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segunda-feira, 27 de junho de 2011

[agência pirata] O SÃO JOÃO E O FISCAL DE SALIÊNCIAS



::txt::Xico Sá::

Reparo aqui no São João do Nordeste que está mesmo em extinção um dos ofícios mais difíceis. Você, muito jovem ou de outra geografia, há de dizer que o cronista bebeu demais na festa e agora delira. Não procede.

Caminha mesmo para o extermínio a função de fiscal de saliências de forró, mais conhecido como -desculpe aí pelo palavrório, mas é o nome verdadeiro- fiscal de pica. Um clássico dos salões de pé-de-serra.

O destemido sujeito ficava ali na tocaia, com uma varinha de marmeleiro na mão, pronto para flagrar e advertir os cabras safados que dançavam na paudurescência, digo, em riste, sexualmente alterados.

Isso é forró de família, seu peste, mantenha o respeito. Com um toque da varinha no tarado, o fiscal advertia cordialmente. A reincidência era punida com a expulsão da farra.

O Trio Nordestino, um dos melhores conjuntos de forró da história, fez até uma música sobre este nobre profissional: “O senhor tá dançando armado, eu vou falar pro delegado”.

E assim a modernidade, para o bem ou para o mal, vai ceifando muitos ofícios das antigas, como o rapaz da varinha moralista.

“Acabou a vergonha do mundo, meu filho”, comenta minha santa madre, dona Maria do Socorro, aqui no Cariri cearense.

O menino de recado, por exemplo, também foi para o espaço, substituído pela telefonia móvel.

E o jegue, amigo, não tem mais emprego depois da febre das motos. Graças a Deus, porque os nossos irmãozinhos eram muito maltratados pelos donos mais toscos.

Em compensação, meu caro, temos uma profissão novinha da silva, historicamente muito recente. Soube da sua existência pelo amigo Otto, sim, o viking do Agreste, o artista galego de Belo Jardim (PE).

Trata-se da cigana de rodoviária, uma profissa e tanto.

O ramo é simples. A cigana chega para um viajante, o coitado ainda cheio das confusões de São Paulo na cabeça, e desanda a acertar tudo sobre as suas desilusões recentes, suas contrariedades do juízo, as dívidas, seus amores deixados na poeira da estrada.

Otto descobriu porque tentaram lhe fazer de besta, em Aracaju, numa viagem ainda com a banda Mundo Livre S/A, anos 90.

O viajante se espanta, inclusive porque a madame vai na mosca e repete frases inteiras que ele acabara de dizer ao telefone da rodoviária.

E você sabe, amigo, o cabra lascado se ilude com o vento. A nova profissa mística então aproveita. Tira um bom troco do abestalhado passageiro. Se tiver amor no meio, danou-se, ela leva todas as economias do pobre freguês.

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