#CADÊ MEU CHINELO?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

NOÉ AE?!: Instituto, Z'Africa Brasil e Kiko Dinucci

COLONO NA REDE



::txt::Janis Loureiro::

O acesso às novas tecnologias está modificando a realidade do trabalhador rural das pequenas propriedades. O uso de equipamentos mais modernos e avançados no trabalho diário, a expansão do uso de sementes com tecnologia transgênica e o crescimento do número de usuários de internet no meio rural são sinais de que o “colono” não é mais aquele personagem com uma enxada na mão isolado do mundo. Com esse novo perfil, renasce a esperança dos trabalhadores do campo de que as novas gerações voltem a se interessar em permanecer ligadas à terra

Quem conversa com Alexandre Schalko Holzlechner sobre internet, design gráfico, novas tecnologias não imagina, mas ele mora no interior de Ijuí. Aos 18 anos, já terminou o Ensino Médio e está cursando o Técnico em Gerenciamento de Sistemas de Informação, no 25 de Julho. Mesmo vivendo na colônia, como todos os jovens da sua idade, passa horas por dia ligado na rede mundial de computadores. Grande parte do tempo conectado a redes sociais e canais de bate-papo. Graças a sua internet via modem. Um custo relativamente caro, mas que compensa na opinião da sua mãe Senilda. “A gente paga para ele ter o mesmo que os outros jovens”, conta.

Nos áureos tempos da colonização da região, uma extensa jornada, de muita dificuldade definia o trabalho na agricultura. O maquinário era escasso e precário com o uso da tração animal. Era necessário um verdadeiro exército de homens para fazer brotar da terra o alimento. Octaviana da Cunha Holzlechner, 81 anos, presenciou essa fase, assim que foi morar com o seu saudoso marido Reinoldo na Linha 6 Oeste, em uma colônia de 25 hectares. Na época, o colono precisava ser forte, pois a cada dia, um novo desafio se projetava. “Naquele tempo, a gente plantava milho, mandioca, de tudo um pouco, puxando o arado, tínhamos poucas vacas e a gente esfriava o leite colocando os tachos dentro do açude, tudo era trabalhoso”, relembra.

O filho mais novo do casal, Valmir, 51 anos, presenciou avanços. Quando assumiu a propriedade iniciava-se a fase do plantio direto, a família comprou um trator e com o uso da máquina mudou muito a rotina de trabalho. Veio a soja e uma nova forma de organizar a produção. Com a ajuda da esposa Senilda, Valmir manteve o cultivo da horta e do pomar e até hoje fatura um bom dinheiro com a venda de frutas, verduras, cerveja preta, bolacha, cuca e pão na feira, complementando a renda principal proveniente do cultivo na lavoura.

Nos últimos dois anos, a família passou a plantar sementes transgênicas e a mudança foi mais radical. “Com os transgênicos a gente não precisa mais carpir, eu não preciso mais, nem os meus filhos”, comemora. “Fomos os últimos a adotar a novidade. A gente ainda teimava e carpia, agora a gente paga para passar a semeadeira e a nossa vida melhorou 100%”, relata. Seu Valmir estudou até a 5a série e é o pai do Alexandre, que iniciou esta história.

A tendência de expansão do uso das novas tecnologias é confirmada pelo presidente do Sindicato Rural de Ijuí, Valdir Zardin, Hoje, a mecanização evoluiu e exige do produtor conhecimento tecnológico avançado. Ele cita como exemplo o maquinário que possui controles digitais, que permitem definir áreas com precisão e o uso do GPS. "Mexer em comandos automatizados exige conhecimento de informática e aperfeiçoamento para evitar que o potencial da máquina seja desperdiçado", relata. Tal necessidade fez com que o sindicato investisse e inaugurasse um laboratório de informática. Por ano, são realizados cerca de 60 cursos de aperfeiçoamento. Zardin ressalta também como uma modificação importante o uso das sementes transgênicas que vêm se expandindo, principalmente após a aprovação da Lei da Biotecnologia, que regulamentou o seu uso. "As novas sementes reduziram o uso de agrotóxicos e facilitaram o trabalho do produtor de forma impressionante", destaca Zardin.

Alexandre também, como outros colegas, têm dúvidas sobre a escolha profissional, mas já manifesta certa rejeição pelo trabalho na agricultura. Essa realidade preocupa. Afinal, quem será o colono do futuro. “Estou pensando em fazer faculdade, talvez na área gráfica”, afirma Alexandre, que integrou a equipe que recentemente ganhou prêmio na Mostra Ensino Técnico (MEP) com o trabalho Tecnologia Assistiva: desenvolvimento de browser´s adaptados a pessoas com necessidades especiais.

No caso da família Holzlechner, a esperança está em Luis Carlos, irmão de Alexandre, que gosta de ajudar na lavoura e fala em ficar e continuar o trabalho do pai. “Eu fico feliz que o meu filho mais velho queira trabalhar na terra”, avalia Valmir. “Ninguém mais quer exercer essa profissão, mesmo sendo mais fácil agora, os filhos não querem mais trabalhar no campo. Não querem mais ser colono”, lamenta. Ele conta que toda a vizinhança passa pela mesma situação. “É bom a gente ter internet aqui, assim meu filho fica mais tempo perto da família e não precisa ir para ocentro para tudo”, comemora.

"Hoje em dia, o jovem não tem mais desculpa para deixar o campo, argumentando que não tem conforto", garante Zardin. Para ele, com a evolução tecnológica, o jovem pode fazer a opção de vida que quiser e com certeza o campo está mais atraente do que no passado. "O colono tem acesso a máquinas gabinadas, com ar condicionado e facilidades que muita gente que trabalha na cidade não tem", argumenta. "Aquele trabalhador do campo, que trabalha de sol a sol está ficando mais raro", acrescenta, lembrando que esses avanços que antes estavam disponíveis apenas para os médios e grandes produtores, estão se popularizando e atingindo os pequenos. São novos tempos e a tendência se repete também na suinocultura, atividade leiteira, aviários, atividades em que a tecnologia está cada vez mais presente.

Família Holzlechner tem laptos e conexão à internet via modem e é um exemplo do novo perfil do campo
Mesmo com acesso à rede de computadores, o campo continua com os atrativos de sempre, uma pescaria no açude estão entre as atividades preferidas dos irmãos Alexandre e Luis Carlos Holzlechner

terça-feira, 27 de julho de 2010

NOÉ AE?!: Zumbira

DADO VILLA LOBOS

::txt:: Oscar Vasconcelos::

Dado Villa Lobos integrou uma das bandas mais importantes da música brasileira, a Legião Urbana. Isso todo mundo já sabe, e ele poderia tranquilamente ficar vivendo desse glorioso passado. Justamente aí reside o grande barato, Dado não se acomodou, seguiu adiante. Cuidou de seu próprio negócio, produziu bandas novas, tocou com os amigos, tornou-se um premiado compositor de trilhas para o cinema nacional e lançou um inspiradíssimo trabalho solo (o próximo já está a caminho!). Recentemente, a partir de uma intervenção uruguaia, resolveu matar as saudades de palco com o antigo parceiro legionário e dessa forma presentear todos nós.

Dado, vamos começar falando sobre a Rock It. Era um selo e depois virou gravadora?

Começou como uma loja, virou um selo e gravadora.

Como surgiu a idéia? Qual era a proposta inicial, quais as metas atingidas e a razão da suspensão das atividades?

Isso começou numa conversa com o produtor da Legião na época, o Mayrton Bahia. Era um cara super visionário, na verdade foi quem nos manteve dentro da EMI porque a gente estava com um pé fora, queria ir embora, não ia fazer disco coisa nenhuma... E ele teve uma conversa decisiva com a gente, explicando como as coisas andavam ali no eixo cultural RJ-SP, a indústria e a coisa toda... Enfim, anos depois produzindo nosso terceiro disco (Que País É Este?) ele virou e falou: “Se eu fosse vocês eu abria uma editora, agora! Vocês têm que ser donos do seu patrimônio e seu patrimônio é a sua música.” Pensei, “boa dica”. Abrimos a “Corações Perfeitos”. Então do “Quatro Estações”(1989) em diante, é tudo nosso. Não está encalhado numa editora de terceiros que administra a música, entendeu? Ta na nossa mão. E logo depois, no ano seguinte, ele virou pra mim: “Olha, abre uma gravadora. Está chegando a hora de segmentar mais, ter e dar mais oportunidade ao mercado da música, pro artista ser absorvido.” Porque ficar focado só no grande “mainstream” das gravadoras... Você ramifica e consegue de repente estabelecer um bom acordo com as distribuidoras. Foi dito e feito. Esse mesmo cara em 92, quando a gente gravava nosso quinto disco (“V”), era diretor artístico da Polygram. Num congresso dentro da empresa, onde estavam funcionários de todos os departamentos do Brasil inteiro ele virou pros vendedores e falou: “Vocês estão com os dias contados”. Assim, a música digital já estava sendo pensada, já havia o surgimento do cd, pro tools chegando e o Mayrton já estava na frente.

