Ingredientes:
500 gr de lentilha
360 ml de vinho tinto
3 tablete(s) de Caldo de carne
1 folha(s) de louro
1 dente(s) de alho
2 colher(es) (sopa) de manteiga
1 maço(s) de salsinha
Modo de preparo:
Lave a lentilha, escorra e deixe-a de molho por cerca de 4 horas, coberta com 1 1/2 L de água fria.
Cozinhe-a na panela de pressão com a água do remolho e o vinho tinto, em fogo baixo por 10 minutos, após o início da fervura.
Espere esfriar e abra a panela.
Tempere com o caldo de carne o louro e o alho.
Cozinhe em fogo baixo, até que todo o líquido tenha evaporado. Ao servir, junte a manteiga, a salsa picada e misture bem.
#CADÊ MEU CHINELO?
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
[agência pirata] SHAKESPEARE, MENOS A POESIA
::txt::Zeca Camargo::
Desta vez, achei melhor disfarçar… Da última vez em que estampei a frase "o melhor filme do ano" no título de um post, provoquei, digamos, um certo desconforto… Era o ano de 2008 – e minha escolha não foi exatamente este filme que você está pensando. Que filme? Bem, a julgar pela ira que despertei nos fãs – quando, no lugar desse previsível (e ligeiramente confuso) sucesso, escolhi um (o horror!) um filme de arte (“Hunger”, de Steve McQueen) –, sinto-me até constrangido em ter de refrescar sua memória. Afinal, o tal filme era supostamente tão bom, teria marcado tanto uma geração, que à menção do ano de 2008, essa produção deveria imediatamente pipocar nas lembranças dos fãs de cinema…
Assim, para você que tem um bom registro cinematográfico – e que, como eu, admirou esse filme nas suas modestas qualidades, sem se influenciar pelo afã coletivo que seu tema despertava –, acho que não preciso falar de novo seu nome. E como é para você que escrevo – você, que tem uma opinião equilibrada e sabe separar sua opinião de um modismo – vamos em frente: vamos falar do filme do ano. Do ano de 2010, claro.
Para ser transparente, vi tão poucos filmes nos últimos doze meses, que tenho que admitir que minha lista de melhores títulos é quase idêntica à relação de produções a que assisti… E, pelo jeito, dei sorte – já que quase tudo foi muito bom. Minha escolha de “filme do ano” é modesta – talvez mais idiossincrática ainda do que a minha relação dos “melhores discos que você não ouviu em 2010” . Mas ela é honesta, de coração – uma vez que poucos filmes mexeram comigo como esse que vou citar em breve.
Reconheço que é uma petulância escolher uma produção tão pequena e despretensiosa – que certamente não vai figurar em nenhuma lista de “melhores do ano” de nenhuma publicação importante (talvez nem mesmo de um blog relevante). Mas nenhum filme que vi este ano falou tanto comigo como esse. Talvez “Toy story 3”, já que esse é o filme “teoricamente” feito para crianças mais cruel que um adulto poderia assistir. Como escrevi em junho, o desenho é uma grande parábola sobre rejeição, mas elaborada de maneira tão brilhante, que ninguém sai do cinema achando que passou por uma lição de moral. Pela sutileza com que essa mensagem é passada, pelas boas risadas, e pela esperança de que as crianças que hoje se divertiram com ele vão, no futuro rever “Toy story 3” com outra perspectiva – quem sabe junto com seus filhos? –, esse filme entra, com louvor, na minha lista de melhores do ano.
(Uma rápida satisfação: ao contrário do que fiz com os discos, não vou separar minhas escolhas por itens. Eu já deveria saber disso, mas fui lembrado – pelos comentários mais superficiais – que algumas pessoas têm preguiça de ler um texto completo, e preferem julgar minhas preferências apenas pelas primeiras linhas, ou mesmo, apenas por um título. Vários foram os que escreveram sobre o post anterior deixando claro que desconsideravam minha lista, sem sequer ter se dado o trabalho de saber as razões daquelas escolhas… Magoei… E por isso resolvi adotar outra estratégia: falar dos meus filmes favoritos do ano em texto corrido. Quem sabe isso não assusta o leitor mais desavisado? Será que divago? Bem, de volta à sala de cinema!).
Deixar de fora a produção brasileira mais bem sucedida de todos os tempos, seria uma desconsideração muito grande. Incluir “Tropa de elite 2” na minha seleção, porém, não é mero protocolo. Como escrevi em outubro, os méritos dessa “continuação” de uma história de sucesso são muitos: um roteiro melhor, um tema maior, interpretações ainda mais memoráveis que as do primeiro filme – e uma incrível sintonia com o que está acontecendo no nosso país nesse momento. O recorde de bilheteria é mais do que merecido – e empresta um certo prestígio à lista de melhores performances para uma produção nacional… Esclareço: fui só eu que achou curioso que os dois “campeões de venda de ingressos” antes de “Tropa 2” eram “pornochanchadas” ligeiramente confeitadas, tentando disfarçar seu, hum, apelo popular escorados em histórias de grandes escritores (Jorge Amado e Nélson Rodrigues, claro)? Bem, adiante!
Duas preciosidades do começo do ano merecem ser lembradas também. Ambas são de 2009, mas chegaram às nossas telas só em 2010 – então, estão valendo. A primeira é uma das histórias de amor mais tristes que já vi no cinema, que se destaca pela originalidade de ser contada como uma comédia: “500 dias com ela”. Joseph-Gordon Levitt dá nesse filme um salto maior do que todas suas peripécias de desafio à gravidade em “A origem”, e me convenceu de que dentro de todo “mané” existe um coração… A segunda é “O segredo dos seus olhos” , o título argentino que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, mas cujos méritos vão muito além de uma estatueta. Seu retrato de uma Argentina claustrofóbica e assustada é estampado numa trama sofisticada e com um desfecho surpreendente – ligeiramente boicotado pelo epílogo deveras longo. “Segredo” é tão bem elaborado que eu tenho vontade de mandar para uma meia-dúzia de roteiristas para eles perceberem que não precisa ir estudar na Califórnia para vir com um bom script – aqui do lado mesmo, nosso “hermanos” dão o exemplo de que basta gostar da linguagem de cinema para fazer um produto de qualidade.
Por falar em roteiro de qualidade, em maio elogiei – e agora reforço – o trabalho de adaptação de “Os homens que não amavam as mulheres”. Sou um fã relutante dos livros de Steig Larsson, mas mesmo assim estava preocupado com o que poderia se perder nessa transição. Mas a produção sueca – de um diretor desconhecido para o grande público, e com um elenco idem – me deixou mais que satisfeito. E apavorado. A personalidade de Lisbeth Salander (a bizarra heroína da saga) foi encarnada com precisão por Noomi Repace – e Rooney Mara, que brilhou em “A rede social” (já chego lá), tem uma responsabilidade e tanto em segurar essa onda quando vier a versão hollywoodiana da história. Mas, como quem vai encarar o desafio de dirigir essa versão é David Fincher, respiro aliviado. Falando nele…
Tinha tudo para ser muito chato: uma história de dois garotos que inventaram um novo negócio multibilionário na internet? Não obrigado! Mundo virtual e cinema raramente combinam, mas em “A rede social” essa união deu muito certo. E a direção de Fincher, certamente, tem parte nisso. Não sei do que gostei mais: dos diálogos disparados como metralhadoras, das performances precisas e sem exageros, da estrutura desafiadora do roteiro, da construção de um personagem quase “demoníaco” (Eisenberg)… Só sei que o filme é quase perfeito – e vai ser um prazer ver ele colecionando estatuetas nessa temporada de prêmios.
Nos documentários – gênero do qual fomos bem servidos este ano –, dois destaques. Um inédito ainda por aqui (no circuito comercial), mas que tive a chance de ver numa viagem recente a Nova York: “Waiting for Superman” LINKI PARA http://www.waitingforsuperman.com/. Há semanas procuro uma brecha para falar dele no blog, mas acho que vou ter que deixar para 2001 – quem sabe quando (e se) ele estrear por aqui. É – para usar uma expressão que crítico de cinema gosta muito – um “retrato devastador” de como funciona a educação pública nos Estados Unidos. Para nós, brasileiros, que temos pouquíssimos motivos para nos orgulhar do nosso próprio sistema de educação – a professora Mirza, que é o personagem central de uma série que estou fazendo no “Fantástico”, é uma delas (perdão pela “cabotinagem”) – o filme é ainda mais chocante: se lá a situação é trágica, que esperança podemos ter? Mas vamos discutir isso melhor em outra ocasião…
O outro bom documentário do ano é “Uma noite em 67”. Um registro único – e não estou falando, claro, dos clipes musicais, que todo mundo já viu à beça, mas das entrevistas nos bastidores do festival de música daquele ano. Um ótimo retrato, não só de um momento musical único na história da MPB, mas também de uma geração – e até de uma fase muito peculiar da evolução da TV. Vi que ele acaba de sair em DVD – e, como sei que as chances de você ter visto no cinema (por conta do lançamento limitado) são poucas, eu recomendo fortemente que você o coloque na lista de sugestão de presentes para ganhar do seu amigo secreto (ou “oculto”…).
Com “67”, minha lista está quase completa. Mas falta, sei bem, o tal “filme” do ano para mim. E ele é… “Você vai encontrar o homem dos seus sonhos”, de Woody Allen. Eu sei, você já torceu o nariz. Vou tentar me explicar, mas sei que não vai ser fácil. Desde que o vi, na terça-feira passada, já tive sete discussões fortes em torno disso. E consegui vencer apenas duas argumentações, com pessoas que gosto e respeito – e mesmo assim, uma delas, não sei se convenci por inteiro. Ocorre que eu acredito mesmo que esse filme é brilhante. Sensacional. Quase um Shakespeare – só que sem a poesia. Deixe-me prosseguir…
Primeiro, encare “Você vai encontrar” como a obra final de uma trilogia – que começou com “Vicky Cristina Barcelona”, e continuou com “Tudo pode dar certo” . Esses filmes, mais “Você vai encontrar”, é fruto de um Woody Allen enlouquecido, mais velho, mas não exatamente mais maduro, que, finalmente, convenceu-se (e quer nos convencer também) de que nós, pobres humanos, não temos controle algum sobre nossas vidas – nem mesmo sobre o que quer nossos corações. E as consequências desse desvario são sempre imprevisíveis – quando não trágicas…
As relações (perigosas) de “Você vai conhecer” são tão rocambólicas que seria leviano detalhá-las em apenas um parágrafo. Vou apenas “pincelar”: Alfie (Anthony Hopkins) separa-se de Helena (Gemma Jones), para ter uma vida de playboy – que inclui um casamento com uma, hum, atriz… A filha do casal que se separou (Sally, vivida por Naomi Watts) tem um casamento sem graça com um escritor fracassado (Roy, Josh Brolin). Ela se apaixona pelo dono da galeria de arte onde trabalha (Greg, Antonio Banderas), e ele pela vizinha que troca de roupa com a janela aberta (Dia, Freida Pinto). Helena, desesperada, procura uma vidente – na sua opinião, muito mais eficiente do que os terapeutas que ela vinha frequentando. E as “previsões” que ela faz se desdobram – ainda que de maneira indireta – na vida desses personagens maravilhosos.
O que acontece depois que você entende todas essas relações, é o teatro do acaso. Todas as paixões são possíveis, assim como todas as decepções – e acompanhar cada reviravolta dessas histórias é simplesmente fascinante. Esse desgoverno das ações e emoções humanas, só reforçando, começou a ser exposta em “Vicky” – onde, como você bem lembra, nada funciona muito bem… Ou ainda: todas as mudanças propostas pelo destino não são bem aceitas – e o mundo retoma seu curso, com as mesmas manias e loucuras de dantes. “Tudo pode dar certo” tem o mesmo “moto” – mas é, a meu ver, o mais fraco da trilogia, justamente porque Woody Allen, como o título indica, força o roteiro para que tudo termine bonitinho. Os corações também estão a mil nesse filme, e as regras são quebradas todo o tempo. Mas a conclusão é “arrumadinha” demais. As coisas, como aprendemos sempre na prática, nunca são assim… E é com “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” que ele retoma a “Natureza” das coisas – com “N” maiúsculo mesmo, não nossa fauna e flora (e reino mineral!), mas a Natureza dos homes, o acaso, o destino.
Não dá para contar nada desse filme sem tirar o seu prazer de acompanhar cada cena. Porém, no intuito de te preparar melhor, chamo sua atenção para alguns detalhes. Como o diálogo final entre Greg e Sally; ou as visitas “inesperadas” de Helena à casa da filha; a interpretação de Pauline Collins, que faz a “atriz” que se “apaixona” por Alfie, Charmaine (interpretada pela sensacional Lucy Punch, onde Allen arruma atrizes e atores assim???); a confusão quando duas famílias brigam por conta de uma cerimônia de casamento; a sessão esotérica de “conversa com os mortos”; e tantas outras coisas…
Com uma realidade absurda – exatamente a que vivemos e relutamos em admitir que ela é absurda, na tentativa tola de fazer com que as coisas façam sentido (um raciocínio teimoso que talvez impeça as pessoas de apreciar o filme) – não me espanta que o único desfecho feliz possível no filme seja justamente aquele que depende de fantasia.
