#CADÊ MEU CHINELO?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

NOÉ AE?!: Orquestra Imperial

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: 2) Violência



::txt::Eric P. Duarte::

2) Violência:

O maior e mais horrendo exemplo de violência é a guerra. Números conservadores apontam que somente no século XX mais de 110 milhões de pessoas foram dizimadas em guerras, isto sem contar com todos aqueles sobreviventes que foram torturados.

Conflitos privados não geram guerras, as guerras são sempre feitas por Estados. Isto acontece porque o Estado é uma instituição agressora por natureza, ele sobrevive da exploração de seus súditos. Para conquistar novos súditos, o Estado precisa guerrear contra outros Estados.

Guerras são extremamente caras e sempre geram um enorme desperdício de riquezas, mas mesmo assim elas costumam ser vantajosas para os Estados porque eles não precisam arcar com os seus custos, quem paga a conta são sempre os súditos pagadores de impostos.

Não é difícil enxergar violência ao olharmos para as praticas estatais. Peguemos o exemplo das prisões. Milhares de pessoas são diariamente sequestradas, enjauladas e torturadas. Muitas destas pessoas não cometeram nenhum crime real, só praticaram atos voluntários que foram proibidos pelo Estado, tais como o envolvimento com drogas, jogos de apostas, prostituição, etc. Ou simplesmente "sonegaram" impostos e trabalharam na "ilegalidade". Não existem "crimes sem vítimas" e, portanto, o verdadeiro criminoso nestes casos é o Estado!

Mesmo quando os presos são de fato criminosos, o sistema carcerário continua sendo uma absurdidade, visto que o Estado não compele os criminosos a restituírem as vítimas dos seus crimes, pelo contrário, o Estado joga o criminoso em uma cela e força a vítima a pagar pelo encarceramento de seu agressor através dos impostos.

As guerras são assassinatos em massa, os impostos são roubos sistematizados em escala territorial, o alistamento militar obrigatório é escravidão, as prisões e manicômios estatais são centros de tortura, e assim por diante.

Mesmo se desconsiderarmos o fato de que o Estado matou, roubou e escravizou astronomicamente mais do que qualquer outra organização criminosa jamais sonhou, se focarmos apenas nos crimes "privados", ainda sim veremos que o Estado facilita e incentiva estes crimes de inúmeras maneiras diferentes.

A maioria dos crimes acontece nas ruas "públicas", as quais são administradas pelo Estado. Crimes em vias de shoppings, por exemplo, são extremamente raros. Isto acontece porque o dono do shopping quer atrair clientes para o seu estabelecimento, dando-lhe um forte incentivo para tornar o local seguro contratando seguranças e instalando câmeras.

Como a oferta das ruas "públicas" é um monopólio do Estado e ele não pode perder clientes para a concorrência, não há o menor incentivo para torná-las seguras. As ruas são financiadas pelos impostos e não por interações voluntárias. Eu posso nunca ter usado uma rua no Maranhão, mas ainda assim devo pagar pela sua manutenção através dos impostos. Isto torna o cálculo econômico impossível, visto que o Estado não tem como saber a eficiência de uma rua através do mecanismo de preços, com lucros e perdas. O Estado também não é o dono das ruas, teoricamente elas são de todos. Como ninguém pode comprar ou vender uma rua, ninguém tem o interesse de valorizá-la tornando-a segura.

A polícia também é um monopólio Estatal e é financiada pelos impostos. Assim como no caso das ruas, a polícia estatal não pode perder clientes para a concorrência e não há meios para saber se ela está servindo adequadamente aos interesses de seus consumidores sem o mecanismo de preços. Não há incentivos para que a polícia seja de fato eficiente e atenda às devidas demandas. Por isso vemos tantos abusos por parte dela e tanta violência é deixada para trás.

Outro fator que tem contribuído imensamente para a propagação da criminalidade são as leis aleatórias criadas pelo Estado proibindo certas ações de caráter voluntário, tais como o envolvimento com drogas, jogos de apostas e prostituição. Todas estas práticas, quando voluntariamente realizadas entre os participantes, não representam nenhum problema à justiça natural. Não existem crimes sem vítimas. Estas práticas devem ser decisões individuais e ninguém pode ser obrigado a realizar ou deixar de realizá-las.

Quando o Estado proíbe a comercialização e o uso das drogas, por exemplo, cria-se um mercado negro para atender a esta demanda. O mercado negro precisa de armas para se defender do Estado e as armas estão geralmente com os criminosos reais (assassinos, assaltantes, sequestradores, etc). Quem passa a atender a demanda das drogas então são os criminosos reais, com isso eles ganham nas drogas uma forte fonte de financiamento para os seus crimes. Foi exatamente o que aconteceu quando o governo dos EUA proibiu a comercialização do álcool na década de 30 e foram criados os Alcapones, o que só foi resolvido com a legalização, devolvendo o mercado para empresários honestos.

A proibição das drogas também as torna caras e sem o menor controle de qualidade, fazendo com que o usuário tenha muitas vezes que roubar para manter o seu vício e consuma substâncias muito mais tóxicas do que estaria consumindo caso não houvesse a proibição.

As vítimas desta inútil guerra contra as drogas aumentam a cada dia. Diariamente milhares de pessoas inocentes ao redor do mundo são assassinadas e enjauladas por conta de uma lei estúpida, muitas vezes pessoas que não tem qualquer relação com as drogas. Os recursos astronômicos desperdiçados com esta guerra poderiam estar sendo usados na segurança e no combate aos crimes reais, ou até mesmo na educação contra as drogas e no tratamento dos viciados, mas infelizmente a ignorância prevalece.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O REI NÃO MORREU




::txt::André Caramuru Aubert::
::ilstrç::Roberto Ploeg::

Você pode deixar a monarquia, mas a monarquia não deixa você. No país dos reis da picanha, das baguetes, dos lustres, de tanta coisa, a política segue sendo uma coisa tão autoritária que dom Pedro 2º, aquele rei velhinho, com cara de Papai Noel, continua a ser lembrado, com escravidão e tudo, como um dos mais sábios e liberais governantes brasileiros de todos os tempos. A eleição presidencial deste ano será, na prática, uma disputa entre Serra e Dilma, com a Marina correndo por fora para marcar presença. O máximo de exercício democrático para o qual você será não convidado, mas intimado (pois o voto é obrigatório) a fazer será registrar seu voto na urna eletrônica, a partir daí ele se diluirá entre outros 134 milhões.

Do dia da eleição em diante, o presidente eleito se comportará como um monarca, fazendo praticamente o que bem entender durante quatro anos, negociando apenas com os deputados, que não representam ninguém além dos interesses deles próprios ou de lobbies com muito dinheiro e força. Num modelo político como o nosso, por melhores que sejam (e parecem ser) as intenções de Marina Silva, ela simplesmente não conseguiria governar.

A Constituinte de 1988 teve a oportunidade de inaugurar um regime político democrático e moderno, mas a verdade é que perdeu a chance. Criou uma Carta enorme, cheia de tópicos bem-intencionados, mas impossíveis de serem colocados em prática (como a fixação da taxa de juros em 12%), e falhou onde realmente importava. Para começar, deixamos de lado o parlamentarismo, que, se não é perfeito, é infinitamente melhor que o modelo presidencialista de tipo americano que adotamos.

Também ignoramos que partidos devem representar ideologias, segmentos ou mesmo regiões do país e não ser meros clubes de negócios. Ignoramos o voto distrital misto e outros recursos que poderiam deixar os políticos mais próximos de nós. Nos Estados Unidos, os eleitores têm "o meu deputado". Nós, nem isso. Em nosso país, o Executivo legisla e o Legislativo endossa. Para que endosse, o Executivo precisa cooptar os partidos (pois não há identificação programática), e é daí que brotam os mensalões e os loteamentos de cargos e ministérios. Não adianta dizer que "o Brasil está melhor" (e está mesmo), pois esse argumento já foi exaustivamente invocado, de Vargas a Médici.

