil e essa é a primeira vez que venho exclusivamente para trabalhar renda fixa" (altos ganhos com juros assegurados), relatou Dalton Gardman, responsável pela área de pesquisa em renda fixa do Bradesco. Precisa dizer mais?

Pois é isto o que pensa o capital. Os donos do dinheiro querem e planejam para que aconteça: os povos de países como o Brasil devem trabalhar e produzir ao máximo, pagar bons impostos porque essa é a fonte dos nossos interesses.

Nós produzimos e eles faturam às nossas custas! E o povo torce por "S" ou por "D" chegar ao governo!

[pedeéfe] A SERENÍSSIMA REPÚBLICA

Machado de Assis - A Sereníssima República

sábado, 25 de setembro de 2010

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: 5) Defesa territorial



::txt::Eric P. Duarte::

5) Defesa territorial

Uma preocupação recorrente é a hipótese que caso uma nação se torne anarquista, viria um Estado vizinho e tomaria para si este novo território anarquista.

Suponhamos que um criminoso tenha diante dele uma fazenda com muitos gados, cercas, plantações organizadas, solo fértil, etc; e logo ao lado haja uma floresta selvagem, com árvores, mato, plantas e animais dos quais ele não tem o menor conhecimento. O que ele faria, invadiria a fazenda matando alguns poucos fazendeiros e tomaria posse da estrutura criada pelos fazendeiros previamente? Ou será que ele entraria na floresta, cortaria milhares de árvores, retiraria quilômetros de mato, fertilizaria uma área imensa de terra infértil, expulsaria centenas de animais selvagens e compraria o próprio gado? A resposta é óbvia.

O mesmo aconteceria caso uma nação qualquer se tornasse anarquista. O que é que o Estado vizinho iria invadir? Não haveria fronteiras na anarquia, não haveria um sistema tributário para se tomar posse, não haveria um congresso, um palácio real, um senado, um exército, não haveria como saber quem tem armas e quem não tem. A anarquia seria como uma floresta selvagem, enquanto que os Estados vizinhos seriam (e já são) como fazendas, tendo como gado os súditos pagadores de impostos, domesticados e desarmados, a ordenha como um sistema tributário organizado, o solo fértil como a mídia e as escolas estatais, e assim por diante.

Os bens na anarquia seriam super protegidos, teriam preços extremamente competitivos e ainda estariam livres das burocracias estatais. Valeria muito mais à pena para os Estados vizinhos a realização de trocas voluntárias com os anarquistas do que o desperdício de rios de dinheiro em invasões.

Não seria nem viável e nem vantajoso que um chefe de Estado invadisse uma anarquia.

Mesmo que houvesse um chefe de Estado insano e sedento por sangue que quisesse exterminar todos os anarquistas, não haveria nada que impedisse os anarquistas de criarem sistemas voluntários de defesa coletiva, analogamente àqueles oferecidos pelas seguradoras do item “As leis voluntárias”. Certamente que qualquer programa de segurança territorial na anarquia teria inúmeras restrições e fiscalizações de firmas independentes, pois os consumidores na anarquia não seriam tão tolos quanto são os atuais “consumidores” estatistas

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

[agência pirata] POR UM PINGO DE SERENIDADE



Manchete 1 da edição do jornal carioca Extra desta sexta-feira: "Bonito, hein, Lula... - Essa é a manchete para os que acham que o dever da imprensa é fiscalizar o governo..."

Manchete 2: "Lula é bonito - Essa é a manchete para os que acham que o papel da imprensa é bajular os donos do poder..."


::txt::Eugênio Bucci::

Por iniciativa pessoal do presidente da República, a imprensa vai se convertendo em ré nesta campanha eleitoral. Nos palanques, ele vem investindo agressivamente contra ela. Diz que vai derrotá-la nas eleições. Lula grita, gesticula, fala com muita virulência. Por que será?

É difícil de entender. Ele sairá consagrado de seus dois mandatos. A aprovação popular que o eleva às alturas é um feito sem precedentes. O clima no País é de otimismo. Os indicadores econômicos, em sua maioria, atestam expansão, crescimento, solidez. Sua candidata ao Planalto lidera as pesquisas com imensa folga. Por que, então, todo esse ressentimento?

Uma ministra da Casa Civil acaba de sair da Pasta porque reportagens revelaram irregularidades graves em torno dela. As notícias que a derrubaram eram mentirosas? Se não eram, por que a demissão (dela e de outros)? Agora: se a demissão procede, por que tanta raiva?

É compreensível, isto sim, que as autoridades guardem mágoas do noticiário. Quem já exerceu cargo público, ainda que de projeção modesta, sabe que a leitura diária dos jornais é uma roleta-russa macabra: de repente, vem lá uma bordoada envolvendo o nome do sujeito em maracutaias das quais ele jamais ouvira falar. Dar de cara com esse tipo de aleivosia é das piores experiências que existem (para quem tem vergonha na cara, vale lembrar). Além de despreparo técnico, que leva as reportagens a confundirem deselegância com ilicitude, assim como confundem mandado com mandato, há também o despreparo humano, emocional, o desrespeito aos semelhantes, o preconceito mais deslavado. Tudo isso é lamentável. Mas tudo isso se refere à dor da pessoa física. O estadista, por dever de ofício, não pode permitir que sua dor pessoal conduza suas atitudes como chefe de Estado. Simplesmente não pode.

Lula sabe disso. Ele sabe disso muito mais do que todos nós. E, também por isso, é difícil aceitar e entender a brutalidade dos seus ataques aos jornalistas. Mas, se nos esforçarmos, podemos encontrar uma linha de explicação.