Releio o parágrafo anterior e percebo que ele é vago demais – quase abstrato. Mas é isso que me encantou no filme. E é por isso que achei esse filme tão genial. Ri, chorei, passei por momentos aflitos, outros graves, levei sustos, reconheci situações vividas por mim etc. etc. etc. Não é isso que faz da Shakespeare algo tão universal? Ah se Woody Allen soubesse colocar tudo em versos…
E com o encantamento de “Você vai conhecer o homem da sua vida”, digo que o ano cinematográfico fecha bem. Os lançamentos de fim de ano – como “Cisne negro”, que estou louco para ver –, ficam, quem sabe, para a lista de 2011. E quinta-feira vamos dar uma geral pelos bons livros de 2010.
Desta vez, achei melhor disfarçar… Da última vez em que estampei a frase "o melhor filme do ano" no título de um post, provoquei, digamos, um certo desconforto… Era o ano de 2008 – e minha escolha não foi exatamente este filme que você está pensando. Que filme? Bem, a julgar pela ira que despertei nos fãs – quando, no lugar desse previsível (e ligeiramente confuso) sucesso, escolhi um (o horror!) um filme de arte (“Hunger”, de Steve McQueen) –, sinto-me até constrangido em ter de refrescar sua memória. Afinal, o tal filme era supostamente tão bom, teria marcado tanto uma geração, que à menção do ano de 2008, essa produção deveria imediatamente pipocar nas lembranças dos fãs de cinema…
Assim, para você que tem um bom registro cinematográfico – e que, como eu, admirou esse filme nas suas modestas qualidades, sem se influenciar pelo afã coletivo que seu tema despertava –, acho que não preciso falar de novo seu nome. E como é para você que escrevo – você, que tem uma opinião equilibrada e sabe separar sua opinião de um modismo – vamos em frente: vamos falar do filme do ano. Do ano de 2010, claro.
Para ser transparente, vi tão poucos filmes nos últimos doze meses, que tenho que admitir que minha lista de melhores títulos é quase idêntica à relação de produções a que assisti… E, pelo jeito, dei sorte – já que quase tudo foi muito bom. Minha escolha de “filme do ano” é modesta – talvez mais idiossincrática ainda do que a minha relação dos “melhores discos que você não ouviu em 2010” . Mas ela é honesta, de coração – uma vez que poucos filmes mexeram comigo como esse que vou citar em breve.
Reconheço que é uma petulância escolher uma produção tão pequena e despretensiosa – que certamente não vai figurar em nenhuma lista de “melhores do ano” de nenhuma publicação importante (talvez nem mesmo de um blog relevante). Mas nenhum filme que vi este ano falou tanto comigo como esse. Talvez “Toy story 3”, já que esse é o filme “teoricamente” feito para crianças mais cruel que um adulto poderia assistir. Como escrevi em junho, o desenho é uma grande parábola sobre rejeição, mas elaborada de maneira tão brilhante, que ninguém sai do cinema achando que passou por uma lição de moral. Pela sutileza com que essa mensagem é passada, pelas boas risadas, e pela esperança de que as crianças que hoje se divertiram com ele vão, no futuro rever “Toy story 3” com outra perspectiva – quem sabe junto com seus filhos? –, esse filme entra, com louvor, na minha lista de melhores do ano.
(Uma rápida satisfação: ao contrário do que fiz com os discos, não vou separar minhas escolhas por itens. Eu já deveria saber disso, mas fui lembrado – pelos comentários mais superficiais – que algumas pessoas têm preguiça de ler um texto completo, e preferem julgar minhas preferências apenas pelas primeiras linhas, ou mesmo, apenas por um título. Vários foram os que escreveram sobre o post anterior deixando claro que desconsideravam minha lista, sem sequer ter se dado o trabalho de saber as razões daquelas escolhas… Magoei… E por isso resolvi adotar outra estratégia: falar dos meus filmes favoritos do ano em texto corrido. Quem sabe isso não assusta o leitor mais desavisado? Será que divago? Bem, de volta à sala de cinema!).
Deixar de fora a produção brasileira mais bem sucedida de todos os tempos, seria uma desconsideração muito grande. Incluir “Tropa de elite 2” na minha seleção, porém, não é mero protocolo. Como escrevi em outubro, os méritos dessa “continuação” de uma história de sucesso são muitos: um roteiro melhor, um tema maior, interpretações ainda mais memoráveis que as do primeiro filme – e uma incrível sintonia com o que está acontecendo no nosso país nesse momento. O recorde de bilheteria é mais do que merecido – e empresta um certo prestígio à lista de melhores performances para uma produção nacional… Esclareço: fui só eu que achou curioso que os dois “campeões de venda de ingressos” antes de “Tropa 2” eram “pornochanchadas” ligeiramente confeitadas, tentando disfarçar seu, hum, apelo popular escorados em histórias de grandes escritores (Jorge Amado e Nélson Rodrigues, claro)? Bem, adiante!
Duas preciosidades do começo do ano merecem ser lembradas também. Ambas são de 2009, mas chegaram às nossas telas só em 2010 – então, estão valendo. A primeira é uma das histórias de amor mais tristes que já vi no cinema, que se destaca pela originalidade de ser contada como uma comédia: “500 dias com ela”. Joseph-Gordon Levitt dá nesse filme um salto maior do que todas suas peripécias de desafio à gravidade em “A origem”, e me convenceu de que dentro de todo “mané” existe um coração… A segunda é “O segredo dos seus olhos” , o título argentino que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, mas cujos méritos vão muito além de uma estatueta. Seu retrato de uma Argentina claustrofóbica e assustada é estampado numa trama sofisticada e com um desfecho surpreendente – ligeiramente boicotado pelo epílogo deveras longo. “Segredo” é tão bem elaborado que eu tenho vontade de mandar para uma meia-dúzia de roteiristas para eles perceberem que não precisa ir estudar na Califórnia para vir com um bom script – aqui do lado mesmo, nosso “hermanos” dão o exemplo de que basta gostar da linguagem de cinema para fazer um produto de qualidade.
Por falar em roteiro de qualidade, em maio elogiei – e agora reforço – o trabalho de adaptação de “Os homens que não amavam as mulheres”. Sou um fã relutante dos livros de Steig Larsson, mas mesmo assim estava preocupado com o que poderia se perder nessa transição. Mas a produção sueca – de um diretor desconhecido para o grande público, e com um elenco idem – me deixou mais que satisfeito. E apavorado. A personalidade de Lisbeth Salander (a bizarra heroína da saga) foi encarnada com precisão por Noomi Repace – e Rooney Mara, que brilhou em “A rede social” (já chego lá), tem uma responsabilidade e tanto em segurar essa onda quando vier a versão hollywoodiana da história. Mas, como quem vai encarar o desafio de dirigir essa versão é David Fincher, respiro aliviado. Falando nele…
Tinha tudo para ser muito chato: uma história de dois garotos que inventaram um novo negócio multibilionário na internet? Não obrigado! Mundo virtual e cinema raramente combinam, mas em “A rede social” essa união deu muito certo. E a direção de Fincher, certamente, tem parte nisso. Não sei do que gostei mais: dos diálogos disparados como metralhadoras, das performances precisas e sem exageros, da estrutura desafiadora do roteiro, da construção de um personagem quase “demoníaco” (Eisenberg)… Só sei que o filme é quase perfeito – e vai ser um prazer ver ele colecionando estatuetas nessa temporada de prêmios.
Nos documentários – gênero do qual fomos bem servidos este ano –, dois destaques. Um inédito ainda por aqui (no circuito comercial), mas que tive a chance de ver numa viagem recente a Nova York: “Waiting for Superman” LINKI PARA http://www.waitingforsuperman.com/. Há semanas procuro uma brecha para falar dele no blog, mas acho que vou ter que deixar para 2001 – quem sabe quando (e se) ele estrear por aqui. É – para usar uma expressão que crítico de cinema gosta muito – um “retrato devastador” de como funciona a educação pública nos Estados Unidos. Para nós, brasileiros, que temos pouquíssimos motivos para nos orgulhar do nosso próprio sistema de educação – a professora Mirza, que é o personagem central de uma série que estou fazendo no “Fantástico”, é uma delas (perdão pela “cabotinagem”) – o filme é ainda mais chocante: se lá a situação é trágica, que esperança podemos ter? Mas vamos discutir isso melhor em outra ocasião…
O outro bom documentário do ano é “Uma noite em 67”. Um registro único – e não estou falando, claro, dos clipes musicais, que todo mundo já viu à beça, mas das entrevistas nos bastidores do festival de música daquele ano. Um ótimo retrato, não só de um momento musical único na história da MPB, mas também de uma geração – e até de uma fase muito peculiar da evolução da TV. Vi que ele acaba de sair em DVD – e, como sei que as chances de você ter visto no cinema (por conta do lançamento limitado) são poucas, eu recomendo fortemente que você o coloque na lista de sugestão de presentes para ganhar do seu amigo secreto (ou “oculto”…).
Com “67”, minha lista está quase completa. Mas falta, sei bem, o tal “filme” do ano para mim. E ele é… “Você vai encontrar o homem dos seus sonhos”, de Woody Allen. Eu sei, você já torceu o nariz. Vou tentar me explicar, mas sei que não vai ser fácil. Desde que o vi, na terça-feira passada, já tive sete discussões fortes em torno disso. E consegui vencer apenas duas argumentações, com pessoas que gosto e respeito – e mesmo assim, uma delas, não sei se convenci por inteiro. Ocorre que eu acredito mesmo que esse filme é brilhante. Sensacional. Quase um Shakespeare – só que sem a poesia. Deixe-me prosseguir…
Primeiro, encare “Você vai encontrar” como a obra final de uma trilogia – que começou com “Vicky Cristina Barcelona”, e continuou com “Tudo pode dar certo” . Esses filmes, mais “Você vai encontrar”, é fruto de um Woody Allen enlouquecido, mais velho, mas não exatamente mais maduro, que, finalmente, convenceu-se (e quer nos convencer também) de que nós, pobres humanos, não temos controle algum sobre nossas vidas – nem mesmo sobre o que quer nossos corações. E as consequências desse desvario são sempre imprevisíveis – quando não trágicas…
As relações (perigosas) de “Você vai conhecer” são tão rocambólicas que seria leviano detalhá-las em apenas um parágrafo. Vou apenas “pincelar”: Alfie (Anthony Hopkins) separa-se de Helena (Gemma Jones), para ter uma vida de playboy – que inclui um casamento com uma, hum, atriz… A filha do casal que se separou (Sally, vivida por Naomi Watts) tem um casamento sem graça com um escritor fracassado (Roy, Josh Brolin). Ela se apaixona pelo dono da galeria de arte onde trabalha (Greg, Antonio Banderas), e ele pela vizinha que troca de roupa com a janela aberta (Dia, Freida Pinto). Helena, desesperada, procura uma vidente – na sua opinião, muito mais eficiente do que os terapeutas que ela vinha frequentando. E as “previsões” que ela faz se desdobram – ainda que de maneira indireta – na vida desses personagens maravilhosos.
O que acontece depois que você entende todas essas relações, é o teatro do acaso. Todas as paixões são possíveis, assim como todas as decepções – e acompanhar cada reviravolta dessas histórias é simplesmente fascinante. Esse desgoverno das ações e emoções humanas, só reforçando, começou a ser exposta em “Vicky” – onde, como você bem lembra, nada funciona muito bem… Ou ainda: todas as mudanças propostas pelo destino não são bem aceitas – e o mundo retoma seu curso, com as mesmas manias e loucuras de dantes. “Tudo pode dar certo” tem o mesmo “moto” – mas é, a meu ver, o mais fraco da trilogia, justamente porque Woody Allen, como o título indica, força o roteiro para que tudo termine bonitinho. Os corações também estão a mil nesse filme, e as regras são quebradas todo o tempo. Mas a conclusão é “arrumadinha” demais. As coisas, como aprendemos sempre na prática, nunca são assim… E é com “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” que ele retoma a “Natureza” das coisas – com “N” maiúsculo mesmo, não nossa fauna e flora (e reino mineral!), mas a Natureza dos homes, o acaso, o destino.
Não dá para contar nada desse filme sem tirar o seu prazer de acompanhar cada cena. Porém, no intuito de te preparar melhor, chamo sua atenção para alguns detalhes. Como o diálogo final entre Greg e Sally; ou as visitas “inesperadas” de Helena à casa da filha; a interpretação de Pauline Collins, que faz a “atriz” que se “apaixona” por Alfie, Charmaine (interpretada pela sensacional Lucy Punch, onde Allen arruma atrizes e atores assim???); a confusão quando duas famílias brigam por conta de uma cerimônia de casamento; a sessão esotérica de “conversa com os mortos”; e tantas outras coisas…
Com uma realidade absurda – exatamente a que vivemos e relutamos em admitir que ela é absurda, na tentativa tola de fazer com que as coisas façam sentido (um raciocínio teimoso que talvez impeça as pessoas de apreciar o filme) – não me espanta que o único desfecho feliz possível no filme seja justamente aquele que depende de fantasia.