À LA MAQUIAVEL

É claro que não há, por definição, um modelo perfeito: democracia implica representatividade, significando que, em alguma medida, o poder será transferido do eleitor para o eleito. Mas dava para ser melhor. Nosso modelo está bem mais para o pragmatismo de Maquiavel do que para o iluminismo de Montesquieu. Qualquer dos eleitos, Serra ou Dilma, fará um governo semelhante, assim como foram parecidos, nos defeitos e nas qualidades, os de FHC e Lula. Prefiro que Serra vença, assim como preferi Lula há oito anos, pois isso, pelo menos, significará alguma alternância no poder. Adicionalmente, me parece que a escolha de Dilma como sucessora "porque eu quis" foi uma decisão um pouco extrapolante na atitude monárquica de Lula. Até dom Pedro 2º teria consultado as bases antes de tirar do bolso um candidato desconhecido. Mas, enfim, não perderei o sono com isso.

Nós, brasileiros, não entendemos ainda que a democracia, muito mais que o fim, é o meio. É menos o resultado e mais o processo. É menos a transferência do poder e mais o exercício cotidiano dele por cada um de nós. É menos a vontade da maioria do que o respeito pelas minorias. Enquanto não aprendermos isso tudo, continuaremos a ser os felizes súditos do imperador: pois a cada quatro anos, na "festa democrática" na qual nos intimam a comparecer, gostamos de cultivar a ilusão de que escolhemos o rei e controlamos nosso destino.

domingo, 29 de agosto de 2010

DO AMOR

::txt::Pedro Sá::

Do Amor é uma banda parcialmente conhecida para muitos. Marcelo e Ricardo formam a Banda Cê, que vem acompanhando Caetano há 3 anos. Gabriel Bubu foi baixista do Los Hermanos. Faz já algum tempo, todos eles vêm tocando na cena alternativa nacional com certa frequência, acompanhando artistas como Nina Becker, Jonas Sá, Rubinho Jacobina e Lucas Santtana, entre muitos outros.

Eles já mostraram que são músicos incríveis e, justamente por isso, esse lançamento nos gera uma certa expectativa, já que se trata do trabalho autoral destes grandes instrumentistas. Porém, devo dizer que este disco de estreia supera qualquer prognóstico positivo. Há uma riqueza, uma exuberância criativa que raramente se vê numa banda. É um trabalho repleto de referências dos mais distintos e variados estilos que são depurados nas formas mais insólitas e divertidas. Mas não se trata de referências gratuitas. Vão do carimbó ao Manchester Rock com a maior naturalidade... e com a maior verdade também. Não é uma mistura superficial. São universos super variados, que nos remetem a infinitos lugares, épocas e mundos, reunidos num trabalho absolutamente autoral. Há muita ironia e humor aqui. Digo, não são somente músicos virtuosos desempenhando uma excepcional performance. Não há frieza nem soberba. Tocam à música em si, no sentido mais genuíno da coisa. Desconstroem todos esses estilos para no final nos devolver em... música!

No fundo acho que esse álbum é mesmo uma declaração de amor à própria música. Aliás, não é só um amor declarado como vivido. Cada frase, cada estilo, cada nota é curtida, transada. Mas sempre com a leveza de quem vai tomar um suco na esquina, um mate na praia. Há uma saudável maresia apesar de ser um disco super trabalhado e bem acabado. Chico Neves é quem assina a excelente produção. Chico tem o dom de gravar bem. É um verdadeiro mestre Jedi do estúdio. Conseguiu extrair o supra-sumo da banda que se revela totalmente em todos os momentos. Dá gosto de ouvir. Enfim, este disco é um clássico desde já. É para escutar, re-escutar e curtir sempre.”

sábado, 28 de agosto de 2010

NOÉ AE?!: Yamandú Costa e Valter Silva

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: 1) Pobreza e miséria



::txt::Eric P. Duarte::

1) Pobreza e miséria:

Quando um indivíduo produz algo de valor para si mesmo, ele melhora o seu bem estar, portanto, enriquece. Quando dois indivíduos A e B realizam uma troca mutuamente voluntária, ambos enriquecem, pois aquilo que A recebe tem mais valor para ele do que o que ele deu em troca, caso contrário ele não teria realizado a troca. O mesmo vale para B obviamente. Portanto qualquer troca mutuamente voluntária é mutuamente benéfica e, com isso, gera riqueza. Por outro lado, quando um agressor força alguém a lhe entregar parte de sua riqueza através da ameaça de violência, o agressor enriquece enquanto a vítima empobrece. Agressões geram pobreza.

Quanto mais livre de agressões for a rede de trocas voluntárias de uma sociedade, isto é, quanto mais livre for o mercado, maior será o incentivo para criação de novos bens, serviços e métodos de produção que enriquecem a sociedade como um todo. Em um livre mercado, para que um indivíduo enriqueça ele não precisa empobrecer outro, muito pelo contrário, enriquece aquele melhor atender às necessidades dos outros. Bill Gates não teve que deixar ninguém pobre para ficar rico. Ele ficou rico porque criou um sistema que facilitou a vida de milhares de pessoas, criando milhares de tipos novos de empregos e negócios. Já o roubo, este implica necessariamente em deixar alguém mais pobre.

Atualmente quase metade de tudo que a população produz vai para a mão dos governantes à força através dos impostos. Isto quer dizer que se não houvesse este confisco absurdo, todos seriam automaticamente mais ricos.

O governo é formado de seres humanos movidos pelo auto-interesse e por isso os recursos confiscados sempre acabam sendo usados para expandir o poder Estatal. Mas mesmo se os membros do governo fossem santos bem intencionados, ainda assim eles não saberiam como usar os recursos expropriados de seus proprietários legítimos melhor do que os próprios proprietários. Isto acontece porque o conhecimento econômico é disperso, cada indivíduo detêm o conhecimento das variáveis que envolvem o seu próprio universo e ninguém pode ter o conhecimento sobre tudo que cerca todos, o que torna o planejamento central impossível (tirando o fato de ser injusto). Um enorme desperdício de riqueza é inevitável.

Os impostos não são a única maneira pela qual o Estado pode roubar de seus súditos. O Estado também detém atualmente o monopólio da oferta monetária. Com isso, o Estado pode imprimir mais dinheiro através de seu banco central e distribuir para aqueles ligados ao próprio Estado. Desta forma o dinheiro irá eventualmente se desvalorizar e haverá um aumento geral dos preços. Aqueles “amigos do rei” que recebem primeiro o novo dinheiro se aproveitam dos preços baixos e enriquecem à custa de toda a população que empobrece com um dinheiro desvalorizado.

O Estado também tem o poder de criar as regras que regem o mercado, proibindo certos produtos e serviços de serem ofertados, criando barreiras para a importação de certos produtos, taxando um setor e subsidiando outro, etc.

Com todo este poder nas mãos do Estado, o incentivo das grandes empresas deixa de ser agradar os interesses dos consumidores e passa a ser o de agradar os interesses do Estado em troca de privilégios e subsídios. Quando escutamos mensagens do tipo “precisamos proteger a indústria nacional da concorrência estrangeira”, isto não passa de uma empreitada do Estado para proteger algum aliado em detrimento de toda a sociedade que poderia se beneficiar dos preços mais baixos e da melhor qualidade de certos produtos estrangeiros.

O Estado se auto-intitula a força motriz da economia e o grande bem feitor dos pobres, mas tudo que ele faz atrapalha a economia e empobrece mais a população. Quando surgem os problemas causados por ele, ele culpa o livre mercado e se diz capaz de resolver tudo, mas ele sempre piora a situação, criando uma dependência eterna dos súditos com o Estado.

As barreiras criadas pela burocracia e pelos impostos dificultam os pequenos empreendedores a criarem os seus negócios, as barreiras criadas pelas leis trabalhistas dificultam os mais necessitados a conseguirem empregos, a obrigatoriedade de escolaridade para empregos que não exigem muita qualificação geram o mesmo efeito, as barreiras do protecionismo não deixam que produtos mais baratos e de melhor qualidade cheguem à população. Enfim, todas as barreiras criadas pelo Estado dificultam o funcionamento da livre iniciativa e espalha pobreza pela sociedade.

