#CADÊ MEU CHINELO?

sexta-feira, 30 de março de 2012

[rango] COZINHA TRADICIONAL vs. GASTRONOMIA MOLECULAR


Bodeg¢n con caballas, limones y tomates, 1886

::txt::Tiago Jucá Oliveira::
::jpg::Van Gogh::

A unidade IV do livro de Gastronomia e Alta Cozinha, do curso do IGA (Instituto Gastronômico Argentino), me despertou um interesse além do esperado. Conhecer as diversas cozinhas do mundo, por si só, já é o suficiente pra me manter antenado e querer aprender quais são os pratos típicos, os métodos, os ingredientes e os temperos de cada país.

Eis que o referido capítulo, sobre a cozinha espanhola moderna, traz algo muito mais curioso e que ainda não havia estudado: as rivalidades, o antagonismo e as divergências gastronômicas. E isso me interessa, me atrai, me fascina: o conflito de pensamentos. Não curto unanimidades, elas são burras, já dizia Nelson Rodrigues. Porém, divergir por divergir sem a argumentação necessária e apenas por implicância, ou em busca somente da polêmica, não pode nos nortear pra um debate sério. Não podemos dar ouvidos a egos ciumentos. É necessário argumentos.

Vamos aos fatos! Ferran Adrià é considerado um dos melhores chefes de cozinha do mundo, senão o melhor, de acordo com especialistas. Sua grande façanha foi introduzir novas e modernas técnicas, tais como a desconstrução, que, segundo o livro do IGA, “consiste em isolar os diversos ingredientes de um prato, geralmente típico, e reconstruí-lo de maneira não usual, de tal modo que o aspecto e textura sejam completamente diferentes enquanto o sabor permanece inalterado”. Para chegar a esse resultado, o cozinheiro catalão se abastece com artimanhas químicas e aditivos industriais, tipo espumas feitas com sifões, alginatos, nitrogênio líquido, etc.

Chef proprietário do restaurante El Bulli, situado em Girona (Catalunha) e fechado em julho de 2011 com um banquete de 50 pratos, Adrià já foi condecorado com três estrelas Michelin. O sucesso dele não se resume a estrelas e prêmios. Seu legado atrai muitos admiradores e originou outros tantos imitadores. E foi essa onda de cópia gastronômica que gerou severas críticas.

O maior crítico da cozinha de Adrià é Santi Santamaria, também catalão e que partiu daqui para melhor em fevereiro de 2011 enquanto visitava seu restaurante em Cingapura. Adepto da cozinha tradicional, Santamaria denominou o método molecular de “tecnoemocional”. Autor do livro “La Cocina al Desnudo”, Santamaria soltou o verbo, desencadeando uma polêmica na Espanha e no mundo sobre como devem e não devem ser os métodos gastronômicos de se fazer comida. Não tenho o livro e nem o encontrei pra baixar na internet, mas Santamaria tinha um blog (e segue mantido por admiradores que postam seus textos e pensamentos) no qual opinava a respeito das polêmicas geradas por ele.

No artigo “Dicen que tú no cocinas”, Santi introduz o tema com a língua mais afiada que suas facas de cortar carnes: “A los cocineros jóvenes que abren restaurante con ciertas pretensiones, les interesa hoy practicar una cocina con las mínimas referencias posibles a la tradición local. Defienden una creación vanguardista baseada, paradójicamente, en copiar a los cocineros de moda, cambiando o adaptando los ingredientes de sus recetas, y al resultado lo llamam 'cocina creativa'. El conocimento, la técnica y la precisión pasan a un segundo plano: lo importante es seguir la corriente dominante y, si es posible, participar en el circo mediático y salir en los rankings y listas de cierta crítica”.

Observe acima que a crítica se refere mais aos seguidores de Adrià do que ao próprio, embora também tenha indiretas ao “circo midiático” que dá holofotes a estes “jóvenes cocineros”, pois é a mídia quem cria as listas de melhores restaurantes nas quais todos querem estar. Nota-se também que na lista que ele linka no blog não consta, entre os dez melhores restaurantes do mundo de 2011, nenhum de sua propriedade, embora também não apareça o El Bulli, de Adrià. Engraçado, ou paradoxo, é que Santamaria é o primeiro chef catalão a receber três estrelas no Guide Michelin.

Quiero denunciar”, dispara a metralhadora de Santamaria em direção a Adrià, “la cocina que no respeta el entorno natural, social y cultural de su país, porque castra la libertad creativa de los cocineros y contribuye a la aculturación de la ciudadania. Quiero denunciar también el abuso que se hace de la ciencia al relacionaria con la cocina: el método científico permite que, mediante una serie de conjeturas y refutaciones, nuestras teorías se acerquen a la verdad. Este acercamiento a la verdad es el progreso científico. Pero, en cocina, ¿a qué verdad nos acercamos? ¿Qué progreso 'científico' nos lleva a preferir una espuma a un guiso? Denuncio, pues, la impostura de la novedad por la novedad, porque siempre habrá alguien, en algún rincón del mundo, que haya inventado algún artilugio o utilizado algún producto o empleado algún proceso antes que tú, pero no por eso su cocina será mejor que la tuya. La cocina es fundamentalmente cultura y, si quieren, puede llegar a ser arte. La ciencia es otra cosa”.

Quando há um ataque ríspido como o entre aspas acima, sempre haverá um contra-ataque igualmente ríspido. Santamaria não saiu ileso de suas críticas. Uma das contestações mais contundentes anti Santi que encontrei foi a do jornalista e professor da Universidade de Santiago de Compostela, Manuel Gago. Editor do site Capítulo Cero (un menú degustación da vida), o galego também mostra que é bom no tiroteio:

Cando se produciu a polémica do seu libro 'La Cocina al Desnudo',” inicia Gago, “comecei a ler o volume con calma, para tentar saber de que ía todo isto. (…). Podemos falar do que queiramos, pero o libro é mediocre. Ten tres problemas: unha baixa calidade de edición (reiteracións, estrutura caótica, unha sensación de que todo isto se podía ter escrito en tres parágrafos), unha demagoxia bastante barata e evidente e unha absoluta carencia de dados e de rigor. (…). Santamaría eríxese en defensor da boa cociña, da cociña de sempre, coidada e con gran atención do produto. Constrúe o seu discurso en base ao negativo, com dous grandes inimigos argumentais: o fast food de raíz norteamericana e a cociña experimental de Adriá. Ao lelo, dábame conta da torpe trampa argumental da súa redacción. Lembrei todas as veces que malcomín, com mal produtos, com mal aceite, coccións pésimas, en antros de comidas máis ou menos tradicional, … Todo un malcomer de oficinista ao que Santamaría esquece de forma pasmosa. Un Cociñero de prestixio podería axudar a reflexionar publicamente sobre o problema, pero non o fai. Obviamente, a Santamaría non lle preocupa a saúde pública, ainda que apele a ela continuamente: malia reflexionar sobre os beneficios dunha dieta saudábel e a orixe dos alimentos no epígrafe II (Natural) pero non se chega máis alá. O cociñero preocúpase, máis ben, polos extremos intocábeis das Whopper e os Menús de 200 euros, deixando fóra a boa parte da poboación á que pretende dirixirse... non é difícil decatarse de que máis que defender e propagar, o seu argumento está construído para atacar”.

Assim como no começo eu contrariei o simples fato de criticar por criticar, sem o embasamento necessário para uma antítese, Gago segue o mesmo pensamento. Segundo ele, Santamaria constrói seu argumento para atacar, sendo que aquilo que defende (dieta saudável, origem dos alimentos) se resume apenas a um capítulo do livro. Gago também toca em outro assunto polêmico. De acordo com ele, “La Cocina al Desnudo está construída a partir de recortes de prensa! ¡Este home case non leu ningún estudo completo para facer o libro! Páxinas e páxinas argumentadas a partir de titulares e dúas columnas de El País, La Vanguardia ou El Periódico sobre estudos alimentarios ou agrícolas, sen ir máis alá”. Santamaria é criticado acima pelo fato de teorizar a partir de mínimas referências possíveis, algo que o próprio chef também ataca com tenacidade. Basta observar o início deste texto que vos escrevo, no qual o catalão desce a mamona na rapaziada: “aos jovens cozinheiros interessam praticar uma cozinha com as mínimas referências possíveis...” para logo em seguida citar uma das mais famosas frases do pensador Eugenio D'Ors: “todo lo que no es tradición, es plagio”.