Releio o parágrafo anterior e percebo que ele é vago demais – quase abstrato. Mas é isso que me encantou no filme. E é por isso que achei esse filme tão genial. Ri, chorei, passei por momentos aflitos, outros graves, levei sustos, reconheci situações vividas por mim etc. etc. etc. Não é isso que faz da Shakespeare algo tão universal? Ah se Woody Allen soubesse colocar tudo em versos…
E com o encantamento de “Você vai conhecer o homem da sua vida”, digo que o ano cinematográfico fecha bem. Os lançamentos de fim de ano – como “Cisne negro”, que estou louco para ver –, ficam, quem sabe, para a lista de 2011. E quinta-feira vamos dar uma geral pelos bons livros de 2010.
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
[copyleft] OS ESCRAVOS DO SÉCULOS XXI
::txt::Luther Blisset::
Os escravos do século XXI não precisam ser caçados, transportados e leiloados através de complexas e problemáticas redes comerciais de corpos humanos. Existe um monte deles formando filas e implorando por uma oportunidade de trocar suas vidas por um salário de miséria. O "desenvolvimento" capitalista alcançou um tal nível de sofisticação e crueldade que a maioria das pessoas no mundo tem de competir para serem exploradas, prostituídas ou escravizadas.
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
[domínio público] A BUNDA QUE ENGRAÇADA
::psy::Carlos Drummond de Andrade::
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
[agência pirata] KURT SONNENFELD: REFUGIADO AMERICANO POR HABER GRABADO DEMASIADO EN 11/9
::txt y ntrvst::Tomás D’Amico::
El camarógrafo norteamericano Kurt Sonnenfeld, ex funcionario del gobierno de EE.UU., fue testigo y filmó los restos de las torres gemelas destruidas durante los ataques del 11 de septiembre 2001. Su testimonio desmiente la versión oficial de Washington. Sonnenfeld nos brinda sus reflexiones acerca de su dramática experiencia y nos actualiza sobre su persistente estado de vulnerabilidad frente al gobierno de su país. Entrevista de nuestro colega Tomás D’Amico desde Argentina.
Kurt Sonnenfeld es el único estadounidense que vive refugiado en la Argentina. Estuvo preso en su país en 2003 bajo sospecha por la muerte de su mujer, pero la Justicia lo declaró inocente. Unos meses después vino a la ciudad costera de San Bernardo a descansar y acabó en Buenos Aires, donde conoció a Paula, su actual esposa y madre de sus mellizas de cuatro años, Scarlett y Natasha. Desde su partida de Estados Unidos, la Embajada norteamericana presentó cuatro pedidos de extradición que han sido rechazados por el Estado argentino. En 2004, INTERPOL lo encarceló ocho meses en el penal de Devoto, pero aquí también se determinó su inocencia.
Sin embargo, detrás de la causa penal en su contra se esconde una historia más que relevante. Sonnenfeld trabajó ocho años para su gobierno y fue el único camarógrafo que filmó el lugar del desastre -Zona Cero- en Nueva York tras los atentados del 11 de septiembre de 2001. Como testigo directo, concluyó en que la explicación oficial no se condice con lo que en realidad vio. Debido a la importancia del material, el hombre nunca entregó los videos a las autoridades y, desde ese momento, vive perseguido por los servicios de inteligencia de su país.
Próximos a cumplirse una década de los atentados, aquella madrugada Sonnenfeld dormía junto a su mujer Nancy en su casa en Denver. Cinco minutos después del impacto del primer avión contra la Torre Norte del World Trade Center, lo despertó un llamado telefónico de su jefe.
Me pidió que prendiera el televisor. Puse CNN, y vi que un pequeño avión se había incrustado contra una de las torres. Era un grave accidente pero no sobrepasaba la capacidad del Estado para responder. Pero recuerdo que mi jefe me ordenó que fuera a Nueva York y me dijo: “estamos siendo atacados”.
Y así llegó a la Zona Cero…
FEMA ya estaba en Nueva York porque había un simulacro de ataque terrorista preparado para el día 12. Yo llegué dos días más tarde, todo el perímetro estaba cerrado y la zona estaba repleta de carteles que prohibían el uso y la tenencia de cámaras de fotos o filmación. Desde el primer momento se prohibió el ingreso a los medios de comunicación y mi trabajo era documentar y facilitar imágenes a la prensa. Había una especie de paranoia con las fotografías que se podían tomar en la Zona Cero, la excusa era que se trataba de una escena de crimen, pero yo fui testigo de cómo destruyeron y sacaron la evidencia. Nunca fueron a protegerla. No la necesitaban, porque a los pocos minutos del segundo impacto ya estaban acusando a Osama Bin Laden.
Como testigo directo, ¿Que cosas le hicieron pensar que el gobierno tuvo responsabilidad en los atentados del 11 de septiembre?
Primero hay que entender que estaba en un estado de shock. Nunca antes el país había sido atacado de esa manera. Aun así, hubo hechos inexplicables. Inicialmente, el llamado de mi jefe antes del segundo impacto fue algo sospechoso, porque hasta ese momento la televisión decía se trataba de un accidente y FEMA solo actuaba cuando las autoridades locales se veían excedidas. Por otro lado, el World Trade Center estaba compuesto de siete edificios. Lo que sucedió en el N°6 aún es un enigma. A la semana de llegar a la Zona Cero logramos ingresar con miembros de las fuerzas especiales a los pisos subterráneos donde había una cámara de seguridad y allí dentro una bóveda. Fuimos los primeros en descubrir el lugar porque no había señales de otros grupos. La bóveda se abría mediante un teclado, pero la puerta ya estaba abierta. Todo estaba oscuro, ingresamos con linternas a buscar sobrevivientes, pero el cuarto estaba vacío. Solo encontramos polvo y una pared dañada. Y era imposible que no hubiese nada, porque desde el primer impacto se había cortado el transito y se había prohibió el acceso de vehículos. La bóveda tenía un tamaño de 15x15 metros y para vaciarla se habría necesitado al menos un camión grande. Y tras el ataque no hubiesen podido entrar por el daño que sufrió el subterráneo. O sea, solo pudo haber sido vaciada con anterioridad.
¿Qué explicación dio el gobierno?
Al poco tiempo la Oficina de la Aduana comunicó que toda la evidencia que había en la bóveda se había perdido. Pero algunos meses después desbarataron una banda de narcotraficantes colombianos y dijeron que había sido gracias a evidencia rescatada milagrosamente de la bóveda. Algo imposible porque nosotros fuimos los primeros en ingresar. Con los años me enteré que el fin de semana anterior al 11-S, todo el suministro eléctrico del World Trade Center fue suspendido, incluyendo las cámaras y sistemas de seguridad. Y se conoció que la empresa encargada de la seguridad era Securitech, y su director era Marvin Bush, hermano menor del presidente, y su primo Wirt Walker III.
¿Qué otras cosas llamaron su atención?
Según la versión oficial, las cuatro cajas negras se evaporaron por el impacto y el incendio. Es imposible que hayan sido totalmente destruidas. Yo tengo imágenes de fuselaje, ruedas, butacas, gomas, turbinas y muchas otras partes. Las cajas negras fueron construidas para soportar calor, presión debajo del agua y fuertes impactos de fuerza G. A mí me habían avisado que en caso de la extracción de cajas yo tenía que grabar ese momento. Una noche me llamaron desde la Zona Cero y solo escuché: “No, No, No”, y me cortaron. Llamé al número y una persona me contestó que se había equivocado, algo que me resultó extraño. Para mi es poco creíble que no se hayan encontrado, lo mismo que en el Pentágono.
Además de la caída de ambas torres, el Edificio N°7 que se hallaba fuera del perímetro del World Trade Center, se derrumbó siete horas más tarde. ¿Qué sabe al respecto?
La manera en que cayó el edificio es el sueño de las demoliciones controladas. Se derrumbó en un bloque perfecto. Yo tengo imágenes de puestos de comida que estaban sobre la calle y que quedaron intactos. Se desplomaron todos los pisos al mismo tiempo, en solo 6,5 segundos. Nunca antes en la historia se había caído un edificio de hierro o acero por causa de fuego, y ese día cayeron tres. El edificio N°7 solo se explica por una demolición controlada.
¿Cuál es su teoría de lo que sucedió el 11-S?
Por mi experiencia en la Zona Cero y teniendo en cuenta lo que pasó con el edificio N°7, el gobierno estadounidense no solo sabia del ataque y no hizo nada, sino que estoy en condiciones de decir que ayudaron a que sucediera. Ya son varios los integrantes de la Comisión Oficial sobre el 11-S que dicen que el reporte está repleto de mentiras. Es imposible creer la versión oficial, ya está desechada.
¿Qué es lo que genera tanta insistencia de Estados Unidos por sus filmaciones?
En primer lugar porque no tienen idea de lo que grabé. Luego temen que yo esté libre, de la situación embarazosa que les puede generar y del peligro que le supone a su política militar. Hace años que Estados Unidos está utilizando la lucha contra el terrorismo como una excusa para expandirse, y si el público en general comienza a darse cuenta que esta guerra ha sido manufacturada y deja de apoyar al gobierno, peligran sus negocios y sus planes a futuro.
En la madrugada del 1 de enero de 2002, Sonnenfeld cuenta que oyó un disparo mientras trabajaba en el estudio de su casa en Denver. Corrió a su habitación y encontró el cuerpo de su primera esposa, Nancy, en el suelo con la cabeza ensangrentada y un revolver a su lado. Relata que llamó al 911 y a los pocos minutos arribó la Policía local y un grupo de paramédicos. Al ingresar a su domicilio, tres agentes lo apresaron y golpearon bajo sospecha de homicidio. Permaneció alrededor de siete meses encarcelado, pero la Corte de Colorado falló en su favor y determinó el suicidio de la mujer. Cuando regresó a su hogar, constató que su computadora personal y muchas cintas de filmación le habían sido confiscadas sin autorización del Juez.
Usted denuncia que fue torturado en la cárcel estadounidense…
Si. Luego de apresarme, me llevaron a la celda, y mientras me ahorcaban y me pateaban los testículos, me pusieron una sustancia química en la nariz. Eso con los días empezó a quemar y el dolor se extendió hasta la garganta. Después me pasaron a la celda de confinamiento, de 2x2 metros y sin luz. Fue en enero, en medio de las montañas y en la mitad del invierno. Estaba desnudo con un delantal de hospital y un colchón de vinilo. Había un agujero en el suelo que era el inodoro, pero el botón estaba fuera de la celda, y los guardias lo apretaban por diversión durante la noche para inundar el piso del lugar. Estuve diez días en esa celda. Y, gracias a que las quemaduras del líquido en la nariz me provocaron una infección, un vigilante llamó al enfermero y me sacaron de ahí. El hombre me explicó que la infección estaba cerca del cerebro y que podía causarme la muerte.
¿Cómo logró guardar consigo los tapes del World Trade Center?
Mi sótano estaba lleno de tapes, guardé los 29 tapes de GZ en una cajita de maquillaje, dentro del placard enorme que tenía en mi oficina. Estaba en un cesto repleto de piezas de cámaras y videos. Mis vecinos me avisaron que mucha gente ingresó a mi casa sin autorización del Juez mientras yo estuve preso. Mi teoría es que buscaron rápidamente y se llevaron lo que encontraban: la computadora, cientos de tapes de trabajos anteriores y demás.
¿Cómo fue que terminó en la Argentina?
Unos meses después de salir de prisión, mis padres y amigos me recomendaron irme un tiempo a descansar. Uno me dijo que unos parientes suyos tenían un departamento en la costa argentina. Así que decidí irme a San Bernardo por un mes. Salí de Estados Unidos como un hombre libre, con mi pasaporte, mi tarjeta de crédito, con una maleta y el pasaje de vuelta, nunca me escape como un fugitivo. Aquí conocí a Paula y tuve que empezar una nueva vida.
Luego de una primera reunión de reconocimiento en un bar escondido en una laberíntica galería de la Capital Federal, la pareja acepta realizar la entrevista en su hogar. La mujer confiesa que la ubicación de dicho encuentro responde a su conocimiento del lugar en caso de una emboscada. Lejos de lo que se podría suponer, la familia vive en una humilde casa en el barrio porteño de Barracas. Una garita blindada de color amarillo esta plantada en la esquina y vigila los movimientos de la cuadra. El ingreso no presenta mayores dificultades que el incomodo ruido de las múltiples cerraduras y los dos perros que surgen inmediatamente del interior.
El camino hacia el comedor esta adornado con fotografías de la familia en distintos pasajes de la ciudad. Las marcas de crayón en las paredes, dos globos rosas en el suelo y una bandana turquesa apoyada sobre un sillón revelan la inevitable presencia de las niñas. La pareja comenta que hace pocas semanas decidieron reforzar las puertas y ventanas porque el pasado 11 de septiembre, mientras eran entrevistados por dos periodistas en su terraza, un coche con dos personas abordo se detuvo y tomó fotografías de la fachada, la garita y los ingresos. Agregan que a los pocos días hicieron la denuncia y redactaron una carta a la prensa en la que advirtieron su temor a un secuestro relámpago.
¿Cómo se dio su detención aquí?
