#CADÊ MEU CHINELO?

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sexta-feira, 1 de outubro de 2010

[CC] MEMÓRIAS SONOLENTAS PARA ELEIÇÕES VIOLENTAS



::txt::Eugênio Bucci::

Nas eleições que correm, alguns veículos declararam seu apoio a um ou a outro candidato ao Planalto. Primeiro foi a revista CartaCapital, que afirmou sua preferência por Dilma Rousseff. O diário O Estado de S.Paulo, no domingo (26/9), manifestou-se favorável ao candidato tucano, José Serra.

Há um frisson em torno do tema. Mais que frisson. Os cabos eleitorais se excitam, exaltam-se, gritam de punhos cerrados, socando o ar. Acreditam que, com seus decibéis a mais, desmascaram as "mídias" tendenciosas que, finalmente, deram nomes a seus próprios bois. Discursam com fúria justiceira.

E vã. Rigorosamente, ninguém deveria perder muito tempo com isso. Desde os tempos da máquina de escrever, ou mesmo antes, desde os tempos do Lívio Xavier, de Rui Barbosa, e mais longe ainda, desde as eras de Hipólito da Costa, jornais no Brasil e no mundo tomam partido num debate ou noutro, às vezes discretamente, outras vezes com alarde. Também em eleições, claro. Há diários que cerram fileiras com um partido e não nominam candidatos. Outros, menos reservados, personalizam a questão e pedem voto num sujeito de carne, osso, nome e sobrenome. O que não contraria em nada a tradição jornalística. Desde que não contamine a cobertura honesta dos fatos, um editorial de apoio a uma campanha (cívica, eleitoral, militar, desportiva, o que for) não mata a credibilidade de ninguém. Antes o contrário: declarar abertamente a preferência partidária, ao menos nas condições normais de temperatura e pressão, é uma forma de jogar mais limpo com o leitor.

Só o que é preciso é saber que não estamos diante de um imperativo incontornável. A imprensa conhece mil maneiras de se posicionar – ou de não se posicionar. Mil maneiras e mais outras mil. Só é preciso saber que os jornais têm o direito de declarar ou de não declarar em quem os seus dirigentes pretendem votar, assim como têm também o direito de não declarar coisa alguma. A declaração de voto não é obrigatória, assim como não é errada. Um diário pode, com toda a legitimidade, preferir não tomar partido – ainda que sua cobertura sugira uma inclinação para esse lado ou aquele lado da disputa. Se essa inclinação ferir ou frustrar a justa expectativa dos leitores, o problema é desse jornal. Ele terá que pagar o preço pelas forçadas de mão.

Não há neutralidade na imprensa, já se sabe desde a invenção da escrita. O que pode haver, se quisermos ser otimistas, é um pouco de objetividade (no sentido de fazer com que o relato decorra mais do objeto que é a pauta e menos do sujeito que a escreve). O que pode haver é boa fé. O que pode haver é transparência. Agora: declarar voto não é sinônimo automático de transparência. Assim como é possível mentir dizendo só (fragmentos d’) a verdade ("a verdade é seu dom de iludir"), é possível ser opaco e traiçoeiro declarando voto a todo momento.

Nessa matéria, vale repetir, não há receita universal. A única receita é o respeito pela autonomia de cada um e pelo público leitor. Cada órgão jornalístico é autônomo para decidir sobre o modo de se conduzir – e a instituição da imprensa será tanto mais saudável quanto mais diversidade comportar. No mais, cada um que resolva o pacto que quer firmar – e respeitar – com o seu público. É assim que funciona. Aliás, é só assim que funciona.

Essa confusão dos diabos

Bem, mas, se é assim, por que o frisson inútil?