É o período que a convergência digital que ganhava força lá fora.

Exatamente! Foi um pouco “pré mp3”, até então os arquivos eram enormes e não havia capacidade de tanta velocidade.
Bom, por conta desse cara a gente abriu essa loja, “Rock It”. Eu, Fernanda (nota: esposa do Dado), André Muller (baixista da Plebe Rude) e a mulher dele, a Martha. A idéia era vender a “cultura rock”, e tudo que pudesse gravitar em torno dela. Camisetas, discos, revistas, cintos, badges... E ao mesmo tempo, a gente botava ali uma banquinha de fitas k7 demo. As bandas que estavam começando desovavam ali e a gente ouvia e vendia também. Passaram por ali nomes como Planet Hemp e Pato Fu. A gente inaugurou em 91, mas a “Era Collor” destruiu a economia desse país e a indústria fonográfica foi pro buraco. As gravadoras começaram a se reestruturar e fechar estúdios. E já existiam estúdios independentes que, com esse estouro do Collor, também ficaram às moscas. Aí eu cheguei no cara com quem a gente tinha acabado de gravar nosso quinto disco, no estúdio Mega (que também estava ocioso), e falei “vamos fazer um acordo, eu tenho uma banda, to afim de gravar, tenho a distribuição da EMI e a gente racha os lucros” e foi o que fizemos. A banda era a “Second Come”, primeiro disco deles. Gravamos e assim nasceu o selo.
Depois o André saiu fora. Eu fiquei sozinho e, como péssimo administrador, na verdade o comércio do disco começou a emburacar, né? Começou a chegar o mp3... Acabou se tornando um péssimo negócio.

O início da mudança de paradigma?

Isso! Vai mudando o paradigma e ali não deu. E o Brasil é um lugar bem inóspito, cara, pra quem tem um pequeno comércio. Você é jogado à margem sempre. Você vai ter que sempre “quebrar” o Fisco e aí é impossível, é inviável. A carga tributária do disco, pra sair da gravadora e chegar até você, é absurda. Um péssimo negócio até hoje. Foi assim que surgiu a Rock It, que hoje é a minha pessoa jurídica e lancei por ali meu último projeto na MTV, licenciado pela EMI. E você continua sendo o dono do seu catálogo.

Já que falamos um pouco sobre a mudança de paradigma, você acha que com a popularização da internet, trocas de arquivos digitais, há um caminho possível pra indústria fonográfica?

O que eu sinto é que hoje o meio mais eficaz de propagação da música é a internet. Só que ainda estamos no download gratuito. Outro dia eu saí da minha terapia, entrei no carro, tava ouvindo a CBN e era um programa que falava sobre novos lançamentos. O apresentador começou a falar bem do disco novo da Sade, e que ela levou 10 anos desde o último trabalho. Foi super bem recebido pelo mercado americano, mas aí o cara fez uma ressalva, “não é tão maravilhoso assim, ela está no top da Billboard, mas só vendeu 190 mil CDs, que é pouquíssimo”. E isso representava uma retração de 40% em relação ao ano anterior. Veio a interlocutora e disse “é mas isso é o disco, o download agora é que está arrebentando, é o novo caminho...”, o cara vira e fala “olha, eu não tenho tão boas notícias assim... há uma retração do download pago de 23% em relação ao ano passado.” Então é aquela coisa, se você é cliente e vai no iTunes baixar, bacana!

É uma possibilidade, né?

Sim, você ter a regalia de ser cliente daquela loja e receber o lançamento antes, poder comprar, baixar, ouvir com exclusividade... Eu seria um cliente em potencial se a gente pudesse comprar no iTunes, coisa que o brasileiro ainda não pode. Então a gente continua baixando de graça. Mas é um processo irreversível. Você não vai voltar atrás. É como o cinema mudo quando ficou falado. Você não vai continuar fazendo cinema mudo! A questão é “como” equilibrar e adaptar esse novo paradigma à produção. “Como” fazer isso ser rentável de novo, porque o produtor tem que ganhar, o compositor tem que ganhar e o artista tem que ganhar. Mas eu acho que dentro desse ambiente estão se encontrando pequenas soluções... Às vezes eu penso que falta realmente os canalhas chegarem pra tomar conta do negócio. Como eram os produtores de disco e as multinacionais, eles tomaram conta da parada e a coisa funcionava. Ta meio “largado”...

Você tem o hábito de baixar?

Tenho! Quando eu to afim. E eu acho fabuloso! Mas eu gosto de ter o disco dos meus artistas favoritos, de ler... Às vezes baixar o álbum inteiro (encarte completo, faixas...) também dá trabalho.

E ainda há demanda pelo formato físico do produto.

Sim, de você ter ele na sua mão, ver, folhear o encarte... Mas isso vai acabar... A galera da nova geração não ta nem aí pra coleção de disco, mas você vai ver no computador deles e lá tem milhares e milhares de músicas. Provavelmente nada foi pago por nenhuma delas.

Mas é complicado pagar 40 reais num cd que é lançamento. Creio que os poucos interessados normalmente esperam o preço cair. Não é?

O CD tinha que custar R$20, R$23 no máximo... Podia ser igual a livro, não paga imposto! É zero! Mas não passa no congresso a lei...

Me fala um pouco sobre o seu trabalho com trilha pra filmes. Começou com o Bufo (filme baseado no livro de Rubem Fonseca), certo?

Sim, primeiro foi o Bufo. Veio num momento bem bacana, em 2000. Um amigo meu que tinha trabalhado na Rock It, era amigo do diretor (Flávio Tambellini) e fez a ponte. Era o primeiro filme do Flávio como diretor e foi incrível. Era um novo universo a ser explorado. Fazer a abertura, temas dos personagens, música de fundo...

Como funciona o processo, você vê a cena antes? Alguém te situa?

O cara primeiro te situa. Você lê o livro, lê o roteiro, vê o perfil de cada personagem e já entra naquele ambiente todo.

Tem um envolvimento total então.

Com certeza. O diretor vem e conversa o que ele pensa da música, vem o editor, o cara que monta... Geralmente ele já monta em cima de música. Então já vem um andamento ali, você às vezes fica preso a uma música referência do cara que editou. Pelo menos preso ao andamento. E são várias motivações ali dentro, a cena, o ator, a expectativa geral... Você está dando um suporte dramático ao vídeo/imagem, ao diálogo e à trama.

Sobre o “Jardim de Cactus”, quando surgiu a idéia do primeiro solo e quanto tempo levou a “gestação” dele?

Foi justamente depois de fazer algumas trilhas. Depois de ter meio que ter encerrado o processo dentro da gravadora, de produzir e lançar artistas novos, foi uma série. Desde o começo foram mais de 30. Nos anos 2000 eu terminei com Comunidade Nin Jitsu e Ultramen. Foi quando a coisa foi pro buraco. Pirataria. Quando eu fui a Porto Alegre eu vi aqueles discos que eu tinha produzido, e que sabia quanto tinha custado ao caixa da gravadora, sendo vendidos a R$2,50 na banca do pirata, eu falei “ah, agora chega! Parei”. Porque era justamente o lugar onde a gente ia recuperar, Rio Grande do Sul.
Aí tinha uma série de temas que eu vinha fazendo até por conta dos filmes. Eu tava sempre no estúdio e apareciam idéias. Então comecei a buscar parceiros musicais. Veio a Paula Toller (compositora da letra de “Jardim de Cactus”, “Dias”...), chamei o Fausto, o Toni Platão, Humberto Effe, China – de quem eu tinha produzido um trabalho um ano antes... E por aí foi. O projeto foi tomando uma forma, as músicas foram aparecendo e acabou virando uma coisa, tipo, orgânica mesmo. A idéia era sempre dividir os vocais com o parceiro. Foi bacana. E ali está um resumo, ou retrato de todas as influências que eu tive o tempo todo, desde que eu nasci. Meu pai tocando uma peça do Chopin, por exemplo, finalizando o disco. Coisas experimentais, tem o Chico Buarque cantando uma música, tem uma do Caetano Veloso e Beto Guedes... E todos os parceiros são companheiros, cúmplices de uma geração.

Como surgiu a idéia de lançar pela MTV o trabalho “ao vivo” antes da versão em estúdio?

