#CADÊ MEU CHINELO?
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
OS NEO FASCISTAS
# manda chuva #
Cresce a simpatia pelo autoritarismo
txt: Tiago Jucá Oliveira
Resolvemos jogar uma isca no twitter e pescar opiniões. O resultado foi lamentável. Jornalistas, amigos, estudantes e demais áreas criativas de nossa sociedade apóiam ditaduras, ruralistas, latifundiários, coronéis e distruição de alimentos.
Como diz o açougueiro, vamos por partes. Cuba há 50 anos é dominada por uma ditadura. Naquela ilha a população não tem dinheiro, não pode reclamar, não tem liberdade de expressão, nem pode mudar de governante. Se isso não é ditadura, o que é então? Mas como os fatos estão aí pra provar que Cuba vive sob a batuta dum ditador, impossível crer que haja apoiadores a esta barbárie. Acredito que seja uma brincadeira só pra me contrariar ou chamar atenção. Uma pessoa do bem não apóia regimes totalitários.
Em Honduras, a elite latifundiária rachou. Uma ala decretou um golpe, e o presidente deposto, um coronel estilo Sarney em versão hondurenã, passou a ser o novo ícone do socialismo moreno. Com um discurso que lembra o nacionalismo de Hitler, hoje incorporado por Chávez, Zelaya tem apoio inclusive do #pio (partido da imprensa oficialesca), fiel aliado do governo Lula/Sarney/Renan. Também sou contrário a golpes, mas idolatrar um filhote da elite agrária passou dos limites. "Ah, mas ele foi eleito pelo povo". Ok, mas o Collor também foi, e gastamos a garganta com o "Fora Collor", assim como estamos hoje a gritar "Fora Sarney" e "Fora Yeda". Somos golpistas?
Quem conhece O DILÚVIO sabe do nosso apoio a causa da reforma agrária pela qual o MST luta. Mas por favor, apoiar a distruição de alimentos é ridículo. Se defendem a reforma agrária, como podem defender esse ato babaca num país faminto que nem o Brasil? Se, como a gente, não gostam da perseguição da grande mídia em relação ao MST, por que apóiam um facto que só dá munição a esta mesma mídia? O governo federal, através do ministro da agricultura, representante dos ruralistas, foi o primeiro a criminalizar a atitude sem noção do MST. Quem aplaude isso é a classe média que nunca passou fome na vida.
A reação de pessoas a algumas frases nossas serve pra ilustrar o que temos por aí. O discurso do nacionalismo, do socialismo, do autoritarismo, do totalitarismo e da censura; o desrespeito a opiniões contrárias e o culto a falta de liberdade de expressão; a contradição entre defender coronéis e elite latifundiária ao mesmo tempo que defende o MST, e também de quem defende reforma agrária mas acha lindo distruir comida.
Pra quem não lembra da história, cabe aqui lembrar o nome do partido que chegou ao poder na Alemanha nos anos 30: Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Depois veio o irmão do nazismo, que só caiu em 1989 junto com as ruínas dum muro. Foram mais de 60 anos de totalitarismo, falta de liberdade e muitas mortes. Estima-se que o Nazi-Comunismo tenha matado quase 100 milhões de pessoas. E você defende isso?
terça-feira, 29 de setembro de 2009
MP3
# agência pirata #
Começa a História do MP3
txt: Eric Harvey
tradução: coletiva
A história do mp3 começa, apropriadamente, do mesmo modo subversivo, de baixo para cima, que muitos arquivos acabam na internet hoje: como um vazamento. Em 1988, o coletivo MPEG, (The Moving Picture Coding Experts Group) um grupo de cerca de 25 geeks, tecnicos da indústria da informatica e do cinema, foi encarregado pela Organização Internacional para Normatização – ISO – que define padrões para tudo, desde a engenharia da estrada de ferro a borracha ou plástico – para a elaboração de um padrão funcional para trabalhar filmes digitalmente (e, como antecipado, mais barato). Em julho de 1989 eles apareceriam com o padrão “MPEG-1 Áudio e Vídeo”, que foi colocado em uso em 1992. Logo após isso, um hacker chamado “SoloH” surrupiou o programa codificador de um servidor desprotegido, extraiu a camada dedicada a codificação de áudio, e a espalhou ao redor do globo. Em alguns anos a represa havia estourado. Instantaneamente, parecia, os fãs começaram ripar músicas de CDs para trocas com desconhecidos e os pequenos artistas e empresários começaram a tentar descobrir como transformar mp3 em algo lucrativo. A indústria fonográfica inicialmente viu o mp3 também como uma oportunidade. O diretor de tecnologia da Geffen Records disse ao USA Today em 1997: a Geffen “não vê MPEG como um problema. Nós gostamos de tudo o que aumenta a capacidade dos consumidores de ouvir música de alta qualidade e se isso significa em seu computador, tudo bem. Estamos trabalhando em maneiras de programar e fornecer produtos nesse formato porque os consumidores estão deixando claro que este é um formato de que eles gostam“.
Nem precisa dizer que eles falharam. Por volta de 2003, as coisas tinham chegado ao nível de o senador conservador Orrin Hatch esbravejar contra empresas de tecnologia em audiências do Comitê Judiciário do Senado americano considerando a possibilidade de “advertir” os infratores de copyright, e em seguida – isso não é mentira – destruir seus computadores. “Se essa é a única forma“, disse Hatch, “então sou a favor de destruir suas máquinas. Se você tiver algumas centenas de milhares desses, eu acho que as pessoas perceberiam a gravidade dos seus atos“. Em 1997 os mp3s estavam desorganizados e difíceis de encontrar online, sem contar a dificuldade de baixar arquivos através de uma conexão de linha telefônica. Em 2003 eles estavam por toda parte e impossíveis de serem parados. Em uma virada irônica, as redes peer-to-peer de compartilhamento pelas quais os mp3s começaram a circular eram uma re-engenharia básica de um modelo desenvolvido por uma razão totalmente diferente, se não para uma função semelhante. Originada durante a Segunda Guerra Mundial para melhorar o fluxo de trabalho e fugir da lentidão burocrática entre universidades e agências governamentais, a internet cresceu gradualmente para facilitar a discussão orientada entre comunidades, se tornando finalmente disponivel para todos nos anos 90. Até o final dessa década, essas mesmas idéias encontraram o seu caminho na música online, através de um calouro antenado e cabulador de aula do nordeste americano. Shawn Fanning era um cara difícil, mas o que ele instigou com o Napster na virada do século - ainda mais importante do que os outros fizeram com a sua idéia desde então – foi a inovação mais relevante na distribuição de música desde a gravação em 45 rpm.
Num sentido mais amplo, mp3s preenchem uma função semelhante de distribuição para a era da Internet, que a convergência de compactos de 45 rpm, as vitrolas automaticas e rádio AM fizeram nas décadas de 1940 e 50. Este processo anterior foi colocado em movimento em 1939, quando a ASCAP, organização de licenciamento, não conseguiu chegar a um acordo de royalties com as redes de rádio. Como resultado, os executivos de rádio se uniram para formar a rival BMI e começaram a vasculhar o interior do país procurando por novos talentos. Os caipiras e cantores de blues que eles encontraram foram gravados em estúdios precarios utilizando-se de novos meios e maneiras mais simples de gravação, estampados em discos mais baratos e resistentes que a RCA havia acabado de patentear e divulgados no país todo por meio das vitrolas automaticas e pela programação noturna das radios. Ah, e ao longo do caminho, eles inventaram o rock’n'roll.
A semelhança entre as duas tecnologias e seus efeitos sobre as indústrias são claros: os discos de 45 rpm, os compactos, também eram exemplares individuais de música gravada feitos para fluir através de uma rede mais rapidamente que seus antecessores (os discos de 78 rotações, que os 45 rpm substituíram, eram caros e frágeis). Alem disso, esses discos pequenos também se basearam na música independente para a criação de um novo mercado de música, expansivel, ao alcance dos jovens, o que causou um abalo no mercado das grandes gravadoras. Quando nós pensamos sobre o que mp3s causaram para a versão atual da indústria fonográfica, devemos compará-lo ao que as independentes e 45s fizeram meio século atrás: em 1948, as grandes gravadoras controlavam espantosos 81% do mercado. Em 1959, o número caiu para 34%. Parte da razão pela qual os Beatles tinham as cinco primeiras músicas na parada da Billboard em abril de 1964? Aqueles compactos foram lançadas nos EUA em quatro diferentes selos – Capitol, uma grande gravadora, mas também nos selos independentes Swan, Tollie e Vee-Jay.
Há muitas semelhanças entre discos compactos e mp3, mas é claro que, em termos de relações de poder, investimentos monetários e a grande quantidade de músicas disponíveis como resultado, mp3s são uma coisa muito diferente. Ao mesmo tempo que os compactos ameaçavam o domínio das grandes gravadoras, eles também foram criados dentro do mesmo setor (em uma corrida de patentes entre RCA e Columbia) e, em seguida, foram incorporadas por ela para servir como seu próprio sangue. Como resultado, em vez de se desintegrar, as grandes emergiram como uma força ainda mais poderosa na década de 1960. O mp3, por outro lado, multiplicou-se fora do controle dessa indústria após ter sido arrancado do CD, um formato criado em parte para fazer a música parecer ser um item de luxo, dar um novo sentido aos antigos catálogos e revitalizar uma indústria desarvorada. Junto com as redes de compartilhamento, o mp3 rapidamente fez com que a cópia e distribuição de músicas se tornassem baratas e rápidas, mas transformou algo que costumava ser um processo industrial e distante em uma coisa acessível e fácil que qualquer pessoa poderia fazer. Em outras palavras, não é nada surpreendente que uma indústria sustentável de música independente tenha tomado forma ao lado do mp3. Olhando para trás, é impensável que as coisas pudessem ter acontecido de qualquer outra maneira.
Começa a História do MP3
txt: Eric Harvey
tradução: coletiva
A história do mp3 começa, apropriadamente, do mesmo modo subversivo, de baixo para cima, que muitos arquivos acabam na internet hoje: como um vazamento. Em 1988, o coletivo MPEG, (The Moving Picture Coding Experts Group) um grupo de cerca de 25 geeks, tecnicos da indústria da informatica e do cinema, foi encarregado pela Organização Internacional para Normatização – ISO – que define padrões para tudo, desde a engenharia da estrada de ferro a borracha ou plástico – para a elaboração de um padrão funcional para trabalhar filmes digitalmente (e, como antecipado, mais barato). Em julho de 1989 eles apareceriam com o padrão “MPEG-1 Áudio e Vídeo”, que foi colocado em uso em 1992. Logo após isso, um hacker chamado “SoloH” surrupiou o programa codificador de um servidor desprotegido, extraiu a camada dedicada a codificação de áudio, e a espalhou ao redor do globo. Em alguns anos a represa havia estourado. Instantaneamente, parecia, os fãs começaram ripar músicas de CDs para trocas com desconhecidos e os pequenos artistas e empresários começaram a tentar descobrir como transformar mp3 em algo lucrativo. A indústria fonográfica inicialmente viu o mp3 também como uma oportunidade. O diretor de tecnologia da Geffen Records disse ao USA Today em 1997: a Geffen “não vê MPEG como um problema. Nós gostamos de tudo o que aumenta a capacidade dos consumidores de ouvir música de alta qualidade e se isso significa em seu computador, tudo bem. Estamos trabalhando em maneiras de programar e fornecer produtos nesse formato porque os consumidores estão deixando claro que este é um formato de que eles gostam“.
Nem precisa dizer que eles falharam. Por volta de 2003, as coisas tinham chegado ao nível de o senador conservador Orrin Hatch esbravejar contra empresas de tecnologia em audiências do Comitê Judiciário do Senado americano considerando a possibilidade de “advertir” os infratores de copyright, e em seguida – isso não é mentira – destruir seus computadores. “Se essa é a única forma“, disse Hatch, “então sou a favor de destruir suas máquinas. Se você tiver algumas centenas de milhares desses, eu acho que as pessoas perceberiam a gravidade dos seus atos“. Em 1997 os mp3s estavam desorganizados e difíceis de encontrar online, sem contar a dificuldade de baixar arquivos através de uma conexão de linha telefônica. Em 2003 eles estavam por toda parte e impossíveis de serem parados. Em uma virada irônica, as redes peer-to-peer de compartilhamento pelas quais os mp3s começaram a circular eram uma re-engenharia básica de um modelo desenvolvido por uma razão totalmente diferente, se não para uma função semelhante. Originada durante a Segunda Guerra Mundial para melhorar o fluxo de trabalho e fugir da lentidão burocrática entre universidades e agências governamentais, a internet cresceu gradualmente para facilitar a discussão orientada entre comunidades, se tornando finalmente disponivel para todos nos anos 90. Até o final dessa década, essas mesmas idéias encontraram o seu caminho na música online, através de um calouro antenado e cabulador de aula do nordeste americano. Shawn Fanning era um cara difícil, mas o que ele instigou com o Napster na virada do século - ainda mais importante do que os outros fizeram com a sua idéia desde então – foi a inovação mais relevante na distribuição de música desde a gravação em 45 rpm.
Num sentido mais amplo, mp3s preenchem uma função semelhante de distribuição para a era da Internet, que a convergência de compactos de 45 rpm, as vitrolas automaticas e rádio AM fizeram nas décadas de 1940 e 50. Este processo anterior foi colocado em movimento em 1939, quando a ASCAP, organização de licenciamento, não conseguiu chegar a um acordo de royalties com as redes de rádio. Como resultado, os executivos de rádio se uniram para formar a rival BMI e começaram a vasculhar o interior do país procurando por novos talentos. Os caipiras e cantores de blues que eles encontraram foram gravados em estúdios precarios utilizando-se de novos meios e maneiras mais simples de gravação, estampados em discos mais baratos e resistentes que a RCA havia acabado de patentear e divulgados no país todo por meio das vitrolas automaticas e pela programação noturna das radios. Ah, e ao longo do caminho, eles inventaram o rock’n'roll.
A semelhança entre as duas tecnologias e seus efeitos sobre as indústrias são claros: os discos de 45 rpm, os compactos, também eram exemplares individuais de música gravada feitos para fluir através de uma rede mais rapidamente que seus antecessores (os discos de 78 rotações, que os 45 rpm substituíram, eram caros e frágeis). Alem disso, esses discos pequenos também se basearam na música independente para a criação de um novo mercado de música, expansivel, ao alcance dos jovens, o que causou um abalo no mercado das grandes gravadoras. Quando nós pensamos sobre o que mp3s causaram para a versão atual da indústria fonográfica, devemos compará-lo ao que as independentes e 45s fizeram meio século atrás: em 1948, as grandes gravadoras controlavam espantosos 81% do mercado. Em 1959, o número caiu para 34%. Parte da razão pela qual os Beatles tinham as cinco primeiras músicas na parada da Billboard em abril de 1964? Aqueles compactos foram lançadas nos EUA em quatro diferentes selos – Capitol, uma grande gravadora, mas também nos selos independentes Swan, Tollie e Vee-Jay.