Ela começa pela necessidade de blindar a candidatura de Dilma Rousseff contra reportagens que possam minar o voto de confiança que ela vem recebendo nas pesquisas. Para isso, Lula caracteriza a imprensa como "partidos de oposição". Ele iguala o discurso jornalístico ao discurso da oposição e, na sequência, conclama os eleitores a "derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos". Eis a fórmula da blindagem necessária. Portanto, o movimento teatral de Lula é estritamente racional, calculado. E faz sentido.

O lastro eleitoral de Dilma vem de Lula. Se o mesmo Lula amaldiçoa os que a criticam, desqualificando-os um a um, pode, além de lastreá-la, vaciná-la contra as críticas. Esse é o sentido eleitoral do discurso do presidente. A logística é bem simples. Primeiro, ele afirma que certos "jornais e revistas" não são imprensa, mas "partidos de oposição". Assim, joga-os no descrédito. Se são partidários, merecem a mesma confiança que os partidos da oposição (embora o governo demita autoridades cujas condutas foram reveladas suspeitas por esses mesmos jornais e revistas, ou seja, na prática, o governo lhes dá crédito, mas no discurso tenta desmoralizá-las). Em seguida, Lula cuida de se afirmar democrata: "A liberdade de imprensa é uma coisa sagrada." Portanto, ninguém pode acusá-lo de autoritário. Imediatamente, porém, estabelece condições para a liberdade. "A liberdade de imprensa não significa que você possa inventar coisas o dia inteiro." (...) "Significa que você tem a liberdade de informar corretamente a opinião pública, para fazer críticas políticas, e não o que a gente assiste de vez em quando."

Claro: o raciocínio tem problemas sérios. Lula cumpre o seu objetivo eleitoral, sem dúvida. Mas a que preço? Ao preço de promover o engano e a discórdia.

O engano. Lula faz crer que liberdade existe apenas para os que informam "corretamente". Não é bem assim. A liberdade de imprensa inclui a liberdade de que veículos impressos - que não são radiodifusão e, portanto, não dependem de concessão pública - assumam uma linha editorial abertamente partidária. Qualquer órgão impresso (ou na internet) pode, se quiser, fazer oposição sistemática. A liberdade não foi conquistada apenas para os que "informam corretamente", mas também para os que, na opinião desse ou daquele presidente da República, não informam tão corretamente assim. Se um jornal quiser assumir uma postura militante, de cabo eleitoral histérico, e, mais, se quiser não declarar que faz as vezes de cabo eleitoral, o problema é desse jornal, que se arrisca a perder credibilidade. O problema é dele, só dele, não é do governo.

A discórdia. Alguém poderá acreditar que cabe ao Estado definir o que é "informação correta" e, com base nessa crença, poderá pedir a perseguição estatal de órgãos de imprensa. Seria tenebroso. Não cabe ao Executivo, ao Legislativo ou ao Judiciário definir o que é "informação correta". Isso é prerrogativa do cidadão e da sociedade. Que setores da sociedade protestem contra esse ou aquele jornal faz parte da vida democrática. Às vezes, é bom. Pode ser profilático. Agora, que o governo emule, patrocine ou encoraje esses movimentos é no mínimo temerário.

Enfim, é possível entender o tom furibundo do maior eleitor de Dilma. É possível, também, criticá-lo. A pessoa do presidente tem direito de se irritar com o noticiário. Tem até o direito de processar jornalistas. Mas o chefe de Estado não deveria semear o ódio, conclamando o povo a "derrotar" órgãos de imprensa. Não que isso ameace a ordem democrática. Não exageremos. Temos ampla liberdade de expressão no Brasil. Mesmo assim, vale anotar: essas declarações presidenciais, ainda que explicáveis, são inaceitáveis.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

[agência pirata] O PREÇO DA POLÍTICA

::txt::André::

não é novidade que a grande explosão criativa gerada aqui no brasil foi concebida no verdadeiro cerne do tempo, a exemplo do resto do mundo, nos míticos anos 60. assim como um vírus, a invenção pairava no ar e infectava todos que ainda não tinham sido contaminados pelo conservadorismo onipresente da época. conservadorismo esse, responsável direto pela disseminação das manifestações que caracterizaram aquela década iluminada (já falei disso no velho amarelo tráfico). aqui no brasil, o tropicalismo COMEU os modernistas de 22 e vomitou diferentes abordagens, sejam elas de esquerda – como o cinema de glauber -, ou de direita – como o movimento de caetano (licença poética aqui). porém, tudo remontava ao princípio antropofágico – a mistura, a nudez de todas as noções pré-concebidas de moral e certeza, pronta para abraçar (ou comer) o mundo em nome da criação.


os tropicalistas

os anos 60 passaram e a tropicália acabou. porém, como qualquer manifestação artística ou ato criativo, sua estética reverberou profundamente na esfera política e das grandes decisões, mesmo que de forma LATENTE, para se realizar no futuro. os anos 70 vieram e as discussões políticas (aliadas ao frouxamento da ditadura) amadureceram ao longo da década, culminando no que seria o verdadeiro partido das vanguardas políticas por excelência – o PT. aglutinando todos os que valiam a pena dos movimentos políticos e sociais dos 60’s e capitaneados pela figura de LULA, o PT seguia como diretriz justamente a quebra com o conservadorismo e o abraço ao social. de base teórica marxista INOVADORA – gramsci e lukacs, por exemplo – o PT era lindo porém ingênuo. demorou quase 20 anos para amadurecer (mais rápido que eu, pelo menos).