Foi uma coisa de louco isso aí... Era essa coisa do “disco”, ninguém entendia mais o mercado do “disco”... O cd era uma coisa quase abominável e existe o fato de que o Brasil é um dos maiores mercados consumidores de dvd musical. Uma coisa louca. Você pega o DVD da Ivete Sangalo e foram vendidas 600, 500 mil cópias no país, que pro mercado hoje é algo incrível. A Madonna com essa última turnê parece que vendeu 120 mil DVDs no mundo inteiro. Então esse lance de DVD aqui é uma coisa de doido. As pessoas gostam mesmo. Adoram. Eles botam o DVD da Ivete Sangalo, do Calypso, aí vêem a coreografia e dançam juntos, aprendem os passos pra ir ao show e fazer tudo certo. Essas coisas...
Enfim, eu tinha mostrado a master do cd pro pessoal da diretoria da MTV e eles vieram com a idéia, “porque você não lança aqui esse projeto ao vivo?” Eu pensei “putz, vai custar uma grana, mas é uma boa idéia!” Você faz o lance e já divulga na televisão, um veículo de massa, e é como o Brasil funciona, o consumidor compra o dvd ao vivo de música.

Mas nesse momento você tinha o disco de estúdio pronto?

Disco pronto! Mas como eu tinha licenciado na EMI, eu não licenciei o cd que originou essa idéia toda, o de estúdio. Porque saiu o DVD e o cd do DVD ao vivo. Fizeram 8 mil DVDs e 5 mil CDs, venderam tudo e acabou. Foi muito bom.
Ano passado um amigo meu que está abrindo um selo em São Paulo, “Black Records”, pediu pra lançar o cd de estúdio.

Esse cd de estúdio ficou disponível no teu site, né?

Ficou uma época, e quando esse cara resolveu lançar eu pedi pra tirar do site. Foi bom porque ele ia ficar “perdido”...

Seu próximo solo vai seguir o mesmo formato? Já está em andamento?

Já. Eu tinha começado ano passado e o “mote” dele, o conceito básico, era o “colapso”. Colapso em todos os sentidos. Seria a idéia central. Mas como a coisa do “colapso” não vingou tanto aqui no Brasil, o Lula falou que era a marolinha, né? Na verdade está tudo mascarado, continua tudo colapsando... Tem um amigo meu que fala que o mundo está passando por um processo de “mulambalização”, uma coisa irreversível também.
Mas temos vários temas e canções já. Canções de amor que eu queria botar pra tocar na novela. Da Record, se possível. “Temas de novela”, “Tele-temas”, taí, um bom título! (risos) Olha, acabei de ter essa idéia, botar o nome do disco de “Tele-temas”. Porque é bem isso, tudo que vem da televisão, que gera o colapso, degradação, mulambalização da cultura.

Esse próximo trabalho tem novos colaboradores?

Tenho, no sentido de que agora eu estou fazendo música com o Nenung (Darma Lóvers), eu tinha gravado duas dele, mas agora eu fiz a música e ele encaixou a letra. Continua o mesmo cara de sempre, fabuloso. Tem o Marcelo que é do sul e tem uma banda de samba rock violento, se chama “Robô Gigante”. Marcelo Gigante. É um som pesado. E ele faz de tudo, é compositor também. Tem o André Mendes, da Bahia, de uma banda que eu lancei chamada “Maria Bacana”. Ele também ta lançando um disco solo agora, é um cara bem interessante.

Como rolou essa volta aos palcos com o Bonfá e qual foi o envolvimento dos uruguaios nisso? A Legião já tinha tocado fora do país?

Então, foi surreal... A Legião tinha tocado uma vez em 1986, no 1º Festival de Rock de Montevidéu. Foi assim, há 2 anos o Hermano Vianna, irmão do Herbert, me mandou um email falando de um amigo dele que queria me conhecer porque tinha um projeto e tal. Eu falei “tudo bem!” Marcamos na Pizzaria Braz e chegou esse uruguaio com essa idéia que era o seguinte “olha, tem uns caras lá no Uruguai que estão organizando um tributo, uma homenagem à Legião Urbana e eles queriam muito que você e Bonfá fossem lá.” Eu pensei, “cara, como é que é? Que coisa esquisita...” Ele explicou e depois ele mandou um email detalhando tudo. Então tinha os caras do Bajofondo, La Vuelapuerca que é a maior banda de rock da América Latina hoje em dia e vários outros artistas. E assim a coisa foi tomando um jeito. Eu falei “Bonfas, vamos nessa? Parece que é bacana! Vamos ver o que é isso.” Era um repertório de 20 músicas da Legião e os caras entre eles tocavam as 10 primeiras. Foi a primeira vez que aquelas bandas todas se reuniram pra fazer algo juntas. E ali se juntaram pra tocar Legião Urbana. Na 11ª música eu e Bonfá entramos e fomos até o fim do show. Isso foi num clube chamado “La Trastienda” (filial uruguaia, a matriz fica em Buenos Aires) e tinha mais de mil pessoas, completamente lotado. Tivemos que fazer o dia seguinte, foram 2 dias igualmente lotados só de gente dali mesmo. Foi sensacional!

E existe a possibilidade de shows assim no Brasil?

Sim, a partir dessa experiência, resolvemos migrar a idéia pra cá, com essa banda. É engraçado porque a música chegou até lá, então bateu lá dentro nos caras, eles se identificam com aquilo. É bem bacana.
Bom, a idéia é fazer uma excursão mínima, tipo 7 ou 8 cidades. Dependemos do “show business”, da indústria do entretenimento absorver isso e executar. Porque não é uma coisa fácil, é um projeto que precisa de uma captação bacana. Tem que trazer os caras do Uruguai, ensaios, em cada praça ter o cara do local pra cantar algumas músicas... A gente fez Brasília e Fortaleza, esse do reveillon em Fortaleza foi foda!

Esse show de Brasília, no Porão do Rock, teve alguma sensação diferente? Considerando que última passagem da Legião por lá foi o show mais conturbado da trajetória da banda.

Esquisito, né? Na verdade essa dúvida bateu. Pensei “na última vez que a gente esteve aqui foi “aquele”... mas hoje...” Enfim, era 88, quase 22 anos atrás. Agora o povo tinha crescido, os jovens não eram os caras que estavam naquele show, fiquei bem mais tranquilo (risos)... Mas cara, foi incrível, super emocionante mesmo! Eu tinha tocado lá uma vez, solo, um ano antes num festival e tinha sido ótimo também. Um mar de gente e foi muito bom. Lá foi o André Gonzáles do Móveis Coloniais de Acaju que cantou com a gente.

Teve mais uma galera participando?

Teve o Herbert (Paralamas), Philippe (Plebe Rude)...

E vocês escolheram antes os convidados?

Escolhemos antes, ensaiamos só com o André, eu acho... Com o Philippe é na hora mesmo, “Geração Coca Cola, vai!” Em Fortaleza foi o Catatau do Cidadão Instigado, bem legal. Então a idéia é essa, fazer uma grande festa em cada lugar, pra lembrar eu e Bonfá, relembrar o repertório...

Vocês pensam em alguma celebração em relação aos 25 anos do lançamento do primeiro disco?

Não. Não pensamos em absolutamente nada.

Nem a gravadora?

A gravadora praticamente não existe. E é acéfala pra pensar nessas coisas. Estão pensando provavelmente em lançar o “Rebolation”, ou alguma coisa assim que faça “sentido” nos dias de hoje.

Como está hoje o diálogo com a família do Renato?

Está melhorando, pelo menos com a entrada desse uruguaio existe uma interlocução. Porque não existia mais. O que existia eram eles me processando na justiça e coisas do gênero. Na real, na minha opinião, eles são mal assessorados. A família peca nesse sentido.

E quanto a novos lançamentos de outtakes e registros ao vivo?

Tava até na pauta, mas agora não vai ter mais. Isso vai ser colocado na geladeira. Justamente por esses conflitos envolvendo os “assessores”. Mas nada de mais.

Você tem idéia da quantidade de material que pode ser lançado? O Renato falava de uma caixa que se chamaria “Material”, não é?

Exatamente, “Material”. Seria mais ou menos nos moldes da antologia dos Beatles. Outtakes, coisas que a gente gravou em programas de televisão lá dentro, com qualidade, coisas que não saíram, como “Juízo Final” que era pra estar no segundo disco e ficou fora por falta de espaço físico no vinil. Músicas instrumentais que a gente nunca lançou e essas coisas que às vezes são bizarras dentro de um estúdio de gravação.

Seria um projeto mais voltado para os fãs?

Sim, para suprir essa demanda final.

O que você acha desses registros solo, póstumos, do Renato?

