#CADÊ MEU CHINELO?

sábado, 29 de junho de 2013

[a vida como ela noé] BRASIL, JUNHO DE 2013

:: txt :: Paulo Wainberg ::

Sobre os movimentos, passeatas e manifestações de junho de 2013 em todo o Brasil,
principalmente no que diz respeito à reação policial aos atos de vandalismo praticados por
criminosos entre as multidões, sugiro esta reflexão:

E se você fosse da polícia de choque, treinada para o ataque e para o conflito.

E se durante uma manifestação, um grupo começa a quebrar, invadir lojas, roubar, depredar,
incendiar e destruir.
E se você recebe ordens de seu comando para conter os atos de vandalismo e prender os
criminosos.
E se você investe contra o bando de vândalos você:

a) Pergunta delicadamente a cada pessoa no seu caminho se ele é vândalo?
b) Ataca o grupo sem identificar indivíduos e tenta proteger o bem público, deter e prender os
criminosos?
Não, não estou defendendo violência policial, muito pelo contrário. Estou dizendo que a polícia,
como um todo, como uma instituição republicana inserida na ordem democrática, tem o dever de
impedir a prática de crimes, deter e prender os criminosos.
Estou dizendo que numa multidão agressiva, é impossível à polícia fazer distinções, na hora em que
ela, a polícia, tem que responder aos ataques.
A polícia é composta de seres humanos. Cada policial tem medo, tem instinto de preservação, tem
treinamento e discernimento.
Porém, e já participei disto nos meus antigos tempos, quando se trata de enfrentar a multidão, é
impossível discernir.
Só isto.

Que nos protestos de hoje, os criminosos, traficantes, ladrões, assassinos e outros criminosos
comuns, possam ser identificados e excluídos do movimento. É o único modo de a manifestação
começar e terminar em paz.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

[noéditorial] HOMERO

:: txt :: Júlio Freitas ::

  Querida pomba ou prezado urubu, sabemos deste momento de proporções homéricas,através do qual nosso país está passando e venho por meio deste informá-los que somos a favor destas manifestações; é claro que o seu José, que veio do interior para abrir seu pequeno negócio na capital, cuja loja foi depredada, não tem culpa do ato, e isso repudiamos,muito embora eu não me recorde de nenhuma movimentação em massa que tenha sido pacífica e dado certo.

  Não somos nem desejamos ser uma mídia porta-voz de militância alguma, mas nos posicionamos contra o poder que controla nossas vidas, roubando nossos direitos e nos deixando quase nada, batendo ponto, esperando em filas, contando moedas para pagar o que é público.

  Continuaremos, como sempre, publicando textos, contos, poemas, divulgando arte subversiva, cujos autores, em sua maioria, estão à margem.

  Não posso dizer que já fomos vítimas de censura, pois vítima é aquele que justamente não reage.

  A arca segue adiante neste dilúvio, e, se Noé assim o desejar, assim o será.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

[agência pirata] TRABALHO TERRORISMO

:: txt :: Norbert Trenkle ::