Falamos da pobreza material que o Estado gera, mas ela não é única. As práticas do Estado espalham também uma pobreza de espírito geral. Quando o Estado se auto-intitula o legítimo defensor dos necessitados, as pessoas deixam de se preocuparem com os necessitados. Quando ele diz que vai cuidar da aposentadoria de todos, todos deixam de se sentirem responsáveis pela própria aposentadoria. Quando ele diz que cuidará da saúde de todos, todos deixam de se sentirem responsáveis pela própria saúde. Quando ele diz que cuidará da educação, a educação deixa de ser uma responsabilidade individual.

À primeira vista, a retórica do bem estar social estatal parece muito bonita, mas ela não passa de uma camuflagem para a violência estatal. O Estado faz com que pessoas essencialmente honestas apóiem medidas Estatais para resolver os problemas sociais, isto é, ele faz com que as pessoas apóiem a violência e o crime sem nem se darem conta disto.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

NOÉ AE?!: Muzak

HUMOR SIM, PRECONCEITO NÃO



::txt::Monsenhor Jacá::

Você lembra de George Orwell e de sua clássica obra A Revolução dos Bichos? Tem aquele trecho genial sobre a igualdade entre todos animais: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que os outros".



Hoje, no Brasil, quase vivemos revolução igualmente animal, comandada por nossos juristas e legisladores, porém que vivem às nossas custas.



Haveria neste país uma espécie "mais igual que os outros". Eles se chamam candidatos políticos. E sobre eles estaria proibido de se fazer humor. Você poderia fazer humor sobre médico, português, judeu, joãozinho, Galvão Bueno, prostituta, jornalista, jogador, pagodeiro, gay, corinthiano, argentino, Geisy, música sertaneja, maconheiro, ...



Enfim, você só não poderia fazer humor sobre os nossos queridos candidatos políticos. E qual explicação? Não sei! Devo ler O Rei está Nu em breve pra descobrir.



Como explicar esse facto? Por que candidato seria um ser superior, com direitos diferenciados tais quais não ser alvo de humor, charge, piada? Que espécie superior seria essa?



Como diria Arlei Arnt, proibir humor sobre política é a maior piada de todos os tempos. Mas ainda bem, estamos livres novamente pra debochar de vocês. Onde há circo, é preciso haver palhaços!



quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A IMPORTÂNCIA DO VOTO




::chrg::Latuff::

LUÍSA MAITA

::txt::Leandro Gomes::

A inspiração de Luísa Maita alimenta-se da tradição musical brasileira na mesma intensidade com que frequenta a prateleria do pop americano. Para Luísa, não há diferença sensível entre João Gilberto e Michael Jackson, Nana Caymmi e Beyoncé, funk carioca e R&B como mostra este “Lero-Lero”, primeiro álbum da cantora e compositora paulistana lançado no Brasil pelo selo Oi Música.

A busca pela origem de suas influências nos conduz ao Bexiga, zona central da cidade de São Paulo. Ali naquele bairro de imigrantes italianos nasceu a menina cujo nome foi sampleado de uma canção de Tom Jobim: "Ana Luísa". Sua filiação revela a escolha: o pai, Amado Maita, descendente de árabes, índios, espanhóis e da bateria da Vai-Vai, dono de um estacionamento na Rua Santo Antonio onde costumava manobrar canções que resultaram, entre outras coisas, em um álbum lançado em 1971 e hoje disputado por colecionadores. A mãe, Myriam Taubkin, produtora cultural de herança judaica que desenvolve projetos importantes de preservação da memória da música brasileira. Ainda no eixo materno, os tios Daniel e Benjamim Taubkin exerceram forte influência sobre Luísa. O primeiro, segundo a própria, “tem um estilo que é um modelo pra mim, pois sua música é uma mistura de muitas influências diferentes”. O segundo, além do permanente aconselhamento musical e artístico, apresentou a sobrinha à filosofia oriental. “Isso foi muito importante. Hoje acredito no auto-conhecimento como um guia para a vida”.

Este pequeno passeio pela história de Luísa Maita nos leva também a um sítio no Grajaú, zona sul de São Paulo, para onde a família se mudou. Até os 11 anos, Luísa teve muito contato com a cultura da periferia da cidade e com os amigos músicos de seu pai que frequentavam o lugar, entre eles Sizão Machado, Lea Freire, Guilherme Vergueiro, Pete Wooley, Mozar Terra, Fernando Falcão. “Era um universo de música, de criação, com pessoas de muita personalidade”.

Como compositora Luísa Maita faz uso de temas recorrentes - e inabálaveis - da canção brasileira: o amor, a esperança, o sonho e a luta por uma vida melhor. Uma cronista que não só observa, mas participa da cidade, caminha pelas avenidas e vielas do centro e da periferia à procura de estalos poéticos e melódicos. Essa facilidade com o trato da canção foi identificada pela cantora Virgínia Rosa quando decidiu gravar dois sambas de Luísa - “Madrugada” e “Amado Samba” - e por Mariana Aydar que incluiu em seu segundo álbum a canção “Beleza” (uma parceria com Rodrigo Campos), eleita uma das melhores músicas de 2009 pela revista Rolling Stone Brasil.

Como cantora, Luísa usa sua sensualidade de forma sutil como forma de transmitir sensações, como instrumento de comunicação. Parece mesmo ter encontrado a medida certa para, em suas próprias palavras, “atingir o máximo de expressão com o mínimo de afetação”. Essa característica pode ser verificada (ainda que de maneira mais tímida) em algumas faixas do álbum de seu primeiro grupo, a Urbanda. A personalidade musical de Luísa ganha mais força nas participações que fez no disco “São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe” de Rodrigo Campos e “Alborada do Brasil” de Carlos Nuñez e também em sua interpretação para os vídeos da candidatura do Rio de Janeiro para as Olimpíadas de 2016 dirigidos por Fernando Meirelles.

Mas em nenhum desses trabalhos Luísa se revela como neste “Lero-Lero” que sintetiza compositora e intérprete, une referências musicais e pessoais com preciosismo e despojamento. Síntese cujas medidas foram assimiladas por Paulo Lepetit, o alfaiate produtor do álbum, que lhe conferiu uma vibração contemporânea através dos beats e programações eletrônicas e por Rodrigo Campos (co-produtor ao lado de Luísa) e seu violão afro que dialoga no mesmo volume com a base ritmica das canções.

O álbum é pontuado por influências da música pop e eletrônica indissociáveis da base acústica profundamente enraizada no samba, na bossa nova e na música popular brasileira. As faixas apresentam uma galeria de ritmos tradicionais do Brasil: do samba ao maculelê, da bossa nova ao baião. No entanto, aparecem desconstruídos, muitas vezes reduzidos às células rítmicas básicas que se transformam com os timbres eletrônicos dos beats e com a instrumentação acústica.

Além de Paulo Lepetit (baixo e programação eletrônica) e Rodrigo Campos (violão, cavaquinho, repique de mão, tamborim e surdo), o disco conta com a participação dos músicos Kuki Storlarski e Sérgio Reze (bateria), Théo da Cuíca e Jorge Neguinho (cuíca), Siba (rabeca), Fabio Tagliaferri (viola) e Swami Jr (violão).

Tendo como filtro a sensibilidade, Luísa recorta pedaços da história musical brasileira, da cenografia da cidade, do cotidiano de seu povo e se deixa levar por referências múltiplas. Juntando os retalhos, salta aos ouvidos uma unidade, uma massa sonora de delicadezas, sensualidade e autenticidade. Um exemplo da constante evolução e reinterpretação da música brasileira, a estréia de Luísa Maita exibe uma artista exposta à tradição e modernidade, enraizada à vida contemporânea, pronta para devolver tudo aquilo que absorveu da cidade e das pessoas: a música.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: III - A injustiça e a ineficiência do Estado



::txt::Eric P. Duarte::

III - A injustiça e a ineficiência do Estado

Práticas como o roubo, o seqüestro, o assassinato e o estupro são ilegítimos porque representam uma iniciação de violência. De fato, qualquer um que cometa algum destes atos é instintivamente taxado de criminoso perante a sociedade. Mas a nossa teoria não teria valor algum se só revelasse o óbvio. Da mesma maneira, a teoria da gravidade não teria utilidade alguma se apenas afirmasse que maçã cai da árvore.