PT nos 80

devido a essa inocência, quando os 60’s chegaram ao poder no brasil, não foi através de LULA, mas sim de FHC. a sua eleição foi a vitória do tropicalismo e de toda aquela geração de ideais revolucionários. porém só a vitória, já que seu governo se rendeu às políticas neo-liberais e aquela putaria toda. o tropicalismo só veio se realizar no poder MESMO, como política pública, no governo LULA. com o PT já maduro o suficiente e a figura de LULA emergindo como solução final para a chamada “podreira dos políticos” que o senso-comum berrava no ouvido das massas, o PT se deixou libertar e abraçou a ANTROPOFAGIA como política. é possível se misturar politicamente e o resultado se transformar em algo positivo? o cenário político atual brasileiro prova que sim. mas a que preço?


lulinha chegando

O PT MUDOU O BRASIL, MAS FOI CONSUMIDO NO PROCESSO.

o PT vanguardista, inovador, revolucionário não existe mais. foi comido e digerido pelo sistema político, porém marcando-o e modificando-o profundamente no processo, mas não conseguiu sair com vida. NÃO PODIA SOBREVIVER. o PT morreu para o brasil mudar. aqueles que não aceitaram a transformação saíram chorando, o que se empolgaram saíram chutados, e LULA se mantém como o maior estadista da história do país, com seus porcentos de aprovação. o projeto de governo acerta muito, erra ainda mais, mas segue como a personificação daquilo que nos 60’s era utopia, com o olhar voltado para todas as frentes que PARA MIM importam e afetam – artes, universidade, miséria.


nosso presidente

MAS agora chegamos a um impasse: em ano de eleição O QUE FAZER? acalmar o meu espírito revolucionário e votar em um PT chapa branca? por mais que o projeto seja o melhor que já vi, ainda sim é demagógico e não exatamente comprometido revolucionariamente do jeito que eu gostaria. mas o que sobra? uma volta ao neo-liberalismo cruel e idiota ou um falso PT de trinta anos atrás, tão ingênuo e despreparado quanto. existe opção? onde estão as vanguardas de pensamento que dariam fundamento para o NOVO pensamento político?

a criação, o NOVO, é infelizmente NOCIVO e já aparece, mesmo que sutilmente, nessas eleições, personificado na figura de MARINA. obviamente que não falo do aspecto VERDE da moça, mas sim do seu atrelamento com o lado CRENTE da coisa. claro que essa não é a sua plataforma, mas é possível identificar fragmentos do pensamento EVANGÉLICO em seu discurso. essas novas igrejas são o que efetivamente vem buscando novos espaços e tratando quase esteticamente o pensamento político, seja nas prisões, seja nas regiões sub-urbanas. o resultado desse conservadorismo aplicado só pode ser um retrocesso, porém é o que surge no horizonte político como opção diferenciada (mesmo que não pra mim). estamos atrasados em relação a esse pensamento. enquanto discutimos política de modo arcaico, outras frentes – reacionárias por natureza – se organizam de maneira muito mais revolucionária.


culto ou doutrina?


marina pregando

é preciso parar e refletir: onde está a potência criativa do nosso tempo? o que ela diz e representa? como transformá-la em ato político? aí está o desafio, procurar a invenção e dela extrair a intervenção.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: 4) Progresso e prosperidade



::txt::Eric P. Duarte::

4) Progresso e prosperidade

Sem os impostos, sem os assaltos monetários e sem as dívidas nacionais, todos teriam mais dinheiro para melhorar o próprio bem estar e fazer investimentos.

Hoje existe uma montanha de estágios a ser superada para se abrir um novo negócio, mas sem o Estado, não haveria mais os elevados custos tributários e nem as ridículas burocracias estatais tais como leis aleatórias e tendenciosas, licenças, permissões, restrições de zona, regulamentações e assim por diante. Enquanto que hoje apenas os mais ricos conseguem superar todos os obstáculos estatais com dinheiro e advogados de ponta, na anarquia qualquer um poderia abrir um novo negócio, inclusive a classe média e os menos favorecidos.

Novos negócios surgiriam a uma velocidade incrível. A maior concorrência melhoraria a qualidade de todos os serviços e produtos e ainda estimularia a criação de novas tecnologias e soluções de mercado que nem somos capazes de imaginar neste momento.

Com uma economia tão forte na anarquia, é provável que ao invés de haver concorrência por empregos como há hoje, haveria uma concorrência por empregados, o que levaria os salários a aumentos naturais e condições de trabalho melhores a cada dia.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

[cc] QUANDO É BOM TER PRESSA




::txt::Ronaldo Lemos::
::lstrç::
Seth Armstrong::


Pânicos com relação à tecnologia têm sido comuns ao longo da década que termina. Dentre eles, gente argumentando que o acesso à internet nos torna mais estúpidos (Andrew Keen) ou até metáforas de que as pessoas estão virando gadgets, perdendo parte de sua "humanidade" (Jaron Lanier). Por mais que esses argumentos sejam falhos, eles prenunciam um anseio humanista com relação à tecnologia: de que ela deveria levar a uma vida melhor. Essa visão vai ganhar força nos próximos anos.

Enquanto isso, chamam a atenção projetos bacanas que ampliam a possibilidade de formação de comunidades (reais, não virtuais!) por causa da rede. Quase sem querer, há iniciativas que mostram que existe espaço para reinventar relações sociais e questões urbanas de forma mais inteligente, divertida e sustentável.

Por exemplo, sempre fico impressionado com os relatos de amigos que viajam o mundo usando o Couchsurfing. Para quem não conhece, é um site que cria uma comunidade de pessoas dispostas a hospedar seus membros, de graça. Como o próprio nome diz, a ideia é o compartilhamento de "sofás" (couch) ao redor do mundo. Além de prático, é uma oportunidade de conhecer pessoas com o mesmo espírito.

Outra área que tem muitas possibilidades de ser reinventada pelo uso da rede é a questão do transporte público. Existe uma ineficiência enorme que poderia ser compensada por esforços comunitários. Por exemplo, grande parte dos carros circula pela cidade ou pela estrada com apenas um passageiro. A partir dessa constatação, surgiram plataformas facilitando encontrar pessoas indo na mesma direção, permitindo criar um coletivo de "caronas" (um exemplo é o site eRideShare.com).