O trabalho é para as pessoas
socializadas no oeste a coisa mais
natural do mundo, então é claro que
ele geralmente não pensa
desperdiçados sobre o que é
realmente gostam. Se você
perguntar a ele, ele está prestes a
responder, o trabalho nada mais é do
que a atividade física ou mental
intencional, extenuante e, como tal
necessidade eterna da existência
humana. Talvez ele ainda vai tão
longe para ver no trabalho da
essência do ser humano, que é o que
o distingue do animal e levanta fora
da natureza. Um panfleto intitulado
"Compartilhe a obra da Encarnação
do macaco", como Friedrich Engels,
no final do século 19 Século
escreveu, os modernos pode soar
um pouco dramático, mas traz o
estado ainda predominante de
consciência ao ponto. Traiçoeiro, na
verdade é que os círculos de
"esquerda" de Sindicatos de todas
estas escrituras comércio alemão
para preservar textos avaliam do
marxismo.
Agora, seria absurdo negar que a
preservação da vida e design
agradável produz todos os tipos de
coisas úteis e as diferentes
atividades devem ser executadas. Se
as pessoas querem comer, eles
precisam plantar, legumes e frutas,
animais da raça, eles precisam
cozinhar e em todos os campos,
uma vez aplicada, estábulos,
armazéns e cozinhas têm construído
e equipado, eles devem ter aprendido
a fazer tudo isso, eles devem acordo
sobre quem faz o quê e quando e
como as coisas produzidas são
distribuídos, etc, etc E isso
basicamente nunca vai mudar
alguma coisa, mesmo que pode ser
reduzida com a ajuda de
conhecimento e tecnologia do fator
tempo. O "trabalho" - Mas por que
tal completamente diferentes
atividades da sociedade civil, na
verdade, ser incluído em uma única
abstração?
Primeiro de tudo, pode parecer que
se trata de uma mera abstração do
pensamento, que é apenas a
compreensão conceitual da realidade
e facilidade de compreensão, bem
assim, como podemos dizer "árvore"
quando queremos dizer faia, carvalho
ou de bétula. Mas há uma grande
diferença. A abstracção de
"trabalho" não se refere ao conteúdo
das actividades intencionadas, mas
apenas na forma social em que são
realizados. O que conta como
"trabalho", não decidiu critérios
material sensuais, como a questão
de saber qual realiza alças e quais
são os produtos fabricados ou os
benefícios concretos que têm para
as pessoas. Único fator decisivo é
saber se uma atividade é
diretamente entra no contexto
abstrato e social da produção de
mercadorias, e esta é a
característica se é feito por dinheiro
ou não. Por conseguinte, uma
determinada actividade, dependendo
do contexto, uma vez considerada
como o trabalho e outras vezes não.
Ninguém pode negar, por exemplo, a
diferença que existe entre o papel de
parede e pintura de sua sala de estar
e as mesmas atividades como um
funcionário de uma operação de
pintura. O conteúdo da atividade é
exatamente a mesma em ambas as
vezes. Mas no primeiro caso, se
trata de satisfazer uma determinada
sensual precisa de mim (que, após a
mais bela sala de estar), no segundo
caso, no entanto, estou a serviço de
uma coerção completamente
sensual: o totalitário socio-forçado
para ganhar dinheiro. Contra essa
forçado todas as atividades são as
mesmas, independentemente do seu
conteúdo. O que conta é a sua
comercialização. Só então eles estão
a "trabalhar".
Nos chamados Dark Ages ninguém
cairia para a absurda idéia de
subsumir as atividades de um
ferreiro, esposa de um fazendeiro,
um cavaleiro ou uma freira em uma
única categoria abstrato-geral. Isto
só faz sentido onde as pessoas são
forçadas a viver a sua energia como
"mão de obra" para eles propósito
indiferente e externos para vender:
o fim em si mesmo, cego de
acumulação de capital. No marxismo,
o trabalho sempre figurou como um
contraste de capital. Esta é também,
mas só se ele representa um
Interessenpol no quadro comum da
produção capitalista de mercadorias.
Se o "trabalho" é a forma em que as
pessoas têm de vender sua energia
vital para sobreviver, então você
precisa do conteúdo específico de
suas ações acabará por ser tão
indiferente como o capitalista, que os
contrata. Se eles produzem
pesticidas ou construir estradas,
distribuir mendigos da zona pedonal
ou virar novelas - é o seu "trabalho"
e "deve ser feito". Isto inclui as
preferências pessoais e escrúpulos
éticos claro que não. Mas isso vale
para os capitalistas também. Haverá
sempre aqueles que querem produzir
quaisquer armas, mas sempre
encontrar também muitos outros
que gostam de ganhar o seu
dinheiro. A tão propalada escolha
moderna sempre se refere apenas
às opções no âmbito do sistema
Fetiche pressuposto de mão de obra
e capital.
Se a natureza coercitiva do trabalho
mais não percebem é hoje, então só
depende de quanto ele já internalizou
pontos. Mas nunca se deve
esquecer que, durante séculos, abrir
a violência, sim, uma verdadeira
guerra contra a maioria necessária
na Europa até que as pessoas
estavam dispostas a entregar
regularmente a sua energia vital nas
fábricas e usinas. O mesmo
processo sangrenta seguida repetiu-
se com algum atraso de tempo das
colónias e dos países a aproximar-
se com a modernização mercado
global - mas sem que para atingir a
mesma dimensão de profundidade de
interiorização como na Europa
Central. Aqui está o povo "trabalho"
se tornar uma segunda natureza
tanto que eles mal podem imaginar
qualquer outra forma de produção
social da riqueza é. A indicação
assustador disso é que quase todas
as atividades (mesmo aqueles que
não resultam diretamente em bens)
agora são, naturalmente, como
"trabalho" realizado. Mesmo assim
chegar a um acordo com um ente
querido torna-se uma "relação de
trabalho", e mesmo durante o sono
o que fazemos "emprego dos
sonhos". Estes não são apenas gafe
linguística, mas a evidência quão
profunda é a estrutura social
dominante para a psique individual.
Portanto, revelar-se na crise da
sociedade do trabalho capitalista
dominado temas como, talvez, a
maior barreira para a anulação do
sistema Fetiche decisão. Você não
quer parar de trabalhar, mesmo se já
descaradamente evidente que a
acumulação de capital atinge os seus
limites absolutos. A coisa louca
sobre essa crise fundamental é que
ele nunca vai voltar para a escassez
material, mas sim em uma
produtividade extremamente
avançada. Sob diferentes condições
sociais, isso pode ser usado sem
garantir ainda mais a fornecer todos
os povos do mundo a um nível
suficiente com os bens materiais e
também ainda para lançar um
enorme tempo para o lazer e
criativas actividades de angariação
de lúdico de qualquer tipo. Sob o
sistema obrigatório de produção de
mercadorias eo trabalho abstrato,
mas atingiu o nível da força
produtiva, inevitavelmente, leva à
exclusão de um número crescente
de pessoas do acesso aos meios
mais básicos de subsistência.
Mesmo a intenção bem-intencionada
da "redistribuição" é finalmente
condenado ao fracasso nas
condições dadas, porque o critério
para a participação no produto social
é a despesa do trabalho. Por isso
nem sequer gosta da idéia de uma
"renda básica" ou "renda do cidadão"
vem por aí, porque eles colocam a
taxa de valor a partir da
Vernutzungsprozeß força de trabalho
viva negócio na produção de bens
requer. Não deve ser parado (e que
seria o fim de tudo Münchhausiade)
esse processo, a redistribuição
monetária pode atingir na prática
apenas para a alocação de caridade
ainda em nível de assistência social. E
também uma redução nas horas de
trabalho ou aumento da flexibilidade
(na qual variante sempre) pode,
eventualmente, incorporar uma
pequena porção do caído
temporariamente fora de trabalho de
volta para o sistema - e isso
geralmente é apenas de uma
