#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 30 de junho de 2011

[do além] ISSO AÍ, MEU IRMÃO



::txt::George Orwell::

Por uma coincidência incrível, dois programas de grande audiência da tevê brasileira tem relação com minha obra literária. Estou falando, obviamente, do Big Brother, inspirado no livro 1984 e do A Fazenda, que lembra muito meu outro livro, Revolução dos Bichos. Só que nesse segundo caso, o dono da fazenda é pastor e os porcos são representados por antas.

Quero dizer que não acredito que os programas de tevê precisem ter conteúdo edificante ou que tenham de colaborar com a formação cultural das plateias. Tevê, em especial, é feita pra divertir. Quer cultura? Então vai pra biblioteca e leia em silêncio, por favor. Gosto de Big Brother e tenho muito orgulho de ter escrito 1984, livro que inspirou e deu origem ao nome do programa. Adoro paredão e sou daqueles que gastam todos os créditos do pré-pago para participar das votações de eliminação.

E digo mais. O programa é até respeitoso com 1984. Vejamos isso nos pormenores. No livro, o Estado mantinha o controle do pensamento dos cidadãos através de vários meios, entre eles, a manipulação da língua. Para tanto, os especialistas do Ministério da Verdade criam a novilíngua, uma outra língua ainda em construção que, quando estivesse completa, impediria a expressão de qualquer opinião divergente do regime.

De certa forma isso acontece no BBB. Os participantes falam uma outra espécie de português que os impede de expressar qualquer coisa. Já reparou como uma das funções do Bial é traduzir os participantes?

Basicamente, em 1984, eu mostrava como uma sociedade oligárquica e coletivista é capaz de reprimir qualquer um que se opuser a ela. O personagem principal, Winston Smith, um homem com uma vida insignificante, só que sem um corpo esculpido na academia, recebe a tarefa de perpetuar a propaganda do regime.

No BBB também temos personagens com vidas insignificantes. A sociedade brasileira continua oligárquica. O coletivista fica por conta da audiência e das redes sociais. E cada participante é um divulgador do regime. Do capitalista e das baixas calorias.

Bom, um pouco de adaptação toda obra tem de sofrer quando muda de plataforma. Mas quer mais reverência a 1984 do que isso?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

[noé ae?!] FRANK JORGE

[agência pirata] MARCHAS CARETAS E MARCHAS MUITO LOUCAS



::txt::Arnaldo Jabor::

"A maconha marcha, gente boa... Até na Argentina, México e Colômbia está descriminalizada. Os tabus vão sendo quebrados. Aqui, as marchas foram liberadas pelo STF, numa decisão muito louca: pode marchar, mas não pode fumar. Por que será que a maconha provoca tanta inquietação? Evangélicos marcham contra, xingam FHC pelo filme Quebrando o Tabu, "mermão", qual é a deles? É tanto auê, tanta onda por causa de uma mixaria dessas que eu tenho de alugar vocês sobre essa "parada". É... já escrevi sobre esse lance aqui e repito: a maconha não é nada, ou quase nada. Não é uma droga que corrói o fígado como o álcool. Não mata como a cocaína, esse veneno de rato branco que você aspira, depois de malhada pelos afro-negões da favela; é erva natural, não tem o sangue jorrando atrás dela desde a Bolívia até os morros, nem precisa dos bujões de éter no meio da floresta. Não é como o ácido lisérgico que te faz ver uma grande gelatina na realidade, onde tudo se mexe como uma rumba azul. Por que, então, tanto medo?

Está provado que a birita, o cigarro careta fazem muito mais mal que uma frágil "diamba", um reles "bagulho", um baseadinho inocente... Aliás, declaram cientistas e doidões, a maconha faz até bem para o coração de muitos ansiosos; era comprada em qualquer farmácia nos anos 30 com o nome de Cigarros Indianos, lindos pacotinhos com uma índia de cocar colorido, cigarros que acalmavam a angústia das senhoras antigas, combatiam a depressão, as "flores brancas", as dismenorreias, as alvas enxaquecas, os desmaios histéricos, as dores desconhecidas, as insônias. A maconha, dizem os "manos", é o remédio melhor para o glaucoma e dizem que ela produz um relaxo legal nos músculos e uma tranquilidade que poucos calmantes te proporcionam. Muito médico acha que inúmeros remédios e panaceias poderiam advir do refino da mesma, para acalmar velhinhos em asilos, para tranquilizar agitados em suas camisas de força, ervinha que, uma vez fumada antes do ato sexual, provoca prazeres inauditos, podendo não só fazer com que ejaculadores precoces se segurem, quanto frígidas senhoras se soltem e uivem nos laços de um polvo invisível e voltejante, numa teia de loucos estertores entre gritos operísticos.

Isso dizem alguns, não eu, claro, que sou um pobre-diabo, nunca me aproximaria dessa erva do Demônio, dessa "maria juana" temível. Contam alguns que o prazer sexual aumenta muito, já que a noção de tempo também se alonga, ficando tudo em câmera lenta, coisa desagradável se você está num túnel ou num engarrafamento de trânsito, mas que é delicioso não nos dois braços, mas nos cinco braços, ou nas cinco asas brancas de uma mulher amada e que o amor vira uma grande dança num paraíso e que mesmo os lençóis brancos semelham ondas do mar, dependendo da qualidade do "back", que pode ser um "acapulco gold" ou mesmo um "da lata", (oh!!! As maravilhas que contam daquelas latas lançadas por um navio muito louco nas águas da Guanabara em 84 e que até hoje são lembradas por velhos chincheiros). Thomas de Quincey fumava, Baudelaire fumava, Rimbaud queimava altos haxixes em Aden... Em suma, gente boa, como eu dizia acima, dependendo da qualidade da "massa", "nêgo" podia ficar curtindo horas seguidas, ajudado pelo Hendrix, Stones... tudo muito louco.

Mas, a razão deste raciocínio - não posso me perder, "mermão" - é a seguinte transação: por que causa tanta raiva nos caretas? Todo mundo fala em "reacionário", de "esquerda", de "direita" e coisa e tal, e os caretas? Onde ficam? Muito da nossa desgraça política deve-se à caretice. Porque "careta" é o cara que vive com a cara torta, armando uma pose, fingindo que é democrata sem ser, fingindo que é honesto sendo ladrão. Os vícios se escondem atrás de uma "careta", daí a origem da expressão... ah, ah... tá ligado? Pega esses deputados e senadores aí, todos enforcados em gravatas e ternos escrotos e me respondam: por que temem tanto a "diamba", aquela turminha braba que depois da Câmara vai tudo encher a cara com uísque no Piantella, entre peruas, gargalhadas e conchavos, por que essa gangue tem tanto medo do fumo?

A resposta é simples, cara... Diferentemente da coca, da birita e outros bichos, a maconha libera o filho da mãe. O sujeito queima o fumo e dá um "relaxo". A vida fica mais democrática, gente boa; evola-se uma nuvem azulada nos céus, como uma espécie de inconsciente artificial, e o mundo fica diferente, as obsessões perdem a valia, as culpas, os superegos diminuem, e some a sensação de que a vida é uma grande Câmara dos Deputados, onde nunca há quorum para aprovar nossos desejos! Ah!... Ah!... boa comparação... E a vida fica mais bela que o bigode do Sarney ah ah... ou seja, a liberdade que ela provoca no sujeito é, digamos, "incopatível", como é que se diz mesmo? - im-com-pa-tível... ah... ah... essa palavra é muito louca, gente boa, a maconha é "incampatível" com a caretice necessária ao bom exercício da política. Me diz, me diz como um cara vai para a tribuna doidão para armar uma roubalheira? Como enfiar uma maracutaia numa MP com a cara cheia de um "paraguaio com mel", nem mesmo precisa um "skunk" , basta um "pernambuco light"...

Já imaginaram o Congresso muito louco? O Pedro Simon desbundando e indo morar em Trancoso, cheio de fitas no pescoço? O PC do B falando em "revolução interior"? Mas, que eu estava dizendo mesmo?... ah... lembrei... o seguinte: eu acho, numa "boa" mesmo, na "moral", que as autoridades têm medo da maconha porque ela dá uma ilusão de liberdade. Por isso, estão com tanto medo de comida de passarinho... ééé... ééé... Os canários cantam melhor com as sementes de "canabis"... E a sensação de liberdade é, como eu já disse, inco-incopa..."incopatível"...sei lá, deixa pra lá... E tem mais... o seguinte... quer dizer... esqueci... é isso aí, gente boa.... falei..."

terça-feira, 28 de junho de 2011

[agência pirata] ENTREVISTA COM CHINA MAN



::txt y ntrvst::Paulo Marcondes::

China Man, ou China Ina, ou como preferir, vive aos 31 anos de idade um dia lindo de morrer. Depois de despontar para o cenário nacional com o som visceral do Sheik Tosado (1996 – 2001), o pernambucano tomou a rota das atuais gerações e rumou para São Paulo resguardado pelos ótimos trabalhos solo e a desenvoltura de sobra segurando o mic do Del Rey – combo de China + Mombojó que faz o Rei Roberto Carlos rejuvenescer décadas e falar de igual com os mais novos.

Após gravar Simulacro, há quatro anos, China se aperfeiçoou na produção musical e lançou, junto de Chiquinho (Mombojó) e Homero Basílio (Orquestra Sinfônica do Recife), o selo Joínha Records. Enquanto o terceiro disco solo da carreira esquenta mais e mais no forno – China promete que no mês que vem servirá a mesa com o esperado Moto Contínuo -, o cabra se transformou num dos novos rostos da nova Mtv, com o programa sobre música nacional da casa: Mtv Na Brasa (de seg. a sex., às 20h30).

Em meio a atribulada agenda do cantor/produtor/apresentador, conseguimos uma palavrinha do cara sobre o momento na Mtv, o novo álbum e até uma monossilábica solução para os problemas do rubronegro da Ilha do Retiro. Confira abaixo.

Cara, como você foi parar na Mtv? Você sente que ficou conhecido por um público diferente?

Eu recebi um convite pra fazer um teste há uns dois anos atrás. Até então, achei que não tinha dado em nada, mas aí me convidaram pra gravar um piloto de um programa bem parecido com o Na Brasa… gravei e a galera da Mtv curtiu. Daí perguntaram se eu tava afim de ser VJ, e assim rolou. E percebo que muita gente não conhecia a minha carreira musical, mas como eu tô na tv direto agora, essas pessoas estão procurando mais informações sobre mim e aí acabam encontrando a minha música, e eu tô adorando isso.