Mas há arranjos ainda mais interessantes. Fiquei surpreso quando vi recentemente em Montreal a popularidade do Communauto.com. É um sistema de carros comunitários. Funciona assim: um ou dois carros da Communauto ficam espalhados por estacionamentos públicos da cidade. Qualquer assinante pode utilizar os carros por até uma hora, a um preço baixíssimo, pagando uma taxa anual. Para usar mais é cobrada uma tarifa mais alta. Depois basta devolver o carro em qualquer estacionamento conveniado. Para evitar frustrações é possível reservar os carros pela internet. Todo mês você recebe um extrato de uso do carro, tal como uma tarifa de telefone.

É claro que para iniciativas assim funcionarem no Brasil enfrentamos questões de fundo, como o problema da insegurança e o medo a ela inerente. Mas acho que isso não serve de desculpa. Temos de usar a tecnologia de forma esperta para repensar questões urbanas desde já. Não dá para esperar que se resolva uma coisa e depois outra. Tem de ser tudo ao mesmo tempo e agora. Pelo menos com relação a isso vale ter pressa.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

[agência pirata] EM TEMPOS DE ELEIÇÕES...

::txt::Fórum do Anarquismo Organizado::

Programas iguais, discursos iguais

O sistema brasileiro é "democrático e pluripartidário", mas a dobradinha PT e PSDB já dura 16 anos e irá se repetir. E esta dobradinha, com um no apoio do outro, reforçou e armou ainda mais nossos inimigos de classe. O PSDB, com Fernando Henrique, "mostrou" ao PT qual modelo econômico seguir, qual o caminho da governabilidade, garantindo "crescimento e estabilidade econômica".

A equação tem um resultado já conhecido: o povo continuou na sua crise diária, oprimido pelo enriquecimento de banqueiros, pelo avanço do agronegócio e pelas privatizações de setores-chave. Com Lula da Silva, não foi à toa que o Banco Central tem o tucano Henrique Meirelles à sua presidência.

Mas o Governo Lula, além de manter a fórmula econômica, agregou uma política social que vem garantindo seus altos índices de popularidade. Os maiores da história, diga-se de passagem. A sua história de vida e a base social de seu partido foram também fundamentais para que Lula tenha se tornado maior que o próprio PT.

Fazendo escola, essa linha de conduta está claramente traçada na estratégia eleitoral de José Serra, que além de se abster de atacar Lula, já iniciou seu programa eleitoral dizendo que agora "sai o Silva e entra o Zé", se preocupando também em mostrar que é uma pessoa de origem humilde. É também batendo no mesmo ponto que Marina Silva vai tentar ganhar voto.

Crescimento econômico sustentável com desenvolvimento social é a fórmula da moda e a síntese do "programa" dos três candidatos preferidos da mídia, diferenciando apenas na ênfase dada a cada ponto. E essa é a linguagem atual do capitalismo que procura ganhar um rosto humano. Fora isso, o diferencial de cada, e é o que vai decidir as eleições, fica por conta da capacidade de cada um em mobilizar recursos (materiais e simbólicos) e costurar as alianças, principalmente com os grandes grupos econômicos e as oligarquias. Nessas condições, os oprimidos de norte a sul do país estão fora desse debate e o voto é quase que apenas uma homologação do que é desenhado nos bastidores.

A mudança que queremos se processa fora das urnas

As várias "alternativas eleitorais" à esquerda que se lançam na disputa não se cristalizam e, pra nós, não possuem qualquer capacidade de operar as mudanças, vendendo apenas ilusões, pois as saídas para conquistar as urgências do povo não vêm das urnas. A nossa alternativa, a qual abraçamos e militamos, é a luta de cada dia, construindo um projeto de longo prazo e trabalhando, nas bases dos movimentos e tendências; não para pedir votos, mas para criar povo forte e abrir, na luta, os cenários de mudanças.

É com este norte que atuamos em tempos de eleições, continuando a fazer o que é feito nos anos não-eleitorais e por isso nossa militância social se vê inserida na construção d'A Outra Campanha. As energias do povo não podem ser dissipadas numa urna, mas sim potencializadas onde ele se reconhece, no bairro, na vila, na escola, no trabalho. Nos reclamos e na organização de suas lutas com independência de classe

sábado, 18 de setembro de 2010

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: 3) Dinheiro



::txt::Eric P. Duarte::

3) Dinheiro

Na anarquia ninguém seria obrigado a adotar determinada moeda, portanto haveria concorrência monetária. Haveria taxas de câmbio entre as diversas moedas, assim como já temos atualmente entre moedas de diferentes países.

Haveria duas características importantes a se considerar na escolha de uma moeda, estabilidade e aceitação.

Algumas companhias ofereceriam moedas mais estáveis para clientes conservadores, garantindo que o valor da moeda não variasse com o tempo. Outras companhias ofereceriam moedas de risco maior, porém com maiores possibilidades de ganhos no valor da moeda.

Algumas moedas principais seriam aceitas em praticamente todos os setores da economia. Outras seriam aceitas só em alguns setores específicos, mas teriam parcerias com estes setores e provavelmente ofereceriam descontos e vantagens nas transações destes setores com a moeda em questão, analogamente aos atuais programas de fidelidade.

Provavelmente haveria uma migração mais rápida para moedas totalmente eletrônicas, já que não seríamos mais obrigados a utilizar o papel-moeda estatal. Você poderia até comprar um programa que te informasse qual a melhor moeda a ser usada em uma determinada transação.

Com a concorrência monetária, as crises econômicas seriam evitadas e o roubo pela inflação não seria mais possível. Como sempre, a saída do Estado no setor só traria benefícios para toda a sociedade.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

[zipmusic]



Se você sentia falta duma seção musical ou dum caderno semanal aqui neste blog? Sim?! Pois a gente também. Cá está ela. [zipmusic] vai trazer dicas de sons, links de vídeos, downloads disponibilizados pelos próprio artistas, resenhas de discos, agenda de shows, etc.