considerável renda dinheiro
deteriorado.
Tudo isso pode ser atribuído ao
insolúvel contradição fundamental
fundamental e inerente à produção
de bens de moderno, é que ele é ao
mesmo tempo dependente da
massa no trabalho de definição de
movimento, porque a sua loucura,
sensual "sentido" da acumulação de
capital só neste pode cumprir
maneira. Porque o capital não é
senão a representação fetichista do
passado ou "trabalho morto" (Marx),
do trabalho que tem sido dispendido
no processo de recuperação de
empresas. Por outro lado, a
concorrência de mercado obriga o
aumento permanente dos níveis de
produtividade econômica, de modo
um pouco mais de uma força de
trabalho tornando líquido, e assim
constantemente mina sua própria
sobrevivência econômica. Até a
década de setenta, o capitalismo
poderia esta contradição básica pela
expansão territorial e pela abertura
de novas áreas de indústrias de
trabalho intensivo e desarmar (por
exemplo, fabricação de automóveis).
Com o fim do fordismo, mas esta
estratégia adiamento atingiu os seus
limites, para a microeletrônica e
informações potenciais de
produtividade tecnologia
proporcionam uma fusão maciça de
mão de obra nos setores produtivos
da recuperação do núcleo, para a
qual já não há compensação, mesmo
aproximado. As supostamente
novos e promissores setores do
"emprego", especialmente no
chamado Dienstleistungsbreich, em
uma inspeção mais minuciosa
transformar muito rapidamente
como uma quimera.
A menos que tenha havido uma
nítida expansão e é simulada não só
por truques estatísticos, este não é
um sinal de mesmo uma solução
temporária para o dilema capitalista.
Em primeiro lugar, com base
"sucesso emprego" direta e
indiretamente para a enorme inflação
de crédito e área especulações de
que há muito se tornou o principal
motor da economia global. Ao
contrário da crença popular, o êxodo
de capitais neste domínio que não é
um obstáculo para os investimentos
produtivos representam, mas
principalmente fornece uma
alternativa bem-vinda para os
fundos que não podem ser "rentável"
investido na economia real. A crise
reciclagem basal não for resolvido
dessa forma, mas adiou por um
tempo. Quanto maior o atraso dura,
no entanto, mais a especulação
torna-se independente, o poderoso
eo retorno à acumulação real, os
sistemas sociais e as finanças
públicas serão (os eventos no
Sudeste da Ásia são apenas uma
fraca frente dela).
Enquanto o jogo ainda funciona, no
entanto, os fluxos de retorno
contribuir significativamente para a
preservação e criação de
"empregos", quando que nunca
poderia ser financiados contrário.
Isso se aplica não só para o setor de
governo, o tempo depende da
misericórdia do gotejamento de
crédito, mas também e cada vez
mais para uma grande parte do
capitalista privado "emprego", e sim,
em parte, mais uma vez, porque os
lucros especulativos são para a
compra de bens de consumo
edifícios e serviços é gasto a
trabalhar e, assim, posta em
movimento. Especialmente em os
EUA, onde muitos pequenos
investidores têm investido seus
recursos em ações, os ganhos do
mercado de ações têm sido um
motor essencial consumo nos
últimos anos. E se o orçamento do
governo dos EUA para 1999 terá,
pela primeira vez em 30 anos um
ligeiro aumento, então este é
principalmente devido aos lucros
especulativos desnatado fora. Como
o ex-governador Fed Lawrence
Lindsey pré-calculados, a
administração Clinton tem um total
de 225 bilhões de receita adicional
apropriado, até 2002, com firmeza
planejadas (ver Business Week
13.11.97). "Maná do céu" Lindsey
chamado irônico, no entanto, é um
paraíso altamente secular que
entraria em colapso em breve.
Em segundo lugar, mas a maioria
dos novos "postos de trabalho",
especialmente no setor terciário são,
portanto, conhecidos apenas
competitivo em tudo, porque os
salários são muito baixos, os apoios
sociais e trabalhistas foram em
grande parte ou completamente
removido e mal os impostos são
pagos. A falta de produtividade
econômica é, portanto, compensada
por uma extrema exploração do
trabalho e pela transferência dos
custos para o Estado superficial (e
apenas parcialmente) no nível
monetário. Mas a crise induzindo
contradição fundamental não pode,
portanto, ser resolvido. Porque a
partir do ponto de vista da utilização
do capital não é uma simples que até
mesmo o trabalho é gasto, mas se e
como o valor que ela representa. O
critério para isto é dada no estado da
força produtiva socialmente
necessário para a produção de um
determinado produto. Portanto, a
escala do valor dos sectores
produtivos do núcleo do mercado
mundial de produção é determinado.
Isso também não pode escapar do
setor de baixos salários, que
permanece exposto a esta
competição.
Assim, cerca de 500 horas por
tecido costureira jogar muito menos
números em um Schwitzbude quintal
e constitui, portanto, menos valor do
que uma hora de trabalho em um
robots têxtil equipado com laser. O
mesmo se aplica a uma vasta gama
de serviços comerciais, embora
ainda "produzir" nenhum valor, mas
que são sistemicamente
indispensável porque os bens devem
ser vendidos e agora novamente.
Toda a micro e comércio de rua, o
que representa uma grande parcela
do setor informal, especialmente nos
países do "terceiro mundo", deve
finalmente ser medido pelas cadeias
de supermercados racionalizadas
operando a uma fração do pessoal
muito maior rotatividade de
mercadorias. No desenvolvimento da
discussão teórica sobre os 70 anos
desse fenômeno era conhecido
como "desemprego oculto", porque
aqui, economicamente falando, o
tempo de trabalho é gasto
supérfluo. Foi considerado como um
fenômeno de transição nos países
do terceiro mundo, a modernização
capitalista deve desaparecer no
curso de um alvo (e agora falhou). O
cinismo do discurso neoliberal, no
entanto, é considerado o maior
sentimento, agora, quando as
pessoas estão nas cidades
ocidentais cada vez mais forçados a
trabalhar sob capitalista produtivo e,
portanto, de vender as condições
miseráveis. A principal coisa que eles
funcionam.
Embora este trabalho pode ser
economicamente terrorismo,
finalmente, não trabalhar fora, mas
como uma estratégia de gestão de
crises, ele é atualmente bem
sucedido a um ritmo alarmante.
Como no início da produção da força
de trabalho capitalista de
mercadorias é novamente
propagada e usado abertamente,
mas agora não mais para
einzubleuen pessoas a disciplina da
fábrica e para recrutá-los para os
"exércitos do trabalho", mas como
um meio de disciplina para uma
população que, do ponto de vista A
reciclagem é, na verdade, supérflua.
Servido a asilos moderno execução
de uma nova forma de reprodução
social contra a resistência de grande
parte da população, a corrente do
neo-liberais, social-democratas e
direita iguais defendeu compulsão ao
trabalho não tem outra finalidade que
não a manutenção desta forma de
longa obsoleto histórico. O pior de
tudo é que parece ser uma enraizada
necessidade massa é operado. Onde
chuva em todos os protestos, as
pessoas não são contra, mas para o
trabalho - na medida em que sua
raiva não é expresso nas mesmas
projeções darwinistas racistas, anti-
semitas e Social. Durante a crise
avança inexoravelmente, eles se
agarram desesperadamente à ilusão
masoquista para ser capaz de
continuar a vender a sua energia de
vida para sempre miserableren
condições. Se não é possível quebrar
essa fixação fatal e para criar uma
consciência de que o potencial de
criação de riqueza da sociedade
historicamente criado deve ser
removido das formas fetichistas de
trabalho e capital, a crise da
sociedade do trabalho está
destruindo o meio ambiente natural e
social completamente.

