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sexta-feira, 12 de março de 2021

[mandachuva] PÕE A MÁSCARA, IDIOTA

 

:: txt :: Tiago Jucá ::

 
A RBS TV tem convocado durante o dia de hoje um aplauso coletivo às 19h30 desta sexta-feira em homenagem aos profissionais de saúde. Neste mesmo horário a emissora exibe o seu noticioso noturno, o RBS Notícias, e quer transmitir ao vivo as nossas felicitações. Palmas vindas da Serra, do Litoral, das Missões, dos Pampas, tudo junto e ao mesmo tempo. Showrnalismo, diria o Ungaretti.
 
Médicos, enfermeiros e demais trabalhadores merecem muito esse carinho, não há dúvida. Mas o que eles mais precisam neste momento é descanso. E também melhores salários para viver com dignidade, mais condições estruturais para exercer suas funções sem sofrimento e, principalmente, respeito de quem não se importa com o sacrifício diário a que eles estão se submetendo há um ano, agravado nas últimas semanas a um estado de colapso.
 
Da mídia burguesa espera-se o de sempre, que é defender os interesses de sua classe. A mesma empresa de comunicações que hoje pede nossos aplausos, nos últimos meses jamais levantou a bandeira de um lockdown geral e irrestrito para frear as mortes e aliviar as lotações em UTIs. Essa atitude seria a melhor homenagem a esses profissionais. Nem houve por parte da emissora uma sistemática campanha editorial exigindo do governo federal vacinação em massa
Porém o velho hábito de amansar a classe trabalhadora segue em curso, aquela coisa de O Funcionário do Mês, na eterna tentativa de evitar revoltas que resultem em greve, por exemplo. Conciliar opressores e oprimidos, tática bem feita nos governos Lula. Como bem diziam os Titãs, “bonificações aos bancários, congratulações para os banqueiros”
 
Não serei eu a pedir pra você não aplaudir esses heroicos profissionais. Nem sou eu o porta-voz das categorias da saúde, porém tenho convicção, mesmo sem provas, de que o melhor pra eles é você ficar em casa e seguir as recomendações sanitárias. Não adianta porra nenhuma bater palma de noite mas de dia circular sem máscara pelas ruas e parques da cidade ou escadas e elevadores do seu edifício. E se acaso é do tipinho que repete discursos negacionistas contra vacina e distanciamento social, ou aquele que concorda com as políticas de austeridade como a PEC que foi aprovada ontem, congelando o salário desses mesmo servidores até 2036, será muita hipocrisia de sua parte posar hoje de amigo da medicina.
 
Põe a máscara, idiota!

terça-feira, 8 de maio de 2012

[agência pirata] A CPI SERÁ UMA FEIRA DE VAIDADES






::txt::Arnaldo Jabor::

O País não pode ser dividido em "esquerda e direita", nem em corrupção e honestidade. Esta CPI que raia no sujo horizonte vai nos mostrar mais que essas dualidades simplistas. (Demóstenes foi um exemplo de perigosa 'ambivalência'; ladrões mais coerentes e sólidos se escandalizaram. Há no ódio a Demóstenes uma crítica velada a seu 'amadorismo'.) Veremos um desfile de perversões políticas e até sexuais que traçam um retrato mais complexo do País. Esquerda e direita dividia um mundo linear e óbvio. A esquerda achava que era sujeito da História, mas a Direita sempre soube que a História não tem sujeito; só "objeto" - o lucro.

Nossa vida social é movida por outras categorias. Há paranoicos, esquizofrênicos, histéricos - um vasto catálogo de patologias. Vejamos.

A burrice - Nelson Rodrigues dizia que a burrice é uma "força da natureza". Antigamente, os cretinos se escondiam pelos cantos, roídos de vergonha; hoje, andam de fronte alta e peito estufado. Nunca a estupidez fez tanto sucesso. Forrest Gump, o herói idiota do filme, foi o precursor; Bush seguiu-o e se orgulhava de sua ignorância. Uma vez em Yale, ele disse: "Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA." E nosso Lula que tem títulos de doutor 'honoris causa', se gabando de não ter lido nada? Inteligência é chato; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola. A burrice está na raiz do populismo. Para muitos, a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de "sagrado" na parvoíce dos pobres, uma 'sabedoria' primitiva que desmascara a mentira "de elite". A burrice é a ignorância em busca de 'sentido'; burrice no poder chama-se "fascismo".

A caretice - O careta é antes de tudo um forte. Está sempre atrás de certezas. Olha o mundo com um olho só e só vê o que já sabia. A caretice é uma posição política. A diversidade da vida é recusada como um desvio, a dúvida como fraqueza. Sua cara é uma careta - daí, o nome-, uma máscara fixa com uma única ideia na mente. Careta odeia novidades, ideias complexas. O careta é linear - tem princípio, meio e fim.

O careta tende mais para o que se chamava de "direita". Mas, há também muitos caretas de "esquerda", que querem uma sociedade sob controle, pois só eles sabem o que é bom para nós, os 'alienados'. Existe até o careta drogado, o 'bicho grilo' chamado "muito louco". Como disse alguém: "Pior que careta, só o "muito louco"...

A incompetência é uma maldição nacional, secular. Existe mais na chamada "esquerda" do que entre os "neoliberais". Os "ideológicos" não se interessam por nada prático, administrável, que chamam de 'epifenômenos' menores. Nada mais chato para eles do que a realidade, apesar de falarem nela o tempo todo. A realidade brasileira para eles é um delírio, com meia dúzia de "contradições" óbvias.

Antigamente, era 'latifúndio, burguesia nacional e imperialismo'. Agora, é a tentativa de tomar o Estado por dentro da democracia, instalando 'companheiros' oriundos da massa pelega no poder para fazer uma revoluçãozinha vulgar. Eles dizem que a 'competência' é perigosa porque pode ocultar uma política de direita, mascarar "táticas" do capitalismo. Leram um negocinho do Heidegger sobre a 'técnica' e usam-no para justificar suas trapalhadas gerenciais.

Mas, há mais...

A liberdade é outra doença que nos rói. Por um lado, é um ar puro que amamos depois de 21 anos de ditadura; por outro, provoca vertigens em gente que prefere a submissão. Poderosos sempre falam em democracia, mas muitos planejam impedir que a sociedade julgue o país. Se a crise nos atingir, a patuleia também vai sonhar com um bom tirano, um guia. De resto, a liberdade pode virar um vulgar produto de mercado - celebridades saltitantes e livres dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias: o sucesso sem trabalho, o marketing sexual, bundas querendo subir na vida, próteses de silicone na alma.

Imaginação falta-nos também. Não há. Na política, ela é vista como desvio da norma, como perigosa utopia que atrapalha a muralha patrimonialista que nos rege. Imaginação é considerada demagogia ou espetáculo barato. No Brasil, a política do espetáculo foi inventada por Jânio Quadros; Lula foi um bom aluno. Na CPI veremos shows esfuziantes.

O "passadismo rancoroso" é praticado por muitos esquerdistas renitentes. Vivem a nostalgia de heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhum projeto claro para o futuro, como se a vida social de hoje fosse a decadência de um passado que estava certo. Nacionalismo e terceiro-mundismo nascem daí: fome de voltar para a taba ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha.

A preguiça é um dos cacoetes mais comuns. Administrar dá trabalho. A burocracia nos defende da 'urgência', da 'emergência', ritmos desconhecidos entre nós, criando a vida pública em câmera lenta, onde a única coisa que acontece é que não acontece nada.

A vaidade também será visível na CPI, nos bigodes e cabelos acaju ou negros como a asa da graúna, visível também no amor ao luxo cafajeste de batucada em restaurantes de Paris, lanchas, vinhos de dez mil dólares e prostitutas em cargos de confiança.

A amizade é outro vício comum, que enlaça cinturas de jaquetões e batuca palmadinhas nas costas, justificando presentes de geladeiras, carrões e bilhões roubados.

Mas, há mais... há mais... Temos os egoístas, os psicopatas (muito em moda...), os "fracassomaníacos", temos as imensas multidões dos "babacas" (serei um deles?...), comandados pelos boçais, cafajestes, oportunistas, ladrões de todas as cores.

De modo que não podemos nos contentar com a velha dualidade "direita/esquerda". O mundo é muito mais vasto, oh "raimundos" e vagabundos!...

E mais - não podemos esquecer os batalhões que crescem a cada dia, os exércitos invencíveis: a brilhante plêiade dos "F.D.P.'s".

quarta-feira, 25 de abril de 2012

[agência pirata] CADEIA PRA OPINIÃO PÚBLICA





::txt::Guilherme Fiuza::

A popularidade de Dilma Rousseff bateu novo recorde, chegando a 77% de aprovação, segundo o Ibope. Não dá mais para dourar a pílula. Num cenário como esse, só resta adotar a solução proposta certa vez pelo colunista Tutty Vasques: cadeia para a opinião pública.

E cadeia por vadiagem.

Os especialistas do instituto de pesquisa explicaram a principal causa do impressionante índice: a queda de ministros em série, como nunca antes na história deste país, foi entendida como uma ofensiva de Dilma contra a corrupção.

Tudo bem que a opinião pública, distraída, não tenha notado Dilma correndo atrás do próprio rabo;
Que não tenha se dado conta de que todos os esquemas podres emanavam do padrão Dilma/PT de ocupação fisiológica do Estado;

Que não tenha atinado para o fato de que o modus operandi nos Transportes, no Turismo, nos Esportes, no Trabalho e em todos os outros ninhos parasitários vinha do governo Lula – onde a “coordenadora de todos os projetos” era ela mesma, a chefe da Casa Civil: Dilma Rousseff.

Eleita presidente, o que fez Dilma? Partilhou seu governo entre esses mesmos donatários, seus velhos conhecidos.

Tudo bem que a opinião pública, muito atarefada, não tenha visto nada disso.

Curioso é que não tenha visto também figuras como Carlos Lupi, já afundadas na lama, sendo sustentadas publicamente pela dona dos 77%.

“O passado passou, gente!”, tentou encerrar Dilma, quando o caso Lupi já estava exposto em toda a sua obscenidade – inclusive com flagrante fotográfico do ministro não-governamental.

Lupi só caiu porque a Comissão de Ética da Presidência carimbou a palavra “suspeito” na sua testa. Dilma ainda tentava enquadrar a Comissão, quando surgiu a notícia de que seu protegido tivera duplo emprego público.

Nota da redação: Lupi caiu, mas a rainha da faxina jurou de morte a Comissão de Ética (da qual nunca mais se ouviu falar).