Há muitas semelhanças entre discos compactos e mp3, mas é claro que, em termos de relações de poder, investimentos monetários e a grande quantidade de músicas disponíveis como resultado, mp3s são uma coisa muito diferente. Ao mesmo tempo que os compactos ameaçavam o domínio das grandes gravadoras, eles também foram criados dentro do mesmo setor (em uma corrida de patentes entre RCA e Columbia) e, em seguida, foram incorporadas por ela para servir como seu próprio sangue. Como resultado, em vez de se desintegrar, as grandes emergiram como uma força ainda mais poderosa na década de 1960. O mp3, por outro lado, multiplicou-se fora do controle dessa indústria após ter sido arrancado do CD, um formato criado em parte para fazer a música parecer ser um item de luxo, dar um novo sentido aos antigos catálogos e revitalizar uma indústria desarvorada. Junto com as redes de compartilhamento, o mp3 rapidamente fez com que a cópia e distribuição de músicas se tornassem baratas e rápidas, mas transformou algo que costumava ser um processo industrial e distante em uma coisa acessível e fácil que qualquer pessoa poderia fazer. Em outras palavras, não é nada surpreendente que uma indústria sustentável de música independente tenha tomado forma ao lado do mp3. Olhando para trás, é impensável que as coisas pudessem ter acontecido de qualquer outra maneira.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
P2K
# agência pirata #
A História Social do MP3
txt: Eric Harvey
tradução: coletiva
para classificar até agora durante o século 21, certamente nesses últimos tempos nos concentramos muito em duas das maiores estrelas do século 20. Décadas após seus respectivos picos de popularidade, acontecimentos recentes nos lembram que nem os Beatles nem Michael Jackson afrouxaram o domínio sobre a nossa imaginação. No entanto, notei algo especial na nostalgia envolvendo as mais recentes (e provavelmente últimas) reedições do CD dos Beatles e da súbita morte de Jackson: um sentimento de resignação de que as eras em que ambas as estrelas surgiram muito provavelmente não se repetirão. Os Beatles, em 1963-64 e 1967, e Michael Jackson em 1983-4 indiscutivelmente simbolizam para a música pop o que as Copas do Mundo, as Olimpíadas e os Super Bowls nos EUA significam para os esportes, e o que os grandes sucessos comerciais de verão representam para o cinema: a capacidade de dominar a atenção de todos ao mesmo tempo.
Os capítulos mais recentes destas duas longas histórias do pop não apenas celebraram seu impacto sobre a arte e a cultura pop, mas também – com Michael Jackson chegando postumamente ao topo das paradas e milhões se preparando para pagar caro mais uma vez por novas cópias de Revolver e mais – comemoraram o ritual de pagar por isso. É uma forma de enquadrar esses eventos que só poderia acontecer agora, em um momento em que mp3 e redes de compartilhamento de arquivos permitiram que milhões de diferentes colaboradores globais criassem a maior economia paralela na história – que corroeu a indústria da música como cupins na fundação de uma casa velha. Em seu lugar, uma infra-estrutura instável, que criou infinitas novas demandas para a nossa atenção, mas ainda instável demais para apoiar superstars que conquistam o mundo. Todos nós lemos os artigos e editoriais que lamentam as decisões ruins da indústria fonográfica e seu modelo de negócio em colapso, o fato de que os jovens não dão mais valor à música e as estratégias ultrapassadas usadas para tentar reconquistar clientes pagantes. Essas discussões tornaram-se tão onipresentes, na verdade, que é possível que os últimos 10 anos possam vir a se tornar a primeira década da música pop a ser lembrada pela história pela sua tecnologia musical, em vez de pela música propriamente dita.
Este é um pensamento punitivo, mas ao mesmo tempo temos que ter cuidado para não esquecer como as tecnologias que inventamos para entregar música também trabalham para moldar a nossa percepção dela. Quando o rádio surgiu, os seus programas criaram comunidades de ouvintes estranhos uns aos outros, fisicamente distantes mas conectados pelo conhecimento de que eles estavam ouvindo a mesma música ao mesmo tempo. Se o rádio uniu os ouvintes como um público, o LP começou a dividi-los. O LP e o formato 45rpm levaram o fonógrafo, que existia há mais de meio século, para as massas, bem no momento em que a classe média americana estava indo para os subúrbios e privatizando suas vidas. Podia-se então usar objetos musicais da mesma forma em que a literatura e a arte haviam sido usadas por muitos séculos: como itens de coleção e sinais de gosto pessoal. O surgimento da fita cassete – a primeira tecnologia resistente e regravável da música – permitiu-nos “fabricar” a nossa própria música na privacidade de nossas próprias casas e recirculá-la conforme nossa vontade, através da troca de mixes e de cópias de álbuns inteiros. No início dos anos 80, gravar em casa havia se tornado o mais recente bode expiatório de uma indústria que tentava atribuir a culpa da queda de suas fortunas à delinquência dos consumidores, em vez de a seus próprios gastos excessivos.
A “crise” da fita cassete parece obsoleta quando comparada com o surgimento do mp3. Primeira tecnologia de entrega de música em massa a surgir longe do controle da indústria, os arquivos mp3s, circulando através de peer-to-peer, entre outros caminhos escondidos a olho nu, realizou a tarefa radical de separar a música da indústria da música, pela primeira vez em um século. Eles têm facilitado o surgimento de uma enorme infra-estrutura pirata; ideologicamente separada da estrutura oficial, mas alimentando, multiplicando e distribuindo seus produtos livremente, sem seguir as regras obsoletas do intercâmbio capitalista. O capitalismo não desapareceu, é claro, mas os mp3s ameaçaram seriamente seus hábitos e rituais dentro da cultura musical. Não há nada inerente ou natural em se pagar por música e a circulação de mp3s através de redes ilegais reafirma a música como um processo social movido pela paixão, e não pela lógica do mercado ou de direitos autorais. Ao mesmo tempo, a Internet libertou amplamente a música de seu status de mercadoria bem-embalada e abriu um reino de trocas livre, permitindo também que esses novos e excitantes rituais sejam bem rastreáveis. Da mesma forma que o Facebook visualmente representa “ter amigos”, compartilhar mp3s através de redes P2P quantifica a vida social online da música ao traçar seu caminho. As rotinas sociais que ocorrem em torno da música on-line são dados visíveis – o que os torna muito mais suscetíveis aos estatutos de propriedade intelectual do que no caso de fitas cassete ou CDs.
Estas mudanças são parte de uma mudança econômica e social que é tanto revolucionária no âmbito de aplicação e potencial, mas também dependente de idéias muito tradicionais de interação e de produção. No século 19, a Revolução Industrial afastou as sociedades ocidentais de seu modo de vida agrária, afastando a pessoa comum dos meios de produção, e introduziu o que viria a ser chamado de “modernidade”. No final do século 20, a Internet rapidamente fez esta fase da comunicação e da economia parecer exótica e distante. Esta última mudança – você pode contar aos seus netos que você viveu durante esse tempo – abre a possibilidade de criar e distribuir livremente cultura, com a idéia de atingir uma audiência global. Comparado com o modelo um-para-muitos do século passado, o atual, que ainda está tomando forma, nos dá a capacidade – talvez até a necessidade – de colaborar, criar, organizar e falar a verdade ao poder de forma barata e fácil. Tecnologicamente, isto é futurista. Em termos do que pode assegurar à organização social, as raízes são pré-modernas, até mesmo antigas.
No entanto, não vamos nos deixar levar. Várias forças teriam de se juntar para qualquer tipo de revolução acontecer. Mais provavelmente, irá demorar um pouco, como aconteceu com o rádio e o fonógrafo, para os mp3s estabilizarem e chegarem a um ponto em que as velhas formas de fazer as coisas aprendam com as novas ferramentas. A confusão deixada pela música digital gratuita – uma indústria em colapso, o surgimento de uma nova geração de crianças com uma noção muito diferente do “valor” musical do que seus pais, um subconjunto desse conjunto com gostos mais ecléticos do que uma adolescente deveria ser capaz de ter e uma onda de ações judiciais que vão parecer cada vez mais surreais e ridículas com o passar do tempo – vai demorar um pouco para conseguir colocar as coisas de volta em seus lugares e limpar a bagunça.
Esta é a nossa tentativa de levantamento dos prejuízos, avaliar os ganhos e tentar colocar a primeira década completa do formato mp3 em perspectiva. Tenha em mente que o mp3 é uma tecnologia radicalmente nova e não um meio musical diferente: o mp3 ainda é “música gravada” – que não vai mudar até que a Apple crie o iBrain – mas é música gravada que se movimenta de forma muito diferente. Como resultado, o mp3 abriu vastos novos horizontes para a música ao longo dos últimos 10 anos – como podemos descobri-la, o valor que damos a ela e como nós nos vemos ligados a outras pessoas por ela – horizontes que tanto se afastam como constroem sobre as inovações que vieram antes. Tudo ainda está confuso no momento, mas não vai ser assim para sempre – daqui há algumas décadas provavelmente estaremos com saudade da década do mp3.
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
MANUAL DE USO DO COPYLEFT 1
# agência pirata #
1. Introdução ao Copyleft*
txt: Traficante de Sueños
Tradução: Leonardo Feltrin Foletto
Já faz algum tempo que o termo copyleft saltou das margens do mundo da informática e se instalou em todos os âmbitos da produção intelectual. Ainda que relativamente desconhecido, torpemente pronunciado pelos iniciados, o copyleft se converteu na bandeira de um movimento cultural e político que reúne toda classe de criadores e trabalhadores intelectuais: músicos, escritores, programadores, artistas, editores, juristas, midialivristas e um longo etcétera que ameaça se instalar em cada rincão da sociedade.
O termo provém de um engenhoso jogo de palavras em inglês, que parecia utilizar as artes do desvio situacionista para inverter e aproveitar a “insuspeita flexibilidade” da jurisdição anglo-saxônica do copyright. Destruindo com a ironia do original, poderia-se traduzir para o português o termo como “esquerda de cópia” ou “permitida a cópia”, ainda que sua primeira utilização esteja muito distante de ser um jogo de palavras.
No âmbito da programação [de computador], copyleft definia antes de mais nada um conceito jurídico. Assinalava que todo programa licenciado como software livre (aquele que está permitida a cópia, a modificação e a distribuição sem permissão) teria que permanecer sendo livre nas distribuições (modificadas ou não) do mesmo. O copyleft garantia assim que ninguém poderia se apropiar-se de um programa de software livre, pelo menos de acordo com a lei. Deste modo, parecia encarnar o slogan de 1968 de que “é proibido proibir”, e isso em um terreno tão impróprio como o campo jurídico!
De forma talvez abusiva, mas sem dúvida com uma efetividade social poucas vezes repetida, o copyleft passou para o terreno dos bens culturais para designar precisamente o que no software livre era uma obviedade: a garantia de certas liberdades do público, a partir da própria arquitetura das leis que reconhecem invariavelmente ao autor a possibilidade de escolher, com plena liberdade, o modelo de distribuição e exploração de suas obras. Estas liberdades são: de cópia, distribuição – comercial ou não-comercial (aspecto que para muitos é a condição imprescindível para considerar um bem cultural como livre) – modificação e geração de obra derivada.
Mas por que precisamente agora? Ao fim e ao cabo, sempre existiu criação intelectual e até bem pouco tempo atrás poderia parecer completamente bizarro falar de estas liberdades que o copyleft promete.Teríamos que dizer que o copyleft é produto de uma estranhíssima revolução tecnológica, que permitiu que os bens culturais e o conhecimento sejam independentes dos velhos formatos físicos, sendo distribuídos de forma potencialmente universal pelas redes telemáticas.
Esta quase completa “liberação da matéria” que permite a digitalização, e que em certa medida esconde a promessa de que todos podemos acessar a moderna Biblioteca de Alexandría desde o computador de nossas casas, tem sido considerada como a maior ameaça para os setores econômicos mais poderosos do nosso tempo: a indústria do software, as diferentes indústrias culturais, as indústrias de biotecnologias, etc. Sem dúvida, porque esta circulação aleatória e livre, que põe literalmente tudo ao alcance de todos, acabaria com os monopólios fixados estritamente pelas leis de propriedade intelectual e de propriedade industrial. Por isso, hoje somos testemunhas das criminosas campanhas anti-piratarias e das terríveis condenações por violação de direitos de autor, que em alguns países praticamente equipara este equívoco aos delitos contra a propriedade e a integridade física das pessoas.
Mas esta revolução que aqui chamamos de “digitalização” não somente facilita a distribuição de bens e conhecimento como, também, tem miniaturizado as tecnologias que permitem a sua produção. Assim dá-se o paradoxo que a condição de autor ou de autora tem extendido pela sociedade, até o ponto de diluir as fronteiras entre criador e espectador, autor e público. Neste ponto, o copyleft deve vir ao socorro desta massa potencial de criadores. Deve permitir ao autor que suas obras (sempre baseadas em outras) nunca sejam apropriadas por novos monopolistas, de tal modo que sejam revertidas reciprocamente para a formação de um comum (alguns chamam de procomun) que se torne uma reserva infinita para futuras criações.
Mas talvez deveriamos não avançar muito mais neste terreno. Ao fim e ao cabo, isto é só uma introdução para um guia. Um manual de uso que tem como propósito oferecer uma informação útil para a aplicação do copyleft. Somente se faz indispensável outra colocação.
O copyleft tem sido aplicado em âmbitos tão díspares como o software e a música, a edição de livros e o direito, a arte e o jornalismo. Cada âmbito da produção de uma obra intelectual tem suas próprias especificidades, que se devem a formas de produção e distribuição particulares que, inclusive, tem suas próprias legislações específicas no que diz respeito à propriedade intelectual. Não seria justo nem prático lançar todos os ingredientes da produção intelectual em um calderão de legislação, removê-los todos juntos – ainda que seja em sentido inverso ao convencional – e chamar a receita de copyleft. Cada âmbito diferente exige uma atenção própria, que deve se valer tanto das características específicas de cada área como de experiências e estratégias de implementação de licenças livres em cada compartilhamento da produção intelectual.
É por isso que este guia se organiza em capítulos monográficos dedicados inteiramente a cada área da produção intelectual: software, música, edição de textos, arte, video, direito. Como conclusão são acrescidos dois artigos que tem o propósito de desenvolver as dimensões políticas e éticas que aqui somente introduzimos. Quem visitar o índice deste guia sem dúvida encontrará alguns importantes personagens ausentes, como o jornalismo e a produção científica. No momento, só podemos dizer que esperamos solicitar a presença destes desparecidos transitórios em futuras edições.
