#CADÊ MEU CHINELO?

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terça-feira, 28 de junho de 2011

[agência pirata] ENTREVISTA COM CHINA MAN



::txt y ntrvst::Paulo Marcondes::

China Man, ou China Ina, ou como preferir, vive aos 31 anos de idade um dia lindo de morrer. Depois de despontar para o cenário nacional com o som visceral do Sheik Tosado (1996 – 2001), o pernambucano tomou a rota das atuais gerações e rumou para São Paulo resguardado pelos ótimos trabalhos solo e a desenvoltura de sobra segurando o mic do Del Rey – combo de China + Mombojó que faz o Rei Roberto Carlos rejuvenescer décadas e falar de igual com os mais novos.

Após gravar Simulacro, há quatro anos, China se aperfeiçoou na produção musical e lançou, junto de Chiquinho (Mombojó) e Homero Basílio (Orquestra Sinfônica do Recife), o selo Joínha Records. Enquanto o terceiro disco solo da carreira esquenta mais e mais no forno – China promete que no mês que vem servirá a mesa com o esperado Moto Contínuo -, o cabra se transformou num dos novos rostos da nova Mtv, com o programa sobre música nacional da casa: Mtv Na Brasa (de seg. a sex., às 20h30).

Em meio a atribulada agenda do cantor/produtor/apresentador, conseguimos uma palavrinha do cara sobre o momento na Mtv, o novo álbum e até uma monossilábica solução para os problemas do rubronegro da Ilha do Retiro. Confira abaixo.

Cara, como você foi parar na Mtv? Você sente que ficou conhecido por um público diferente?

Eu recebi um convite pra fazer um teste há uns dois anos atrás. Até então, achei que não tinha dado em nada, mas aí me convidaram pra gravar um piloto de um programa bem parecido com o Na Brasa… gravei e a galera da Mtv curtiu. Daí perguntaram se eu tava afim de ser VJ, e assim rolou. E percebo que muita gente não conhecia a minha carreira musical, mas como eu tô na tv direto agora, essas pessoas estão procurando mais informações sobre mim e aí acabam encontrando a minha música, e eu tô adorando isso.

Como é essa sua nova rotina de apresentador de tv e de que maneira você avalia a reformulada que a Mtv deu na programação e na linguagem?

Cara, agora eu tenho horários a cumprir, chego na tv todo dia, gravo o Na Brasa, discuto as pautas… mas é bem tranquilo. Adoro a Mtv, acho massa trabalhar lá o dia inteiro falando de música, que é o que eu mais gosto na vida, e ainda receber salário por isso? Acho lindo.

Acho que a Mtv precisava dessa mudança. Ao longo dos anos o canal perdeu o foco da música e deixou de apresentar ao Brasil muita gente boa. Agora as coisas são diferentes… a música volta ao seu primeiro plano, e sinto que a Mtv recuperou o prestígio que tinha, de ser um canal que aponta as novas tendências musicais. Fico muito honrado de estar fazendo parte disso.


Capa do single Só Serve Pra Dançar, nova canção de China

Cara, o que falta para seu disco novo sair e no que ele vai diferir do Simulacro (2007) e do Um Só (2004) – que foram elogiados pra caramba?

Meu disco novo vai sair em julho. Agora, o que vai ser diferente dos outros? Bom, acho que o fato de eu mesmo ter produzido esse disco já diz muita coisa. Os outros trabalhos tinham produtores junto, dando pitacos e me ajudando no melhor caminho para cada música. O Moto Contínuo [nome do novo disco de China] sou eu de cabo a rabo. Lógico que tenho vários amigos que me ajudaram um monte – e todos acabaram sugerindo várias coisas – mas curti produzir esse disco. Uma certeza eu tenho: o Moto Contínuo sou eu desde a composição até a gravação dos instrumentos. Isso para mim é diferente, e acho que essa é a grande diferença para os outros discos. Sobre as composições, vou esperar as pessoas dizerem o que acham. Não posso dizer que esse disco é melhor do que os outros… para mim, todos os meus trabalhos são legais. Afinal de contas, são todos crias minhas.