Como é essa sua nova rotina de apresentador de tv e de que maneira você avalia a reformulada que a Mtv deu na programação e na linguagem?

Cara, agora eu tenho horários a cumprir, chego na tv todo dia, gravo o Na Brasa, discuto as pautas… mas é bem tranquilo. Adoro a Mtv, acho massa trabalhar lá o dia inteiro falando de música, que é o que eu mais gosto na vida, e ainda receber salário por isso? Acho lindo.

Acho que a Mtv precisava dessa mudança. Ao longo dos anos o canal perdeu o foco da música e deixou de apresentar ao Brasil muita gente boa. Agora as coisas são diferentes… a música volta ao seu primeiro plano, e sinto que a Mtv recuperou o prestígio que tinha, de ser um canal que aponta as novas tendências musicais. Fico muito honrado de estar fazendo parte disso.


Capa do single Só Serve Pra Dançar, nova canção de China

Cara, o que falta para seu disco novo sair e no que ele vai diferir do Simulacro (2007) e do Um Só (2004) – que foram elogiados pra caramba?

Meu disco novo vai sair em julho. Agora, o que vai ser diferente dos outros? Bom, acho que o fato de eu mesmo ter produzido esse disco já diz muita coisa. Os outros trabalhos tinham produtores junto, dando pitacos e me ajudando no melhor caminho para cada música. O Moto Contínuo [nome do novo disco de China] sou eu de cabo a rabo. Lógico que tenho vários amigos que me ajudaram um monte – e todos acabaram sugerindo várias coisas – mas curti produzir esse disco. Uma certeza eu tenho: o Moto Contínuo sou eu desde a composição até a gravação dos instrumentos. Isso para mim é diferente, e acho que essa é a grande diferença para os outros discos. Sobre as composições, vou esperar as pessoas dizerem o que acham. Não posso dizer que esse disco é melhor do que os outros… para mim, todos os meus trabalhos são legais. Afinal de contas, são todos crias minhas.

Por que nomes como Ortinho, Cérebro Eletrônico, Tulipa Ruiz e você mesmo, por exemplo, demoraram a estourar? Aliás, dá para dizer que alguém “estourou” na música independente ou só ficou mais conhecido dentro da cena?

Esse lance de estourar é relativo. Eu prefiro uma carreira estável do que fazer sucesso durante seis anos e depois sumir (isso é o que acontece com todas essas bandas pseudo estouradas). O ibope não me preocupa e nem vou pagar para tocar em rádio. Prefiro fazer meus shows do jeito que são, pois cada vez que eu toco, aparece mais um pouco de gente e assim vai. Hoje em dia eu sou bem mais conhecido do que quando comecei… o processo é esse… o processo é lento.

E não acho que a cena independente esteja sedenta para estourar alguém… até porque são outras pessoas que dizem se você tá estourado ou não. Pra mim, o Cérebro e Tulipa estão estourados na minha casa. Ouço direto o som deles e mostro pra todos os meus amigos. (risos)

Como surgiu a ideia do vídeoclipe do Só Serve Pra Dançar?

Eu adoro o Youtube, vejo de tudo lá, e um dia me peguei assistindo garotas dançando em casa uma música de Justin Bieber. Daí eu pensei, será que algumas garotas dançariam uma música minha? Fiz o convite no Twitter e recebi 50 vídeos… achei incrível, nem acreditei. E daí nasceu o clipe.

assista aqui ou abaixo o novo clip de China



Ultimamente eu tenho ouvido muito uma banda instrumental de Recife, o Joseph Tourton, que tá começando a fazer shows pelo sul/sudeste. O que agrada seus ouvidos e que ainda não ganhou o destaque merecido?

Puta, man… gosto de tanta coisa. Eu vi uma banda na Bahia chamada Suinga, e pirei no som deles, lembra Moraes Moreira depois que saiu dos Novos Baianos. Também me amarro no som de Jr. Black, Catarina Dee Jah, tô sempre procurando coisas novas. Vi um vídeo no Youtube de uma banda que toca dentro de uma kombi… acho que chama Test a parada…. fodão. Agora que tenho um programa de música brasileira, tento escutar tudo sem o menor preconceito e estou descobrindo muita coisa bacana. Dá gosto de ver essa cena brasileira.

Pra terminar, o que falta pro glorioso Sport Recife voltar a primeirona?

O Sport é um time de primeira… só esqueceu disso! (risos)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

[agência pirata] O SÃO JOÃO E O FISCAL DE SALIÊNCIAS



::txt::Xico Sá::

Reparo aqui no São João do Nordeste que está mesmo em extinção um dos ofícios mais difíceis. Você, muito jovem ou de outra geografia, há de dizer que o cronista bebeu demais na festa e agora delira. Não procede.

Caminha mesmo para o extermínio a função de fiscal de saliências de forró, mais conhecido como -desculpe aí pelo palavrório, mas é o nome verdadeiro- fiscal de pica. Um clássico dos salões de pé-de-serra.

O destemido sujeito ficava ali na tocaia, com uma varinha de marmeleiro na mão, pronto para flagrar e advertir os cabras safados que dançavam na paudurescência, digo, em riste, sexualmente alterados.

Isso é forró de família, seu peste, mantenha o respeito. Com um toque da varinha no tarado, o fiscal advertia cordialmente. A reincidência era punida com a expulsão da farra.

O Trio Nordestino, um dos melhores conjuntos de forró da história, fez até uma música sobre este nobre profissional: “O senhor tá dançando armado, eu vou falar pro delegado”.

E assim a modernidade, para o bem ou para o mal, vai ceifando muitos ofícios das antigas, como o rapaz da varinha moralista.

“Acabou a vergonha do mundo, meu filho”, comenta minha santa madre, dona Maria do Socorro, aqui no Cariri cearense.

O menino de recado, por exemplo, também foi para o espaço, substituído pela telefonia móvel.

E o jegue, amigo, não tem mais emprego depois da febre das motos. Graças a Deus, porque os nossos irmãozinhos eram muito maltratados pelos donos mais toscos.

Em compensação, meu caro, temos uma profissão novinha da silva, historicamente muito recente. Soube da sua existência pelo amigo Otto, sim, o viking do Agreste, o artista galego de Belo Jardim (PE).

Trata-se da cigana de rodoviária, uma profissa e tanto.

O ramo é simples. A cigana chega para um viajante, o coitado ainda cheio das confusões de São Paulo na cabeça, e desanda a acertar tudo sobre as suas desilusões recentes, suas contrariedades do juízo, as dívidas, seus amores deixados na poeira da estrada.

Otto descobriu porque tentaram lhe fazer de besta, em Aracaju, numa viagem ainda com a banda Mundo Livre S/A, anos 90.

O viajante se espanta, inclusive porque a madame vai na mosca e repete frases inteiras que ele acabara de dizer ao telefone da rodoviária.

E você sabe, amigo, o cabra lascado se ilude com o vento. A nova profissa mística então aproveita. Tira um bom troco do abestalhado passageiro. Se tiver amor no meio, danou-se, ela leva todas as economias do pobre freguês.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

[cc] O FUTURO DA INTERNET NÃO ESTÁ AQUI



::txt::Laurence Lessig::

Imagine um alcoólatra. Não aquele que não para em pé de tão bêbado ou que frequente os Alcoólicos Anônimos. É só o alcoólatra comum, que luta para controlar o vício. Mas ele tem, além do álcool, outro vício. Não se trata de um vício debilitante. E ele não é um ex-viciado em drogas. Ele apenas tem, também, um outro vício que continua a puxá-lo em outra direção, afastando-o do que ele quer fazer. Uma pessoa com dois vícios, que a puxam em direções diferentes, tornando-a vulnerável, suscetível às tentações de ambos. Para ela, resta aprender a regular esses vícios e ser capaz de mantê-los sob controle.

Sugiro essa imagem porque acredito que ela é uma representação bastante fiel dos governos democráticos modernos. Eles têm dois vícios distintos. São constantemente puxados pela loucura, uma loucura parcial, que emerge quando as pessoas o pressionam a fazer aquilo que não é do interesse público. Pense no peronismo ou no populismo que inflou bolhas nos bancos e no mercado imobiliário dos EUA. Por outro lado, há o vício nos interesses especiais — vamos chamá-los de titulares — que submetem constantemente o governo à tentação de fazer alguma insensatez nas políticas públicas com o objetivo velado de beneficiar esses titulares. E, ao menos nos EUA, esse vício afetou o debate de praticamente todos os grandes temas da administração pública. Diante destas forças submetendo o Estado a uma constante tentação, o governo vê-se numa posição sempre vulnerável.

Inovação. Pois bem, a internet é uma plataforma, uma arquitetura que acarreta consequências, que possibilita a inovação. Pensemos em alguns exemplos da história da inovação na internet: o Netscape foi criado por um desistente da faculdade; o Hotmail, por um imigrante indiano e vendido à Microsoft por US$ 400 milhões; o ICQ, por um garoto israelense cujo pai tentou vender o programa à AOL por US$ 400 milhões; o Google, por dois jovens que pularam fora de Stanford; o Napster, por um desistente e por alguém que nem teve a oportunidade de se tornar um desistente da faculdade, e que está presente aqui hoje; o YouTube, por dois alunos de Stanford; o Kazaa e o Skype, por jovens da Dinamarca e da Suécia; e, finalmente, Facebook e Twitter, inventados por jovens.

O que elas têm em comum? Todas foram criadas por jovens, que largaram os estudos ou não são norte-americanos. Foi para eles que a nova arquitetura abriu as portas. Tratou-se de um convite à inovação vinda de fora. Ora, a inovação vinda de fora é uma ameaça aos titulares.

O Skype ameaça empresas de telefonia; o YouTube, emissoras de TV; o Netflix, operadoras de TV a cabo; o Twitter ameaça à sanidade, mas a sanidade nunca teve titular. E então os ameaçados respondem à ameaça. E sua tática é apelar ao viciado – o governo democrático moderno — e chantageá-lo com sua droga preferida. No caso dos EUA, a oferta ilimitada de recursos para financiar campanhas políticas. A droga garante aos titulares proteção contra as ameaças.

Acredito que foi essa a questão levantada pelo jornalista e ativista Jeff Jarvis ao sugerir que os governos se limitassem a “não causar males” à internet.
Não atrapalhem. O presidente Sarkozy ouviu a sugestão, não a aceitou, mas reconheceu que há neste debate questões importantes de medidas públicas. Mas aí é que está. Já percebemos que há “questões importantes de medidas públicas” em debate. O problema é que não confiamos nas respostas que o governo dá. E temos boas razões para isso, afinal, a resposta dada pelo governo democrático moderno é aquela que por acaso beneficia os titulares. A resposta que poderia encorajar ainda mais a inovação é ignorada.