Depois de confirmar aquilo que já é sabido instintivamente, a teoria precisa ser capaz de revelar novas verdades, como o fato de que corpos de massas diferentes largados da mesma altura na lua caem ao mesmo tempo. Desta forma, agora que temos uma teoria consistente, lógica e empiricamente compatível com os instintos humanos, podemos investigar a nossa sociedade mais a fundo ver se descobrimos novas verdades.

Quando falamos de justiça, a maioria das pessoas automaticamente pensa no Estado, pois é ele quem tem ditado nossas leis e nos obrigado a cumpri-las. Esta função “legislativa” do Estado é claramente incompatível com a justiça, visto que a justiça é um princípio natural e, assim como qualquer outro princípio natural, é necessariamente imutável.

Tendo isto em mente, qualquer pretensão de modificar o princípio da justiça através da legislação é um absurdo, absurdo tão grande quanto seria modificar os princípios da física, da química e da matemática através da legislação. A legislação nada mais é que uma forma de controle social.

Mesmo que o Estado tentasse deixar de legislar, se atendo apenas em cumprir a justiça natural, ele não conseguiria porque qualquer Estado, seja ele tirânico, aristocrático ou democrático, se caracteriza por uma prática comum que é a “cobrança de impostos”.

Todas as pessoas na sociedade (tirando criminosos aleatórios) obtêm suas rendas através de métodos voluntários, isto é, através da produção, da troca de bens e serviços ou de doações. Somente o Estado utiliza a iniciação de violência para obter a sua renda.

Se você não utiliza algum serviço Estatal ou não concorda com qualquer prática do Estado, ainda assim precisa financiar todo o aparato Estatal através dos impostos. Diferentemente de todos os outros setores da sociedade, o Estado não lhe dá a opção de escolha, ele é sustentado através da ameaça de violência. Se você se recusar a pagar os impostos, receberá uma intimação por escrito. Se você persistir em não pagar os impostos, será seqüestrado por homens armados (polícia) e levado para um lugar onde será enjaulado, torturado e talvez até estuprado. Se você tentar resistir a tal seqüestro, será assassinado.

Isto soa de alguma maneira compatível com a Justiça natural? Lembre-se que a lei deve ser igualmente válida para todos os seres humanos, não importa o uniforme que eles estejam usando. É impossível definir a cobrança de impostos de alguma maneira diferente de roubo.

Estado = Impostos; Impostos = Roubo; Roubo = Ilegítimo; Estado = Ilegítimo.

O Estado precisa então legislar para pelo menos proibir o roubo para os seus súditos e legalizá-lo para os membros do próprio Estado.

Qualquer pessoa ou grupo de pessoas que tentasse agir como um Estado seria logo taxado de criminoso, mas por alguma razão o Estado não sofre o mesmo efeito perante a opinião pública. Vamos ilustrar um pouco esta idéia com algumas situações hipotéticas:

1) Um engraxate te pergunta se você quer engraxar os seus sapatos por R$ 10,00 e você nega. O que o engraxate poderia fazer legitimamente diante da situação? Ele poderia tentar te convencer abaixando o seu preço ou ele poderia simplesmente desistir de você. Se ele sacasse uma arma e dissesse – “ou você me deixa engraxar os seus sapatos e me paga R$ 10,00 por isso, ou eu estouro os seus miolos” – isto não seria claramente um assalto? O fato de o engraxate ter engraxado os seus sapatos teria tornado a situação justa? Pois esta é uma das alegações do Estado sobre a sua suposta moralidade. Ele se diz moral porque “presta” alguns serviços, mas a verdade é que ele impõe os seus “serviços” e cobra o preço que quiser por eles.

Não existem serviços não voluntários!

2) Três pessoas te abordam na rua querendo te estuprar, mas com a intenção de justificar a situação, eles te dão o direito de votar a favor ou contra o seu próprio estupro. Obviamente você seria estuprado por estar em minoria numérica, mas será que o estupro teria sido justo porque você teve o seu “direito de votar”? Esta é precisamente a alegação do Estado quanto à moralidade da democracia.

Não há nada de divino na vontade da maioria!

3) Um indivíduo bate na sua porta e diz que fez um contrato com o seu tataravô dando-lhe o direito de te explorar como bem entender. Você não chamaria a polícia imediatamente e diria que tem um louco na sua porta? Pois é assim que os apologistas do Estado justificam esta instituição horrenda quando invocam o suposto “contrato-social”.

Contratos só dizem a respeito de seus participantes!

Não só podemos afirmar que o Estado é uma organização criminosa, como também podemos afirmar com convicção que ele é a organização criminosa mais bem sucedida de todos os tempos.

Ao longo da história o Estado criou alguns artifícios para esconder dos seus súditos a sua natureza agressiva. O mais antigo e duradouro destes artifícios foi a união do Estado com a religião. Os sacerdotes, os quais tinham grande influência perante opinião pública, difundiam a idéia de que os reis eram enviados divinos, enquanto recebiam em troca riquezas e poder. Este artifício foi tão poderoso que durou desde os primeiros estados até a recente idade média.

Sumérios, Chineses, Egípcios, Gregos, Romanos, absolutismos Medievais, etc. Todos estes Estados estavam apoiados na idéia de que o rei ou imperador era enviado de um Deus, ou às vezes era ele o próprio Deus.

Quando esta idéia começou a perder força devido à difusão das ciências no Iluminismo, a igreja se separou do Estado. Agora eram os intelectuais e não os sacerdotes que tinham grande influência perante opinião pública, por isso o Estado se uniu a eles, dando-lhes riqueza e poder em troca de ideologias que justificassem o poder estatal. Esta união dos intelectuais com o Estado persiste até os dias de hoje.

Democracia, Capitalismo de Estado, Socialismo, Comunismo, Fascismo, Social-democracia, etc. Todas estas são ideologias fabricadas para justificar a violência Estatal.

É claro que é um ótimo negócio para o Estado fazer com que as pessoas pensem que ele na verdade é uma instituição virtuosa, que pagar os impostos é algo bom e necessário e que para melhorarmos a sociedade nós devemos apenas melhorar o Estado. Questionar a própria necessidade do Estado deve ser considerado uma blasfêmia. Isto torna o trabalho violento do Estado incrivelmente menos penoso e mais econômico. Por isso o Estado se empenha em educar crianças ingênuas em suas escolas públicas e em regular todo o sistema de ensino através de órgãos públicos tais como o Ministério da Educação. Livros de história que não exaltem as “conquistas” do Estado não são permitidos. Desde pequenas as crianças são iludidas com mensagens de patriotismo e falsa cidadania. O Estado também se une com a mídia e bombardeia toda a população com mensagens estatistas, criando a ilusão de que o Estado é algo natural.

Outro artifício poderoso é a monopolização de alguns serviços essenciais tais como o fornecimento de ruas e estradas, energia elétrica, água, gás, corpo de bombeiros, policiamento, etc. Quando o estado monopoliza o fornecimento destes serviços (proibindo a competição), ele cria a ilusão de que só ele pode fornecê-los. A verdade é que todos estes serviços podem ser fornecidos de forma muito mais eficiente e justa através de interações voluntárias, como veremos mais adiante.

Existem duas consequências inevitáveis do Estatismo. A primeira é que, como os recursos que financiam o Estado são provenientes da injustiça (do roubo sistemático em escala territorial), é natural que o Estado espalhe injustiça por onde quer que ele passe a mão.

A segunda consequência parte da compreensão de que todo ser humano é movido pelo auto-interesse. Sendo o Estado composto de seres humanos, é inevitável que os seus membros usem o seu poder para expandir o Estado ao longo do tempo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

NEGRITUDE FOREVIS

A OUTRA CAMPANHA



::txt::Outra Campanha Brasil::

A Outra Campanha é uma articulação aberta aos grupos, movimentos e companheiros/as interessados/as em construir uma outra forma de fazer política, com base no protagonismo e na luta popular. É na luta e na organização popular que se cria o poder popular, que fazemos valer nossos direitos e arrancamos das elites políticas e econômicas as conquistas.A Outra Campanha Brasil é inspirada em "La Otra Campaña" organizada pelos zapatistas.