domingo, 16 de junho de 2013

[noé leva a dor] CARTA AO PREFEITO DE SÃO PAULO

Senhor Prefeito,

Uma parte de nós vem, nos últimos
dias, participando de manifestações
de rua contra o aumento das
passagens dos transportes urbanos.
Mas a ampla adesão ao movimento
mostra que não se trata apenas de
20 centavos. Não importa a nós,
nem a um número crescente de
cidadãos, se tal aumento foi abaixo
da inflação. Estamos manifestando
uma profunda insatisfação com
esses serviços urbanos. Mas não
apenas. É também a canalização de
uma sensação represada de
inconformismo, cada vez menos
difuso, com os rumos políticos do
país.

Não somos partidários do uso de
métodos violentos. Nem nós, nem
quase a totalidade dos
manifestantes, eleitores ou
opositores seus. Mas as atitudes da
polícia militar, ontem, mostraram
sem a menor sombra de dúvida que
quem acredita na violência não é o
Movimento pelo Passe Livre (MPL).
É o Estado, que demonstrou
enxergar na agressão, na força
bruta, as únicas ferramentas de
persuasão.

Em questão de minutos, senhor
prefeito, inúmeros relatos e imagens provam nosso ponto. Assista aos
vídeos. Leia os depoimentos.
Converse com paulistanos. A
manifestação ocorreria em relativa
tranquilidade, sem qualquer episódio
de violência, baderna ou vandalismo,
se a polícia não tomasse a iniciativa
de abrir as hostilidades. Ferindo
inclusive passantes e membros da
imprensa, com premeditação
criminosa. Depredando o próprio
equipamento policial para culpar os
manifestantes. Está tudo
documentado: a brutalidade seguiu
por horas, com cidadãos inocentes
sendo caçados como presas.

O governador Geraldo Alckmin já
havia dito claramente que mandaria
endurecer a repressão. Foi
endossado, cobrado amplamente
por editorias nos dois grandes
jornais da cidade. Eis nosso ponto.
De Alckmin, da Folha, do Estado de
S. Paulo não esperávamos nada
diferente. De você, sim.

Sua eleição representou para muitos
um ato de possível ruptura política,
de descontinuidade do estado policial
que o governador e a antiga
prefeitura nos oferecia. Nos causa
enorme tristeza e decepção não vê-
lo tomar uma posição que o afaste
claramente de tais políticas
repressivas. Vê-lo longe da cidade,
em Paris, ecoando as palavras
reacionárias de Alckmin,
reproduzindo os mesmos adjetivos
injustos, os mesmos clichês
conservadores que, temos certeza,
você já escutou em seu tempo de
militância.

Tem ideia de como isso nos atinge?
Vivemos em uma metrópole
exausta, à beira de um colapso físico
e psico-social, que intimida, oprime,
espanca e mata o melhor da sua
juventude: moradores da periferia,
ativistas, ciclistas, skatistas,
grafiteiros, músicos… Que por
tempo demais criminalizou nossas
últimas reservas de potência, saúde
e sanidade cidadã. Foi em nome
dessa potência, prefeito, que o
senhor pediu votos. Não para
defender o mesmo tipo de “ordem”
autoritária e insensível que o
governador e quem o elege
representa.O prefeito diz que tais
manifestações não são maduras,
pois não são capazes de apresentar
lideranças. Pois lhe dizemos com
toda franqueza: é o senhor que não
está sendo maduro.

Pois não compreende a nova lógica
do ativismo, da auto-organização, da
inteligência e da indignação coletivas.
Não entende que sua resposta não
será dada em uma mesa de
negociações. Há outras formas de
dialogar.Não encarne o poder como
seus antecessores. Não tema as
ruas. Não acredite que ceder a elas é
capitulação. Acredite, revogar esse
aumento, começar uma séria revisão
dos contratos e da política de
transporte na cidade, será muito
mais do que uma vitória dos
movimentos sociais. Será uma
vitória de São Paulo. Uma
demonstração de que um governo
popular é aquele que escuta o povo.
Será uma pequena vitória da ideia de
cidade que você diz manter.Se em
seus discursos você fez eco aos que
disseram nas praças que Existe
Amor em SP. Se quer, com essas
palavras, ser inspirador de
transformações, é essa
transformação, esse amor pela
cidade que hoje bate à sua porta.
Esperamos que agora ela não seja
trancada.


Movimento Existe Amor em SP!

[agáquê] INCERTEZAS

:: ilstrç :: Dr. Insekto ::

sábado, 15 de junho de 2013

[bolo'bolo] TUDO OU NADA



 A Máquina Planetária do Trabalho é onipresente; não pode ser desativada por políticos. Pronto. Será a Máquina nosso destino, até morrermos de câncer ou de doença cardíaca aos 65 ou 71? Terá sido esta a Nossa Vida? A gente imaginou ela assim? Será a resignação irônica nossa única saída, escondendo de nós mesmos nossa decepção pelos poucos anos de correria que nos deixaram? Talvez esteja tudo bem, e nós é que estamos dramatizando demais?

   Não vamos nos iludir. Mesmo mobilizando todo o nosso espírito de sacrifício, toda a nossa coragem, não vamos conseguir nada. A Máquina é perfeitamente equipada contra kamikazes políticos, como a Facção Exército Vermelho, as Brigadas Vermelhas, os Montoneros e outros já demonstraram. Ela pode coexistir com a resistência armada e até transformar essa energia num motor para sua própria perfeição. Nossa atitude não é um problema moral, nem para nós e muito menos para a Máquina.

    Quer a gente se mate, quer a gente se venda aos nossos negócios especiais, encontre uma abertura ou um refúgio, ganhe na loteria ou jogue coquetéis Molotov, junte-se aos Sparts ou ao Bhagwan, cutuque os ouvidos, tenha acessos de raiva ou ataques de delírio: estamos acabados. Esta realidade não nos oferece nada. Oportunismo não compensa. Carreiras são maus riscos; causam câncer, úlceras, psicoses, casamentos. Saltar fora significa auto-explorar-se nos guetos, mendigar nas esquinas de ruas imundas, esmagar piolhos entre as pedras do jardim da comunidade. A lucidez se tornou cansativa. A estupidez chateia.

   Seria lógico perguntar a nós mesmos coisas assim: Como eu realmente gostaria de viver? Em que tipo de sociedade (ou não-sociedade) eu me sentiria mais confortável? O que realmente quero fazer comigo? Sem pensar no aspecto prático, quais são meus verdadeiros desejos e expectativas? E vamos tentar imaginar tudo isso não num futuro remoto (os reformistas sempre gostam de falar sobre a próxima geração), mas durante as nossas vidas, quando ainda estamos em boa forma, vamos dizer durante os próximos cinco anos...

    Sonhos, visões ideais, utopias, aspirações, alternativas: não serão somente novas ilusões a nos seduzir novamente para participarmos do esquema do "progresso"? Não as conhecemos desde o neolítico, ou do século 17, da ficção científica e da fantasia literária de hoje? Vamos sucumbir de novo ao charme da História? Não é o Futuro o primeiro pensamento da Máquina? Será que a única saída é escolher entre o sonho da própria Máquina e a recusa de qualquer atividade?