Estamos acostumados a receber muito material físico (CDs, DVDs, livros) e virtual (mp3, zip, pdf, e-flyer) aqui na redação ou nas diversas redes sociais onde temos contato com o público e os artistas.

Nossa equipe agradece a sua participação de todos que adoram compartilhar cultura na internet e aos artistas e produtores que nos enviam material.

A pedrada sonora, sob o comando de Basket Selector, acontecerá nas sextas, sempre que possível.
- Mas porque sexta-feira, man?, perguntamos a Basket.
- Qual o objetivo do basquete?, indagou ele.
- Hmmm ... vencer?!
- Também, mas antes disso, saiba porque portuga só joga basquete uma vez por semana...
- Ué, por que?
- Porque o objetivo é jogar a bola na cesta.


[quentinho do forno] A BANDA DE JOSEPH TOURTON

Produção recifense quentinha do forno, o quarteto exibe suas habilidades instrumentais sem aquela virtuose incômoda.

baixe o disco inteiro aqui e ouça as faixas abaixo (se for ouvir, melhor dar um pause em nosso Space Radio):

josephtourton by josephtourton


[free download] JOÃO BRASIL - THE SIDE OF THE MOON



baixe aqui ou aqui

1 – Sucessagem Breathe (Pink Floyd X Tati Quebra Barraco)
2 – Tá tomado, run ( Pink Floyd X Bonde Nervoso)
3 – Time de preto ( Pink Floyd X Mcs Amilka e Chocolate)
4 – The Great Ai Ai Ui Ui in the Sky ( Pink Floyd X Os Havaianos)
5 – Mercenária quer money ( Pink Floyd X MC Mascote)
6 – Aniversário of them ( Pink Floyd X Os Predadores)
7 – Any colour faixa de gaza ( Pink Floyd X MC Orelha)
8 – Adoleta Damage ( Pink Floyd X Bonde do tigrão)
9 – Eclipse na palma da mão ( Pink Floyd X MC Mascote)


[som na cesta] Hypnotic Brass Ensemble - War

video clip oficial




[iutubí] Marcelo Adnet e CIA - Gaiola das Cabeçudas

um vídeo paródia ao grupo "Gaiola das Popozudas"





[em breve] MARCELO D2 CANTA BEZERRA

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

[trombone] A GRANDE FALÁCIA POLÍTICA DA LEI DA AÇÃO E REAÇÃO

::txt::Fagner Marques::

Existe uma regra da física que se chama 'Lei da Ação e Reação'. Resumindo, ela afirma que toda ação causa uma reação de mesma força mas na direção contrária. Na prática é como se jogássemos, com toda a força, uma bolinha de borracha na parede e ela voltasse na nossa cara causando um hematoma. Em um sentido mais humano e positivo, poderíamos dizer que quanto mais gentileza demonstrarmos para com os outros, mais receberemos em troca.

Isto, é claro, num mundo ideal. E aí está o problema. A realidade não é assim (essa tal realidade. Sempre atrapalhando tudo). De qualquer forma, podemos ver as coisas pelo lado bom. Se alguém arremessar a tal bolinha de borracha na parede, muito provavelmente ela não acertará o atirador de volta. Ufa. Não comentarei sobre a questão dos sentimentos porque eles normalmente MACHUC zzzzzzzzzzzzzzzzz... ops.

Mas existe uma forma bem interessante de perceber como, na prática, a 'Lei da Ação e Reação' não funciona. A expressão-chave do momento é 'eleição parlamentar'. No Brasil existe algo chamado Congresso Nacional, você sabe, não é? É lá que se reúnem aqueles não sei quantos 'picaretas com anel de doutor' (Herbert Viana, te amo). São 513 deputados e 91 senadores, para ser mais exato. E é justamente entre esses cerca de 600 representantes do povo que se enxerga direitinho a falha dessa tal ação e reação.



Vamos supor que você, jovem engajado, que está entre os 2% dos usuários de internet que pesquisam sobre política na rede, tenha uma epifânia e descobriu que TODOS OS POLÍTICOS SÃO LADRÕES. Isso, é claro, te transforma num mentiroso ou mostra que ainda anseias por conhecer a Terra do Nunca e viver feliz para sempre ao lado da Sininho. Mas, também, te coloca na posição de sentar em uma mesa de bar, discursar sobre a situação política do Brasil e mostrar para todo mundo como tu és superior aos cerca de 70% de analfabetos funcionais brasileiros. Isso, é claro, partindo-se do ponto de que ninguém perceba que afirmar que 'político nenhum presta' é uma grande mentira. Eles existem. Acho que ainda não conheci nenhum, mas, para mim, é como um cristão acreditar em Jesus. É assim e ponto (ponto)

Mas ok. Suponhamos que nenhum dos companheiros de bebedeira perceba essa pequena mentirinha de nada. A discussão poderia ir para outros rumos: votar nulo como forma de protesto. Ou votar em um palhaço qualquer que decidiu se candidatar a uma vaga no Congresso. Como forma de protesto, também, é óbvio. Jogadores de futebol, apresentadores de rádio e tv, strippers atrizes e diretoras de espetáculos públicos, cantores, não me levem a mal, nem se ofendam. Falarei sobre um palhaço de verdade.

Francisco Everardo Oliveira Silva. Descobriu? O Tiririca, rapaz. O palhaço que tanto me alegrou na juventude e me fez cantarolar 'Clementina, Clementina/ Clementina de Jesus/ não sei se tu me ama/ pra que tu me seduz' na saída das aulas, decidiu mostrar que pode contribuir para o transformar o país em um lugar melhor pra se viver. Ele sabe ler e escrever - o que garante possibilidade de se candidatar - e não sabe muito bem o que um deputado faz - mas tem certeza que, com a equipe de assessores que possui, aprenderá e será um bom representante. Dito e feito. Nosso alegre palhaço está na corrida por uma vaga a deputado federal pelo PR de São Paulo.