Eu acho que eles conseguiram transformar dois discos, um em inglês e um em italiano, em sete. Isso é um milagre da natureza! Eu me surpreendi uma vez quando ouvi takes de uma fita cassete que foi gravada lá na minha casa pelo irmão do Dinho, o Ico, depois rodou direto entre os amigos e eu até tinha ouvido há uns 20 anos na rádio Transamérica, virou cd também.

O “Trovador Solitário”.

Deve ser isso. Esse que saiu agora eu ainda não ouvi, acho esquisito... Mas se você for ver a qualidade artística da coisa, ter um Caetano Veloso fazendo um dueto com ele deve ser interessante, a Fernanda Takai, Adriana Calcanhoto... O da Marisa Monte parece que é deplorável, né? Esse dueto parece que não é muito bom não...

É um rascunho...

É um rascunho de “Soul Parsifal” que entrou no “A Tempestade”. Mas também não dá pra acreditar em tudo que o jornalista escreve, cada tem que chegar às suas próprias conclusões.

Você acredita que por conta desses novos lançamentos, essa massificação do Renato, pode surgir uma confusão na cabeça dos novos fãs em relação ao que é “do Renato” e o que é “da Legião Urbana”?

Assim, é muito simples decodificar isso. Renato solo canta em língua estrangeira, inglês e italiano. O Renato com a Legião canta em português. Isso “ele” falava, “eu não quero misturar o que eu faço aqui com o que eu faço sozinho”. E foi cantar em língua estrangeira. Ponto. Agora, claro, ele fez duetos na televisão com Dorival Caymmi, Adriana Calcanhoto... Participações especiais nos discos do Paulo Ricardo, Plebe Rude... Um clássico da Plebe, “Pressão Social” e ele tava bebasso no estúdio, só gritava, foi terrível (risos).

Você está acompanhando o desenvolvimento do filme “Somos Tão Jovens”?

Estou, de certa forma, porque o idealizador, que chamou o Fontoura pra dirigir, era um grande amigo do Renato, o Luis Fernando Borges. Então eles desenvolveram a coisa toda e eu li o roteiro. Cara, o roteiro é fabuloso, estão de parabéns! É sensacional a dinâmica da história. O Renato é um cara super incrível, do bem, pra cima... Isso é muito bom. Eu espero que seja filmado de acordo.

A história passa por você?

Passa, mas passa rápido. Ali no final. Na verdade é o Renato pré-adolescente até acontecer a Legião Urbana. Passa pelo problema na perna, Aborto Elétrico, ele sozinho, a Legião se formando e o primeiro show no Rio de Janeiro, aí tem eu. Então apareço muito rápido, ainda bem... (risos) Mas fiquei muito contente com o que li.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

O LEGÍTIMO CACHORRO QUENTE

TÚLIO BORGES

::txt::Tárik de Souza::

“Eu venho vagando no ar”

“Deixo que a brisa toque
o sino em mim no tempo
o vento sabe quando é tempo
e quando é silêncio entendo


O tradutor brasiliense Túlio Borges cultua a musa como no tempo da delicadeza. “Nunca quis trabalhar com música com medo de perder o prazer de tocar”, confessa ele, que estreia, aos 29 anos, no belo e multifacetado disco “Eu venho vagando no ar”, após um longo namoro com a arte. Estudou piano na Escola de Música de Brasília, gravou jingles, integrou uma jazz band e um grupo vocal escolar quando morou nos EUA, onde excursionou e ganhou festivais. Embora compusesse desde a infância, só aos 23 anos, morando em Londres, começou a compilar a obra (tinha quase 40 canções) que gravaria na volta ao Brasil. Aqui, passou a participar de festivais e, dentre outros prêmios, ficou em primeiro lugar no Sesc de Brasília e em segundo na Semana da Canção Brasileira, em SP, num júri que contava com Dante Ozzetti e Alice Ruiz.

Em um destes festivais conheceu a cantora carioca Vytória Rudan com quem passou a dividir o palco. No disco, ela é sua parceira tanto no sedutor samba “Paraty” (“Ela tem algo mais/ coisa que nada no mundo faz/ trazer paz pra um coração”), cevado por cuíca, tamborim e violão, quanto no fado/tango “Zorro” (“Eu quero amar você e vou/ mas tenho que aprender quem sou/ achar dentro de mim o mapa”), onde a dupla contracena no vocal de forma intensa.

Quem também divide o microfone com Túlio é D. Inácia, que o criou e trabalha com a família há 35 anos. “É na vida talvez quem mais tenha me influenciado”, analisa. “Era ela quem trazia o negro e o popular, o nordeste e as histórias para dentro de casa”, conta. Ela abre o disco com Túlio em “Pontos”, de domínio público; “músicas que eu a pegava cantando enquanto trabalhava, canções que ela nem sabia que sabia de cor, tão doces e melodiosas”. A piauiense D. Inácia Maria da Conceição sola no último dos pontos. “A idéia era gravá-los com acompanhamento que os valorizassem e que a gravação fosse um agradecimento em vida pela força que Dona Inácia me dá, tão simplesmente com um abraço e um beijo que limpam a alma de tão sinceros e puros”, define o solista.

“Eu venho vagando no ar” (título tirado de um dos pontos) aposta nesta pureza depurada pela urbanidade do talentoso Túlio. Como no abaionado “Trem”, aberto por uma percussão que imita este meio de transporte, e tem um trecho de voz projetada, versado como nas cantorias (“o fogão dos meus desejos fala/ é tão linda que a lindeza estala”). Do regional, Túlio salta ao universal na “jazzy” “Shirley”, profusão de imagens sensuais pontuadas pelo próprio violão do cantor e a guitarra de Genil Castro. Deste clima, ele salta para a não menos envolvente “Birosca”, um samba de cuíca, cavaco, clarineta, violões e o piano de Leandro Braga. “Não pode essa princesa/ da sandália e dos pés lindos demais/ da blusa tomara que caia/ repare o tamanho da saia/ e o estrago que ela faz”.

O samba, a urbanidade e o misticismo são as coisas nossas de “Altar”, pontilhada de imagens fluídas (“Tantos morros e só um Redentor”) e duetada com o compositor fluminense Fred Martins. “Há muito choro em mim/ por mil razões que eu sei/ e mais dez mil que herdei” soma “Toca aí”, etérea, no vocal sensível de Túlio, cerzida pelos violões de Rafael dos Anjos. Já a canção “Sua”, pavimentada pelas teclas do próprio autor em diálogo com as digressões do acordeon de Toninho Ferragutti, está entre as mais arrebatadoras do disco. A teia de palavras de “Cicatriz” (“que saudade me dói, devora/ as lembranças do outono outrora”) atada pelo piano de Leandro Braga, sublinha a comunhão do cantor/autor com sua arte (“as lembranças enramam raízes/ por toda parte”). O insinuante choro “Oi/ Rio demais”, onde dialogam inesperadas trompa (Yuri Zuvanov) e clarineta (Ademir Junior) com o pandeiro de Amoy Ribas (o mesmo que alicerçou a percussão dos iniciais “Pontos”), prepara o impacto devastador da faixa título, que finaliza o disco. Prefaciada por um pífano suspenso, a letra brilha como uma jóia reluzente, um manifesto deste novo artista singular:

“Deixo que a brisa toque
o sino em mim no tempo
o vento sabe quando é tempo
e quando é silêncio entendo”.

sábado, 24 de julho de 2010

CALA BOCA SYLVESTER STALLONE




::txt::Jucazito::

Prezado Rambo, ou Rock Balboa, ou Cobra, como você ousa falar mal do Brasil?

Aqui não tem corrupção. Temos uma floresta linda onde não há desmatamento. Nossa seleção quase foi hexacampeã nas duas últimas copas do mundo. Nosso parlamento é um exemplo de moral e ética, sem esquecer que estão sempre presente ao trabalho, de segunda a sábado, em troca de um mísero salário. A televisão brasileira é um exemplo de programas educativos. Aqui não há morte no trânsito, pois nossas estradas são impecáveis, onde jamais será permitido que um bêbado dirija ao volante. Teremos aqui Olimpíada, Copa do Mundo, Copa das Confederações, Copa América nos próximos seis anos, e os estádios já estão quase prontos.

Temos uma estabilidade política impressionante, pois com certeza nosso próximo presidente será do mesmo partido que governa o país há décadas. Ou você esqueceu que o Sarney era da Arena naquela época que o Lula pedia nas fábricas pra votarem no FHC?