Pensemos nos direitos autorais: é claro que precisamos de um sistema de direitos autorais que garanta aos criadores a compensação por seu trabalho e também a independência de sua criatividade. A questão não é se os direitos autorais devem ser protegidos ou não. A pergunta é como proteger os direitos autorais na era digital. A arquitetura dos direitos autorais, criada para o século 19, faz sentido no século 21? Como seria uma arquitetura que faria sentido hoje? Será que é esta a pergunta que o governo se faz?

Acho que a resposta é “não”. Em vez disso, a proposta dos governos democráticos modernos de todo o mundo, e em especial da França, pode ser definida pela lógica irracional do limite das três infrações, que por acaso beneficia os titulares.

O potencial inovador que poderia surgir de uma nova arquitetura de proteção aos direitos autorais está sendo ignorado. Não sou só eu que digo isto. O recente relatório Hargreaves, elaborado pelo governo conservador britânico, diz: “Será possível que leis criadas há mais de três séculos com o objetivo claro de proporcionar incentivos econômicos para a inovação por meio da proteção aos direitos dos criadores estariam hoje obstruindo a inovação e o crescimento econômico?” Sim.
O relatório segue: “No caso das políticas para os direitos autorais, não resta dúvida que o poder de persuasão de celebridades e importantes empresas britânicas associadas à criatividade distorceu o resultado das políticas elaboradas.” E isso não ocorre só na Grã-Bretanha.

Pensemos nas políticas para a banda larga. A Europa foi bastante bem sucedida na promoção da concorrência no ramo do acesso de banda larga, e isto impulsionou o crescimento desse mercado. Neste aspecto, os EUA foram um grande fracasso. O país, antes no topo do ranking de difusão do acesso via banda larga, ocupa agora uma posição que varia de 18ª a 28ª, dependendo dos critérios adotados. Essa mudança foi o resultado de políticas que prejudicaram a concorrência entre provedores de banda larga.

A resposta dos provedores de banda larga, trazidas por eles ao governo, fez que as leis os beneficiassem, destruindo os incentivos para que concorressem entre si de uma forma que estimulasse a difusão do acesso de banda larga.

O mínimo. Diante de exemplos como estes, é perfeitamente justo manifestar amplo ceticismo em relação às respostas oferecidas pelos governos democráticos modernos. Devemos alertá-los para que tomem cuidado com as soluções políticas apresentadas pelos titulares. Afinal, o trabalho dos titulares não é o mesmo que o trabalho do governante.

O trabalho deles, titulares, é buscar o lucro individual. O trabalho do governante é garantir o bem público. E é justo que afirmemos o seguinte: enquanto esse vício não for solucionado, devemos insistir no minimalismo em tudo aquilo que o governo fizer. O minimalismo a que Jarvis se referia quando falou em “não causar males”.

Uma internet que adote os princípios do acesso livre e gratuito, uma rede neutra, para proteger o ‘outsider’, o forasteiro. O futuro da internet não está aqui. Não é o Google nem o Facebook. Ele não foi convidado e nem sabe como ser, pois ainda não conhece em fóruns como este. O mínimo que podemos fazer é preservar a arquitetura dessa rede que protege este futuro que não está aqui.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

[cc] COPY ME E REMIX ME

TORRES, Aracele Lima. Copy me e Remix me: o movimento de contestação do copyright no contexto da cibercultura

quarta-feira, 22 de junho de 2011

[noé ae?!] FESTIVAL INTERGALÁCTICO DA BICICLETA

[agência pirata] SEM BANDEIRA



::txt::Paulo Anis Lima::
::pht::creative commons::

Engraçado ver o efeito do tempo. Implacável e transformador quase sempre. Impotente diante de algumas coisas. O ano era 2001, mês de setembro... Bin Laden estava bem vivo. Tinha acabado de explodir as torres em Nova York. Fernando Henrique Cardoso era o presidente por aqui e parecia mais preocupado com o iminente fim de seu segundo mandato do que com questões "menores" e "complicadas do ponto de vista eleitoral" como as políticas nacionais sobre drogas e a maconha. Por seu turno, poucos meses antes, uma das mais respeitadas revistas do mundo, a The Economist, dava capa ao tema, defendendo expressamente a urgência da revisão e da liberação de todas as drogas, diante do absoluto fracasso das outras opções, em especial da política internacional de repressão a usuários e traficantes. Uma revista menos famosa fazia sua parte do lado de cá do equador. Falamos desta mesma Trip, que então ainda adolescente, com seus 15 anos recém-completados, dedicava 16 páginas a um caderno completo contendo trabalho extenso e deliciosamente pretensioso sobre um assunto que parecia merecer o carimbo de "urgente urgentíssimo": a revisão da legislação brasileira sobre drogas e a descriminação da maconha, posicionando-se com toda a clareza a favor das duas coisas.

Dez anos depois o país é outro, deu vigorosos passos na direção do desenvolvimento, tornou-se infinitamente mais respeitado de acordo com dezenas de quesitos e indicadores, afirmou-se como uma nação mais madura e capaz, ganhou respeito dentro e fora de suas fronteiras e musculatura mais robusta. Mas paradoxalmente, com relação às drogas e à maconha em especial, continua mergulhado numa nuvem estupefaciente de hipocrisia da pura. E, assim, aqui estamos novamente, dedicando não mais um caderno especial, mas uma edição inteira ao mesmíssimo tema. Bin Laden morreu, alguns dos personagens das nossas enquetes e reportagens de então também.

Outros aparentemente ficaram mais vivos, como parece ser o caso de FHC, que, antes tarde do que nunca, foi à luta para tirar o atraso e usar sua reputação e sua notável rede de relacionamentos na tentativa de oferecer elementos para que o país que governou por oito anos possa finalmente ganhar consciência mais equilibrada e clara sobre o problema, através do fundamental debate de que foi privado durante seu mandato.

E é essa exatamente a nossa intenção. Contribuir para que a reflexão inteligente e equilibrada frutifique e para que a planta que segundo fontes confiáveis responde tristemente por 80% do negócio do tráfico no mundo e que é utilizada por milhões de pessoas no Brasil e em boa parte da Terra seja regulamentada a partir de critérios amplos e aprofundados. Não apenas abordando os aspectos jurídicos da despenalização e da descriminação, mas indo além, planejando e legislando de forma madura e contemporânea sobre todos os pontos relativos a cultivo, uso e acesso, lançando mão do bom-senso, única arma capaz de afastar da sociedade o cinismo, a corrupção, a violência e as outras apresentações e formas da ignorância.

Ouvimos, novamente, representantes de todos os lados e vertentes da sociedade sobre o assunto, para concluir o que nosso colunista Ricardo Guimarães já bradava nestas mesmas páginas em setembro de 2001: a bandeira não é a da maconha, mas a da consciência, algo cada vez mais necessário para que todo esse poder colocado em nossas mãos, seja do dinheiro, da tecnologia, da força política, da energia nuclear ou das drogas, não destrua nossas cabeças, nossas relações e nosso planeta.


PS.: Se você não se lembra dos detalhes deste nobilíssimo caderno lançado pela Trip em 2001, graças às tecnologias que ainda eram embriões àquela altura, basta clicar aqui para reler o trabalho executado brilhantemente por uma equipe que, não por acaso, está hoje dstribuindo seu talento no comando de vários e importantes veículos de comunicação pelo país. Giuliano Cedroni, Ivan Marsiglia, Ronaldo Bressane, Jorge Colombo, Phydia de Athayde, André Viana, Fernando Costa Netto, Erica Gonsales, Moacyr Vieira Martins, Endrigo Chiri, Elisa Biagi e outras figuras igualmente competentes.

terça-feira, 21 de junho de 2011

[cc] PARTIDOS, JUVENTUDE E OS MOVIMENTOS SOCIAIS DA INTERNET



::txt::Marcelo Branco::

Os jovens nativos digitais da sociedade em rede têm orgulho de ser brasileir@s, acreditam que o Brasil é o país do presente e concordam que têm um papel de transformar a sociedade. Se conectam mais com discursos coletivos do que individualistas e querem menos consumismo. Apenas 5% tem como objetivo ficar rico e sabem que podem trabalhar por uma causa coletiva e buscar seus sonhos pessoais ao mesmo tempo. Estes mesmos jovens, cada vez mais, vêem a Internet como ferramenta de mobilização e engajamento político e menos os partidos. [1]

Quantos jovens não votaram no Chile, na Espanha? Não achem que estes jovens não acreditam na democracia. Eles não crêem na democracia que oferecem a eles (…).” Eduardo Galeano na Praça Catalunya [2]

Quando eu divulguei esta pesquisa na rede, surgiram muitos questionamentos e diálogos vindos, principalmente, de militantes partidários: isso é positivo ou negativo? Acho isso tremendamente positivo e tentarei sucintamente colocar a minha opinião, já tuitada de forma pulverizada. Acontece que os jovens estão exigindo muito mais participação e democracia do que os partidos políticos e a democracia representativa os oferecem. Eles querem mais participação. Estão errados?

Os partidos e os sindicatos são organizações construídas com base na revolução tecnológica industrial. Foram, por longos anos, a única e a melhor forma de catalizar de forma coletiva os pensamentos e ideologias para uma ação política efetiva. Sozinho, ninguém chega a lugar algum, e isso continua valendo. Estas organizações mediam e intermediam a relação entre os diversos interesses individuais e coletivos, através do “programa”, e representam estes interesses junto à sociedade.

Os movimentos sociais em rede, pós-internet, são formados por indivíduos conectados em rede, que manifestam suas opiniões e movem suas ações na perspectiva do engajamento coletivo, sem a intermediação de qualquer organização. Aliás, a Internet veio para questionar o papel de todas as organizações intermediárias. A indústria fonográfica que o diga.

Acredito que as formas de organizações da era industrial e as organizações de indivíduos conectados em rede, típicas da sociedade em rede, conviverão. Uma não substitui a outra.

Mas é #fato que nos últimos anos, em todo mundo, os partidos políticos e os sindicatos têm tido menos capacidade de mobilização coletiva do que os movimentos sociais em rede. E isso não é somente porque os programas dessas organizações estão defasados ou que não contemplam os interesses dos coletivos. Atualizar os programas dos partidos é importante, mas não será o suficiente para engajar a geração atual na forma de organização hierárquica dos partidos. Estes jovens estão, cada vez mais, experimentando novas formas para organizar suas ações políticas coletivas, utilizando a plataforma da Internet como base. E isso tem dado resultado.