En 2004 ofrecí mostrar parte de mis filmaciones a un canal de televisión argentino y me plantearon hacer un programa especial por el tercer aniversario del 11-S. Justo unos días antes de que saliera al aire, aproximadamente diez agentes de INTERPOL llegaron a mi casa con una orden de captura y un documento de dos páginas de la Embajada de Estados Unidos que aclaraba que todas mis posesiones, documentos e imágenes serian secuestradas y remitidas a Norteamérica de forma inmediata. El argumento que nos dieron fue que dos presos habían declarado en mi contra. Lo cierto es que a cambio de lo que hicieron, la Justicia les redujo la condena.
¿Nunca pensó en abandonar su lucha?
Ese fue el momento más bajo en mi vida, había sido acusado falsamente otra vez y encarcelado dos veces en distintos países. Me habían torturado en Estados Unidos, mi casa había sido confiscada y mi reputación destruida. Además, estando en Devoto la Embajada norteamericana liberó un rumor de que tanto Paula como yo éramos agentes de la DEA -Administración de Cumplimiento de Leyes sobre las Drogas -. Y yo estaba en un pabellón donde el 90% de las personas habían sido detenidas por algún crimen relacionado al narcotráfico.
Fue un intento de que me mataran en la cárcel. Además, en ese tiempo Paula estaba embarazada y a los cinco meses lo perdimos. Ahí no quise seguir más, quise abandonarlo todo. Pero Paula, que es una gladiadora, siguió luchando y se reunió con el premio Nóbel de la Paz Adolfo Pérez Esquivel y con organizaciones de derechos humanos para hacer pública mi situación. A los siete meses, el juez Daniel Rafecas rechazó la extradición alegando que existían sombras en el caso y que por lo tanto en Estados Unidos no recibiría un juicio justo. También porque la Justicia argentina no acepta la mera aplicación de la pena de muerte, que es la condena que me espera en mi país si me declaran culpable.
¿Por qué considera que vive perseguido?
Bueno. Esto empezó en Estados Unidos. Cuando quedé libre y regresé a mi casa, noté que alguien había violado el sistema de seguridad y que las puertas habían sido forzadas. Lo mismo sucedió cuando me mude unos meses, a una casa en medio de la montaña, a dos horas de allí, donde la entrada también había sido violentada.
Ya viviendo en Argentina, comprobamos que la línea telefónica estaba intervenida. Recibimos llamadas por teléfono con amenazas y mensajes de texto con textuales: “deja las cosas como están y quizá tengas una vida”. Tenemos seguimientos constantes cuando salimos a la calle y hace un tiempo que nos roban la basura.
Hasta el momento, el hombre cuenta con el refugio provisorio expedido por la Comisión Nacional de Refugiados –CONARE-. Sonnenfeld explica que en su condición actual es imposible tramitar el documento de identidad. De esta manera, comenta lo difícil que resulta conseguir un empleo, ser atendido en un hospital ante un problema de salud o la incertidumbre frente a la detención de un control policial. En respuesta, el pasado 25 de agosto realizó una junta de firmas en Plaza de Mayo para que el Estado argentino le ceda el asilo político definitivo.
¿Que le sucedió cuando supo que la Justicia argentina otorgó el refugio político al chileno Sergio Apablaza Guerra?
Mi primera reacción fue: Si le dieron el asilo a él, ¡¿por qué no me lo dan a mí?! Es positivo, porque la base del rechazo a la extradición fue que en Chile no recibiría un juicio justo y porque tiene mujer e hijos argentinos. Yo cumplo ambas condiciones. Nosotros pedimos el mismo tratamiento que dieron a Apablaza Guerra. No puede ser que por ser norteamericano las cosas sean más difíciles.
Mucha gente pide que sus imágenes de la Zona Cero sean liberadas al público. ¿Qué piensa hacer con el material?
Hace años que estoy entregando mis imágenes a la prensa seria y a investigadores independientes para que puedan trabajar con ellas. Si no hubiese documentales en marcha ya lo hubiese puesto todo a Internet. Hay una presión muy grande de la gente que me pide que libere todo porque confían que me va a dar mayor protección, yo estoy de acuerdo y esa siempre fue mi intención. Solo que pienso en cuál sería la manera más efectiva, y considero que hasta el momento lo mejor es un documental realizado por especialistas que expliquen cada imagen. Por otra parte, hay que pensar también en las limitaciones técnicas, económicas y de tiempo que enfrento continuamente junto a mi familia. Al mismo tiempo que peleamos contra la maquinaria destructiva de los Estados Unidos, intentamos llevar adelante una vida con los problemas comunes de todas las personas.
¿Cuál fue la cobertura de los medios de comunicación sobre su caso?
En Estados Unidos continúan culpándome y me acusan de drogadicto y alcohólico. Yo trabajaba 40 semanas al año en una ciudad distinta cada semana, estuve en laboratorios, búnkeres de alta seguridad y lugares secretos del gobierno norteamericano. Tuve un trabajo de suma responsabilidad y tenían mucha confianza en mí como para que fuera un drogadicto. Es una estrategia para deshumanizar y desacreditarme. El método que utilizan conmigo es el mismo que usaron para atacar a Irak: presentar documentos fraudulentos y deshumanizar al enemigo.
¿Cómo analiza su situación a futuro?
Realmente no tengo idea. Cada día es como vivir con una enfermedad terminal, no se sabe si vas a vivir 30 años más o si al día siguiente te van a atacar y vas a morir. Confío en el gobierno y en la Justicia, que hasta este punto me han defendido. Reconocieron que sufro una persecución y que los cargos contra mí son injustos. Desconfío en el manejo y los movimientos que hace y seguirá haciendo Estados Unidos, y sí me pregunto que tan agresivos serán en el futuro.
¿Cómo analiza el presente de la administración Obama en torno a usted?
Yo tenía muchas esperanzas que hubiera un cambio, una transformación cultural. Pero en realidad, la política sigue igual, Guantánamo sigue funcionando, las guerras en Afganistán e Irak continúan y en este momento hay otra secreta realizándose en Pakistán. Las cárceles clandestinas en Europa todavía funcionan y lentamente están militarizando Sudamérica. Obama no quiere enjuiciar a las autoridades que torturaron en Irak y tampoco quiere reabrir la investigación por el 11-S. La política estadounidense es un tren que cambio de conductor pero que continúa por las mismas vías.
[agência pirata] DAR UMA CHANCE À PAZ
::txt::Ricardo Noblat::
Há sempre a esperança de que, nesta época do ano, o espírito do Natal consiga infiltrar-se pelas veias esclerosadas do mundo. Ele é bem necessário, num momento em que toda uma fileira de países sofre o impacto de uma crise econômica brutal. Pode ser ainda mais necessário, um pouco adiante, quando tensões políticas e econômicas ressuscitarem o espectro do confronto direto entre nações.
Desde o final do último conflito global, o mundo tem sido palco de guerras localizadas — a do Vietnam, a da Bósnia, a do Iraque, a do Afeganistão. Surgem, agora, novos motivos de tensão. Há quem se lembre, contemplando este cenário, do período que antecedeu a I Guerra Mundial.
Naquele início de século XX, a civilização europeia conhecera algumas décadas de paz. Por conta disso, havia progressos econômicos e científicos, um clima geral de prosperidade, de vitalidade. Mas, nesse aumento da riqueza e do poder, alguns países sentiam-se prejudicados na divisão do bolo — por exemplo, a Alemanha imperial e o Japão. Sem que houvesse motivo concreto para isso, esse crescimento de energia levou à primeira guerra mundial, que foi também a preparação da segunda.
O mundo tem hoje pontos de estagnação e de crise. Mas, a partir do leste da Ásia, propaga-se uma onda inédita de crescimento e de enriquecimento. A China de agora é uma potência que se candidata a mais poder e a maiores espaços na geopolítica mundial. Isso lança ondas de choque por toda a vizinhança — inclusive porque o poderio militar chinês tem aumentado muito além do que seria necessário para fins defensivos.
As reações não se fazem esperar. O Japão, depois de ter sido humilhado num conflito sobre águas territoriais, já modifica os seus mecanismos de defesa — sem alterar totalmente a política pacifista com que emergiu da II Guerra Mundial. A India endurece suas posições em relação à China — com a qual já teve um conflito sério nos anos 60. A China, por sua vez, incrementa seus laços com o Paquistão, inimigo da India. Poucos dias atrás, Estados Unidos e Vietnam elaboraram um projeto comum de defesa (quem podia achar isso possível, há não muito tempo?). A Coreia do Sul reforça sua política de segurança, tendo ao lado a ameaça de um regime alucinado.
O pano de fundo deste cenário é que se projeta, a médio prazo, uma mudança de posição relativa entre as grandes potências, sendo a China candidata ao número um. Isso também aconteceu antes da I Guerra Mundial, envolvendo, ali, Inglaterra e Estados Unidos. Faz parte da psicologia nacional americana a identificação de adversários. Se, nesse contexto, a China passa a ser vista como adversária, isso prejudicaria profundamente o relacionamento entre os dois gigantes.
Nenhum dos dois tem tradição de diplomacia sofisticada — e a China vem de um período de profundo isolamento, seguido, agora, por acessos de insegurança que alimentam um nacionalismo mal resolvido. Neste cenário, quem poderia atuar como mediador no caso de um agravamento das tensões? Talvez, só mesmo o medo do pior — de um conflito incrivelmente devastador, com armas nucleares.
Há sempre a esperança de que, nesta época do ano, o espírito do Natal consiga infiltrar-se pelas veias esclerosadas do mundo. Ele é bem necessário, num momento em que toda uma fileira de países sofre o impacto de uma crise econômica brutal. Pode ser ainda mais necessário, um pouco adiante, quando tensões políticas e econômicas ressuscitarem o espectro do confronto direto entre nações.
Desde o final do último conflito global, o mundo tem sido palco de guerras localizadas — a do Vietnam, a da Bósnia, a do Iraque, a do Afeganistão. Surgem, agora, novos motivos de tensão. Há quem se lembre, contemplando este cenário, do período que antecedeu a I Guerra Mundial.
Naquele início de século XX, a civilização europeia conhecera algumas décadas de paz. Por conta disso, havia progressos econômicos e científicos, um clima geral de prosperidade, de vitalidade. Mas, nesse aumento da riqueza e do poder, alguns países sentiam-se prejudicados na divisão do bolo — por exemplo, a Alemanha imperial e o Japão. Sem que houvesse motivo concreto para isso, esse crescimento de energia levou à primeira guerra mundial, que foi também a preparação da segunda.
O mundo tem hoje pontos de estagnação e de crise. Mas, a partir do leste da Ásia, propaga-se uma onda inédita de crescimento e de enriquecimento. A China de agora é uma potência que se candidata a mais poder e a maiores espaços na geopolítica mundial. Isso lança ondas de choque por toda a vizinhança — inclusive porque o poderio militar chinês tem aumentado muito além do que seria necessário para fins defensivos.
As reações não se fazem esperar. O Japão, depois de ter sido humilhado num conflito sobre águas territoriais, já modifica os seus mecanismos de defesa — sem alterar totalmente a política pacifista com que emergiu da II Guerra Mundial. A India endurece suas posições em relação à China — com a qual já teve um conflito sério nos anos 60. A China, por sua vez, incrementa seus laços com o Paquistão, inimigo da India. Poucos dias atrás, Estados Unidos e Vietnam elaboraram um projeto comum de defesa (quem podia achar isso possível, há não muito tempo?). A Coreia do Sul reforça sua política de segurança, tendo ao lado a ameaça de um regime alucinado.
O pano de fundo deste cenário é que se projeta, a médio prazo, uma mudança de posição relativa entre as grandes potências, sendo a China candidata ao número um. Isso também aconteceu antes da I Guerra Mundial, envolvendo, ali, Inglaterra e Estados Unidos. Faz parte da psicologia nacional americana a identificação de adversários. Se, nesse contexto, a China passa a ser vista como adversária, isso prejudicaria profundamente o relacionamento entre os dois gigantes.
Nenhum dos dois tem tradição de diplomacia sofisticada — e a China vem de um período de profundo isolamento, seguido, agora, por acessos de insegurança que alimentam um nacionalismo mal resolvido. Neste cenário, quem poderia atuar como mediador no caso de um agravamento das tensões? Talvez, só mesmo o medo do pior — de um conflito incrivelmente devastador, com armas nucleares.
sábado, 25 de dezembro de 2010
[zipmusic] LULINA: MEUS 13 ANOS
::txt::Lulina::
E aqui está o link para baixar nosso presentinho de Natal: disco Meus Dias 13.
É só gravar em um cd-r e você terá um disco feito também por você, para dar de presente aos amigos e parentes.
Agradecimentos a Leo Monstro, Missionário José e André Firuba Édipo por toda a força na produção.
E agora, a capinha e instruções de montagem. Agradecimentos a Flavia Amaral, que fez a direção de arte, Leo Monstro, que fez a foto da capa e Daniel Tagliari, que fez as ilustrações (e as fez alguns dias atrás, quando ainda tinha 13 anos).
Capa:
Para montar seu cd, recomendamos imprimir a capa e a contra-capa e colar uma na outra. O ideal seria imprimir em uma gráfica, em impressora a laser, que fica mais caprichado. O tamanho da impressão de cada arquivo é 12×12 (tamanho padrão de capa). Depois de montada, você pode colocá-la naquelas caixinhas fininhas de cd.