Sinceramente, eu acho bonito. O Brasil deu um passo fundamental na democracia ao eleger um presidente do povo, de origem humilde e todo esse blablabla whiskas sachê que todo mundo já sabe. Nesta eleição, se eu fosse paulista, e soubesse que NENHUM político presta, deveria votar no Tiririca, não? Afinal, ele não é político (ainda, pelo menos). Bom, se você respondeu que eu NÃO DEVERIA votar nele, ganhou uma bola de futebol (ou uma Barbie comunista, se preferir).

Mas agora vem a pergunta que vale R$1 milhão. Por que diabos eu não deveria votar nele? Vou dar uma dica: pelo mesmo motivo que eu não votaria em jogadores de futebol, apresentadores de rádio e tv, atrizes e diretoras de espetáculos públicos, cantores e etc e tals. Se você responder que é porque eles seriam manipulados pelo sistema e, no fim das contas não serviriam para nada, você acertou uma partezinha inha inha da resposta. O que quer dizer que você errou. E perdeu a Barbie, também. Bom pra mim, não?

Enfim, vamos à resposta. Existe uma diferença entre as eleições para os cargos do Executivo e do Legislativo. Enquanto no primeiro a forma de escolha é majoritária, no outro é proporcional. Isto quer dizer que, ao votar, além de escolher o seu candidato, você também estará apoiando a legenda dele e, por tabela, todos os colegas que fazem parte do mesmo partido. E quanto mais votos uma legenda recebe, maior o número de legisladores ela tem o direito de eleger. Se eu, você e mais 1 milhão de eleitores votarmos no Tiririca (ou qualquer outro candidato das classes citadas acima) para mostrar que a política é uma palhaçada, mesmo, o partido a que eles pertencem aumentará muito o número de Deputados que poderá eleger.

Isso quer dizer que, mesmo com menos votos, essa catrefa de políticos que não presta poderá conseguir um lugarzinho na plenária da Câmara dos Deputados, na carona das celebridades. É o que se chama de efeito proporcional.

Então, antes de escolher qualquer um pela palhaçada, reflita um pouco. Mentira, reflita MUITO. Pese o seu poder nas urnas. Ele é grande. Por isso, analise os candidatos, pesquise o passado deles, as propostas, as coligações, o quanto eles realmente podem contribuir para o nosso país. Talvez você ache alguém que valha a pena acreditar e confiar. Não faça com que a bolinha de borracha acerte em cheio no teu olho. E, principalmente, não faça a si próprio de palha

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

[noéspecial] LAMPIÃO, SUA IMAGEM E SEMELHANÇA



::txt::Tiago Jucá Oliveira::

I – Vingadores, os bandidos sociais

O banditismo social é um dos “fenômenos sociais mais universais da história, e um daqueles de mais impressionante uniformidade”, diz Eric Hobsbawm, em “Bandidos”, obra clássica escrita em 1969. Para o autor, ocorre em todas sociedades que “se situam entre a fase evolucionária da organização tribal e de clã, e a moderna sociedade capitalista e industrial”. O cangaço foi consequência duma sociedade injusta e opressora do coronéis no sertão nordestino. A vingança, o estopim pro cangaço. Quase não havia alternativas ao pobre sertanejo a não ser entrar em algum bando de cangaceiros armados, pois ele sozinho não tinha poder de interferir nas decisões da justiça. A mesma justiça que não punia os assassinos bem afortunados, embora fosse severa demais pro simples cidadão que vingara a morte do pai, tal como aconteceu com Vergolino Ferreira, o Lampeão.

Darcy Ribeiro, em “O Povo Brasileiro”, ilustra o que era o cangaço: “uma forma de banditismo típica do sertão pastoril, estruturando-se em bandos de jagunços vestidos como vaqueiros, bem-armados, que percorreram as estradas do sertão em cavalgadas, como ondas de violência justiceira. Cada integrante do bando tinha sua própria justificativa moral para aliar-se no cangaço. Todos fazendo do banditismo uma expressão de revolta sertaneja contra as injustiças do mundo. Resultaram na eclosão de um tipo particular de heroísmo selvagem que conduziu a extremos de ferocidade. Tais foram os cangaceiros célebres que, se por um lado ressarciam aos pobres de sua pobreza com os bens que distribuíam depois de cada assalto, por outro matavam, estropiavam, violentavam, em puras exibições de fúria”.

É claro que nem todos injustiçados aderiram ao cangaço. Fabiano, personagem principal de Vidas Secas, romance de Graciliano Ramos que retrata uma família de retirantes do Nordeste castigada pela forte seca, é preso e humilhado pelo policial “amarelo”. A vontade era vingar o sofrimento que o soldado lhe causou, mas “o que o segurava era a família. (…) Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé não. (...) não envergaria o espinhaço não, sairia dali como uma onça e faria uma asneira. Carregaria a espingarda e daria um tiro de pé de pau no soldado amarelo. Não. O soldado amarelo era um infeliz que nem merecia um tabefe com as costas da mão. Mataria os donos dele. Entraria num bando de cangaceiros e faria estrago nos homens que dirigiam o soldado amarelo. Não ficaria um para semente. Era a ideia que lhe fervia na cabeça”.

Mas porque bandidos radicalmente violentos, “que não só praticam o terror e a crueldade numa medida que não podia ser explicada como simples retaliação, mas cujo terror na verdade faz parte de sua imagem pública”, como lembra Hobsbawm, eram heróis pra muitos sertanejos e ainda hoje são influentes nas manifestações da cultura popular. O próprio Hobsbawm entende que os bandidos sociais, “encarados como criminosos pelo senhor e pelo Estado, mas que continuam a fazer parte da sociedade camponesa, e são considerados por sua gente como heróis, como campeões, vingadores, paladinos da Justiça, talvez até mesmo como líderes da libertação, admirados, ajudados e apoiados”.