Por fim, num livro em que se fala principalmente das condições de produção e distribuição do conhecimento, é imperdoável não fazer uma menção ao que fez possível a edição deste guia. A ideia de um guia de copyleft tem sua origem nas Jornadas Kopyleft (terceira edição de uma série que começou em Madrid e Barcelona), que ocorreu em San Sebastián entre os dias 24 e 26 de junho de 2005. O afinco do grupo organizador na hora de pensar o objetivo do guia e o propósito de cada contribuição deu começo a um trabalho que se prolongou durante o primeiro semestre de 2006. Assim, graças a colaboração inestimável dos autores, que finalmente se arriscaram a escrever, foi-se compondo um índice viável para uma publicação que “só” pretendia retratar o “estado da questão” no que se refere ao copyleft e à produção intelectual. O patrocínio de Arteleku e UNIA-arteypensamiento, que financiaram uma parte considerável deste trabalho, e o seguimento e edição dos materiais por parte de Traficantes de Sueños fizeram o resto.
terça-feira, 22 de setembro de 2009
MALDITOS QUEM, CARA PÁLIDA?
# chaves #
Hein?
txt: Rodrigo Jacobus
Cuidemos com as generalizações que excluem e segregam... Barbáries existem em todas as raças, cores, e credos, sempre existiram e sempre existirão, independente da procedência étnica. Estamos falando da natureza humana e inverter preconceitos recai no mesmo erro: o “retorno a mais do mesmo” ou pior, a “involução”. É preciso mais critério nos enfoques para construir uma crítica mais profunda e mais ampla, menos sectarista, mais orientada para valores de cunho universal e irrestrito, que multipliquem forças ao invés de dividir. É comum ouvirmos discursos “alternativos” ou “de esquerda” metendo pau no branco-europeu-ocidental, o cara-pálida matador de índios, ou fazendo apologia a outras etnias e culturas sem o devido conhecimento destas. Ambos os discursos tendem a ser preconceituosos e marcados pela falta de conhecimento, aparentando muitas vezes a intenção da crítica pela crítica ou uma impensada posição a favor de minorias pelo simples fato de serem minorias. Mas que valores estão em jogo nesses discursos? Não sei, não compreendo, desculpem minha ignorância, pois não vou ficar tentando interpretar a intencionalidade de quem o faz... Ao invés disso, vejamos alguns exemplos para ilustrar meu argumento.
Os astecas e os maias faziam sacrifícios a varrer em nome dos seus deuses. Viviam sob duros regimes teocráticos e o rei exercia o poder divino por meio de leis, funcionários e as escolas nobres. Supunham viver a era do quinto sol. As quatro anteriores haviam acabado em catástrofes. Isso constituía uma justificativa ideológica para as contínuas guerras que promoviam, pois era necessário capturar inimigos e sacrificá-los aos deuses, a fim de proporcionar sangue para que o Sol não se apagasse. Vejam que legal as práticas do regime teocrático asteca: o ritual dedicado a Huitzilopochtli (deus da guerra e da tempestade) ou Tezcatlipoca (deus da noite e da magia, deus supremo) consistia em colocar uma vítima em uma pedra segurada por quatro sacerdotes, enquanto um quinto sacerdote extraía, com uma faca, o coração (ainda vivo) para alimentar seu deus. O dedicado a Tlatoc (deus da chuva e da tempestade) consistia em sacrificar diversas crianças no cume de uma montanha. Acreditavam que quanto mais as crianças chorassem, mais chuva o deus proveria. No dedicado a Xite Totec (deus da primavera e do replantio), um jovem era amarrado em uma parede e os sacerdotes atiravam-no flechas até ele morrer. O sangue que escorria de seu corpo era para alimentar a terra. O dedicado a Xiuhtecuhtle (deus do fogo), a vitima era colocada (com intervalos, para queimar aos poucos) sobre um montante de brasas. Quando não havia guerra contra os vizinhos, os astecas declaravam a "guerra florida", uma série de combates individuais que proporcionavam vítimas para os sacrifícios. Os astecas acreditavam que o sol morria todas as noites. Para acordá-lo, era necessário oferecer sangue humano a ele. Por isto, todas as noites, os sacerdotes matavam uma pessoa para o sacrifício. Legal, não? E isso tudo antes dos europeus aparecerem por aqui.
Na China, a mulher era submetida a um processo de deformação dos pés que iniciava-se na infância, quando os dedos dos pés eram literalmente quebrados. Esta tradição reinou por 1000 anos (bem antes dos “ocidentais” aparecerem por lá): a prática de “amarrar” visava limitar fisicamente as mulheres e estava ligada à subordinação feminina. Na literatura erótica chinesa há relatos de homens acariciando, lambendo e beijando pés totalmente atrofiados por causa das amarraduras. Para os Chineses era uma forma de preservar a virgindade das mulheres, marca a ociosidade das mesmas e era tida como uma maneira de mostrar a virilidade dos homens. A menina sem os pés cobertos não poderia percorrer grandes distancia, e, assim não poderia fugir de casa com sucesso. A atrofia dos pés por amarração era feita da seguinte forma: os quatro dedos (menores) eram colocados para baixo e o dedão ficava estendido; o ante pé e o calcanhar ficavam juntos e o dedão ia para baixo do osso do calcanhar. De perfil parecia um sapato de saltos altos. A literatura erótica, mencionada acima, diz que o dedão serve como um substituto fálico e a fenda no pé seria usada como uma pseudovagina.
Querem mais? Ainda hoje, em países como Senegal, Egito, Sudão, Siri Lanka, Somália, Malásia, Serra Leoa, Emirados Árabes Unidos, Índia, Yemen, Indonésia, Omã, Guiné-Bissau, Nigéria, Uganda, Quênia, Tanzânia, Togo, Mauritânia, Gana, Congo, Benim, Camarões, Costa do Marfim, Chade, Gâmbia, Libéria e Mali é comum a extirpação do clitóris, também chamada de clitoridectomia. Pode ser acompanhada da eliminação de parte ou de todo o lábio vaginal, procedimento chamado excisão. De modo generalizado, essas práticas de remoção são chamadas circuncisão feminina. Há uma forma de mutilação chamada infibulação que consiste na costura dos lábios ou do clítoris. Para ter relações sexuais é necessário que o homem force a penetração entre os pontos (ato doloroso ao extremo) e para dar a luz a mulher é descosturada e logo em seguida, costurada novamente (tudo sem anestesia! Que tal?). A idéia é inibir o prazer sexual feminino, já que só os homens podem ter essa privilégio. Em alguns destes lugares a mulher não passa de um bicho de estimação dos homens.
Onde quero chegar? A natureza humana é vil e amoral. Rousseau é um bobalhão com sua teoria do “bom selvagem”. Nossas ambições devem transpassar estes ranços etnológicos para que cheguemos a uma revolução, ou seja, uma transformação evolutiva radical. Não tenho dúvidas de que os navegadores enviados pelos monarcas europeus para “conquistar” novas terras eram em sua grande maioria um bando de saqueadores filhos-da-puta. De que os cruzados eram uns merdas sob a tutela de uma igreja cristã escravista. Mas isso não faz dos europeus uns malditos. Quero apenas mostrar que essas atrocidades culturais são comuns a todas as etnias, independente de raça, cor, credo, etc. Quando o discurso é CONTRA ou A FAVOR (pois criar privilégios para combater privilégios também é um erro) do branco, do negro, do índio, do alemão, do oriental, do judeu, do árabe, do europeu, do baiano, do gaúcho, da mulher, do (ou da) homossexual é certo que estamos recaindo em injustiças e envolvendo uma grande quantidade de inocentes (úteis ou não) e vítimas inúteis. Desvirtua a luta, segrega os oprimidos e creio que não leva a nada: na melhor das hipóteses conduz a polêmicas desnecessárias neste momento tão difícil, com tantas atrocidades à nossa volta que exigem muita união para ser revertida.
Sugiro que gritemos então contra a injustiça, a desigualdade, a intolerância entre os povos, o preconceito, o governo e o Estado, as elites que ditam nossas regras e leis, a igreja parasitária, a “trairagem”, enfim, contra todos aqueles que tentam nos subjugar, escravizar e enganar – estes são nossos inimigos. Pintemos a favor da solidariedade, da liberdade, da coragem dos que lutam por isso e da perseverança dos que não desistem, do entendimento entre os povos e nações, da paz pela qual teremos que lutar, da fraternidade que substituirá o império do capital pelo amor e respeito ao próximo, que possa nos levar a um mundo mais justo e melhor para se viver, sem restrições estúpidas e primitivas amparadas na ignorância.
Hein?
txt: Rodrigo Jacobus
Cuidemos com as generalizações que excluem e segregam... Barbáries existem em todas as raças, cores, e credos, sempre existiram e sempre existirão, independente da procedência étnica. Estamos falando da natureza humana e inverter preconceitos recai no mesmo erro: o “retorno a mais do mesmo” ou pior, a “involução”. É preciso mais critério nos enfoques para construir uma crítica mais profunda e mais ampla, menos sectarista, mais orientada para valores de cunho universal e irrestrito, que multipliquem forças ao invés de dividir. É comum ouvirmos discursos “alternativos” ou “de esquerda” metendo pau no branco-europeu-ocidental, o cara-pálida matador de índios, ou fazendo apologia a outras etnias e culturas sem o devido conhecimento destas. Ambos os discursos tendem a ser preconceituosos e marcados pela falta de conhecimento, aparentando muitas vezes a intenção da crítica pela crítica ou uma impensada posição a favor de minorias pelo simples fato de serem minorias. Mas que valores estão em jogo nesses discursos? Não sei, não compreendo, desculpem minha ignorância, pois não vou ficar tentando interpretar a intencionalidade de quem o faz... Ao invés disso, vejamos alguns exemplos para ilustrar meu argumento.
Os astecas e os maias faziam sacrifícios a varrer em nome dos seus deuses. Viviam sob duros regimes teocráticos e o rei exercia o poder divino por meio de leis, funcionários e as escolas nobres. Supunham viver a era do quinto sol. As quatro anteriores haviam acabado em catástrofes. Isso constituía uma justificativa ideológica para as contínuas guerras que promoviam, pois era necessário capturar inimigos e sacrificá-los aos deuses, a fim de proporcionar sangue para que o Sol não se apagasse. Vejam que legal as práticas do regime teocrático asteca: o ritual dedicado a Huitzilopochtli (deus da guerra e da tempestade) ou Tezcatlipoca (deus da noite e da magia, deus supremo) consistia em colocar uma vítima em uma pedra segurada por quatro sacerdotes, enquanto um quinto sacerdote extraía, com uma faca, o coração (ainda vivo) para alimentar seu deus. O dedicado a Tlatoc (deus da chuva e da tempestade) consistia em sacrificar diversas crianças no cume de uma montanha. Acreditavam que quanto mais as crianças chorassem, mais chuva o deus proveria. No dedicado a Xite Totec (deus da primavera e do replantio), um jovem era amarrado em uma parede e os sacerdotes atiravam-no flechas até ele morrer. O sangue que escorria de seu corpo era para alimentar a terra. O dedicado a Xiuhtecuhtle (deus do fogo), a vitima era colocada (com intervalos, para queimar aos poucos) sobre um montante de brasas. Quando não havia guerra contra os vizinhos, os astecas declaravam a "guerra florida", uma série de combates individuais que proporcionavam vítimas para os sacrifícios. Os astecas acreditavam que o sol morria todas as noites. Para acordá-lo, era necessário oferecer sangue humano a ele. Por isto, todas as noites, os sacerdotes matavam uma pessoa para o sacrifício. Legal, não? E isso tudo antes dos europeus aparecerem por aqui.
Na China, a mulher era submetida a um processo de deformação dos pés que iniciava-se na infância, quando os dedos dos pés eram literalmente quebrados. Esta tradição reinou por 1000 anos (bem antes dos “ocidentais” aparecerem por lá): a prática de “amarrar” visava limitar fisicamente as mulheres e estava ligada à subordinação feminina. Na literatura erótica chinesa há relatos de homens acariciando, lambendo e beijando pés totalmente atrofiados por causa das amarraduras. Para os Chineses era uma forma de preservar a virgindade das mulheres, marca a ociosidade das mesmas e era tida como uma maneira de mostrar a virilidade dos homens. A menina sem os pés cobertos não poderia percorrer grandes distancia, e, assim não poderia fugir de casa com sucesso. A atrofia dos pés por amarração era feita da seguinte forma: os quatro dedos (menores) eram colocados para baixo e o dedão ficava estendido; o ante pé e o calcanhar ficavam juntos e o dedão ia para baixo do osso do calcanhar. De perfil parecia um sapato de saltos altos. A literatura erótica, mencionada acima, diz que o dedão serve como um substituto fálico e a fenda no pé seria usada como uma pseudovagina.
Querem mais? Ainda hoje, em países como Senegal, Egito, Sudão, Siri Lanka, Somália, Malásia, Serra Leoa, Emirados Árabes Unidos, Índia, Yemen, Indonésia, Omã, Guiné-Bissau, Nigéria, Uganda, Quênia, Tanzânia, Togo, Mauritânia, Gana, Congo, Benim, Camarões, Costa do Marfim, Chade, Gâmbia, Libéria e Mali é comum a extirpação do clitóris, também chamada de clitoridectomia. Pode ser acompanhada da eliminação de parte ou de todo o lábio vaginal, procedimento chamado excisão. De modo generalizado, essas práticas de remoção são chamadas circuncisão feminina. Há uma forma de mutilação chamada infibulação que consiste na costura dos lábios ou do clítoris. Para ter relações sexuais é necessário que o homem force a penetração entre os pontos (ato doloroso ao extremo) e para dar a luz a mulher é descosturada e logo em seguida, costurada novamente (tudo sem anestesia! Que tal?). A idéia é inibir o prazer sexual feminino, já que só os homens podem ter essa privilégio. Em alguns destes lugares a mulher não passa de um bicho de estimação dos homens.
