#CADÊ MEU CHINELO?

terça-feira, 27 de julho de 2010

DADO VILLA LOBOS

::txt:: Oscar Vasconcelos::

Dado Villa Lobos integrou uma das bandas mais importantes da música brasileira, a Legião Urbana. Isso todo mundo já sabe, e ele poderia tranquilamente ficar vivendo desse glorioso passado. Justamente aí reside o grande barato, Dado não se acomodou, seguiu adiante. Cuidou de seu próprio negócio, produziu bandas novas, tocou com os amigos, tornou-se um premiado compositor de trilhas para o cinema nacional e lançou um inspiradíssimo trabalho solo (o próximo já está a caminho!). Recentemente, a partir de uma intervenção uruguaia, resolveu matar as saudades de palco com o antigo parceiro legionário e dessa forma presentear todos nós.

Dado, vamos começar falando sobre a Rock It. Era um selo e depois virou gravadora?

Começou como uma loja, virou um selo e gravadora.

Como surgiu a idéia? Qual era a proposta inicial, quais as metas atingidas e a razão da suspensão das atividades?

Isso começou numa conversa com o produtor da Legião na época, o Mayrton Bahia. Era um cara super visionário, na verdade foi quem nos manteve dentro da EMI porque a gente estava com um pé fora, queria ir embora, não ia fazer disco coisa nenhuma... E ele teve uma conversa decisiva com a gente, explicando como as coisas andavam ali no eixo cultural RJ-SP, a indústria e a coisa toda... Enfim, anos depois produzindo nosso terceiro disco (Que País É Este?) ele virou e falou: “Se eu fosse vocês eu abria uma editora, agora! Vocês têm que ser donos do seu patrimônio e seu patrimônio é a sua música.” Pensei, “boa dica”. Abrimos a “Corações Perfeitos”. Então do “Quatro Estações”(1989) em diante, é tudo nosso. Não está encalhado numa editora de terceiros que administra a música, entendeu? Ta na nossa mão. E logo depois, no ano seguinte, ele virou pra mim: “Olha, abre uma gravadora. Está chegando a hora de segmentar mais, ter e dar mais oportunidade ao mercado da música, pro artista ser absorvido.” Porque ficar focado só no grande “mainstream” das gravadoras... Você ramifica e consegue de repente estabelecer um bom acordo com as distribuidoras. Foi dito e feito. Esse mesmo cara em 92, quando a gente gravava nosso quinto disco (“V”), era diretor artístico da Polygram. Num congresso dentro da empresa, onde estavam funcionários de todos os departamentos do Brasil inteiro ele virou pros vendedores e falou: “Vocês estão com os dias contados”. Assim, a música digital já estava sendo pensada, já havia o surgimento do cd, pro tools chegando e o Mayrton já estava na frente.

É o período que a convergência digital que ganhava força lá fora.

Exatamente! Foi um pouco “pré mp3”, até então os arquivos eram enormes e não havia capacidade de tanta velocidade.
Bom, por conta desse cara a gente abriu essa loja, “Rock It”. Eu, Fernanda (nota: esposa do Dado), André Muller (baixista da Plebe Rude) e a mulher dele, a Martha. A idéia era vender a “cultura rock”, e tudo que pudesse gravitar em torno dela. Camisetas, discos, revistas, cintos, badges... E ao mesmo tempo, a gente botava ali uma banquinha de fitas k7 demo. As bandas que estavam começando desovavam ali e a gente ouvia e vendia também. Passaram por ali nomes como Planet Hemp e Pato Fu. A gente inaugurou em 91, mas a “Era Collor” destruiu a economia desse país e a indústria fonográfica foi pro buraco. As gravadoras começaram a se reestruturar e fechar estúdios. E já existiam estúdios independentes que, com esse estouro do Collor, também ficaram às moscas. Aí eu cheguei no cara com quem a gente tinha acabado de gravar nosso quinto disco, no estúdio Mega (que também estava ocioso), e falei “vamos fazer um acordo, eu tenho uma banda, to afim de gravar, tenho a distribuição da EMI e a gente racha os lucros” e foi o que fizemos. A banda era a “Second Come”, primeiro disco deles. Gravamos e assim nasceu o selo.
Depois o André saiu fora. Eu fiquei sozinho e, como péssimo administrador, na verdade o comércio do disco começou a emburacar, né? Começou a chegar o mp3... Acabou se tornando um péssimo negócio.

O início da mudança de paradigma?