A mordaça foi providencial, porque o consultor Fernando Pimentel, por exemplo, continua tranquilo em sua vida vegetativa no ministério – sem nenhum carimbo na testa.

Nota da redação (2): quem pagou a milionária consultoria fantasma de Pimentel foi o mesmo contratante da pesquisa consagradora para Dilma.

Chega de impunidade: se a presidenta faxineira é inocente, cadeia para a opinião pública.
A alternativa é seguir a recomendação eufórica do ex-presidente petista José Eduardo Dutra, comemorando os 77% de êxito do esquema com um brado poético: “Enfia o dedo e rasga!”
Como se vê, o Brasil está em boas mãos.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

[agência pirata] A FALÊNCIA MÚLTIPLA DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS



::txt::Arnaldo Jabor::

Os corruptos ajudam-nos a descobrir o País. Há sete anos, Roberto Jefferson nos abriu a cortina do mensalão. Agora, com a dupla personalidade de Demóstenes Torres, descortinamos rios e florestas e a imensa paisagem de Cachoeira. Jefferson teve uma importância ideológica.

Cachoeira é uma inovação sociológica. Cachoeira é uma aula magna de ciência política sobre o Sistema do País. Vamos aprender muito com essa crise. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras, de palavras que eclodiram diante de nossos olhos nas últimas semanas. Meu Deus, que riqueza, que profusão de cores e ritmos em nossa consciência política! Que fartura de novidades da sordidez social, tão fecunda quanto a beleza de nossas matas, cachoeiras, várzeas e flores.

Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por "bons motivos", pelo "bem do povo", na base dos "fins que justificam os meios". E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que o dominavam. Cachoeira é uma alegoria viva do patrimonialismo, a desgraça secular que devasta a história de nosso País. Sarney também seria 'didático', mas nada gruda nele, em seu terno de 'teflon'; no entanto, quem estudasse sua vida entenderia o retrato perfeito do atraso brasileiro dos últimos 50 anos.

Cachoeira é a verdade brasileira explícita, é o retrato do adultério permanente entre a coisa pública e privada, aperfeiçoado nos últimos dez anos, graças à maior invenção de Lula: a 'ingovernabilidade'.

Cachoeira é um acidente que rompeu a lisa aparência da 'normalidade' oficial do País. Sempre soubemos que os negócios entre governo e iniciativa privada vêm envenenados pelas eternas malandragens: invenção de despesas inúteis (como as lanchas do Ministério da Pesca), superfaturamento de compras, divisão de propinas, enfrentamento descarado de flagrantes, porque perder a dignidade vale a pena, se a grana for boa, cabeça erguida negando tudo, uns meses de humilhações ignoradas pelo cinismo e pela confiança de que a Justiça cega, surda e muda vai salvá-los. De resto, com a grana na 'cumbuca', as feridas cicatrizam logo.

O governo do PT desmoralizou o escândalo e Cachoeira é o monumento que Lula esculpiu. Lula inventou a ingovernabilidade em seu proveito pessoal. Não foi nem por estratégia política por um fim 'maior' - foi só para ele.

Achávamos a corrupção uma exceção, um pecado, mas hoje vemos que o PT transformou a corrupção em uma forma de governo, em um instrumento de trabalho. A corrupção pública e a privada é muito mais grave e lesiva que o tráfico de drogas.

Lula teve a esperteza de usar nossa anomalia secular em projeto de governo. Essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um novo e 'peronista' patrimonialismo de Estado.

Quando o paladino da moralidade Demóstenes ficou nu, foi uma mão na roda para dezenas de ladrões que moram no Congresso: "Se ele também rouba, vamos usá-lo como um Omo, um sabão em pó para nos lavar, vamos nos esconder atrás dele, vamos expor nosso escândalo por seu comportamento e, assim, seremos esquecidos!"

Os maiores assaltantes se horrorizaram, com boquinha de nojo e olhos em alvo: "Meu Deus... como ele pôde fazer isso?..."

Usam-no como um oportuno bode expiatório, mas ele é mais um 'boi de piranha' tardio, que vai na frente para a boiada se lavar atrás.

Demóstenes foi uma isca. O PT inventou a isca e foi o primeiro a mordê-la. "Otimo!" - berrou o famoso estalinista Rui Falcão - "Agora vamos revelar a farsa do mensalão!" - no mesmo tom em que o assassino iraniano disse que não houve holocausto. "Não houve o mensalão; foi a mídia que inventou, porque está comprada pela oposição!" Os neototalitários não desistem da repressão à imprensa democrática...

E foi o Lula que estimulou a CPI, mesmo prejudicando o governo de Dilma, que ele usa como faxineira também das performances midiáticas que cometeu em seu governo. Dilma está aborrecida. Ela não concorda que as investigações possam servir para que o Partido se vingue dos meios de comunicação e não quer paralisar o Congresso. Mas Lula não liga. "Ela que se vire..." - ele pensa em seu egoísmo, secretamente, até querendo que ela se dane, para ele voltar em 14. Agora, todo mundo está com medo, além da presidente. O PT está receoso - talvez vagamente arrependido. Pode voltar tudo: aloprados, caixas 2 falsas, a volta de Jefferson, Celso Daniel, tantas coisinhas miúdas... A CPI é um poço sem fundo. O PMDB, liderado pelo comandante do atraso Sarney, também está com medo. A velha raposa foi contra, pois sabe que merda não tem bússola e pode espirrar neles. Vejam o pânico de presidir o Conselho de Ética, conselho que tem membros com graves problema na Justiça. Se bem que é maravilhoso o povo saber que Renan, Jucá, Humberto Alves, Gim Argello, Collor serão os 'catões', os puros defensores da decência... Não é sublime tudo isso? Nunca antes, em nossa história, alianças tão espúrias tiveram o condão de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias. E eu estou otimista. Acho que tudo que ocorre vai nos ensinar muito. Há qualquer coisa de novo nessa imundície. O mundo atual demanda um pouco mais de decência política. Cachoeira, Jefferson, Durval Barbosa nos ensinam muito. Estamos progredindo, pois aparece mais a secular engrenagem latrinária que funciona abaixo dos esgotos da pátria. A verdade está nos intestinos da política.

Mas, o País é tão frágil, tão dependente de acasos, que vivemos com o suspense do julgamento do mensalão pelo STF.

Se o ministro Ricardo Lewandowski não terminar sua lenta leitura do processo, nada acontecerá e a Justiça estará desmoralizada para sempre.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

[agência pirata] NENHUM PAÍS É UMA ILHA



::txt::Fernando Gabeira::

Nenhum homem é uma ilha, dizia o poeta inglês John Donne, no século 17. No auge da globalização, é razoável afirmar que nenhum país e uma ilha.

Quando as coisas apertam o mundo, o Brasil tende a se ilhar, mentalmente. O Brasil é uma ilha de prosperidade, dizia o general Geisel. Tsunami econômico aqui não passa de marolinha, afirmava o presidente Lula.

O jornalista americano Michael Lewis acaba de concluir um livro - Boomerang, Viagens ao Novo Terceiro Mundo - sobre a Europa. Ele percorreu quatro países: Islândia, Irlanda, Grécia e Alemanha. Seu objetivo era extrair lições para os EUA. E concluiu que os americanos deveriam inquietar-se com a crise europeia, pois podem ser os próximos da fila.

Barack Obama e Dilma Rousseff têm feito constantes advertências aos líderes europeus. Alguns já reclamam por terem sido condenados a ouvir conselhos. É compreensível que os dois presidentes se inquietem com a crise europeia e a demora em achar saídas. Mas ambos, em níveis diferentes, têm de olhar a própria retaguarda.

A exemplo de Islândia, Grécia e Espanha, os EUA enfrentam manifestações de rua. Elas têm um objetivo vago, mas miram o sistema financeiro e suas relações com o governo.

No Brasil o tema é a corrupção, mas o núcleo de descontentes pode ampliar seu alcance em caso de crise econômica. E não só porque a corrupção se torna mais insuportável num quadro de crise. Outro fator potencial de protesto é o modo irracional de gastar o dinheiro público. Olhando por esse ângulo, o Brasil comporta-se como um novo-rico, alheio à tempestade que se aproxima.

Os fatos da semana fortalecem essa visão. A Câmara dos Deputados gastou R$ 13,9 milhões com telefone nos últimos oito meses. Se houvesse interesse, com a ajuda da tecnologia esses gastos poderiam ser reduzidos à metade. Os custos do Congresso aumentam, assim como aumenta a resistência a considerar a tese de que, sem perder a eficácia, eles poderiam ser reduzidos à metade. A Câmara tem uma televisão com equipamentos e equipe completa. A pouco mais de 300 metros dali, o Senado tem também uma televisão com equipamentos e equipe completa. Com bons editores, uma só televisão divulgaria todo o trabalho do Congresso e ainda sobraria tempo.

José Sarney declarou em entrevista que os privilégios parlamentares são um tributo à democracia. Os suecos, apesar de sua riqueza, considerariam um insulto à democracia. Basta examinar o tratamento que dão a seus parlamentares, que precisam lavar sua roupa e limpar, após usarem, a cozinha coletiva de seu prédio.

Na área do governo, os fatos também revelam indiferença pelos gastos inúteis. Essa tendência pode rastreada pelas manchetes dos jornais. O Ministério da Pesca surge como um generoso pagador da bolsa-defeso. Não há indícios de que conterá seus excessos. O da Saúde aparece gastando parte de sua verba com vale-transporte e até pista de skate. Enquanto isso ocorre, R$ 1,8 milhão enviado à reserva dos índios guaranis-caiuás parece ter sumido no caminho, pois os postos, segundo o Ministério Público, estão em estado de miséria. Já a reforma do Palácio do Planalto custou 43% acima do preço estimado inicialmente. Apesar de notas técnicas condenando os gastos, R$ 112 milhões foram pagos.

Tudo isso vem à tona na fase pós-escândalo dos Ministérios dos Transportes e do Turismo, áreas em que as cifras do dispêndio eram muito maiores. A visão corrente na base do governo é de que tudo é secundário e chega a ser comovente se importar com tais gastos, diante da complexidade do processo. O mantra é confiar no mercado interno, apoiar-se nele para continuar crescendo. No entanto, embora não seja alarmante, pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) diz que, entre os emergentes, o Brasil sofreu uma das mais fortes desaceleração do crescimento.

A presidente Dilma deve anunciar, dizem os jornais, um novo plano de investimentos. Ela quer estimular a economia. Grande parte dos investimentos que o País fará nos próximo anos é destinada à Copa do Mundo e à Olimpíada. É preciso muita confiança para supor que esse caminho não apresente riscos na crise. Não se trata apenas de calcular o custo de alguns elefantes brancos. Eles continuarão representando gastos de manutenção muito tempo depois de usados nesses eventos internacionais.