Há quase 12 anos, na manifestação chamada de N30, mais conhecida como a “batalha de Seattle” [3], através da Direct Action Network (ação direta em rede) possivelmente tenhamos inaugurado a era das mobilizaçoẽs 2.0.

Desde Seattle, passando pelas mobilizações do Fórum Social Mundial aqui em Porto Alegre, nas marchas contra as guerras do Bush-pai, nas manifestações anti-globalização neoliberal, com destaque para Gênova e Barcelona, até as recentes revoltas árabes e agora a #globalrevolution partindo da Espanha para toda Europa [4], comprovam a força das redes da internet para organização de grandes ações coletivas.

Não acredito que os partidos ou sindicatos estão descartados como forma de organização política. Acontece que agora existem NOVAS formas de organização política. As novas formas de organização social (indivíduos conectados em rede) e as velhas (partidos e sindicatos) vão conviver, mas como organizações distintas.

As velhas organizações não podem ter a pretensão de englobar ou cooptar as novas. Terão que conviver, lado a lado, mas cada uma com a sua dinâmica própria. As dinâmicas das redes são distintas das dinâmicas partidárias. Não há como enquadrar as dinâmicas em rede nas hierarquias partidárias. Nem é possível que um partido funcione com as dinâmicas horizontais e sem hierarquias como nas redes.

O sucesso das organizações da era industrial (partidos e sindicatos) foi justamente o de organizar as pautas e as lutas de forma hierárquica e aprovadas por maioria. Nas dinâmicas em redes, raramente há votações para hierarquizar as ações. Funciona por adesão voluntária. A proposta com maior adesão avança na prática e mobiliza. Assim tem sido as experiências da última década.

No entanto, as dinâmicas dos movimentos em rede ainda tem sido incapazes de estabelecer uma nova ordem. Pelo menos por enquanto. Os partidos sim, estabelecem uma nova ordem, assumem o poder e governam. Creio que no futuro teremos experiências de uma nova ordem a partir de dinâmicas sociais em rede. Vivemos uma transição da era industrial para a era das sociedades em redes. As velhas formas e as novas conviverão, mas são distintas formas de organizações. Aliadas? Antagônicas? Complementares?

O certo é que existe, neste momento, uma tendência e um potencial global democratizante, que questiona os limites da democracia representativa e que aponta para uma nova democracia participativa, tendo a internet como plataforma de mobilização e viabilização desta nova relação direta dos cidadãos com a democracia.

Acredito que a recente pesquisa, “o sonho brasileiro”, realizada entre jovens de 18 a 24 anos e que ouviu mais de três mil pessoas de 173 cidades do país, aponta dados extremamente positivos na perspectiva de transformação social.

Fontes:

[1]- Pesquisa “O sonho brasileiro”. Box1824 (agência especializada em mapear tendências de comportamento), e Instituto Datafolha.

- Quase 90% dos jovens têm orgulho de ser brasileiros, revela pesquisa
Geração “sonhadora” quer “oportunidade para todos” e menos consumismo
By Marina Novaes, do R7

- Jovens sonham e acreditam no Brasil By Ricardo Kotscho, do R7

- Pesquisa mostra que enquanto 59% dos jovens não têm preferência partidária, 71% consideram a internet uma ferramenta política By Naira Alves IG

[2] – Eduardo Galeano no acampamento de Barcelona

[3]- Seattle: uma década de ativismo 2.0 By #comunidadedigital das turmas e ex-alunos de comunicação digital da ESPM-RJ Turma 7A – 2009.2

[4]-Da #democraciarealya à #WorldRevolution By Marcelo Branco

segunda-feira, 20 de junho de 2011

[noé ae?!] MV BILL

[cc] A NOVA ERA DA DISCOTECAGEM

::txt::Meio Desligado::

Há uma cena no filme A Festa Nunca Termina, sobre a cena musical de Manchester nos anos 80, em que o protagonista nos pede para prestar atenção no que acontecia na boate naquele momento: o DJ estava em destaque, era a grande atração da festa. Ali, ele diz, estava sendo marcado o início da cultura clubber (ou algo do tipo). Ao usar o Turntable.fm fico imaginando se não estaria presenciando algo semelhante, uma espécie de discotecagem específica para ambientes digitais.

Responsável por um dos maiores burburinhos no Vale do Silício nos últimos dias, o Turntable.fm é uma mistura de aplicativo, sala de bate-papo e rede social para discotecagens coletivas. O usuário pode escolher por entrar em alguma das salas já existentes (a maior parte dividida por gêneros musicais, temas ou de acordo com o local em que seus "DJs" estão, como uma determinada empresa, por exemplo) ou criar a sua própria. Em cada sala até cinco DJs escolhem e tocam as músicas alternadamente e eles, assim como os ouvintes, podem votar se gostaram ou não da música tocada por cada DJ da sala. Votos positivos representam pontos para o DJ e de acordo com a porcentagem de votos negativos a música pode ser interrompida, cedendo o controle para outro DJ. Uma curiosidade é que a sala Coding soundtrack (sempre com muitos usuários/ouvintes) reúne vários programadores do Vale do Silício e até mesmo Marck Zuckerberg, criador do Facebook, dá as caras por lá.

Atualmente o serviço está em fase de testes e você consegue usá-lo somente se algum dos seus amigos no Facebook já for usuário, o que apenas reforça a expectativa ao seu redor e estimula certa valorização de seus usuários. As músicas tocadas podem ser selecionadas diretamente do banco de dados do Turntable ou você pode fazer o upload de um arquivo.



Mesmo com pouco tempo de existência e ainda consertando alguns erros, dá para perceber rapidamente o potencial do Turntable. O visual das salas simula o de um espaço de festas e os DJs ficam posicionados em uma mesa, com os avatares dos ouvintes em frente. Cada vez que alguém "curte" uma música, seu avatar começa a dançar. Novos avatares tornam-se disponíveis à medida que o usuário ganha mais pontos. Ou seja, além de tudo, há uma característica de game que vicia ainda mais o usuário e o estimula a usar a criação de trilhas sonoras como forma de se diferenciar dentro da rede.

Outro ponto positivo é que as salas funcionam, literalmente, como as antigas salas de bate-papo, abrindo caminho para conversas sobre música e interação entre os participantes. Caso você goste muito de um DJ, pode tornar-se fã dele e receber um aviso todas as vezes que ele começar a tocar no Turntable novamente.

Tornar público seu gosto musical não é nenhuma novidade, vide serviços como Last.fm e Grooveshark. Transformar a escolha de músicas em um game social sim, é uma novidade, próxima apenas do que o Blip.fm tentou. A grande diferença é que o Blip.fm se baseia na experiência individual, você é o DJ, você determina toda a trilha sonora. No Turntable, a construção é coletiva. Usar o Blip.fm é como ouvir música alta em casa: as pessoas sabem o que você está ouvindo mas não têm a opção de participar. O Turntable é como fazer uma festa e permitir que os convidados definam o que vai ser tocado e quem deve continuar escolhendo as próximas músicas.

O Turntable já recebeu cerca de $2 milhões em investimentos e virou febre entre funcionários de empresas como Twitter, Facebook, Foursquare e Youtube, para as quais existem salas específicas, evidenciando um grande problema para os patrões: o Turntable é um grande indutor à redução da produtividade nos escritórios, uma vez que é fácil de usar e viciante. Resta saber se a eterna briga entre serviços de streaming e as gravadoras não vai impedir uma pequena revolução em nossos hábitos...

domingo, 19 de junho de 2011

[copyleft] BELO MONTE: NO LIMITE DA IRRESPONSABILIDADE

::txt::Julianna Malerba::

Se a necessidade manifesta é de gerar energia, deve ser estabelecido um debate sobre qual o tipo de energia e quais as formas social e ambientalmente seguras de obtê-la

Essa foi a frase com a qual o Ministério Público Federal (MPF) caracterizou a decisão do IBAMA de conceder a Licença de Instalação à Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Ajuizada no último dia 6, a ação do MPF pede a suspensão da licença para o início das obras em função do descumprimento das condições prévias exigidas pelo próprio IBAMA para preparar a região para os impactos.

Para conceder a licença – a despeito de seu próprio parecer técnico que constatou inúmeras irregularidades no cumprimento das condicionantes – o IBAMA criou conceitos inexistentes na lei, como condicionantes “em cumprimento” ou “parcialmente atendidas”. Foi o caso, por exemplo, das obras de saneamento nas regiões onde ficarão os canteiros da obra que deveriam estar prontas para a concessão da Licença, mas que sequer foram iniciadas. Ao invés de considerar que a condicionante não havia sido atendida, a mera apresentação de um projeto para concluí-la em março de 2012 fez com que a mesma fosse considerada como condicionante “em cumprimento”.

Outra condicionante fundamental, como a implantação prévia de saneamento para controle da água em Altamira (PA), foi considerada como “parcialmente atendida”, uma vez que sua conclusão está prevista para 2014. Até lá, haverá contaminação e eutrofização (leia-se apodrecimento) das águas dos igarapés que banham a cidade.

Decisões, no mínimo, irresponsáveis, como atesta o MPF, têm se tornado a tônica das ações de fiscalização e controle ambiental nos últimos anos. Desde a criação de conceitos elásticos para permitir a instalação das usinas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, a flexibilização das normas de licenciamento ambiental tem sido a resposta encontrada pelo governo para garantir a execução dos projetos que considera prioritários, a revelia de sua aceitação pela sociedade. E, pior, fechando os olhos para os impactos socioambientais que atingirão milhares de moradores da região, centenas dos quais necessitam diretamente dos recursos naturais dos territórios que serão modificados radicalmente com a obra.

A ideia de que “quinze ou vinte milhões de pessoas não podem impedir o progresso de 185 milhões de brasileiros”, conforme afirmou em 2009 um dos diretores da Eletrobrás, justifica a flexibilização da normativa ambiental. Além de ganhar a aceitação social na medida em que evoca um discurso recorrente nos meios empresariais e em alguns setores do governo de que o licenciamento prejudica o desenvolvimento do país.

Além de alimentar uma velha percepção já popularizada de que ações de proteção ambiental impedem a geração de empregos e crescimento econômico, essa ideia implica a perigosa aceitação por parte da sociedade de que o acesso aos direitos de alguns grupos pode ser flexibilizado em detrimento do suposto benefício do conjunto da sociedade.