Isso! Vai mudando o paradigma e ali não deu. E o Brasil é um lugar bem inóspito, cara, pra quem tem um pequeno comércio. Você é jogado à margem sempre. Você vai ter que sempre “quebrar” o Fisco e aí é impossível, é inviável. A carga tributária do disco, pra sair da gravadora e chegar até você, é absurda. Um péssimo negócio até hoje. Foi assim que surgiu a Rock It, que hoje é a minha pessoa jurídica e lancei por ali meu último projeto na MTV, licenciado pela EMI. E você continua sendo o dono do seu catálogo.

Já que falamos um pouco sobre a mudança de paradigma, você acha que com a popularização da internet, trocas de arquivos digitais, há um caminho possível pra indústria fonográfica?

O que eu sinto é que hoje o meio mais eficaz de propagação da música é a internet. Só que ainda estamos no download gratuito. Outro dia eu saí da minha terapia, entrei no carro, tava ouvindo a CBN e era um programa que falava sobre novos lançamentos. O apresentador começou a falar bem do disco novo da Sade, e que ela levou 10 anos desde o último trabalho. Foi super bem recebido pelo mercado americano, mas aí o cara fez uma ressalva, “não é tão maravilhoso assim, ela está no top da Billboard, mas só vendeu 190 mil CDs, que é pouquíssimo”. E isso representava uma retração de 40% em relação ao ano anterior. Veio a interlocutora e disse “é mas isso é o disco, o download agora é que está arrebentando, é o novo caminho...”, o cara vira e fala “olha, eu não tenho tão boas notícias assim... há uma retração do download pago de 23% em relação ao ano passado.” Então é aquela coisa, se você é cliente e vai no iTunes baixar, bacana!

É uma possibilidade, né?

Sim, você ter a regalia de ser cliente daquela loja e receber o lançamento antes, poder comprar, baixar, ouvir com exclusividade... Eu seria um cliente em potencial se a gente pudesse comprar no iTunes, coisa que o brasileiro ainda não pode. Então a gente continua baixando de graça. Mas é um processo irreversível. Você não vai voltar atrás. É como o cinema mudo quando ficou falado. Você não vai continuar fazendo cinema mudo! A questão é “como” equilibrar e adaptar esse novo paradigma à produção. “Como” fazer isso ser rentável de novo, porque o produtor tem que ganhar, o compositor tem que ganhar e o artista tem que ganhar. Mas eu acho que dentro desse ambiente estão se encontrando pequenas soluções... Às vezes eu penso que falta realmente os canalhas chegarem pra tomar conta do negócio. Como eram os produtores de disco e as multinacionais, eles tomaram conta da parada e a coisa funcionava. Ta meio “largado”...

Você tem o hábito de baixar?

Tenho! Quando eu to afim. E eu acho fabuloso! Mas eu gosto de ter o disco dos meus artistas favoritos, de ler... Às vezes baixar o álbum inteiro (encarte completo, faixas...) também dá trabalho.

E ainda há demanda pelo formato físico do produto.

Sim, de você ter ele na sua mão, ver, folhear o encarte... Mas isso vai acabar... A galera da nova geração não ta nem aí pra coleção de disco, mas você vai ver no computador deles e lá tem milhares e milhares de músicas. Provavelmente nada foi pago por nenhuma delas.

Mas é complicado pagar 40 reais num cd que é lançamento. Creio que os poucos interessados normalmente esperam o preço cair. Não é?

O CD tinha que custar R$20, R$23 no máximo... Podia ser igual a livro, não paga imposto! É zero! Mas não passa no congresso a lei...

Me fala um pouco sobre o seu trabalho com trilha pra filmes. Começou com o Bufo (filme baseado no livro de Rubem Fonseca), certo?

Sim, primeiro foi o Bufo. Veio num momento bem bacana, em 2000. Um amigo meu que tinha trabalhado na Rock It, era amigo do diretor (Flávio Tambellini) e fez a ponte. Era o primeiro filme do Flávio como diretor e foi incrível. Era um novo universo a ser explorado. Fazer a abertura, temas dos personagens, música de fundo...

Como funciona o processo, você vê a cena antes? Alguém te situa?

O cara primeiro te situa. Você lê o livro, lê o roteiro, vê o perfil de cada personagem e já entra naquele ambiente todo.

Tem um envolvimento total então.

Com certeza. O diretor vem e conversa o que ele pensa da música, vem o editor, o cara que monta... Geralmente ele já monta em cima de música. Então já vem um andamento ali, você às vezes fica preso a uma música referência do cara que editou. Pelo menos preso ao andamento. E são várias motivações ali dentro, a cena, o ator, a expectativa geral... Você está dando um suporte dramático ao vídeo/imagem, ao diálogo e à trama.