Se aproxima mais um período de eleições onde toda a população é chamada para votar. Todos nós já estamos fartos de tantas promessas, mentiras e escândalos de corrupção. Além disto, o modelo representativo não resolve, mas agrava nossos problemas, subordinando as decisões políticas ao crivo de supostos especialistas. Quando escolhemos atuar dentro da esfera parlamentar, adequamos a luta dos movimentos sociais a legalidade burguesa, que apenas mantém e conserva toda a situação de miséria e opressão de nosso povo! A ação parlamentar não pode ser vista como "complementar" a ação dos movimentos sociais, mas sim como sua antítese, seu freio, a oposição completa e absoluta da democracia direta e da autonomia da luta.

"Queremos que a responsabilidade do governo não seja exclusiva de um grupo, que não haja dirigentes ?profissionais?, que o maior número possível possa fazer o aprendizado" (Subcomandante Marcos)

ENTÃO:

CONSTRUIR UM POVO FORTE COM A OUTRA CAMPANHA

- Outra campanha, para convocar a luta e a organização popular, não para pedir votos, é o trabalho que nos mobiliza para fazer política. Porque a política não é assunto só para especialistas ou representantes.

- Outra campanha para lutar por um programa de emergência que atenda as necessidades do povo e enfrente os problemas sociais mais graves da cidade. Para recuperar a dignidade do que sofre na vida o preço da promessa não cumprida, pois somente a ação direta dos de baixo contra os que oprimem é capaz de fazer justiça.

- Outra campanha para construir um povo forte, para organizar os desorganizados, para unir os movimentos sociais que lutam, para fazer política com as próprias mãos com independência do governo, do partido e do patrão, pela decisão das assembléias e da luta popular em unidade.

- Outra campanha para dar voz a quem não é deixado falar, para construir participação popular onde o poder faz exclusão, para criar capacidade política pelos lugares de trabalho, estudo, moradia, pela cultura e os meios de comunicação comunitários.

- Outra campanha para construir poder popular, pra acumular forças com democracia de base e tomar de volta a política dos corruptos, das oligarquias e dos grupos dominantes do poder.

Links de Organizações que aderiram a Outra Campanha:

RJ
SP
BA
AL
RS

NOÉ AE?!: Scandurra

DITADOR GETÚLIO VARGAS, FELIZ ANIVERSÁRIO



::txt::Barão de Itararé::

À este mundo redondo, que está ficando cada vez mais chato.

Hoje, o suicidado presidente Getúlio Vargas faz aniversário.

Em sua homenagem, eu, Barão de Itararé, deixei uma bela mensagem em seu Memorial, no bairro da Glória, cidade do Rio de Janeiro.

Já deve fazer setenta anos que vivi uns tempos sustentado nas prisões de seu governo e esse é meu singelo agradecimento, um pagamento módico.

Como todos sabem, Gê-gê é conhecido como pai dos pobres. O problema é que até onde me consta, essas leis trabalhistas por ele "criadas" (sic!) foram a duras penas conquistadas pelo movimento dos trabalhadores ao longo das três primeiras décadas do século XX. Aliás, são essas conquistas que o Inácio em seu palácio quer tirar com Emenda 3, reformas trabalhistas comandadas por patrões e outras artimanhas. É, estamos piores que os marimbondos. Até eles têm casa.

Gê-gê governou 15 anos ininterruptos e, depois de uma folga, mais 3 anos de governo suicidado. Depois deste episódio, obviamente ele não mais governou.

Mas isso não apaga as prisões, exílios e assassinatos que cometeu, especialmente no período do Estado Novo.

Mas como quem só fala em grandes pequeno fica, minha sugestão é que o Memorial G. Túlio Vargas seja demolido e renomeado: o agora Memorial Barão de Itararé teria uma cópia original do escudo heráldico da Casa de Itararé e, se quiserem, o meu busto.

O Memorial seria em memória a todos os que sofreram e sofrem perseguições por suas posições políticas e senso de humor.

De onde menos se espera,
Barão de Itararé.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CENSURA NUNCA MAIS

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: II - A justiça natural



::txt::Eric P. Duarte::

II - A justiça natural

A teoria da justiça natural afirma que a justiça é um princípio absoluto e inerente à natureza humana, podendo assim ser investigada através da lógica e da razão tanto quanto qualquer outro princípio existente. A justiça pretende determinar quais ações humanas são legítimas e quais são ilegítimas.

Os relativistas alegam que a justiça é subjetiva, pois cada um tem um conceito diferente dela. Mas o fato de cada um ter uma opinião diferente sobre determinado assunto não o torna necessariamente subjetivo. Antigamente cada povo tinha uma crença diferente sobre as causas das chuvas, mas isso não as tornou subjetivas.

Se não existisse tal justiça absoluta, não poderia haver nada que pudéssemos chamar de injusto. Não faria sentido algum falar que um ato de estupro é ilegítimo e injusto por natureza. Todos os massacres, as torturas, os seqüestros, os assassinatos e quaisquer outras atrocidades já cometidas pelo ser humano ao longo da história, seriam apenas eventos aleatórios e não poderiam ser julgados objetivamente.

Os religiosos alegam que de fato existe uma justiça absoluta, mas esta deveria ser encontrada nos escritos supostamente “divinos” de sua própria religião e não através da razão humana. Mas como saber em qual das milhares de religiões inconsistentes e incompatíveis entre si nós deveríamos crer?

Se a justiça faz parte da natureza humana, assim como a força da gravidade faz parte da natureza dos astros, nós não precisamos cair nas inconsistências do misticismo e nem do relativismo ético. Somente a razão pode explicar a realidade.

Se a justiça é um princípio natural que diz respeito à natureza humana, ela deve ser igualmente válida para todos os seres humanos e em qualquer momento histórico ou circunstância que envolva o ser humano. As leis da física, por exemplo, são universais e não se alteram com o nível de complexidade do caso analisado. Peguemos então o exemplo de Robinson Crusoé sozinho em sua ilha, para que assim possamos analisar o ser humano em sua ocorrência mais simples possível.

Sozinho em sua ilha, Crusoé tem o controle exclusivo do próprio corpo e daqueles recursos naturais que ele se apropria. Estando na condição de animal racional e não sendo dotado de instintos automáticos tais como os outros animais, Crusoé precisa de fato controlar o próprio corpo e mente para aprender sobre mundo à sua volta. Além disso, ele não é uma entidade auto-suficiente, portanto ele precisa também controlar outros recursos (comida, ferramentas, abrigo, etc...) além de seu próprio corpo para poder sobreviver e prosperar.

Controlar o próprio corpo e se apropriar de recursos naturais é o único meio pelo qual Crusoé pode sobreviver e prosperar. Podemos dizer então que Crusoé é naturalmente o dono do próprio corpo e daqueles recursos naturais que ele coloca em uso por intermédio de seu corpo.

Analisemos agora o segundo caso mais simples de ocorrência humana, colocando uma segunda pessoa, Sexta-Feira, na ilha. Para que a condição da universalidade seja satisfeita, devemos dar a Sexta-Feira os mesmos direitos de Crusoé encontrados na análise anterior. Desta forma, Sexta-Feira também deve ser o dono do próprio corpo e daqueles recursos apropriados por ele originalmente.

Em nosso intuitivo “código legal”, Sexta-Feira poderia fazer o que quisesse com o próprio corpo e com seus recursos, desde que não invadisse o corpo de Crusoé e os bens apropriados por ele, pois estaria ferindo o direito de propriedade de Crusoé sobre o próprio corpo e sobre os recursos que ele se apropriou originalmente. A mesma condição seria também válida para Crusoé.