Para a professora espanhola Luisa, autora do blog El Fondo del Estanque, que assim como Santamaria evoca a famigerada frase de Eugenio D'Ors para refletir a respeito do plágio, “tradición significa la transmisión de noticias, composiciones literarias, doctrinas, ritos, costumbres, etc., hecha de generación en generación”. Já o plágio, no entender dela, “se entiende como una copia en lo sustancial de obras ajenas, dándolas como propias”. No entanto, assim como eu, ela reconhece que “no se pude hacer nada creador sin la tradición y como dice el filósofo Nicolai Hartmann, 'nadie empieza con sus propias ideas'. El hombre individual y colectivamente considerado no crea nada sino que sólo desarolla unas posibilidades recibidas. La tradición por lo tanto es necesaria: así como cada persona tenemos una memoria que nos hace ser nosotros mismos, la tradición es la memoria de la comunidad, en tanto que se sabe que todo lo que tiene lo debe a las generaciones pasadas. Sin memoria cada ser humano se iguala, de manera que sin tradición las sociedades se igualan, al mismo tiempo se mueren”.

Um dos livros que faz parte de minha biblioteca básica também recorre ao tema plágio, o empolgante “Distúrbio Eletrônico”. Segundo o Critical Art Ensemble, “o plágio tem sido há muito considerado um mal no mundo cultural. Tipicamente, tem sido visto como um roubo de linguagem, idéias e imagens executado pelos menos talentosos, frequentemente para o aumento da fortuna ou do prestígio pessoal. Talvez as ações dos plagiadores, em determinadas condições sociais, sejam as que mais contribuem para o enriquecimento cultural. Antes do Iluminismo, o plágio tinha sua utilidade na disseminação das idéias. Um poeta inglês podia se apropriar de um soneto de Petrarca (poeta italiano), traduzi-lo e dizer que era seu. O verdadeiro valor dessa atividade estava mais na disseminação da obra para regiões onde de outra forma ela provavelmente não teria aparecido”.


ARTE MODERNA: UM PARALELO COM A GASTRONOMIA PARA CONTRIBUIR COM O DEBATE SOBRE A DIALÉTICA ENTRE O MODERNO E O TRADICIONAL


Bodeg¢n con limones y botella, 1887

O filósofo catalão Eugenio D'Ors foi um dos maiores críticos da Arte Moderna, expressão artística manifestada em diversas áreas (literatura, arquitetura, design, pintura, escultura, teatro, música) de diferentes tendências (cubismo, expressionismo, futurismo, surrealismo, dadaísmo) surgida da virada do século XIX para o XX, e que se contrapunha à tradição acadêmica em vigor até então. Dos modernistas mais conhecidos e fundamentais para a ruptura com o passado podemos destacar os pintores Kandinsky, Picasso, Van Gogh, Mondrian; escritores como T.S. Eliot, Virginia Woolf, James Joyce, Marcel Proust, Franz Kafka; os músicos Schömberg, Stravinsky; e os arquitetos Le Corbusier e Gropius. Junto com o modernismo há o advento do cinema, e Sergei Eisenstein é o pioneiro modernista na sétima arte. Aqui no Brasil os modernistas eclodem com a Semana de Arte Moderna, em 1922; os principais nomes são os irmãos Oswald e Mário de Andrade, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Manuel Bandeira, Villa Lobos, Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral, Plínio Salgado. O modernismo brasileiro é uma inspiração fundamental pra inovações musicais posteriores, tais quais a Bossa Nova (João Gilberto, Tom Jobim), o Samba-Jazz (Moacir Santos, J.T. Meirelles, Sergio Mendes) e o Tropicalismo (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Os Mutantes).

Assim como há uma ruptura com a cozinha tradicional feita por Adrià e uma reação feroz por parte de Santi, a Semana de 22 foi duramente criticada por Monteiro Lobato. O escritor acreditava na ideia que o verdadeiro brasileiro era o homem do interior, então, por conta disso, a cidade de São Paulo e seu povo nunca foram fontes de inspiração para ambientar sua obra nem para caracterizar seus personagens. Ainda mais uma São Paulo que emergia culturalmente e industrialmente, e que seria sede da Semana de Arte Moderna. Uma das raras vezes em que falou sobre a capital paulista, Lobato estava a ironizar a modernidade e urbanidade da metrópole, mas também a cutucar Mário de Andrade, autor do poema “Anhangabaú”, de Paulicéia Desvairada, em 1920:

parques do Anhangabaú nos fogaréus da aurora
oh larguezas dos meus itinerários!...
estátuas de bronze nu correndo eternamente
num parado desdém pelas velocidades...


No conto “O Fisco”, Lobato se mostra talentoso como humorista satírico: “No princípio era pântano, com valas de agrião e rãs coaxantes. Hoje é o parque do Anhangabaú, todo ele revaldo, com ruas de asfalto, pérgola grata a namoricos noturnos, a Eva de Brecheret, a estátua dum adolescente nu que corre – e mais coisas. Autos voam pela via central, e cruzam-se pedestres em todas as direções. Lindo parque, civilizadíssimo”, conclui com fina e elegante ironia.

Antes disso, em 1917, duas exposições de pinturas são realizadas em São Paulo, nas quais Lasar Segall e Anita Malfatti concretamente trazem a arte moderna pro Brasil. A reação de Lobato, homem de princípios estéticos conservadores, veio através dum artigo publicado nO Estado de S. Paulo, em dezembro de 1917, com o título “A Proprósito da Exposição Malfatti”: “todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo nem da latitude. Quando as sensações do mundo externo transformaram-se em impressões cerebrais, nós 'sentimos'; para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em 'pane' por virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá 'sentir' senão um gato, e é falsa a 'interpretação' que do bichano fizer um totó, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes”.

Como vimos, não é de hoje que se dá esse embate entre o tradicional e o moderno, sobre o que é certo ou errado, sobre o que é melhor ou pior, seja no mundo das artes ou da gastronomia. Eu, ainda nos primórdios dos estudos culinários e com recente iniciação profissional na área, não tenho o embasamento suficiente, muito menos a ousadia e pretensão de querer firmar aqui uma posição categórica nessa briga entre Adrià e Santamaria. Tenho opiniões como consumidor e amante da comida. Entendo que as mudanças na gastronomia são essenciais e necessárias, bem como as experimentações que nela precisam ser feitas constantemente. E respeito também aos que se preocupam em manter vivo antigas receitas e costumes. Uma cozinha não vive sem a outra. E nem sempre me atrai o “nada no prato, tudo na conta”, como sabiamente cunhou Paul Bocuse sobre os “palácios da moda”. Precisamos muito de Adrià para o progresso e experimentalismo gastronômico e pela não predominância de matérias-primas de elevado custo (“uma boa sardinha é melhor que uma má lagosta”) sem por isso esquecer da importância conceitual de Santamaria sobre a qualidade dos ingredientes:

Yo quiero que el público pueda probar en los restaurantes una cocina que no se haga a base de sopas liofilizadas o de bote, ni caldo en pastillas o cubitos, ni tomate de lata, congelados semipreparados, píldoras multivitamínicas y todo el arsenal que la industria química incorpora a nuestra alimentación. Quiero que el comensal pueda escoger producto fresco, elaborado con el máximo cuidado, con una combinación de sabores que no le estrague el paladar, y que se sienta bien tratado en todos los sentidos”.

O melhor seria se, enquanto eu fiquei na frente dos livros e do computador lendo e escrevendo, os dois estivessem preparando a minha janta. Mas não estão. Fui pra cozinha!

[over12] NÃO HÁ DEMOCRACIA SEM CARNE SECA



::txt::Luciano Viegas::

Nesta fotografia 3x4 feita especiamente para documento de identificação, comprovante de cidadania brasileira, está representado José Pacheco Teixeira, na lente de uma Kodak 835af-dx, no clique de Paulo Vieira Veloso, que não aparece na foto, pois estava encarregado de apertar o botão - bem na hora da foto!

A data de nascimento demasiada antiga que se pode verificar no documento denuncia uma verdade inconveniente para todos que amam José (no caso, apenas o seu filho único, órfão de berço): ele não mais se encontra de corpo presente em nossa desenvolvida sociedade contemporânea.

José perdeu-se da experiência de ser humano nos tempos idos de 1972, quando perdeu-se em sua self-made caravela no meio do Oceano Índico e só foi avistar terra firme onde o céu flambado derretia as nuvens em mel, tal qual uma profecia - vulgo Vietnã.