Em parte, porque as paixões partidárias, na falta de outras, apimentam o ambiente, e o pessoal se diverte. É mais ou menos como ir brigar num fim de baile na cidade de Igarapava, às três da manhã. Falta de sono. Falta de coisa melhor para fazer. Há uma certa sanha hormonal nessa história, embora as ideologias não se saibam porosas aos hormônios. O sujeito se inflama – e com isso experimenta um gozo que julga ser secreto. O outro fala em golpismo e se vê virando estátua no museu da revolução. Um terceiro se dá ares de indignação santificada, e surge aquele que se pretende imolar nas rotativas. A coisa toda é imaginariamente sangrenta, mas, no fundo, a coisa toda é muito mais simples. É natural, quero dizer, essa gritaria cheia de afetações fundamentalistas de um lado a outro, essa teatralização tanto dos que vêem atentado contra a democracia numa manchete e como dos que vêem golpe de Estado nos desaforos que o presidente da República pronuncia – tudo isso é natural, ainda que artificial. É do jogo, ainda que possa ferir a regra do jogo. Está na conta, ainda que subtraia quando prometa somar. É previsível, ainda que nos pregue sustos.

As ondas de raiva irrompem porque a polarização foi longe demais. Nem tão longe como na Venezuela, mas foi longe demais entre nós. Falta-nos serenidade. Tanto nos falta que, nesse momento, quem defende a serenidade passa por demagogo. Eu, como partidário convicto do movimento minoritário pela serenidade, ainda que demagógico, insisto: nada de novo sob o sol.

As lembranças que nos escapam

Não estou bem certo se já disse isso nos parágrafos anteriores, mas já faz muito tempo que jornais tomam partido em eleições. Deveríamos puxar pela memória, se é que temos alguma, e deveríamos pegar mais leve.

Eu me lembro que, em 2000, o mesmo Estadão que agora vai de Serra, foi de Marta Suplicy quando ela disputou a prefeitura de São Paulo contra Paulo Maluf. O meu ponto forte não é a memória – é o esquecimento. Não obstante, eu me lembro bem desse editorial, e fui buscá-lo em arquivos que estão aí à disposição dos mortais comuns. Era um bom editorial, aquele de dez anos atrás. Vamos a ele, ou, melhor, retornemos a ele. Ou, melhor ainda, retornemos a algumas passagens dele. Foi publicado na edição de 3 de outubro de 2000 de O Estado de S. Paulo.

"Um balanço positivo

"A ida de Paulo Maluf ao segundo turno da eleição para prefeito de São Paulo – por uma diferença de 7.691 sufrágios, em mais de 5,5 milhões de votos depositados – é apenas uma ofuscante exceção nos resultados que – tomados em conjunto – podem ser considerados auspiciosos do pleito de domingo.

"O primeiro deles foi o pleno êxito da informatização do processo em todo o território eleitoral. Trata-se de uma verdadeira proeza, dadas as dimensões e a diversidade do País e o baixo índice de escolaridade da maioria do eleitorado brasileiro. Graças à votação e à apuração eletrônica, a fraude eleitoral foi, afinal, definitivamente riscada do mapa político brasileiro. Esse, literalmente, é um acontecimento histórico.

"Auspiciosos também podem ser considerados os resultados apurados pelo TSE nos médios e grandes municípios, nos quais se concentra a grande maioria do eleitorado, na medida em que não deixam qualquer dúvida sobre o amadurecimento da sociedade brasileira. Embora tivesse todos os motivos para fazê-lo, o povo não deu as costas à política, nem votou a esmo, apenas por obrigação, como se os candidatos fossem todos ‘farinha do mesmo saco’. Dando uma demonstração de discernimento que desmente os eternos céticos, para os quais ‘o povo não sabe votar’, os eleitores escolheram candidatos e partidos segundo critérios pragmáticos, estritamente vinculados à aspiração de ver melhoradas as condições de vida em suas cidades.

(...)

"Se o PT colheu bons resultados nos municípios com mais de 200 mil eleitores, onde haverá segundo turno, é exatamente porque, em vez de ‘federalizar’ o pleito municipal, os candidatos petistas colocaram a ética no topo de suas propostas eleitorais. Outros partidos também fizeram praça dos compromissos com a moralidade administrativa, mas o PT teve a respaldá-lo uma inequívoca tradição de combate às maracutaias com o dinheiro do contribuinte e de honestidade no exercício de cargos executivos.

