#CADÊ MEU CHINELO?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

[noéspecial] CABRA DA PESTE



::txt::Tiago Jucá Oliveira::

Recebi um comentário, feito por um amigo, que condenava o louvor em torno da figura de Lampião. Não quero entrar no mérito da questão, se ele era herói ou vilão. Aliás, não é a intenção desta série julgar o mito. E sim relatar sinais dum sintoma claro: independente da bondade ou maldade do cangaço, ele ainda exerce uma importante influência sobre as artes.

O julgamento não cabe a mim. Deixo a você que julgue de acordo com seus próprios conceitos. A minha parte é aproveitar o espaço pra indicar livros que tratam sobre o assunto, e deles tirar trechos ilustrativos. Por ter aberto esse parênteses, me dei o direito de contar uma pequena história, que mostra como o imaginário popular trabalha o mito até os dias de hoje:

Água Branca é uma pequena localidade do estado de Alagoas. A principal moradora do município, em 1928, era a Baronesa de Água Branca. Lampião há tempos pedia dinheiro a ela, que respondia: "Tenho vinte contos, mas é para comprar de munição para o couro dele!". Diante da negativa da Baronesa, Lampião planejou um assalto à cidade.

Desfeita a tensão, Virgulino enviou um espião à feira de Água Branca, a fim de verificar as forças policiais. Enquanto isso, esperava as notícias em Bom Conselho de Papacaça. Depois de informado, Lampião rumou em direção a cidade. Foram quatro noites de viagem, sendo que os dias serviam para descanso. Na tarde do dia 27 de junho de 1928, o cangaceiro tomou um sítio não muito longe de Água Branca e obrigou o dono a fazer compras na cidade.

Deu-lhe dinheiro e uma lista, que continha cigarros, fósforos, esteiras de pipiri, duas redes brancas e uma lata de tinta vermelha. Para ter certeza que o dono do sítio ficasse em silêncio, manteve a família dele como refém. Lampião dividiu seu bando estrategicamente. Quatro duplas se formaram para fazer o bloqueio das entradas da cidade e ali ficarem até o término do assalto. Os outros dez cangaceiros encheram as duas redes compradas no comércio com armas e munições. A lata de tinta vermelha serviu para pintar as redes, dando assim a impressão de sangue de morto.

Ao amanhecer do dia 28, os dez cangaceiros entraram em Água Branca, carregando as redes com os dois 'defuntos'. Estacionaram em frente ao quartel da cidade e avisaram ao soldado de vigia que tinham encontrado dois mortos na estrada. O vigia os convidou para entrar e esperar, enquanto ele iria acordar um outro soldado numa casa vizinha. Quando o vigia saiu, os cangaceiros trataram de pegar as armas escondidas dentro das redes e esperam a volta para dar o bote.

Lampião soltou vinte presos e no lugar deles prendeu todos os guardas. Obrigou ao corneteiro dar toque de reunir. Lampião enjaulou mais de 30 soldados e roubou todas as armas e munições, que logo foram distribuídas entre os ex-prisioneiros, somando 30 homens armados prontos para o assalto. Os cangaceiros tomaram as ruas e acordaram os moradores com tiros. As casas e as lojas dos mais ricos foram saqueadas uma por uma. A Baronesa foi a que sofreu o maior prejuízo: dinheiro, ouro, e 25 cabras leiteiras.

Após o saque, ela seria humilhada: passeou de braço dado com Lampião pelo meio das ruas da cidade. Foi a primeira vez em que os cangaceiros, vibrantes e entusiasmados pela vitória, cantaram um xaxado ritmado pela batida forte dos rifles batendo no chão: "Olê mulé rendeira, olê mulé rendá, tu me ensina a fazer renda, que eu te ensino a namorar".

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