Enfim, senhor Sylvester Stallone, cala essa tua boca. O Brasil é o país do futuro, desde que eu nasci.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

CARLOS PONTUAL

::txt::Daniel Benevides::

É preciso conhecer Carlos Pontual. Não aquele que toca guitarra na banda de Nando Reis e produziu o seu último disco. Esse já é conhecido pela técnica precisa e energia no palco. Mas seu outro lado (que no fundo é o mesmo), aquele que, nas brechas das turnês com os Infernais, vai construindo uma consistente carreira solo, elogiada no exterior.
“This is top quality club jazz"- Mike Hobart - Financial Times (2008)

Inventa Qualquer Coisa é já seu terceiro disco solo – e certamente o melhor, com mais pegada, uma coleção de canções que vão direto ao ponto. Enxuto e vibrante, faz valer cada nota, cada palavra. Já na primeira faixa que dá nome ao disco, surf music urgente, Pontual mostra que tem potencial de invadir rádios e iPods de todo os país. A levada da música é irresistível, o riff certeiro, e a letra, simples, direta, faz a crônica de um dia tórrido. O ritmo se mantém na segunda, “Veneno de Cobra”, rock fortemente marcado, um desabafo sincopado, que lembra Queens of the Stone Age. O trio de abertura se completa com a empolgante “Mensagens Subliminares”, rock mais clássico, próximo do country blues de certas músicas dos Stones.

Na sequência surgem duas baladas bem melódicas, para abaixar um pouco a temperatura. “Mesmo que Seja Ilusão” é uma clássica canção de amor, em que Pontual mostra que é também bom vocalista. Ao final, um solo daqueles de arrepiar, sem notas desnecessárias, seguindo a espinha da emoção. “Janelas Sincronizadas” é um exemplo da versatilidade do músico multi-instrumentista e compositor (que estudou música e tocou jazz ao lado do lendário trompetista Barrosinho, um dos fundadores da Banda Black Rio). Trata-se de uma balada meio bossa nova, mas com um sutil arranjo que lembra o trip-hop, bem climático.

Então entra a segunda parte do disco, mais black, suingada, que abre com o samba-rock malandro (no melhor dos sentidos), bem carioca, “Quero Te Dizer”. Detalhe para o uso jazzistico do teclado, que aliás é uma presença forte no disco. E emenda com o balanço batucado à Jorge Ben, “4 Horas da Manhã”. E aí chegamos a outra candidata a hit: o pop funkeado “Crônica”. Abrindo com um teclado que lembra o melhor do funk safra anos 70, Pontual pede licença a Lulu Santos e, se não chega a superar o mestre, passa perto disso. “I Might Have Something to Say”, uma das duas músicas em inglês do disco, esquenta mais a pista, na toada do batidão soul criativo de Sly Stone.

Há ainda uma terceira parte, idiossincrática, que revela os muitos recursos de Pontual. A instrumental “A Vingança dos Dinossauros Voadores” é aquela em que ele solta mesmo o braço e dispara um solo endiabrado, que se estende do começo ao fim, numa jam inspirada, com a excelente banda que o acompanha (ao longo do disco tocam os tecladistas Alex Vely e Cláudio Andrade, o baixista Felipe Cambraia, os bateras Diogo Carneiro e João Viana, e os percussionistas Fernando Jacutinga e Edu Krieger). A versão demo, bem caseira e por isso divertida, de “Inventa Qualquer Coisa” mostra que a música funciona bem de qualquer jeito, em qualquer arranjo e produção. E por fim, a boa zoeira de “Lady Pimp”, uma breve odisséia zappeana, encerra o disco com um aceno irônico, algo catártico.

Diverso dos dois anteriores, o mais jazzístico e experimental O Miolo do Som, de 1999, e o instrumental, meio surf music, meio jazz-lounge Instrumental Social, lançado na Inglaterra em 2008, Inventa Qualquer Coisa, também independente, aponta para um novo caminho na carreira de Carlos Pontual, que tem tudo para ser um caminho de sucesso.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

JORNALISMO E CULTURA LIVRE




::txt::Tiago Jucá Oliveira::

(este texto é um esforço cerebral pra pautar minha fala na mesa "Jornalismo e Cultura Livre", que acontece nesta quinta, e que faz parte do FISL 11; na mesa também estarão Rafael Evangelista e Marcelo Träsel)

O que entendo por cultura livre? Pelo nome, diria que se baseia em alguns aspectos para que a denominação seja viável. Para que isso aconteça, é preciso que sejam livres o canal/meio, o emissor/comunicador e a mensagem/conteúdo. E o que vemos é um amplo movimento remando contra a maré, contra essas garantias fundamentais. Um breve panorama dos problemas que atingem essas variantes.

CANAL LIVRE
Rede sem controle e livre, com amplo acesso a população; democratização dos meios de comunicação; liberdade de imprensa; liberdade artística.

Em diversos países, inclusive o nosso, há projetos de lei que visam restringir e controlar a rede. O espaço mais democrático da sociedade moderna está com a liberdade ameaçada. É o caso do AI-5 Digital, do senador tucano Eduardo Azeredo.

Na esfera da radio e teledifusão, a criação de um sistema público não-estatal de comunicação está garantida no Capítulo 5º, Artigo 223 da Constituição.

As rádios comunitárias, reguladas pela Lei 9612/98, levam de cinco a sete anos para ter sua outorga provisória e sofrem pelo menos quatro repressões ao longo deste período. A cada batida da Anatel, equipamentos são roubados, a propriedade coletiva é invadida e comunicadores populares são intimidados e frequentemente presos.

A maior parte das emissoras comerciais de rádio e TV estão com suas outorgas vencidas. Ou seja, são ilegais. Embora estejam fora da lei, continuam a receber patrocínio público e não sofrem repressão da Anatel. Somente aqui na cidade de Porto Alegre, 26 emissoras de rádio e TV não poderiam estar no ar.

LIVRE EXPRESSÃO
Liberdade de expressão e comunicação.

Constituição brasileira, artigo 5º, IX – "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença". A Carta Magna nos dá a liberdade de expressão, e graças a ela acabou-se a obrigatoriedade do diploma de jornalista, porém, há porém, no Congresso tramita a PEC 386-A, de 2009, do nobre deputado Paulo Pimenta (PT-RS). A proposta “altera dispositivos da Constituição Federal para estabelecer a necessidade de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão de jornalista.” Ou seja, a liberdade de expressão ficaria restrita e exclusiva a uma elite graduada em jornalismo.

Se essa Proposta de Emenda a Constituição do Pimenta vingar e for aprovada, a sociedade brasileira terá que promover um amplo debate sobre o que é exatamente jornalismo. Blog é jornalismo? O meu blog ou o seu, é jornalismo? Quem vai definir qual blog é jornalismo e qual não é? Se o meu blog for jornalismo, quem vai me fiscalizar e obrigar a ter diploma pra escrever no meu próprio blog? E se o seu não for, quem vai tira-lo do ar?

Como diz o Sérgio Amadeu, a tecnologia já acabou com o diploma de jornalismo, muito antes da sábia decisão do STF. Qualquer cidadão pode hoje montar um blog e nele exercer jornalismo, com reportagens, entrevistas, telejornais, podcasts, fotografias, charges, resenhas críticas, etc.

CULTURA LIVRE
Compartilhar conhecimento; colaboratividade.

Lei número 9.610/98 - Artigo 28: “o autor tem o direito exclusivo de usar, fruir e dispor da obra literária, artística e científica”.

O deputado paulista, Bipo Gê, dos Democrata, propõe uma ementa a essa lei na qual “cria penalidades civis para a baixa, download ou compartilhamento de arquivos eletrônicos na Internet, que contenham obras artísticas ou técnicas protegidas por direitos de propriedade intelectual, sem autorização dos legítimos titulares das obras”, diz o Projeto de Lei 5361/2009.

Assim como é facil produzir conteúdo na internet, é muito mais fácil copiar e reproduzir conteúdo dos outros.