    Tem um tipo de desejo que, onde quer que surja, é censurado científica moral e politicamente. A realidade dominante tenta aniquilá-lo. Esse desejo é o sonho de uma segunda realidade.

    Os reformistas nos dizem que é mesquinho e egoísta seguir apenas os próprios desejos. Precisamos lutar pelo futuro das nossas crianças. Precisamos renunciar ao prazer (aquele carro, férias, ar condicionado, TV) e trabalhar duro para que as crianças tenham uma vida melhor. Essa é uma lógica muito curiosa. Não foram exatamente a renúncia e o sacrifício da geração dos nossos pais, e seu trabalho duro nos anos 50 e 60, que trouxeram essa bagunça em que a gente está hoje? Nós já somos essas crianças, aquelas para quem houve tanto trabalho e sofrimento. Por nós, nossos pais fizeram (ou morreram em) duas guerras mundiais, incontáveis outras "menores", inumeráveis crises e falências grandes ou pequenas. Nossos pais construíram bombas nucleares para nós. Dificilmente foram egoístas: fizeram o que lhes disseram para fazer. Construíram com renúncia e sacrifício, e tudo isso apenas resultou em mais renúncia, mais sacrifício. Nossos pais, em seu tempo, superaram seu próprio egoísmo, e acham problemático respeitar o nosso.

   Outros moralistas políticos poderiam objetar que dificilmente estaríamos autorizados a sonhar com utopias enquanto milhões morrem de fome, outros são torturados, desaparecem, são deportados e massacrados. É difícil fazer valer os direito humanos mais mínimos. Enquanto a criança mimada da sociedade de consumo faz listas de desejos outras nem sabem escrever, ou não tem nem tempo para pensar em desejos. Mais, olhe um pouquinho em volta: conheceu alguém morto por heroína, alguns irmãos ou irmãs em asilos, um suicídio ou dois na família? Qual das misérias é mais grave? Dá para medir? Mesmo se não tivesse miséria, seriam nossos desejos menos reais só porque os outros estão piores, ou porque poderíamos nos imaginar piores? É precisamente quando a gente age só para prevenir o pior, ou porque outros estão pior, que a gente torna essa miséria possível, permite que ela aconteça. Nesse sentido somos sempre forçados a reagir às iniciativas da Máquina. Há sempre um escândalo ultrajante, uma incrível impertinência, uma provocação que não pode ser deixada sem resposta. E assim nossos setenta anos vão-se embora – e os anos dos outros também. A Máquina não se importa de nos manter ocupados com isso. É uma boa maneira de evitar que fiquemos conscientes desses desejos imorais. Se começássemos a agir por conta própria, aí sim haveria problemas. Enquanto apenas (re)agirmos na base das diferenças morais, seremos tão impotentes quanto rodas dentadas, simplesmente moléculas explodindo na usina do desenvolvimento. E como já estamos fracos, a Máquina acaba conseguindo mais poder para nos explorar.

    Moralismo é uma arma da Máquina, realismo é outra. A Máquina criou nossa realidade atual, nos treinou para ver segundo ela vê. Desde Descartes e Newton, ela programou nossos pensamentos, assim como a realidade. Estender deu padrão sim/não ao mundo inteiro e ao nosso espírito. Acreditamos nessa realidade, talvez por hábito. Mas enquanto aceitarmos a realidade da Máquina, seremos suas vítimas. A Máquina usa sua cultura digital para pulverizar nossos sonhos, pressentimento e idéias. Sonhos e utopias são esterilizados em novelas, filmes, música comercial. Mas essa realidade está em crise; a cada dia há mais rachas, e a alternativa sim/não é nada menos que a ameaça apocalíptica. A realidade definitiva da Máquina é sua auto destruição.

    Nossa realidade, a Segunda realidade, a dos velhos e novos sonhos, não pode ser presa na trama do sim/não. Recusa ao mesmo tempo o apocalipse e o status quo. Apocalipse ou evangelho, fim do mundo ou utopia, tudo ou nada: este é o único tipo de opção que a realidade atual oferece. Podemos escolher facilmente entre esta realidade e a Segunda realidade. Meias atitudes, tipo esperança, confiança ou paciência, são ridículas e enganadoras, pura auto-sedução. Não há esperança. Temos que escolher .

    O Nada se tornou uma realística possibilidade, mais absoluta do que os velhos niilistas ousaram sonhar. Nesse aspecto, os méritos da Máquina precisam ser reconhecidos. Finalmente, chegamos ao Nada! Não temos que sobreviver! O Nada se tornou uma alternativa realística com sua própria filosofia (Cioran, Schopenhauer, Budismo, Glucksmann), sua moda (preta, desconfortável), música, estilo de casa, pintura, etc. Apocalípticos, niilistas, pessimistas e misantropos têm todos bons argumentos para suas atitudes. Afinal, se você transforma a vida, a natureza ou a humanidade em valores, só existem riscos totalitários, biocracia ou ecofascismo. Você sacrifica a liberdade para sobreviver; novas ideologias de renúncia emergem e contaminam todos os sonhos e desejos. Os pessimistas são os únicos realmente libre, felizes e generosos. O mundo nunca será suportável de novo sem a possibilidade de sua autodestruição, assim como a vida do indivíduo é um peso sem a possibilidade do suicídio. O Nada está aí de prova.

    Por outro lado, Tudo também é muito sedutor. Claro que é muito menos provável do que o Nada, mal definido, parcamente pensado. É ridículo, megalomaníaco, pretensioso.


NADA


Talvez esteja aí só pra tornar o Nada mais atraente.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

[do além] JUNKIE BIKER

:: txt :: William Seward Burroughs II ::

A ocasião exigia uma certa liturgia. Servi uma dose de Bourbon, tomei minha benzedrina, e sentei-me para ver a entrevista de Lance Armstrong no programa da Oprah. Aliás, sou dependente desta mulher, não consigo deixar de assisti-la, já tentei até internação numa clínica sem televisão. Ela é minha heroína.

Como você sabe, eu adoro relatos de viciados. E, no século XXI, eles estão cada vez mais raros. Não há mais ambiente para tais confissões. Antes, a patrulha era só com as drogas. Hoje, o sujeito declara que comeu um bolinho de arroz, fritado em gordura trans, e já é hostilizado pelos seus pares. Se ascende um cigarro, então, mesmo que convencional, é um ameaça à sociedade.

