#CADÊ MEU CHINELO?
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
[doc] LITERATURA LIBERTÁRIA
::txt::Tiago Jucá Oliveira::
Pela primeira vez Porto Alegre sedia (neste fim de semana) uma Feira do Livro Anarquista. Um importante evento não somente pra compra e venda de livros, mas uma grande oportunidade para que os libertários da capital possam se encontrar e conversar. A anarquia não é apenas um projeto de auto-gestão social. O caos também se dá dentro do próprio anarquismo (ou pelas suas inúmeras divisões, ou por falta de eventos e/ou locais para encontros e debates). Aqui no estado temos a FAG (Federação Anarquista Gaúcha), sediada na Cidade Baixa, que é bastante ativa dentro de alguns movimentos sociais. A polícia da Yeda, inclusive, já reprimiu os anarcos com invasão na sede, apreensão de materiais e intimação judicial de alguns de seus membros.
Na Europa, enquanto a 'esquerda' vai pra rua com bandeiras e cartazes, os Black Blocs vão pra briga. Quebrar vitrine de bancos multinacionais e atirar pedra na polícia é a diversão deles. E dentro dos Black Bloc já há a facção 'não violenta', mas que também veste capacetes e máscaras para evitar a identificação. Há vários grupos Black Bloc dentro de uma única manifestação, com diferentes táticas. Porém aqueles que mais aprecio são os libertários que nunca leram um livro de Bakunin e nem assumem uma posição anárquica. As favelas cariocas, por exemplo, são a mais legítima representação de uma arquitetura caótica, sem seguir escolas de identidade visual.
Mas retomando à cartola 'cultura' que me é destinada, toco no assunto anarquismo em função desta feira. Além dos livros, há apresentações de peças teatrais, exibições de filmes, palestras e oficinas. Se você não for, aproveito pra deixar dicas. Sempre é bom conhecer uma importante ideologia, e suas subdivisões, de setores que pretendem a total abolição do estado (oposto do socialismo estatal, da social-democracia e neo-liberalismo), a completa liberdade do homem (oposto do comunismo e fascismo totalitários), a não escravidão do trabalho (extremo oposto do capitalismo selvagem).
Nem todas obras se rotulam ou assumem uma posição 'anarquista' ou 'libertária'. Então guarde consigo a frase “mas esse autor nunca disse que é anarquista”. Cabe ao leitor, sempre, a interpretação de um livro. Eu tomei um rumo libertário após ler “Manifesto Contra o Trabalho”, do grupo Krisis, que não toma partido anarquista. Foi a primeira vez que alguém me provou que esquerda e direita nada mais são do que dois lados da mesma moeda. E essa moeda se chama trabalho. O 'trabalho' elevado a categoria divina, cultuado por todos setores, desde o papa até o Bush, de Vargas aos verdes, de Lula a Tony Blair.
Os clássicos autores do anarquismo também merecem um olhar. Mijail Bakunin, Pierre-Joseph Proudhon, William Godwin, Max Stirner, Eliseo Reclus, Piotr Kropotkin são os mais lidos e conhecidos. Todos eles conheci e li num livro em castelhano, “Ideario Anarquista", que reúne alguns textos dos 'bisavós' dos libertários.
Dos mais atuais, não deixe de ler “Distúrbio Eletrônico”, do Critical Art Ensemble, "Provos: Amsterdam e o nascimento da contracultura”, de Matteo Guarnaccia, “TAZ”, de Hakim Bey, “Q” e "54", de Wu Ming. Sobre a revolução espanhola, saiba como foi “O Curto Verão Anarquista – Vida e Morte de Durruti”, de Hans Magnus Enzensberger, e “O Povo em Armas – Buenaventura Durruti e o Anarquismo Espanhol”, de Abel Paz.
Minhas bíblias anarquistas são “A Desobediência Civil”, de Henry Thoreau, e “A Revolução dos Bixos” e “1984”, de George Orwell.
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