Para Fabiano, sempre haveria esperança nos cangaceiros. “Imaginou o soldado amarelo atirando-se a um cangaceiro na caatinga. Tinha graça. Não dava um caldo”.

*este texto está livre pra ser roubado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

[umbigada] NOVAS SEÇÕES NO BLOG

::txt::redação::

O blog da revista O DILÚVIO sempre tem novidades. Desta vez são as novas etiquetas, dentro de [chaves] para facilitar a identificação da postagem pro leitor. O nome de cada etiqueta é também uma forma de lançar no blog novas seções, inclusive a abertura de espaço pra você colaborar.

Por enquanto, já podemos adiantar algumas:

[noéspecial] Uma série de textos de Tiago Jucá Oliveira sobre um tema abordado em sua monografia de jornalismo, orientada por Wladymir Ungaretti, sobre a influência do cangaço na cultura nacional, dividida em capitulos. Publicado simultaneamente com a versão impressa do Jornalismo B.

[over12] A veia marginal e a língua ácida de Arlei Arnt, nosso gonzo xuxu beleza versando em prosa sobre temas explosivos.

[trombone] Espaço aberto aos leitores que queiram expressar sua opinião sobre assuntos atuais e polêmicos. Participe! Na estreia da seção, Fagner Marques escreve sua visão política da Lei da Ação e Reação.

[zipmusic] Dicas de sons, links de vídeos, downloads disponibilizados pelos próprio artistas, resenhas de discos, agenda de shows, etc. Estamos acostumados a receber muito material físico (CDs, DVDs, livros) e virtual (mp3, zip, pdf, e-flyer) aqui na redação ou nas diversas redes sociais onde temos contato com o público e os artistas. Sextas, meio-dia.

[cc] Sua obra na web possui uma licença livre? Tomara que sim, pois queremos difundir o conhecimento sem barreiras. Estamos em constante leitura virtual, e se o carimbo do creative commons estiver no seu blog, é possível que a gente copie e cole em nossas páginas.

[pedeéfe] Todo domingo, obras importantes da literatura e de grandes pensadores em formato PDF, pra você ler, baixar, compartilhar, imprimir, etc. A tecnologia subvertida!

[agência pirata] SARNEY, CORSÁRIOS E LADRÕES



::txt::Marco Antonio Lemos::

Começo perguntando o que eventualmente levaria alguém que, de forma contínua, quase que buscando criar uma segunda natureza feita a enxó, martelo e formão, sempre se procurou pautar publicamente, no trato pessoal, por exibições de grande dignidade, fidalguia, tolerância, finesse d’esprit, respeito cerimonioso a adversários e temperança diante de críticas, a, de súbito, entregar-se a uma fúria digna de serial killer psiacopata de seriado de TV, com chiliques e sapitucas absolutamente incompatíveis com a biografia que sempre procurou esmeradamente construir. Toda vez que algum Dr. Jekyll se converte em algum Mr. Hide, razão há de ter tido, como dizia minha patusca, pachola e sábia avó.



Nesta sua última edição, a revista Veja, na matéria sobre o novo livro de Laurentino Gomes, ”1822”, narra que o hoje senador José Sarney, então presidente da República, em visita à Abadia de Westminster, em Londres, aproveitou-se de estar subitamente a sós frente à tumba do almirante escocês Thomas Cochrane, herói nacional dos britânicos, para, furibundo, pisotear-lhe com gosto e força a lápide, entre sussurros raivosos e espumejantes de “corsário!!!”. Fez mais depois, assumiu e gabou-se: “Pisei, pisei mesmo e com gosto. É um sujeito pelo qual não tenho nenhuma simpatia”



Mas, afinal, o que teria levado Sarney, cujo gosto pela etiqueta, pelo protocolo e pela “liturgia do cargo” são mais do que conhecidos, a tais destemperos? O que teria o tal Cochrane feito para que o ódio do senador, que hoje esquece tão fácil ofendas de Lula a Collor, que já o classificam como “homem não comum”, jamais tenha se aplacado?

Um pouco mais adiante, a própria reportagem esclarece: é que o citado almirante, para o efeito de consolidar a recém-proclamada independência do Brasil, recebeu ordens de D. Pedro I de eliminar focos resistentes ao governo do Rio de Janeiro, um dos quais a província do Maranhão, muito lusitólatra. São Luís foi ocupada e o governo da província viu-se “convencido”, a poder dos canhões de Cochrane, a aderir ao processo independentista, em 28 de julho de 1823. O problema é que Cochrane, bem ao estilo dos flibusteiros e bucaneiros da época, como Francis Drake e Capitão Kidd, ao mesmo tempo em que executava as ordens imperiais, teria se aproveitado para saquear, com a maior rapacidade possível, a capital maranhense. Segundo Laurentino Gomes, o butim incluía “todo o dinheiro depositado no tesouro público, na alfândega, recebeu ordens de D. Pedro I, nos quartéis e outras repartições, além de propriedades particulares e mercadorias armazenadas a bordo de 120 navios e embarcações menores ancorados no porto”. A dinheirama foi tanta que, convertida em valores atuais, equivaleria a R$ 40 milhões.