Pensando em compartilhar conhecimento, difundir a cultura, ser colaborativo, é que propus a revista O DILÚVIO adotar uma licença Creative Commons em suas páginas. Todo nosso conteúdo jornalístico está livre, pré-autorizado, para ser copiado, colado, reproduzido, modificado, etc. Acreditamos que a obra jornalística não deve ter dono, e sim autor. E o autor não pode ser dono dos fatos que ele presenciou e narrou. Se determinado fato foi à público, é porque há interesse público nele. Então o fato se torna público, e não proprietário.

terça-feira, 20 de julho de 2010

O ALENTO DE LUÍSA MAITA

Videoclipe da música "Alento" de Luísa Maita / Video for the song "Alento" by Luísa Maita
http://luisamaita.com.br



Musica: Alento (Luísa Maita)
Artista: Luísa Maita
Direção: João Wainer
Gravadora: Oi Musica
A&R: Juliano Polimeno
Management: Phonobase Music Services
Produção: Yara Morais
Figurino: Bel Murray e Fernanda Miziara
Roupas: Cantão
Grafite: Mundano
Assistente: Diego Shuda
Maquiador: Rafael Melo Ramos
Maquinista: Wagner Barbosa
Assistente: Alessandoro Souza
Motociclista: Apu Gomes

segunda-feira, 19 de julho de 2010

ANULA BRASIL: O Convite




::txt::O Manda Chuva::

Todos partidos e candidatos tem espaço, por menor que seja, nos horários políticos gratuitos em cadeia de rádio e televisão. Alguns dão entrevistas e participam de debates promovidos pelas emissoras. A própria justiça eleitoral ensina como se deve votar de maneira correta. No entanto, não existe um pedacinho pra falar à favor do voto nulo. Não há instrução sobre o ato de anular um voto, nem explicações a respeito disso.

Entre nós que anulamos o voto, existem inúmeras razões para se fazer isso. Cada um tem um motivo, ou mais, para não votar em ninguém. O que nos faltava, e não nos falta mais graças a agilidade da rede, era mais canais de expressão.

O DILÚVIO convida as diversas correntes do voto nulo a se manifestarem aqui neste úmido espaço. Um canal de ideias e discussões, sobre um assunto ridicularizado e escondido pela mídia tradicional. Até o dia da eleição, temos muito a dizer!

Você tem algum texto sobre o voto nulo? Envie seu e-mail para odiluvio@gmail.com

sexta-feira, 16 de julho de 2010

TEMPO DE AMOR

::vd:Urban Jungle TV::




Official video for the song "Tempo de Amor" featuring:

Céu - Vocals
Herbie Hancock - Piano & Keyboards
Curumin - Drums
Lucas Martins - Electric Bass
Rodrigo Campos - Percussion & Cavaquinho

2010, Herbie Hancock's Imagine Project

Céu Music

quinta-feira, 15 de julho de 2010

QUERO SER NEGRO

::txt:Tiago_Jucá_Oliveira::

Ah muleque! Chorei de rir quando a ferinha docemente esbraveja "eu to cansado de ser branco, mae". Assista o vídeo aqui ou abaixo

OS NÚMEROS ERRAM



:txt: Ronaldo Lemos__

Caro leitor, peço sua licença para falar de um assunto chato: números. Estamos acostumados a ler toda sorte de estatísticas em jornais, revistas e na internet. Em geral, elas defendem alguma posição e chamam governo ou sociedade para tomar alguma providência. Esse caso de amor entre jornalismo e estatísticas já gerou discussões apaixonadas e bons livros, como A mathematician reads the newspaper (Um matemático lê o jornal), escrito pelo americano John Allen Paulos, que faz crônica de como, muitas vezes, as estatísticas que lemos na imprensa estão simplesmente erradas.

Há um terreno especial em que estatísticas são amplamente usadas (e abusadas): na discussão sobre a pirataria. Anualmente as indústrias da música e do cinema nos EUA publicam seus relatórios apresentando quanto perderam, por exemplo, com o compartilhamento de arquivos na internet. Segundo um estudo feito pela RIAA (Associação da Indústria Fonográfica), os prejuízos com a pirataria foram de US$ 12,5 bilhões no último ano. Já a indústria do cinema alega que as perdas chegaram a US$ 18,5 bilhões.

Há dois problemas com esses números. O primeiro é que não resistem a nenhuma análise mais cuidadosa. Um estudo feito pelo GAO (disponível aqui), espécie de Tribunal de Contas dos EUA, mostrou que os números não fazem sentido. O GAO solicitou acesso aos dados brutos por trás da pesquisa, para que pudesse conferir sua consistência. Até hoje está esperando, já que a indústria do cinema se recusou a fornecer as informações (se negou a entregá-las também à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O segundo e mais grave problema é que esses dados servem para a definição de políticas públicas. Quantas leis foram propostas e quanto de dinheiro público foi gasto em nome do combate à pirataria com base justamente neles? E, para complicar, essas falsas estatísticas são reproduzidas de forma quase viral pela imprensa, sem maiores questionamentos.

MANTRA MIDIÁTICO

Não ficamos atrás dos EUA no quesito números duvidosos. Temos pelo menos três números mágicos no Brasil, que são reproduzidos como mantra pela mídia. O primeiro afirma que a pirataria movimenta US$ 522 bilhões anualmente, mais do que o narcotráfico. O segundo diz que ela causa a perda de 2 milhões de postos de trabalho no mercado formal. E o terceiro que R$ 30 bilhões em impostos deixam de ser recolhidos por sua causa. Um estudo internacional que está sendo concluído este mês foi atrás desses três números e a conclusão é que são furados, inclusive quanto às fontes citadas, que não reconhecem sua existência.

Para concluir, vale dizer que o ponto aqui não é que a pirataria não causa danos. Mas, sim, que não se sabe exatamente quais são eles. Nesse sentido, é inadmissível que dados como esses circulem por aí sem um questionamento metodológico mais sério, tanto por parte do governo como por parte da imprensa, e que políticas públicas sejam construídas com base neles. Sempre que encontrar "bilhões" e "pirataria" no mesmo texto, desconfie.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

NOÉ AE?!: Samba Grego

NÃO VOU ABANDONAR BRUNO

:txt: No Creio__

Durante a ExpoBetim Cristã, que terminou neste domingo, o pastor Jorge Linhares, da Igreja Batista Getsemani, durante sua pregação no dia 10, lembrou que Bruno fugiu do batismo em sua igreja diversas vezes. O conferencista disse que Bruno pediu uma visita do líder agora que está preso.

Assim que subiu ao palco o autor ministrou sobre oportunidades e relembrou do caso do ex-goleiro que acusado de matar a ex-namorada Eliza Samudio. Linhares disse que quando Bruno era pequeno, o via na Igreja e na época, o jogador mineiro era uma criança inocente. “Certo dia, Bruno me apareceu na Igreja com o cabelo pintado de vermelho com amarelo, e foi lá me cumprimentar. Eu disse: Pra que isso Bruno? Ele me respondeu: Sabe como é pastor, as meninas hoje em dia. Mesmo assim eu insisti e disse: Ei, Bruno vamos batizar, olhe só, todos os seus amigos indo e só você vai ficar aqui? E ele mais uma vez me dizia: Não pastor, deixa para próxima. E assim foi durante muito tempo”, expressou.

Jorge Linhares disse que a última vez que viu Bruno foi no Rio de Janeiro quando ele e outros jogadores participavam de uma festa com muita bebida. “Eu olhei para ele e disse: Bruno, na vida existem poucas oportunidades, aproveite enquanto há tempo”, citou.

O pastor terminou afirmando que os delegados o procuraram falando que Bruno está pedindo uma visita e que quando for autorizado assim fará. “Não pense que eu vou abandoná-lo. Assim que eu for autorizado eu vou lá, sabe por quê? Deus odeia o pecado, mas ama o pecador”, encerrou.

terça-feira, 13 de julho de 2010

A SELEÇÃO DA COPA

:txt: Monsenhor Jacá__

Casillas (Espanha)

Sérgio Ramos (Espanha)
Lugano (Uruguai)
Mathijsen (Holanda)
Van Bronckhorst (Holanda)

Schweinsteiger (Alemanha)
Iniesta (Espanha)
Sneijder (Holanda)

Müller (Alemanha)
Villa (Espanha)
Forlán (Uruguai)

Técnico: Vicente del Bosque (Espanha)

Craque: Forlán (Uruguai)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

CULTURA É VOTO




:txt: Tiago Jucá Oliveira__

A recente demissão do jornalista Heródoto Barbeiro da TV Cultura levantou uma tese entre blogueiros sobre as possibilidades de tal demissão. Como Barbeiro havia questionado o preço dos pedágios nas rodovias estaduais de São Paula durante as administrações Serra e Alckmin em entrevista com o presidenciável tucano, estão nos fazendo crer que houve a mão política de Serra no ato de retribuição.

O que eu não vi nesses textos colhidos em linkagens do Twitter foi algo sobre a razão pública da TV Cultura e seu caráter cultural. A TV Cultura deveria ser uma emissora pública, e não estatal, com o conteúdo voltado a aspectos culturais, e não políticos. Pelo menos era isso que eu pensava que a emissora fosse e que de fato deveria continuar a ser, gerida e gestada pelo cidadão, que através de cursos e concursos/pleitos públicos, fosse capacitado para exercer a função na qual foi aprovado e/ou eleito.