Onde quero chegar? A natureza humana é vil e amoral. Rousseau é um bobalhão com sua teoria do “bom selvagem”. Nossas ambições devem transpassar estes ranços etnológicos para que cheguemos a uma revolução, ou seja, uma transformação evolutiva radical. Não tenho dúvidas de que os navegadores enviados pelos monarcas europeus para “conquistar” novas terras eram em sua grande maioria um bando de saqueadores filhos-da-puta. De que os cruzados eram uns merdas sob a tutela de uma igreja cristã escravista. Mas isso não faz dos europeus uns malditos. Quero apenas mostrar que essas atrocidades culturais são comuns a todas as etnias, independente de raça, cor, credo, etc. Quando o discurso é CONTRA ou A FAVOR (pois criar privilégios para combater privilégios também é um erro) do branco, do negro, do índio, do alemão, do oriental, do judeu, do árabe, do europeu, do baiano, do gaúcho, da mulher, do (ou da) homossexual é certo que estamos recaindo em injustiças e envolvendo uma grande quantidade de inocentes (úteis ou não) e vítimas inúteis. Desvirtua a luta, segrega os oprimidos e creio que não leva a nada: na melhor das hipóteses conduz a polêmicas desnecessárias neste momento tão difícil, com tantas atrocidades à nossa volta que exigem muita união para ser revertida.
Sugiro que gritemos então contra a injustiça, a desigualdade, a intolerância entre os povos, o preconceito, o governo e o Estado, as elites que ditam nossas regras e leis, a igreja parasitária, a “trairagem”, enfim, contra todos aqueles que tentam nos subjugar, escravizar e enganar – estes são nossos inimigos. Pintemos a favor da solidariedade, da liberdade, da coragem dos que lutam por isso e da perseverança dos que não desistem, do entendimento entre os povos e nações, da paz pela qual teremos que lutar, da fraternidade que substituirá o império do capital pelo amor e respeito ao próximo, que possa nos levar a um mundo mais justo e melhor para se viver, sem restrições estúpidas e primitivas amparadas na ignorância.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
CEÚ
# conection #
Vagarosa estréia em Porto Alegre
txt: Leandro De Nardi
phts n' vd: Lucieli Galho e Luti Seligman
Turnê nacional de Vagarosa, segundo disco da cantora, faz a estréia no bar Opinião.
Céu azul no sul do Brasil. Vagarosa é mesmo uma consolidação. De uma cantora completa, de voz sonora e viajante. De uma compositora sintonizada com as demandas urbanas, controvertidas e antagônicas, e que se traduzem bem em Vagarosa: dub, reggae, samba, rock, psicodelismo ou quem sabe, chamamos tudo isso de música popular brasileira. Com certeza, mais do que qualquer denominação, isso é MPB.
Na noite do dia 27 de agosto, Céu sobe ao palco e estréia nacionalmente seu segundo disco, Vagarosa. O show inicia com Espaçonave, uma viagem musical com trilha dos Mutantes. A pista vai suíngando na levada conforme o show avança. Impossível ficar parado. DJ Marco nos toca-discos vai azeitando as sonoridades que a banda desfila. Cabe um parêntese aqui. Grande banda formada por Guilherme Ribeiro na guitarra, teclados e acordeon, Lucas Martins, no baixo, Bruno Buarque, na bateria, além do citado DJ Marco nas pick up`s. Conta ainda, com Mr. Lenza na mesa de áudio. Garantia de sonoridades chapantes.
Assim, segue o roteiro sonoro do show de Céu, que depois de Espaçonave desfila a seqüência: Cumadi, Malemolência, Lenda, Grain de Beauté, Cangote, Visgo de Jaca, Bubuia, Ponteiro, 10 contados, Cordão de Insônia, Sonâmbulo, Ave Cruz, Rainha e Two to Tango, música de Ray Charles e que Céu encanta numa batida Ska contagiante.
Confiram o >> vídeo
Direito a bis, é claro, já que o Céu é azul e todos estão nas nuvens.
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
LANNY GORDIN
# tv dilúvio #
Uma entrevista doidona
btrvst: Tiago Jucá Oliveira
vd: Melissa Orsi dos Santos
Lanny Gordin > vídeo
Uma entrevista doidona
btrvst: Tiago Jucá Oliveira
vd: Melissa Orsi dos Santos
Lanny Gordin > vídeo
terça-feira, 15 de setembro de 2009
LA TETA ASSUSTADA
# agência pirata #
O premiado filme peruano
txt: Ale Lucchese
Ontem fomos assistir A Teta Assustada, tá lá em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana, sala Paulo Amorin, se não me engano – confirmem no google e já aproveitem para ver os horários. O filme é peruano, e ganhou o Urso de Ouro em Berlim. Ou seja, é um peixe grande feito pelos nossos vizinhos latinos: não iria me perdoar de não vê-lo no cinema.
A história é de uma menina que teria o tal mal da “teta assustada”, considerado na crença indígena uma enfermidade que passa pelo leite das mulheres que foram abusadas sexualmente – coisa bastante corriqueira para uma geração que teve de conviver com a guerrilha. O mal deixaria filhos e filhas medrosos, assustados, sempre inseguros. Continua dando o clima de realismo mágico o fato de a protagonista criar uma batata dentro da vagina como método para evitar estupros.
Sim, realismo mágico. O filme tem um clima de encantamento, mas um encantamento profano, cheio de areia, de dor, de alegria, de ruído e música. Para completar, há um certo humor na família da heroína, que prepara casamentos para noivos muito pobres. Mas é um humor repleto de poesia, não de barbarismo e zombaria. Um equilíbrio muito bonito de ser visto nas telas.
Mas o mais impressionante disso tudo é o que esse filme tem causado no Peru. Segundo o relato de uma amiga nossa que mora por lá, a repercussão é comparável ao que Cidade de Deus representou para o Brasil – talvez até maior, visto que a cinematografia peruana é ainda mais diminuta.
O fato é que Magaly Solier, atriz e cantora que interpreta o papel central da trama, é uma descendente de indígenas, e que deixa isso bem claro na cor de sua pela, na maneira de se vestir, de usar o cabelo… Depois ter sido sucesso nos maiores festivais de cinema do mundo e de estar lotando teatros com seus shows, Magaly é o ídolo midiático mais parecido com o que a maioria das mulheres peruanas enxergam em seus espelhos. Isso tem reforçado a auto-estima desta população, gerando um sentimento de saudável orgulho em relação às suas raízes e identidade.
Aém disso, Magaly levou para as rádios e telas canções em quechua – língua herdada do Império Inca e falada cotidianamente por mais ou menos 10 milhões pessoas na América do Sul. Pessoas essas que muitas vezes se envergonham de falar a língua de seus antepassados fora de casa, apesar de se comunicarem basicamente por ela entre os seus amigos e parentes. Agora, com Magaly invadindo as caixas de som de lá e de além, parecem se envergonhar um pouco menos – e levarem a cabeça um pouco mais erguida
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
PINGA NI MIM
# umbigada #
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sexta-feira, 11 de setembro de 2009
DE VOLTA PARA O FUTURO
# agência pirata #
Proposta de Novas diretrizes curriculares de jornalismo empurra curso para uma concepção reacionária na formação, não percebendo que as novas práticas do fazer jornalístico não passam pelo estágio, mas pela produção autônoma de veículos, que são a cada dia criados e mantidos pela sociedade em rede.
txt: Fabio Malini
Escrevo esse artigo, que trataria da relação das chamadas mídias livres no campo da comunicação social, no momento que sai a proposta das novas diretrizes para o curso de jornalismo. Inevitável mostrar como o cenário do midialivrismo gera reação até onde seria o campo da recepção das novas demandas sociais: a formação acadêmica. De antemão, não há muitas novidades nas diretrizes para o ensino de jornalismo, senão uma tentativa de posicionarem-se diante ao fato cabal de que o campo da comunicação social se tornou mais elástico e rico, e o campo do jornalismo, mais restrito e corporativo. É nessa tensa relação que as diretrizes foram geradas. Novidades radicais: estágio supervisionado obrigatório e separação do curso de jornalismo do campo da comunicação social. O restante é chover no molhado, só atualização às novas necessidades.
No entanto, muitos do problemas dessas diretrizes têm a ver com o fato de nascer fora de lugar, dissociadas das decisões do Supremo Tribunal Federal, que gerou o fim da exigibilidade do diploma de jornalismo, a queda da lei de imprensa e do acórdão que entende a internet como espaço da liberdade absoluta.
As novidades das “novas diretrizes” são um trágico “de volta para o futuro”. Elas apontam muito mais para trás, mesmo que exista uma boa fé daqueles que pensam em estar olhando para frente.
Quem institucionaliza a formação em jornalismo?
Uma questão concreta, um interesse concreto. Aqui na Universidade Federal do Espírito Santo, propomos um novo curso de especialização lato sensu, em jornalismo. O foco é ser uma especialização teórico-técnica aberta a todos os profissionais graduados, como queremos e a justiça também. Ordem do Supremo. Não podemos, por lei, dizer que somente graduados em jornalismo podem fazer o curso de aperfeiçoamento, nível pós-graduação lato sensu, em jornalismo. Claro que também é uma atitude política. Queremos qualificar a formação do campo dos não-jornalistas, graduados em habilitações da comunicação social e outras áreas, que agora são jornalistas, de direito.
Ao mesmo tempo as novas diretrizes permitirão que a graduação em jornalismo não será mais uma habilitação da comunicação social. Nada de delírio sulamericano, pensam alguns, que acreditam que essa coisa de comunicação social é abstrata demais e impede o ensino de jornalismo de focar mais no fazer jornalístico.
Mas veja o nosso caso aqui de Vitória como vai no núcleo da “questão da formação”.
Se um dia, um departamento, como o nosso, propor fazer uma pós-graduação lato sensu de jornalismo, com foco no “campo profissional”, será que o curso/departamento de jornalismo iria dizer o quê? Não, pelo amor de Deus, é só na graduação de jornalismo que aprendemos a fazer fotojornalismo, pelo amor de deus é só na graduação de jornalismo que aprendemos a fazer telejornalismo? As diretrizes curriculares do campo profissional vão impedir cursos de jornalismo lato sensu nas universidades públicas e faculdades privadas desenvolvidos por professores, que são jornalistas, mas que atuam em outros cursos de habilitação da Comunicação Social ou em outras áreas da Humanidades?
Veja que essa idéia de criar um “campo profissional” dissociado de um “campo de conhecimento” pode gerar uma dinâmica de guerra na área. Eu, se estiver num curso de audiovisual ou de economia, para usar exemplos concretos, posso propor um curso de jornalismo em nível de pós-graduação lato sensu, quer o departamentto de jornalismo da minha instituição queira ou não. Eu posso propor, e a instituição superior de ensino aceitar criar um curso de especialização com todas as disciplinas técnicas do jornalismo. E aí, de novo, quem vai me proibir? Ninguém, porque as diretrizes querem separar a formação de jornalismo da área de comunicação no nível de graduação, mas não no de pós-graduação, porque neste o que vale é o fato de jornalismo ser parte do grande campo de conhecimento chamado Comunicação Social. E daí o discurso do jornalismo como apenas campo profissional não cola. Dessa forma, o nosso curso de lato sensu para profissionais “do” jornalismo é absolutamente algo legitimado institucionalmente e traz, de volta, a junção daquilo que a comissão sugere separar: o jornalismo como uma faceta do campo da comunicação social. Eu posso formar jornalistas, graduados em qualquer área, no nível de pós-graduação, independente da formação que o estudante possa vir a ter.
Então, no lugar de fortalecer os cursos de jornalismo, a proposta acaba por criar um conflito entre áreas da comunicação social que pode, em última instância, fragilizar as graduações, senão até acabar com muitas delas, porque, pela lógica, só poderão estar dentro dos cursos de jornalismo graduados em jornalismo. Lembre-se, para comissão, o jornalismo é campo profissional e não campo de conhecimento. Eis aí a primeira volta para o futuro. Enquanto a sociedade radicaliza a comunicação social (pressionando pela ampliação de direitos no campo da comunicação), aqueles que formam jornalistas querem dissociá-los das dinâmicas concretas da sociedade.
Pela lógica, o estágio supervisionado é ilegal
Não podemos esquecer que temos uma dimensão constitucional nova sobre o que é jornalismo. O fim da exigibilidade gerou viúvas, sabemos. E aí, essas diretrizes podem estar é acabando com os cursos de jornalismo, na maior boa fé.
Essa coisa do estágio supervisionado é uma atidude pedagógica reacionária, repressiva, mesmo que, repetindo, exista uma boa fé nisso. Num contexto em que a sociedade produz comunicação (e jornalismo como uma das suas linguagens), como eu vou pedir pro cara que cursa jornalismo e tem um blog indepedente de jornalismo político fazer estágio na editoria de política do jornal local? Como eu vou pedir pro cara que atua num coletivo de jornalismo independente, que mistura, cinema, audiovisual, produção gráfica, computação, sociologia, teoria da comunicação, etc, e ganha uma grana com novas formas de sustentabilidade profissional, a passar pelos “postos de trabalho” da fábrica fordista? Eu, que tenho minha revista online, com 10 mil acessos dia, focada em jornalismo cultural, vou ter de fazer estágio onde? Esses são exemplos reais, pois estamos num cenário de radicalização da comunicação social e de esplendor para o jornalismo. E o pior que nem sou somente eu quem diz isso, é só fazer uma pesquisa básica no Google e encontrar entrevista do editor do Washington Post Philip Bennet, publicada no jornal El Pais, comentando o fato de ter demitido 250 jornalistas nos últimos três anos: “tive que fazer isso com um paradoxo sempre na mente que estamos a viver uma época terrível para empresas de notícias e uma era de ouro para o jornalismo”.
A proposta dessas diretrizes quer – de novo, com a maior boa fé – é retomar a proposta de exigibilidade do diploma, mas só para uma classe de trabalhadores, e pasmem, para os jornalistas. Reparem a lógica. O cara que faz jornalismo terá que fazer estágio. Onde? Nas redações e ambientes institucionais. O estágio poderá ser feito apenas em “instituições” (com curioso detalhe que poderá ser em assessoria de imprensa). De qualquer forma, o estágio recupera a velha concepção da fábrica fordista (estudante primeiro, produtor depois). Assim, o fazer jornalismo fica condicionado, nas faculdades, a um estágio, portanto, dentro das redações (no sentido mais amplo possível do termo, por mais irônico que isso seja, para aqueles que pensam em jornalismo, legitimando o jornalismo de uma fonte só). O cara fica quatro meses, no mínimo lá no local, depois, pé na buzanfa.
Nessa lógica, não pode existir jornalista formado sem residência. Contudo, o que vai acontecer? Só é jornalista graduado aquele que passar pela dimensão corporativo-sindical. Com um avanço (rs), o cara que for fazer estágio não entrará como estudante, mas como JORNALISTA, porque legalmente o ESTÁGIO EM JORNALISMO É UMA FICÇÃO. Com o fim da exigibilidade do diploma, não se pode criar, nas redações, a figura do estagiário. Ninguém sacou que o fim da exigibilidade deixará o sindicato dos jornalistas rico? Então essa de estágio é ilegal nas redações, porque a atuação jornalística não requer diploma e o estudante terá que ser contratado como profissional ou, o pior, ser contratado lá pela organização como um estagiário de serviços gerais, para fugir das normas que regem a legalidade em questão. Com a decisão do Supremo, esqueçam, não pode haver “estagiário em jornalismo”, só jornalistas.