Por que nomes como Ortinho, Cérebro Eletrônico, Tulipa Ruiz e você mesmo, por exemplo, demoraram a estourar? Aliás, dá para dizer que alguém “estourou” na música independente ou só ficou mais conhecido dentro da cena?

Esse lance de estourar é relativo. Eu prefiro uma carreira estável do que fazer sucesso durante seis anos e depois sumir (isso é o que acontece com todas essas bandas pseudo estouradas). O ibope não me preocupa e nem vou pagar para tocar em rádio. Prefiro fazer meus shows do jeito que são, pois cada vez que eu toco, aparece mais um pouco de gente e assim vai. Hoje em dia eu sou bem mais conhecido do que quando comecei… o processo é esse… o processo é lento.

E não acho que a cena independente esteja sedenta para estourar alguém… até porque são outras pessoas que dizem se você tá estourado ou não. Pra mim, o Cérebro e Tulipa estão estourados na minha casa. Ouço direto o som deles e mostro pra todos os meus amigos. (risos)

Como surgiu a ideia do vídeoclipe do Só Serve Pra Dançar?

Eu adoro o Youtube, vejo de tudo lá, e um dia me peguei assistindo garotas dançando em casa uma música de Justin Bieber. Daí eu pensei, será que algumas garotas dançariam uma música minha? Fiz o convite no Twitter e recebi 50 vídeos… achei incrível, nem acreditei. E daí nasceu o clipe.

assista aqui ou abaixo o novo clip de China



Ultimamente eu tenho ouvido muito uma banda instrumental de Recife, o Joseph Tourton, que tá começando a fazer shows pelo sul/sudeste. O que agrada seus ouvidos e que ainda não ganhou o destaque merecido?

Puta, man… gosto de tanta coisa. Eu vi uma banda na Bahia chamada Suinga, e pirei no som deles, lembra Moraes Moreira depois que saiu dos Novos Baianos. Também me amarro no som de Jr. Black, Catarina Dee Jah, tô sempre procurando coisas novas. Vi um vídeo no Youtube de uma banda que toca dentro de uma kombi… acho que chama Test a parada…. fodão. Agora que tenho um programa de música brasileira, tento escutar tudo sem o menor preconceito e estou descobrindo muita coisa bacana. Dá gosto de ver essa cena brasileira.

Pra terminar, o que falta pro glorioso Sport Recife voltar a primeirona?

O Sport é um time de primeira… só esqueceu disso! (risos)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

[release] ORTINHO, O HERÓI TRANCADO



::txt::Ronaldo Bressane::

Cuidado: este álbum contém hits chicletosos e canções de romantismo rasgado

Este é um álbum de rock'n'roll. Não, pera lá. É um álbum de pop romântico. Também não é só isso... Digamos, então, que seja um álbum de jovem guarda. Só que um álbum de jovem guarda adulta. Um disco da Jovem Guarda de Caruaru, em plenos anos 2010. Difícil de entender? Claro: estamos falando de Ortinho, fiel seguidor do lema do também pernambucano Chacrinha: "Eu vim pra confundir, não pra explicar".

Desde que surgiu, no início dos 90, liderando a lendária Querosene Jacaré, Wharton Gonçalves Filho, dito Ortinho, demonstrou-se nota dissonante no cenário do rock pop nacional. Se sua banda recuperava as texturas de psicodelias setentistas como Ave Sangria ou do early Alceu Valença, as idéias de Ortinho integravam a primeira hora do manguebeat – é dele, por exemplo, o clássico "Sangue de bairro", gravada por Chico Science & Nação Zumbi. Nessa época, misturava ao rock lisérgico o coco, o maracatu, a ciranda e o samba, diluindo as fronteiras desses gêneros com voz rascante e percussiva, em letras cheias de jogos sonoros e nonsense que o colocaram como um dos melhores cantores e compositores de sua geração.