Logo que ancorou, ingênuo, teve a caravela roubada por alguns nativos que tentavam fugir do mel e ainda fora convencido a lutar pela democracia - que o matou com um tiro na testa.

Depois de fazer esta foto, Paulo ainda apertou o botão de sua Kodak outras 234 vezes e não se lembra o nome de nenhum dos modelos, nem mesmo de José, que involuntariamente o carregou para sempre no bolso - gesto que tampouco continha afeto. O ofício garantiu a Paulo barriga cheia até o dia em que, por questões de barriga vazia, fora filmado por uma Kodak sobrinha da sua, roubando carne seca num supermercado das redes Wal-Mart.

Paulo perdeu-se da experiência de fotógrafo quando o juiz, em nome da democracia, bateu o martelo sobre a carne seca e, a despeito de sua fome, condenou-o a um regime: fechado, 2 anos de reclusão.

O afeto aparece nesta história pelo coração sofrido do órfão de José, vulgo Kiko, que não chegou a conhecer o pai, mas ouviu durante toda a infância, pela mãe, as aventuras de um marinheiro destemido. O afeto toma proporções devastadoras à medida em que as engrenagens da Kodak 835af-dx, querida câmera de Paulo, aceleram seu processo de oxidação pela ausência do toque do dono, outrora tão frequente e rejuvenescedor para uma máquina solitária.

Kiko nunca compreendeu a morte do pai, mas, por via das dúvidas, esta foto endossa a lista dos 379 desaparecidos da Ditadura Militar brasileira. Kiko é jovem, tem convicções bem resolvidas e frequenta passeatas em nome da democracia. Na divisão do trabalho entre os operários do protesto, foi designado para registrar a revolução nas lentes sua Kodak digital, bem mais prática e eficiente que a de Paulo.

Este, por sua vez, de tanto ser enrabado na cadeia pelo martelo do juiz, engravidou e não vê a hora do sol nascer redondo novamente, para enfim matar o seu desejo de comer carne seca.

quinta-feira, 29 de março de 2012

[...] CICATRIZES



::txt::Tania Orsi Vargas::

O meu avesso,
assim resguardado
aos olhos do mundo,
é um estranho mural de arte moderna...
relevo das cicatrizes
dos amores
vividos e chorados...
Entre elas, no entanto,
há o tecido intacto e perfeito
que guarda os paraísos
que fluiram suavemente
entre uma dor e outra,
como o chão de areias lisas
dessas praias, com suas chagas
expostas de tantos pés caminhados...

[agência pirata] LA EXPRESIÓN MATERIAL DEL ATEÍSMO



::txt::Reinaldo Escobar::

La visita de Benedicto XVI a nuestro país nos puso a recordar los tiempos en que el ateísmo duro y puro se imponía como política oficial. En muchos trámites aparecía con frecuencia la pregunta sobre la fe religiosa con el propósito de -en caso afirmativo- tomar decisiones al respecto. En solicitudes de empleo o para aspirar a una carrera universitaria, un ascenso laboral, un viaje al extranjero o para ingresar a las milicias.

“ ¿Tiene usted alguna religión? ¿Cuál? ¿La practica? ” eran más o menos las interrogantes. Los creyentes más honestos (o los más ingenuos) afirmaban su fe, muchas veces sin prever las consecuencias. Otros, imbuidos de la idea de que la religión se lleva por dentro y no es necesario exhibirla, decían que no o dejaban en blanco la respuesta.

Recuerdo los días en que concluíamos la construcción del edificio “de microbrigada” donde aun vivo. Fui elegido por los trabajadores para integrar una comisión que analizaría el mejor derecho de los aspirantes a ocupar la vivienda. Si mal no recuerdo, yo era el único comisionado que no era militante del partido comunista. Nos entregaron una planilla donde había que anotar cuidadosamente los datos de cada una de las personas aspirantes a vivir en el nuevo inmueble: nombres y apellidos, sexo, edad, centro de trabajo o estudio, nivel escolar, pertenencia a las organizaciones revolucionarias, si algún miembro de la familia había salido del país o si había sido sancionado por algún tribunal. Había que anotar además si se poseían efectos electrodomésticos, los muebles que tenían y otros detalles sobre el estado en que se encontraba la vivienda en el momento de la inspección. Sí, porque los miembros de la comisión teníamos que inspeccionar y al final, dejar por escrito nuestras valoraciones.

En la última página de la planilla, en el inciso B del Punto II, se abría un espacio para mencionar y describir los objetos religiosos que eran visibles en la casa inspeccionada. En el centenar de hogares visitados no apareció ni un solo corazón de Jesús, ni una postalita de la virgen, ni un solo rincón de Elegguá, ninguna cazuela con Oschún.

Han transcurrido 26 años de aquellos sondeos y ahora en el recibidor de nuestro edificio han puesto un cartel para invitar a creyentes y no creyentes a la misa que Benedicto XVI hará el próximo miércoles en La Habana. Por suerte ninguno de los que entonces creían cometió la ingenuidad (la honestidad) de dejar a la vista aquellos “objetos religiosos” que nosotros debíamos pesquisar. Ellos los ocultaron, yo conservé la planilla.

terça-feira, 27 de março de 2012

[agência pirata] BOLOR ENVERNIZADO: ROGER WATERS EM PORTO ALEGRE



::txt::Alexandre Lucchese::
::phts::Carlos Varela::

Domingo estive no estádio Beira Rio para ver o tão esperado show de Roger Waters, o homem de frente do Pink Floyd durante tantos anos. Não tenho como dizer de outro modo: saí com uma péssima impressão daquilo tudo. Para falar bem a verdade, me senti enganado. A desorganização por parte dos produtores do espetáculo contribuiu para isso; porém, o mais grave foi o espetáculo em si - acabei descobrindo que eu realmente não admiro de Roger Waters.

Vamos começar pelo mais simples: a produtora que trouxe o artista abandonou o público diante do estádio. Havia apenas um posto de informação, permanentemente desocupado e não vi ninguém da produção durante todo o tempo que passei na fila (das 17h às 19h20m). Não havia orientação das filas e o próprio público teve de se organizar para evitar os furões e dar informações aos passantes. Disso resultou um atraso de 40 minutos para que Waters entrasse no palco. No final, os produtores nem se deram o trabalho de abrir os portões de acesso à avenida para o público sair (mais uma vez foram os fãs que tiveram de arcar com o trabalho).

Mas realmente pobre foi o espetáculo. Pobre de espírito, que fique claro, já que riqueza material era um dos maiores atrativos da noite. O show de Roger Waters é uma grande reunião dos mais requintados produtos da sociedade tecnocrata, usados para tentar tecer uma crítica contra ela. Não me venha com o velho argumento de "combater o sistema dentro do sistema" - não vou entrar no mérito se isso é valido ou não, o problema é que o discurso em si é tão fraco que só se sustenta por conta dessa massa de playbacks, telões, projeções e pirotecnia.

O truque de Roger Water para fazer a massa sair de lá satisfeita é tentar reconstruir a inocência da plateia, como se fossem crianças sem a altura e a força dos monstros gigantes e abstratos que dominam, pervertem e sujam este ancestral jardim das delícias no qual habitamos. Ver-se pequeno e frágil diante do espelho é ruim, mas tem a vantagem inquestionável de eximir a audiência de algo incômodo e pertubador: a responsabilidade.



Nessa Disney On Ice em embalagem politicamente engajada, não poderia faltar a emoção barata e o moralismo. O show foi dedicado aos que sofreram com o terrorismo de estado, com direito a projeção de imagens de civis assassinados - não sei não, mas fazer espetáculo da dor alheia é algo que me constrange. Sim, não vamos esquecer que The Wall está longe de ser um projeto filantrópico e é uma máquina de fazer dinheiro - este espetáculo está a serviço de alguém, e eu custo muito a acreditar que seja ao teu ou ao meu serviço.

A essa altura, Roger Waters tem um desafio para completar seu discurso de maneira convincente: como lidar com adultos - seres tão igualmente capazes e responsáveis por esse mundo como os monstros gigantescos representados no show - de maneira a lhes fazer crer que são tão inocentes, menores e incapazes. A solução é simples: vender o sexo com algo perigoso e até mesmo sujo. A mulher sensual é representada como um passaporte para a perdição. Guarde seus instintos numa caixa e pratique o amor com disciplina, é o que está nas entrelinhas. Não é difícil de entender porque Waters nunca aprendeu a cantar direito ou a ser virtuoso em algum instrumento: não foi por falta de talento, e sim por medo de deixar fluir essa enorme libido que há dentro de si, e que seu ex-parceiro de banda, David Gilmour, sabe usar de maneira tão libertadora.