Contra-capa:
Já a parte interna do encarte é uma espécie de poster, com o nome de todos os participantes das músicas, que você pode guardar dobrado ou arrasar logo pendurando na parede. Este a gente recomenda imprimir também em uma gráfica, no tamanho A3.
Poster:
Eu tinha colocado um convite há muito tempo para as pessoas mandarem sugestões de capas, mas não deu certo. Ao contrário das canções, que tiveram dezenas de participações, só uma pessoa mandou uma capa, que foi a Patricia Del Sole, quando já estávamos finalizando a oficial. Agradecemos à Patricia, que mandou uma sugestão fofíssima, mas desistimos da brincadeira, que era mostrar visões gráficas diferentes das canções, adotando como oficial a que já estávamos fazendo, esta que você está vendo aí em cima.
Bom, espero que tenham gostado e que esse presentinho de Natal agrade também a quem vocês vão presentear. Agradeço a todos que contribuíram com suas frases e tornaram essa loucura possível. O disco ficou lindo.
Feliz Natal.
E aqui está o link para baixar nosso presentinho de Natal: disco Meus Dias 13.
É só gravar em um cd-r e você terá um disco feito também por você, para dar de presente aos amigos e parentes.
Agradecimentos a Leo Monstro, Missionário José e André Firuba Édipo por toda a força na produção.
E agora, a capinha e instruções de montagem. Agradecimentos a Flavia Amaral, que fez a direção de arte, Leo Monstro, que fez a foto da capa e Daniel Tagliari, que fez as ilustrações (e as fez alguns dias atrás, quando ainda tinha 13 anos).
Capa:
Para montar seu cd, recomendamos imprimir a capa e a contra-capa e colar uma na outra. O ideal seria imprimir em uma gráfica, em impressora a laser, que fica mais caprichado. O tamanho da impressão de cada arquivo é 12×12 (tamanho padrão de capa). Depois de montada, você pode colocá-la naquelas caixinhas fininhas de cd.
Contra-capa:
Já a parte interna do encarte é uma espécie de poster, com o nome de todos os participantes das músicas, que você pode guardar dobrado ou arrasar logo pendurando na parede. Este a gente recomenda imprimir também em uma gráfica, no tamanho A3.
Poster:
Eu tinha colocado um convite há muito tempo para as pessoas mandarem sugestões de capas, mas não deu certo. Ao contrário das canções, que tiveram dezenas de participações, só uma pessoa mandou uma capa, que foi a Patricia Del Sole, quando já estávamos finalizando a oficial. Agradecemos à Patricia, que mandou uma sugestão fofíssima, mas desistimos da brincadeira, que era mostrar visões gráficas diferentes das canções, adotando como oficial a que já estávamos fazendo, esta que você está vendo aí em cima.
Bom, espero que tenham gostado e que esse presentinho de Natal agrade também a quem vocês vão presentear. Agradeço a todos que contribuíram com suas frases e tornaram essa loucura possível. O disco ficou lindo.
Feliz Natal.
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
[cc] EFETIVAR O ESTADO LAICO
::txt::Túlio Vianna::
A Constituição estabeleceu um Estado no qual as liberdades de crença e culto são garantidas e a separação entre Estado e instituições religiosas é definida expressamente. Na prática, porém, a permissividade da política com a religião ainda é uma realidade a ser enfrentada
O monoteísmo não é nada democrático. A crença em um deus único pressupõe a negação da existência do deus do vizinho. Pior: pressupõe que os mandamentos do seu deus são mais justos que os do deus do vizinho. E é natural que todos aqueles que se arroguem o direito de falar em nome deste deus único e todo-poderoso não primem muito pelo pluralismo. Quem ousaria contestar alguém que fala em nome de um deus onipotente, onipresente e onisciente?
A história está repleta de casos de políticos que sustentaram seu poder em nome de Deus. A teoria do “Direito Divino dos Reis”, em voga no século XVII, deu a Luiz XIV a necessária fundamentação ideológica para tornar-se o maior monarca absolutista da França: “L`État c`est moi” (O Estado sou eu) é a frase que melhor sintetiza o poder do mandatário de Deus na Terra.
No século seguinte, a mão de Deus não evitou que as cabeças de seus representantes na Terra rolassem e só então os ideais iluministas de separação entre direito e religião começaram a prevalecer. Nascia, assim, a concepção de um Estado laico que viria a nortear as democracias ocidentais até hoje.
No Brasil, durante todo o Império, o catolicismo continuou sendo a religião oficial, e as demais eram apenas toleradas (art.5º da Constituição de 1824). Como Estado confessional, o imperador antes de ser aclamado jurava manter aquela religião (art.103) e cabia a ele nomear os bispos (art.102, XIV). Somente com a proclamação da República, o Brasil se tornou um Estado laico, garantindo assim a separação entre Estado e religião (art.72, §3º a 7º da Constituição de 1891).
A atual Constituição brasileira de 1988 não deixa dúvidas quanto ao caráter laico de nosso Estado, garantindo expressamente a liberdade de crença, a liberdade de culto e a liberdade de organização religiosa (art. 5, VI da CR) e estabelecendo claramente a separação entre Estado e religião (art.19, I, da CR).
E “nunca antes na história deste país” esta separação entre direito e religião foi tão importante. Com a expansão das religiões neo-pentecostais nos últimos anos, o catolicismo, que sempre foi francamente majoritário no Brasil, começou a perder espaço e os brasileiros começaram a deparar com os problemas típicos do pluralismo religioso.
Divergências de crenças de um povo 90% cristão
Pesquisa Datafolha de maio de 2007 mostrou que 64% dos brasileiros se declaram católicos, 17% evangélicos pentecostais ou neo-pentecostais, 5% protestantes não pentecostais, 3% espíritas kardecistas, 1% umbandistas, 3% outra religião e 7% sem religião.
Poderíamos simplificar estes números e afirmar que o Brasil é um país 90% cristão, mas, na verdade, estas religiões divergem sobre pontos significativos de suas doutrinas, a começar por católicos e protestantes. Para os protestantes, a Bíblia é a única fonte de revelação de Deus e eles tendem a interpretá-la em sentido mais literal. Já os católicos acreditam também na Sagrada Tradição, isto é, nos ensinamentos orais transmitidos pelos cristãos ao longo dos séculos, como complementares ao texto bíblico. Daí surgem diferenças importantes: católicos adoram os santos e Maria, mãe de Cristo; os protestantes, não. Os católicos reconhecem o Papa como líder espiritual e acreditam nos sete sacramentos como instrumento para sua salvação; os protestantes creem que somente a fé em Jesus é capaz de salvá-los. Católicos interpretam o livro do Gênesis, que narra a história de Adão e Eva, como uma metáfora; alguns protestantes o interpretam literalmente e defendem o ensino do criacionismo na escola.
Mas há diferenças significativas também entre as Igrejas Protestantes históricas (Batistas, Luteranos, Presbiterianos, Metodistas e outras) e as Pentecostais (conhecidas no Brasil como evangélicas). A principal delas é a de que os pentecostais acreditam que o Espírito Santo continua a se manifestar nos dias de hoje, por meio das práticas de curas milagrosas, profecias e exorcismos, entre outras.
Há diferenças substanciais também entre o Pentecostalismo Clássico (Assembleia de Deus, Congregações Cristãs, Deus é Amor e outras) e o Movimento Neo-Pentecostal (Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Renascer em Cristo e outras). A primeira delas é visível: os pentecostais clássicos se vestem com roupas bastante formais por imposição das Igrejas: homens de terno; mulheres de saias longas e cabelos compridos. Outros usos e costumes rígidos normalmente são impostos aos fiéis, como por exemplo, não assistir à TV e não praticar esportes e, para as mulheres, não se depilar ou usar anticonceptivos. O conservadorismo é a tônica da doutrina pentecostal clássica, que se baseia no ascetismo e no sectarismo. Já os neo-pentecostais são bem mais liberais, não se vestem de forma determinada e têm como principal foco a Teologia da Prosperidade, que propugna que os fiéis têm o direito de desfrutar uma vida terrena com saúde e riquezas materiais. Para tanto, precisam demonstrar sua devoção a Deus doando suas economias de modo a se tornarem credores de Deus em uma dívida que será paga com a concessão das dádivas divinas. O sacrifício ascético do corpo é substituído por um sacrifício econômico em honra de Deus.
Finalmente, os neo-pentecostais têm uma divergência inconciliável com os espíritas. Ambos creem em manifestações sobrenaturais na vida cotidiana. Os espíritas acreditam na reencarnação e creem que estas manifestações são causadas por espíritos de pessoas comuns que faleceram e ainda não reencarnaram. Já os neo-pentecostais não acreditam em reencarnação e nem na possibilidade de os mortos se comunicarem com os vivos. Para eles, estes espíritos são na verdade manifestações do demônio e, portanto, precisam ser combatidos. Daí o motivo de tanta hostilidade entre evangélicos e espíritas: enquanto estes creem na possibilidade de conversar com os espíritos de parentes e amigos já falecidos, aqueles os acusam de conversar com demônios.
Neste contexto fervilhante de crenças, nada mais natural que se retomem as discussões sobre a importância do Estado laico. Enquanto o Brasil era um país com população quase que exclusivamente católica, a maioria simplesmente impunha suas crenças sobre a minoria que, de tão pequena, não levantava sua voz para lutar pelo Estado laico.
Basta ver os crucifixos afixados nas paredes dos tribunais e órgãos públicos brasileiros. Se até então o símbolo do predomínio católico em nossos tribunais só incomodava à pequena minoria não-cristã da população, atualmente muitos protestantes já se insurgem contra ele. Infelizmente, em 2007, o Conselho Nacional de Justiça decidiu que os crucifixos nos tribunais não violam o princípio constitucional da laicidade, por se tratar de um costume já arraigado na tradição brasileira. Com este simplório argumento, os conselheiros do CNJ justificariam até mesmo a escravatura que, quando foi abolida em 1888, ainda era costume no Brasil. Se costume fosse fundamento jurídico para justificar o próprio costume, as mulheres ainda teriam que se casar virgens, não haveria o divórcio e o adultério ainda seria crime. Fato é que tribunais e órgãos públicos são mantidos com dinheiro público e não devem expressar as crenças pessoais de seus dirigentes. Os crucifixos não são, pois, apenas um símbolo do predomínio católico, mas antes de tudo de uma apropriação privada da coisa pública para a manifestação de crenças pessoais.
Ensino religioso nas escolas públicas
A questão atualmente mais polêmica que decorre do princípio constitucional da laicidade é a do ensino religioso, de matrícula facultativa, nas escolas públicas, previsto expressamente no art.210, §1º, da Constituição Brasileira.
O Acordo Brasil-Vaticano (Decreto 7.107/10) que em seu art.11, §1º, prevê “o ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas” provocou imediata reação da sociedade civil ao colocar em risco a igualdade de tratamento entre as religiões. A constitucionalidade do dispositivo está sendo contestada atualmente no Supremo Tribunal Federal (ADI 4.439) pela Procuradoria-Geral da República, que defende corretamente que o ensino religioso no Brasil deva ser não-confessional, limitando-se, pois a um apanhado teórico da diversidade de religiões existentes em nosso país.
Melhor seria, porém, que o Estado deixasse cada família decidir sobre a melhor formação religiosa de seus filhos, matriculando-os em cursos fornecidos pelas próprias Igrejas e outras instituições religiosas. Uma emenda constitucional que abolisse o ensino religioso nas escolas públicas resolveria de vez a controvérsia relegando a formação religiosa para a esfera exclusivamente privada.
A meta do Estado laico
O Estado laico ainda é uma meta a ser perseguida pelo Direito brasileiro. Se na questão dos crucifixos e do ensino religioso, a manifestação de cristãos não-católicos tem sido decisiva para colocar em pauta os debates, as violações do princípio da laicidade tendem a ser menosprezadas quando há consenso entre católicos e protestantes.
Veja-se, por exemplo, o art.79, §1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, que prevê que “a Bíblia Sagrada deverá ficar, durante todo o tempo da sessão, sobre a mesa, à disposição de quem dela quiser fazer uso”. Se o Estado é de fato laico e a religião não deve ser fundamento da elaboração das leis, qual sentido há neste dispositivo? Se o deputado é cristão, que compre sua própria Bíblia e a leve consigo.
O nome do deus monoteísta tem sido usado sem maiores pudores na esfera pública, sob o argumento de que contemplaria todas as religiões. Alega-se que o preâmbulo da Constituição de 1988 se refere expressamente à “proteção de Deus” e, portanto, o ateísmo estaria excluído da liberdade de crença. Trata-se de um falso fundamento jurídico, já que o preâmbulo, por sua própria definição, é o texto que antecede a norma e, portanto, não faz parte dela. Em suma: não tem qualquer valor normativo.
A liberdade constitucional de crença é também uma liberdade de descrença, e ateus e agnósticos também são cidadãos brasileiros que devem ter seus direitos constitucionais respeitados. O mesmo se diga em relação aos politeístas, que acreditam em vários deuses e não aceitam a ideia de um deus onipotente, onisciente e onipresente.