Não se pode dizer que o governo ignore o problema de gestão dos recursos. Dilma atraiu para sua equipe o empresário Jorge Gerdau, que investiu na modernização dos governos. O do Rio de Janeiro deve a ele grande parte do êxito em superar o atraso constrangedor das administrações anteriores. A presença de Gerdau indica, pelo menos, a existência de plano de longo alcance. Mas falta uma força-tarefa para as emergências.

Toda eleição presidencial discute os gastos com viagens, que rondam os R$ 800 milhões. Num tempo de teleconferências, e-mails, Skype, gastos com viagens poderiam ser reduzidos. Mas não se vê uma campanha para diminuí-los, com resultados transparentes.

Ao pedágio da corrupção soma-se o espírito de novo-rico, inspirado pelo crescimento econômico. É muito peso para voar em tempos difíceis. Os dois fatores se entrelaçam e ganham nova dimensão quando o foco está na Copa e na Olimpíada. O primeiro grande acontecimento, o sorteio das chaves, no Rio de Janeiro, revelou a amplitude dessa tendência perigosa. Estado e cidade gastaram, juntos, R$ 30 milhões. O aluguel de uma cadeira custou R$ 204, soma suficiente para comprar cadeira nova.

A racionalidade nos gastos é um remédio muito simples para a complexidade da crise. Outras grandes medidas se pedem aos estadistas. A vantagem do remédio está sobre a mesa: é só ter a coragem política de adotá-lo. Na verdade, o grande obstáculo para racionalizar os gastos é político. Uma configuração estática de governo torna a política não mais uma solução, mas parte da crise.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

[over12] SARNEY INOCENTA PALOCCI



::txt::Monseñor Jacá::

Quem viveu a década de 80 sabe o que significa o prezado senhor Ribamar. Pensando nas eleições pra governador/senador/deputados de 1986, Sarney criou o plano cruzado, congelou os preços de tudo e nos convocou para ser os seus fiscais no combate a inflação. Dos 22 governadores eleitos na época, 21 eram do PMDB, seu partido, e apenas 1 do PFL, seu aliado (entre os governadores eleitos estavam os queridos Moreira Franco, Pedro Simon, Orestes Quércia). Dias depois os preços voltaram a explodir e a inflação voltou aos seus passos de lebre. Lembro bem de meu pai gastando todo salário no supermercado no dia em que recebia, pois no outro dia já estaria mais caro.

Para ficar mais um ano no poder, Sarney deu inúmeras concessões de emissoras de rádio e televisão para dezenas de deputados. O latifúndio midiático de hoje é obra dele, o dito cujo, o carcará. Naquele tempo eu ainda acreditava em alguns políticos, e todos eles o tratavam como o diabo da política brasileira. Brizola, Gabeira, Roberto Freire, Mário Covas, Lula, Collares, Olívio Dutra, Fernando Henrique Cardoso, enfim, todos aqueles que pediram Diretas Já e apoiaram Lula contra Collor em 1989, eram taxativos sobre Sarney: "se ele está de um lado, nós estamos do outro".

Pois bem, fiz as contas, e notei que Sarney está no poder, com poucas e raras exceções, desde 1º de abril de 1964, fato que coloca todos os presidentes de lá pra cá no mesmo saco. Isso sem falar do Maranhão, onde ele e seus filhos e netos e sobrinhos mandam, comandam e desmandam também há décadas, e do Amapá, estado que o Godfather comprou pra ele.

Mas eu quero chegar é num fato atual. Não sei se Palocci está certo ou não, se é ilegal, imoral ou engorda. Tenho medo é de dois coisos: se Sarney diz que Palocci é inocente, é indício de ser exatamente o contrário. Dois: se Sarney diz que inocenta Palocci, é sinal que Palocci já está inocentado. E não discutimos mais isso.

terça-feira, 3 de maio de 2011

[CC] A CONTROVÉRSIA IDEOLÓGICA EM TORNO DOS DIREITOS AUTORAIS

::txt::Tùlio Vianna::

A indicação de Ana de Hollanda para ministra da Cultura do governo Dilma representou uma inesperada reviravolta na política de direitos autorais conduzida pelos ministros do governo Lula. Ao contrário do que seria esperado de um governo que foi eleito propondo dar continuidade ao projeto político anterior, o que se viu até agora foi um discurso revisionista, no qual ficam claras as divergências ideológicas com os ministros anteriores.

Ana de Hollanda não só determinou a retirada da licença Creative Commons do site institucional do Ministério da Cultura, como deu inúmeras declarações procurando justificar o atual modelo de direitos autorais brasileiro que foi tão criticado nas gestões dos ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira. Em entrevista à revista CartaCapital, a ministra valeu-se de um velho chavão do discurso autoral conservador para justificar sua posição: “Se o criador, seja de artes gráficas, música, literatura, teatro, dança, fotografia ou de qualquer outra área, perder o direito a receber pelo seu trabalho, vai viver do quê? Temos que entender isso como uma profissão, é quase uma questão trabalhista.”.

Ao contrário do que defende a ministra, porém, o direito autoral nada tem em comum com o direito trabalhista, assemelhando-se muito mais ao direito tributário, já que o que se pretende garantir não é uma remuneração por um trabalho prestado (como um espetáculo, por exemplo), mas sim, uma renda pela “propriedade” de uma obra. E é aqui que está o busílis ideológico dos direitos autorais: os conservadores insistem que o artista deva ser remunerado por meio de renda, uma espécie de imposto privado, pago ao artista pelo uso de sua obra; os defensores das mudanças entendem que o artista deva ser remunerado prioritariamente por suas apresentações, tal como qualquer trabalhador autônomo.

Os conservadores alegam que, sem o estímulo econômico da renda dos direitos autorais, os artistas não se sentiriam estimulados a produzirem novas obras, o que é uma falácia que pode ser facilmente rechaçada contrastando-a com a realidade social. A maioria dos músicos não recebe mais que 3% do valor pago em cada um de seus discos. Os 97% restantes servem para cobrir os custos de produção e distribuição do disco e, claro, para garantir os lucros das gravadoras. Em suma: o atravessador ganha muito mais direitos autorais que o próprio autor.

Para um músico em início de carreira ganhar um salário mínimo por mês com direitos autorais, precisaria vender cerca de 540 discos a R$33 cada no período, algo bem distante da realidade da maioria. Duplas sertanejas precisariam do dobro disso e uma banda com 5 membros precisaria vender nada menos que 2.700 discos por mês para que cada membro ganhasse um salário mínimo.

Claro que, se os músicos dependessem do estímulo econômico dos direitos autorais para produzirem, só teríamos músicos amadores. A principal fonte de remuneração dos músicos profissionais, no entanto, não é a renda dos direitos autorais, mas os cachês de seus shows. E aqui, paradoxalmente, a pirataria de CDs tem contribuído muito para aumentar a remuneração de novos talentos. Se, antes da internet, o músico dependia de um grande investimento da gravadora para se tornar conhecido e vender discos, hoje, a pirataria acaba cumprindo este papel de divulgação. Gente que não estaria disposta a pagar R$33 por um CD ouve a canção pirateada e acaba pagando pelo ingresso do show. Uma troca extremamente vantajosa para o músico que, com o aumento do público, pode aumentar o valor de seu cachê, mas péssima para a gravadora que lucra com a venda.

O modelo de remuneração do músico por meio da renda dos direitos autorais não se esgota, porém, na venda de discos. Há também a obtusa cobrança de direitos autorais pela simples execução da cançãoem ambientes públicos. No Brasil, a entidade responsável pela arrecadação desta espécie de imposto privado é o ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), uma sociedade civil de natureza privada, mas que age muitas vezes com ares de fiscal de tributos. Estes direitos autorais pela execução da canção são cobrados nas mais variadas e absurdas situações, como execuções de discos devidamente adquiridos em salas de espera de consultórios, academias de ginástica, hotéis, motéis, restaurantes, hospitais, shoppings, ônibus e em festas de casamento realizadas em salões alugados. Na prática, toda vez que uma música é tocada em local público, seja com fins lucrativos ou não, está lá o ECAD com seus tentáculos para arrecadar os direitos autorais.

Os valores arrecadados pelo ECAD são destinados, em sua maioria, a artistas consagrados, do Brasil e do exterior e representam parcela ainda menor de seus rendimentos do que os recebidos pela venda de CDs. Os direitos autorais do ECAD acabam tendo maior relevância para artistas que já pararam de produzir shows e novos álbuns, mas seus grandes sucessos do passado ainda tocam nos programas de “flashback” das rádios. Decididamente não são um estímulo à criação musical, servindo muito mais como uma aposentadoria para quem não recolheu o INSS, mas insiste em viver de renda.

Diante desta conjuntura do cenário musical, duas correntes ideológicas bem definidas acabaram por se formar: de um lado, as gravadoras, o ECAD e artistas consagrados do presente e do passado que insistem no modelo da remuneração por renda decorrente da exploração do que eles afirmam ser sua propriedade intelectual (uma espécie de imóvel que eles alugam para um número ilimitado de locatários); do outro, jovens artistas interessados em modelos mais modernos de divulgação de suas obras e o imenso público interessado em ter acesso ao maior número de canções possível, pagando para assistirem seus artistas favoritos ao vivo. Paradoxalmente, os conservadores afirmam que defendem um modelo que estimula a produção cultural, mas são justamente os artistas em início de carreira que defendem um modelo baseado na remuneração pelo trabalho e não por meio da renda dos direitos autorais.

As mudanças que foram propostas e discutidas na consulta pública do MinC, longe de representarem os anseios por reformas estruturais profundas na lei de direitos autorais, apresentavam-se como uma proposta conciliadora. Não se cogitou em acabar com o direito autoral e nem mesmo com o anacrônico ECAD até porque os tratados internacionais ratificados pelo Brasil vedariam estas mudanças mais profundas. O projeto não tinha nada de revolucionário, muito pelo contrário, era bastante tímido e previa apenas pequenos avanços como, por exemplo, a permissão para realizar a exibição de filmes sem intuito de lucro em estabelecimentos educacionais, sem a necessidade de pagar direitos autorais.

A ministra da Cultura, ao rejeitar um projeto tão acanhado logo nos primeiros meses de sua gestão, sinalizou de forma inequívoca sua posição ideológica contrária a quaisquer avanços na lei de direitos autorais. Esta postura é francamente contrária à proposta de governo de centro-esquerda da presidenta Dilma Rousseff, pois privilegia os interesses da indústria cultural e dos artistas já ricos e consagrados em detrimento da maior difusão da cultura e do estímulo aos novos talentos.