Sobre o “Jardim de Cactus”, quando surgiu a idéia do primeiro solo e quanto tempo levou a “gestação” dele?

Foi justamente depois de fazer algumas trilhas. Depois de ter meio que ter encerrado o processo dentro da gravadora, de produzir e lançar artistas novos, foi uma série. Desde o começo foram mais de 30. Nos anos 2000 eu terminei com Comunidade Nin Jitsu e Ultramen. Foi quando a coisa foi pro buraco. Pirataria. Quando eu fui a Porto Alegre eu vi aqueles discos que eu tinha produzido, e que sabia quanto tinha custado ao caixa da gravadora, sendo vendidos a R$2,50 na banca do pirata, eu falei “ah, agora chega! Parei”. Porque era justamente o lugar onde a gente ia recuperar, Rio Grande do Sul.
Aí tinha uma série de temas que eu vinha fazendo até por conta dos filmes. Eu tava sempre no estúdio e apareciam idéias. Então comecei a buscar parceiros musicais. Veio a Paula Toller (compositora da letra de “Jardim de Cactus”, “Dias”...), chamei o Fausto, o Toni Platão, Humberto Effe, China – de quem eu tinha produzido um trabalho um ano antes... E por aí foi. O projeto foi tomando uma forma, as músicas foram aparecendo e acabou virando uma coisa, tipo, orgânica mesmo. A idéia era sempre dividir os vocais com o parceiro. Foi bacana. E ali está um resumo, ou retrato de todas as influências que eu tive o tempo todo, desde que eu nasci. Meu pai tocando uma peça do Chopin, por exemplo, finalizando o disco. Coisas experimentais, tem o Chico Buarque cantando uma música, tem uma do Caetano Veloso e Beto Guedes... E todos os parceiros são companheiros, cúmplices de uma geração.

Como surgiu a idéia de lançar pela MTV o trabalho “ao vivo” antes da versão em estúdio?

Foi uma coisa de louco isso aí... Era essa coisa do “disco”, ninguém entendia mais o mercado do “disco”... O cd era uma coisa quase abominável e existe o fato de que o Brasil é um dos maiores mercados consumidores de dvd musical. Uma coisa louca. Você pega o DVD da Ivete Sangalo e foram vendidas 600, 500 mil cópias no país, que pro mercado hoje é algo incrível. A Madonna com essa última turnê parece que vendeu 120 mil DVDs no mundo inteiro. Então esse lance de DVD aqui é uma coisa de doido. As pessoas gostam mesmo. Adoram. Eles botam o DVD da Ivete Sangalo, do Calypso, aí vêem a coreografia e dançam juntos, aprendem os passos pra ir ao show e fazer tudo certo. Essas coisas...
Enfim, eu tinha mostrado a master do cd pro pessoal da diretoria da MTV e eles vieram com a idéia, “porque você não lança aqui esse projeto ao vivo?” Eu pensei “putz, vai custar uma grana, mas é uma boa idéia!” Você faz o lance e já divulga na televisão, um veículo de massa, e é como o Brasil funciona, o consumidor compra o dvd ao vivo de música.

Mas nesse momento você tinha o disco de estúdio pronto?

Disco pronto! Mas como eu tinha licenciado na EMI, eu não licenciei o cd que originou essa idéia toda, o de estúdio. Porque saiu o DVD e o cd do DVD ao vivo. Fizeram 8 mil DVDs e 5 mil CDs, venderam tudo e acabou. Foi muito bom.
Ano passado um amigo meu que está abrindo um selo em São Paulo, “Black Records”, pediu pra lançar o cd de estúdio.

Esse cd de estúdio ficou disponível no teu site, né?

Ficou uma época, e quando esse cara resolveu lançar eu pedi pra tirar do site. Foi bom porque ele ia ficar “perdido”...

Seu próximo solo vai seguir o mesmo formato? Já está em andamento?

Já. Eu tinha começado ano passado e o “mote” dele, o conceito básico, era o “colapso”. Colapso em todos os sentidos. Seria a idéia central. Mas como a coisa do “colapso” não vingou tanto aqui no Brasil, o Lula falou que era a marolinha, né? Na verdade está tudo mascarado, continua tudo colapsando... Tem um amigo meu que fala que o mundo está passando por um processo de “mulambalização”, uma coisa irreversível também.
Mas temos vários temas e canções já. Canções de amor que eu queria botar pra tocar na novela. Da Record, se possível. “Temas de novela”, “Tele-temas”, taí, um bom título! (risos) Olha, acabei de ter essa idéia, botar o nome do disco de “Tele-temas”. Porque é bem isso, tudo que vem da televisão, que gera o colapso, degradação, mulambalização da cultura.