Um bom exemplo do uso do nome de Deus com violação do princípio da laicidade é a expressão “Deus seja louvado” no dinheiro brasileiro. Como não incomoda à maioria da população, acaba sendo negligenciada em detrimento dos direitos constitucionais dos ateus, agnósticos e politeístas, que ainda não são bem representados no Brasil. Já se vê, porém, algumas destas expressões riscadas à caneta nas notas brasileiras, o que é uma clara manifestação de descontentamento com o desrespeito à descrença alheia.
O paradoxal desta menção de Deus no dinheiro brasileiro é que a Bíblia narra (Mateus: 22, 21) uma passagem na qual Jesus rechaça uma tentativa de uso político de seus ensinamentos e reconhece a importância do Estado laico, referindo-se justamente à moeda romana: “Dai o que é de César a César, e o que é de Deus, a Deus”. Das duas, uma: ou o Deus cristão mudou de ideia nestes últimos dois mil anos ou seus representantes na Terra andam excedendo os limites da procuração por Ele outorgada.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
[over12] SEU MADRUGA ENTREVISTA GALVÃO BUENO E VICE VERSA
Seu Madruga: primeiramente gostaria de pedir desculpas ao senhor, pois não tenho nenhum gravador pra registrar a conversa, nenhuma máquina fotográfica pra ilustrar o momento...
Galvão Bueno: mas e como você vai gravar a entrevista?
SM: vou escrever com caneta num pedaço de papel...
GB: que pobreza esse seu blog...
SM: sou pobre, mas sou honrado... o senhor me empresta sua caneta?
GB: bem amigos ...
SM: o senhor está bêbado?
GB: eu sou abstêmio.
SM: bom, e o que tem a ver a religião?
GB: esquece ... eu só imagino se o senhor fosse entrevistar alguém que fale alguma língua estrangeira.
SM: para aprender uma língua estrangeira, primeiro é preciso estudar anatomia.
GB: anatomia? olha, Seu Madruga, anatomia é o estudo das partes do corpo.
SM: e a língua não faz parte do corpo?
GB: mas o senhor além de um pacote de osso seco, é burro!
SM: que que foi, que foi, que que há, digo...
GB: tem pago o aluguel e suas contas em dia?
SM: sou um cidadão consciente, mas não fanático.
GB: gostou da minha narração na final da copa de 1994?
SM: se eu soubesse que tinham mandado um burro fazer isso, ia eu mesmo!
[cc] WIKILEAKS E A GUERRA DE 4º GERAÇÃO
::txt::Bruno Lima Rocha::
Julian Assange é o nome do momento e a perseguição pela qual sofre retrata a relevância do personagem. O australiano veio ganhando escala mundial por seu trabalho pioneiro como representante público de uma equipe dedicada a difundir documentos classificados (reservados, confidenciais ou secretos), agindo, segundo as próprias palavras do Wikileaks em seu editorial, em nome da “transparência e da prestação de contas”. Conceitualmente, Assange e os demais membros do portal estão em guerra de 4ª geração, operando – de fato – contra Estados potência e empresas transnacionais. E eles não estão sós no front.
Tampouco a modalidade de conflito é exclusiva dos países desenvolvidos. A primeira vez que escutei o termo foi quando estive na Venezuela (janeiro de 2009), em companhia de ativistas midiáticos e militantes da comunicação popular. Estes homens e mulheres, voluntários em sua maioria, praticam a partir da internet e de emissoras de rádio FM de baixa potência, dois contrapontos simultâneos. Seus alvos permanentes são a chamada mídia escuálida (termo popular para definir os venezuelanos de origem européia) assim como a direita endógena (políticos oligarcas convertidos ao chavismo). Embates semelhantes ocorrem pelo mundo.
O cenário desta guerra varia a cada território, questão em voga ou nicho de interesse. O que há de perene são as diretrizes (informais) de buscar aumentar o poder da cidadania e a capacidade decisória de indivíduos e coletividades diante dos agentes com poderes de incidir sobre a vida do planeta, como os EUA e o complexo industrial, militar e petrolífero, por exemplo. Nesta luta, a rede mundial de computadores é fundamental.
Definitivamente, estamos diante de uma quebra de paradigma para o significado da internet em nossas vidas. O modus operandi do Wikileaks e de seus assemelhados, vem ultrapassando as fronteiras do jornalismo formal (em seu modelo empresarial) e indo além do legalismo na defesa do direito à informação.
A tese levantada é simples. A cidadania necessita de ter informações precisas e fidedignas para poder decidir. Uma vez que hoje somos todos influenciados por decisões tomadas por Estados do centro do capitalismo, a começar pelos EUA (única superpotência bélica em escala planetária) e empresas transnacionais, é necessário saber o que se passa nestes lócus de poder, e também o que pensam e fazem os membros destas as elites dirigentes.
A internet há muito deixou de ser uma atividade de ócio para tornar-se uma das artérias centrais da globalização corporativa (também chamada de mundialização). Explico. Se a informação é central para o processo decisório e a decisão em áreas sensíveis passa por assegurar a defesa de dados, informes, relatos, impressões, pareceres, relatórios e documentos oficiais, portanto, para governar é fundamental manter segredo e dissimular versões
Esta necessidade entra em rota de colisão com os valores atribuídos a toda e qualquer forma de democracia, como a transparência nas ações tomadas por detentores de mandatos ou no exercício de autoridade em nome do bem comum.
O interessante é notar a fragilidade da defesa de informações por parte da superpotência. Não vejo como válida a hipótese de que a equipe do Wikileaks (tanto fixos como voluntários) tenha condições de operar como agência de espionagem. Portanto, se os documentos sensíveis vazam, é porque foram vazados.
Assim, em alguma etapa da hierarquia e do fluxo informacional, alguns estão vazando os conteúdos secretos que dizem respeito à vida de milhões. Uma vez checada a informação (e até onde se sabe a rede do Wikileaks faz a checagem), não há nenhuma razão (legal ou moral) para não difundi-los.
A prisão de Assange e o acionar da parafernália da Interpol em sua captura dão mostras tanto do temor destas instituições como da “letalidade” do risco permanente do vazamento de informações de modo a possibilitar a produção de novos consensos a respeito de temas relevantes para as maiorias. A guerra de 4ª geração está apenas começando.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
[agência pirata] DESORDEM E CONGRESSO
::txt::Jana Lauxen::
Quando você, caro trabalhador brasileiro minimamente assalariado, quer um aumento, o que faz?
Procura aperfeiçoar seu trabalho?
Bajula o chefe?
Pede com carinho?
Busca especialização?
Correto.
E, mesmo aperfeiçoando seu trabalho, bajulando o chefe, pedindo com carinho e buscando especializar-se, às vezes não rola, não é mesmo?
Ou rola, mas menos, BEM MENOS do que você imaginava, gostaria ou supunha que merecia.
Sei como é.
Todos sabemos.
Isto é.
Nem todos.
Existem algumas pessoas que, quando querem aumento de salário, só precisam “permanecer como estão”.
Estes sortudos são as nossas vossas excelências, os políticos, e - pasme! – o patrão, que lhes aumenta o salário para que “permaneçam como estão”, somos eu e você.
E não é um aumentozinho ordinário de 30 pilas.
Falo de 62% de reajuste.
E isto sobre um salário que já estava bem longe de ser mínimo.
Foi o que aconteceu dia 15 de dezembro deste ano, quando 279 deputados federais apoiaram o requerimento de urgência para a votação do projeto de decreto legislativo que aumentou os vencimentos de deputados federais, senadores, presidente e vice-presidente da República, além de ministros de Estado, para R$ 26,7 mil.
É. Eu disse VINTE E SEIS MIL E SETECENTOS REAIS. E uns quebrados.
A votação foi simbólica, ou seja, do tipo em que o congressista não declara seu voto. Neste tipo de votação, quem preside a sessão anuncia: “Aqueles que aprovam, permaneçam como estão”. Para, em seguida, emendar: “Aprovado”.
A lista com os nomes dos políticos e seus respectivos votos você encontra clicando aqui.
De qualquer maneira, eu, que sou gaúcha, me dei ao trabalho de pesquisar a cara de pau de cada um dos parasitas políticos do meu estimado estado que votaram a favor deste despautério.
Seus nomes e seus partidos estão logo abaixo.
Se você é gaúcho também, guarde estes nomes e, PELOAMORDEDEUS, não lhes dêem nem bom dia – quiçá seu voto!
Cláudio Diaz PSDB
Darcísio Perondi PMDB
Fernando Marroni PT
Germano Bonow DEM
José Otávio Germano PP
Luis Carlos Heinze PP
Marco Maia PT
Mendes Ribeiro Filho PMDB
Osmar Terra PMDB
Paulo Roberto Pereira PTB
Pompeo de Mattos PDT
Renato Molling PP
Sérgio Moraes PTB
Vieira da Cunha PDT
Vilson Covatti PP
Mas se você não é gaúcho, veja a lista dos deputados do seu estado e não esqueça seus rostinhos feios e nomes-sobrenomes sob nenhuma hipótese.
O novo salário entra em vigor a partir de 1º de fevereiro de 2011.
Ainda no Rio Grande do Sul: Luciana Genro, do PSOL e Paulo Pimenta, do PT, votaram contra. Emilia Fernandes, também do PT, absteve-se de votar.
Do montante total, 35 votaram contra, e são eles:
Henrique Afonso (PV – Acre)
Luiz Bassuma (PV – Bahia)
Augusto Carvalho (PPS – Distrito Federal)
Magela (PT – Distrito Federal)
Capitão Assumção (PSB – Espírito Santo)
Lelo Coimbra (PMDB - Espírito Santo)
Sueli Vidigal (PDT – Espírito Santo)
Vander Loubet (PT – Mato Grosso do Sul)
Luiz Couto (PT – Paraíba)
Major Fábio (DEM – Paraíba)
Alfredo Kaefer (PSDB – Paraná)
Assis do Couto (PT – Paraná)
Gustavo Fruet (PSDB – Paraná)
Marcelo Almeida (PMDB – Paraná)
Reinhold Stephanes (PMDB – Paraná)
Takayama (PSC – Paraná)
Raul Jungmann (PPS - Pernambuco)
Chico Alencar (PSOL – Rio de Janeiro)
Cida Diogo (PT – Rio de Janeiro)
Fernando Gabeira (PV – Rio de Janeiro)
Eduardo Valverde (PT – Rondônia)
Ernandes Amorim (PTB – Rondônia)
Mauro Nazif (PSB – Rondônia)
Décio Lima (PT – Santa Catarina)
Dr. Talmir (PV – São Paulo)
Emanuel Fernandes (PSDB – São Paulo)
Fernando Chiarelli (PDT – São Paulo)
Ivan Valente (PSOL – São Paulo)
José C Stangarlini (PSDB – São Paulo)
Luiza Erundina (PSB – São Paulo)
Paes de Lira (PTC – São Paulo)
Regis de Oliveira (PSC – São Paulo) Não
Iran Barbosa (PT – Sergipe)
Naturalmente, não é porque estes 35 votaram contra que não terão os mesmos 62% de aumento.
Eu, por exemplo, se fosse da política (e, sendo da política, naturalmente seria canalha & cretina) votaria NÃO só para acharem que eu sou honesta.
No entanto, dia primeiro de fevereiro, pegaria meu aumento bem feliz e com minha imagem pública intacta.
Queria ver se o aumento só valesse para quem votou a favor, se haveriam 35 contras.
Mas enfim.
Não há esperança.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
[escrituras marginais] PORCARIA E SEU MARLON
::txt::Arlei Arnt::
A marofa nem havia se sacudido no ar quanto avistei o Porcaria se aprochegando na bocada. Trazia com ele um espelho de moto e duas antenas de rádio de caranga. Me surpreendi com a cena:
- Qualé, Sacolé. Trabalhando na night?
- Pô, cara, tu não quer comprar um espelhinho de moto, aí? Tem estas antenas também. Te faço por cinco mil réis. Barbadinha!
- Porra, mané, tu tá de chacrinha na zona?
- Claro que não, né, eu não sou chinelo. Tu acha que eu vou roubar as caranga da minha área, tá loco, né?
Sacolé é o apelido do nego Porcaria pro lado de cá da zona. Suas veias furadas são tão visíveis quanto à mercadoria roubada. Os picos de agulha, uma do lado da outra, formam quatro avenidas: uma em cada perna e em cada mão. Ele jura que toma nos cano nunca mais. Agradece a deus e relata alguns roubos de viciado. Interrompo:
- Tu quer quanto pelo espelho e pelas antenas?
- Cinco pila, mano, pra eu comprar uma pedrinha de crack. Hoje eu fumo minha pedrinha e fico mais sossegado. Dá um tempo aí, que eu vou vê se alguém quer.
Porcaria sai por um lado e o seu Marlon chega pelo outro. Seu Marlon é o dono do pedaço. Qualquer venda tem que ter o seu nariz. O mesmo vale prás puta. Ele gigoleia uma barganha das transas e boquetes feitas pelas mulheres, inclusive da própria esposa. A grana arrecadada tem um só destino: pedras de crack. O clima na fala de Seu Marlon está à beira do estopim. Brigou com a mulé, o movimento tá devagar, sem um puto tostão no bolso e ainda fica sabendo da desconfiança de outras cabeças que o nego Porcaria tá trabalhando as carangas estacionadas. O ambiente pega fogo quando Sacolé volta:
- To loco pra meter uma bala em alguém.