"Mais de 2,1 milhões de paulistanos deram à petista Marta Suplicy 38% dos votos válidos porque ela e seu partido passaram a ser percebidos como a encarnação do antimalufismo. Outro não foi o motivo pelo qual o PT acaba de conquistar 16 cadeiras na Câmara Municipal de São Paulo (ante 10 há quatro anos), enquanto o PPB de Maluf, que elegera 19 vereadores em 1996, agora não foi além de 5. É pouco provável, porém, que o PT tivesse se saído como se saiu desta vez, pelo País afora, se o seu empenho em defesa da ética no governo continuasse a coexistir com o sectarismo e o rancor radical que dele sempre afugentaram parcelas ponderáveis do eleitorado.

"O PT vitorioso anteontem, a rigor, é ‘o PT que diz sim’: ao menos na esfera municipal, seus candidatos procuraram abrir-se ao diálogo, prometeram sepultar preconceitos, trataram de apresentar soluções inovadoras e, ao falar em ‘austeridade’, referiam-se não apenas ao manejo honesto dos recursos, mas também à administração responsável das finanças públicas –contra o que se insurgem, em escala nacional, os interesses corporativos cuja expressão política por excelência ainda é o próprio PT.

"Seja como for, o ‘centro civilizado’ de São Paulo, para quem o PT raramente é a primeira escolha eleitoral, só pode dar o seu voto a Marta Suplicy no segundo turno, ainda que nada haja em seu currículo que garanta sua competência como administradora da coisa pública. Entre ela e Maluf, o eleitor preocupado com a moralização dos costumes políticos não pode hesitar. 

(...)

"São Paulo espera do governador Mario Covas e do PSDB a grandeza de uma manifestação imediata em apoio da candidata contra quem o político ‘nefasto’ – a expressão é de Marta Suplicy – recorrerá a tudo nesta segunda campanha."

Além de apoio, voto de confiança

Foi um editorial que marcou meu precaríssimo reservatório de lembranças. Um editorial favorável ao PT. Favorável à defesa da bandeira da ética na política, àquela época encarnada no PT. E a boa vontade dos editorialistas do jornal voltou à carga logo após o segundo turno, no dia 1º de novembro de 2000, num outro texto marcante.

"Crédito de confiança

"Se, por uma fatalidade, o candidato Paulo Maluf – que representa tudo o que este jornal repudia em matéria de costumes políticos e administrativos – tivesse vencido a eleição para prefeito de São Paulo, ainda assim o Estado iria torcer para que ele fizesse um bom governo, apesar dos justificados receios de que essa esperança dificilmente se concretizaria. Isso porque, como já assinalamos outras vezes neste espaço, os princípios pelos quais se orienta a linha do jornal excluem qualquer desejo mórbido de que fracassem os governantes dos quais diverge, descalabro. Se assim é, só cabe fazer votos para que se confirmem as expectativas favoráveis dos eleitores dos novos prefeitos do PT, não obstante as profundas diferenças ideológicas que sempre nos separaram do partido.

(...)

"Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, (...), respondendo a uma pergunta sobre os limites das negociações que manterá com os vereadores paulistanos disse: ‘Não farei nada que não possa sair na imprensa.’ Pode ser – apenas pode ser – que algo de muito novo esteja começando em São Paulo. A nova prefeita de São Paulo vem mostrando boas atitudes."

(Engraçado como o tempo passa e ao mesmo tempo não passa. Enquanto escrevo estas maltraçadas, vejo Maluf, ele mesmo, no horário eleitoral: "Bias abigas e beus abigos". Nada de novo sob o sol.)

Voltando ao ano 2000, pelo que me lembro, naquele tempo, não se falava em "golpe" – embora, como avisei há pouco, se não me falha a memória, a memória não seja exatamente o meu forte. O jornal deu sua opinião. Cravou sua posição. Apoiou uma candidata, apoiou-a resolutamente. Também não me recordo de registros de que tenha sido acusado, por isso, de distorcer seu noticiário. Os tempos mudam. As pessoas mudam. O humano esquece. Eu é que, justamente por não ser bom de memória, às vezes me esqueço de esquecer.