Esse próximo trabalho tem novos colaboradores?

Tenho, no sentido de que agora eu estou fazendo música com o Nenung (Darma Lóvers), eu tinha gravado duas dele, mas agora eu fiz a música e ele encaixou a letra. Continua o mesmo cara de sempre, fabuloso. Tem o Marcelo que é do sul e tem uma banda de samba rock violento, se chama “Robô Gigante”. Marcelo Gigante. É um som pesado. E ele faz de tudo, é compositor também. Tem o André Mendes, da Bahia, de uma banda que eu lancei chamada “Maria Bacana”. Ele também ta lançando um disco solo agora, é um cara bem interessante.

Como rolou essa volta aos palcos com o Bonfá e qual foi o envolvimento dos uruguaios nisso? A Legião já tinha tocado fora do país?

Então, foi surreal... A Legião tinha tocado uma vez em 1986, no 1º Festival de Rock de Montevidéu. Foi assim, há 2 anos o Hermano Vianna, irmão do Herbert, me mandou um email falando de um amigo dele que queria me conhecer porque tinha um projeto e tal. Eu falei “tudo bem!” Marcamos na Pizzaria Braz e chegou esse uruguaio com essa idéia que era o seguinte “olha, tem uns caras lá no Uruguai que estão organizando um tributo, uma homenagem à Legião Urbana e eles queriam muito que você e Bonfá fossem lá.” Eu pensei, “cara, como é que é? Que coisa esquisita...” Ele explicou e depois ele mandou um email detalhando tudo. Então tinha os caras do Bajofondo, La Vuelapuerca que é a maior banda de rock da América Latina hoje em dia e vários outros artistas. E assim a coisa foi tomando um jeito. Eu falei “Bonfas, vamos nessa? Parece que é bacana! Vamos ver o que é isso.” Era um repertório de 20 músicas da Legião e os caras entre eles tocavam as 10 primeiras. Foi a primeira vez que aquelas bandas todas se reuniram pra fazer algo juntas. E ali se juntaram pra tocar Legião Urbana. Na 11ª música eu e Bonfá entramos e fomos até o fim do show. Isso foi num clube chamado “La Trastienda” (filial uruguaia, a matriz fica em Buenos Aires) e tinha mais de mil pessoas, completamente lotado. Tivemos que fazer o dia seguinte, foram 2 dias igualmente lotados só de gente dali mesmo. Foi sensacional!

E existe a possibilidade de shows assim no Brasil?

Sim, a partir dessa experiência, resolvemos migrar a idéia pra cá, com essa banda. É engraçado porque a música chegou até lá, então bateu lá dentro nos caras, eles se identificam com aquilo. É bem bacana.
Bom, a idéia é fazer uma excursão mínima, tipo 7 ou 8 cidades. Dependemos do “show business”, da indústria do entretenimento absorver isso e executar. Porque não é uma coisa fácil, é um projeto que precisa de uma captação bacana. Tem que trazer os caras do Uruguai, ensaios, em cada praça ter o cara do local pra cantar algumas músicas... A gente fez Brasília e Fortaleza, esse do reveillon em Fortaleza foi foda!

Esse show de Brasília, no Porão do Rock, teve alguma sensação diferente? Considerando que última passagem da Legião por lá foi o show mais conturbado da trajetória da banda.

Esquisito, né? Na verdade essa dúvida bateu. Pensei “na última vez que a gente esteve aqui foi “aquele”... mas hoje...” Enfim, era 88, quase 22 anos atrás. Agora o povo tinha crescido, os jovens não eram os caras que estavam naquele show, fiquei bem mais tranquilo (risos)... Mas cara, foi incrível, super emocionante mesmo! Eu tinha tocado lá uma vez, solo, um ano antes num festival e tinha sido ótimo também. Um mar de gente e foi muito bom. Lá foi o André Gonzáles do Móveis Coloniais de Acaju que cantou com a gente.

Teve mais uma galera participando?

Teve o Herbert (Paralamas), Philippe (Plebe Rude)...

E vocês escolheram antes os convidados?