-Qualé, tá me tirando, eu não sou chinelo. Isso aqui já tá lá em casa uns cinco dias.
Seu Marlon é pura irritação. Tem cabra vendendo pó na área dele:
- Porra, os caras tão metendo uma branca ruim e mirrada, e quem fica sujo com os clientes sou eu. Vão dizer que o bagulho do Marlon não vale nada. Quem vende aqui sou eu
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
[cc] RONALDO LEMOS E O CREATIVE COMMONS
::txt::Internetsegura::
Quem publica textos, fotos ou vídeos na internet sabe como é comum a obra ser reproduzida rapidamente em outros sites, muitas vezes sem concordância do autor. As regras de direitos autorais do mundo offline teoricamente valem também para a internet, mas a dinâmica e as novas possibilidades abertas pela rede levaram a um debate sobre novas formas de tratamento para as criações intelectuais. O Creative Commons (CC) é uma iniciativa que tem por objetivo trazer novos modelos de licenciamento de materiais produzidos por qualquer pessoa. Por meio do CC, o autor pode dizer o que é permitido fazer ou não com suas obras.
Quem dá os detalhes é Ronaldo Lemos, professor titular e coordenador da área de Propriedade Intelectual na Fundação Getúlio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro, mestre em direito por Harvard e doutor em direito pela Universidade de São Paulo (USP). Ele é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, que responde pela coordenação do Creative Commons no Brasil. Lemos concedeu a seguinte entrevista por e-mail ao Internet Segura.
O que é Creative Commons (CC) e com que objetivo ele fui fundado?
O Creative Commons é um projeto que facilita o licenciamento de obras. Funciona como uma ferramenta que permite a qualquer criador intelectual dizer o que pode ou não ser feito com a sua obra. Além disso, é um tipo de licença que fundamenta a criação colaborativa. Por exemplo, a Wikipedia é licenciada em Creative Commons. Graças à licença do Creative Commons, qualquer pessoa que contribui para ela, melhorando um artigo já existente, não precisa pedir autorização, exatamente porque a autorização já foi concedida por meio da licença. Em outras palavras, sem o Creative Commons ou alguma outra forma de licenciamento similar, seria impossível a existência de um projeto como a Wikipedia.
Um dos principais pontos do Creative Commons é conjugar liberdade de acesso à obra com a possibilidade de gerar receitas. Um artista pode escolher uma licença que permita o acesso à obra apenas para fins não comerciais. Se ela for usada para fins comerciais, os direitos autorais devem ser normalmente pagos. Por exemplo, meu livro Direito, Tecnologia e Cultura é licenciado por Creative Commons. São permitidas a cópia e a distribuição para fins não comerciais. Mas, ao mesmo tempo, o livro é publicado normalmente pela Editora FGV, que o vende em livrarias de todo o País. Com a música, é a mesma coisa. Muitos artistas licenciam suas músicas para serem livremente distribuídas para fins não comerciais. Mas, quando aquela música toca na rádio ou na televisão, os direitos autorais devem ser normalmente recolhidos. Essa possibilidade de conjugar ampla distribuição com a exploração comercial da obra é fruto do Creative Commons.
Qual é a atuação do CC no Brasil?
O Creative Commons no Brasil é coordenado pelo Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas. O trabalho de coordenação envolve dois aspectos: a manutenção jurídica das licenças, que passam por um cuidadoso e longo trabalho de adaptação para o ordenamento jurídico brasileiro, permitindo que sejam integramente válidas no País; e a representação pública do projeto Creative Commons no Brasil, explicando suas muitas possibilidades de utilização.
O Creative Commons está presente em mais de 70 países, em cada um deles em parceria com uma instituição local. Assim, na Itália, a parceria é com o Politécnico de Turim. Na França, com a Universidade de Paris. Na Alemanha, com a Universidade de Karlsruhe e assim por diante.
Quais as principais diferenças entre as licenças CC e as demais existentes?
As oportunidades e as formas de licenciamento se multiplicaram. Antes, quando se falava em negócios envolvendo direito autoral, predominava basicamente apenas um modelo, aquele em que o artista cedia os seus direitos para uma organização empresarial (gravadora, editora, distribuidora, etc.) que, por sua vez, negociava e divulgava a obra do artista. Esse modelo ainda existe e continua tendo sua importância, mas hoje outros inúmeros arranjos são possíveis.
O Creative Commons é uma das novas modalidades de licença existentes, que permitem promover a ampla disseminação de obras, bem como a criação colaborativa. São muitas as modalidades de licenças que fazem isso, como a licença MIT, a licença Mozilla, a licença BSD, dentre várias outras. A principal diferença do Creative Commons é que ele foi feito pensando especificamente no licenciamento de obras autorais, como música, filmes, fotografias, vídeos, livros e assim por diante. Não foi feito, por exemplo, para o licenciamento de software. Para isso, existem licenças específicas, como a GNU GPL e GNU LGPL, que são anteriores à existência do Creative Commons e cujo modelo foi uma importante inspiração para ele.
Qual o papel das licenças CC no fomento da criatividade e da inovação?
O papel das licenças CC no fomento à inovação e criatividade é amplamente reconhecido. Acredito que o melhor resumo desse papel foi escrito pelo diretor jurídico de propriedade intelectual da Microsoft, Tom Rubim (chief counsel for Intellectual Property Strategy). Ele disse o seguinte, em um interessante artigo que pode ser acessado em CyberLaw: "O sistema de direito autoral deveria ser otimizado com relação a um mundo em rede e deveria ser capaz de atender às demandas de rapidez e escala no licenciamento de obras. O Creative Commons atende a essa demanda de velocidade e escala. Uma das razões para a rápida adoção das licenças Creative Commons pelo mundo em rede é o quanto é fácil incluir as licenças nos seus trabalhos criativos na internet".
O artigo de Tom Rubin argumenta que o direito autoral, tal como existe hoje, não consegue atender às demandas de um mundo que funciona conectado. Ele acredita que esse sistema deveria ser modificado para atender à necessidade de rapidez e escala, permitindo a geração de negócios, bem como fomentando a criatividade e a inovação. Dessa forma, ele enxerga no Creative Commons um modelo que prenuncia essa possibilidade de transformação para aprimoramento do direito autoral.
Como fica a propriedade intelectual diante do modelo de licenças CC?
A propriedade intelectual é um elemento fundamental das licenças Creative Commons. Todas as licenças são baseadas nela. É a partir da propriedade intelectual que licenças como o Creative Commons ou a GNU GPL mencionada acima funcionam. Se não houvesse direito autoral, não haveria nem GNU GPL nem Creative Commons.
O que há de sinergia entre o modelo de licenças CC e a internet?
O Creative Commons é uma ferramenta poderosa nas mãos de criadores e produtores de conteúdo. Ele entrega ao artista a capacidade de gerenciar seu próprio trabalho, permitindo dizer o que pode ou não ser feito com ele, de acordo com os termos das licenças. Dessa forma, como o Tom Rubin da Microsoft chama a atenção, ele é uma ferramenta importantíssima para dar agilidade na circulação e licenciamento das obras e também na possibilidade de criação coletiva por meio da internet.
Além disso, o Creative Commons é muito importante para a educação, na medida em que permite modelos de acesso ao conteúdo educacional que podem se adaptar facilmente a qualquer nova mídia ou ferramenta, de redes sociais ao celular. Uma vez que um conteúdo é licenciado em Creative Commons, ele pode não apenas ser amplamente disseminado, mas também pode haver experimentação sobre a forma como ele será usado e disseminado, podendo até mesmo ser integrado com outros conteúdos educacionais. Um exemplo é a Wikipedia, que é totalmente licenciada em Creative Commons. Ela é distribuída em papel, online e no celular. E integrada até mesmo em videogames, como fonte de informação.
Qual a relação entre a CC e o que um internauta deve saber a respeito sobre como publicar ou usar material divulgado na internet, como fotos, imagens e textos?
Um dos principais pontos do Creative Commons é conjugar liberdade de acesso à obra com a possibilidade de gerar receitas. Um artista pode escolher uma licença que permita o acesso à obra apenas para fins não comerciais. Se ela for usada para fins comerciais, os direitos autorais devem ser normalmente pagos. Essa é uma das grandes forças do Creative Commons.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
[agência pirata] EM DESENVOLVIMENTO
::txt::Leandro Demori::
Minha história com a WikiLeaks vem de outro carnaval, um tanto distante do #cablegate das últimas duas semanas. Em 2008, recebi documentação que predizia uma bomba em um setor econômico importante no Brasil. Sondei alguns jornais e algumas revistas buscando saber sobre a possibilidade de investigação aprofundada em cima do que eu tinha em mãos. Estava basicamente atrás de uma parceria: algum jornalista brasileiro que ajudasse com a reportagem no Brasil, já que moro na Itália. Não encontrei.
Fiquei pensando em um modo de fazer a reportagem, mas sobretudo em uma forma de vendê-la para alguém que segurasse a barra em possíveis processos judiciais (que eu tinha certeza, viriam). Como eu disse, é um setor econômico importante, anuncia pesadamente em rádios, TV e impresso, tem boa participação no PIB e penetração nos governos. Quer dizer: é um tipo de reportagem que não interessa a ninguém mesmo, exceto ao público. Esse setor já matou gente.
Busquei pela rede possíveis projetos que investissem em reportagens como aquela que eu queria fazer. Existem vários fundos — sobretudo americanos mas também europeus — que tutelam esse tipo de trabalho e pagam para que você o faça. Vivo disso, afinal, e jamais arriscaria postar nada daquilo em um blog, de graça, correndo altos riscos por isso.
Foi por essas buscas que conheci o WikiLeaks, que na época atuava através de uma organização chamada Sunshine Press. Havia várias formas de entrar em contato com eles, usei um chat criptografado que garantiria minha privacidade. Conversei por cerca de 20 minutos com alguém na outra ponta, que disse que o site tinha interesse no material, que o considerava importante e prioritário, mas que havia um problema: os pagamentos por reportagens estavam suspensos por seis meses. E de graça eu não estava disposto a trabalhar.
O que o Sr. Sunshine me explicou é que os fundos que os financiavam tinham secado por conta da crise nos EUA, e que temiam, inclusive, que o WikiLeaks fosse fechar por falta de grana. Fiquei com o contato para enviar o material, e ele ficou de me avisar quando (e se) a grana recomeçasse a entrar. Nunca mais obtive resposta.
Quando o WikiLeaks voltou com força divulgado dados sobre a guerra infinita e um vídeo de militares matando gente a esmo, entendi tudo. O foco, que antes era regionalizar investigações, tinha sido ampliado e restrito ao mesmo tempo: a metralhadora fora apontada para os EUA em particular.
Não sei quem é Julian Assange e nem de onde veio a grana que manteve o WikiLeaks em pé. Estamos no meio de um processo importante para a informação, mesmo que eu acredite que seja utópico um mundo onde toda e qualquer movimentação diplomática seja pública. País algum fará isso, jamais.
No mesmo ano de 2008, eu e uns amigos investigamos a movimentação financeira das contas de publicidade do governo do Rio Grande do Sul por termos certeza de que algo cheirava mal. Mais tarde se “descobriu” que fedia. Conversamos com políticos, promotores, procuradores, jornalistas. Queríamos ver os contratos, quem pagava e quem recebia, quanto recebia e, sobretudo, qual era a medida para avaliar o mérito dos gastos.
As dúvidas eram simples: o que faz o governo gastar dinheiro público, o meu dinheiro, com publicidade? Um governo que precisou pedir 1,1 bilhão de dólares emprestado para não falir e gasta 168 milhões de reais com anúncios. Por que isso é tão prioritário assim? Como se mede o quanto vale um banner em um site, por exemplo? Audiência? Relevância? Público-alvo?
Este post explica um pouco a situação que fotografamos na época.
O valor bruto de um banner em um site no RS era de 60 mil reais por ano. Um site. Um banner. Eram (e são ainda) vários e insignificantes sites, como você pode ler no post acima. Tempos depois, o valor foi retirado do ar (os banners não). Como a gente volta e meia usa Tico & Teco, fizemos print screen de tudo e deixamos aqui, público, novamente, no melhor espírito WikiLeaks.
O que conseguimos arrancar da “Transparência” oficial na época? Nada. Nem mesmo os deputados do PT com quem conversamos se mostraram dispostos e colaborar. Eram da oposição, deveriam querer alguma transparência, certo? Não seria na base do governo, no PSDB, que conseguiríamos as coisas. Demoramos para entender que o modus operandi que hoje beneficia Chico amanhã pode ser usado por Francisco.