Um post scriptum em sentido inverso

As investidas de Lula contra os jornais foram tão contundentes, tão perfuro-cortantes, que roubaram a cena. Roubaram, digo, com todo o respeito. Por terem roubado (com todo o respeito) a cena, saiu de cena a comparação entre Dilma e Serra, que são os dois concorrentes aptos a receber votos. Mas se a nossa memória nos lembrasse de que são eles, Dilma e Serra, que disputam o voto, nós iríamos comparar um com o outro, também no que se refere ao trato com a imprensa.

O resultado da comparação seria engraçado. Muito se acusa a candidata Dilma Rousseff de querer censurar jornalistas, mas, no plano dos fatos, é José Serra quem briga com repórteres. Ele já interpelou agressivamente jornalistas da TV Brasil, alegando que as perguntas eram orientadas eleitoralmente, como no episódio de falta d’água em São Paulo (foi numa terça-feira, 9 de fevereiro de 2010). Antes e depois disso, foi protagonista de outros atritos.

Em setembro, no dia 15, uma quarta-feira, quem apanhou foi a jornalista Márcia Peltier, na gravação do programa Jogo do Poder, da CNT, se a memória não me sabota. Ela indagava sobre a quebra do sigilo na receita e sobre o mau desempenho do tucano nas pesquisas, e o tucano perdeu as estribeiras. Conforme relato do repórter Marcio Allemand, no site de O Globo, Serra afirmou que estavam "perdendo tempo" ali com a repetição de "argumentos do PT" que são "fajutos". Houve uma interrupção na gravação, que foi retomada em seguida, depois de breve diálogo, sem holofotes nem câmeras.

Apenas para que fique anotado: em matéria de fustigar a imprensa, o presidente da República segue imbatível, mas, quando se compara o candidato do PSDB com a candidata do PT, Serra dá sinais de ser bem menos paciente com entrevistadores que o contrariem. No entanto, é ela quem leva a fama. Ah, sim, a memória me avisa que foi o programa de governo dela, e não o dele, que, nas primeiras versões, atacava o jornalismo. Mas depois o trecho de media criticism do programa de Dilma foi deixado de lado. Foi esquecido. Alguém se lembra?

segunda-feira, 22 de junho de 2009

MANIFESTO CONTRA ZUMBI



# over12 #
Quando pensamos que vamos parar de comentar o diploma...

txt: Tiago Jucá Oliveira e Arlei Arnt

Poi Zé, os dois últimos resquícios do AI-5 caíram, mas ainda tem muito mané chorando e organizando protestos. E pelo orkut, twitter, blogs, e no momento em que escrevemos, até o Nando Gross tá dando sua sniffada ao vivo na rádio Gaúcha, umas das 26 emissoras de rádio e tv de Porto Alegre que estão com a concessão vencida e que deveriam estar fora do ar. E, claro, ele não tem coragem suficiente pra falar disso.

Como diria o açougueiro, vamos por partes. No twitter, metade de um neurônio convoca seus seguidores para um protesto pelo fim da exigência do diploma. No cutucar da raiva alheia, lá se foi nossa provocação: "o Decreto-Lei 972/1969 foi baixado durante o regime militar, logo após o AI-5. E quem baixou esse decreto foi uma junta militar formado pelos ministros das Forças Armadas". A resposta da meio neurônio veio a galope: "e não é porque essa lei surgiu no AI-5 que ela deve ser desmerecida.". CUMA? Esse Decreto-Lei, que ela crê ser algo justíssimo, só tinha como objetivo calar intelectuais e políticos que frequentavam redações, bem como escreviam e opinavam suas oposições ao regime militar.

O argumento utilizado pela rapariga foi o mesmo debatido ao vivo no auditório da Famecos/PUC pelo presidente da Federação Nacional dos Papagaios, ops, dos Jornalistas. Observe, cágado ou pomba: os jornalistas que clamam por democracia, acreditam radicalmente que o Decreto-Lei, num ato de censura, autoritário e anti-democrático, deva continuar valendo, apesar de ser criado pela ditadura.

Observe novamente: censurar, calar e proibir que pessoas se comuniquem é justo e merecido, apesar de ser criado pela ditadura. Então o problema não é a censura, e sim o censor de então? No seguir do raciocínio, é de se acreditar que estuprar também é algo justo e não deveria ser proibido. O problema não é o estupro, e sim o estuprador. "Que mal há um padastro violentar sua enteada de 12 anos? Eles se conhecem, moram juntos, há carinho na relação", é bem provável a outra metade do neurônio argumentar.