Aliás, quando o David Gilmour vem pra cá?

domingo, 25 de março de 2012

[agência pirata] POSTO, LOGO EXISTO



::txt::Martha Medeiros::

Começam a pipocar alguns debates sobre as consequências de se passar tanto tempo conectado à internet. Já se fala em “saturação social”, inspirado pelo recente depoimento de um jornalista do “The New York Times” que afirmou que sua produtividade no trabalho estava caindo por causa do tempo consumido por Facebook, Twitter e agregados, e que se vê hoje diante da escolha entre cortar seus passeios de bicicleta ou “alguns desses hábitos digitais que estão me comendo vivo”.

Antropofagia virtual. O Brasil, pra variar, está atrasado (aqui, dois terços dos usuários ainda atualizam seus perfis semanalmente), pois no resto do mundo já começa a ser articulado um movimento de desaceleração dessa tara por conexão: hotéis europeus prometem quartos sem wi-fi como garantia de férias tranquilas, empresas americanas desenvolvem programas de softwares que restringem o acesso a web, e na Ásia crescem os centros de recuperação de viciados em internet. Tudo isso por uma simples razão: existir é uma coisa, viver é outra.

Penso, logo existo. Descartes teria que reavaliar esse seu cogito, ergo sum, pois as pessoas trocaram o verbo pensar por postar. Posto, logo existo.

Tão preocupadas em existir para os outros, as pessoas estão perdendo um tempo valioso em que poderiam estar vivendo, ou seja, namorando, indo à praia, trabalhando, viajando, lendo, estudando, cercados não por milhares de seguidores, mas por umas poucas dezenas de amigos. Isso não pode ter se tornado tão obsoleto.

Claro que muitos usam as redes sociais como uma forma de aproximação, de resgate e de compartilhamento — numa boa. Se a pessoa está no controle do seu tempo e não troca o virtual pelo real, está fazendo bom uso da ferramenta. Mas não tem sido a regra. Adolescentes deixam de ir a um parque para ficarem trancafiados em seus quartos, numa solidão disfarçada de socialização. Isso acontece dentro da minha casa também, com minhas filhas, e não adianta me descabelar, elas são frutos da sua época, os amigos se comunicam assim, e nem batendo com um gato morto na cabeça delas para fazê-las entender que a vida está lá fora. Lá fora!! Não me interessa que elas existam pra Tati, pra Rô, pro Cauê. Quero que elas vivam.

O grau de envolvimento delas com a internet ainda é mediano e controlado, mas tem sido agudo entre muitos jovens sem noção, que se deixam fotografar portando armas, fazendo sexo, mostrando o resultado de suas pichações, num exibicionismo triste, pobre, desvirtuado. São garotos e garotas que não se sentem com a existência comprovada, e para isso se valem de bizarrices na esperança de deixarem de ser “ninguém” para se tornarem “alguém”, mesmo que alguém medíocre.

Casos avulsos, extremos, mas estão aí, ao nosso redor. Gente que não percebe a diferença entre existir e viver. Não entendem que é preferível viver, mesmo que discretamente, do que existir de mentirinha para 17.870 que não estão nem aí.

sábado, 24 de março de 2012

[domínio público] SOBRE A CLASSE MÉRDEA



::txt::João Antônio::

Virou até moda, por exemplo, a proclamacão de que se é um marginal da classe média. Ou mérdea. A segunda forma, num tempo em que o jogo de palavras e o uso da palavrada passaram a valer como sinal de talento, é mais elegante. Mérdea. Podendo grafar isso, então, é o fino do espírito. Compõe bem. Soa a criativo. E, útil, começa a faturar, o que é conveniente e de oportunidade boa.

Mas da classe média você não vai escapar, seu. A armadilha é inteiriça, arapuca blindada, depois que você caiu. Tem anos e anos de aperfeiçoamento, sofisticação, tecnologia, ah o cartão de crédito, o cheque especial, o financiamento do carro, da casa própria e do resto da merdalhada que for moda e, meu, sem ela você não vive. Não respira, é ninguém. Ou melhor, é nada: você já virou coisa do sistema. E não pessoa. Dane-se. Futrique-se, meu bom, meu paspalho, pague prestação pelo resto da vida. E o carro, é preciso o carro. Os donos da arapuca querem você comprando. Compre. E de carro. Ande de carro, ouça música e veja filmes no carro, coma no carro e trepe ali.

Todos os leros. Todos os embelecos, do automóvel ao secador de cabelos, principalmente você deve comprar o de que não precisa. A tevê vai te comandar a vida, meu chapa. A cores. E destas regras do jogo não vai escapulir. Bufanear a classe média, pajear, aturar e ser como ela. Quer queira, quer não.

Afinal, já não está em tempos em que possa pensar com sua cabeça. Ô, meu, você é só manada. Bem pequenininho, lá, no meio da manada. E quieto, bom comprador. Esbirro, sabujo, capacho.

sexta-feira, 23 de março de 2012

[rango] LA CUCINA TÍPICA UMBRA




::txt::Monsenhor Jucá::

Lunedi, il 19, ho partecipato a un colloquio com il cuoco Federico Leoni, nativo di Assissi in Umbria, Italia. La conversazione faceva parte della classe inaugurale del 2012 la Massolin Di Fiori Società Italiana, com sede a Azenha. Circa 50 persone erano presenti, e dopo la conferenza há avuto un cocktail di antipasti e vino. Una borsa di studio è stato redatto, ma sono stato sfortunato. Leoni há detto in italiano, di seguito ho fatto un riassunto di ciò che ho potuto capite e scrivere.


LA CUCINA TÍPICA UMBRA

L'Umbria è l'unica regione dell'Italia non bagnata dal mare. La regione há quasi un milione di abitanti. La sua area há otto mille e cinquecento km². Un piccolo ecossistema alimentare fino alla fino del 1800, a causa del territorio montuoso.

Gli Etruschi ed I Romani in Umbria

Gli Etruschi (300-100 a.C.) ed I Romani (fino al 500 d.C.) hanno fasciato in eredita il gusto dei legumi e del cereali come il frumento ed il farro.

Il Medioevo e l'influenza della Chiesa

Nel Medioevo i frati dei monasteri preparavano piatti sostanziosi e saporiti sfruttando le proprie risorse ma senza abbondare il respetto dei periodi di vigilia, i pasti privi di carni imposti dalla Chiesa fece aumentare l'uso di verduri, erbe aromatiche e pesce di fiume.

La Norcineria

Nella città di Norcia la lavorazione della carne di maiale e la preparazione di insaccati come il salame e le salsiccie raggiungono lo stato dell'arte. Il Prosciutto di Norcia ottiene la certificazione IGP (Indicazione Geografica Protetta) nel 1998. Il termine italiano "norcino" indica il produttore ed il venditore di salumi.

L'olio di oliva umbro

Orgoglio della regione viene prodotto da secoli con procedimenti di estrazione prevalentemente a freddo. Spesso i piccoli produttori come “Raccolta Sapore” di Gnavolini ad Assisi riescono a fornire una qualitá ben oltre la media. Alla prima spremitura l'olio é piccante.

La base della cucina umbra nell'era moderna sono i prodotti della terra e la carne.

Mangiare alla italiana

Il pasto completo è formato da:

Antipasto
Primo Piatto
Secondo (con Contorno)
Dolce
Frutta
Caffè e Liquori.


I Antipasti

La Brusschetta: per riutilizzare il pane vecchio com uno spicchio d'aglio e poi ricoperte di olio d'oliva.

Antipasto umbro: salame, prosciutto, salsiccia secca, capocollo, formaggio pecorino.

La panzanella: pomodori, cipolla, insalata o basílico.


II Primi piatti

La pasta é l'emento principale ed é normale che sia fatta in casa. Il “Mattarello” e la “Spianatora”, che é la tavola di legno dove si prepara la pasta, sono strumenti di cucina molto utilizzati.


Pappardelle al sugo: com una salsa a base di carne di lebre o di cinghiale.

Gnocchi al sugo d'oca: gnocchi di patate con ragù d'oca.

Strangozzi al tartufo: tartufo è un tubero molto raro.