Para terminar de modo leve, deixamos aqui algumas dicas culturais para você. Dicas patrocinadas pela bondade do dinheiro público, esse lindão. Caso a página saia do ar, podem pegar o print. Mas confiamos que ficará onde está há 3 anos, exatamente da mesma forma, “em desenvolvimento” eterno. Igualzinho à transparência no Braziu.
domingo, 12 de dezembro de 2010
sábado, 11 de dezembro de 2010
[cc] O GRANDE TAMBOR
::txt::Jefferson Pinheiro::
O filme narra a trajetória do Tambor de Sopapo, que carrega a história da diáspora africana no Rio Grande do Sul. Sua matriz vem pelas mãos e mentes dos africanos escravizados para a região das charqueadas, ao extremo sul do Brasil. É considerado sagrado, retumbando o som por séculos de um purificar religioso para os rituais de matança - realidade presente nas propriedades que produziam o charque entre os séculos XXVIII e XIX. Mas, a partir na década de 1950, inicia seu caminho no carnaval, quando surgiram as primeiras escolas de samba do estado. O Grande Tambor conta uma parte da história sobre a contribuição dos afrodescendentes na formação simbólica e cultural do povo do Rio Grande do Sul. Sobreviveu pelas mãos de Mestre Baptista, Griô, que preservou a memória e a arte da fabricação de um instrumento de som grave e marcante e que hoje é patrimônio brasileiro.
Assista o trailer aqui ou abaixo:
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
[agência pirata] WIKILEAKS: OS MEIOS E OS FINS
::txt::Jânio de Freitas::
Estava muito esquisito. Precisar fazer estupro, logo na Suécia de tão dourada generosidade? Ainda se fosse na Suíça, nada a estranhar. E reclamação contra assédio masculino? Na Bélgica ainda podia ser.
As coisas, porém, afinal voltam à sua natureza nos lugares apropriados. E fica-se sabendo que a acusação a Julian Assange de “estuprar uma mulher sueca e molestar sexualmente outra”, como os meios de comunicação repetem mundo afora há duas semanas, foi não usar preservativo, pode-se supor que com proveito mútuo, e, no outro caso, um ensaio compartilhado.
Mas a conduta dos meios de comunicação não deixou de atingir a reputação de Assange e, com isso, contribuir para a sufocação que governos poderosos buscam aplicar à divulgação que esse valente australiano faz de documentos sigilosos, pelo seu site WikiLeaks.
Não estamos só diante de muitos gatos graúdos e um ratinho que lhes roubou pedaços do melhor queijo escondidos com cuidado. É de liberdade de informação que se trata. É do direito dos cidadãos de saber o que seus governos dizem e fazem sorrateiramente, no jogo em que as peças são as comunidades nacionais.
É de jornalismo que se trata. E os meios de comunicação jornalística estão ficando tão mal quanto os países, governos e personagens desnudados pelo Wikileaks. Era a hora de estarem todos em campanha contra os governantes que querem sufocar as revelações. Ou seja, em defesa da liberdade de informação, da própria razão de ser que os jornais, TVs, rádios e revistas propagam ser a sua.
Com escassas exceções, que se saiba, os meios de comunicação estão muito mais identificados com os governos e governantes do que com os cidadãos-leitores e com a liberdade de informação. A união e a contundência que têm na defesa da sua liberdade de empresas, dada como liberdade de imprensa, não se mostra: segue, nos Estados Unidos, o aprendizado imposto pela era Bush e, no restante do Ocidente, os reflexos desse aprendizado sob a paranoia do terrorismo.
Os jornalistas profissionais não estão melhor do que os meios de comunicação. Poucos são os seus recursos de expressão, mas, ao que se deduz do noticiário rarefeito, as manifestações de repúdio à pressão contra as revelações do Wikileaks são feitas por leitores/espectadores. Os jornalistas apenas as registram, pouco e mal.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
[cc] WIKILEAKS E A LIBERDADE DE IMPRENSA
::txt::Avaaz::
A campanha de intimidação massiva contra o WikiLeaks está assustando defensores da mídia livre do mundo todo.
Advogados peritos estão dizendo que o WikiLeaks provavelmente não violou nenhuma lei. Mas mesmo assim políticos dos EUA de alto escalão estão chamando o site de grupo terrorista e comentaristas estão pedindo o assassinato de sua equipe. O site vem sofrendo ataques fortes de países e empresas, porém o WikiLeaks só publica informações passadas por delatores. Eles trabalham com os principais jornais (NY Times, Guardian, Spiegel) para cuidadosamente selecionar as informações que eles publicam.
A intimidação extra judicial é um ataque à democracia. Nós precisamos de uma manifestação publica pela liberdade de expressão e de imprensa. Assine a petição pelo fim dos ataques e depois encaminhe este email para todo mundo – vamos conseguir 1 milhão de vozes e publicar anúncios de página inteira em jornais dos EUA esta semana!
O WikiLeaks não age sozinho – eles trabalham em parceria com os principais jornais do mundo (NY Times, Guardian, Der Spiegel, etc) para cuidadosamente revisar 250.000 telegramas (cabos) diplomáticos dos EUA, removendo qualquer informação que seja irresponsável publicar. Somente 800 cabos foram publicados até agora. No passado, a WikiLeaks expôs tortura, assassinato de civis inocentes no Iraque e Afeganistão pelo governo, e corrupção corporativa.
O governo dos EUA está usando todas as vias legais para impedir novas publicações de documentos, porém leis democráticas protegem a liberdade de imprensa. Os EUA e outros governos podem não gostar das leis que protegem a nossa liberdade de expressão, mas é justamente por isso que elas são importantes e porque somente um processo democrático pode alterá-las.
Algumas pessoas podem discordar se o WikiLeaks e seus grandes jornais parceiros estão publicando mais informações que o público deveria ver, se ele compromete a confidencialidade diplomática, ou se o seu fundador Julian Assange é um herói ou vilão. Porém nada disso justifica uma campanha agressiva de governos e empresas para silenciar um canal midiático legal. Clique aqui para se juntar ao chamado contra a perseguição:
Você já se perguntou porque a mídia raramente publica as histórias completas do que acontece nos bastidores? Por que quando o fazem, governos reagem de forma agressiva, Nestas horas, depende do público defender os direitos democráticos de liberdade de imprensa e de expressão. Nunca houve um momento tão necessário de agirmos como agora.
A campanha de intimidação massiva contra o WikiLeaks está assustando defensores da mídia livre do mundo todo.
Advogados peritos estão dizendo que o WikiLeaks provavelmente não violou nenhuma lei. Mas mesmo assim políticos dos EUA de alto escalão estão chamando o site de grupo terrorista e comentaristas estão pedindo o assassinato de sua equipe. O site vem sofrendo ataques fortes de países e empresas, porém o WikiLeaks só publica informações passadas por delatores. Eles trabalham com os principais jornais (NY Times, Guardian, Spiegel) para cuidadosamente selecionar as informações que eles publicam.
A intimidação extra judicial é um ataque à democracia. Nós precisamos de uma manifestação publica pela liberdade de expressão e de imprensa. Assine a petição pelo fim dos ataques e depois encaminhe este email para todo mundo – vamos conseguir 1 milhão de vozes e publicar anúncios de página inteira em jornais dos EUA esta semana!
O WikiLeaks não age sozinho – eles trabalham em parceria com os principais jornais do mundo (NY Times, Guardian, Der Spiegel, etc) para cuidadosamente revisar 250.000 telegramas (cabos) diplomáticos dos EUA, removendo qualquer informação que seja irresponsável publicar. Somente 800 cabos foram publicados até agora. No passado, a WikiLeaks expôs tortura, assassinato de civis inocentes no Iraque e Afeganistão pelo governo, e corrupção corporativa.
O governo dos EUA está usando todas as vias legais para impedir novas publicações de documentos, porém leis democráticas protegem a liberdade de imprensa. Os EUA e outros governos podem não gostar das leis que protegem a nossa liberdade de expressão, mas é justamente por isso que elas são importantes e porque somente um processo democrático pode alterá-las.
Algumas pessoas podem discordar se o WikiLeaks e seus grandes jornais parceiros estão publicando mais informações que o público deveria ver, se ele compromete a confidencialidade diplomática, ou se o seu fundador Julian Assange é um herói ou vilão. Porém nada disso justifica uma campanha agressiva de governos e empresas para silenciar um canal midiático legal. Clique aqui para se juntar ao chamado contra a perseguição:
Você já se perguntou porque a mídia raramente publica as histórias completas do que acontece nos bastidores? Por que quando o fazem, governos reagem de forma agressiva, Nestas horas, depende do público defender os direitos democráticos de liberdade de imprensa e de expressão. Nunca houve um momento tão necessário de agirmos como agora.
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
[release] SCANDURRA AO VIVO
::txt::Henrique Inglez de Souza::
O que vem à cabeça quando se fala em Edgard Scandurra?
Quem está por fora da realidade talvez diga apenas “rock e Ira!” – tudo bem, afinal foi ele quem escreveu a esmagadora maior parte das canções da banda. Por outro lado, quem gosta e acompanha o nosso underground sabe que é muito mais que isso e que o guitarrista paulistano vai além desses rótulos.
É um cara livre, criativo e sedento por experimentar coisas novas na música. Carrega características que lhe permitem um vasto horizonte de possibilidades. E uma boa amostra disso está em seu mais novo CD e DVD, Ao Vivo.
Partindo da ideia de celebrar os 20 anos do emblemático disco Amigos Invisíveis (1989), Scandurra preparou um show repleto de suas investidas. Gravado em maio de 2009, no Teatro Fecap (São Paulo), traz referências diversas no repertório de 18 faixas.
Desde coisas menos populares do Ira! (exceto por Tolices, claro) a canções do Benzina (seu projeto de música eletrônica), do Amor Incondicional (seu último disco solo), versões para The Who (Our Love Was) e Guilherme Arantes (Meu Mundo e Nada Mais).
Para engrossar o caldo, três inéditas: A Dança do Soldado (Mantenha a calma/Siga os seus preceitos/Jogue na mala sem alça os preconceitos/E se teu pai não te aceita/A tua mãe te dá a receita de seu creme de beleza), Kaput (O melhor da nossa juventude acabou/Kaput/Ao menos, saímos com saúde/.../Nosso amor/Kaput/Doce e amargo como um bom vermute) e Não Precisa Me Amar (Quando olho para trás/E a maneira como me portei/Logo penso em você/Não precisa me amar).
Tudo em Ao Vivo foi temperado com arranjos modernos e timbres deliciosos, graças ao sabor forte de sua inseparável guitarra – a parceira de sempre, marca registrada e bandeira de seu triunfo notório no rock pop brasileiro. O protagonista é, naturalmente, Edgard Scandurra, mas os méritos devem ser divididos com todos os seus “amigos invisíveis”: o filho Daniel Scandurra (baixo), Dustan Gallas (teclado), Felipe Vieira (bateria), Marisa Brito (vocal), Juliana R. (vocal).
Inclua aí também os convidados especiais, que aparecem em uma faixa cada um: Charlie Crooijmans (Our Love Was), Fernanda Takai (Tolices), Bárbara Eugênia (Culto de Amor), Zélia Duncan (Abraços e Brigas), Jorge Du Peixe (Você Não Sabe Quem Eu Sou) e Guilherme Arantes (Meu Mundo e Nada Mais).
Nos extras, o guitarrista apresenta uma tentadora lagosta ao molho de manteiga, com salada e coquetel de lagostim – tudo preparado por ele mesmo, no restaurante que tem em São Paulo, chamado Le Petit Trou. É isso mesmo! O homem coloca o avental e fala de sua paixão por cozinhar.
Além disso, nos dá uma boa geral da carreira (incluindo depoimentos de figuras como André Midani e Paulo Junqueiro). Por fim, também encontramos cenas da passagem de som para o show que virou o DVD. Três situações diferentes devidamente editadas e transformadas em uma espécie de documentário, batizado Na Cozinha Com Scandurra. Ficou legal!
Pois bem, Ao Vivo é o mais novo trabalho desse incansável guitar hero do underground brasileiro. Do rock à nossa música em geral, Scandurra é um cara emblemático e atuante. Ele é de casa, e transita entre gerações de maneira natural, visceral e, claro, fundamental. Não se prende a nenhum estilo senão ao seu jeito de tocar guitarra. É por isso que gravou com vários artistas, dos consagrados às revelações. E é por isso que está aí, trabalhando com outros tantos (por exemplo, Karina Buhr, Marcelo Jeneci, Arnaldo Antunes e o elogiado Pequeno Cidadão).
Esse é o retrato fiel de um músico que se tornou referência por conta da marca que cravou há quase 30 anos na cultura pop do Brasil – sem dúvida!
Como o tempo não para, nem as ideias, neste exato momento ele deve estar trancado em um estúdio preparando sua próxima tacada. Ninguém segura o homem! “Acho importante as pessoas saberem que estou em plena atividade e vivendo um dos meus momentos mais criativos”, ressalta Scandurra. “Consegui atingir o objetivo principal que tenho desde o início da carreira, que é o de passear livremente entre as gerações de artistas e público, sempre apontando novos caminhos”.
Então, vamos fazer assim: melhor do que tentar adivinhar o que virá pela frente é curtir Ao Vivo. Tem rock, tem pop e muitas das boas viagens sonoras típicas da pegada ímpar desse guitarrista. Aproveite! E, para os mais desconfiados, o recado que deixo é que há, sim, muita vida após o Ira!, e Edgard Scandurra está aí, vivo e ao vivo para nos mostrar!
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