Se pensarmos bem, ambos poderiam se beneficiar muito se respeitassem estas regras básicas. Eles poderiam voluntariamente fazer trocas de recursos e criar divisões de tarefas, maximizando assim o bem- estar de ambos. Mas dificilmente ocorreriam tais acordos se, por exemplo, Sexta-Feira chegasse roubando a vara de pescar de Crusoé, ferramenta esta na qual Crusoé havia gasto seu tempo e esforço para construir.

Poderíamos continuar adicionando pessoas na ilha e veríamos que enquanto estes princípios básicos fossem respeitados, haveria paz e prosperidade. Porém, quando eles fossem quebrados, haveria guerra até que a “justiça” fosse restabelecida.

Tendo feito esta breve análise, podemos enunciar a seguinte hipótese de uma fórmula geral da Justiça:

“Todo homem tem, naturalmente, o direito de ser o dono do próprio corpo e daqueles recursos naturais que ele coloca em uso por intermédio de seu corpo”

As implicações desta fórmula são inúmeras, mas algumas são claramente evidentes. Se o homem é o dono – isto é, o proprietário ou aquele que pode exercer o controle – do próprio corpo e daqueles recursos naturais que ele coloca em uso por intermédio de seu corpo (o que significa ser o primeiro a se apropriar diretamente de algo que nunca foi apropriado por mais ninguém), então ele pode fazer o que bem entender com o próprio corpo e com os seus recursos, desde que não inicie o uso ou a ameaça de violência física (agressão/invasão) contra o corpo ou os recursos de outro homem, pois estaria ferindo o direito de propriedade deste outro homem sobre seu próprio corpo e sobre os seus recursos.

O homem é então livre para pegar os seus recursos e criar recursos novos através da produção, criando bens de maior valor. O homem é livre para realizar trocas mutuamente voluntárias de seus bens com os bens de outros homens, mas ele não é livre para roubar. Ele é livre para trocar voluntariamente os seus bens ou o tempo e esforço de seu corpo (trabalho) pelos bens ou pelo trabalho de outros homens, mas ele não é livre para forçar outros homens a servi-lo. Ele é livre para dar voluntariamente os seus bens a outros homens, mas ele não pode obrigar que outros homens dêem os seus bens.

O homem é, portanto, livre para fazer tudo, menos iniciar o uso ou a ameaça de violência física contra outro homem ou contra os bens adquiridos por ele legitimamente. Se definirmos bens legitimamente adquiridos como propriedades e a iniciação de violência ou a ameaça de seu uso como agressão, chegamos a uma segunda fórmula mais simplificada, também chamada de “princípio da não-agressão”:

“Nenhum homem, ou grupo de homens, tem o direito de agredir o corpo ou a propriedade de nenhum outro homem”

É importante frisar que uma agressão só é caracterizada como agressão quando a violência ou a ameaça do seu uso é iniciada. Vamos supor que o indivíduo X roube o relógio do indivíduo Y. Y teria o direito de tomar a força o relógio que está sob a posse de X. Enquanto X teria iniciado a agressão, Y estaria apenas restabelecendo a justiça.

Estas fórmulas são altamente intuitivas. Uma criança, por exemplo, aprende muito cedo que não se deve bater em outras crianças ou pegar à força o que está sob a posse delas, pois, caso contrário, elas irão revidar. De fato, a grande maioria das pessoas já age de acordo com estas regras em suas vidas pessoais, porém a intuição moral não é prova de nada. Existem diferentes formas de se provar estas fórmulas, mas vejamos brevemente a mais famosa delas aqui.

Primeiramente nós devemos lembrar que, sendo a justiça um princípio natural que diz respeito à natureza humana, ela deve ser universalmente e igualmente válida para todos os seres humanos. Tendo sido enunciada a nossa hipótese de uma fórmula geral da Justiça, através da intuição ou de uma simples investigação da natureza humana, podemos tentar negar a sua validade. Ao fazermos isso, nos deparamos com apenas duas possíveis hipóteses. Se cada homem não puder ser o dono do próprio corpo e daqueles bens adquiridos por ele através da apropriação original, da produção ou da troca voluntária, então:

- 1. Certa classe de pessoas, A, deve ter um direito de propriedade sobre os corpos e bens de outra classe de pessoas, B.

- 2. Todos devem ter o direito de possuir uma parcela igual de todas as outras pessoas e bens existentes.

A primeira alternativa claramente implica que a classe A deve ter direitos superiores à classe B, ela implica que a classe A pode explorar e, logo, viver parasiticamente da classe B. Desta forma, esta alternativa não cumpre o critério de universalidade, pré-requisito de qualquer teoria de justiça.

O segundo caso parece cumprir tal condição de universalidade, porém, é lógica e fisicamente impossível. Se todos têm o direito de possuir uma parcela igual de todas as outras pessoas e bens existentes, então nenhum ser humano poderia executar nenhuma ação (nem mesmo utilizar as suas cordas vocais) sem antes ter a aprovação de todos os outros seres humanos. Mas como conseguir tal aprovação de bilhões de pessoas sem poder sequer iniciar qualquer ação? A humanidade iria obviamente se extinguir quase que instantaneamente. Tal alternativa é fisicamente impossível, pois é impossível que todos os homens mantenham registros contínuos sobre todos os outros homens e bens existentes para que assim possam exercer suas propriedades parciais sobre eles. Na prática, o controle dos homens e bens existentes necessariamente recairia sobre um grupo especializado, o qual, deste modo, se tornaria a classe dominante. Assim, de qualquer forma, estaríamos de volta à nossa primeira alternativa.

Temos então que a única alternativa correta é dar ao homem o direito absoluto de se possuir (também chamado de direito de auto-propriedade) e de possuir aqueles bens adquiridos por ele legitimamente (também chamado de direito de propriedade). O respeito a este princípio básico traz a maximização da paz e da prosperidade geral. É claro que existem, sempre existiram e sempre existirão alguns homens que preferem não respeitar tal princípio, por isso os homens pacíficos são livres para se defenderem de tais agressores e se organizarem voluntariamente com tal fim. Quando alguém infringe a justiça natural, é legítimo restabelecê-la.

sábado, 21 de agosto de 2010

A SOCIEDADE VOLUNTÁRIA: I - Introdução



::txt::Eric P. Duarte::

I – Introdução

Quais são os direitos do homem? O que é justo e o que é injusto que o homem faça? O que é justo e o que é injusto que o homem tenha? Qual a maneira mais justa de se resolver um conflito? Se há injustiça, como restabelecer a justiça?

A idéia dos direitos e da justiça foi fundamental para que o homem passasse de seu estágio tribal para o seu estágio civilizacional. Sem algum conceito de justiça, o homem não teria avançado na sua organização social.

O uso da justiça nas relações humanas teve a sua origem em costumes e tradições. Apesar de exercer um poder muito forte nas relações humanas, a aplicação da justiça nunca foi baseada em princípios objetivos.

É justamente por ser tão poderosa perante os homens, mas tão pouco entendida, que milhares de oportunistas ao longo da história forjaram conceitos de justiça para obter poder e riquezas. A justiça passou então a ser um mero objeto de manipulação social e apresentar formas muito diferentes.

Os maiores massacres da história foram feitos em nome de algum tipo de “justiça”. “Justiça divina”, “justiça racial” e “justiça social” são apenas alguns exemplos destas “justiças”.
A justiça está atualmente no mesmo estado que se encontrava a astronomia medieval – em um estado de mitologia imaginária, forçada através de historinhas, ameaças, compulsão e exploração – o que impede totalmente qualquer progresso real em direção à verdade.

Assim como o método científico nos tirou das sombras do misticismo medieval, uma metodologia objetiva e racional aplicada à investigação da natureza da justiça irá nos tirar das sombras da tirania e do retrocesso social.

Somente com princípios de justiça verdadeiros, poderemos investigar o que há de errado com a nossa sociedade e compreender melhor o porquê de tantos problemas sociais. Somente com princípios de justiça verdadeiros, poderemos esboçar um possível rosto de uma sociedade pautada em tais princípios.