Cappelletti in brodo: é una pasta ripiena di carne di cappone (gallo castrato).


III Secondi

Largo uso di carne di maiale non significa che non si consumi altro in Umbria, la dieta é molto varia. La scelta della carne cambia in base al giorno della settimana. La Domenica tipicamente si consuma carne più pregiata. La cucina si ta più elaborata.


Agnello Scottadito: costele di agnello.

Coratella di Agnello: cotti in umido in bianco com cipolla o aglio.

La porchetta: piatto molto tradizionale ma di dificile preparazione. È facile trovare venditori ambulanti in qualsiasi momento della giornata.

Piccione alla ghiotta: é preparato allo spiedo ma la particolaritá sta nel recupero del liquido che sade durante la cottura.

IV Contorni

La verdure di contorno vengolo preparate com più attenzione.

La lenticchie: sono ricche di ferro e proteine. Vengolo preparate in umido com il pomodoro. Consumate soprattutto durante il periodo natalizio.

Erba Cotta: spinaci, bietole e varie erbe campestri selvatiche lessato in molta acqua.

La Bandiera: a base di verdure, peperoni verdi, cipolle bianchi e pomodori rossi.

La Torta al testo: farina, acqua, sale e olio di oliva, questa la base della torta al testo umbra che puó essere riempita a piacere. Estremamente nutriente, un quarto di torta con ripieno puó sostituire un pasto completo. Prende il nome dal “testo” che è una pietra refrattaria che viene messa direttamente sopra il fuoco. Spesso viene usata al posto del pane.

V Dolci

La fantasia italiana per preparare i dolci é bem visibile anche in umbria ogni citta há il suo dolce preferito.

Pinoccatte di Perugia a Natale, Strufoli, Frappe e Castagnole a Carnevale; e Ciaramicola a Pasqua.

VI I vini umbri

Il territorio montuoso ben esposto al sole é caratterizzato dalla presenza di vigneti di uve pregiate. I vini bianchi più importanti sono l'Orvieto el il Torgiano.

VII E dopo il caffè

Questa espressione indica bere un liquore dopo il caffè, tipicamente un digestivo, per concludere il pasto e facilitare la digestione. Sono bevande generalmente molto alcoliche: Amaro al Tartufo di Norcia, Nocino Umbro, Grappa di Sagrantino.

[comida] EU ME RENDO AO ATALA



::txt::Nina Horta::

Saímos para celebrar o aniversário de um neto que sabe comer muito bem, mas tem horror de comida de grife, de comida de autor. Só que, dessa vez, ele foi arrastado com namorada e tudo para o Atala.

Vocês não podem imaginar como sou difícil de ser enganada por comidinhas modernas. Vou com uma sacola de preconceitos, com esgares de ironia, com implicâncias à flor da pele encontrar a pretensão.

Mas, felizmente, tenho orgulho e me rendo ao Atala. Sinto até uma certa emoção piegas ao me lembrar dele mocinho mexendo com as panelas. Simpático, bonitão, bom marqueteiro, viajante de olhos abertos.

Junto a isso, muito trabalho e uma dedicação enorme, perseverança, desprendimento, saúde de ferro e capacidade de passar adiante o que aprendeu. Generosidade com os outros chefs, esse um segredo maior, que revela maturidade e sabedoria.

Quem se tranca com suas próprias receitas, com seu aprendizado, com a última novidade, simplesmente se tranca. Um dia se vê antiquado, dentro de sua própria cela.

Durante esse jantar, eu não perguntei a ele, mas, como estamos na época do cinema mudo, ficamos vendo a cozinha, tentando adivinhar quem eram as pessoas sem uniforme, num canto, que de vez em quando eram abordadas pelo Atala, que lhes enfiava uma colher na boca.

No fim da noite, restaurante vazio, se sentaram a uma mesa com pratos diferentes e cada um enfiava o garfo no prato do outro, comendo, sérios. Eram chefs de restaurantes provando, e aprendendo, e alargando horizontes, e mastigando, e podendo inventar através daquela experiência, filtrá-la e reinventá-la segundo seus próprios estilos de vida, trajetória e terreiro.

Uma vez fui jantar no Atala com uma festeira, isto é, dona de bufê. Os pratos começaram a chegar e ela só suspirava. "Ah, se pudesse usar esses ingredientes simples na cozinha, ficaria rica. Em vez de caviar, tapioca..." Mas essa coisa é só pra quem pode, dona banqueteira.

No dia em que você conseguir que a sardinha frita seja tão boa quanto a barriga de atum, então, sim, terá alcançado o céu de todo festeiro.

É para quem pode usar purê de inhame ou de cará ou de batata mesmo. Já tentou oferecer isso a um cliente ao telefone? Sardinha frita com purê de inhame e umas gotinhas de priprioca? O cliente se ofende. "Eu te telefonei porque quero uma coisa muito elaborada!"

Pois o Atala levou anos elaborando e tomando coragem para escrever no menu: "olho de cão tostado, frito e cru com molho de limão e fígado". "Olho de cão" é o nome de um peixe, peixinho. Que vinha com o rabo bem frito, do tipo que você mastiga como pipoca. Sobre o rabo, a carne do peixe marinada, crua. Ao lado, a barriga do bicho, frita sem exageros, daquele jeito caseiro.

E quem ousa oferecer "lombo de javali com farofa e sorbet de panã"? Eu não sabia o que era panã (araticum), mas nunca vi um sorbet combinar tanto com o lombo, hum...

Eu me perco nos detalhes das comidinhas do Atala. É tudo muito, muito, muito bom. Entrem no blog e verão o que ele, como empresário, está aprontando para fazer chegar a nós os produtos brasileiros.

quinta-feira, 22 de março de 2012

[do além] FACEBOOKISTÃO, UM LUGAR PARA CURTIR



::txt::Marcopolo::

Visitei terras e culturas diferentes. Percorri boa parte do Oriente Médio e da Ásia. Travei contato com diversos povos. Fui um dos primeiros ocidentais a percorrer a Rota da Seda, em busca de um tecido que, ao ser rasgado, se transformasse em elogio. Sou cartão platinum em quase todas as companhias. Por isso, posso dizer de cadeira: não há lugar no mundo como o Facebookistão.

Esse país, de paisagem branca e azul, congrega mais de 800 milhões de pessoas. Um em cada 13 habitantes do planeta vive lá. Dentro de suas fronteiras falam-se algo em torno de 70 idiomas. Não incluindo aí o novo léxico pictórico, tipo \o/ , :) , :( etc.

A população é essencialmente linda, bem-sucedida, de gosto refinado, preocupada com a justiça social, o meio ambiente e os animais. É um povo muito receptivo. Cada pessoa tem por volta de 130 amigos. A maioria só convive mesmo com uns 4 desses 130. Mesmo assim estão sempre abertos a novas solicitações, não sem antes olhar o álbum de fotos do pretendente, é claro.

O ambiente é democrático, apesar de ser uma monarquia absoluta. O monarca, de apenas 28 anos, pode não só fazer as leis, como também excluir qualquer pessoa que estiver, inclusive, andando na linha. Em breve, o rei, como muitos outros governantes, venderá a nação para o mercado financeiro através de um IPO.

Nesse estranho país, protesta-se contra reacionários, insensíveis, fofoqueiros, sertanejos, funkeiros, homofóbicos, racistas, corruptos, fúteis, ditadores, mal-educados. O efeito dessas vozes dentro do território é inócuo, uma vez que ninguém lá possui tais defeitos. É muito comum no Facebookistão as pessoas protestarem também contra a falta de privacidade de seus dados. Poucos têm paciência de ler atentamente as cláusulas que regem o uso das informações fornecidas. Estes preferem usar o tempo para relatar publicamente como anda sua digestão ou expor as fotos da operação de fimose.

A principal atividade é a postagem. Todo dia, a população publica mais de 250 milhões de fotos. A cada 20 minutos, 10 milhões de comentários são escritos, 2 milhões de perfis são atualizados e 1 milhão de links são compartilhados. Que trabalho terão os cientistas sociais do futuro.

A moeda de troca é o like. Trocam-se likes por mais likes. O que no fim das contas não faz a economia produzir valor. A não ser para o monarca, que, com esse intenso tráfego de gentilezas, vende com mais facilidade os espaços publicitários aos anunciantes.

Quando conto essas coisas, as pessoas pensam que estou inventando ou que fiquei louco, acham que é mais uma viagem de Marco Polo.