Mas o pior, cômico e trágico ao mesmo tempo: o cara que cursa História poderá fazer jornalismo sem passar pelo estágio. É verdade, poderá. Mas o cara que já é jornalista, e cursa jornalismo, não pode ser jornalista se não fizer estágio. Então, as diretrizes, com todo respeito, pioraram a situação para quem quer fazer jornalismo, porque só é “jornalista quem for fichado”. E o pior: nenhuma redação vai querer contratar o cara, num regime de trabalho CLT, para ficar trabalhando apenas um ano, porque depois vai ter de demitir e pagar todos aqueles encargos que empresário não gosta de pagar (40% de demissão etecetera). O estágio inviabiliza os cursos de jornalismo no país porque, na verdade, não existe mais conceito de estágio em jornalismo. Quem for atuar no jornalismo, por não exigir diploma, precisa ser sindicalizado como tal. Se existe residência em medicina, não haverá no jornalismo. É por isso que os cursos de residência em jornalismo no país não pagavam, e vão continuar a não pagar, um centavo para os nossos estudantes, porque se trata de uma benevolência do grupo de comunicação em ensinar o jornalismo a partir das suas regras editoriais. Agora com a obrigatoriedade do estágio as coisas melhoram para o empresariado (apesar do contrato de estágio fake que terão que criar, como já criam, diga-se de passagem). E agora, de volta para o futuro, a comissão recorre no esquecimento da decisão do Supremo. Nada de estágio, vamos assumir, dentro da CLT, o trabalho jornalístico profissional, seja ele de um garoto de 18 anos ou de um senhor de 60.
Mas o pior não é a interpretação caduca da comissão. Mas é a visão mesmo de que só há jornalista se houver o estágio institucional. O estágio supervisionado obrigatório é rescaldo da cultura do aprisionamento do fazer jornalismo como uma atividade corporativo. E “tá na cara” que inseri-lo no currículo pode criar uma situação de inconstitucionalidade. Afinal, impor-se-á uma obrigação na formação que não tem amparo legal, à medida que o estudante pode atuar na produção de jornalismo antes ou depois de formado, tal como o estudante de audiovisual ou de história que podem, agora ou amanhã, atuar no jornalismo. Valerá à pena fazer o curso de jornalismo à medida que este coloca a barreira do estágio como condição para ser jornalista?
Para mim, a questão passa é por romper essa dimensão disciplinar do estágio. O que significa afirmar que a gurizada precisa fazer o que curte hoje: criar suas próprias mídias, de forma autônoma, inclusive, em relação ao próprio professor. Para que somente ter a moral do escravo entre nós? Não, não, não. Hoje podemos construir nossas próprias mídias e viver delas. Há tantos exemplos, tantos, de inovações jornalísticas, na rede sobretudo, que não passam por ter um chefe, que fica difícil apoiar essa história de “obrigação do estágio”, porque este exclui as novas práticas sociais de mídia livre, em que ter seu próprio veículo é condição de estar no mercado de trabalho. Então no lugar da moral do escravo, temos é que criar a moral do empreendedor coletivo que articula diversos saberes na produção de veículos jornalísticos para além de ter um patrão. Mídia Livre nos currículos de jornalismo para conseguirmos ter a oportunidade de produzir novas linguagens, novas oportunidades de trabalho.
Os empregos continuarão a existir.
Os espaços institucionais não cessarão. Estarão sempre à disposição de talentosos jornalistas (formados ou não em jornalismo/comunicação social). Mas, veja bem, eu não sei se uma entidade poderá criar estágios em jornalismo, repito. Já estamos a ver concursos públicos que abrem vagas de jornalismo, mas que não pode priorizar aqueles formados em jornalismo. Os gestores que fizerem essa priorização pode ver o concurso público sendo questionado na justiça. E no campo da redações profissionais é o talento e a obediência (não é vero?) à cultura organizacional que vai decidir a parada. Enquanto isso centenas de jovens talentos já estarão produzindo os seus próprios veículos, quase sempre de forma coletiva, junto com carinhas que são cineastas, publicitários, designers, programadores, matemáticos, cientistas sociais etc, num processo incrível de mistura de conhecimentos para criar histórias contemporâneas. E não há dúvidas que é nessa maioria que a inovação deve passar, o que não inviabiliza que a “grande mídia” pesque alguns desses talentos, remunerando-os de maneira digna (oremos!).
Então, vejo, como dentro da normalidade que alguns professores de jornalismo tenham receio da cultura da comunicação social (que vemos hoje na própria internet). Mas é dela que precisamos. Sei que o termo “comunicação social” pode soar muito abstrato para esses professores, de fato, é. Mas, para mim, se trata apenas de um termo para mostrar o óbvio. O processo sempre aberto do campo da liberdade de expressão. Nossa constituição tem lá, o capítulo Da Comunicação Social. O termo não é só acadêmico, mas constitucional. Não se trata de ter uma perspectiva estruturalista no campo. Ao contrário, é entender que a dimensão da comunicação social é exatamente o que o “novo jornalismo” deve ter como horizonte profissional. Perder a dimensão comunicacional é perder parte da ética jornalística e das dinâmicas concretas de exigência de democratização da comunicação, porque o jornalismo é feito das diferentes linguagens, práticas e éticas que estão circunscritas ao domínio da comunicação. O que eu posso fazer se os americanos pensam a formação de “jornalismo como curso de jornalismo”? Veja lá a situação dos caras. O processo intenso de disputa com o campo da comunicação social, que se insurge contra ou chacoalha o “campo profissional de jornalismo”. A situação americana é esta. E a gente aqui dizendo que o campo da comunicação social é coisa menor para o jornalista, enquanto aprovamos uma legislação eleitoral que afirma que todo cidadão deve ter direito à produção da informação, quer os políticos queiram ou não.
O que é isso, companheiro? A luta, de hoje, significa trazer a cultura do remix para dentro do jornalismo. E não excluir dele as novas linguagens originadas dentro da comunicação social, que tem hoje a rede como seu principal paradigma.
Este semestre dou aula para o jornalismo e o desenho industrial, no mesmo espaço, no mesmo dia. Descobri que não tem como pensar narrativas multimídia dissociadas do campo do design e da programação. Antes, os meninos e meninas de jornalismo faziam conteúdos bem legais, mas, o que adiantava, se não sabíamos programar e potencializar ainda mais o grau de conhecimento aplicado na produção de reportagem. Então resolvi radicalizar. Botei todo mundo na mesma sala. A galera do design discute personagens, narrativas, iconicidade dos personagens etc. A galera do jornalismo design, formas de organização da notícia dentro das narrativas do multimídia, programação php e desenho a partir da lógica CSS. Isso para mim é comunicação social. É radicalizar o princípio da comunicação social. A galera vai produzir seis especiais jornalísticos multimídia. Reportagem com profundidade a partir da hibridização jornalismo + design + informática.
Só penso nisso porque fui formado em comunicação social, habilitado em jornalismo. E não quero fazer a viagem “de volta para o futuro”. Não me façam tirar os alunos do design e sistema de informação da minha turma de laboratório de jornalismo online.
Meus antigos professores, vocês estavam certos. É a comunicação social que está sendo radicalizada hoje. Deixem os americanos e os europeus na crise. E assumam o devir latino-americano do jornalismo como “comunicação social”. É como diz o Roberto e o Erasmo, “Não dê ouvidos a maldade alheia / E creia / Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo / Meu bem / meu bem / Use a inteligência uma vez só / Quantos idiotas vivem só / Sem ter amor / E você vai ficar também sozinha / Eu sei porque …”.
Proposta de Novas diretrizes curriculares de jornalismo empurra curso para uma concepção reacionária na formação, não percebendo que as novas práticas do fazer jornalístico não passam pelo estágio, mas pela produção autônoma de veículos, que são a cada dia criados e mantidos pela sociedade em rede.
txt: Fabio Malini
Escrevo esse artigo, que trataria da relação das chamadas mídias livres no campo da comunicação social, no momento que sai a proposta das novas diretrizes para o curso de jornalismo. Inevitável mostrar como o cenário do midialivrismo gera reação até onde seria o campo da recepção das novas demandas sociais: a formação acadêmica. De antemão, não há muitas novidades nas diretrizes para o ensino de jornalismo, senão uma tentativa de posicionarem-se diante ao fato cabal de que o campo da comunicação social se tornou mais elástico e rico, e o campo do jornalismo, mais restrito e corporativo. É nessa tensa relação que as diretrizes foram geradas. Novidades radicais: estágio supervisionado obrigatório e separação do curso de jornalismo do campo da comunicação social. O restante é chover no molhado, só atualização às novas necessidades.
No entanto, muitos do problemas dessas diretrizes têm a ver com o fato de nascer fora de lugar, dissociadas das decisões do Supremo Tribunal Federal, que gerou o fim da exigibilidade do diploma de jornalismo, a queda da lei de imprensa e do acórdão que entende a internet como espaço da liberdade absoluta.
As novidades das “novas diretrizes” são um trágico “de volta para o futuro”. Elas apontam muito mais para trás, mesmo que exista uma boa fé daqueles que pensam em estar olhando para frente.
Quem institucionaliza a formação em jornalismo?
Uma questão concreta, um interesse concreto. Aqui na Universidade Federal do Espírito Santo, propomos um novo curso de especialização lato sensu, em jornalismo. O foco é ser uma especialização teórico-técnica aberta a todos os profissionais graduados, como queremos e a justiça também. Ordem do Supremo. Não podemos, por lei, dizer que somente graduados em jornalismo podem fazer o curso de aperfeiçoamento, nível pós-graduação lato sensu, em jornalismo. Claro que também é uma atitude política. Queremos qualificar a formação do campo dos não-jornalistas, graduados em habilitações da comunicação social e outras áreas, que agora são jornalistas, de direito.
Ao mesmo tempo as novas diretrizes permitirão que a graduação em jornalismo não será mais uma habilitação da comunicação social. Nada de delírio sulamericano, pensam alguns, que acreditam que essa coisa de comunicação social é abstrata demais e impede o ensino de jornalismo de focar mais no fazer jornalístico.
Mas veja o nosso caso aqui de Vitória como vai no núcleo da “questão da formação”.
Se um dia, um departamento, como o nosso, propor fazer uma pós-graduação lato sensu de jornalismo, com foco no “campo profissional”, será que o curso/departamento de jornalismo iria dizer o quê? Não, pelo amor de Deus, é só na graduação de jornalismo que aprendemos a fazer fotojornalismo, pelo amor de deus é só na graduação de jornalismo que aprendemos a fazer telejornalismo? As diretrizes curriculares do campo profissional vão impedir cursos de jornalismo lato sensu nas universidades públicas e faculdades privadas desenvolvidos por professores, que são jornalistas, mas que atuam em outros cursos de habilitação da Comunicação Social ou em outras áreas da Humanidades?
Veja que essa idéia de criar um “campo profissional” dissociado de um “campo de conhecimento” pode gerar uma dinâmica de guerra na área. Eu, se estiver num curso de audiovisual ou de economia, para usar exemplos concretos, posso propor um curso de jornalismo em nível de pós-graduação lato sensu, quer o departamentto de jornalismo da minha instituição queira ou não. Eu posso propor, e a instituição superior de ensino aceitar criar um curso de especialização com todas as disciplinas técnicas do jornalismo. E aí, de novo, quem vai me proibir? Ninguém, porque as diretrizes querem separar a formação de jornalismo da área de comunicação no nível de graduação, mas não no de pós-graduação, porque neste o que vale é o fato de jornalismo ser parte do grande campo de conhecimento chamado Comunicação Social. E daí o discurso do jornalismo como apenas campo profissional não cola. Dessa forma, o nosso curso de lato sensu para profissionais “do” jornalismo é absolutamente algo legitimado institucionalmente e traz, de volta, a junção daquilo que a comissão sugere separar: o jornalismo como uma faceta do campo da comunicação social. Eu posso formar jornalistas, graduados em qualquer área, no nível de pós-graduação, independente da formação que o estudante possa vir a ter.
Então, no lugar de fortalecer os cursos de jornalismo, a proposta acaba por criar um conflito entre áreas da comunicação social que pode, em última instância, fragilizar as graduações, senão até acabar com muitas delas, porque, pela lógica, só poderão estar dentro dos cursos de jornalismo graduados em jornalismo. Lembre-se, para comissão, o jornalismo é campo profissional e não campo de conhecimento. Eis aí a primeira volta para o futuro. Enquanto a sociedade radicaliza a comunicação social (pressionando pela ampliação de direitos no campo da comunicação), aqueles que formam jornalistas querem dissociá-los das dinâmicas concretas da sociedade.
Pela lógica, o estágio supervisionado é ilegal
Não podemos esquecer que temos uma dimensão constitucional nova sobre o que é jornalismo. O fim da exigibilidade gerou viúvas, sabemos. E aí, essas diretrizes podem estar é acabando com os cursos de jornalismo, na maior boa fé.
Essa coisa do estágio supervisionado é uma atidude pedagógica reacionária, repressiva, mesmo que, repetindo, exista uma boa fé nisso. Num contexto em que a sociedade produz comunicação (e jornalismo como uma das suas linguagens), como eu vou pedir pro cara que cursa jornalismo e tem um blog indepedente de jornalismo político fazer estágio na editoria de política do jornal local? Como eu vou pedir pro cara que atua num coletivo de jornalismo independente, que mistura, cinema, audiovisual, produção gráfica, computação, sociologia, teoria da comunicação, etc, e ganha uma grana com novas formas de sustentabilidade profissional, a passar pelos “postos de trabalho” da fábrica fordista? Eu, que tenho minha revista online, com 10 mil acessos dia, focada em jornalismo cultural, vou ter de fazer estágio onde? Esses são exemplos reais, pois estamos num cenário de radicalização da comunicação social e de esplendor para o jornalismo. E o pior que nem sou somente eu quem diz isso, é só fazer uma pesquisa básica no Google e encontrar entrevista do editor do Washington Post Philip Bennet, publicada no jornal El Pais, comentando o fato de ter demitido 250 jornalistas nos últimos três anos: “tive que fazer isso com um paradoxo sempre na mente que estamos a viver uma época terrível para empresas de notícias e uma era de ouro para o jornalismo”.