Vamos pular a ignorância e partir pra idiotice. No twitter, outra pessoa em total falta de sintonia entre o tico e o teco (deby & loyd, em inglês), lança a idéia: "agora que acabaram com o diploma de jornalista, vamos acabar com o de juiz e assumir uma vaga no STF". Mas pra isso, pra julgar as leis, é preciso conhecer a constituição. Nós até podemos não conhecer e concordar com a carta magna, mas o Supremo Tribunal Federal deste país precisa sabe-la decor e validá-la. É essa a sua maior função e responsabilidade. O Supremo não pode nem deve, de jeito maneira, ir contra a carta, aprovar inconstituicionalidades. E o artigo 5, inciso IX, da constituição é claro: "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença". O problema da maioiria dos jornalistas deste querido Brasil é que eles se argumentam na base do "eu acho". Nenhuma surpresa, pois quem já estudou em faculdade de comunicação sabe que nas aulas não se ensina porra nenhuma, e fica aquela roda de bate papo: alguém acha que a ana paula é padrão, porém o outro prefere felipe, pois é massa.

Dentre os tantos livros que sempre carregamos debaixo do braço, que são nossas bases, pois aqui ninguém "acha aquilo que acha", está o já clássico Manifesto Contra o Trabalho, do grupo Krisis. É uma crítica contundente à sociedade do trabalho. E quando se vê jornalistas e estudantes desocupados no marchar favorável da ditadura e contra a constituição, unicamente preocupados com a cadeira de empregado onde vão sentar o cu, lembramos do Krisis. Repetimos um importante trecho: "Tanto do ponto de vista do trabalho quanto do capital, pouco importa o conteúdo qualitativo da produção. O que interessa é apenas a possibilidade de vender de forma otimizada a força de trabalho. Os trabalhadores das usinas nucleares e das indústrias químicas protestam ainda mais veementemente quando se pretende desativar as suas bombas-relógio. Não só porque eles precisam obrigatoriamente se vender só para 'poder' viver, mas porque eles se identificam realmente com a sua existência limitada. Para sociólogos, sindicalistas, sacerdotes e outros teólogos profissionais da 'questão social', trabalho forma a personalidade. Personalidade de zumbis da produção de mercadorias, que não conseguem mais imaginar a vida fora de sua Roda-Viva fervorosamente amada.”

Neste domingo em que se escreve este manifesto, um dia antes de você, cágado ou pomba, nos ler, um belo texto cai aqui na redação. E como é bom ler aquilo que gostaríamos de ter escrito. A façanha é da professora da Escola de Comunicação da UFRJ, Ivana Bentes. O artigo tá fresquinho, acaba de sair do forno. De acordo com Ivana, "estranho e triste é ver jovens que acham que só podem ter direitos 'adquiridos' com 'diploma' e carteira assinada e dentro da relação patrão/empregado. Ou seja, acham que a única luta que vale a pena é , como diria Spinoza, a luta pela sua própria 'escravidão'". Brilhante!

Não há, naquelas cabeças miúdas, outra a coisa a fazer a não ser trabalhar como escravo zumbi da grande imprensa. A única possibilidade, de quem pensa assim, é qualificar e dar credibilidade aos quatro padrões de manipulação da grande mídia, vide Perseu Abramo, através do diploma. Eles não querem acabar, ou atacar, ou contrapor a mídia manipuladora. Eles querem que essa manipulação seja mais profissional e qualificada, praticado por pessoas formadas, com canudo. Portanto, o que eles querem é sustentar a manipulação diária, em vez de subverte-la.

E essas pessoas são oriundas de faculdades que mais formam mulas do que cidadãos. Nem todos, é bom lembrar, se formam e viram mula. Se você, cágado ou pomba, souber distinguir o que é bom do que é ruim na universidade, você nao será mula. Recordar é viver, e o professor João Gato sempre dizia: "eu tinha um cão, ensinei ele a não comer; uma semana depois ele morreu". Resumo: se a faculdade nos ensina a ser mula, obedece quem quer.