*Principais referências: Lysander Spooner, Murray N. Rothbard e Stefan Molyneux.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

NEIL GAIMAN E A PIRATARIA




::txt::Alexandre Matias::

O que um dos escritores de ficção mais populares do mundo, o inglês Neil Gaiman, acha da pirataria?:

“Isso realmente não me incomoda.

Obviamente eu preferia estar em um mundo em que as pessoas pudessem ter sua dose dos meus quadrinhos por meios mais legítimos e que isso de vez em quando pagasse o meu jantar.

Dado que não há canais legítimos lá fora, acho que seria muito ingênuo da minha parte me opor.

(…)

Ontem no almoço, Zoe Heller, grande autora e muito inteligente, veio até mim e disse: “Alguém me deu esse livro e são uma pessoas que acham que os livros devem circular e quando você termina de ler deve dá-los a alguém. E não sei o que pensar disso, porque de certa forma eu sobrevivo das pessoas comprarem novos livros.”

E eu disse: Zoe, nenhum de nós descobriu seus escritores favoritos comprando seus livros. Não é como isso acontece. Vocês aqui. Você provavelmente tem um escritor favorito. E a resposta é que vocês descobriram seu escritor favorito quando alguém disse: “Tome, eu acabei de ler esse livro, é bom e você vai gostar”. Ou você pegou o livro da prateleira de alguém e disse: “Isso parece interessante. Posso pegar emprestado?” Ou você encontrou na biblioteca. Ou alguém esqueceu no trem.

É assim que as pessoas descobrem seus escritores favoritos.

Não o descobrem entrando numa livraria e dizendo: “Vou comprar este livro novo de capa dura!”

Acaba sempre acontecendo que novos autores e autores famosos começam sendo descobertos acidentalmente quando você tropeça neles.

E são como aquela primeira dose de heroína e sem perceber você está descendo a rua para comprar tudo o que aquele cara já escreveu.

E até onde me interessa, qualquer maneira de fazer os livros circularem é legítima. Eu amo o fato das pessoas estarem dando livros que de outra forma ficariam esquecidos em uma prateleira.

E certamente eu não acho que algum desses leitores seja uma venda perdida. Porque da minha perspectiva o inimigo não é a idéia de que as pessoas estão lendo livros de graça. Ou lendo na internet de graça.

Da minha perspectiva o inimigo é as pessoas não lerem.

Qualquer pessoa lendo algo de graça da internet ainda faz parte da minha tribo.

A tribo das pessoas que lêem.

E se eles passarem adiante por fazerem parte dessa tribo eles querem esses livros para si.

Eles vão querer os livros de verdade. Eles vão querer comprar as versões de capa dura. Eles vão querê-los. Porque eu quero. E isso é uma coisa boa.

Transcrição de uma entrevista feita quando o autor veio à Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, de 2008, pinçada pelo blog E-books Grátis.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

EU SOU BURRO

::txt::Noé::

Descobri isso hoje. Uma senhora disse que sou burro pois não vou votar na Dilma. Fui no google saber mais sobre a minha espécie, e achei umas imagens bem bacanas sobre nós.





terça-feira, 17 de agosto de 2010

HUMOR SEM CENSURA

::txt::Comédia em Pé::

Quando o Estado proíbe o direito de expressão e impede os cidadãos de exporem suas idéias e a livre imprensa de se pronunciar, damos início a um retrocesso inaceitável, nos remetendo ao totalitarismo. Neste ato, não temos a intenção de minar o Governo atual, apenas queremos que tal atitude seja revista pelas autoridades eleitorais. As restrições impostas aos profissionais do humor são francamente inconstitucionais, uma forma arbitrária e espúria de censurar o seu trabalho, silenciando-os.

No exercício da democracia, informar e criticar não somente é um direito, mas um dever. Queremos ter o direito de cumprir o nosso dever. Não é com a mordaça que exercitamos a democracia, mas com a liberdade de expressão e de criação. Que o nosso humor possa servir de carapuça para os que se locupletam com as jogadas infames da política imoral.

Por que querem nos cercear? Por ridicularizarmos os corruptos que nos ridicularizam? Ou por apontarmos de forma jocosa aqueles que traem a nós e também à Pátria, de forma indecorosa?

Que os detentores do poder eleitoral guiem-se pela consciência democrática, pelo bom senso da cidadania.

Que em um exemplo de fidalguia, reconsiderem, em nome da decência e da moralidade, as medidas tomadas que denigrem a imagem do Brasil junto aos países que praticam a democracia.

Que sejam isentos de apadrinhamentos e de servidão diante dos interesses politiqueiros e nos dêem uma demonstração de lisura para que possamos retornar, com altivez e humor, à liberdade de expressão.

E, por fim, que o eleitor possa decidir ele mesmo rir ou não com determinada piada e, principalmente, que possa decidir o que fazer com seu voto.

domingo, 15 de agosto de 2010

AFEGANISTÃO: ECOS DO VIETNÃ



::txt::Noam Chomsky::

O War Logs (bússolas da guerra), um arquivo de documentos militares confidenciais que abarcam seis anos da guerra do Afeganistão, publicados na internet pela organização Wikileaks relatam uma luta inflamada e cada dia mais encarniçada, na perspectiva dos Estados Unidos. E, para todos os afegãos, um horror crescente.

Os War Logs, por mais valiosos que sejam, podem contribuir para a doutrina prevalente de que as guerras são algo mau só se não são exitosas – algo assim como o que os nazis sentiram depois de Stalingrado.

No mês passado ocorreu o fiasco do general Stanley A. McChrystal, obrigado a se retirar do comando das forças dos Estados Unidos no Afeganistão e substituído por seu superior, o general David H. Petraeus. Uma provável consequência é um relaxamento das normas de combate, de forma que se torne mais fácil matar civis, e uma prolongamento da guerra à medida que Petraeus use sua influência para conseguir este resultado no Congresso.

O Afeganistão é a principal guerra em curso do presidente Obama. A meta oficial é nos proteger da AlQaeda, uma organização virtual, sem base específica – uma rede de redes e uma resistência sem líderes, como foi chamada na literatura profissional. Agora, ainda mais do que antes, a AlQaeda consiste em facções relativamente independentes, associadas frouxamente ao redor do mundo.

A CIA calcula que entre 50 e 100 ativistas da AlQaeda talvez estejam no Afeganistão, e nada indica que os talibãs desejem repetir o erro de dar refúgio a AlQaeda. Por outro lado, o talibã parece estar bem estabelecido em seu vasto e árduo território, uma grande parte dos territórios pashtun.

Em fevereiro, no primeiro exercício da nova estratégia de Obama, os fuzileiros estadunidenses conquistaram Marja, um distrito menor na província de Helmand, principal centro da insurgência.

Uma vez ali, informa Richard A. Oppel Jr., do The New York Times, “os fuzileiros se chocaram com uma identidade talibã tão dominante que o movimento se assemelha mais a uma organização política numa região de um só partido, com uma influência que abarca a todos...”.

“Temos que reavaliar nossa definição da palavra 'inimigo', disse o general de brigada Larry Nicholson, comandante da brigada expedicionária de fuzileiros na província Helmand. A maioria das pessoas aqui identifica a si mesmas como talibã... Temos que reajustar nossa forma de pensar, de forma que não pareça que estamos expulsando os talibãs de Marja, mas que estejamos tratando de expulsar o inimigo.

Os fuzileiros estão enfrentando um problema que sempre espreitou os conquistadores, e que é muito familiar para os Estados Unidos, desde o Vietnã. Em 1969, Douglas Pike, o mais importante acadêmico governamental nos assuntos do Vietnã lamentou que o inimigo – a Frente de Libertação Nacional (FLN) – era o único partido político verdadeiramente baseado nas massas no Vietnã do Sul”.

Qualquer esforço para competir politicamente com esse inimigo seria como um conflito entre uma sardinha e uma baleia, reconheceu Pike. Em consequência, devíamos superar a força política do FLN recorrendo a nossa vantagem comparativa, a violência – com resultados horrendos.

Outros enfrentaram problemas similares: os russos, por exemplo, no Afeganistão, durante os anos 80, quando ganharam todas as batalhas mas perderam a guerra.