A entrevista começou de forma previsível. Lance confessou que usou substâncias proibidas para conquistar sete títulos da Volta da França. Confessou em termos. Depois dos testes de laboratório que apontaram o doping, ele não tinha outra escolha. Digamos que ele confirmou. Mas esta não era esta a parte que me interessava. Eu queria saber mesmo, pela boca dele, o que ele tomava, como comprava, quais eram os procedimentos, que barato sentia.

Logo vi que o programa ia frustrar minhas expectativas. Armstrong estava se esforçando demais para aparecer arrependido e culpado. Quando Oprah perguntou se ele concordava com a declaração contida no relatório da Agência Americana de Antidoping que apontava o seu caso como “o mais profissional, sofisticado, inteligente e bem sucedido sistema de dopagem da história do esporte”, o compungido atleta perdeu a oportunidade de gritar ”Yes, yes, it’s true! Eu teria me levantado para aplaudir.

Ok, teve uma parte boa. O relatório da agência disse também que ele influenciou e difundiu a cultura de droga no time de ciclismo americano. Oprah mais uma vez perguntou se ele confirmava tal acusação. Este Lance é o cara. Por modéstia, negou sua influência.

Confesso que fiquei com uma inveja danada do esquema que ele montou. Já pensou ter uma equipe a sua disposição só para te drogar? Se, em Tanger, sob o efeito do haxixe eu ficava por até seis horas datilografando na velocidade máxima, imagina com a equipe do Dr. Ferrari trocando meu sangue, acrescentando hormônios, EPO, corticoides e tudo mais. Eu teria ganho a Volta da France e escrito o Almoço Nu, sem sair do selim.

Espero que Armstrong tenha aprendido a lição e passe a fazer o uso recreativo de drogas sem mentir. Ele ainda nos deve uma descrição minuciosa de como é pedalar turbinado. Chega de sentimentalismo moralista. Este episódio é uma ótima oportunidade para que ele reescreva seus livros, reconte sua história. Sua escrita de autoajuda pode agora ganhar contornos de literatura beat. Tenho certeza que Kerouac e Ginsberg, assim como eu, teremos orgulho de dividir a prateleira com alguém que está com a cara na sarjeta.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

[uíquilíquis] INFORMANTES

Os jornalistas Diogo Mainardi, da revista Veja, e Merval Pereira, do jornal O Globo, foram informantes do cônsul dos Estados Unidos durante as eleições de 2010. Ambos ajudaram o governo norte-americano a atuar no processo eleitoral brasileiro para eleger o candidato pró-imperialista José Serra (PSDB).

O telegrama “10RIODEJANEIRO32” relata que Merval Pereira reuniu-se com o cônsul no dia 21 de janeiro de 2010 para falar sobre a conversa que teve com Aécio Neves e buscar seu compromisso para a campanha de Serra.

Os documentos revelam ainda a relação desses jornalistas com o PSDB, o que era óbvio pela campanha que realizam contra o governo do PT pela direita.

Diogo Mainardi reuniu-se em almoço privado no dia 12 de janeiro de 2010 com o cônsul dos EUA no Rio de Janeiro para discutir a formação da chapa da direita nas eleições presidenciais durante a qual revelou sua vinculação ao PSDB.

O documento relava que a “recente coluna [de Mainard], na qual propõe o nome de Marina Silva como vice-presidente na chapa de Serra, foi baseada em conversa entre Serra e Mainardi, na qual Serra dissera que Marina Silva seria a ‘companheira de chapa de seus sonhos’ (…). Naquela conversa com Mainardi, Serra expôs as mesmas vantagens que, depois, Mainardi listou em sua coluna: a história de vida de Marina e as impecáveis credenciais de militante da esquerda, que contrabalançariam a atração pessoal que Lula exerce sobre os pobres no Brasil, e poriam Dilma Rousseff (PT) em desvantagem na esquerda, ao mesmo tempo em que ajudariam Serra a superar o peso da associação com o governo de Fernando Henrique Cardoso que Dilma espera usar como ponta de lança de ataque em sua campanha”.

Essa descrição da conversa, presente no documento, revela também a vinculação dos jornalistas da imprensa capitalista brasileira com a direita pró-imperialista. Em sua coluna, Mainaridi escreve o que o PSDB e o governo dos EUA querem que ele escreva.

Documentos mais antigos divulgados pelo portal revelaram que o jornalista William Waak, apresentador do “Jornal da Globo”, também foi informante do governo norte-americano. Além do nome do jornalista são citados nos documentos o diretor de redação da revista Época, Helio Gurovitz, e os jornais Valor Econômico e O Globo, a respeito das reportagens sobre as eleições presidenciais de 2010.

O governo norte-americano tem uma série de “consultores” e “informantes” em todos os países do globo. No Brasil, seus representantes são, principalmente, o PSDB, a revista Veja, as organizaçõesGlobo, além dos recém-criados institutos Millenium, von Mises e outros que visam reorganizar a direita brasileira e são financiados pelo imperialismo.

Uma série de iniciativas da direita pró-imperialista mostram a tentativa desse setor de retomar o governo do estado, seja por meio das eleições, seja por métodos extraparlamentares.

A visita da blogueira Yoani Sanchéz, a pedido do PSDB, no Brasil  foi uma dessas iniciativas para continuar a campanha permanente contra Cuba. A blogueira agora é uma das associadas do institutoMillenium, organização da direita que conta com dezenas de jornalistas dos principais órgãos de comunicação do País e de representantes da direita pró-imperialista.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

[agência pirata] TENÓRIO JR.


Ícone da Bossa Nova, o pianista brasileiro Francisco Tenório Junior foi mais um dos inúmeros assassinados pelos sangrentos regimes ditatoriais que se instalaram na América Latina ao longo do século XX.

Em 1964, aos 21 anos, Tenório gravou seu primeiro e único disco, Embalo. Ao seu lado, os músicos Sérgio Barroso (baixo), Milton Banana (bateria), Rubens Bassini (congas), Celso Brando (violão), Neco (guitarra), Pedro Paulo e Maurílio (trompete), Edson Maciel e Raul de Souza (trombone), Paulo Moura (sax alto), J. T. Meirelles e Hector Costita (sax tenor). Desde então, e ao longo dos anos 70, Tenorinho, como também era conhecido, tornou-se um dos mais respeitados músicos brasileiros.