Como não se tem qualquer notícia de reações similares daquele ex-presidente diante dos túmulos de quaisquer outros invasores estrangeiros do Maranhão, em especial o mais conspícuo, o francês Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière, que andou por lá entre 1612 e 1615 criando a França Equinocial, a suposição mais forte para o piripaque de Sarney contra Cochrane deve ter sido mesmo grana. Onde já se viu meter assim, sem cerimônia e na maior cara de pau, a mão na bufunfa maranhense? E sem pedir sequer licença a algum ilustre antepassado dos Sarneys e Ribamares! Dá pra imaginar quanto renderiam R$ 40 milhões, entre 1823 e os dias de hoje? Ou pelo menos em 1966, quando o mesmo Sarney se tornou senhor da capitania maranhense, que desde então dirigiu, pessoalmente ou com a família, com raros e curtos intervalos? Quanto prejuízo, Deus meu! Quantos danos emergentes, quantos lucros cessantes!!! Tal audácia, inominável desatino, opróbrio secular, justificaria plenamente o faniquito sarneyísta no túmulo cochrânico. Penso que até faria por merecer, com inteira justiça, uma ação de danos morais, perante o Tribunal Internacional de Haia ou, pela natureza do agravo, a OMC. Veja arremata o episódio com um ferino mas delicioso comentário:

“Talvez seja o caso de dizer que o Maranhão continua a ser tratado da mesma forma por aqueles que pisam a lápide de Cochrane”

Vejo-me aqui imaginando um dia futuro o que acabará não fazendo algum novo senhor de baraço e cutelo das plagas do Maranhão, após assumir o poder, efetuar auditorias e constatar o que foi saqueado no Estado entre 1966 e o fim da era Sarney e decidir ir ao Convento das Mercês, onde o Marimbondo de Fogo estará enterrado no jazigo da família. Presumo que ele não dirá “corsário!”, e sim coisa bem pior...

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ACAMPAMENTO FARROUPILHA: OLHA A FACA!



::txt::Monsenhor Jacá::

Há uns 8 anos atrás, saí duma festa da faculdade com mais dois amigos e fomos dar uma volta no acampamento farroupilha, em plena madrugada. Moita, que assim como eu critica essa palhaçada que acontece todo ano no parque harmonia, tinha bebido um pouco além da conta. Entre um passo e outro no meio da lama e merda, gritava orgulhosamente: "bando de gaudério puto!".

Pelo visto, havia somente um "gaudério puto" aquelas horas da madrugada. Ele se aproxima da gente, puxa um facão e pergunta "quem é puto aqui, magrão?". Como não gosto de covardia, pedi pra largar a faca: "se tu é homem, vem no braço, mané". Nisso aparecem os seguranças, que nos expulsam do parque. "Confusão lá fora, gurizada", disse um deles.

O jeito foi procurar um posto e comprar mais umas latinhas antes de ir pra casa. Mas Moita pensa diferente. Está ao lado duma bomba, enchendo três sacos plaśticos de gasolina. "Jacá, se tu é anarquista mesmo, vamos lá botar fogo naquela bosta", duvidou ele de mim. "Bora lá", falei com firmeza.

E fomos. Despejamos a gasolina numas palhas ao lado de um piquete. O último pega no crivo que Moita fumava, e lá se vai a bituca acesa em direção às palhas. Fogo! A noite clareou com as chamas do fogaréu. Engatamos a quinta marcha, e corremos em fuga por uns 15 minutos, até o outro lado da Cidade Baixa, quase na Redenção. Entre um olhar e outro pra trás, um parque iluminado e uns sete gaudérios a nos perseguir.

Felizmente não entramos pras estatísticas setembrinas, quando sempre acontecem facadas, tiroteios e brigas no parque Harmonia. Neste fim de semana, mataram um a facada. Não fosse no acampamento farroupilha, e sim num baile funk suburbando, RBS diria: "onda de violência em Viamão".

E assim segue o galope do gaúcho, iludido pela falsa ilusão da tradição criada por Paixão Cortes há meio século. Não aconselho ninguém a dizer isso lá na disneylândia de bombachas. Poderá aparecer um gaúcho assumido, brabo que nem o personagem do Zorra Total:

- OLHA A FACA !!!

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: 2) Ruas e estradas privadas



::txt::Eric P. Duarte::

2) Ruas e estradas privadas

Na anarquia as ruas e estradas teriam donos. Estes donos poderiam ser indivíduos ou empresas especializadas em administração de ruas ou estradas.

Dependendo do propósito da rua ou estrada, ter uma destas vias poderia ser um empreendimento bem lucrativo. O seu dono poderia cobrar uma taxa dos comerciantes ou residentes da rua, ele poderia cobrar taxas de estacionamento, um pedágio ou até mesmo poderia ganhar com propagandas na rua.

Surge então a seguinte pergunta: o dono da rua não poderia cobrar um milhão para que uma pessoa voltasse para a sua casa após ter saído da rua? A resposta é não. Todas as pessoas que comprassem uma casa teriam feito um contrato com o dono da rua lhe garantido livre acesso. Ele então poderia cobrar um milhão para que outras pessoas passassem pela rua? Poderia sim, mas ninguém iria para essa rua, ninguém montaria um negócio lá, todo mundo procuraria outra alternativa e esta rua iria à falência.

Em um mundo de ruas privadas, as ruas estariam competindo por moradores, por comerciantes, por carros, etc. Haveria um forte incentivo para que elas se tornassem seguras, limpas e eficientes. Não veríamos mais o caos urbano que temos hoje. É claro que precisaria haver cooperação entre as diferentes ruas, mas isto é da própria natureza do empreendimento, assim como também é da natureza das companhias telefônicas a cooperação (um celular da Claro precisa se comunicar com o da TIM e vice versa).

Veríamos ruas mais limpas, mais seguras, com uma melhor logística e com mais facilidades, tais como internet WIFI, áreas de lazer, banheiros, etc.

Um problema constante nas estradas hoje são os buracos. Tendo em mente que os políticos podem superfaturar as obras públicas, não é difícil reconhecer que eles têm um forte incentivo para utilizar sempre o material da pior qualidade possível no asfaltamento das estradas. Além disso, eles podem sempre jogar a culpa no próximo político. Um dono de uma estrada não iria querer que a sua estrada fosse se esburacando com o tempo e precisasse de manutenção o tempo inteiro.

A eficiência dos gastos seria uma constante na anarquia, o desperdício seria reduzido ao máximo.

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