A sociedade civil reagiu com indignação a estes sinais de retrocesso e já se vê uma grande mobilização a favor das reformas na LDA. A indústria cultural insiste em seu discurso de defesa da propriedade, tal como fizeram os antigos senhores de escravos antes da Lei Áurea. No entanto, ser proprietário de uma canção começa a soar tão estranho como ser proprietário de uma pessoa. As gerações mais novas parecem não estar dispostas a aceitar o velho modelo de compra e venda de cultura. Resta saber se o governo da presidenta Dilma estará na vanguarda de um novo modelo para os direitos autorais ou nas últimas trincheiras da indústria cultural na defesa dos monopólios da distribuição da cultura.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

[agência pirata] BELO MONTE, A CRISE




::txt::Guilherme Fiuza::

O piloto automático de Dilma Rousseff está com aprovação de 73% dos brasileiros. A expectativa é grande para o que vai acontecer com esse índice quando a presidenta começar a governar.

O estilo “deixa estar, para ver como é que fica” é um sucesso. Mas eis que, diante do eterno abacaxi de Belo Monte, Dilma dá sinais de que finalmente mostrará quem é.

A OEA (Organização dos Estados Americanos) pediu a suspensão da licença de construção da hidrelétrica, em defesa das populações que serão atingidas pela barragem. Irritada, a presidenta determinou ao Itamaraty que reagisse “à altura”.

Estava demorando. O figurino Dilminha paz e amor até que resistiu bastante. Em algum momento ele ia se esgarçar. E para isso nem foi preciso uma crise de verdade.

Como se sabe, a usina de Belo Monte é um monstrengo – ambientalmente desastroso e economicamente estúpido. Mas, como também se sabe, o que a OEA diz ou deixa de dizer não tem a menor importância.

Aí entra em cena a habilidade política da grande gerente Dilma Rousseff. Diante do ganido da OEA, a presidenta ruge. E transforma o soluço em estrondo.

Atendendo à chefe, o Itamaraty solta uma nota classificando de “precipitadas e injustificáveis” as recomendações da OEA. Já seria exótico um governo batendo boca com um organismo obsoleto e desimportante, mas não parou aí.

Depois da nota, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, emendou uma declaração pública, avisando que o governo prepara uma resposta “ainda mais oficial”. Haja patriotismo.

Entre ações meio oficiais e muito oficiais, Dilma vai dando uma aula de como fermentar uma crise.

Belo Monte é um projeto aprovado a toque de caixa por Lula às vésperas das eleições, para embelezar a fantasia do PAC em favor de sua candidata.

O resultado é o projeto de uma usina antieconômica, em cujo lago vão afundar mais de 40 bilhões de reais em dinheiro do contribuinte – porque a iniciativa privada, obviamente, correu do mico.

Agora o mico está nas mãos certas. Se o presente era para a Mãe do PAC, ela que o embale.

Mas com toda essa gritaria oficial, vai ser difícil a criança dormir.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

[massa crítica] A HISTÓRIA DE UM SOBREVIVENTE

::txt::Luciano Viegas::

“Carro é sinônimo de status”, diz o antropólogo Roberto Da Matta.

A massa crítica é um evento mundial, que tem em comum, em todos os lugares, o objetivo de propor a bicicleta como um MEIO DE TRANSPORTE urbano viável.

É um evento que surge num momento histórico em que já existe um consenso de que o transporte individual, o carro, é insustentável, e nos guia em direção a um SUFOCAMENTO dentro das grandes cidades – e não estou nem falando da fumaça.

Mas calma aí, é um consenso pra quem? é preciso botar o dedo na cara dos verdadeiros culpados.

A grande mídia mundial faz desde sempre o jogo duplo da “imparcialidade”. ao mesmo tempo em que aponta os “danos da poluição, e blá blá blá”, é ESCRAVA DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA.

São as grandes marcas de automóveis que sustentam o “jornalismo dominante”, colocando montantes absurdos de dinheiro dentro dessas empresas. Elas estampam diariamente em seus jornais, ou mostram em seus intervalos comerciais, o carro “mais em conta” pro consumidor.

Então vamos dar nome aos bois:
RBS e RECORD (desculpe se eu esqueci de alguém, hehe), as duas grandes indústrias de notícias que apareceram ontem, imediatamente após o atropelamento de dezenas de pessoas, na José do Patrocínio.

A mídia é CÚMPLICE das feridas das 11 vítimas que precisaram ir ao hospital após serem arremessadas pra cima daquele golf preto.

E ainda têm coragem de dizer que foi um “acidente”? entendo “acidente” como algo que acontece por acaso.

Quem viu com os próprios olhos sabe que foi uma TENTATIVA DE CHACINA por parte de um indivíduo que representa a personificação da mentalidade dessa nossa sociedade do automóvel. Uma linha de pensamento que nivela as pessoas por quem tem mais dinheiro, se veste melhor e tem o carro do ano – crias da mesma mídia.

Não quero me passar por teórico da escola de frankfurt: a imprensa não é um fator único na construção desse pensamento hegemônico, mas alimenta a desigualdade sócio-econômica no imaginário dos seus consumidores – sim, porque o jornalismo é só mais um produto nessa liberdade pra escolher a cor da embalagem.

Logo após o crime, chegou a polícia. Antes mesmo do socorro ser prestado às vítimas, quatro robôs enfileirados empunhavam seus fuzis para a “proteção” dos envolvidos. Pois bem: O ESTADO TAMBÉM É CÚMPLICE do politraumatismo sofrido por um dos atropelados.
E parece que para o deslocamento da lendária “delegacia móvel” (que não apareceu), é necessário estar “morto e estaquiado no chão”, palavra de um deles. É preciso que alguém MORRA para que mudanças aconteçam – e olhe lá.

Nossos REPRESENTANTES no poder nunca priorizaram o planejamento urbano com a devida atenção que essa causa merece. Essa tentativa de assassinato é só o estopim de longos anos de políticas públicas voltadas em benefício dos automóveis, em detrimento dos trens, das bicicletas, das pessoas.

Essas fábricas se alastraram pelo mundo com total apoio dos governos locais, através dos seus incentivos fiscais (oi, Juscelino Kubitschek), do estímulo à compra para superar a crise financeira (e aí, Lulinha paz e amor). Tudo isso, é claro, desvinculado de qualquer preocupação educacional, como é de praxe no Brasil desde os tempos mais remotos.

As mesmas pessoas que em 2005 votaram “não” para o referendo que previa o desarmamento, sabem que não é necessário ter uma pistola e munição pra acabar com a vida de uma multidão de pessoas. Basta um golf preto.

Carro: a arma mais popular e acessível do século. E dá pra parcelar em até 96 vezes.

mais informações podem ser encontradas no site da Massa Crítica.

domingo, 16 de janeiro de 2011

[agência pirata] BELO MONTE

::txt::Ben Wikler::

Caros amigos,

O Presidente do IBAMA se demitiu ontem sob forte pressão para permitir a construção do desastroso Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, que iria devastar uma área imensa da Amazônia e expulsar milhares de pessoas. Proteja a Amazônia seus povos e suas espécies -- assine a petição para Presidente Dilma contra a barragem e pedindo eficiência energética:

O Presidente do IBAMA se demitiu ontem devido à pressão para autorizar a licença ambiental de um projeto que especialistas consideram um completo desastre ecológico: o Complexo Hidrelétrico de Belo Monte.

A mega usina de Belo Monte iria cavar um buraco maior que o Canal do Panamá no coração da Amazônia, alagando uma área imensa de floresta e expulsando milhares de indígenas da região. As empresas que irão lucrar com a barragem estão tentando atropelar as leis ambientais para começar as obras em poucas semanas.

A mudança de Presidência do IBAMA poderá abrir caminho para a concessão da licença – ou, se nós nos manifestarmos urgentemente, poderá marcar uma virada nesta história. Vamos aproveitar a oportunidade para dar uma escolha para a Presidente Dilma no seu pouco tempo de Presidência: chegou a hora de colocar as pessoas e o planeta em primeiro lugar. Assine a petição de emergência para Dilma parar Belo Monte – ela será entregue em Brasília, quando conseguirmos 150.000 assinaturas:

Abelardo Bayama Azevedo, que renunciou à Presidência do IBAMA, não é a primeira renúncia causada pela pressão para construir Belo Monte. Seu antecessor, Roberto Messias, também renunciou pelo mesmo motivo ano passado, e a própria Marina Silva também renunciou ao Ministério do Meio Ambiente por desafiar Belo Monte.

A Eletronorte, empresa que mais irá lucrar com Belo Monte, está demandando que o IBAMA libere a licença ambiental para começar as obras mesmo com o projeto apresentando graves irregularidades. Porém, em uma democracia, os interesses financeiros não podem passar por cima das proteções ambientais legais – ao menos não sem comprarem uma briga.

A hidrelétrica iria inundar 100.000 hectares da floresta, impactar centenas de quilômetros do Rio Xingu e expulsar mais de 40.000 pessoas, incluindo comunidades indígenas de várias etnias que dependem do Xingu para sua sobrevivência. O projeto de R$30 bilhões é tão economicamente arriscado que o governo precisou usar fundos de pensão e financiamento público para pagar a maior parte do investimento. Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, ela seria a menos produtiva, gerando apenas 10% da sua capacidade no período da seca, de julho a outubro.

Os defensores da barragem justificam o projeto dizendo que ele irá suprir as demandas de energia do Brasil. Porém, uma fonte de energia muito maior, mais ecológica e barata está disponível: a eficiência energética. Um estudo do WWF demonstra que somente a eficiência poderia economizar o equivalente a 14 Belo Montes até 2020. Todos se beneficiariam de um planejamento genuinamente verde, ao invés de poucas empresas e empreiteiras. Porém, são as empreiteiras que contratam lobistas e tem força política – a não ser claro, que um número suficiente de nós da sociedade, nos dispormos a erguer nossas vozes e nos mobilizar.

A construção de Belo Monte pode começar ainda em fevereiro.O Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, diz que a próxima licença será aprovada em breve, portanto temos pouco tempo para parar Belo Monte antes que as escavadeiras comecem a trabalhar. Vamos desafiar a Dilma no seu primeiro mês na presidência, com um chamado ensurdecedor para ela fazer a coisa certa: parar Belo Monte, assine agora.