O resultado tende a ser o esgarçamento dos laços que unem a sociedade brasileira e a perda das bases sociais e ambientais que garantem a manutenção dos meios de vida, trabalho e reprodução social de inúmeros cidadãos que vivem em regiões distantes dos centros de poder.

Um processo de licenciamento sério deveria dar visibilidade à perspectiva dos grupos diretamente afetados e promover uma discussão com a sociedade focada no produto – a energia, no caso de Belo Monte – antes de reafirmar a necessidade da obra. Se a necessidade manifesta é de gerar energia, deve ser estabelecido um debate sobre qual o tipo de energia e quais as formas social e ambientalmente seguras de obtê-la, garantida a participação dos potencialmente atingidos tanto na definição da necessidade do empreendimento quanto na concepção de alternativas técnicas.

A entrada, em abril, da Vale, maior consumidora de energia elétrica do país, no consórcio, responsável pela construção de Belo Monte, demonstra que o destino da energia gerada não será dado prioritariamente ao atendimento da demanda residencial como poderia fazer crer o argumento do diretor da Eletrobrás.

A expansão de setores intensivos no uso de energia – como as atividades mineradoras – na Amazônia, aliada ao ainda pouco explorado potencial hidrelétrico da região têm feito com que a construção de usinas de grande porte sejam priorizadas pelo governo e executadas a revelia dos critérios e normas de proteção social e ambiental estabelecidos pelo próprio Estado.

Sete dias após a concessão da Licença de Instalação de Belo Monte, o IBAMA admitiu que está elaborando uma proposta de redução de sete unidades de conservação no vale dos rios Tapajós e Jamanxim, no Pará, uma das áreas mais preservadas e mais biodiversas da floresta amazônica, para permitir a construção de outras seis hidrelétricas.

A fim de evitar o constrangimento de não cumprir com suas próprias exigências, como em Belo Monte, o IBAMA se apressa em alterar os instrumentos de proteção que garantem o cumprimento de sua missão. A irresponsabilidade parece já não conhecer limites.

*Julianna Malerba é mestre em Planejamento Urbano e Regional e coordenadora do Núcleo Justiça Ambiental e Direitos, da FASE. É também membro da Rede Brasileira de Justiça Ambiental.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

[noé ae?!] DÃO E A CARAVANA BLACK

[domínio público] VOCÊS NÃO PASSAM DE IDIOTAS



::txt::Zo d'Axa::

Vocês estão sendo enganados! Foi dito que a Câmara dos deputados, composta por imbecis e ladrões, não representa a maioria dos votantes. Isso é Mentira! Pelo contrário, uma Câmara formada por deputados que são idiotas e ladrões representa perfeitamente os eleitores que vocês são. Não protestem; uma nação têm os líderes que merece!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

[noé ae?!] FAMÍLIA SARARÁ

[agência pirata] A GUERRA CONTRA AS DROGAS



::txt::Fernando Henrique Cardoso::

A guerra contra as drogas é uma guerra perdida e 2011 é o momento para afastar-se da abordagem punitiva e buscar um novo conjunto de políticas baseado na saúde pública, direitos humanos e bom senso. Essas foram as principais conclusões da Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia que organizei, ao lado dos ex-presidentes Ernesto Zedillo, do México, e César Gaviria, da Colômbia.

Envolvemos-nos no assunto por um motivo persuasivo: a violência e a corrupção associadas ao tráfico de drogas representam uma grande ameaça à democracia em nossa região. Esse senso de urgência nos levou a avaliar as atuais políticas e a procurar alternativas viáveis. A abordagem proibicionista, baseada na repressão da produção e criminalização do consumo, claramente, fracassou.

Após 30 anos de esforços maciços, tudo o que o proibicionismo alcançou foi transferir as áreas de cultivo e os cartéis de drogas de um país a outro (conhecido como efeito balão). A América Latina continua sendo a maior exportadora de cocaína e maconha. Milhares de jovens continuam a perder as vidas em guerras de gangues. Os barões das drogas dominam comunidades inteiras por meio do medo.

Concluímos nosso informe com a defesa de uma mudança de paradigma. O comércio ilícito de drogas continuará enquanto houver demanda por drogas. Em vez de aferrar-se a políticas fracassadas que não reduzem a lucratividade do comércio - e, portanto, seu poder - precisamos redirecionar nossos esforços à redução do consumo e contra o dano causado pelas drogas às pessoas e sociedade.

Ao longo da história, sempre existiu algum tipo de consumo de droga nas mais diversas culturas. Hoje, o uso de droga existe por toda a sociedade. Pessoas de todos os tipos usam drogas por motivos de todos os tipos: para aliviar dores ou experimentar prazer, para escapar da realidade ou para incrementar a percepção dela.

A abordagem recomendada no informe da comissão, no entanto, não significa complacência. As drogas são prejudiciais à saúde. Minam a capacidade dos usuários de tomar decisões. O compartilhamento de agulhas dissemina o HIV/Aids e outras doenças. O vício pode levar à ruína financeira e ao abuso doméstico, especialmente de crianças.

A capacidade das pessoas de avaliar riscos e fazer escolhas estando informadas será tão importante para regular o uso das drogas quanto leis e políticas mais humanas e eficientes. A repressão aos usuários de drogas é também ameaça à liberdade.

Reduzir o consumo o máximo possível precisa, portanto, ser o objetivo principal. Isso, contudo, requer tratar os usuários de drogas como pacientes que precisam ser cuidados e não como criminais que devem ser encarcerados. Vários países empenham-se em políticas que enfatizam a prevenção e tratamento, em vez da repressão - e reorientam suas medidas repressivas para combater o verdadeiro inimigo: o crime organizado.

A cisão no consenso global em torno à abordagem proibicionista é cada vez maior. Um número crescente de países na Europa e América Latina se afastam do modelo puramente repressivo.

Portugal e Suíça são exemplos convincentes do impacto positivo das políticas centradas na prevenção, tratamento e redução de danos. Os dois países descriminalizaram a posse de drogas para uso pessoal. Em vez de registrar-se uma explosão no consumo de drogas como muitos temiam, houve aumento no número de pessoas em busca de tratamento e o uso de drogas em geral caiu.

Quando a abordagem política deixa de ser a de repressão criminal para ser questão de saúde pública, os consumidores de drogas ficam mais abertos a buscar tratamento. A descriminalização do consumo também reduz o poder dos traficantes de influenciar e controlar o comportamento dos consumidores.

Em nosso informe, recomendamos avaliar do ponto de vista da saúde pública - e com base na mais avançada ciência médica - os méritos de descriminalizar a posse da canabis para uso pessoal.

A maconha é de longe a droga mais usada. Há um número cada vez maior de evidências indicando que seus danos são, na pior hipótese, similares aos provocados pelo álcool ou tabaco. Além disso, a maior parte dos problemas associados ao uso da maconha - desde o encarceramento indiscriminado dos consumidores até a violência e a corrupção associadas ao tráfico de drogas - é resultado das atuais políticas proibicionistas.

A descriminalização da canabis seria, portanto, um importante passo à frente para abordar o uso de drogas como um problema de saúde e não como uma questão para o sistema de Justiça criminal.

Para ter credibilidade e eficiência, a descriminalização precisa vir acompanhada de campanhas sólidas de prevenção. O declínio acentuado e persistente no consumo de tabaco nas últimas décadas mostra que as campanhas de prevenção e informação pública podem funcionar, quando baseadas em mensagens consistentes com a experiência das pessoas que são alvo desses esforços. O tabaco foi desglamourizado, tributado e regulamentado; não foi proibido.

Nenhum país concebeu uma solução abrangente ao problema das drogas. A solução, no entanto, não exige uma escolha cabal entre a proibição e a legalização. A pior proibição é a proibição de pensar. Agora, enfim, o tabu que impedia o debate foi quebrado. Abordagens alternativas estão sendo testadas e precisam ser cuidadosamente avaliadas.

No fim das contas, a capacidade das pessoas de avaliar riscos e fazer escolhas estando informadas será tão importante para regular o uso das drogas quanto leis e políticas mais humanas e eficientes. Sim, as drogas corroem a liberdade das pessoas. É hora, no entanto, de reconhecer que políticas repressivas em relação aos usuários de drogas, baseadas, como é o caso, em preconceito, medo e ideologia, são da mesma forma uma ameaça à liberdade.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

[domínio público] PELA ABOLIÇÃO DO SISTEMA DE PATENTES



::txt::Partido Pirata::

Os monopólios como as patentes são um dos mais perigosos inimigos da sociedade. Ele leva a preços excessivos e grandes custos ocultos para os cidadãos. As patentes são monopólios privados oficialmente concedidos sobre idéias. As grandes empresas estão lutando arduamente para quebrar o recorde do número de patentes, sequer tiradas do papel, que depois usam frequentemente contra seus concorrentes menores e que não podem competir com essas grandes empresas. O objetivo monopolista não é manter o preço de mercado e competir em igualdade de condições oferecendo produtos de melhor preço e qualidade. Pelo contrário, as patentes são usadas como uma alavanca para elevar o preço a um nível que em um mercado livre e aberto não teria espaço e também para impor restrições que nunca seriam aceitas. Nós queremos limitar a possibilidade de monopólios desnecessários e prejudiciais.

As patentes e o conhecimento monopolizado prejudicam a sociedade

As patentes tem muitos efeitos colaterais. Patentes médicas são a razão para pessoas morrem de doenças a qual não podem se dar o luxo de tratar com medicamentos que já poderiam estar disponíveis se as prioridades de pesquisa não fossem distorcidas desnecessariamente em função do mercado dos países ricos. A flexibilização do sistema de patentes de medicamentos com a introdução de medicamentos genéricos no Brasil só demonstra o quanto é grave o défice de acesso e o custo excessivo dos medicamentos gerados pelas patentes, assim como a importância do uso racional do dinheiro público para a saúde pelo processo licitatório, que se torna inviável em um regime monopolista. O acesso a equipamentos médicos também é prejudicado pelo sistema de patentes que faz com que o governo tenha gastos excessivos com o diagnóstico e tratamento de doenças que requerem tecnologia que só pode ser adquirida de algumas poucas empresas estrangeiras, impossibilitando que outras empresas ofereçam os mesmos equipamentos a custos menores permitindo maior racionalidade nos gastos públicos e maior acesso das pessoas a uma medicina avançada.