Escolhemos antes, ensaiamos só com o André, eu acho... Com o Philippe é na hora mesmo, “Geração Coca Cola, vai!” Em Fortaleza foi o Catatau do Cidadão Instigado, bem legal. Então a idéia é essa, fazer uma grande festa em cada lugar, pra lembrar eu e Bonfá, relembrar o repertório...

Vocês pensam em alguma celebração em relação aos 25 anos do lançamento do primeiro disco?

Não. Não pensamos em absolutamente nada.

Nem a gravadora?

A gravadora praticamente não existe. E é acéfala pra pensar nessas coisas. Estão pensando provavelmente em lançar o “Rebolation”, ou alguma coisa assim que faça “sentido” nos dias de hoje.

Como está hoje o diálogo com a família do Renato?

Está melhorando, pelo menos com a entrada desse uruguaio existe uma interlocução. Porque não existia mais. O que existia eram eles me processando na justiça e coisas do gênero. Na real, na minha opinião, eles são mal assessorados. A família peca nesse sentido.

E quanto a novos lançamentos de outtakes e registros ao vivo?

Tava até na pauta, mas agora não vai ter mais. Isso vai ser colocado na geladeira. Justamente por esses conflitos envolvendo os “assessores”. Mas nada de mais.

Você tem idéia da quantidade de material que pode ser lançado? O Renato falava de uma caixa que se chamaria “Material”, não é?

Exatamente, “Material”. Seria mais ou menos nos moldes da antologia dos Beatles. Outtakes, coisas que a gente gravou em programas de televisão lá dentro, com qualidade, coisas que não saíram, como “Juízo Final” que era pra estar no segundo disco e ficou fora por falta de espaço físico no vinil. Músicas instrumentais que a gente nunca lançou e essas coisas que às vezes são bizarras dentro de um estúdio de gravação.

Seria um projeto mais voltado para os fãs?

Sim, para suprir essa demanda final.

O que você acha desses registros solo, póstumos, do Renato?

Eu acho que eles conseguiram transformar dois discos, um em inglês e um em italiano, em sete. Isso é um milagre da natureza! Eu me surpreendi uma vez quando ouvi takes de uma fita cassete que foi gravada lá na minha casa pelo irmão do Dinho, o Ico, depois rodou direto entre os amigos e eu até tinha ouvido há uns 20 anos na rádio Transamérica, virou cd também.

O “Trovador Solitário”.

Deve ser isso. Esse que saiu agora eu ainda não ouvi, acho esquisito... Mas se você for ver a qualidade artística da coisa, ter um Caetano Veloso fazendo um dueto com ele deve ser interessante, a Fernanda Takai, Adriana Calcanhoto... O da Marisa Monte parece que é deplorável, né? Esse dueto parece que não é muito bom não...

É um rascunho...

É um rascunho de “Soul Parsifal” que entrou no “A Tempestade”. Mas também não dá pra acreditar em tudo que o jornalista escreve, cada tem que chegar às suas próprias conclusões.

Você acredita que por conta desses novos lançamentos, essa massificação do Renato, pode surgir uma confusão na cabeça dos novos fãs em relação ao que é “do Renato” e o que é “da Legião Urbana”?

Assim, é muito simples decodificar isso. Renato solo canta em língua estrangeira, inglês e italiano. O Renato com a Legião canta em português. Isso “ele” falava, “eu não quero misturar o que eu faço aqui com o que eu faço sozinho”. E foi cantar em língua estrangeira. Ponto. Agora, claro, ele fez duetos na televisão com Dorival Caymmi, Adriana Calcanhoto... Participações especiais nos discos do Paulo Ricardo, Plebe Rude... Um clássico da Plebe, “Pressão Social” e ele tava bebasso no estúdio, só gritava, foi terrível (risos).

Você está acompanhando o desenvolvimento do filme “Somos Tão Jovens”?

Estou, de certa forma, porque o idealizador, que chamou o Fontoura pra dirigir, era um grande amigo do Renato, o Luis Fernando Borges. Então eles desenvolveram a coisa toda e eu li o roteiro. Cara, o roteiro é fabuloso, estão de parabéns! É sensacional a dinâmica da história. O Renato é um cara super incrível, do bem, pra cima... Isso é muito bom. Eu espero que seja filmado de acordo.

A história passa por você?

Passa, mas passa rápido. Ali no final. Na verdade é o Renato pré-adolescente até acontecer a Legião Urbana. Passa pelo problema na perna, Aborto Elétrico, ele sozinho, a Legião se formando e o primeiro show no Rio de Janeiro, aí tem eu. Então apareço muito rápido, ainda bem... (risos) Mas fiquei muito contente com o que li.

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