Em 1976, Tenório Jr. viajou para Buenos Aires, acompanhando Vinícius de Moraes e Toquinho em uma turnê. No dia 18 de março, após uma apresentação no Teatro Grand Rex, os músicos foram para o Hotel Normandie, onde estavam hospedados. Durante a madrugada, o pianista resolveu sair em busca de remédios e nunca mais voltou. Foi preso pela rede clandestina da repressão oficial argentina. Torturado durante nove dias, após ter ficado claro o seu não envolvimento com atividades políticas, recebeu um tiro na cabeça. Deixou Carmen Cerqueira Magalhães, sua mulher, grávida, além de quatro filhos. A quinta criança nasceu um mês após o seu desaparecimento.

Vinícius de Moraes, Toquinho e mais alguns amigos, como o poeta Ferreira Gullar (exilado em Buenos Aires) mobilizaram-se inutilmente. Procuraram em hospitais e delegacias e buscaram ajuda na embaixada brasileira. O governo brasileiro, em 1976, informou que nada sabia e o Itamaraty anunciou que "envidava esforços" para localizar o pianista desaparecido. Mentira.

Em fevereiro de 2006, a Comissão de Mortos e Desaparecidos do governo federal reconheceu a culpa do Estado pelo desaparecimento do pianista Tenório Júnior. A relatora do processo de Tenório Júnior, Márcia Adorno Ramos, afirmou que, apesar de o fato ter ocorrido em outro país, o governo brasileiro pouco fez para tentar descobrir o paradeiro de Tenório. Ela acusou o Estado de não se esforçar. “O fato de existirem lacunas nos arquivos das representações diplomáticas em Buenos Aires que pudessem esclarecer os fatos, não exime o Estado brasileiro de sua responsabilidade sobre a apuração do fato. Muito se noticiou na imprensa brasileira sobre o desaparecimento da vítima por parte de amigos e familiares, mas não há registro na imprensa da época, e nos anos seguintes, sobre o empenho das autoridades estatais a elucidar o caso. Houve total silêncio das autoridades no curso desses quase 30 anos do ocorrido. É dever do Estado a proteção de seus nacionais em quaisquer circunstâncias”, diz a relatora. O governo argentino reconheceu que Tenório foi vítima da ditadura instalada no país e pagou indenização à família.

Mesmo a embaixada brasileira tendo sido comunicada do assassinato de Tenorinho, no mesmo mês de março de 1976, o governo brasileiro jamais tomou a iniciativa de se comunicar com os familiares do músico, que não receberam sequer seus restos mortais.


DOWNLOAD: TENÓRIO JUNIOR - EMBALO - 1964 - 320 Kbps

sábado, 8 de junho de 2013

[copyleft] O ROUBO DE IDEIAS SÓ SE DISCUTE ONDE ELAS NÃO EXISTEM


:: txt :: Reuben da Cunha Rocha ::

Os acadêmicos sem imaginação merecem a polícia, já que desejam algum tipo de madrasta, do mesmo modo que a universidade, quando atua como polícia, não merece metade de um cérebro que se dispõe a gastar tempo com ela. É impraticável discutir o plágio, em seus lances mais instigantes, ou enquanto questão, quando os plagiadores produzidos nas academias não passam de ladrões sem graça, e quando a política das casas de saber é produzir cartilhas sobre como não copiar a si mesmo.

Quando Guy Debord, no magistral Panegírico, registra que a citação desviada não vale mais a pena porque ninguém pode identificá-la, parece agora um gesto de boa vontade. Aqueles que podem praticá-la não a reconheceriam nem com um apud grudado na testa, e os que a praticam, é porque não sabem fazer mais nada.

Em todo caso, as universidades sempre viram o plágio como puro roubo; também por isso as experiências de fusão de materiais se efetivaram sobretudo nas artes ou em conexão com elas. Me parece, como já escrevi acerca de Kenneth Goldsmith, que atualmente se coloca um falso problema, de que toda criação é plágio, ou remix, como se interessasse uma técnica de despersonalização da escrita, e não que o escritor seja algo entre multiplicidades. Não se resolve um problema de autoridade concedendo-a a um senhor diverso, e além do mais esse tipo de formulação, “tudo é isto ou aquilo”, só poderia servir para dissolver um problema, não vale nada se apenas o reverte para instituir um totem.

Enquanto o poeta da Casa Branca não larga o osso de seu fantasma moderno, a universidade perpetua um tipo de autoria de casta, em que o principal é deixar claro a quem se pertence, por declarações de “recorte”, “viés” e comprometimento com os tópicos dados por um campo. [No mestrado em Ciências Sociais da UFMA, a cada dia um “novo trabalho” explica o bumba-meu-boi, o reggae, o tambor de crioula e até mesmo o brega segundo Pierre Bourdieu, esta verdadeira prótese].

O rigor da documentação (no fundo um recurso cientificista, a “exigência da prova”, embora sirva para alguma coisa) também serve a esse mecanismo. Recentemente, comentando uma simples exposição de motivos da mudança de meu projeto de doutorado, um raciocínio em voz alta de três páginas, uma professora sugeriu que eu apresentasse fontes, “porque senão poderiam pensar que saiu tudo da sua cabeça”. De fato, tudo saiu da minha cabeça, mas felizmente ela é povoada por muita gente diferente de mim. Como se vê, demonstrar que não se pensa sozinho é a principal ocupação de quem deveria estar pensando alguma coisa, por isso a escrita universitária é cheia de barricadas.

A lógica hegemônica do texto acadêmico só conhece um sistema de citação, ao qual a escrita está subordinada – e não o contrário. As citações tomam partido de um sistema de autoria, que possui destacados traços semióticos, como a recusa da igualdade de termos com o texto (sobrenome em caixa alta, citações longas destacadas da narrativa). É por isso que, a não ser por quem não é bobo nem nada, já se sabe como corre a história: após elencar “todos” os autores que já tocaram no assunto, o acadêmico acrescenta sua vírgula.


Um livro muito popular em certos departamentos de Comunicação ilustra essa curiosa mentalidade. Em “Dos meios às mediações“, o professor Jesús Martín-Barbero faz resenha de um número assombroso de livros e autores, para ao final de cada uma delas mostrar de que modo ninguém abordou a questão que interessava a ele próprio. Até para dizer o que supostamente não se disse é necessário citar, ao preço de responsabilizar outros autores por coisas que sequer lhes preocupava. Aparentemente, é preciso falsear muitos autores para se tornar um.

Parece pouco brigar com um formato, mas é um modo de lhe recusar a transparência, ou naturalidade, que como em tudo o mais não existe; não se deve supor que uma estrutura lógica possa apenas ser preenchida pelos conteúdos “propriamente científicos”. Se o Iluminismo legou uma noção essencialista da autoria, na escrita acadêmica é a lógica do formato que se toma por essência; e aos que gostam de dizer que ela é útil, esta modalidade de escrita, aos que a absolvem por sua utilidade, seria preciso lembrar que essa eficácia é o principal mantenedor de sua hegemonia.