A proposta dessas diretrizes quer – de novo, com a maior boa fé – é retomar a proposta de exigibilidade do diploma, mas só para uma classe de trabalhadores, e pasmem, para os jornalistas. Reparem a lógica. O cara que faz jornalismo terá que fazer estágio. Onde? Nas redações e ambientes institucionais. O estágio poderá ser feito apenas em “instituições” (com curioso detalhe que poderá ser em assessoria de imprensa). De qualquer forma, o estágio recupera a velha concepção da fábrica fordista (estudante primeiro, produtor depois). Assim, o fazer jornalismo fica condicionado, nas faculdades, a um estágio, portanto, dentro das redações (no sentido mais amplo possível do termo, por mais irônico que isso seja, para aqueles que pensam em jornalismo, legitimando o jornalismo de uma fonte só). O cara fica quatro meses, no mínimo lá no local, depois, pé na buzanfa.
Nessa lógica, não pode existir jornalista formado sem residência. Contudo, o que vai acontecer? Só é jornalista graduado aquele que passar pela dimensão corporativo-sindical. Com um avanço (rs), o cara que for fazer estágio não entrará como estudante, mas como JORNALISTA, porque legalmente o ESTÁGIO EM JORNALISMO É UMA FICÇÃO. Com o fim da exigibilidade do diploma, não se pode criar, nas redações, a figura do estagiário. Ninguém sacou que o fim da exigibilidade deixará o sindicato dos jornalistas rico? Então essa de estágio é ilegal nas redações, porque a atuação jornalística não requer diploma e o estudante terá que ser contratado como profissional ou, o pior, ser contratado lá pela organização como um estagiário de serviços gerais, para fugir das normas que regem a legalidade em questão. Com a decisão do Supremo, esqueçam, não pode haver “estagiário em jornalismo”, só jornalistas.
Mas o pior, cômico e trágico ao mesmo tempo: o cara que cursa História poderá fazer jornalismo sem passar pelo estágio. É verdade, poderá. Mas o cara que já é jornalista, e cursa jornalismo, não pode ser jornalista se não fizer estágio. Então, as diretrizes, com todo respeito, pioraram a situação para quem quer fazer jornalismo, porque só é “jornalista quem for fichado”. E o pior: nenhuma redação vai querer contratar o cara, num regime de trabalho CLT, para ficar trabalhando apenas um ano, porque depois vai ter de demitir e pagar todos aqueles encargos que empresário não gosta de pagar (40% de demissão etecetera). O estágio inviabiliza os cursos de jornalismo no país porque, na verdade, não existe mais conceito de estágio em jornalismo. Quem for atuar no jornalismo, por não exigir diploma, precisa ser sindicalizado como tal. Se existe residência em medicina, não haverá no jornalismo. É por isso que os cursos de residência em jornalismo no país não pagavam, e vão continuar a não pagar, um centavo para os nossos estudantes, porque se trata de uma benevolência do grupo de comunicação em ensinar o jornalismo a partir das suas regras editoriais. Agora com a obrigatoriedade do estágio as coisas melhoram para o empresariado (apesar do contrato de estágio fake que terão que criar, como já criam, diga-se de passagem). E agora, de volta para o futuro, a comissão recorre no esquecimento da decisão do Supremo. Nada de estágio, vamos assumir, dentro da CLT, o trabalho jornalístico profissional, seja ele de um garoto de 18 anos ou de um senhor de 60.
Mas o pior não é a interpretação caduca da comissão. Mas é a visão mesmo de que só há jornalista se houver o estágio institucional. O estágio supervisionado obrigatório é rescaldo da cultura do aprisionamento do fazer jornalismo como uma atividade corporativo. E “tá na cara” que inseri-lo no currículo pode criar uma situação de inconstitucionalidade. Afinal, impor-se-á uma obrigação na formação que não tem amparo legal, à medida que o estudante pode atuar na produção de jornalismo antes ou depois de formado, tal como o estudante de audiovisual ou de história que podem, agora ou amanhã, atuar no jornalismo. Valerá à pena fazer o curso de jornalismo à medida que este coloca a barreira do estágio como condição para ser jornalista?
Para mim, a questão passa é por romper essa dimensão disciplinar do estágio. O que significa afirmar que a gurizada precisa fazer o que curte hoje: criar suas próprias mídias, de forma autônoma, inclusive, em relação ao próprio professor. Para que somente ter a moral do escravo entre nós? Não, não, não. Hoje podemos construir nossas próprias mídias e viver delas. Há tantos exemplos, tantos, de inovações jornalísticas, na rede sobretudo, que não passam por ter um chefe, que fica difícil apoiar essa história de “obrigação do estágio”, porque este exclui as novas práticas sociais de mídia livre, em que ter seu próprio veículo é condição de estar no mercado de trabalho. Então no lugar da moral do escravo, temos é que criar a moral do empreendedor coletivo que articula diversos saberes na produção de veículos jornalísticos para além de ter um patrão. Mídia Livre nos currículos de jornalismo para conseguirmos ter a oportunidade de produzir novas linguagens, novas oportunidades de trabalho.
Os empregos continuarão a existir.
Os espaços institucionais não cessarão. Estarão sempre à disposição de talentosos jornalistas (formados ou não em jornalismo/comunicação social). Mas, veja bem, eu não sei se uma entidade poderá criar estágios em jornalismo, repito. Já estamos a ver concursos públicos que abrem vagas de jornalismo, mas que não pode priorizar aqueles formados em jornalismo. Os gestores que fizerem essa priorização pode ver o concurso público sendo questionado na justiça. E no campo da redações profissionais é o talento e a obediência (não é vero?) à cultura organizacional que vai decidir a parada. Enquanto isso centenas de jovens talentos já estarão produzindo os seus próprios veículos, quase sempre de forma coletiva, junto com carinhas que são cineastas, publicitários, designers, programadores, matemáticos, cientistas sociais etc, num processo incrível de mistura de conhecimentos para criar histórias contemporâneas. E não há dúvidas que é nessa maioria que a inovação deve passar, o que não inviabiliza que a “grande mídia” pesque alguns desses talentos, remunerando-os de maneira digna (oremos!).
Então, vejo, como dentro da normalidade que alguns professores de jornalismo tenham receio da cultura da comunicação social (que vemos hoje na própria internet). Mas é dela que precisamos. Sei que o termo “comunicação social” pode soar muito abstrato para esses professores, de fato, é. Mas, para mim, se trata apenas de um termo para mostrar o óbvio. O processo sempre aberto do campo da liberdade de expressão. Nossa constituição tem lá, o capítulo Da Comunicação Social. O termo não é só acadêmico, mas constitucional. Não se trata de ter uma perspectiva estruturalista no campo. Ao contrário, é entender que a dimensão da comunicação social é exatamente o que o “novo jornalismo” deve ter como horizonte profissional. Perder a dimensão comunicacional é perder parte da ética jornalística e das dinâmicas concretas de exigência de democratização da comunicação, porque o jornalismo é feito das diferentes linguagens, práticas e éticas que estão circunscritas ao domínio da comunicação. O que eu posso fazer se os americanos pensam a formação de “jornalismo como curso de jornalismo”? Veja lá a situação dos caras. O processo intenso de disputa com o campo da comunicação social, que se insurge contra ou chacoalha o “campo profissional de jornalismo”. A situação americana é esta. E a gente aqui dizendo que o campo da comunicação social é coisa menor para o jornalista, enquanto aprovamos uma legislação eleitoral que afirma que todo cidadão deve ter direito à produção da informação, quer os políticos queiram ou não.
O que é isso, companheiro? A luta, de hoje, significa trazer a cultura do remix para dentro do jornalismo. E não excluir dele as novas linguagens originadas dentro da comunicação social, que tem hoje a rede como seu principal paradigma.
Este semestre dou aula para o jornalismo e o desenho industrial, no mesmo espaço, no mesmo dia. Descobri que não tem como pensar narrativas multimídia dissociadas do campo do design e da programação. Antes, os meninos e meninas de jornalismo faziam conteúdos bem legais, mas, o que adiantava, se não sabíamos programar e potencializar ainda mais o grau de conhecimento aplicado na produção de reportagem. Então resolvi radicalizar. Botei todo mundo na mesma sala. A galera do design discute personagens, narrativas, iconicidade dos personagens etc. A galera do jornalismo design, formas de organização da notícia dentro das narrativas do multimídia, programação php e desenho a partir da lógica CSS. Isso para mim é comunicação social. É radicalizar o princípio da comunicação social. A galera vai produzir seis especiais jornalísticos multimídia. Reportagem com profundidade a partir da hibridização jornalismo + design + informática.
Só penso nisso porque fui formado em comunicação social, habilitado em jornalismo. E não quero fazer a viagem “de volta para o futuro”. Não me façam tirar os alunos do design e sistema de informação da minha turma de laboratório de jornalismo online.
Meus antigos professores, vocês estavam certos. É a comunicação social que está sendo radicalizada hoje. Deixem os americanos e os europeus na crise. E assumam o devir latino-americano do jornalismo como “comunicação social”. É como diz o Roberto e o Erasmo, “Não dê ouvidos a maldade alheia / E creia / Sua estupidez não lhe deixa ver que eu te amo / Meu bem / meu bem / Use a inteligência uma vez só / Quantos idiotas vivem só / Sem ter amor / E você vai ficar também sozinha / Eu sei porque …”.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
BLIPS
# remixtures #
Samples grátis de loops de bateria
txt: Miguel Caetano
Alô, beatmaníacos e amantes de hip-hop, electro ou música electrónica em geral: esta é para vocês: Angel Draganov criou o Blips, um repositório de pacotes grátis de samples de blips, bleeps, clicks e cuts que é actualizado regularmente. Os sons são em regra geral electrónicos e futuristas bem ao estilo IDM.
O melhor de tudo é que quem quiser pode não só descarregar os samples mas também utilizá-los nas suas produções. Isto porque Draganov optou por disponibilizá-los segundo uma licença Creative Commons Sampling+. A única coisa que ele pede é que lhe enviem um email com um link para que possa ouvir a vossa obra-prima final.
Um recurso indispensável que eu descobri graças ao blog alemão Phlow e que se vem juntar a outras bibliotecas de samples livres e grátis como o The FreeSound Project e o SoundSnap.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
SE NADA MAIS DER CERTO
# manda chuva #
O segundo pior filme que já vi
txt: Tiago Jucá Oliveira
Há poucos dias estive em Fortaleza e, após ler uma crítica positiva num jornal local, fomos Melissa e eu assistir o filme "Se nada mais der certo". O que era pra ser uma tarde chovosa e cultural no Dragão no Mar acabou por se tornar um porre de encher qualquer saco.
É possível enumerar todos pontos fracos do filme: péssimo roteiro, atores medianos, direção chata, o filme não flui nem prende atenção. De positivo, só a fotografia. Mas como diz meu amigo Moita, quando alguém diz que o filme tem uma boa fotografia, é porque o filme é uma merda.
E o que impressiona é notar que o filme é já ganhou bons prêmios, é elogiado nos cadernos culturais e recomendado por cineastas de respeito. Ora, não sou o dono da verdade, mas entendo um pouco sim de cinema, inclusive tenho experiência profissional no assunto. E cinema pode ser comercial, alternativo, underground, etc. Porém, qualquer um deles precisa prender a atenção de quem assiste. E filme que dá vontade de sair da sala antes de completar um quarto do tempo, não é cinema.
Há, qual o pior filme que eu já vi? "Ainda Orangotangos". 100% merda, como quase todos os filmes gaúchos.
O segundo pior filme que já vi
txt: Tiago Jucá Oliveira
Há poucos dias estive em Fortaleza e, após ler uma crítica positiva num jornal local, fomos Melissa e eu assistir o filme "Se nada mais der certo". O que era pra ser uma tarde chovosa e cultural no Dragão no Mar acabou por se tornar um porre de encher qualquer saco.
É possível enumerar todos pontos fracos do filme: péssimo roteiro, atores medianos, direção chata, o filme não flui nem prende atenção. De positivo, só a fotografia. Mas como diz meu amigo Moita, quando alguém diz que o filme tem uma boa fotografia, é porque o filme é uma merda.
E o que impressiona é notar que o filme é já ganhou bons prêmios, é elogiado nos cadernos culturais e recomendado por cineastas de respeito. Ora, não sou o dono da verdade, mas entendo um pouco sim de cinema, inclusive tenho experiência profissional no assunto. E cinema pode ser comercial, alternativo, underground, etc. Porém, qualquer um deles precisa prender a atenção de quem assiste. E filme que dá vontade de sair da sala antes de completar um quarto do tempo, não é cinema.
Há, qual o pior filme que eu já vi? "Ainda Orangotangos". 100% merda, como quase todos os filmes gaúchos.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
DE QUEM É A MÚSICA?
# agência pirata #
Condenação dos responsáveis por site de troca de arquivos levanta a velha questão sobre a quem pertence a produção artística
txt: Leonardo Foletto
De 16 de fevereiro a 17 de abril deste ano, o mundo digital esteve como nunca atento ao que acontecia na longínqua Suécia, especialmente ao pequeno Tribunal Distrital de Estocolmo, capital do país. Essas duas datas marcaram o início e o fim de um dos julgamentos mais importantes dos últimos anos: governo sueco X Pirate Bay, conhecido site de troca de arquivos digitais e ícone do que se convencionou chamar de “pirataria digital”.
A ação julgada tratava da violação de 33 leis internacionais de direitos autorais por parte do Pirate Bay, que oferecia gratuitamente links para servidores que hospedavam diversos arquivos, especialmente produtos culturais como filmes e músicas.
O veredito final do caso, dado em 17 de abril de 2009, foi surpreendentemente duro com o Pirate Bay. Sob a alegação de que os fundadores e colaboradores do site – Hans Fredrik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Peter Sunde e Carl Lundström – “assistiam a disponibilização de conteúdo protegido por copyright”, a Justiça sueca condenou os quatro a um ano de cadeia. Foi exigido ainda o pagamento de 3,62 milhões de euros a diversos estúdios de Hollywood e gravadoras de música, representados, respectivamente, pela Motion Picture Association of America (MPAA) e International Federation of the Phonographic Industry (IFPI).
Em nota divulgada à época, a IFPI dizia que “o Pirate Bay, ao violar sistematicamente os direitos de autor, prejudica os artistas e produtores de arte”. Como é uma decisão em primeira instância, havia a possibilidade de recorrer. Enquanto o caso se desenrolava, outros processos parecidos ocorriam ao redor do mundo. Em setembro de 2008, o blog Som Barato, que disponibilizava para download gratuito centenas de discos raros de música brasileira, foi retirado do ar pelo Google, que alegou ter recebido diversas denúncias de abusos de violação de direitos autorais e terminou por apagar todo o conteúdo da página.
Não muito tempo depois, outros blogs de download de música – como o Um que Tenha e o Só Pedrada – receberam notificações da empresa estadunidense para apagar conteúdos específicos de seu acervo, ao mesmo tempo em que a brasileira Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM), de tanto insistir, conseguiu fechar a comunidade do Orkut Discografias, que oferecia um acervo gigantesco de discos e contava com mais de 700 mil integrantes.