As patentes sobre genes e da vida, tais como as sementes patenteadas, levam a consequências inesperadas e prejudiciais. Sementes geneticamete manipuladas tem causado dependência de agricultures a tecnologias de cultivo, no fornecimento de sementes e insumos. A polinização cruzada de sementes faz com que, plantas que outrora poderiam ser livremente cultivadas, passem a possuir genes patenteados ao qual é necessário uma autorização ou pagamento de royalties para cultivar. Algumas sementes modificadas se tornam estéreis na primeira safra, o que impede que o agricultor guarde parte de sua produção como sementes para a próxima safra. Isso pode levar a um futuro onde a produção de alimentos é contolada totalmente por algumas empresas monopolistas levando uma grave dependência e sérios riscos para todo o processo de produção.

As patentes de software inibem o progresso técnico na área de TI, e representa uma ameaça grave para as pequenas e médias empresas de TI do Brasil e da América Latina. O software moderno que é basicamente uma junção de diferentes tecnologias passa a se tornar cada vez mais inviável devido ao fato de que é cada vez mais custoso para as empresas se defender dos fequentes ataques jurídicos de empresas de maior porte que alegam possuir patentes de procedimentos triviais e pequenas partes de código nos produtos dos concorrentes.

As patentes supostamente incentivam a inovação por proteger aqueles que inventam e investem em novas invenções e processos de manufatura. Cada vez mais, no entanto, as patentes são utilizadas principalmente por grandes empresas para evitar rivais menores de competir em igualdade de condições. Em vez de patentes para encorajar a inovação, as empresas agora estão usando sua “arvore de patentes” na guerra contra outros para evitar a concorrência. Muitas vezes, o detentor da patente não tem qualquer intenção de continuar a desenvolve-la ou tirá-la do papel.

Nós acreditamos que as patentes tiveram seu dia e agora estão ativamente prejudicando a inovação e o surgimento de novos conhecimentos. Além disso, pode-se ver que em todas as áreas onde produtos e inovações não podem ser patenteadas, as patentes não são realmente necessárias – os atores pioneiros em um mercado são plenamente suficientes para criar inovação. Os inventores devem competir com a inovação, preço e qualidade ao invés de ser concedido um monopólio patrocinado pelo estado a determinado conhecimento. Evitar pagar advogados especializados em patentes, liberando os recursos que poderiam ter sido utilizados para criar uma verdadeira inovação e melhorar os produtos em um ritmo mais rápido, é o que acabará por beneficiar a todos.

Queremos abolir gradualmente o sistema de patentes.

terça-feira, 14 de junho de 2011

[noé ae?!] DJAVAN

[domínio público] O EMPREGADO PÚBLICO APOSENTADO



::txt::Machado de Assis::

Os Egípcios inventaram a múmia para conservarem o cadáver através dos séculos. Assim a matéria não desapareceria na morte; triunfava dela, do que temos alguns exemplos ainda.

Mas não existiu só lá esse fato. O empregado público não se ani­quila de todo na aposentadoria; vai além, sob uma forma curiosa, antediluviana, indefinível; o que chamamos empregado público apo­sentado.

Espelho à rebours, só reflete o passado, e por ele chora como uma criança. É a elegia viva do que foi, salgueiro do carrancismo, car­pideira dos velhos sistemas.

Reforma, é uma palavra que não se diz diante do empregado público aposentado. Há lá nada mais revoltante do que reformar o que está feito? abolir o método! desmoronar a ordem!

Atado assim ao poste do carrancismo, eterno lábaro do que é mo­derno, o empregado público aposentado é um dos mais curiosos tipos da sociedade. Representa o lado cômico das forças retroativas que equilibram os avanços da civilização nos povos.

É o tipo que hoje trago à minha tela. São variáveis o caráter e a feição desta individualidade, mas eu procurarei dar-lhe os traços mais finos, os mais vivos.

Conceber um aposentado sem caixa de rapé é conceber o sol sem luz, o oceano sem água. Uma pertence ao outro, como a alma per­tence ao corpo; são inseparáveis. E têm razão! O que vale uma caixa de rapé, não o compreende qualquer profano. É o adubo oportuno de uma conversa árida e suada sobre qualquer reforma de governo. É o meio de conhecimento com um potentado de quem se espera alguma coisa. É a caixa de Pandora. É tudo, quase tudo.

E não parece. Aquele utensílio tão mesquinho, em um outro qual­quer, está circunscrito na estreita esfera do nariz; nas mãos do apo­sentado, transforma-se; em vez de se transformar o depósito de um vício, torna-se o instrumento de certos fatos políticos que muitas vezes parecem nascer de causas mais altas.

Este prestígio do empregado público aposentado não pára só na caixa, estende-se por todos os acessórios daquele curioso indivíduo. Na gravata, na presilha, na bengala, há certo ar, uma nuança especial, que não está ao alcance de qualquer. Ou natureza, ou estudo, a apo­sentadoria traz ao empregado público esses dotes, como um presente de núpcias.

Ora, apesar deste metódico das formas, não estão limitadas aí as vistas do aposentado. Há naquele cérebro alguma finura para se não entregar exclusivamente a essas ninharias. E a política? A política lá o espera; lá o espera o governo; lá o espera o teatro, as modas, os jornais, tudo o espera.

Não é maledicente, mas gosta de cortar o seu pouco sobre as coisas do país. Não é um vício, é uma virtude cívica: o patriotismo.

O governo, não importa a sua cor política, é sempre o bode expiatório das doutrinas retrógradas do empregado público aposentado. Tudo quanto tende ao desequilíbrio das velhas usanças é um crime para esse viúvo da secretária, arqueólogo dos costumes, antiga víti­ma do ponto, que não compreende que haja nada além das raias de uma existência oficial.

Todos os progressos do país estão ainda debaixo da língua fulmi­nante deste cometa social. Estradas de ferro! é uma loucura do mo­dernismo! Pois não bastavam os meios clássicos de transporte que até aqui punham em comunicação localidades afastadas? Estradas de ferro?

Desta sorte todas as instituições que respiram revolução na ordem estabelecida das coisas — podem contar com um contra do em­pregado público aposentado. Este meio mesmo de retratar à pena, como faço atualmente, revoltaria o .espírito tradicional da grande múmia do passado. Uma inovação de mau gosto, dirá ele. É verdade; não representa apenas a superfície da epiderme, vai às camadas mais íntimas da matéria organizada.

O empregado público aposentado poderá deixar de comer, mas lá perder um jornal, lá perder um jubileu político ou sessão do parla­mento, é tarefa que não lhe está nas forças.

O jornal é lido, analisado com toda a finura de espírito de que ele é capaz. Devora-o todo, anúncios e leilões; e se não vai ao folhe­tim, é porque o folhetim é frutinha do nosso tempo.

No parlamento, é um espectador sério e atencioso. Com a cabeça enterrada nas paredes mestras de uma gravata colossal ouve com toda a atenção, até os menores apartes, vê os pequenos movimentos, como profundo investigador das coisas políticas.

Ao sair dali, o primeiro amigo que encontra tem de levar um agua­ceiro de palavras e invectivas contra a marcha dos negócios mais interessantes do país.

De ordinário o aposentado é compadre ou amigo dos ministros, apesar das invectivas, e então ninguém recheia as pastas de mais me­moriais e pedidos. Emprega os parentes e os camaradas, quando os emprega, depois de uma longa enfiada de rogativas importunas.

É sempre assim!

No sarau o empregado público aposentado é pouco cortês com as damas; vai procurar emoções nas alternativas de um lindo baralho de cartas. Mas para não faltar ao programa, lá vi tachando de imoral aquele divertimento que tanto dinheiro absorve; fica-lhe a consciência.

Onde poderemos encontrar ainda o aposentado? Ele vai por toda a parte onde é lícito rir e discutir sem ofensa pública.

O leitor conhece decerto a individualidade de que lhe falo, é muito vulgar entre nós, e de qualidades tão especiais que a denunciam entre mil cabeças. Que lhe acha? Quanto a mim é inofensiva como um cordeiro. Deixem-no mirar-se no espelho dos velhos usos, falar em política, discutir os governos; não faz mal.

Em uma comédia do nosso teatro, há uma reprodução deste tipo, o Sr. Custódio do Verso e Reverso. Mirem-se ali, e verão que, apesar do estreito círculo em que se move, faz pálidos e mirrados estes ligeiros e mal distintos lineamentos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

[noé ae?!] LAN LAN

[romulo fróes] UM LABIRINTO DE CADA PÉ



::txt::Francisco Bosco::

Ninguém canta pra ninguém

Não sou um historiador rigoroso do contemporâneo, mas sigo à risca o preceito do filósofo de estar no mundo ao modo de um cão: sempre atento, com as orelhas em pé. No campo da canção popular de hoje, minhas orelhas em pé captam em Romulo Fróes qualquer coisa que só existe nele. Antes de tudo deve-se ressalvar que, ao falar de Romulo, já desde o seu disco anterior, mas mais clara e sistematicamente nesse, deve-se falar de uma criação coletiva, a incluir, em seu núcleo central, Clima e Nuno Ramos, parceiros de outros carnavais, e agora Rodrigo Campos, cujos cavaquinho e violão estão no eixo da sonoridade conquistada nesse novo trabalho (além, é claro, dos demais músicos, todos inventivos: Guilherme Held na guitarra, Marcelo Cabral no baixo, Pedro ito na bateria e Thiago França no saxofone e ainda da contribuição muito forte da artista plástica Tatiana Blass, com suas obras-capas).

Em seu trabalho anterior, o disco duplo No chão sem o chão, Romulo apresentava uma primeira sessão, resultante de um processo seu de desterritorialização (desgrudar-se da "imagem de sambista" - mas não do samba - que se lhe colara), em que a forma canção era como que violentada, a relação nevrálgica entre letra e melodia sendo abruptamente invadida por um pensamento musical, não cancional, onde longos solos de guitarra deixavam a canção a ver navios. Na segunda sessão, reencontrava-se a forma canção, mas como uma espécie de síntese, já incorporada a conquista da primeira.

Havia já nesse(s) disco(s) anterior(es) a "qualquer coisa" que eu afirmei, acima, existir em Romulo e só nele. Mas em Um labirinto em cada pé isso reaparece de modo mais concentrado, refletido (dizendo e se dizendo), e com nova sonoridade. Quanto a essa última, se No chão sem o chão tinha uma pegada mais roqueira, agora, em Um labirinto em cada pé, os cavaquinhos e violões de Rodrigo Campos colocam uma variável nova - e surpreendente - na equação.