A citação direta, entre aspas e destacada do texto, que pode perfeitamente funcionar, deve muito de sua manutenção a uma inabilidade para digerir. É mais fácil mantê-la intacta, para não fazer bobagem, para não mudar nada.

Me lembro da graduação, quando uma excelente monografia do curso de História da UFMA não pôde ser aceita na biblioteca da universidade por não ter um resumo (o orientador, puto da vida, escreveu um resumo de próprio punho, na mesma hora, a caneta, e depositou o trabalho). Via twitter, tem uns meses, Alexandre Nodari dizia que um departamento não queria receber a sua tese porque na capa não constava seu nome completo. Quando estava no mestrado, fui “aconselhado” a utilizar palavras-chave diferentes das que usei, porque estas não “pertenciam ao campo”, embora dissessem algo sobre o texto.

Ocorre na universidade o mesmo que no jornalismo ou em qualquer produção intelectual que se queira normatizar: ela seca, condenada a uma forma, porque aí basta preencher alguma coisa, e é a vitória dos funcionários. Seria melhor algo semelhante ao corpo de Tetsuo em Akira, de Katsuhiro Otomo, que não cessa de crescer porque a força dentro dele possui enorme apetite, e absorve outras coisas em si, assimilando porta-aviões, edifícios, aviões ao corpo que não basta. Como se sabe, o preço é a sua identidade, que se dissolve na força, assim como um autor aciona coisas a perder de vista, a começar da sua.

Para que se pense, não importa de onde as ideias vêm, mas para que servem. Esta fixação da retaguarda, inclusive, é também razão para a autoria ser uma grife, para uma ideia valer tanto quanto vale seu autor no feirão do imaginário.

Uma ideia não precisa de autor para bater na mente. Felizmente, muitos entendem o que isso quer dizer. A pirataria forçou muitas portas de entrada para o século 21, que ainda não começou, e a universidade está ocupada retocando as paredes que sobraram.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

[nem te conto] RELATOS DE UM SUICIDA

:: txt :: Jacson Faller ::

 Primeiro relato



Não. Não é por acaso que inicio este escrito com uma negativa. Sou negativo. Minha natureza é negativa. E, apesar de tudo, tenho muita sorte. Talvez não. Hoje, logo que acordei, precisei dar uma caminhada, na chuva; digo que precisei, mas, não é necessariamente isso. Era, como sempre, pela ansiedade matutina que me agride. Sempre. Sem falta. E como já foi dito, é ao acordar, ou ao amanhecer, a mais fatal hora do dia. Que é neste momento que a angústia e a ansiedade se alimentam... Pode ser também que ninguém tenha dito. Na verdade o mais importante, no dia de hoje, era dar vazão à loucura. À minha loucura cotidiana. Relatar sem discriminações meus devaneios e razões a qualquer custo. Sinto a necessidade de ao menos tentar entender um pouco de quê, necessariamente, se alimentam estes males que conosco despertam e conosco – vão dormir. Meu insucesso está garantido nesta empreitada; e isto me entristece profundamente. Sei que por mais que ainda viva não terei tempo suficiente para chegar a uma conclusão acerca deste assunto.

Agora deixarei o texto de lado. Hoje à noite irei confraternizar com meus colegas de trabalho, não creio terei alguma satisfação. Estas festinhas onde só se fala sobre o próprio emprego e todos concordam com todos e que aquele que detém a palavra é sempre melhor do que aquele que está a ouvir (claro que depois os papéis se invertem e a tortura continua), nestas festas me desperta um tédio medonho. Mas como, desta vez, fomos autorizados a convidar também amigos e familiares, talvez conheça alguém interessante; já que irei sozinho e não levarei nenhuma vítima, terei oportunidade de encontrar alguma presa. Tenho várias coisas desinteressantes para fazer antes que a noite chegue; vou me aprontar para a festa e – que eu tenha sorte!




 (Três e meia da madrugada)



Bebida de graça. Sexo fácil e sem compromisso. Um porre magnânimo. É! Faço um balanço positivo desta confraternização. Ontem à noite conheci um poeta. Tive muita pena daquela criatura, seu olhar era tão triste, tão vulnerável... (E pensar que um dia desejei poetar!). Relatou-me que em uma manhã de Setembro ele saíra para fazer seus exercícios quando (nunca pensei que intelectuais se exercitassem, que ignorância a minha!) entrou numa rua próxima à sua casa, e que nesta rua havia várias árvores com umas flores quase mortas e quase vivas e quase flores que (isso me deixou confuso) o perfume era, definitivamente, inenarrável... Era impossível para qualquer homem transmitir, em palavras, a beleza, o cheiro e o som daquele momento. Realmente eu tive muita pena dele. Pois eu, quando no dia anterior havia ido, na chuva, andar um pouco, por coincidência entrei nesta mesma rua; senti esse perfume e admirei essa beleza e, acreditem, ouvi aquele som... Porém, não sou escravo de arte alguma, não preciso, nunca, não tenho a necessidade de expressar meus sentimentos. Sou livre. E eu, apenas eu, naquela rua tive o prazer de sentir de maneira única a essência e o sentido da vida. Conhecem Murphy?  Pois é... “Se você estiver se sentindo bem, não se preocupe. Logo passa”. Passou. Acho que durou um minuto. Durou o tempo suficiente para eu me distrair e seguir caminhando enquanto o sinal ainda estava aberto aos carros. Que buzina filha da puta! Quase que causa mais danos que se o automóvel tivesse me atropelado. Mas voltando ao assunto: que tristeza – ser poeta!

sábado, 1 de junho de 2013

[...] LOUCURA IN LOCO

:: psy :: Júlio Freitas ::

Onde
fica guardada sua loucura?
fica a risada obscura?
em qual camada ou fissura?

Onde
fica a charada, a travessura?
sua estrada, temperatura
em qual fachada ou armadura?

o que quer esconder.

Onde
fica calada sua censura?
fica pintada sua textura?
em qual entrada ou ranhura?

Onde
fica enlatada sua diabrura?
sua cartada, sua tortura
em qual caçada ou aventura?

Onde
fica calada sua ditadura?
fica guardada sua doçura?
em qual calçada ou cobertura?

depois do anoitecer.

Onde
fica guardada sua loucura?

#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

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Ficando claro que:

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