Estes episódios são recorrentes na odisseia que as grandes empresas detentoras dos direitos autorais travam contra a livre circulação de informações na rede. E, pelo menos nos casos aqui citados, têm se mostrado inúteis: tanto o Som Barato quanto Um que Tenha e a comunidade do Orkut Discografias continuam existindo, com nomes ligeiramente diferentes e número de arquivos disponibilizados até maior do que antes.
Ofensivas agridem o público e o próprio artista
Embora o pano de fundo da batalha contra o download de produtos culturais sejam os lucros cada vez menores dos cartéis culturais, o argumento ideológico preferido de seus representantes é a defesa dos “direitos do autor” – mesmo que a produção cultural em si jamais tenha diminuído por causa da “pirataria”. O problema é que, ao contrário do que afirmam as companhias, as ofensivas agridem, além do público, o próprio artista – os dois lados da produção cultural.
Surgido na Inglaterra do século 16, quando a difusão da imprensa passou a possibilitar a cópia massiva de textos, o copyright sempre esteve associado a empresas, e não a criadores. Tão logo a cópia de textos passou a se difundir, o estado inglês criou, em 1556, a Stationers’ Company (Companhia dos Editores), um grupo de profissionais que passa a deter com exclusividade o direito de copiar. A partir daí, passariam a ser impressas apenas obras que tivessem autorização (ou seja, o selo do censor do Estado) e que estivessem listadas no registro oficial em nome de um editor.
O editor se torna o dono da obra, com a conivência do Estado. O copyright surge da censura preventiva e da necessidade de restringir o acesso aos meios de produção cultural. Desde sua concepção, portanto, o copyright submeteu a criação cultural aos interesses de empresas, ferindo o principal interesse do artista: alcançar o público. E uma cultura em que o público não tem acesso aos bens culturais é, no mínimo, antidemocrática. Só no momento em que surge a Internet, barateando os meios de produção e oferecendo tecnologias como o Peer-to-Peer e o MP3, que o acesso aos bens é facilitado.
A “pirataria” tem estado presente nas principais descobertas científicas e criações artísticas. Quando Thomas Edison inventou o fonógrafo, os músicos que ganhavam dinheiro acusaram-no de roubar seu trabalho. Segundo eles, a invenção iria acabar com os músicos e, consequentemente, com a música – algo parecido com o que ouvimos hoje de alguns artistas sobre o download de músicas. Mais tarde, o próprio Edison criou a tecnologia para exibir filmes e exigiu de quem quisesse usá-la o pagamento de uma taxa. Para escapar do pagamento, um grupo de cineastas saiu de Nova York, onde morava Edison, e foi para a costa Oeste americana, onde começou a produzir seus filmes sem pagar a tal taxa. Alguns destes, anos depois, criariam Hollywood, e o resto é história.
Mais perto de nós, o século 20 inteiro foi marcado por disputas desse tipo. Invenções hoje obsoletas, como o VHS e a fita K7, foram fartamente atacadas pela indústria, a mesma que hoje acusa o Pirate Bay e a livre troca de arquivos digitais. O que essas empresas não lembram é que, passado o período de acusações, elas próprias lucraram com aquelas invenções.
Democratização da cultura
O que todas essas tecnologias têm em comum é o fato de colocarem em prática um conceito central para qualquer sociedade que se preze: a democratização da cultura. Tanto do acesso do artista aos meios de produção (é cada vez mais barato gravar, ou publicar, por exemplo), quanto do público aos produtos – que podem ser shows gratuitos, livros baratos ou arquivos baixados da Internet. No último caso, embora a prática ainda seja comumente rotulada de “pirataria”, vários artistas já lançam suas obras assim. Para citar casos de sucesso, vale falar da banda Nine Inch Nails, que não apenas tem lançado seus últimos discos oficialmente em formato virtual como tem se mantido campeã de vendas, ou das brasileiras Mombojó (com dois discos disponíveis no site oficial) e Móveis Coloniais de Acaju, que lançou em março deste ano seu segundo disco, C MPL T E, pelo projeto Álbum Virtual, da gravadora Trama.
– A lei e a tecnologia estão sendo alteradas para dar aos detentores do copyright um nível de controle sobre nossa cultura que jamais tiveram antes – já escreveu o americano Lawrence Lessig, referência mundial na discussão e autor, dentre outros, do livro Cultura Livre.
E, ao contrário do que pregam as propagandas da indústria, Lessig afirma:
– Uma cultura livre não é uma cultura sem propriedades; não é uma cultura onde os artistas não são pagos. Ela é composta por regras de propriedade e contratos que são garantidos pelo estado.
Regulamentação é bom, mas não é por isso que mais regulamentação será melhor – neste caso, pode-se correr o risco de que regras excessivas engessem a inovação e a criatividade. Há gêneros musicais inteiros, como o hip hop e o dub, que não existiriam sem o sampler – uma das formas mais criativas de “pirataria”. E várias obras e artistas jamais teriam sido descobertos se não fosse pela livre circulação de arquivos na Internet. As grandes empresas estão comprovadamente lucrando menos, mas não é difícil perceber que a sociedade está lucrando cada vez mais.
Condenação dos responsáveis por site de troca de arquivos levanta a velha questão sobre a quem pertence a produção artística
txt: Leonardo Foletto
De 16 de fevereiro a 17 de abril deste ano, o mundo digital esteve como nunca atento ao que acontecia na longínqua Suécia, especialmente ao pequeno Tribunal Distrital de Estocolmo, capital do país. Essas duas datas marcaram o início e o fim de um dos julgamentos mais importantes dos últimos anos: governo sueco X Pirate Bay, conhecido site de troca de arquivos digitais e ícone do que se convencionou chamar de “pirataria digital”.
A ação julgada tratava da violação de 33 leis internacionais de direitos autorais por parte do Pirate Bay, que oferecia gratuitamente links para servidores que hospedavam diversos arquivos, especialmente produtos culturais como filmes e músicas.
O veredito final do caso, dado em 17 de abril de 2009, foi surpreendentemente duro com o Pirate Bay. Sob a alegação de que os fundadores e colaboradores do site – Hans Fredrik Neij, Gottfrid Svartholm Warg, Peter Sunde e Carl Lundström – “assistiam a disponibilização de conteúdo protegido por copyright”, a Justiça sueca condenou os quatro a um ano de cadeia. Foi exigido ainda o pagamento de 3,62 milhões de euros a diversos estúdios de Hollywood e gravadoras de música, representados, respectivamente, pela Motion Picture Association of America (MPAA) e International Federation of the Phonographic Industry (IFPI).
Em nota divulgada à época, a IFPI dizia que “o Pirate Bay, ao violar sistematicamente os direitos de autor, prejudica os artistas e produtores de arte”. Como é uma decisão em primeira instância, havia a possibilidade de recorrer. Enquanto o caso se desenrolava, outros processos parecidos ocorriam ao redor do mundo. Em setembro de 2008, o blog Som Barato, que disponibilizava para download gratuito centenas de discos raros de música brasileira, foi retirado do ar pelo Google, que alegou ter recebido diversas denúncias de abusos de violação de direitos autorais e terminou por apagar todo o conteúdo da página.
Não muito tempo depois, outros blogs de download de música – como o Um que Tenha e o Só Pedrada – receberam notificações da empresa estadunidense para apagar conteúdos específicos de seu acervo, ao mesmo tempo em que a brasileira Associação Antipirataria de Cinema e Música (APCM), de tanto insistir, conseguiu fechar a comunidade do Orkut Discografias, que oferecia um acervo gigantesco de discos e contava com mais de 700 mil integrantes.
Estes episódios são recorrentes na odisseia que as grandes empresas detentoras dos direitos autorais travam contra a livre circulação de informações na rede. E, pelo menos nos casos aqui citados, têm se mostrado inúteis: tanto o Som Barato quanto Um que Tenha e a comunidade do Orkut Discografias continuam existindo, com nomes ligeiramente diferentes e número de arquivos disponibilizados até maior do que antes.
Ofensivas agridem o público e o próprio artista
Embora o pano de fundo da batalha contra o download de produtos culturais sejam os lucros cada vez menores dos cartéis culturais, o argumento ideológico preferido de seus representantes é a defesa dos “direitos do autor” – mesmo que a produção cultural em si jamais tenha diminuído por causa da “pirataria”. O problema é que, ao contrário do que afirmam as companhias, as ofensivas agridem, além do público, o próprio artista – os dois lados da produção cultural.
Surgido na Inglaterra do século 16, quando a difusão da imprensa passou a possibilitar a cópia massiva de textos, o copyright sempre esteve associado a empresas, e não a criadores. Tão logo a cópia de textos passou a se difundir, o estado inglês criou, em 1556, a Stationers’ Company (Companhia dos Editores), um grupo de profissionais que passa a deter com exclusividade o direito de copiar. A partir daí, passariam a ser impressas apenas obras que tivessem autorização (ou seja, o selo do censor do Estado) e que estivessem listadas no registro oficial em nome de um editor.
O editor se torna o dono da obra, com a conivência do Estado. O copyright surge da censura preventiva e da necessidade de restringir o acesso aos meios de produção cultural. Desde sua concepção, portanto, o copyright submeteu a criação cultural aos interesses de empresas, ferindo o principal interesse do artista: alcançar o público. E uma cultura em que o público não tem acesso aos bens culturais é, no mínimo, antidemocrática. Só no momento em que surge a Internet, barateando os meios de produção e oferecendo tecnologias como o Peer-to-Peer e o MP3, que o acesso aos bens é facilitado.
A “pirataria” tem estado presente nas principais descobertas científicas e criações artísticas. Quando Thomas Edison inventou o fonógrafo, os músicos que ganhavam dinheiro acusaram-no de roubar seu trabalho. Segundo eles, a invenção iria acabar com os músicos e, consequentemente, com a música – algo parecido com o que ouvimos hoje de alguns artistas sobre o download de músicas. Mais tarde, o próprio Edison criou a tecnologia para exibir filmes e exigiu de quem quisesse usá-la o pagamento de uma taxa. Para escapar do pagamento, um grupo de cineastas saiu de Nova York, onde morava Edison, e foi para a costa Oeste americana, onde começou a produzir seus filmes sem pagar a tal taxa. Alguns destes, anos depois, criariam Hollywood, e o resto é história.
Mais perto de nós, o século 20 inteiro foi marcado por disputas desse tipo. Invenções hoje obsoletas, como o VHS e a fita K7, foram fartamente atacadas pela indústria, a mesma que hoje acusa o Pirate Bay e a livre troca de arquivos digitais. O que essas empresas não lembram é que, passado o período de acusações, elas próprias lucraram com aquelas invenções.
Democratização da cultura
O que todas essas tecnologias têm em comum é o fato de colocarem em prática um conceito central para qualquer sociedade que se preze: a democratização da cultura. Tanto do acesso do artista aos meios de produção (é cada vez mais barato gravar, ou publicar, por exemplo), quanto do público aos produtos – que podem ser shows gratuitos, livros baratos ou arquivos baixados da Internet. No último caso, embora a prática ainda seja comumente rotulada de “pirataria”, vários artistas já lançam suas obras assim. Para citar casos de sucesso, vale falar da banda Nine Inch Nails, que não apenas tem lançado seus últimos discos oficialmente em formato virtual como tem se mantido campeã de vendas, ou das brasileiras Mombojó (com dois discos disponíveis no site oficial) e Móveis Coloniais de Acaju, que lançou em março deste ano seu segundo disco, C MPL T E, pelo projeto Álbum Virtual, da gravadora Trama.
– A lei e a tecnologia estão sendo alteradas para dar aos detentores do copyright um nível de controle sobre nossa cultura que jamais tiveram antes – já escreveu o americano Lawrence Lessig, referência mundial na discussão e autor, dentre outros, do livro Cultura Livre.
E, ao contrário do que pregam as propagandas da indústria, Lessig afirma:
– Uma cultura livre não é uma cultura sem propriedades; não é uma cultura onde os artistas não são pagos. Ela é composta por regras de propriedade e contratos que são garantidos pelo estado.
Regulamentação é bom, mas não é por isso que mais regulamentação será melhor – neste caso, pode-se correr o risco de que regras excessivas engessem a inovação e a criatividade. Há gêneros musicais inteiros, como o hip hop e o dub, que não existiriam sem o sampler – uma das formas mais criativas de “pirataria”. E várias obras e artistas jamais teriam sido descobertos se não fosse pela livre circulação de arquivos na Internet. As grandes empresas estão comprovadamente lucrando menos, mas não é difícil perceber que a sociedade está lucrando cada vez mais.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
PARTIDO PIRATA
# conection #
O partido que propõe mudanças radicais nas leis de copyright já assegurou uma vaga no Parlamento Europeu. E está prestes a ganhar a segunda.
txt: Fernando Valdez de Rivera
phts: Anders Jensen-Urstad
Com 7,13% dos votos suecos nas eleições para o Parlamento Europeu, o Piratpartiet, pela primeira vez desde sua criação em 2006, teve um de seus membros eleito. Mas um projeto de lei – já aprovado por 26 dos 27 países da União Europeia – que amplia o número de parlamentares pode dar aos piratas suecos mais uma cadeira, que será entregue a Amelia Andersdotter, segunda candidata mais votada do partido. Com apenas 21 anos, Amelia representa uma geração que pretende trazer novos ares ao “cemitério de elefantes” europeu.
Qual é, em termos práticos, o papel do Parlamento Europeu hoje?
O papel do Parlamento Europeu está constantemente mudando e se expandindo. Sendo o único corpo eleito da União Europeia, muitos dos líderes do bloco sentem que é importante dar ao Parlamento um papel maior nas decisões do bloco e na criação de leis comuns. O Parlamento Europeu costumava ser uma espécie de “cemitério de elefantes” para os políticos. Antigamente, na década de 1980 e antes disso, ele funcionava como consultor, isto é, apenas um lugar onde se ia para pedir opiniões. Os estados-membros acreditavam que era importante que aqueles políticos velhos e experientes se sentassem lá. Agora é um corpo vibrante, eleito, e obviamente podemos esperar uma mudança etária em conformidade com isto. Acredito que a marca de “cemitério de elefantes” irá embora. Já temos visto muitos parlamentares jovens eleitos na Suécia, Alemanha e outros países.
E na questão-chave do Piratpartiet – as reformas nas leis de copyright -, como atua o Parlamento hoje?
O Parlamento Europeu tem influência direta nas questões sobre Direitos Autorais, o que significa que eles têm que aprovar uma lei de copyright para que ela seja aceita na União Europeia. A única questão que está sendo revista no momento é como definer exceções e limitações na legislação de copyright. O debate sobre copyright está tão infectado que a União Europeia nao pode mais continuar endurecendo as leis – e francamente, não deve. Espero que os rumores que ouvi sobre visões mais tolerantes a respeito de exceções e limitações signifique que a União Europeia está finalmente quebrando seu dogma “copyright-deve-sempre-ser-fortalecido-e-nunca-se-tornar-mais-útil-à-sociedade”.