Ocorre que, com este O Herói Trancado, Ortinho afinal desoptou pela confusão. Trocou as dissonâncias pelo pop simples, largou a metralhadora giratória por um tiro certeiro: o rock clássico. O resultado é seu álbum mais coeso, mais maduro, mais exato – e mais do que nunca, pop até a medula. Em seus outros álbuns Ortinho lançou sonoridades e idéias que o tornaram um artista cult (meio sobrevoado por certa aura maldita); este disco, porém, este é pra tocar no rádio.

Se a jovem guarda sessentista conspira a favor de canções como a chicletosa "Pense duas vezes antes de esquecer" (parceria com Arnaldo Antunes e Marcelo Jeneci), o rock brasileiro dos anos 80 comparece depurado em "O cara do outro lado". A explicação é que, além da sombra de Antunes, parceiro em várias canções (cuja dobradinha Ortinho devolveu em algumas faixas do recente álbum de Arnaldo, Iê Iê Iê), tambén se ouve um timbre inconfundível daqueles tempos: o virtuosismo canhoto de Edgard Scandurra.

Em "Saudades do mundo" e "Modelo vivo", Ortinho mostra o outro lado da ponte, agregando à sonoridade robertocarliana a voz suingante de Jorge Du Peixe, a metaleira puxada pelo genial saxofonista Spok, os teclados de Chiquinho (Mombojó) e o piano prodígio de Victor Araújo. Só nesse time de allstars de três gerações se percebe a esperteza de Ortinho como catalisador de talentos – e se entende o álbum também como um recorte muito original do rock brasileiro de todas as épocas.

Com "Moldura", observa-se que o conteúdo social das obras anteriores deu lugar a um romantismo desesperançado, meio dark, mas não sem doses de humor e leveza (combinação repetida na largada "Retrovisores"). A canção é temperada, como o resto do disco, pela guitarra sutil de Yuri Queiroga, sobrinho de Lula Queiroga, que auxilia Ortinho na produção do disco. A faixa seguinte, canção-título, ganha participação de outro grande guitarrista: Luiz Chagas, que formou na Isca de Polícia de Itamar Assumpção. Pop pra dançar, clássica como aquelas canções que você sente que já tinha escutado em algum lugar, traz a melhor letra do disco, original na mistura de dor e humor:

"Fiquei trancado do lado de fora/ Deixando você livre para eu ir embora/ E agora vou aproveitar a minha vida/ Preso pelo mundo afora/ Não tô a fim de receber visitas/ Estou me sentindo livre feito um turista/ Tem muita gente que divide esse mundo comigo/ Alguns até são meus amigos/ Espero com sinceridade/ Que estejas bem/ Que tenhas ocupado/ Meu lugar com outro alguém/ Que sua casa esteja alegre colorida/ Fui condenado a viver sem você o resto de minha vida"

A grunge barra-limpa "Você não sabe dessa missa um terço", faixa-título de um álbum de Querosene Jacaré, ressurge leve e básica – e aqui louve-se o feijão-com-arroz bem temperado da dupla Vicente Machado (Mombojó) e Dengue (Nação Zumbí), que espalha por quase todo o disco uma eficiência quase transparente, limpa como as melhores cozinhas. Bom lembrar também que o álbum tem a mixagem segura de Yuri Calil, responsável pelos melhores momentos do Cidadão Instigado.

"Sonhar de novo" e "Café com leite de rosas" são mais dois exemplos do novo romantismo tchaptchura de Ortinho (a segunda trazendo, além do wah-wah de Scandurra, o sax barítono de Marcelo Monteiro), um retorno às letras diretas cujo recado é o seguinte: rock bom é sobretudo sobre sexo.

Mas, como com Ortinho nunca se sabe exatamente o que vai acontecer, o álbum se encerra com a fofa "Já fui rei", uma semiciranda cujo mantra entoado por várias crianças sinaliza, paradoxalmente, a segurança e a maturidade deste artista surgido há 40 anos da lama febril da cidade de Caruaru. Liberdade para o Herói Trancado!

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