Enfim, se você se interessou em visitar, saiba que, ao contrário da Europa e dos Estados Unidos, entrar para essa comunidade especial é simples. Basta apresentar seu nome, um e-mail e a data de nascimento. Esses dados nem precisam ser verdadeiros. Entrar é facílimo, difícil mesmo é sair.

quarta-feira, 21 de março de 2012

[agência pirata] TONY DA GATORRA



::txt n phts::Paula Vieira::

Uma hora e meia. Para quem não conhece Esteio, esse é exatamente o tempo que se leva, saindo de Porto Alegre, para se chegar à Rua B nº 15, na periferia da cidade, onde mora Tony da Gatorra – um sonhador que construiu um instrumento que mistura percussão e sintetizadores para mostrar ao mundo o que pensa sobre a boa e velha politicagem brasileira.

Nunca pensei que em um município com pouco mais de 81 mil habitantes pudessem existir tantos logradouros com o mesmo nome. Na área onde Tony vive pude contar três Ruas B – isso porque consegui achar a residência na terceira tentativa – e, é claro, em todas existia o tal do nº 15. Mas, para tristeza dos mais supersticiosos, isso não é coincidência. As casas são humildes, as vias são estreitas, não há calçamento de qualquer tipo e a sinalização praticamente inexiste, isso porque as ruas ainda não têm um nome oficial e os moradores – muito prestativos, um deles até desenhou um mapa no chão. Graças a Deus! – ainda esperam receber da Prefeitura local as escrituras dos terrenos há anos por eles apropriados.

A entrevista estava marcada para as três da tarde. Quando cheguei Tony já me aguardava no portão sem a sua faixa vermelha no cabelo comprido e o seu colete – visual inspirado no estilo hippie que ele mesmo mandou fazer. “Foi difícil de achar?” – perguntou. “Um pouco.” – respondi. Eu liguei duas vezes para ele na tentativa de encontrar o caminho certo, mas a única coisa que entendia era que eu tinha que dobrar à direita em algum lugar. “É comum quem não conhece aqui se perder.” – disse ele. Não era a primeira vez que Tony da Gatorra recebia um repórter. O inventor e também músico já deu várias entrevistas: Fantástico, Rolling Stone e, até mesmo, algumas publicações internacionais. Ele guarda com muito orgulho todos os exemplares que publicaram algo sobre seus feitos. Mas, não para por aí. Das paredes da sala Tony fez um grande mural com fotos tiradas por e com amigos, fotos antigas de família e cartazes dos festivais dos quais participou – tudo coberto com plástico transparente, daqueles que se põe sobre as toalhas de mesa para não sujar ou estragar.

Antônio Carlos Correia de Moura, nome verdadeiro deste homem de 59 anos, começou a pensar em fazer música em 1996, quando teve a idéia de construir um instrumento de percussão usando apenas sucata. “Eu gosto muito de percussão. Eu toco bateria, sabe? E como eu fiz curso de eletrônica e gostei do que eu aprendi, eu tive a idéia de fazer um instrumento para passar uma mensagem [...] para conscientizar as pessoas.” – contou. De origem humilde, Tony da Gatorra faz música como uma espécie de desabafo com relação à pobreza e as injustiças sociais.

Existem muitas informações desconexas sobre Tony circulando na Internet. Mas, conforme o próprio, natural de Cachoeira do Sul, ele chegou em Esteio com três anos de idade. A mãe havia morrido e seu pai se mudado com os seis filhos para a cidade em busca de uma vida melhor. Mas, o músico não passou toda a sua infância lá. Quando tinha oito anos, Tony foi mandado para um Patronato Agrícola em Taquari. Muito comuns na época, os Patronatos eram instituições que tinham como objetivo abrigar e educar menores. O pai havia conseguido duas vagas, uma para ele e outra para um dos seus irmãos, falando diretamente com Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul.

Com 12/13 anos ele deixou o Patronato e foi morar com uma tia/madrinha em Porto Alegre, onde começou a trabalhar como office-boy. Antônio Carlos não concluiu o ensino fundamental (antigo 1º grau), estudando até a 6ª série. “Logo que terminei o primário [de 1ª a 6ª série] eu sai. Era o tempo previsto. Só se ficava até [no máximo] os 14 anos no colégio [Patronato]. Depois, já era considerado adulto, tinha que trabalhar. Era diferente de hoje.” – conta. O ginásio, os quatro anos que sucediam o primário, era considerado um ensino mais especializado. Dividido entre científico e magistério, geralmente, era procurado por famílias com maior poder aquisitivo. No entanto, o pouco estudo não o impediu de, algum tempo depois, dedicar-se à metalurgia, que viria a exercer por 15 anos em Porto Alegre, no Vale dos Sinos e em São Paulo, para onde foi por conta própria e morou em uma pensão barata com mais um grupo de pessoas durante dois anos (quando tinha 19) e mais um ano (aos 22).

A eletrônica, que, de certa forma, foi o primeiro passo dado por Antônio Carlos em direção a Tony da Gatorra, veio só em 1975. Por volta dos 24 anos, ele decidiu estudar eletrônica por correspondência pelo Instituto Universal Brasileiro. Tornou-se técnico e atuou na área por mais ou menos 30 anos, até o momento em que decidiu criar um instrumento elétrico de percussão que lembrasse uma guitarra pelo formato e tivesse efeitos de sintetizador. “Como foi construir a primeira gatorra?” – perguntei. “Em 1996 eu comecei a construir. Foi difícil. Não tenho recurso, sou pobre mesmo, né. A nº 1 eu fiz toda de sucata, com peças que eu comprava no ferro velho. Ela [também] é toda de madeira [a base]. Eu não sabia como eu ia fazer, ai eu fui cavoucando para colocar o circuito. Ela tem uns 2kg. É diferente das outras que são de alumínio, ocas e eu fechei com fórmica. [...] E a minha companheira [da 2 ª união que durou uns 15 anos] me largou por causa desta gatorra aqui [segura a nº 1]. Ela disse que eu tava louco, que só botava dinheiro fora. E ela disse “ou a tua gatorra ou eu” e foi embora. Me admira ela. Uma coisa em que eu acredito é que mulher a gente consegue outra, mas uma oportunidade pra realizar aquilo que tu acredita não. O teu trabalho é único. Imagina eu deixar uma coisa que eu acredito por causa de um simples romance, não tem lógica.” – lembra e explicita Tony da Gatorra.

A divulgação do seu trabalho começou dois anos depois, em 1998. O inventor gravou algumas músicas de sua autoria e distribuiu demos pelas rádios da capital gaúcha. A primeira resposta que ele obteve foi do radialista Eduardo Santos, que trabalhava na rádio Ipanema e também apresentava o College na TV.

E – pasmem! – quem foi uns dos principais divulgadores do trabalho do Tony da Gatorra em São Paulo foi nada mais nada menos do que o músico e produtor Carlos Eduardo Miranda – isso mesmo, o Gordo Miranda, que ficou conhecido em todo o país pelas duras críticas dadas aos participantes do programa Ídolos, uma cópia abrasileirada do SBT do American Idol líder de audiência nos Estados Unidos. Tony da Gatorra não faz um som de fácil digestão, ele mesmo reconhece que suas músicas não são do tipo que caiam facilmente no gosto do povo. “Aqui no Brasil o pessoal não gosta muito de coisa séria. Gostam de música para dançar. [...] O meu trabalho é uma coisa diferente. Não faço música para divertir ninguém. É música mais como uma mensagem.” – argumenta.

O que tu tem

Estão dizendo que o Brasil

Deve pro estrangeiro

Eu aprendi na educação

Quem faz a compra

É quem deve pagar

Mas, veja bem

O que é que eu tenho?

O que tu tem?

O que é que eu tenho?

O que tu tem?

O que é que eu tenho?

O que tu tem?

Nos hospitais

Nunca tem leito

Segurança

Não existe

O trabalho

É negado

Os Sem-teto estão desesperados

Dormindo no relento

Os Sem-terra estão assassinados

O que é que eu tenho?

O que tu tem?

O que é que eu tenho?

O que tu tem?

O que é que eu tenho?

O que tu tem? [...]

