::txt::Fagner Marques::
Existe uma regra da física que se chama 'Lei da Ação e Reação'. Resumindo, ela afirma que toda ação causa uma reação de mesma força mas na direção contrária. Na prática é como se jogássemos, com toda a força, uma bolinha de borracha na parede e ela voltasse na nossa cara causando um hematoma. Em um sentido mais humano e positivo, poderíamos dizer que quanto mais gentileza demonstrarmos para com os outros, mais receberemos em troca.
Isto, é claro, num mundo ideal. E aí está o problema. A realidade não é assim (essa tal realidade. Sempre atrapalhando tudo). De qualquer forma, podemos ver as coisas pelo lado bom. Se alguém arremessar a tal bolinha de borracha na parede, muito provavelmente ela não acertará o atirador de volta. Ufa. Não comentarei sobre a questão dos sentimentos porque eles normalmente MACHUC zzzzzzzzzzzzzzzzz... ops.
Mas existe uma forma bem interessante de perceber como, na prática, a 'Lei da Ação e Reação' não funciona. A expressão-chave do momento é 'eleição parlamentar'. No Brasil existe algo chamado Congresso Nacional, você sabe, não é? É lá que se reúnem aqueles não sei quantos 'picaretas com anel de doutor' (Herbert Viana, te amo). São 513 deputados e 91 senadores, para ser mais exato. E é justamente entre esses cerca de 600 representantes do povo que se enxerga direitinho a falha dessa tal ação e reação.
Vamos supor que você, jovem engajado, que está entre os 2% dos usuários de internet que pesquisam sobre política na rede, tenha uma epifânia e descobriu que TODOS OS POLÍTICOS SÃO LADRÕES. Isso, é claro, te transforma num mentiroso ou mostra que ainda anseias por conhecer a Terra do Nunca e viver feliz para sempre ao lado da Sininho. Mas, também, te coloca na posição de sentar em uma mesa de bar, discursar sobre a situação política do Brasil e mostrar para todo mundo como tu és superior aos cerca de 70% de analfabetos funcionais brasileiros. Isso, é claro, partindo-se do ponto de que ninguém perceba que afirmar que 'político nenhum presta' é uma grande mentira. Eles existem. Acho que ainda não conheci nenhum, mas, para mim, é como um cristão acreditar em Jesus. É assim e ponto (ponto)
Mas ok. Suponhamos que nenhum dos companheiros de bebedeira perceba essa pequena mentirinha de nada. A discussão poderia ir para outros rumos: votar nulo como forma de protesto. Ou votar em um palhaço qualquer que decidiu se candidatar a uma vaga no Congresso. Como forma de protesto, também, é óbvio. Jogadores de futebol, apresentadores de rádio e tv, strippers atrizes e diretoras de espetáculos públicos, cantores, não me levem a mal, nem se ofendam. Falarei sobre um palhaço de verdade.
Francisco Everardo Oliveira Silva. Descobriu? O Tiririca, rapaz. O palhaço que tanto me alegrou na juventude e me fez cantarolar 'Clementina, Clementina/ Clementina de Jesus/ não sei se tu me ama/ pra que tu me seduz' na saída das aulas, decidiu mostrar que pode contribuir para o transformar o país em um lugar melhor pra se viver. Ele sabe ler e escrever - o que garante possibilidade de se candidatar - e não sabe muito bem o que um deputado faz - mas tem certeza que, com a equipe de assessores que possui, aprenderá e será um bom representante. Dito e feito. Nosso alegre palhaço está na corrida por uma vaga a deputado federal pelo PR de São Paulo.
Sinceramente, eu acho bonito. O Brasil deu um passo fundamental na democracia ao eleger um presidente do povo, de origem humilde e todo esse blablabla whiskas sachê que todo mundo já sabe. Nesta eleição, se eu fosse paulista, e soubesse que NENHUM político presta, deveria votar no Tiririca, não? Afinal, ele não é político (ainda, pelo menos). Bom, se você respondeu que eu NÃO DEVERIA votar nele, ganhou uma bola de futebol (ou uma Barbie comunista, se preferir).
Mas agora vem a pergunta que vale R$1 milhão. Por que diabos eu não deveria votar nele? Vou dar uma dica: pelo mesmo motivo que eu não votaria em jogadores de futebol, apresentadores de rádio e tv, atrizes e diretoras de espetáculos públicos, cantores e etc e tals. Se você responder que é porque eles seriam manipulados pelo sistema e, no fim das contas não serviriam para nada, você acertou uma partezinha inha inha da resposta. O que quer dizer que você errou. E perdeu a Barbie, também. Bom pra mim, não?
Enfim, vamos à resposta. Existe uma diferença entre as eleições para os cargos do Executivo e do Legislativo. Enquanto no primeiro a forma de escolha é majoritária, no outro é proporcional. Isto quer dizer que, ao votar, além de escolher o seu candidato, você também estará apoiando a legenda dele e, por tabela, todos os colegas que fazem parte do mesmo partido. E quanto mais votos uma legenda recebe, maior o número de legisladores ela tem o direito de eleger. Se eu, você e mais 1 milhão de eleitores votarmos no Tiririca (ou qualquer outro candidato das classes citadas acima) para mostrar que a política é uma palhaçada, mesmo, o partido a que eles pertencem aumentará muito o número de Deputados que poderá eleger.
Isso quer dizer que, mesmo com menos votos, essa catrefa de políticos que não presta poderá conseguir um lugarzinho na plenária da Câmara dos Deputados, na carona das celebridades. É o que se chama de efeito proporcional.
Então, antes de escolher qualquer um pela palhaçada, reflita um pouco. Mentira, reflita MUITO. Pese o seu poder nas urnas. Ele é grande. Por isso, analise os candidatos, pesquise o passado deles, as propostas, as coligações, o quanto eles realmente podem contribuir para o nosso país. Talvez você ache alguém que valha a pena acreditar e confiar. Não faça com que a bolinha de borracha acerte em cheio no teu olho. E, principalmente, não faça a si próprio de palha
#CADÊ MEU CHINELO?
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