A "qualquer coisa" singular de Romulo passa decisivamente pelas letras que ele entoa. Daí a necessidade de se falar de uma criação coletiva, já que a grande maioria das canções são compostas por ele junto a Nuno Ramos e/ou Clima. Há nessas letras uma operação com o sentido que se aproxima mais de vertentes da literatura moderna do que de compositores de canção popular. Pois são letras que jogam com certa intransitividade da linguagem. Não poderiam estar mais distantes do senso comum, da expressão amorosa "sincera", das referências concretas e reconhecíveis, dos temas habituais, de certa transparência (suposta) das palavras em relação ao mundo, em suma, de um efeito geral de naturalidade que Luiz Tatit identifica ser uma das mais fortes marcas da canção popular. Opacas ou autoiluminadas, herméticas (são algo que não se vê) ou materiais (são tão somente o que são), elas se situam "além do impossível conteúdo", onde "tudo vem".

É certo que se pode falar de uma tradição de letras que jogam com o nonsense na música brasileira. Desde "Uva de caminhão" (não por acaso gravada por Romulo anteriormente), passando por Luis Melodia, pelo Caetano de "Qualquer coisa", pelos famigerados zuns de besouro de Djavan até chegar em Carlinhos Brown, para ficar só em alguns pontos dessa linhagem. Me parece, no entanto, que, nos casos citados acima, em geral o sem-sentido das letras responde a um imperativo da melodia, como se às palavras coubesse sobretudo a tarefa de servir à melodia, entranhando-se nela, abolindo-se nela, fazendo com que o plano semântico se anule, virando puro ritmo e imagem. Não é por acaso que os letristas do nonsense costumam ser antes de tudo músicos, homens-som, mais do que homens-palavra. Nas canções de Romulo, dá-se outra coisa. Não me parece que as palavras anulem-se (em favor da música), mas, pelo contrário, que elas se afirmam plenamente, como uma série própria, independentes da música, apesar de entrelaçadas com ela: um labirinto em cada pé. Não há, assim, uma dissociação entre letra e música; ao contrário, a relação aqui é necessária e enxuta (é isso a canção). Mas as letras não cessam de apontar para algo que não está na música, nem no mundo, mas em si mesmas.

Aqui eu deveria entrar numa análise mais detida, inoportuna para a função desse texto. Mas basta que se escute as palavras da canção "Varre e sai": cheia de verbos intransitivos ("no varre e sai/ desarrumei", "no varre sai/ já me virei/ já fui, voltei"), ou com função de; os próprios objetos diretos são indeterminados ("já fui , nem sei, alguém/ já tive alguém"); não se sabe direito do quê se está falando (um pouco como as letras oblíquas de Paulinho da Viola d'après Nuno Ramos); e é esse não saber mesmo que é afirmado, como um estranho manifesto sem conteúdo: "saber de nada é bom".

Eu poderia seguir demonstrando essa argumentação com muitos outros exemplos, mas não é o caso. Muito importante é enfatizar que toda essa estranheza não resulta em canções cerebrais, anêmicas, numa palavra, chatas. Ao contrário, essas canções estranhas têm um pé fincado na tradição rítmica e melódica brasileira, que aliás elas não cessam de evocar ("só faço samba", "boneco de piche", "ladeira da preguiça", "jardineira"). É assim que, apesar da estranheza das letras, ou por causa delas, basta ouvirmos uma ou duas vezes canções como "Muro", "Rap em Latim", "Tua beleza" (que remete ao célebre soneto "Les voyelles", de Rimbaud, que inicia a linhagem da linguagem intransitiva na poesia moderna), basta ouvi-las uma ou duas vezes que já temos vontade de colocá-las no repeat e nos pegamos assobiando-as na rua.

Quando colocamos para ouvir esse disco de Romulo Fróes e sua turma não temos dúvidas de que estamos diante de um acontecimento artístico. É Dona Inah, com sua voz de máscara de bronze grega, quem nos avisa: aqui, "Ninguém canta pra ninguém". Se há uma definição axiomática da arte, é essa. Existe arte quando se dá uma passagem da experiência particular à experiência comum. Quando a vida sobrevive ao vivido. Aí é Ninguém quem canta. E qualquer Zé Ninguém pode ouvir. Quando ouvimos essa frase, cantada desse jeito, sabemos onde estamos: em plena vida.



CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA FAZER O DOWNLOAD DO DISCO
Um Labirinto Em Cada Pé.zip

CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA COMPRAR O DISCO
Livraria Cultura

FICHA TÉCNICA

produzido por Maurício Tagliari / Romulo Fróes
gravado / mixado / masterizado por Carlos "Cacá" Lima no yb studios
direção vocal: Luca Raele / Maurício Tagliari
músicos: Guilherme Held(guitarra) - Marcelo Cabral(baixo) - Pedro Ito(bateria) - Rodrigo Campos(cavaquinho, violão e percussão) - Thiago França(saxofone)
participações especiais de Arnaldo Antunes, Dona Inah e Nina Becker
projeto gráfico: Tatiana Blass (a partir da obra "deitado", de Tatiana Blass)

01. olhos da cara (Nuno Ramos)
02. muro (Romulo Fróes / Clima)
03. máquina de fumaça (Romulo Fróes / Clima)
04. o filho de Deus (Nuno Ramos)
05. rap em latim (Nuno Ramos)
06. varre e sai (Romulo Fróes / Clima / Nuno Ramos)
07. boneco de piche (Romulo Fróes / Nuno Ramos)
08. tua beleza (Rodrigo Campos / Romulo Fróes / Nuno Ramos / Clima)
09. ditado (Romulo Fróes / Nuno Ramos)
10. jardineira (Guilherme Held / Romulo Fróes / Clima / Nuno Ramos)
11. cilada (Rodrigo Campos /Romulo Fróes / Clima)
12. quero quero (Romulo Fróes / Nuno Ramos)
13. onde foi que nunca vem (Rodrigo Campos /Romulo Fróes / Clima)
14. um labirinto em cada pé (Guilherme Held / Clima)

domingo, 12 de junho de 2011

[grrrr] FILME DE TERROR



Graças a um vulcão chileno, ficamos sem postar nada nos últimos dias. Voltaremos ao nosso golpe normal a partir de amanhã.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

[agência pirata] A VERGONHA DOS E-BOOKS BRASILEIROS

::txt::Helder Caldeira::

Os e-books são a sensação mundial em vendas da atualidade. São modernos, portáteis, práticos, de fácil compra e acesso e, principalmente, infinitamente mais baratos. No entanto, o mercado editorial brasileiro ainda não compreendeu essa dinâmica econômica dos livros digitais. Ou pior: compreendeu e está tentando lesar os consumidores para ganhar mais dinheiro enquanto for possível manter encoberta a farsa bandida ao grande público brasileiro. Você, caro leitor, está sendo literalmente roubado.

Vou tomar como grande exemplo o meu próprio caso, afinal, nada melhor que uma experiência pessoal para ilustrar um assunto tão delicado. Acredito que a maioria dos meus leitores, desde os mais distantes ricões às grandes capitais, tenha ciência de que eu lancei, no final de janeiro, o livro “A Primeira Presidenta”, com a honra de ser a primeira obra publicada no país sobre a trajetória política de Dilma Rousseff.

Diante da morosidade das editoras na análise dos jovens autores e do cruel monopólio da intelectualidade reinante no Brasil, decidi arriscar tudo: banquei minha própria publicação, arcando com todas as responsabilidades, incluindo divulgação, marketing e afins.

Guardando ufanismos imbecis, mas sem ficar atolado em falsas modéstias, tive um resultado surpreendente e em questão de dias, com comércio exclusivamente digital, tinha vendido milhares de cópias. Como consequência imediata, algumas editoras começaram a me cercar interessadas em publicar meu trabalho, agora já reconhecido. Por não concordar com a política editoral anacrônica e até mesmo por certo rancor, neguei todas elas. E explico: depois que eu tinha me arriscado, bancado todo jogo e feito todo o trabalho, agora alguns estavam interessados em garfar uma fatia dos meus lucros. Simples assim.

Eis que a editora-chefe de uma empresa me apresentou aquela que considerei a melhor e mais justa proposta e nesta semana estamos chegando às livrarias e ao comércio eletrônico com “A Primeira Presidenta” pela Editora Faces, uma jovem e arrojada empresa, comandada por Bia Willcox, uma “mulher-alfa” que parece não dormir nunca. Sua proposta é perfeita: ser justa com o consumidor literário brasileiro e dar aos e-books a cara que eles realmente devem ter, como em qualquer outro lugar do planeta. Um livro digital, muito além da praticidade e da tecnologia embutidas em sua concepção, tem o dever absoluto de ser mais barato, mantendo uma expressa qualidade. E foi exatamente dentro desses critérios que a Editora Faces me seduziu. Me são caras e fascinantes a possibilidade brigar pela democratização do acesso aos livros digitais e a luta intransigente contra o monopólio intelectual e os roubos descarados a que os brasileiros estão sendo submetidos.

Parece papo de “comuna”? Não é não. Com a publicação do meu livro pela Editora Faces e o início das vendas, veio a grande surpresa: minha obra é uma das mais baratas do mercado atual. O livro está sendo vendido nos principais sites do país por apenas R$ 9,90. Ainda assim, eu estou recebendo minha devida e justa quantia pelos direitos autorais e a editora está ganhando seu naco para arcar com toda a equipe de profissionais envolvida no processo, além dos lucros e dos impostos, obviamente. Parece uma pizza pequena a ser dividida por muitos? É sim. Mas é justo. É honesto. Principalmente com os consumidores.

Enquanto isso, uma pesquisa rápida pelos sítios de comércio eletrônico me comprovaram o absurdo: livros cujas versões impressas são vendidas nas livrarias por R$ 40 estão sendo colocados à venda no formato e-book por algo entre R$ 35 e R$ 38. Ou seja, tanto os autores quanto às editoras estão enganando os consumidores e faturando alto com a padronização irresponsável de preços dos livros digitais no Brasil. Certamente, cada um desses e-books poderiam estar sendo vendidos por, no máximo, R$ 15. Mas há um cartel disposto a continuar lesando o bolso dos leitores enquanto essa realidade esquizofrênica permanecer no mercado editorial. Sinceramente, como escritor eu me sinto envergonhado e insultado com essa prática suja dos nossos “pseudonotáveis”.

Fique aqui o alerta: se você vai comprar um e-book e ele estiver sendo vendido por mais que R$ 20, tenha a certeza de que você está sendo descaradamente roubado. Nesse sentido, acredito no poder dinâmico do mercado em pressionar essas empresas por um preço justo para um produto cada vez mais moderno e que chegou para dominar o comércio literário. O e-book é uma realidade mundial e é sensacional. Mas o Brasil precisa, com urgência e no mínimo, corrigir sua compreensão sobre esse mercado. Caso contrário, vamos continuar no nosso atrasado atoleiro cultural.