(Parte da letra escrita por Tony da Gatorra)

Mas, fato é que Miranda acabou mostrando o trabalho do Tony da Gatorra para alguns amigos como Guilherme Barella da Peligro Discos – que, segundo Barella, é catálogo de venda de discos por e-mail, especializado em música alternativa, com uma queda forte para o experimental – e Eduardo Ramos dono da Slag Records e atual empresário de Tony. “Quem me mostrou o Tony foi o Miranda, ele é de Porto Alegre e tinha os CDs do Tony, e eu fiquei completamente louco. Daí, uma vez o Tony veio para São Paulo fazer um programa de TV sem dinheiro nem nada, na loucura. Eu acho que eu estava do outro lado da cidade e o Gui [Guilherme Barrela] estava tranquilo de tempo e foi encontrar o Tony e comprou todos os CDs dele para ajudar. Então, ficamos conhecendo ele pessoalmente, e isso levou a lançar a primeira compilação dos trabalhos do Tony [Só Protesto pela Peligro]. Sempre achei a música do Tony muito inovadora e avançada. Pelas referências culturais dele, em teoria, ele nunca poderia gerar esta música e isso sempre me intrigou. O Tony é uma das pessoas mais simples e puras que eu já conheci, e cada momento do lado dele é uma lição.” – conta Eduardo Ramos.

Assim, o músico gravou dois álbuns (um pela Peligro e outro pela Slag, com quem tem contrato) e fez alguns shows pelo Brasil. Mas, nesse ínterim, ele ganhou fama mesmo vendendo gatorras, uma delas, inclusive, para Nick McCarthy, guitarrista da banda escocesa Franz Ferdinand. “Eu já vendi onze. Em São Paulo eu vendi seis, duas aqui no Rio Grande do Sul, uma em Curitiba, eu vendi também nos Estados Unidos uma para a [Luísa] LoveFoxxx da [banda paulista] Cansei de Ser Sexy e uma para o Nick da Franz Ferdinand, é a nº 7.” – conta Tony. Os instrumentos são feitos em sua casa uma área estreita onde fica uma bancada com tintas e ferramentas e vários desenhos do interior do instrumento afixados na parede onde também está pregado o certificado de técnico. Cada gatorra demora em torno de dois meses para ficar pronta, chegando a custar R$ 2.000,00. “Eu sempre quis que alguém patrocinasse a montagem em série. Baixaria o custo e diminuiria o trabalho, dá muito trabalho. Mas, aqui no Brasil ninguém se interessa.” – explica o inventor. Além disso, Tony as pinta com cores diferentes e numera cada uma para evitar falsificações.

O nome gatorra vem de guitarra. Fã de Raul Seixas, Tony gosta de um rock com letra de protesto. “Eu vejo muita repetição hoje. A maioria dos músicos só pensa em fazer sucesso, em ganhar dinheiro. Eu admiro muito as pessoas com conteúdo.” E ele se descreve como um hippie pós-punk. “O som que eu faço é pós-punk. [...] É mais eu gosto das coisas bem naturais. Eu sou um hippie natural.” – divaga. Mas, quando a pergunta é sobre o uso de drogas ele é direto: “Sim, maconha. Mas, eu não considero maconha droga. Pra começar, não vicia. Eu fui viciado em cigarro. Sofri mais de dois anos pra largar. Droga é essas coisas que viciam, deixam louco. Pra mim foi até várias vezes remédio pra depressão e é bom antes do almoço.” – afirma. “Desde quando você usa?” – pergunto. “Quando eu era guri com 16/17 anos, usava bastante.” – responde. “E você já usou alguma coisa que provocasse alucinação?” – pergunto novamente. “Não, essas farinhas eu nunca usai. É prejudicial à saúde. [...] Tudo que foge do natural eu não gosto. Tatuagem e piercing eu não sou contra, mas também não gosto.” – diz Tony.

Uma resposta bem interessante levando em consideração o artigo “Expect to come away from The Terror of Cosmic Loneliness nursing a very sore head indeed” (que poderia ser traduzido como “Espere sair de O Terror da Solidão Cósmica com uma grande dor de cabeça”) publicado no site da emissora pública de televisão e rádio do Reino Unido, a BBC. Mas, antes de se saber mais sobre o que dizia a tal resenha é preciso saber que, em 2007, durante o festival Troca Brahma, que promove um intercâmbio cultural entre músicos brasileiros e ingleses com shows em Glasgow, Liverpool e Londres, Tony da Gatorra conheceu Gruff Rhys, vocalista da Super Furry Animals e conhecido no País de Gales por suas experimentações musicais. Os dois tocaram juntos algumas vezes e em junho deste ano lançaram na gringa um álbum em colaboração, o “The Terror of Cosmic Loneliness”, comentado nos mais variados periódicos. E voltando a resenha que saiu na página da BBC, o texto começa mais ou menos assim: “É estranho o que quantidades industriais de drogas irão fazer a um homem, dependendo de onde e quando ele as estiver usando. Por outro lado, a colaboração de Gruff Rhys com o reparador de VCR brasileiro Tony da Gatorra funciona como uma celebração da improvisação casual do poder unificador das drogas e da excentricidade desenfreada.” Contudo, essa não foi a primeira vez que Tony recebeu duras críticas. E para aqueles que o chamam de louco ele responde: “Cada um tem direito de pensar aquilo que quiser. Posso ser maluco, mas eu sou consciente. Louco mesmo são os covardes que ficam roubando a consciência dos outros e aqueles que só acreditam no material e não acreditam em Deus.” – Tony tem uma formação católica bem forte resultante dos anos no Patronato, onde padres ministravam aulas.

E apesar de toda a estranheza que “The Terror of Cosmic Loneliness” possa ter causado em alguns críticos, o disco foi um sucesso em matéria de vendagens com 2 mil cópias vendidas em duas semanas. O álbum contém cinco músicas de autoria de Tony da Gatorra e cinco de Gruff Rhys que foram gravadas, em 2007, no estúdio Paulo B, em São Paulo, sem muita pretensão. “Nós nem sabíamos que estava sendo gravado, foi mais ao vivo, ensaio mesmo. Ai, o pessoal gostou e resolvemos lançar.” – revela Tony. Das várias versões que os músicos executaram ao longo de 12 horas de ensaio foram escolhidas as melhores e o mais interessante disso tudo é que nem Tony fala inglês nem Gruff fala português. A comunicação ficou a cargo de Eduardo Ramos, o que não foi possível durante a turnê de lançamento do disco no Velho Continente. Eduardo estava doente e Tony teve que ir sozinho. “Não tinha interprete, mas deu para eu me comunicar bem. A gente usava um tradutor do computador e eu encontrei uns portugueses lá que me ajudaram.” – conta o inventor de Gatorra.

Tony gostou tanto de tocar fora do Brasil que pensa em se mudar para São Paulo para ficar mais perto das oportunidades que estão surgindo. “Eu quero ir para São Paulo. Não adianta ficar aqui. Onde eu trabalho mais é lá e estando em São Paulo facilita muito [o contato com as pessoas]. Agora, estão para acontecer shows no Canadá, nos Estados Unidos, no Japão e em Portugal.” – informa. Tony já colocou a casa a venda e tem boas expectativas com relação a uma possível carreira fora do país: “Eu nunca pensei tocar na Europa. Eu já tinha pensando em tocar em São Paulo e no Rio de Janeiro, que eu já toquei. Eu toquei em quase todo o Brasil. Mas, aqui no Brasil, a maioria das pessoas tem uma idéia muito errada sobre o músico. Eles acham que é vagabundo, que tá perdendo tempo, que tá só curtindo, sei lá. E na Europa eles valorizam muito a cultura, principalmente a musical.”. Com relação a maneira como Tony é visto em geral nos outros países, Eduardo Ramos também se posiciona: “Ele fez bons shows fora do Brasil. Tocou em lugares que respeitaram ele como músico e pessoa, o que raro no Brasil. O Tony não é visto as vezes como músico e isso é um erro. O som que ele criou com a gatorra desafia a razão, porque é um instrumento único e o Tony, apesar de ter influências de rock clássico, conseguiu criar algo do zero, que tem muito mais ligação com o pós-punk e a música eletrônica primitiva dos anos 70 do que qualquer outra coisa. Então quando ele toca em São Paulo e fora, este som é reconhecido.”

