#CADÊ MEU CHINELO?
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
[over12] BOLSO É VOTO
::txt::Arlei Arnt::
Num desses dias, numa conversa pelo getalco com nosso editor @omandachuva, ele disse: "vai te fodê!". Bem, isso não vem ao caso. O que eu realmente queria contar a você, e-leitor, é sobre a tarde em areias catarinas, que @omandachuva assava a própria pele em tons de camarão numa caminhada pro Siriú. Atucanado com o sol que pintava o couro dele sem trégua, o magrão tentava lembrar de algo que não virava palavra.
- Porra, Arlei, como é o nome daquele negócio?
- Que negócio, man?
- Aquele bagulho quadrado que tem na parede, cacildiz!
Enquanto eu chutava diversas coisas - quadro?, poster? espelho? -, e o neurônio tostado pela energia solar e aromatizado pela erva do @omandachuva não recordava do esquecido objeto, eu falei quieto em pensamentos baixos. Viajei no bolso, e que ele nessas horas quentes é bom pra não queimar as mãos. Imagine, xirú, você sem o bolso? Quando saímos de casa e vamos à rua, é no bolso onde nos escondemos. Não levamos somente um simples número de RG que nos identifica como cidadão. Mas lá também estão os coisos & cousas que nos caracterizam como pessoa.
O brasileiro é conservador quando se trata do bolso. E vota de acordo com ele. Podem encher o bolso de santinho, mas o importante pro e-leitor é a questão financeira. Elegeu e reelegeu FHC em virtude do Plano Real, que estancou a inflação com paridade monetária. Nosso dinheiro não perdia mais o valor dum dia pro outro, e, nivelado ao dólar, comprava e importava tudo aquilo oferecido pelo mercado mundial.
Quando o mercado de trabalho nacional despediu "voluntariamente" por causa da concorrência estrangeira, num país acostumado a monópolios estatais e cartéis oligárquicos com atrasadas ofertas de livre concorrência, o Real despencou e não fez sucessor. Lula é eleito com um discurso até então inédito no palanque do PT. Ruim não era o Real, e sim quem (mal) o administrava. Reeleito em 2006, Lula deve fazer a sucessora, financiada pelo bolsa banqueiro e endossada pelo bolsa família.
E assim sempre foi. Desde a ditadura Vargas, quando o filho esqueceu as memórias do cárcere e elegeu o pai dos pobres. Calou-se novamente quando o milagre econômico falava mais alto, fazendo vista grossa aos gritos que (não) ecoavam dos porões militares do AI-5. E assim sempre seremos, fiscais do Sarney.
A oposição hoje engana-se que vai conquistar votos ao prever a volta do mensalão e Zé Dirceu, ou com denúncias de espionagem na Receita Federal, ou com indagações sobre as amizades fraternas com os ditadores do Irã. Desde que o nosso bolso não fique furado, não importa a nós, brasileiros, que a sujeira do poder apareça na cueca de governantes, secretários e empreiteiros.
Então pensei em voz alta pro @omandachuva ouvir minha filosofia alucinada:
- No bolso vai a mão suja que carrega o dinheiro lavado pelo tráfico, mas que não tirou o fedor do bagulho que tu leva contigo. Afinal, a mão no bolso é pra não se queimar ou pra esconder o queimado?
- Lembrei, cabron! - gritou ele.
- Cuma?
- Daquele coiso quadrado que tem na parede. É janela!
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