[noé ae?!] KARINA BUHR

quinta-feira, 9 de junho de 2011

[noé ae?!] ANTONIO VILLEROY

[agência pirata] CHUTA QUE É MACUMBA - A INTOLERÂNCIA EVANGÉLICA



::txt::Xico Sá::

Minha santa mãezinha agora é evangélica. Católica não-praticante como todos da família, converteu-se, coisa de uns três anos, assim como vários membros do “milionário” clã dos Sás dos sertões do Ceará e de Pernambuco.

Mantenho o maior respeito pela forma como ela reencontrou a fé, caminho comum a tantos outros brasileiros: um irmão, quase em condição de rua, largou o vício. Minha mãe, meu amor, então “aceitou Jesus”. Acho bonito. Mesmo. Sem ironia alguma nessa fala, senhor diretor, por favor.

Dona Maria do Socorro me respeita e me ama ao extremo, apesar da minha vida torta. Sim, pensa na minha saúde, ora, ora por mim, mas não me julga. Linda.

Até ri quando algum sobrinho (eta que essa nova classe C internética faz um estrago na minha biografia antes escondida para ela!) mostra algum texto ou vídeo no qual exibo alguma imoralidade.

Tudo lindo.

Grau zero de intolerância entre a Bíblia aberta na Timbaúba, bairro que habita em Juazeiro do Norte, e a minha crença no excesso –a lama cura!- em São Paulo.

Os Sás, quizás, quizás, não podem servir como exemplo, somos diferenciados demais para tanto. Invoco, porém, o nosso “case” caseiro, diante do intolerante lobby da política evangélica brasileira. Especialmente os pentecostais.

Saltemos a porteira, os portais, direto para o noticiário desta Folha.com:

A presidente Dilma Rousseff determinou a suspensão da produção e distribuição do kit anti-homofobia em planejamento no Ministério da Educação, e definiu que todo material do governo que se refira a "costumes" passe por uma consulta.

Sim, pressão da bancada evangélica. Ou isso ou aquilo. Donde aquilo atende pelo batismo de Antônio Palocci, o ministro da Casa Civil, a cabeça de São João Baptista da vez.

Na campanha eleitoral não foi diferente. A própria Dilma foi vítima. Veio a palavra aborto e com ela acenderam todas as luzes vermelhas da histeria pentecostal-midiática.

Ah, cuidado, os evangélicos!

Ah, não mexam com eles!

Ah, eles têm a força!

Ah, religião com eles não se discute.

Ah, mal-estar da civilização uma ova, seu Sigmund!

Enquanto isso, em uma política de tolerância zero, os pentecostais chutam tudo que tem pela frente.

Chuta que é macumba, como eles tentam destruir, sem o menor respeito, as religiões e crenças que viajaram d´África ao Brasil nos navios negreiros.

Eles não discutem. Estão certos. Ponto, nada de parágrafo, só resta o versículo que justifica todo e qualquer ato.

E assim, num conluio intolerante entre fé e poder, no mesmo país que acaba de legitimar a união civil entre pessoas do mesmo sexo, engata-se a histórica marcha à ré no varejo da crônica de costumes.

Quando, em nome de Jesus, se metem tanto em nossas vidas, religião se discute. Estamos aqui para isso, não

quarta-feira, 8 de junho de 2011

[noé ae?!] CYBERORGÂNICA

[agência pirata] PREOCUPAÇÃO E DECEPÇÃO COM RESPOSTA DO GOVERNO SOBRE BELO MONTE

::txt::Associação Brasileira de Antropologia::

Entidade alerta que o Projeto Básico Ambiental referente aos índios não está pronto e não foi mencionado entre as exigências requeridas no licenciamento.

Decepção, preocupação e desconhecimento. Estes foram os termos utilizados pela presidente da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) para classificar a resposta dada pelo Gabinete da Presidência à carta encaminhada por vinte entidades científicas à presidenta Dilma em prol dos direitos humanos das populações atingidas pela usina de Belo Monte. Segundo a presidenta da ABA, Bela Feldman Bianco, que capitaneou a iniciativa, "ao simplesmente encaminhar a nossa carta ao Ministério de Minas e Energia para 'análise e eventuais providências', o gabinete demonstrou desconhecimento sobre a relevância dessas sociedades científicas (ABA, SBPC, Academia Brasileira de Ciências, Anpocs e outras) e de seu peso na comunidade científica e na sociedade". Assim, o governo estaria perdendo a oportunidade de estabelecer um diálogo produtivo com as associações científicas mais importantes do país e que poderiam contribuir, a partir de suas pesquisas e conhecimento, com uma "maior sensibilidade do governo em relação às populações atingidas".

O documento foi enviado no dia 19 de maio à presidenta Dilma Roussef e pede a suspensão do licenciamento da usina hidrelétrica de Belo Monte até que sejam cumpridos todos os dispositivos legais, julgadas as ações públicas e regulamentado s os procedimentos de consulta dos povos indígenas e populações ribeirinhas. As entidades manifestam preocupação com a falta do adequado cumprimento dos dispositivos legais relativos aos direitos humanos e ambientais e lembram que o Conselho Nacional de Direitos da Pessoa Humana apontou uma situação extrema sintetizada na frase “ausência absoluta do Estado” (veja carta aqui)

Já no documento enviado as associações afirmam que o eventual licenciamento da obra, que estava sendo anunciado para o final do mês de junho, seria "uma atitude intempestiva". Nesta quarta-feira (01), o Ibama anunciou que concedeu à empresa Norte Energia a licença de instalação que autoriza a construção integral da usina hidrelétrica com 75 exigências. A ABA alerta que, nessas exigências, não há menção às populações indígenas e nenhum projeto ambiental voltado para essas populações.

"Independentemente do licenciamento, vamos continuar acompanhando e eventualmente endossando todas as ações que visem assegurar os direitos indígenas, bem como os direitos de outras comunidades tradicionais", afirma a presidente da ABA. Segundo ela, a entidade continua disposta a dialogar.

terça-feira, 7 de junho de 2011

[resenha] A REGRA DO AFRIKA É NEGRA

::txt::Arthur Dapieve::

Apesar dos ancestrais comuns e de toda as semelhanças entre os países, a música africana contemporânea sempre foi um ponto fora do radar brasileiro. Só muito de vez em quando a tela preta faz “biiip!”. É chegado um desses raros momentos. O grupo carioca Afrika Gumbe está lançando o seu segundo álbum, 21 anos depois do primeiro. Meu refrão inquieto, a novidade, atualiza as delícias proporcionadas por Afrika Gumbe, o disco, no final dos anos 80. E, diferentemente de seu distante antecessor, todo cantado em iorubá, agora a verve dos irmãos Lobato e de Pedro Leão está exposta ao sol em bom português.

Na verdade, a existência do Afrika precede em muito aquele disco pioneiro. Desde 1978, sob o nome Afrika Obota, o grupo já batucava pelo Rio de Janeiro. Nesse meio tempo, seus três integrantes originais se reencontraram como Robôs Efêmeros de Fausto Fawcett, nas bandas de Fernanda Abreu, Fábio Fonseca, Gabriel O Pensador, Lenine, Lucas Santtana. Após a saída do cantor guineense Carlos Budjugu, trocaram o nome de sua banda para Afrika Gumbe. Os irmãos Marcelo e Marcos Lobato, multiinstrumentistas, mais tarde se encontraram no Rappa, o que deixou pouco tempo para o projeto com o guitarrista e baixista Pedro Leão , que tocava blues e jazz com integrantes do Blues Etílicos e Big Alambik. No entanto, ufa, o seu sonho africano nunca morreu. E aqui está o novo disco.

Meu refrão inquieto se beneficia do aparato tecnológico surgido nas últimas duas décadas e acrescenta velhas engenhocas que estavam indisponíveis na época do primeiro disco. Os integrantes do Afrika Gumbe dominam essa parafernália como poucos. Ficou de fora, declaradamente, o pedal chorus. O aviso surge ao final do encarte, logo antes de um grito de guerra: “O tecnopop não pode morrer.” Porém, não é tecnopop o primeiro rótulo que vem à cabeça quando se escuta a música do grupo – e sim afropop. Seus discos estão repletos daqueles rendilhados aliciantes de guitarra, daquelas batidas quebradinhas, daquela torrente contínua de notas e de melodias que faz a glória da música africana... De King Sunny Adé, Thomas Mapfumo, Fela Kuti, Ali Farka Touré e tantos outros craques.

Meu refrão inquieto abre com a sinuosa Folha seca de Didi, um tremendo balanço, de refrão improvável (“Bola inventora da matemática”) e com uma estrofe que exemplifica uma característica da África e do Gumbe, o erotismo: “Como duas bundas tão diferentes/Que nunca se repetem/Mas se parecem”. Passou-se apenas uma faixa das 12, e já rola goleada. A seguinte, Biscoito azeitado, reata Continente Negro e Bahia. Nela, a primeira aparição da seção de metais, arranjada por Marcelo Lobato, avisa que o soul, que marcou boa parte da música africana contemporânea, também fez a cabeça do Afrika Gumbe.

A elegância do soul está igualmente presente, por exemplo, na terceira faixa, Vida é pra acabar, que tem um refrão sombrio, que surpreenderá quem acha que música africana é só oba-oba e lero-lero: “Difícil é aceitar/ Que a vida é pra acabar”. Um pouco mais adiante, os metais de Toque lembram a poderosa Banda Black Rio. Taí, boa referência. Céu de costuras tem outra boa, o duo americano Steely Dan. Como se lê, tudo gente fina. É como explica a canção Refrão inquieto, que evoca ainda a música indiana: “Minha regra eu invento/ Toda ideia eu tento/ Som de scratch e paz/ Samba, rock e jazz”. E a derradeira faixa, Sinais do vento, a única composição de Pedro Leão, volta ao assunto ao dizer “eu sinto os sinais do vento”. O vento, no momento, sopra forte de novo de Leste para Oeste, da África para o Brasil. Ou melhor, do Afrika Gumbe para o Brasil.

Assista o vídeo abaixo ou neste link aqui

#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

Você pode:

  • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

  • AtribuiçãoVocê deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

  • Compartilhamento pela mesma licençaSe você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob licença similar ou compatível.

Ficando claro que:

  • Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais.
  • Domínio Público — Onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
  • Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
    • Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
    • Os direitos morais do autor;
    • Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
  • Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página.

.

@

@