#CADÊ MEU CHINELO?

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sábado, 4 de dezembro de 2010

[noéspecial] TERRORISMO E PROPAGANDA



::txt::Tiago Jucá Oliveira::

Lampião e seus irmãos entraram para o cangaço para vingar a morte do pai assassinado pela poderosa família Nogueira. Somente no bando dos cangaceiros de Sinhô Pereira é que Virgolino Lampião teve proteção contra futura represálias dos coronéis e, principalmente, seria comeste grupo de homens armados que ele poderia dar o troco.

O paralelo entre o cangaço sertanejo com o tráfico carioca fica bem ilustrado no filme “Cidade de Deus”, do diretor Fernando Meirelles. Em determinada cena, o “patrão” está sentado à mesa de seu “quartel”, e uma fila de homens e meninos que, de um em, chegam e justificam a decisão de entrar pro mundo do crime: “mataram o meu pai”, “estupraram minha mulher”, etc. Assim como Lampião pegou em armas por causa da morte do pai, Labareda entrou para o cangaço depois que sua irmã foi “deflorada” por um soldado.

Quando o poder político rechaçou isolados crimes com extrema violência o humilhação, o que se viu foi a formação do crime organizado, e esta, em resposta àquela, reagiu em proporções iguais de crueldade. É a bola de neve que o ex-capitão da BOPE do Rio de Janeiro, Rodrigo Pimentel, explicou em depoimento para o filme documentário de João Moreira Salles, “Notícias de uma Guerra Particular”. A guerrilha urbana das favelas cariocas chegou a um nível tão absurdo que o único motivo para matar é vingança: policiais matam traficantes devido a morte de um colega, e traficantes matam os tiras em represália aos comparsas assassinados. Como afirma o historiador Eric Hobsbawm, em “Bandidos”, “onde os homens se tornam bandidos, a crueldade gera crueldade, o sangue exige sangue”.

Como entender a brutal vingança dos cangaceiros? Segundo Hobsbawm, “é impossível fazer o opressor pagar a humilhação imposta à vítima em sua própria moeda, pois o opressor atua dentro de uma estrutura de riqueza, poder e superioridade social que a vítima não pode usar. A vítima só dispõe de seus próprios recursos, e entre estes, a violência e crueldade são os de eficiência mais visível”.

Hobsbawm acredita que os cangaceiros “não só praticam o terror e a crueldade numa medida que não podem ser explicada como simples retaliação, mas cujo terror na verdade faz parte de sua imagem pública”. Os principais motivos que levavam Lampião a cometer brutalidades eram dois. “Ia às raias do barbarismo contra o delator ou contra a volante, aquele por causa da traição, e esta, porque representava a autoridade que, na sua compreensão, ajudava sempre o coronel contra os pequenos, relata Maria Christina Matta Machado, no envolvente livro “As Táticas de Guerra dos Cangaceiros”.

Desse mesmo livro podemos tirar várias situações ocorridas durante o reinado de Lampião. Numa dela, Virgolino foi dar exemplo a um homem que havia avisado aos “macacos” de sua presença pela redondezas. O capitão ordenou seus homens a tirarem as roupas do traidor e de sua esposa e os levaram amarrados até um lugarejo mais próximo. Chegando ao local, Lampião mandou seus habitantes saírem às ruas e presenciarem a barbaridade que estava por vir: “chegavam homens, mulheres e crianças, conduzidas a coice de armas pelos cangaceiros. Expostos nus completamente os dois infelizes, ante aquela gente assombrada, Virgolino desembainhou o longo punhal e, devagarinho, como a saborear a sua torpe vingança, sangrou o desgraçado, cujos gritos provocaram risos dos “cabras” e lágrimas dos pobres sertanejos, espantados com tanta maldade”.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

LA TETA ASSUSTADA




# agência pirata #
O premiado filme peruano

txt: Ale Lucchese

Ontem fomos assistir A Teta Assustada, tá lá em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana, sala Paulo Amorin, se não me engano – confirmem no google e já aproveitem para ver os horários. O filme é peruano, e ganhou o Urso de Ouro em Berlim. Ou seja, é um peixe grande feito pelos nossos vizinhos latinos: não iria me perdoar de não vê-lo no cinema.

A história é de uma menina que teria o tal mal da “teta assustada”, considerado na crença indígena uma enfermidade que passa pelo leite das mulheres que foram abusadas sexualmente – coisa bastante corriqueira para uma geração que teve de conviver com a guerrilha. O mal deixaria filhos e filhas medrosos, assustados, sempre inseguros. Continua dando o clima de realismo mágico o fato de a protagonista criar uma batata dentro da vagina como método para evitar estupros.

Sim, realismo mágico. O filme tem um clima de encantamento, mas um encantamento profano, cheio de areia, de dor, de alegria, de ruído e música. Para completar, há um certo humor na família da heroína, que prepara casamentos para noivos muito pobres. Mas é um humor repleto de poesia, não de barbarismo e zombaria. Um equilíbrio muito bonito de ser visto nas telas.

Mas o mais impressionante disso tudo é o que esse filme tem causado no Peru. Segundo o relato de uma amiga nossa que mora por lá, a repercussão é comparável ao que Cidade de Deus representou para o Brasil – talvez até maior, visto que a cinematografia peruana é ainda mais diminuta.

O fato é que Magaly Solier, atriz e cantora que interpreta o papel central da trama, é uma descendente de indígenas, e que deixa isso bem claro na cor de sua pela, na maneira de se vestir, de usar o cabelo… Depois ter sido sucesso nos maiores festivais de cinema do mundo e de estar lotando teatros com seus shows, Magaly é o ídolo midiático mais parecido com o que a maioria das mulheres peruanas enxergam em seus espelhos. Isso tem reforçado a auto-estima desta população, gerando um sentimento de saudável orgulho em relação às suas raízes e identidade.

Aém disso, Magaly levou para as rádios e telas canções em quechua – língua herdada do Império Inca e falada cotidianamente por mais ou menos 10 milhões pessoas na América do Sul. Pessoas essas que muitas vezes se envergonham de falar a língua de seus antepassados fora de casa, apesar de se comunicarem basicamente por ela entre os seus amigos e parentes. Agora, com Magaly invadindo as caixas de som de lá e de além, parecem se envergonhar um pouco menos – e levarem a cabeça um pouco mais erguida

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