Caso você se eleja, obviamente será uma voz discordante lá. Você acredita ser possível atrair a simpatia dos membros mais velhos?
Creio que um membro mais jovem no Parlamento Europeu tem muitas vantagens sobre os antigos. Ele possui novas perspectivas, talvez esteja mais próximo da realidade dos jovens da Europa de hoje. Desta forma, acredito que os membros mais velhos estejam inclinados a ouvi-lo. Claro, isso significa que você tem muito mais o que provar – eu acho -, mas, tendo conseguido isto, você será “o cara”.
Dez anos se passaram desde que o Napster era o “grande negócio” da pirataria não-comercial. Desde então, tivemos o desenvolvimento do peer-to-peer, torrents e, recentemente, a organização política dos piratas – inicialmente com o Piratpartiet sueco e, agora, se espalhando por outros países. Como você acha que esta guerra do copyright estará daqui dez anos?
Só posso ter esperanças, claro, mas acho que veremos uma aproximação mais flexível entre o acesso livre e a legislação sobre compartilhamento. Espero que tenhamos uma visão mais produtiva sobre como o conhecimento pode beneficiar a sociedade, ao invés de discutirmos sobre como a sociedade deve bloquear o conhecimento.
Mas independente de os legisladores pensarem ou não no conhecimento de maneira construtiva, creio que continuaremos vendo novos softwares de compartilhamento de arquivos e novas milícias de cidadãos, por assim dizer, certificando-se de que o compartilhamento do conhecimento, da cultura, das artes e da informação continue intacto. É um aspecto importante dos seres humanos compartilhar impressões e expressões com seus iguais. Seria muito triste se a indústria do copyright conseguisse expelir isso de nossa cultura.
Você acredita que iniciativas como o Creative Commons são suficientes para mudar o pensamento global sobre copyright?
O Creative Commons já mudou a maneira com que as pessoas pensam sobre copyright. CC é um movimento que já se estabeleceu e é muito apreciado, especialmente, por artistas, fotógrafos, músicos, escritores que vêm essas atividades como hobby, mas também funciona para profissionais.
Em relação a esse segundo grupo: é possível ganhar dinheiro adotando a ideia de “Alguns Direitos Reservados”?
Escritores como o norte-americano Rudy Rucker e o canadense Cory Doctorow [autores de ficção científica] são exemplos de que é possível viver de seus trabalhos adotando essa perspectiva. Mas como isso funcionaria de maneira geral? Não sou uma expert em estratégias de negócios, mas acredito que na música, por exemplo, as performances ao vivo podem se tornar uma fonte de renda muito mais importante no futuro. Se os artistas souberem usar a internet, será mais fácil ganhar uma audiência global vasta.
Qual o ponto crucial que deve ser reformulado nas leis de copyright?
A cópia para uso privado precisa ser legalizada. Distribuir, remixar e samplear material protegido para propósitos não-comerciais precisa deixar de ser crime. Acho que esse é o aspecto mais importante.
Em sua plataforma de campanha, você disse que deseja uma “remoção completa do sistema de patentes”. Que benefícios isso pode trazer à sociedade?
Remover o sistema de patentes facilita a transferência de tecnologia, por exemplo. Também pode criar um ambiente mais competitivo no mercado.
Não acho que o mundo precisa se livrar de um sistema que proteja os inventores, mas estou certa de que o sistema de patentes que temos hoje está tão deturpado que não há realmente nenhuma maneira de salvar as partes boas e retirar as ruins. É por isso que acredito que este sistema deve acabar.
As patentes hoje não são usadas para proteger inventores ou promover invenções, mas para evitar que invenções e inventores trabalhem apoiados no conhecimento anterior. Patentes são também utilizadas como uma forma de impedir a competição, criando um fardo financeiro para aqueles que desejam licenciar métodos e tecnologia. Assim, os preços de produtos e serviços são elevados aos céus e isso não traz benefícios aos consumidores finais, nem aos inventores.
Isto precisa acabar, e talvez possamos desenvolver outro sistema que cumpra seu verdadeiro propósito.
Entre suas propostas, você menciona o acesso de material protegido a pessoas portadoras de dificuldades. Como a lei restringe esse tipo de acesso e o que poderia ser feito?
Por exemplo: no caso de deficientes visuais, é preciso que se crie um sistema de copyright onde seja fácil para organizações e governos disponibilizarem livros em braile ou em áudio. Precisa ser barato, tanto para os consumidores como para o produtor. Isto é, taxas de licenciamento para esse tipo de produção deveriam ser completamente removidas. Isso também se aplica a bibliotecas. É importante que todas elas tenham, para cada obra convencional, outra em braile ou áudio.
Todas bibliotecas e arquivos deveriam ser isentos de taxas. Eles fazem um bem público ao arquivar conhecimento e distribui-lo para as pessoas. Talvez faça sentido que eles comprem os livros que precisam, mas isto é um custo único, não uma taxa permanente.
No momento, existe algum projeto de lei que defenda essa flexibilização no copyright para facilitar o acesso a pessoas com algum tipo de deficiência?
Internacionalmente, a questão mais importante no momento é o “Tratado para os visualmente debilitados” que, infelizmente, vem enfrentando oposição dos Estados Unidos e de parte da União Europeia. Este tratado poderia asegurar acesso mais fácil para deficientes visuais a material protegido por copyright.
Muitos tratados internacionais que legislam sobre copyright são imprudentes ao impor fortes restrições ao uso do conhecimento. São raros os casos em que se analisam como a distribuição do conhecimento, ou a acessibilidade, poderiam beneficiar a sociedade e o mercado.
Você é uma estudante de Economia. Pensando como economista, você acredita que a indústria de entretenimento, especialmente a da música, poderia sobreviver em um mundo com conteúdo pouco protegido?
Acredito que eles têm de pensar em novas estratégias de negócios. O mercado nunca beneficiou aqueles que crescem e se estagnam. Ele beneficia aqueles que têm capacidade de se renovar constantemente. É isso que a indústria terá que fazer.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
BLOG DO PLANALTO
# mandachuva #
Blog reflete o que é o atual governo
txt: Tiago Jucá Oliveira
O que esperar de um blog oficial do governo federal quando este não tem como característica ouvir os demais? Pois o blog do planalto não seria diferente do praticado na sapocracia. O canal, inaugurado há menos de uma semana, traz um detalhe incomum e raro na blogosfera mundial: não é permitido comentários do público leitor.
Este é o Brasil de Todos (sic). Foda-se a opinião do povo. Se até o Mercadante teve que ficar com os rabos entre as pernas e apoiar o Sarney, o que será nossa visão sobre o governinho Lula? Um presidente que escolheu sozinho quem será o seu sucessor no cargo. As tradicionais prévias do PT, caso tenha pra 2010, será um teatro montado pra iludir seus militantes, cada dia mais cegos e raivosos contra os "golpistas" (aqueles que tem opinião própria e criticam a corja Lula-Dilma-Sarney-Collor-Renan-Jucá-Zé Dirceu) de plantão.
Quando a tecnologia surge como uma ferramenta pra incluir o debate, Lula e seu ridículo blog fazem justamente o contrário. A nossa sorte é que eles deram um tiro no próprio pé ao licenciar em Creative Commons. Não demorou muito para que Daniela Silva e Pedro Markun criassem um clone do blog oficial pra copiar e colar todo o conteúdo, com uma vantagem fundamental: a possibilidade do internauta comentar.
A cada dia se perde mais a esperança neste governo. Ainda bem que não votei nisso!
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
CARTA PRA XUXA
# agência pirata #
Twitter Training (uma carta aberta à Xuxa)
txt: Ana Carolina Moreno
Querida Xuxa,
Eu nasci em 1982, então faça as contas para ter a certeza de que sim, eu já tive um microfone de chuquinhas, sabia de cor a coreografia das músicas de Super Xuxa contra o baixo astral, cantava “meu verde, que te quero, pro mundo virar mais criança” imitando o sotaque carioca e meu sonho era me enterrar em uma montanha de cartas na minha “casa” no Jardim Botânico. (Demorei demais para me tocar que Jardim Botânico era só o bairro onde ficava o seu estúdio…)
Em nome dos nossos velhos tempos, resolvi te dar duas dicas sobre o que eu aprendi depois de uns 20 meses de Twitter:
1- A grosseria é a regra, e não a exceção.
Construímos no Twitter brasileiro uma comunidade que aproveita a desculpa dos 140 caracteres para deixar de lado a educação. Como não cabe tudo em uma mensagem, preferimos usar o espaço com conteúdo que expressa apenas o nosso lado negativo. Nos acostumamos apenas a falar mal dos outros (busque por #vergonhaalheia ou “Preguiça de gente que…”), como se nós fôssemos perfeitos, nunca cometêssemos erros no trabalho ou alguma mancada com algum amigo. Adoramos diminuir nosso país em relação ao resto mundo (#braziu) como se fôssemos bons demais para ele, e de maneira nenhuma tivéssemos qualquer responsabilidade pelo seu estado atual e futuro. Só rimos de nós mesmos (#faiô) quando é uma situação tragicômica ou um deslize menor, sem importância, que mostra o quanto somos perfeitamente humanos.
Portanto, não estranhe que as pessoas esperem da sua filha um rigor gramático infalível que eles mesmos não possuem. O melhor é se acostumar a isso, e entender que elas só estão praticando o cômodo hábito de seguir o rebanho e engrossar o caldo da intolerância como forma de distração até a próxima passeata de ovelhas. É difícil quebrar a rotina.
2- A culpa é um pouco tua.
Quando eu digo tua, não é especificamente tua, mas sim do sistema midiático, do qual você se beneficia, criado em torno das celebridades que faz com que os “reles mortais” criem um complexo de inferioridade. Que, pelo teor das mensagens que você tem recebido no Twitter, está profundamente enraizado na personalidade de todos nós, que nunca brincamos em uma montanha de cartas, a não ser que elas fossem de mentira, nem marcamos a infância de milhões de pessoas em todo o mundo, ou aparecemos perfeitas em fotos de revistas, nem damos autógrafos diariamente e, ainda menos, tivemos programas infantis simultâneos em vários continentes.
Nós, que deixamos de te idolatrar depois da infância, podemos seguir dois caminhos: sentir compaixão pela maneira tão tipicamente terrível como você foi recebido no Twitter, ou ajudar a fortalecer ainda mais a fama de tratores sem freio que aperfeiçoamos diariamente atrás do monitor. Quase todos seguem o segundo caminho porque é a nossa única oportunidade de nos sentirmos melhores que você. Tenho certeza que você entende como é se sentir mais amada e bem sucedida que os outros. Essa foi a nossa vez.
A tecnologia permite que agora a gente possa fazer mais barulho do que a mera presença em uma montanha de cartinhas. Nossas mensagens não estão mais destinadas ao papel coadjuvante de voar entre seus cabelos e quem sabe raspar nos seus dedos antes de cair no esquecimento. Muito menos a vergonha de ser enterrada lá embaixo e nunca mais ver a luz do dia. Uma piadinha sagaz pode percorrer todo o país em questão de minutos. E o “seu jeitinho” já virou um clássico, é irreversível, achei legal você dizer que não vai processar ninguém porque o sistema judicial e a tecnologia são atualmente incompatíveis.
A melhor maneira de sair dessa é aprender a não se deixar afetar por essa raiva que chega tão mais perto do que a interação com o público à qual você estava acostumada. E, se você me permite essa liberdade, eu diria que a sua filha, se não a quiser preservar de tudo isso, precisa de um treinamento intenso, com especialistas de verdade, para aprender não só a usar essas ferramentas, mas também quais são as suas conseqüências. E, aproveitando essa carta sobre o passado para pensar no futuro, eu te peço que por favor explique à sua filha que, quando ela começar a namorar e o fulano sugerir fazer umas fotos ou vídeos mais “adultos”, que ele nunca mostraria pra ninguém, ela tem que imediatamente chutar o cara de casa. Mostre esse caso e esse outro, mais antigo, pra ela entender que NUNCA esse material permanecerá em segredo. Bom, são só alguns exemplos mais ou menos recentes…
terça-feira, 1 de setembro de 2009
O DILÚVIO no JORNALISMO B
# umbigada #
Forza y Coalidad
cmntr: Tiago Jucá Oliveira
Cris,
obrigado pelas críticas e elogios a nova edição da revista O DILÚVIO feitos por você pro blog Jornalismo B. Eis de concordar e discordar em alguns pontos. Não acho que a edição passada ficou feia por causa do tamanho. A imprensão ruim e falta de um projeto gráfico deixariam qualquer formato igualmente feio. Também me oponho a opinião que o CD do Fruet e Os Cozinheiros seja ruinzinho, mas música é gosto pessoal e é difícil discutir. Sobre as constantes mudanças de projetos gráficos, nem sempre foram por opção, e sim por necessidade, porém nunca tivemos medo de arriscar e experimentar de acordo com a urgência.
Mas de resto felizmente você tem razão, e que bom que concordo, pois a intenção você soube captar e repassar aos seus leitores. Pela primeira vez temos um projeto gráfico completo, com um logotipo de fonte própria, criada pela equipe da WViva, nova parceira que em breve merece um post aqui pro nosso público conhece-la. E o projeto ficou muito bom mesmo, há uma cara limpa e nova mas sem sujar nem quebrar a linha do tempo. A outra linha, a editorial, também atingiu seu seu auge. Há coesão no gancho, pela primeira vez utilizada numa edição da revista. A tecnologia, e seus usos colaborativos e piratas para subversão e desobediência, linka as páginas umas as outras no folhear dos olhos. A qualidade dos textos contribuíram demais pra isso tudo da certo. Pela primeira vez temos uma equipe de reportagem, e nunca tivemos tantos colaboradores de alto nível como agora.
Estudante ou jornalista que não tem um blog não pode ser jornalista, muito menos reclamar que não se exige diploma pra exercer a função. Jornalismo B é uma equipe de estudantes de comunicação que procuraram um meio tão fácil de se expressar: um blog, uma simples plataforma utilizada por eles pra fazer observação jornalística sobre jornalismo. Se o blog tem conteúdo e é feito com talento, então os elogios recebidos por ele nos motivam a continuar uma idéia em constante conflito com obstáculos financeiros. Caso a razão nos falasse mais alto que emoção, a revista teria acabado antes da terceira edição. E as críticas nos constroem, pois somos auto-críticos até demais da conta, e a insatisfação é o que fez a humanidade evoluir ao longo do tempo.
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