Acreditamos em um Brasil do futuro, que trará progresso nas negociações climáticas e que irá unir países do norte e do sul, se tornando um mediador de bom senso e esperança na política global. Agora, esta esperança será depositada na Presidente Dilma. Vamos desafiá-la a rejeitar Belo Monte e buscar um caminho melhor. Nós a convidamos a honrar esta oportunidade, criando um futuro para todos nos, desde as tribos do Xingu às crianças dos centros urbanos, o qual todos nós podemos ter orgulho.

Com esperança!

domingo, 2 de janeiro de 2011

[agência pirata] LULA: R$ 10 BI EM PUBLICIDADE

::txt::Amanda Costa::

Em oito anos, Lula gastou quase R$ 10 bilhões em publicidade

Se propaganda é a alma do negócio, não à toa o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrará o mandato com uma aprovação popular recorde de 83%, segundo pesquisa do Instituto Datafolha. Em oito anos de mandato, Lula gastou pouco mais de R$ 9,3 bilhões dos cofres públicos no intuito de manter a sociedade informada sobre os atos de governo – em valores corrigidos pela inflação. Um balanço preliminar da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), divulgado na última semana, informa aplicações de R$ 1,1 bilhão em publicidade neste ano, apenas até o início de dezembro, uma média diária de R$ 3 milhões. A cifra refere-se a todos os ministérios, autarquias, fundações, empresas estatais e sociedades de economia mista.

A mídia mais procurada pelos órgãos públicos federais foi, mais uma vez, a televisão, que respondeu por R$ 707,2 milhões, ou 64% de todos os anúncios feitos neste ano (veja tabela). A publicidade nos jornais obteve investimentos de R$ 100,1 milhões, o que representa 9% dos gastos com propaganda. Bem próximo, os anúncios em rádios chegaram a quase R$ 100 milhões.

As revistas foram responsáveis por R$ 83 milhões. A Internet e os outdoors receberam anúncios de R$ 36,6 milhões e R$ 5,8 milhões, respectivamente. Já a publicidade governamental em cinema, mobiliário urbano, carro de som, telas digitais em shopping, elevadores, supermercados e aeroportos respondeu por R$ 68,4 milhões, ou 6% do total investido no período.

O órgão que mais desembolsou recursos neste ano com publicidade foi o Ministério da Saúde, que dispensou R$ 137,8 milhões para anúncios. Já as aplicações da Secom chegaram a R$ 100,8 milhões. Ministério das Cidades dispensou R$ 60,3 milhões. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aparece na quarta colocação, tendo um consumo publicitário de R$ 23 milhões. Um pouco mais abaixo na lista dos maiores investidores em mídia, a Infraero aplicou R$ 842,3 mil.

Na outra ponta, o Ministério do Trabalho e Emprego desembolsou R$ 363,2 mil, seguido do Banco Central com R$ 328,9 mil e da Eletrobras Eletronuclear com R$ 48 mil (veja tabela). O governo federal não divulga individualmente os gastos publicitários das estatais que concorrem no mercado sob o argumento de que a divulgação faria com que empresas como a Petrobras e o Banco do Brasil perdessem competitividade.

Apesar de não constarem os valores individuais, no cálculo global estão incluídas as aplicações em campanhas publicitárias de todos os órgãos da administração direta e indireta em ações de publicidade institucional e de utilidade pública. Os dados, contudo, não computam informações sobre publicidade legal, produção e patrocínio.

A publicidade institucional e a de utilidade pública, objetos do levantamento da Secom, diferenciam-se nos fins almejados. Enquanto a publicidade de utilidade pública prevê informar, orientar, prevenir ou alertar a população para que adote um comportamento específico, visando benefícios sociais, a publicidade institucional se limita a divulgar informações sobre atos, obras, programas, metas e resultados do órgão público.
Década

Em 10 anos, o maior valor registrado em anúncio publicitário foi no ano passado, quando o governo aplicou quase R$ 1,7 bilhão em campanhas. A média diária de investimentos chegou a R$ 4,6 milhões, recorde desde o início da década. A cifra representa um incremento de R$ 519,7 milhões na comparação com 2008, quando foi aplicado R$ 1,2 bilhão em propaganda. O principal responsável pelo acréscimo foi a Internet, que teve aumento de 101% no ano passado em relação a 2008. Em números, a Internet recebeu R$ 30,3 milhões a mais de investimentos em 2009.

A TV, por outro lado, teve um incremento de apenas 46% na comparação com 2008. Apesar do baixo crescimento se comparado a outros veículos, a televisão continuou sendo o carro-chefe da propaganda pública, com R$ 1,1 bilhão gasto, o que representou 63% do valor aplicado em publicidade no ano passado.

Na comparação entre os governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, a atual gestão sai ligeiramente na frente. Entre 2000 e 2002, FHC aplicou R$ 3,1 bilhões em publicidade, uma média de pouco mais de R$ 1 bilhão por ano. Já o presidente Lula, que dispensou R$ 9,3 bilhões durante oito anos, teve média anual de gastos estimada em quase R$ 1,2 bilhão.

Os dados sobre os investimentos em mídia do governo federal são fornecidos gratuitamente à Secretaria de Comunicação da Presidência pelo Instituto para Acompanhamento da Publicidade (IAP). O IAP, instituição sem fins lucrativos, é constituído por empresas de comunicação que prestam serviço de publicidade a órgãos e entidades do Poder Executivo Federal.

O balanço final dos anúncios publicitários referentes a 2010, de acordo com a Secom, só será divulgado em janeiro do próximo ano.

Expansão

De acordo com a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, 7.047 veículos – entre rádios, jornais, TVs e revistas – de 2.184 municípios estão incluídos no plano de mídia do governo federal e, portanto, aptos a divulgarem campanhas. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, a quantidade de veículos estava limitada a 499 em 182 cidades brasileiras.

Ao longo de seu mandato, o presidente Lula inovou e estabeleceu contatos diários com a imprensa, enviando recados a todos o país. Entre as criações midiáticas de Lula está o programa semanal de rádio “Café com o Presidente”, a coluna impressa “O presidente Responde”, além da publicação bimestral “Caderno Destaques” e o boletim diário “Em Questão”, que visa orientar a sociedade sobre as políticas públicas do Poder Executivo.

O cientista político e professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo, Fernando Azevedo ressalta que um dos princípios que rege as democracias modernas é a transparência e a prestação de contas do governo perante o cidadão. Neste sentido, portanto, a publicidade seria um instrumento de transparência governamental. Por outro lado, Azevedo não descarta a possibilidade de autopromoção de autoridades públicas. “A tendência é que os governos ampliem seus investimentos nessa área porque a divulgação governamental beneficia o partido ou a coalizão partidária que controla o governo”, avalia.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

[cc] A GUERRA ELEITORAL DAS MÍDIAS



::txt::Bruno Lima Rocha::

Entramos na reta final de um ano eleitoral e nos deparamos com algumas constatações de difícil digestão. Nas linhas que seguem abordamos um extrato destas, tomando a mídia como foco de análise.

Se o ano de 2009 encerrou-se com entusiasmo pontual com a realização da primeira Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), o corrente ano termina sem protagonismos distintos. A primeira, é inegável, é a derrota da coligação de centro-direita, encabeçada por José Serra (PSDB-SP) e secundada pelo jovem aspirante a porta-estandarte do lacerdismo udenista contemporâneo, Índio da Costa (DEM-RJ). Ao perder no pleito, a aliança tucano-democrata espelha a não realização da vontade política das quatro famílias controladoras dos maiores grupos de mídia operando no Brasil. As famílias, Marinho (Organizações Globo), Mesquita (Grupo Estado de São Paulo), Frias (Folha) e Civita (Grupo Abril) decidiram-se, de forma indireta ou estampada (como foi o caso do Estadão), no apoio do ex-governador de São Paulo para o Planalto. Negar isto é refutar o óbvio e, pontualmente, tal perda acarreta uma mudança pontual na balança do poder brasileiro.

Atenção. Refiro-me ao conflito de interesses entre as percepções imediatas da população - se sua vida piorou ou melhorou na comparação com oito anos - e o jogo de forças diante dos líderes empresariais na produção de bens simbólicos do gênero “jornalístico” e na formação da opinião pública “bem informada”. Nesta tensão, os agentes econômicos e políticos da indústria da comunicação social tentaram incidir na disputa através de argumentos “moralistas”, e apesar de obterem o segundo turno, perderam a corrida. Esta derrota deu-se também porque, na base da pirâmide social, não se alterou a maioria das linhas gerais demarcadoras das preferências traçadas através do senso comum e da escala de lealdades básicas. Estas são, a saber: a família; o círculo de sociabilidade cotidiano; se há ou não freqüência em Igrejas; a influência da (s) ideologia(s) circulante no mundo do trabalho; além da própria hiper-exposição midiática sobre os brasileiros.

O detalhe cruel para as mídias engajadas na campanha da oposição pode estar na possibilidade de que, apesar do consumo ainda excessivo de produções audiovisuais de tipo telenovela e programas de auditório, a influência dos telejornais tenha diminuído nas classes C e D, sendo insuficiente para derrotar a sensação (real) de mobilidade social e inclusão na cidadania capitalista, baseada na realização de direitos básicos e no mundo do consumo através do emprego formal e a explosão do crédito pessoal.

Se há algum consenso entre os partidários da teoria crítica nas ciências sociais brasileira de hoje, este pode se refletir nos dois parágrafos acima. O dissenso está (ou estaria) no grau de distanciamento (por esquerda) do governo atual (Luiz Inácio) e sua sucessora, em especial na pauta das comunicações. Cunhou-se o termo Partido da Imprensa Golpista (PIG), muito popular nos blogs mais à esquerda e entre os jornalistas ex-globais que publicam com freqüência e criatividade na internet. Mas, se as quatro famílias acima estariam intentando influir nos resultados da macro-política do governo (como seria o caso dos ataques à imagem da Petrobrás), o que dizer dos grupos empresariais vinculados à campanha de Dilma ou aos feitos de Lula? Como caracterizá-los sem fazer coro com a direita midiática? Uma boa denominação veio do jornalismo cultural de Porto Alegre, especificamente de Tiago Jucá, ex-editor da revista O DILÚVIO, o termo PIG 2, ou o Partido da Imprensa Governista.