O conteúdo de uma emissora de televisão que se diz “Cultura” não poderia ter espaços para a chatice político partidária. Que diabos o senhor José Serra era atração da TV Cultura? Logo ele, que parece ser um imbecil cultural. Esse senhor em sua época universitária, pelo que ele diz ter sido, me faz lembrar aqueles manézinhos que ao invés de serem agitadores culturais nas faculdades, que difundem música, filmes, livros e subversão poética, vivem metido em diretórios acadêmicos e centrais de estudantes, no traçar de rumos semelhantes ao do tucano na carreira política. Na juventude, gritam “Fora FMI”, “Viva Che Guevara”. Porém, no soprar dos ventos, acabam lá, na disputa político partidária por um cargo na Assembléia, na Câmara, no Senado. Quando a popularidade não é muita alta, acaba por concorrer ao Conselho Tutelar ou ao peleguismo sindical.

Aqui no chulé do país, também há algo que não cheira bem. Nossa TV Educativa em quase nada educa. Não é uma emissora pública, e sim estatal, ou seja, a cada quatro anos ela molda a cara e conteúdo conforme o felizardo das urnas. O MDB governa o Rio Grande do Sul desde 1987, ano em que passei a acompanhar a programação da emissora, portanto estou incapaz de comparar com a gestão da Arena. De lá pra cá, houve alguns revezamentos no poder entre as quatro principais alas do Movimento, porém quase nada mudou. A cada novo governador muda-se equipe, grade de programas, direção, etc. E continua a mesma merda que vai ao ar.

Exceto poucos bons programas, como por exemplo o Radar, a emissora é a porta-voz oficial do governo do Estado. Seus telejornais são descaradamente a propaganda branca das gestões que se passam e retornam. Seria um sonho querer que ela se tornasse pública, sem a intromissão da burocracia estatal. O que ainda é possível, e seria uma solução melhor pro caso, é a privatização da emissora que pouco educa, apesar do nome. Entrega-la a quem entende de administração de empresa, concorrência de mercado, jornalismo e entretenimento, e, quem sabe, tira-la dos míseros um per cento de audiência. Ah, eu sei, a pelegada jamais iria admitir tal hipótese. Qualidade é o oposto da corrupção. E pra esse zé povinho pelego, o lema é: deixa roubar, mas por favor, não vamos melhorar”. Vocês se merecem!

TRI-VICE

Dizem que Vasco da Gama era holandês. E quem duvida disso?

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O DIREITO DO AUTOR

:txt: Hermano Vianna__

Até 28 de julho, está em Consulta Pública a proposta de revisão da atual Lei de Direitos Autorais, lançada pelo Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura. Todos podem participar. É só se cadastrar no site do MinC, fazer críticas, propor melhorias. Seria uma pena se pessoas ou instituições com opiniões divergentes não participassem do processo, alegando de antemão que tudo o que o MinC propõe é “dirigista”. A proposta governamental é explícita quanto a seus objetivos: “Incorporar um leque amplo e diversificado de sugestões com vistas a permitir o aprimoramento das políticas públicas e reduzir as possibilidades de elas incorrerem em erros.” A recente discussão pública sobre o Marco Civil da Internet foi exemplo de mudança clara da visão inicial a partir das críticas feitas por vários grupos e indivíduos.

Em editorial, a “Folha de S. Paulo” reconheceu: “O documento sofreu mudanças - e melhorou - ainda nesta etapa.” Conclusão: “O governo deve enviar o projeto de lei ao Congresso nas próximas semanas.

Haverá oportunidade para aperfeiçoamentos na Câmara e no Senado, mas o texto, em linhas gerais, é satisfatório.” O mesmo pode acontecer com a Lei dos Direitos Autorais, se a sociedade assim desejar. Nada ainda está definido. Tudo pode mudar.

É um sinal muito positivo que um debate complexo, polêmico e sofisticado como esse, central para os destinos da cultura contemporânea, possa estar acontecendo de forma tão aberta e avançada no Brasil, dando exemplo para outros países. Em artigo publicado há poucas semanas no “Observer”, John Naughton - professor da Open University britânica - afirma: “Nossas leis de copyright estão agora tão risivelmente fora de contato com a realidade que estão caindo em descrédito.

Elas precisam urgentemente serem reformadas para se tornarem relevantes para as circunstâncias digitais. O problema é que nenhum de nossos legisladores parece compreender isso, então isso não vai acontecer tão cedo.” Temos aqui oportunidade e legisladores para fazer isso acontecer em breve. Por que não aproveitar? Por que se preocupar com intrigas pequenas quando é possível fazer algo grande? Ou continuo esperando demais do Brasil? A reflexão sobre os Direitos Autorais é uma das aventuras mais interessantes do pensamento humano. Sua história, que se confunde com o desenvolvimento da própria noção de autor, não começou hoje, nem vai ter ponto final agora. Vale a pena voltar a seus primórdios, citando novamente o texto de 1813 do nada stalinista Thomas Jefferson, explicando a opção da lei americana por diferenciar propriedade intelectual de propriedade de objetos físicos: “Se a natureza fez alguma coisa menos suscetível que todas as outras de ser transformada em propriedade exclusiva, essa é a ação do poder de pensamento chamada ideia, a qual um indivíduo pode exclusivamente possuir apenas enquanto mantê-la para si mesmo; pois, no momento em que é divulgada, ela se força na possessão de todos, e quem a recebe não pode dela se desfazer. [...] Aquele que recebe de mim uma ideia recebe a instrução toda sem diminuir a minha; como aquele que acende a vela na minha recebe o fogo sem me escurecer.” Por isso ter um carro é diferente de ter um livro. Se alguém rouba meu carro, fico sem o carro.

Mas, se alguém me rouba um livro já lido, fico sem o objeto de papel, porém seu conteúdo continuará presente em minha memória, já misturado às minhas próprias ideias, gerando novas ideias impulsionadas pela leitura.

Um carro não cai em domínio público. O objeto livro também não: pode ser herdado por várias gerações. Mas o conteúdo do livro passa a ser propriedade coletiva depois de determinado tempo, podendo ser usado por todos, em nome do bem comum. A lei de copyright seria uma concessão que a sociedade dá para os criadores poderem continuar criando, tendo por um tempo o monopólio do uso comercial dos seus trabalhos.

Isso: por um tempo (na época de Jefferson, 14 anos).

Depois voltariam necessariamente para o uso coletivo. A ideia de direito de autor, mais europeia, é um pouco distinta, mas gera questionamentos semelhantes. Victor Hugo, por exemplo, considerava a possibilidade de que o direito das obras artísticas pudesse passar para os herdeiros dos seus criadores uma “ideia caprichosa e bizarra de legisladores ignorantes”.

Ninguém precisa concordar com ele: suas palavras nos lembram que nunca existiu consenso neste debate, mesmo entre criadores que poderiam lucrar com isso.

Imagine o que Hugo e Jefferson pensariam da época pós-internet, quando meu fogo pode iluminar a vela de criadores de todo o mundo num piscar de olhos, quando o raro se tornou abundante através de cópias digitais baratas e perfeitas, quando o sampler já é há décadas motor da criatividade musical.

Como diz John Naughton: para acabar com esses “problemas” é preciso desligar a internet.

Ou como diz o editorial da “Folha”: “A insegurança jurídica [...] não é desprezível.

Criadores e gestores de conteúdo, desde o simples blogueiro aos maiores portais, encontram-se desprotegidos.” E também artistas, e governos, e toda a indústria cultural. Por que não tentar inventar a nova proteção, adequada aos novos tempos? A atuação de Gilberto Gil como ministro criou, dentro e fora do Brasil, a expectativa de que possamos apresentar, se não soluções definitivas, pelo menos novas maneiras de encarar os problemas colocados pela digitalização da cultura.

Deveríamos aceitar esse desafio.

terça-feira, 6 de julho de 2010

NOÉ AE?!: Academia da Berlinda e Orquestra Contemporânea de OlindA

VIVA O FUTEBOL BRASILEIRO

:txt: Bruno Mazzeo__

É hora daquele clichê, chato como todo clichê, mas verdadeiro como só, ou não seria um "clichê": há males que vêm para o bem. Acabou a Era Dunga. Por mais duro que seja, a eliminação precoce da seleção brasileira salvou o nosso futebol. A vitória da mediocridade pode trazer prejuízos seríssimos em qualquer segmento da vida, sobretudo na arte. E o futebol é uma delas. Apesar de achar que não precisaríamos passar por isso. O futebol brasileiro não tem lá tanto a aprender, não vem de uma seca absurda (como quando ganhou em 94), não precisa apanhar pra depois reagir, como Rocky Balboa. Nós já somos os maiores do mundo. Mas já que criaram essa situação... vamos focar no tal lado bom das coisas.

