#CADÊ MEU CHINELO?

domingo, 28 de novembro de 2010

[noéspecial] PÁTRIA SERTANEJA INDEPENDENTE




::txt::Tiago Jucá Oliveira::

Querer uma discussão sobre Cangaço, Canudos, Balaiada e Palmares não é exatamente a função destas próximas linhas, muito menos colocar quatro (ou até mais) importantes acontecimentos históricos bem diferenciados uns dos outros num mesmo (sic) balaio. Seus ideais, apesar de distintos, ecoaram no Pelourinho. O grupo Olodum teve a ousadia de unir os focos rebeldes citados acima numa mesma letra, “Revolta Olodum”, na qual proclama a independência do sertão:

“Retirante ruralista, lavrador/ Nordestino Lampião, salvador/ Pátria Sertaneja, independente/ Antônio Conselheiro, em Canudos presidente/ Zumbi em Alagoas comandou/ Exército de ideal, libertador/ Sou mandinga balaiada/ Sou malê/ Sou búzios, sou revolta/ Arerê/ Ô Corisco, Maria Bonita mandou te chamar/ É o vingador de Lampião/ Êta cabra da peste/ Pelourinho, Olodum/ Somos do Nordeste”.

Observe o fator “nordeste” na letra. É a região mais pobre do país e seu povo é o mais discriminado. De longa data, muito antes da Mayara Petruso, nordestino é visto como burro, preguiçoso, etc, por uma boa parcela da sociedade (o twitter nos provou isso em pleno ano de 2010). A reação muitas vezes (pelo menos em Fortaleza é comum) se dá em adesivos pra carros e camisetas com a frase “orgulho de ser nordestino”. Ou em letras tipo essa do Olodum. Da exaltação regional à proclamação da Pátria Sertaneja.

Ao contrário de movimentos sudestinos e sulistas, que pregam sepaatismo pra ser livrar da vagabundagem nordestina que puxa a média dos índices sociais e econômicos pra baixo, o manifesto do Olodum enxerga méritos em heróis que lutaram contra injustiças cometidas pela própria sociedade em que estão inseridos. O inimigo não é um catarinense ou um paulista, e sim o soldado e o senhor de engenho. A briga não é com outros estados, e sim contra o Estado que o oprime e reprime. Em comum entre cangaço, messianismo e quilombos é que todos eles foram aniquilados pelo Estado. As vítimas sociais do coronelismo acabaram vitimizadas novamente, pagando com a vida por querer viver com independência, livre, com suas regras internas.

A situação dos estados do Nordeste se agravou quando o centro econômico do Brasil se transferiu para as regiões Sul e Sudeste, isto na metade do século XIX. O Nordeste, relata Rui Facó em “Cangaceiros e Fanáticos”, “com seus arraigados remanescentes feudais e acentuada debilidade técnica, foi perdendo terreno em todos domínios”. Darci Ribeiro enxerga algo parecido: “entre o poder federal e a massa flagelada pela seca medeia a poderosa camada senhorial dos coronéis, que controla toda vida do sertão, monopolizando não só as terras e o gado, mas as posições de mando e as oportunidades de trabalho que enseja a máquina governamental”, diz em “O Povo Brasileiro”.

O “separatismo” do Olodum, se é que assim podemos dizer sobre algo que não traz nenhum preconceito regional em seus manifestos, traz fortes elementos da questão racial. Em “Cabra da Peste”, cangaço e pelourinho se confundem: “A história consagrou/ Cangaceiro e trovador, nordestino/ É Zumbi, é Ganagazumba/ É a luta do pelô/ Oh xente amor”.

Quem conhece Salvador sabe que a consciência negra é muito explícita. E que se possível fosse, a Pátria Sertaneja seria um país africano dentro do Brasil. Mas isso já é outro papo, que não cabe aqui nem numa letra do Olodum. Axé!

Nenhum comentário:

#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

Você pode:

  • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

  • AtribuiçãoVocê deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

  • Compartilhamento pela mesma licençaSe você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob licença similar ou compatível.

Ficando claro que:

  • Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais.
  • Domínio Público — Onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
  • Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
    • Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
    • Os direitos morais do autor;
    • Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
  • Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página.

.

@

@