A escalação do PIG2 é composta de referentes do jornalismo brasileiro tais como: Carta Capital (de Mino Carta); Terra Magazine (do editor Bob Fernandes, mas pertencente ao Grupo Telefônica de Espanha); os blogs de Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna (todos excelentes repórteres e que estão na folha de pagamento da Record, pertencente a Edir Macedo); isto sem falar em dezenas de portais respeitáveis, a começar pela Carta Maior, as revistas Fórum e Caros Amigos e os sites individuais. No final do segundo turno, até a Isto É, publicação semanal da Editora Três (família Alzugaray) começa a bater no governo de São Paulo, levantando suspeitas relevantes de falta de idoneidade na administração pública. Estas seriam as publicações que, uma vez alinhadas com o mandato de Luiz Inácio, defenderiam a sucessora contra o PIG e seus candidatos.

Não é difícil concordar com estar parte do consenso das esquerdas brasileiras ao bater na direita e não afirmar de maneira leviana que a coligação de centro-esquerda é idêntica a de centro-direita. Até aí tudo bem, mas como não atacar a imagem de Michel Temer (PMDB-SP), vice de Dilma (PT-RS)? Indo além, como não atacar as políticas de comunicação do governo Lula, cujo maior feito fora a aprovação do padrão japonês para o Sistema “Brasileiro” de TV Digital Terrestre?

No Brasil atual, uma parte (ainda minoritária, é verdade) da mídia empresarial conforma um bloco governista e sai vitoriosa das urnas em outubro. Ir a reboque de um governo de turno e não apostar em forças próprias já ocorrera antes, como na primeira metade da década de ’60, em especial no último ano do governo de João Goulart. Quando veio o golpe de 1º de abril de 1964, simplesmente não havia dispositivo de contra golpe organizado e nem sequer uma resistência popular à altura dos acontecimentos. Quando a militância, os setores críticos da academia e as entidades de exercício e direito a comunicação se vêem na adesão de um projeto político escorado em grupos empresariais consolidados, eis o conceito de reboquismo.


A capa da Última Hora após o suicídio de Getúlio Vargas é o exemplo vivo de como construir uma base de apoio do empresariado da mídia nacional e, desta forma, ao mesmo tempo em que se rompe parcialmente com o modelo oligárquico, reforça-se o mesmo.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

[cc] A FIRME CANETA DE HENRIQUE MEIRELLES



::txt::Bruno Lima Rocha::

Reflexões imediatas após a vitória de Dilma Rousseff: uma crítica pela esquerda mais à esquerda

No momento em que escrevo estas palavras, a economista Dilma Rousseff (PT) acaba de ser eleita como primeira mulher presidente do Brasil. A derrota da dobradinha “clássica” PSDB-DEM, José Serra e Índio da Costa, demonstra um novo arranjo político e de parcelas do poder no Brasil. Mas, a eleição da ex-ministra em chefe da Casa Civil não significa necessariamente um avanço por esquerda, longe disso. A coligação de dez legendas, tendo ao deputado federal pelo PMDB quercista de São Paulo Michel Temer como vice, representa por si só a ampla margem de negociação e desistência de perspectivas históricas do reformismo radical dos anos ’80. E agora?

A economista e ex-guerrilheira do COLINA e da VAR-Palmares governará sobre o terreno da política econômica assentada pela firme caneta de Mr. Meirelles, homem da banca internacional. Não por acaso o tema do endividamento público ficou fora da campanha, uma vez que era pauta consensual com o tucanato-udenista. Freios de agentes de veto como este(s), em nome dos banqueiros, dominarão a agenda política do novo mandato de melhorismo, uma centro-esquerda não classista.

Para além do óbvio, analisando a vitoriosa composição de aliança política e de classes.

O pensamento socializante brasileiro tem algumas constatações relevantes, para as quais aporto meu grão de areia nesta reflexão. Temos duas novidades neste pleito, duas dentre várias. Elegeu-se uma ex-guerrilheira e mulher (estando separada em sua vida conjugal) para chefiar o Poder Executivo da 5ª economia do mundo e o país líder latino-americano do G-20. Não é coisa de pouca monta. Ou não seria. Esta mesma operadora política, com grande capacidade de execução de agenda, viu-se obrigada (ou se obrigou dado o volume de compromissos) a abandonar temas de convicção consensual no que resta das esquerdas com perfil militante no Brasil. Em termos de reivindicação imediata, o 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, peça esta que Lula não assinara, traçaria um senso comum daqueles que entendem – ainda que por dentro do aparelho de Estado - como prioridade a divisão de recursos e de poder. Pois bem, esta mesma peça consensual e imediata, foi refutada, negada, afastada, retirada de pauta, por parte da candidata. Na ponta do problema, o tema do aborto, entrando pela porta dos fundos através dos factóides políticos e dos poderes de veto do obscurantismo nacional.

Não ficou por aí. A aliança da legenda de Luiz Inácio teve a “sabedoria” eleitoral de costurar com aqueles que serviram, em sua própria iniciação da vida política, de objeto de ódio na figura do inimigo visível. Sei que é chato, mas é inevitável lembrar o apoio dos oligarcas como Sarney, Jucá, Calheiros, Geddel & Cia ou o reforço de opinião de operadores pró-ditadura como o ex-ministro Delfim Netto ou o ex-reitor da Universidade Mackenzie do CCC, Cláudio Lembo; de agentes econômicos como os líderes do mercado financeiro, materializado nos bancos (FEBRABAN), na indústria automobilística (ANFAVEA), das transnacionais e mega-conglomerados nacionais de telecomunicações (SINDITELEBRASIL) capitaneados no Brasil pela Telefônica de Espanha e na fusão absurda que dera na BROi e após na compra de uma parte da nova super-empresa por parte da Portugal Telecom (PT). Não parou por aí.

Na mídia, frente de batalha prioritária no embate político-eleitoral, abriu-se uma cunha entre os líderes do oligopólio nacional das comunicações. Se por um lado as famílias, Marinho (Globo), Mesquita (Estado de SP), Frias (Folha de SP) e Civita (Abril-Naspers), de outro, grupos do porte da Rede Record, do portal Terra (Telefônica de Espanha), da estirpe da Carta Capital, no alinhamento recente do Grupo Três (Alzogaray, cujo veículo líder é a revista Istoé) e na posição rachada do empresariado dos radiofusores entre a ABERT (liderada pela Globo), e a ABRA (liderada pela Rede Bandeirantes, da família Saad). Ressalto este aspecto, pois a luta política migrara para o espaço midiático (que de público pouco ou nada tem) e a coligação governista sabiamente (espertamente, pragmaticamente) optou pela solução Getúlio Vargas encontrando o seu – no caso, os seus – Samuel Weiner. Poderíamos seguir narrando as composições com agentes econômicos líderes dos respectivos oligopólios do capitalismo operando e existente no Brasil, mas basta com ressaltar o perfil agro-exportador do Brasil e a relação mais que promíscua entre o Ministério da Agricultura e o latifúndio.

Para além do sectarismo, porque estamos piores organizados?

O que me assusta é o lado de cá do balcão. Lula deixa o poder conseguindo uma proeza paradoxal. Seria leviano dizer que os brasileiros e brasileiras vivem em condições piores do que a oito anos atrás. Não seria correto. Ao mesmo tempo, seria tão ou mais leviano afirmar que as forças sociais, muitas delas ainda tributárias do mesmo processo de reivindicações e protagonismo de luta popular dos anos ’80, a mesma matriz do PT e seu líder histórico, estão mais organizadas. Nossas entidades e movimentos populares estão piores organizados, mobilizam menos, milita-se menos, há um distanciamento muito maior entre dirigentes e bases, não têm uma entidade que seja transversal para os movimentos (como uma central ou confederação sindical mais à esquerda e livre das práticas do viciado aparelhismo e disputa sectária de correntes) e o próprio MST perde sua capacidade de liderança da luta popular uma vez que se esvai em posições tênues, abrandadas, e terminando por ir a reboque da União e do melhorismo. Para quem julga ser isto exagero deste analista, sugiro que leiam os embates na interna do jornal Brasil de Fato ou simplesmente converse entre a militância detentora de algum nível de responsabilidade.

Eleitoralmente, e esta não é a opção militante deste que escreve, os índices foram pífios. PSOL, PSTU, PCO e PCB não são a mesma coisa, tem diferenças de origens políticas (ressaltando-se este último) e tampouco representam alguma forma de consenso da esquerda que ainda crê na via eleitoral. Seus resultados sequer passam de 1% das intenções de voto e o escrutínio não veio acompanhado de um avançar de lutas sociais a ser galvanizada através da participação nas regras da democracia de tipo liberal e representativo. É difícil crescer eleitoralmente em conjunturas de pouca ou nenhuma mobilização e onde a tensão social está ausente da política.

Já da parte das organizações políticas que não optam pela via eleitoral por dentro do sistema – sendo esta a opção deste analista - o que se vê é uma grande chance de crescimento qualitativo, desde que seja explícito um projeto político para o curtíssimo e curto prazos (2 e 4 anos, respectivamente). Será necessária uma maturidade de outro tipo, quando as minorias ativas têm de compreender que a sensação popular é que suas vidas melhoraram, e ao mesmo tempo, os projetos de poder de transformação profunda estão mais distantes do que estavam no final dos anos ‘80 e, como um todo, o movimento popular brasileiro está muito mais confuso do que estava na segunda metade dos anos ’90, em pleno auge do neoliberalismo e da Era FHC.

Trata-se de um paradoxo de difícil compreensão para quem tem pressa – e é difícil fazer política apressadamente. De um lado a massificação reivindicativa se complica, uma vez que a sociedade como um todo (incluindo os setores de classe tradicionalmente organizados) está mais desorganizada, fragmentada e dispersa. De outro, o romper com as práticas viciadas e o manifestar de uma cultura política distinta pode e vem atraindo significativamente militantes com trajetória ilibada e que não concordam com as vias do legalismo-reformista (como a ilusão de fazer política radical através do Judiciário e do Ministério Público) e menos ainda com o compartilhamento de postos de poder tanto com inimigos históricos (como a leva de Arenistas presentes nos oito anos de Lula) e menos ainda com o espaço enorme dado e garantido a setores pelegos oriundos do sistema corporativo (como a Força Sindical, a CGTB e a recalcitrante UGT). O racha sindical que leva a construir a CTB é declaradamente uma peleia por recursos derivados da legalização das centrais sindicais e reflete também uma aproximação – em função de clivagem eleitoral – de PC do B e PSB. Romper com estas práticas é algo muito factível. A luta sindical abre um oceano de perspectivas de crescimento com qualidade da militância recrutada e é possível fazer desta uma via que dê oxigênio para as agrupações mais à esquerda e programaticamente distantes das urnas.