Vai que o Brasil passa pela Holanda. E vai indo, indo e acaba "fondo", como já disse o poeta. Dunga despejaria toda a sua TPM, um "vão ter que me engolir" da pior espécie que, pelo que eu nos conheço, acabaria sendo digerido. A mediocridade estaria consagrada. Felipe Melo seria um símbolo. Como Dunga em 90. A Era Felipe Melo estaria inaugurada. Ele poderia até virar técnico da seleção se o mundo não acabar em 2012. Coisa que não seria má ideia, caso isso realmente acontecesse.

Dunga não tinha o direito de fazer isso. De nos premiar com a mediocridade do seu pensamento. Felipe Melo é um horror? Sim, não é novidade para ninguém, o pior estrangeiro do Campeonato Italiano. Mas de quem é a culpa de ele estar ali? De quem o escala. Ou alguém acha que ele negaria a chance? "Não, seu Dunga, obrigado, mas acho que tem jogadores melhores que eu, vou ficar aqui na minha". Alguma surpresa? Felipe Melo continuou fazendo o que sempre fez, seja no Flamengo, seja na Europa. Descontrolado, bronco e arrogante, como mostrou desde o dia da convocação, num bate-boca idiota com o comentarista PVC, na ESPN. Acho que tem no YouTube.

Nosso comandante optou pela mediocridade. Ele tinha um menu com todos os pratos do mundo e escolheu comer jiló. Já falei aqui sobre Elano, um dos mais regulares, porém, um jogador mediano. Que, quando se machucou, abriu espaço para mais um jogador mais mediano ainda. Aí ficam jogando a responsabilidade toda em cima do pobre (maneira de dizer, tá?) Kaká, tipo "se vira aí pra dar talento a esse meio de campo" como se ele fosse Jesus, quando ele é apenas o Kaká, por mais que acredite Nele. É como colocar o Selton Mello pra fazer uma cena dramática com um figurante. A cena pode até ficar boa, mas se ele contracenar com o Wagner Moura pode render Oscar. Dunga podia ter Selton e Wagner no seu elenco, mas optou pelo Tiririca.

Em campo, nada de Brasil. O futebol brasileiro não é arrogante, por mais que seja superior. No genuíno futebol brasileiro o Robinho daria pedaladas em vez de esbravejar com os olhos esbugalhados. Até o Kaká falou palavrão, coisa antes inimaginável. Uma seleção de militares. No comando, não um capitão, mas um general. Ronaldinho Gaúcho, Neymar, Ganso, nos porões da ditadura, proibidos de exercer sua arte. Um Romário da vida dificilmente teria sua chance com Dunga. A seleção ficou careta.

Se eu tivesse este espaço anos atrás, teria me perguntado sobre o porquê de Dunga ser o técnico da seleção, coisa que até agora ninguém me explicou. Nem nas crônicas esportivas, nem nas mesas do Baixo Gávea. A casa caiu, ele também, e eu continuo sem entender. Como continuo (e nesse caso agradeço) sem entender seus raciocínios, suas opções pela mediocridade. Mas agradeço por ele se despedir deixando menos vestígios do que a vitória poderia trazer. A Era Dunga já era.

Louvo a carreira de Dunga como jogador. Mesmo. Mas como treinador... Fora que não o perdoo por ter transformado a festinha que eu tinha na noite do jogo contra a Holanda num velório.

A maior constatação da Copa até agora é o quanto o Cristiano Ronaldo sente tesão nele mesmo.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

NOÉ AE?!: Soatá, Trio Virgulino e Lenine

A SELEÇÃO DAS QUARTAS

:txt: Monsenhor Jacá__

Goleiro

Suárez (Uruguai)

Já vi todo tipo de defesa em Copa do Mundo, mas que nem aquela, no último minuto da prorrogação, jamais.

Lateral direito

Lahm (Alemanha)

Moderno. Desarma e arma.

Zagueiros

Lugano (Uruguai)

A mesma raça e técnica de sempre.

Friedrich (Alemanha)

Num time que joga pra frente, até zagueiro faz gol, sem comprometer a zaga.

Lateral esquerdo

Boateng (Alemanha)

Anulou o lado direito do ataque argentino.

Meio campo

Schweinsteiger (Alemanha)

Anulou Messi, o melhor jogador do mundo, enfernizou a zaga argentina, deu assistência e mandou no jogo.

Khedira (Alemanha)

Outro volante moderno alemão. O que sobra pros germânicos, faltou ao Brasil.

Sneijder (Holanda)

Fez dois gols no timeco do Dunga. Cérebro laranja.

Ataque

Müller (Alemanha)

Craque de bola. Maradona disse que não o conhecia. Agora conhece.

Forlán (Uruguai)

Um golaço de falta, a la Jabulani, quando tudo parecia um filme de terror pra celeste olímpica.

Robben (Holanda)

O homem que enervou a seleção emotiva do Brasil. Cavou faltas, cobrou um escanteio com precisão pra cabeça de Kuyt desviar pro miolo da área, onde a zaga brasileira dormia.

Craque

Schweinsteiger (Alemanha)

O dono do jogo em que o salto alto argentino tropeçou e caiu de quatro.

Técnico

Low (Alemanha)

Ah se o Dunga pensasse que nem ele. Em vez de cabeças-de-bagre no meio campo canarinho, teríamos volantes que sabem sair pro jogo e armadores que encostam nos atacantes.

Time

Alemanha

Não é todo dia que se ganha de 4x0 da Argentina, que tem o melhor jogador do mundo, numa quartas-de-final de Copa do Mundo.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

LA FURIA ES ROJA



:txt: Monsenhor Jacá__

Nunca havia visto uma seleção espanhola que valesse 10 contos de réis. Dizem que a Espanha sempre amarela na copa, o que não é verdade, pois sempre foram times medianos, com um Butragueño aqui, um Michel acolá, talvez um Raul ali.

Essa Espanha que encanta na África do Sul é diferente. Chegou como uma das favoritas pois joga muito, tem uma troca de passes que envolve o adversário e desenvolve gols. O meio campo ofensivo é de tirar o chapéu: Xavi, Xabi Alonso, Iniesta, Villa, Fernando Torres, Pedro e Fàbregas.

Se o passado sem títulos não pesar na camiseta roja dos espanhóis, a taça do mundo será bem levinha.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

NOÉ AE?!: A Roda

A SELEÇÃO DAS OITAVAS

:txt: Monsenhor Jacá__

Goleiro

Stekelemburg (Holanda)

Seria uma injustiça não por o ganês Kingson ou o portuga Eduardo como titular dessa posição. Meu critério pra colocar o laranja é que ele foi decisivo na hora H, ao evitar duas ótimas chances de gol da seleção da Eslováquia, quando só estava 1x0 pra Holanda.

Lateral direito

Sergio Ramos (Espanha)

Ótimo apoiador, faz bons cruzamentos pra área e tem disposição pra marcar e dividir. Raça e técnica.

Zagueiros

Lugano (Uruguai)

Comanda a zaga que até o momento só levou um gol. Ele, famoso também por exagerar na raça, ainda não foi suspenso.

Juan (Brasil)

Ele não faz faltas (fez apenas uma em todo mundial, ao colocar a mão boba na bola). Ele faz gol.

Lateral esquerdo

Coentrão (Portugal)

Jogou bem, nada mais. Continua sendo a posição sem craque na Copa. Basta jogar o bê-a-bá. Um arroz com feijão sempre precisa dum Coentrão pra temperar

Meio Campo

Schweinsteiger (Alemanha)

Volante moderno. Desarma e arma, cobre atrás e chega na frente. E tem habilidade.

Müller (Alemanha)

Mesmo nome e número do maior artilheiro alemão de todos os tempos. Guardou dois golos contra os anglos da rainha.

Xavi (Espanha)

Comanda o melhor meio campo da Copa. E dá passe de letras pra despachar O Gajo e seus colegas de volta pra Portugal.

Sneijder (Holanda)

Lançamentos precisos, gol de placa. É o meio campista mais refinado da Copa.

Ataque

Villa (Espanha)

Fez um partidão contra os portugueses. E assumiu de vez a liderança de melhor jogador da Copa.

Suárez (Uruguai)

O jogador mais decisivo das oitavas. Cutucou e guardou duas buchas nos coreanos.

Craque

Villa (Espanha)

Acabei de dizer acima. Só não faz chover.

Técnico

Vicente del Bosque (Espanha)

Sem falar nem rir, seu time joga magicamente.

Time

Espanha

Deram um show, um baile, um chocolate, ou qualquer outro termo que você conheça, pra cima dos portugueses.

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