Ainda este ano, Tony da Gatorra deve lançar on-line um disco ao vivo com duas gatorras. E quem pensa que acaba por ai se engana. O cineasta Binho Miranda, que também conheceu Tony através de Carlos Eduardo Miranda, está produzindo um documentário sobre o técnico em eletrônica que virou músico. O longa ainda não tem previsão de lançamento, mas Binho garante que vai mostrar ao público até onde uma boa dose de perseverança pode levar um homem. Para ter uma prévia, basta buscar em vimeo.com por “Meu Nome é Tony. Eu construí um Instrumento”. E essa não foi a única participação do “gatorreito” na sétima arte. Quem digitar “Gruff Rhys + Separado” na página do You Tube vai encontra o trailer do documentário produzido pelo galês que conta a história de alguns dos seus parentes que vieram morar na Patagônia e, no qual, Tony faz uma ponta.

[premio uirapuru 2011] O ANO DO CRIOLO DOIDO



XII PRÊMIO UIRAPURU DE MÚSICA BRASILEIRA
= OS MELHORES DE 2011 =
CRÍTICA ANIMAL


::txt::Tiago Jucá Oliveira::


Desde a criação do Prêmio UIRAPURU, no ano 2000, jamais um álbum foi tão unânime entre a crítica musical. Criolo, através de seu Nó Na Orelha conquistou o topo do pódio em praticamente todos os prêmios especializados, seja na grande imprensa ou em blogs mais alternativos. A exceção que confirma a regra é a nossa versão do Uirapuru feita pelos leitores, que não colocou Criolo em primeiro lugar, mas sim em segundo.

Com quase o dobro dos pontos obtidos pelo segundo colocado, de acordo com a crítica animal, o disco de Criolo já faz parte de qualquer discoteca básica da música brasileira. Um álbum que sintetiza o rap como um gênero para o qual convergem vários expoentes da black music nacional e estrangeira. Esse novo fôlego à música brasileira é um dos fatores decisivos para que Nó Na Orelha seja tão celebrado. Criolo é o artista mais emblemático de 2011, sem dúvida nenhuma.

Assim como na escolha dos leitores do Uirapuru, abaixo você verá uma lista bem abrangente do cenário musical. Talvez a principal diferença entre ambas escolhas seja que esta aqui não deu chances pra artistas mais veteranos. Aliás, muitos álbuns eleitos pela crítica são exatamente os primeiros de cada artista. Ou seja: mal botaram o pé na estrada e já estão contribuindo pra renovação musical de um país marcado pela diversidade e dinâmica artística.

Semana que vem o UIRAPURU traz os eleitos nas categorias melhores músicas, cantores, compositores, shows, bandas e instrumentistas. Parabéns Criolo e a todos os demais artistas que abrilhantam o nosso prêmio!


1º - CRIOLO - NÓ NA ORELHA


ouça >AQUI


2º - BIXIGA 70 - BIXIGA 70


ouça >AQUI


3º - CAÇAPA - ELEFANTES NA RUA NOVA


ouça >AQUI


4º - MARCELO CAMELO - TOQUE DELA


ouça >AQUI


5º - ANELIS ASSUMPÇÃO - SOU SUSPEITA, ESTOU SUJEITA, NÃO SOU SANTA


ouça >AQUI


6º - LIRINHA - LIRA


ouça >AQUI


7º - WADO - SAMBA 808


ouça >AQUI


8º - METÁ METÁ - METÁ METÁ


ouça >AQUI


9º - ROMULO FRÓES - UM LABIRINTO EM CADA PÉ


ouça >AQUI


10º - LUCIANA MELLO - 6º SOLO


ouça >AQUI


11º - GUI AMABIS - MEMÓRIAS LUSO AFRICANAS


ouça >AQUI


12º - KASSIN - SONHANDO DEVAGAR


ouça >AQUI


13º - ACADEMIA DA BERLINDA - OLINDANCE


ouça >AQUI


14º - EMICIDA - DOOZICABRABA E A REVOLUÇÃO SILENCIOSA


ouça >AQUI


15º - FUNK COMO LE GUSTA - A CURA PELO SOM


ouça >AQUI


16º - EDDIE - VERANEIO


ouça >AQUI


17º - PÉLICO - QUE FIQUE ENTRE NÓS


ouça >AQUI


18º - LOS PORONGAS - O SEGUNDO DEPOIS DO SILÊNCIO


ouça >AQUI


19º - FABIO GÓES - O DESTINO VESTIDO DE NOIVA


ouça >AQUI


20º - CASUARINA - TRILHOS TERRA FIRME


ouça >AQUI




= GALERIA ANIMAL =
Todos os vencedores do Prêmio UIRAPURU de Música Brasileira

2011
Criolo - Nó Na Orelha
2010
Marcelo Jeneci - Feito Pra Acabar
2009
Cidadão Instigado - Uhuu!
2008
Curumin - Japan Pop Show
2007
Nação Zumbi - Fome de Tudo
2006
Eddie - Metropolitano
2005
Cidadão Instigado - Método Tufo de Experiências
2004
Mombojó - Nadadenovo
2003
Los Hermanos - Ventura
2002
Racionais MCs - Nada Como Um Dia Após O Outro Dia
2001
Mestre Ambrósio - Terceiro Samba
Trio Mocotó - Samba Rock
2000
vários - Música do Brasil


Participaram da crítica animal de 2011:

Bruno Costa, Caio Jobim, Daniel Calasans, DJ Yuga, Fernando Fhenso Souza, Jam da Silva, Lafaiete Júnior, Otaner, Pablo Francischelli, Tiago Jucá Oliveira e Wagner Eugênio.

terça-feira, 20 de março de 2012

[prêmio uirapuru 2011] MARIANA AYDAR NAS GRAÇAS DO PÚBLICO



::Tiago Jucá Oliveira::

XII PRÊMIO UIRAPURU DE MÚSICA BRASILEIRA
= OS MELHORES DE 2011 =
A ESCOLHA DOS LEITORES


Depois de um ano inteiro disponibilizando em arquivos digitais tudo o que foi lançado na música brasileira de 2011, a comunidade da revista O DILÚVIO no orkut passou outros dois meses pra escolher os melhores do ano. E esta vez a preferida do público membro da comunidade foi Mariana Aydar, que com um disco bem mais maduro, se consagra definitivamente como uma das maiores cantoras do país. Parabéns!

O restante da lista traz um panorama preciso da sonoridade atual, mesclando artistas já consagrados (Gal Costa, Marisa Monte, Mundo Livre S/A, Pedro Luís), novidades como Bixiga 70, Filipe Catto e Gui Amabis e confirmações de recentes descobertas, tais como Criolo, Thaís Gulin, Sobrado 112.

Confira também o resultado da votação da crítica animal do Prêmio Uirapuru aqui, formada por jornalistas e músicos. Aguarde!



1º - MARIANA AYDAR - CAVALEIRO SELVAGEM AQUI TE SIGO




2º - CRIOLO - NÓ NA ORELHA


ouça >AQUI


3º - KARINA BUHR - LONGE DE ONDE


ouça >AQUI


3º - PEDRO LUIS - TEMPO DE MENINO


ouça >AQUI


3º - THAÍS GULIN - ôÔÔôôÔôÔ


ouça >AQUI


6º - GAL COSTA - RECANTO


ouça >AQUI


7º - CARLOS CAREQA - ALMA BOA DE LUGAR NENHUM




7º - EDDIE - VERANEIO


ouça >AQUI<


7º - FILIPE CATTO - FÔLEGO


ouça >AQUI


10º - ANELIS ASSUMPÇÃO - SOU SUSPEITA, ESTOU SUJEITA, NÃO SOU SANTA


ouça >AQUI<


10º - GUI AMABIS - MEMÓRIAS LUSO AFRICANAS


ouça >AQUI<


10º - METÁ-METÁ - S/T


ouça >AQUI<


13º - BIXIGA 70 - BIXIGA 70


ouça >AQUI<


13º - MARISA MONTE - O QUE VOCÊ QUER SABER DE VERDADE


ouça >AQUI


13º - SOBRADO 112 - NO PAÍS DA SKAPOLCA


ouça >AQUI


13º - WADO - SAMBA 808


ouça >AQUI<


17º - ACADEMIA DA BERLINDA - OLINDANCE


ouça >AQUI<


17º - CHINA - MOTO CONTÍNUO


ouça >AQUI


17º - JUNIO BARRETO - SETEMBRO




17º - MUNDO LIVRE S/A - NOVAS LENDAS DA ETNIA TOSHI BABAA


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#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

Você pode:

  • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

  • AtribuiçãoVocê deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

  • Compartilhamento pela mesma licençaSe você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob licença similar ou compatível.

Ficando claro que:

  • Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais.
  • Domínio Público — Onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
  • Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
    • Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
    • Os direitos morais do autor;
    • Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
  • Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página.

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