Apontando conclusões

É duro admitir que a guerrilheira que caiu de pé e não cantou sob tortura, resistindo com dignidade aos suplícios da Operação Bandeirantes e da estrutura do DOI-CODI do II Exército em São Paulo não representa sequer um projeto reformista. É mais duro ainda admitir que esta mesma pessoa, uma mulher, representa de por si uma quebra de paradigma. E, por fim, o mais duro de tudo é perceber a forma como se governou nos últimos oito anos e quanto esta prática política está distante da tensão social necessária para aumentar os níveis de organização popular para poder, de fato, acumular forças rumo a um câmbio profundo. Lula tem mais de 80% de aprovação é isto não implica (e nem poderia implicar) uma guinada à esquerda do povo brasileiro. Repito, é hora de refletir e buscar a consistência através de um crescimento qualitativo, rompendo com a cultura política viciada e dirigista.

Entender este momento e fazer política para ele é uma atitude construtiva. É diferente de afirmar que o melhorismo da coligação de centro-esquerda é idêntico da histeria de tipo udenista da coligação de centro-direita. Afirmar isso seria leviano e absurdo. Os projetos que chegaram ao segundo turno não são idênticos, e mesmo que através de Dilma as políticas sociais permaneçam, é preciso ter a firmeza e a maturidade para assumir que há governos de turno que melhoram a vida das maiorias e não constroem projetos de poder para estas mesmas maiorias serem donas de seus destinos. Este é o caso brasileiro e continuará sendo nos próximos quatro anos.

Se o objetivo determina o método segundo as condicionalidades, os sessenta dias restantes do ano servem para gerar a reflexão necessária a respeito das condições de existência e expansão da proposta que visa organizar desde abaixo, acumulando forças – através da luta popular em sua forma direta - no sentido da radicalização da democracia através de sua forma direta e participativa, socializando recursos e poder entre as maiorias. Fazer oposição por esquerda não é tarefa fácil. Há muito trabalho pela frente.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

[CC] MEMÓRIAS SONOLENTAS PARA ELEIÇÕES VIOLENTAS



::txt::Eugênio Bucci::

Nas eleições que correm, alguns veículos declararam seu apoio a um ou a outro candidato ao Planalto. Primeiro foi a revista CartaCapital, que afirmou sua preferência por Dilma Rousseff. O diário O Estado de S.Paulo, no domingo (26/9), manifestou-se favorável ao candidato tucano, José Serra.

Há um frisson em torno do tema. Mais que frisson. Os cabos eleitorais se excitam, exaltam-se, gritam de punhos cerrados, socando o ar. Acreditam que, com seus decibéis a mais, desmascaram as "mídias" tendenciosas que, finalmente, deram nomes a seus próprios bois. Discursam com fúria justiceira.

E vã. Rigorosamente, ninguém deveria perder muito tempo com isso. Desde os tempos da máquina de escrever, ou mesmo antes, desde os tempos do Lívio Xavier, de Rui Barbosa, e mais longe ainda, desde as eras de Hipólito da Costa, jornais no Brasil e no mundo tomam partido num debate ou noutro, às vezes discretamente, outras vezes com alarde. Também em eleições, claro. Há diários que cerram fileiras com um partido e não nominam candidatos. Outros, menos reservados, personalizam a questão e pedem voto num sujeito de carne, osso, nome e sobrenome. O que não contraria em nada a tradição jornalística. Desde que não contamine a cobertura honesta dos fatos, um editorial de apoio a uma campanha (cívica, eleitoral, militar, desportiva, o que for) não mata a credibilidade de ninguém. Antes o contrário: declarar abertamente a preferência partidária, ao menos nas condições normais de temperatura e pressão, é uma forma de jogar mais limpo com o leitor.

Só o que é preciso é saber que não estamos diante de um imperativo incontornável. A imprensa conhece mil maneiras de se posicionar – ou de não se posicionar. Mil maneiras e mais outras mil. Só é preciso saber que os jornais têm o direito de declarar ou de não declarar em quem os seus dirigentes pretendem votar, assim como têm também o direito de não declarar coisa alguma. A declaração de voto não é obrigatória, assim como não é errada. Um diário pode, com toda a legitimidade, preferir não tomar partido – ainda que sua cobertura sugira uma inclinação para esse lado ou aquele lado da disputa. Se essa inclinação ferir ou frustrar a justa expectativa dos leitores, o problema é desse jornal. Ele terá que pagar o preço pelas forçadas de mão.

Não há neutralidade na imprensa, já se sabe desde a invenção da escrita. O que pode haver, se quisermos ser otimistas, é um pouco de objetividade (no sentido de fazer com que o relato decorra mais do objeto que é a pauta e menos do sujeito que a escreve). O que pode haver é boa fé. O que pode haver é transparência. Agora: declarar voto não é sinônimo automático de transparência. Assim como é possível mentir dizendo só (fragmentos d’) a verdade ("a verdade é seu dom de iludir"), é possível ser opaco e traiçoeiro declarando voto a todo momento.

Nessa matéria, vale repetir, não há receita universal. A única receita é o respeito pela autonomia de cada um e pelo público leitor. Cada órgão jornalístico é autônomo para decidir sobre o modo de se conduzir – e a instituição da imprensa será tanto mais saudável quanto mais diversidade comportar. No mais, cada um que resolva o pacto que quer firmar – e respeitar – com o seu público. É assim que funciona. Aliás, é só assim que funciona.

Essa confusão dos diabos

Bem, mas, se é assim, por que o frisson inútil?

Em parte, porque as paixões partidárias, na falta de outras, apimentam o ambiente, e o pessoal se diverte. É mais ou menos como ir brigar num fim de baile na cidade de Igarapava, às três da manhã. Falta de sono. Falta de coisa melhor para fazer. Há uma certa sanha hormonal nessa história, embora as ideologias não se saibam porosas aos hormônios. O sujeito se inflama – e com isso experimenta um gozo que julga ser secreto. O outro fala em golpismo e se vê virando estátua no museu da revolução. Um terceiro se dá ares de indignação santificada, e surge aquele que se pretende imolar nas rotativas. A coisa toda é imaginariamente sangrenta, mas, no fundo, a coisa toda é muito mais simples. É natural, quero dizer, essa gritaria cheia de afetações fundamentalistas de um lado a outro, essa teatralização tanto dos que vêem atentado contra a democracia numa manchete e como dos que vêem golpe de Estado nos desaforos que o presidente da República pronuncia – tudo isso é natural, ainda que artificial. É do jogo, ainda que possa ferir a regra do jogo. Está na conta, ainda que subtraia quando prometa somar. É previsível, ainda que nos pregue sustos.

As ondas de raiva irrompem porque a polarização foi longe demais. Nem tão longe como na Venezuela, mas foi longe demais entre nós. Falta-nos serenidade. Tanto nos falta que, nesse momento, quem defende a serenidade passa por demagogo. Eu, como partidário convicto do movimento minoritário pela serenidade, ainda que demagógico, insisto: nada de novo sob o sol.

As lembranças que nos escapam

Não estou bem certo se já disse isso nos parágrafos anteriores, mas já faz muito tempo que jornais tomam partido em eleições. Deveríamos puxar pela memória, se é que temos alguma, e deveríamos pegar mais leve.

Eu me lembro que, em 2000, o mesmo Estadão que agora vai de Serra, foi de Marta Suplicy quando ela disputou a prefeitura de São Paulo contra Paulo Maluf. O meu ponto forte não é a memória – é o esquecimento. Não obstante, eu me lembro bem desse editorial, e fui buscá-lo em arquivos que estão aí à disposição dos mortais comuns. Era um bom editorial, aquele de dez anos atrás. Vamos a ele, ou, melhor, retornemos a ele. Ou, melhor ainda, retornemos a algumas passagens dele. Foi publicado na edição de 3 de outubro de 2000 de O Estado de S. Paulo.

"Um balanço positivo

"A ida de Paulo Maluf ao segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo – por uma diferença de 7.691 sufrágios, em mais de 5,5 milhões de votos depositados – é apenas uma ofuscante exceção nos resultados que – tomados em conjunto – podem ser considerados auspiciosos do pleito de domingo.

"O primeiro deles foi o pleno êxito da informatização do processo em todo o território eleitoral. Trata-se de uma verdadeira proeza, dadas as dimensões e a diversidade do País e o baixo índice de escolaridade da maioria do eleitorado brasileiro. Graças à votação e à apuração eletrônica, a fraude eleitoral foi, afinal, definitivamente riscada do mapa político brasileiro. Esse, literalmente, é um acontecimento histórico.

"Auspiciosos também podem ser considerados os resultados apurados pelo TSE nos médios e grandes municípios, nos quais se concentra a grande maioria do eleitorado, na medida em que não deixam qualquer dúvida sobre o amadurecimento da sociedade brasileira. Embora tivesse todos os motivos para fazê-lo, o povo não deu as costas à política, nem votou a esmo, apenas por obrigação, como se os candidatos fossem todos ‘farinha do mesmo saco’. Dando uma demonstração de discernimento que desmente os eternos céticos, para os quais ‘o povo não sabe votar’, os eleitores escolheram candidatos e partidos segundo critérios pragmáticos, estritamente vinculados à aspiração de ver melhoradas as condições de vida em suas cidades.

(...)

"Se o PT colheu bons resultados nos municípios com mais de 200 mil eleitores, onde haverá segundo turno, é exatamente porque, em vez de ‘federalizar’ o pleito municipal, os candidatos petistas colocaram a ética no topo de suas propostas eleitorais. Outros partidos também fizeram praça dos compromissos com a moralidade administrativa, mas o PT teve a respaldá-lo uma inequívoca tradição de combate às maracutaias com o dinheiro do contribuinte e de honestidade no exercício de cargos executivos.

"Mais de 2,1 milhões de paulistanos deram à petista Marta Suplicy 38% dos votos válidos porque ela e seu partido passaram a ser percebidos como a encarnação do antimalufismo. Outro não foi o motivo pelo qual o PT acaba de conquistar 16 cadeiras na Câmara Municipal de São Paulo (ante 10 há quatro anos), enquanto o PPB de Maluf, que elegera 19 vereadores em 1996, agora não foi além de 5. É pouco provável, porém, que o PT tivesse se saído como se saiu desta vez, pelo País afora, se o seu empenho em defesa da ética no governo continuasse a coexistir com o sectarismo e o rancor radical que dele sempre afugentaram parcelas ponderáveis do eleitorado.

"O PT vitorioso anteontem, a rigor, é ‘o PT que diz sim’: ao menos na esfera municipal, seus candidatos procuraram abrir-se ao diálogo, prometeram sepultar preconceitos, trataram de apresentar soluções inovadoras e, ao falar em ‘austeridade’, referiam-se não apenas ao manejo honesto dos recursos, mas também à administração responsável das finanças públicas –contra o que se insurgem, em escala nacional, os interesses corporativos cuja expressão política por excelência ainda é o próprio PT.