Interessante também o ponto de vista do sociólogo Sérgio Amadeu via twitter: "a rede afetou todas as indústrias de intermediação: fonográfica, cinematográfica, de softwares e a imprensa... com intensidades diferentes". No acrescentar das idéias, podemos dizer que assim como a internet, o mp3 e o Naspter sacudiram a indústria fonográfica, no diminuir dos lucros e no democratizar do livre acesso a cultura e conhecimento; os blogs e o youtube estão a balançar o conceito de mídia.

Baseado no que diz Amadeu, e resgatando uma entrevista feita semana passada por uma estudante de jornalismo da PUC/RS, Bruna Ostermann, que visitou a redação pra colher nossa palavra, é possível responder perguntando: mas afinal, o que é jornalismo? Onde se limita a liberdade de expressão?, que a menina disse que não deve acabar, com o exercitar da atividade jornalística exigido por diploma.

Um caso, hipotético, mas não duvide que exista: imagine que um grupo de pessoas, nenhuma delas formada, crie uma conta no You Tube. Esse grupo cria um roteiro, faz reportagens, entrevistas, usa uma pequena ilha de edição, escolhe um bom apresentador e monta um tele jornal a ser exibido no próprio You Tube. Com um bom material e uma divulgação bem planejada, a audiência cresce e o telejornal se torna um sucesso na rede. Digamos também que outras experiências aconteçam simultaneamente em todo o país. Quem dirá que isso não é jornalismo? E se for, vamos exigir diploma? E se não tiver diploma, vamos proibir o programa?

Se no You Tube há uma certa complexidade pra fazer um telejornal, com muito mais facilidades se faz jornalismo em blogs. Entrevistas hoje podem ser feitas por msn, por gtalk, por skype. Resenhas de discos e shows são feitos diariamente. E que lei é capaz de distinguir se blog, ou determinado blog, é ou não jornalismo? Qual lei vai obrigar que blogueiros necessitam de diploma? E quem vai tirar do ar os blogs feitos por não diplomados? O blog da Petrobrás deu, dias atrás, que pode ser muito mais útil ao jornalismo e a sociedade do que os grandes jornais. E os blogs e usuários de twitter do Irã tem mostrado ao mundo que não há paz e calma como o jornalismo oficial de estado afirma.

E nesse mesmo raciocínio podemos ilustrar casos como as web rádios, os flicks, os vídeos documentários. Agora imagine se o AI-5 da comunicação não caísse e se dentro de algumas semanas o senado aprovar o projeto de lei do Senador Eduardo Azeredo, proposta devidademente apelidada de AI-5 digital. Recém acabou uma encrenca, vem outra maior por aí.

Por tudo isso, nunca o STF foi tão sábio em abolir mais um resquício do AI-5 em pouco espaço de tempo (dias antes, o Supremo acabou com a vergonhosa Lei de Imprensa). A mesma junta militar que nos censurava até semana passada, fez a seguinte presepada, como bem faz lembrar Carlos Brickmann, do Observatório da Imprensa: "Pois não é que os mesmos oficiais-generais que generosamente regulamentaram o exercício da profissão de jornalista cuidaram também de regulamentar o que os jornalistas poderiam publicar? Um texto engraçadíssimo, que vale a pena pesquisar, é o de regulamentação das revistas de mulher pelada. Está escrito que, nas fotos, poderia aparecer um mamilo nu; dois, não. Mas, se a foto fosse feita com camiseta molhada, ambos os mamilos poderiam aparecer através do tecido. Pelos púbicos, nem pensar. E ficavam proibidas as fotos de nádegas frontais. Alguém já terá visto nádegas frontais?".

E aqui, neste finalizar de letras, deste Manifesto Contra Zumbi, citamos o grande jornalista, não diplomado, André Forastieri: "toda escola serve para esmagar o espírito e a imaginação do ser humano para que ele se torne um escravo zumbi da sociedade". Os direitosos nos chamam de esquerda, os esquerdas caviar nos rotulam de direita. Nem pra direita, nem pra esquerda. Como dizia o Superman: "para o alto e avante"! Comunicadores do século XXI, uni-vos!

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