"Seja como for, o ‘centro civilizado’ de São Paulo, para quem o PT raramente é a primeira escolha eleitoral, só pode dar o seu voto a Marta Suplicy no segundo turno, ainda que nada haja em seu currículo que garanta sua competência como administradora da coisa pública. Entre ela e Maluf, o eleitor preocupado com a moralização dos costumes políticos não pode hesitar. 

(...)

"São Paulo espera do governador Mario Covas e do PSDB a grandeza de uma manifestação imediata em apoio da candidata contra quem o político ‘nefasto’ – a expressão é de Marta Suplicy – recorrerá a tudo nesta segunda campanha."

Além de apoio, voto de confiança

Foi um editorial que marcou meu precaríssimo reservatório de lembranças. Um editorial favorável ao PT. Favorável à defesa da bandeira da ética na política, àquela época encarnada no PT. E a boa vontade dos editorialistas do jornal voltou à carga logo após o segundo turno, no dia 1º de novembro de 2000, num outro texto marcante.

"Crédito de confiança

"Se, por uma fatalidade, o candidato Paulo Maluf – que representa tudo o que este jornal repudia em matéria de costumes políticos e administrativos – tivesse vencido a eleição para prefeito de São Paulo, ainda assim o Estado iria torcer para que ele fizesse um bom governo, apesar dos justificados receios de que essa esperança dificilmente se concretizaria. Isso porque, como já assinalamos outras vezes neste espaço, os princípios pelos quais se orienta a linha do jornal excluem qualquer desejo mórbido de que fracassem os governantes dos quais diverge, descalabro. Se assim é, só cabe fazer votos para que se confirmem as expectativas favoráveis dos eleitores dos novos prefeitos do PT, não obstante as profundas diferenças ideológicas que sempre nos separaram do partido.

(...)

"Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, (...), respondendo a uma pergunta sobre os limites das negociações que manterá com os vereadores paulistanos disse: ‘Não farei nada que não possa sair na imprensa.’ Pode ser – apenas pode ser – que algo de muito novo esteja começando em São Paulo. A nova prefeita de São Paulo vem mostrando boas atitudes."

(Engraçado como o tempo passa e ao mesmo tempo não passa. Enquanto escrevo estas maltraçadas, vejo Maluf, ele mesmo, no horário eleitoral: "Bias abigas e beus abigos". Nada de novo sob o sol.)

Voltando ao ano 2000, pelo que me lembro, naquele tempo, não se falava em "golpe" – embora, como avisei há pouco, se não me falha a memória, a memória não seja exatamente o meu forte. O jornal deu sua opinião. Cravou sua posição. Apoiou uma candidata, apoiou-a resolutamente. Também não me recordo de registros de que tenha sido acusado, por isso, de distorcer seu noticiário. Os tempos mudam. As pessoas mudam. O humano esquece. Eu é que, justamente por não ser bom de memória, às vezes me esqueço de esquecer.

Um post scriptum em sentido inverso

As investidas de Lula contra os jornais foram tão contundentes, tão perfuro-cortantes, que roubaram a cena. Roubaram, digo, com todo o respeito. Por terem roubado (com todo o respeito) a cena, saiu de cena a comparação entre Dilma e Serra, que são os dois concorrentes aptos a receber votos. Mas se a nossa memória nos lembrasse de que são eles, Dilma e Serra, que disputam o voto, nós iríamos comparar um com o outro, também no que se refere ao trato com a imprensa.

O resultado da comparação seria engraçado. Muito se acusa a candidata Dilma Rousseff de querer censurar jornalistas, mas, no plano dos fatos, é José Serra quem briga com repórteres. Ele já interpelou agressivamente jornalistas da TV Brasil, alegando que as perguntas eram orientadas eleitoralmente, como no episódio de falta d’água em São Paulo (foi numa terça-feira, 9 de fevereiro de 2010). Antes e depois disso, foi protagonista de outros atritos.

Em setembro, no dia 15, uma quarta-feira, quem apanhou foi a jornalista Márcia Peltier, na gravação do programa Jogo do Poder, da CNT, se a memória não me sabota. Ela indagava sobre a quebra do sigilo na receita e sobre o mau desempenho do tucano nas pesquisas, e o tucano perdeu as estribeiras. Conforme relato do repórter Marcio Allemand, no site de O Globo, Serra afirmou que estavam "perdendo tempo" ali com a repetição de "argumentos do PT" que são "fajutos". Houve uma interrupção na gravação, que foi retomada em seguida, depois de breve diálogo, sem holofotes nem câmeras.

Apenas para que fique anotado: em matéria de fustigar a imprensa, o presidente da República segue imbatível, mas, quando se compara o candidato do PSDB com a candidata do PT, Serra dá sinais de ser bem menos paciente com entrevistadores que o contrariem. No entanto, é ela quem leva a fama. Ah, sim, a memória me avisa que foi o programa de governo dela, e não o dele, que, nas primeiras versões, atacava o jornalismo. Mas depois o trecho de media criticism do programa de Dilma foi deixado de lado. Foi esquecido. Alguém se lembra?

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

[o inimigo do rei] PARTIDO TRABALHADOR



::txt::Martins Freire Lustrador::
::ntrdç::Tiago Jucá::

Esses dias, Rodrigo "Chaves" Jacobus fez uma de suas costumeiras visitas à redação dO DILÚVIO. Diz ele pra mim: "Mandachuva, te trouxe um presente, umas edições do O Inimigo do Rei, jornal que circulou a partir do final dos anos 70". Guardei o regalo, e deixei pra ler depois, com calma. Não pude deixar de rir já no primeiro sinal de manifestação de intenções do dito cujo: "um jornal antimonarquista", em época que a ditadura nem sonhava em ser a ditabranda. O pau comia até o atual presidente da república, personagem central do texto abaixo, do Lustrador, de setembro de 1979.

Há coisas ditas a 31 anos atrás que ou são proféticas ou são exatamente o contrário. O autor duvida que Lula consiga ter sucesso na criação de um partido somente de trabalhadores, mas já indica as ligações políticas do futuro partido com o MDB, hoje carne e unha da governabilidade.

Há também dentro do texto uma citação da Folha, um comentário hilário do periódico sampaulistano de quem um dia seria oposição "imparcial". Ahh, o tempo, meu amigo, o tempo.




Partido Trabalhador

Não faltasse a série de barbitúricos para adormecer e desviar o trabalhador da luta sindical direta, de enorme importância no momento e um grupo de “profetas illuminados”, inventou mais um.

O tal de partido trabalhador.

O que seja tal ajuntamento, nem os autênticos operários sabem ao certo.

Quando isso afirmamos excluímos, naturalmente, o “grupo de iluminados”, no qual pontifica o sabidíssimo “Lula”.

É através de seus pronunciamentos ou mais certeiramente através de suas “brizoladas”, de que vamos nos apercebendo o que venha ser tal agrupamento político, o denominado PT.

Inicialmente afirmou “Lula”, que o tal partido dos trabalhadores não visava a conquista do poder. Foi um Deus nos acuda, um corre no galinheiro que pega pra capar em chiqueiro de roça.

Seria o primeiro partido do brasil a não querer o poder. Algo assim como a roda quachada.

O “Lula” alertado em relação à “mancada”, muito timidamente retornou à ribalta e, como o menino que fez pipi nas calças na hora de recitar poesia, deu o dito por não dito, e o assunto caiu no esquecimento.

Muitos mais tarde, depois de inúmeras andanças, nas quais não faltaram afirmações de que o PT seria fundado, constituído e dirigido somente por trabalhadores, Luís Inácio deu violentíssima marcha a ré e delta falação, dizendo que alguns componentes do MDB poderiam fazer parte da agremiação política.

A partir desse fato, as águas ficaram muito mais claras. Ora, sabemos que o Luís Inácio não é suficientemente “tapado” para desconhecer que a lei orgânica eleitoral da ditadura em vigor estabelece que para fundação de qualquer partido é necessário um manifesto contando com assinatura de 10% de senadores e mais 10% dos deputados federais o que torna inviável a formação de um partido exclusivamente de trabalhadores.

Evidente que no presente caso teria que contar com a classe burguesa, pois a troco de que iriam deputados e senadores pedir a formação de um partido, senão fosse para se constituir em vanguarda dirigente. Salvo a hipótese de que a lei fosse modificada.

Agora, porém, o trapesista “Lula”, dá seu salto mortal, declarando que “não poderia separar a criação do PT daquele pessoal consequente do MDB que a imprensa chama de autênticos”, e que o PT “só vai aceitar quem não detem os meios de produção, que não são empregadores”. “Os dirigentes sindicais que defendem a formação do PT chegaram a conclusão de que devem participar politicamente por que dentro da atual estrutura sindical já tentaram fazer tudo para melhorar a situação do trabalhador, não conseguindo”. (Folha de São Paulo, 19,08,79).

Os “sábios iluminados” na melhor tradição paternalista, autoritária, confabularam e decidiram, as bases, os companheiros de fábricas, indústria, etc que escutem e acatem.

Estamos vendo como quinze anos de ditadura acabou formando uma série de discípulos proletários, decididos na continuidade do “cale a boca” e do “faça o que mando”.

Entretanto, os ventos que estão soprando nas hostes operárias indicam que os rumos são outros.

Desde a posse do general Figueiredo eclodiram no país 83 greves, envolvendo 1 milhão e duzentos mil operários, muitas delas feitas contra o desejo das diretorias sindicais quase sempre apelegadas e temorosas de perderem os mandatos expresso em assembleias gerais.

Há um trabalho pertinaz a ser executado na esfera sindical, visando à modificação da estrutura fascista, e não será, naturalmente o “Lula”, pessoa interessada nessa luta, pois seus objetivo claro agora é o de resolver seu problema pessoal se candidatando ao cargo de deputado pelo hipotético PT, e assim afastar a ameaça de voltar a ser operário metalúrgico.

E isso será efetivado através do PT. O diabo é que nesse momento de pseudo abertura uma série de partidos estão se autoproclamando como autênticos partidos dos trabalhadores. É o PC do senil Carlos Prestes, o PCBR do ressuscitado João Amazonas, o PTB do gozador Leonel Brizola e o PSB. Todos se proclamando a vanguarda operária. É vanguarda em demasia para tão escassa retaguarda. E é certo que os operários sofridos e curtidos na duríssima luta sindical não embarcarão nessas canoas furadas.

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