Escrevendo a respeito de outra invasão estadunidense – a das Filipinas em 1989 -, Bruce Cumings, historiador especialista em Ásia na Universidade de Chicago fez uma observação hoje aplicável ao Afeganistão: “quando um fuzileiro vê que sua rota é desastrosa, muda de curso, mas os exércitos imperiais afundam suas botas em areias movediças e seguem marchando, ainda que seja em círculos, enquanto os políticos enfeitam o livro de frases dos ideais estadunidenses”.

Depois do triunfo de Marja, esperava-se que as forças lideradas pelos Estados Unidos atacariam a importante cidade de Kandahar, onde, segundo uma pesquisa do exército estadunidense, a operação militar é rechaçada por 95% da população e onde 5 em cada 6 consideram os talibãs como nossos irmãos afegãos – mais uma vez, ecos de conquistas prévias. Os planos sobre Kandahar foram postergados, e isso foi parte dos antecedentes para a saída de McChrystal.

Dadas essas circunstâncias não é de se estranhar que as autoridades dos Estados Unidos estejam preocupadas com que o apoio popular à guerra no Afeganistão seja ainda mais erodido. Em maio passado a Wikileaks publicou um memorando da CIA acerca de como manter o apoio da Europa à guerra: o subtítulo do memorando era: porque contar com a apatia talvez não seja suficiente.

O perfil discreto da missão no Afeganistão permitiu aos líderes franceses e alemães desprezarem a oposição popular e aumentarem gradualmente suas contribuições às tropas da Força de Assistência à Segurança Nacional (ISAF), assinala o memorando. Berlim e Paris mantêm o terceiro e quarto níveis mais altos de tropas na ISAF, em que pese a oposição de 80% dos pesquisados alemães e franceses a maiores envios de forças. É necessário, em consequência, dissimular as mensagens para impedir ou ao menos conter uma reação negativa.

O memorando da CIA deve nos fazer recordar que os Estados têm um inimigo interno: sua própria população, que deve ser controlada quando a política do Estado tem oposição no povo. As sociedades democráticas dependem não da força, mas da propaganda, manipulando o consenso mediante uma ilusão necessária e uma super-simplificação emocionalmente poderosa, para citar o filósofo favorito de Obama, Reinhold Niebuhr.

A batalha para controlar o inimigo interno, então, segue sendo altamente pertinente – de fato, o futuro da guerra no Afeganistão pode depender dela.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ANULA BRASIL - Direito ou Dever?



::txt::Arlei 'xuxubeleza' Arnt::

O que você entende por 'direito' e 'dever'? Em minha arrogante opinião, direito é aquilo que você pode fazer, quando tiver vontade, no lugar que imaginar, segundo o seu próprio critério. Já dever é tudo aquilo que nos obrigam a fazer, tipo pagar impostos.

A sociedade brasileira lutou por duas décadas e meia pra ter o DIREITO de votar. E não conseguimos. O que nos deram foi o DEVER e a obrigação de comparecer às urnas a cada dois anos pra escolher as pessoas que vão ganhar às nossas custas pra mandar na gente.

Nossa sorte é que não somos obrigados a votar nos candidatos deles (sim, isso mesmo: candidato deles; se duvidar, tente você se candidatar pra ver se consegue). Ainda temos a opção de nos mantermos nulos perante o sufrágio obrigatório imposto pela ditadura do partidarismo representativo.

Quem se sente sem direitos, tem o dever de anular o voto. Mas isso é um direito seu!


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

SAMBA É ROCK (E VICE-VERSA)



::txt::Fagner Marques::

Como tudo que é relevante, surgiu por acaso, no improviso, na imaginação. Era 2007, acho. Tinha 24 anos e uma fixação: me especializar em algo. Achava muitos assuntos interessantes, desde física quântica até a importância da geladeira para os esquimós. Mas nada me era tão fascinante quanto o rock.

Mais que um estilo musical aquilo era, para mim, uma filosofia de vida. A representação da luta social sem armas. Ou melhor, com OUTRAS armas. "Essa máquina mata fascistas", cravara Woody Guthrie - um dos principais ícones da música country e de protesto do século passado e grande influência para o rock 'n roll - no case de seu violão.

De outro lado, esta forma de ver o mundo - e a vida, por consequência -, ganhou contornos populares. Era a bela dualidade: contestação e popularidade. O resto todo mundo já conhece. A essência blueseira na década de 1950, os movimentos sociais, a revolução sexual, Serguei (e meio mundo) comendo Janis Joplin, Hendrix queimando sua guitarra e tocando o horror, os Beatles exorcizando os fãs com doses cavalares de psicodelia, e o mundo que seguiu adiante e se tornou o que é hoje. Não importa! No fim, tudo é lindo, incoerente e polemico. Como uma declaração de Caetano.

Foi exatamente neste momento que a pulga se escondeu atrás da minha orelha. Pensei: onde, pelos infernos, estava o Brasil, enquanto o resto do mundo explodia em hormônios e exaltações rebeldes? Aquilo era sem sentido. Minha epifânia vinha de algo que ocorrera há dezenas de milhares de quilômetros de casa. Totalmente deslocado do meu cotidiano.

"Mentiroso", "Judas", podem exclamar alguns, acreditando que me rebelei contra o que sempre acreditei. Muito pelo contrário. Tentava descobrir como meu país, meu povo, havia contribuído com isso tudo. Até que um dia cheguei no samba.

Nossa matriz musical foi, para o Brasil, tudo o que o rock foi para Estados Unidos e Reino Unido. Quiçá, até mais! O batuque, tomado emprestado dos escravos, se modernizou na década de 1930. Se transformou na representação máxima do modo de vida da capital brasileira na época - o Rio de Janeiro -, retratando o cotidiano das classes, seus embates e os problemas estruturais de uma sociedade que engatinhava para se organizar. Mais do que isso, o samba questionava, na essência, os desfavores e os protestos sociais no Brasil.

Se Chico Buarque, Os Mutantes, Gal Costa, Maria Bethânia, Toquinho, Vinícius de Moraes e tantos outros nomes da chamada MPB são considerados, hoje, porta-vozes que reclamaram as ilegalidades e injustiças da ditadura militar, muito da produção deles se deve aos sambistas. Tanto os bambas das periferias e dos morros quanto os músicos e os poetas de classes mais favorecidas. Foram eles que, décadas antes, abraçaram a mesma causa: apresentar - em forma de versos e acordes - a vida, as angústias, as alegrias, as esperanças e as injustiças do povo. O samba foi o início do NOSSO movimento de contracultura.

Não encare este escrito como uma tentativa de comparar dois estilos musicais. Talvez queira, aqui, apenas apresentar o 'achismo' de quem vê a cultura brasileira como algo a ser preservado a admirado. Ok, admito, comparo sim. Dois estilos de vida, duas formas de ver o mundo. Diferentes em vários planos, mas muito parecidos na essência. Para mim, samba é rock. E vice-versa!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

terça-feira, 3 de agosto de 2010

ME ENGANA, LULA, QUE EU GOSTO




::txt::Ariovaldo Umbelino de Oliveira::

Em 2003, quando foi elaborado o II PNRA, ficou acertado entre os movimentos sociais e o governo LULA que o MDA/INCRA encaminharia ao Ministério da Agricultura uma nova minuta de portaria interministerial para a atualização dos índices de produtividade dos imóveis rurais.

Esta iniciativa era importante para que se estabelecessem os novos índices mínimos de utilização da terra para que ela cumpra a função social quanto à produtividade, segundo a Constituição Federal de 1988 e Lei 8.629/93.

Os índices utilizados atualmente pelo INCRA foram elaborados em 1980, baseados nos indicadores de produtividade das lavouras e dos rebanhos por hectares levando-se em conta o nível técnico da agropecuária, segundo os dados do censo agropecuário de 1975 do IBGE. Estes índices foram inclusive, utilizados durante o governo Sarney na implantação do I PNRA. Hoje eles estão completamente defasados, pois, por exemplo, no estado de São Paulo basta-se produzir 1.900 kg/hectare de milho para que a propriedade seja considerada produtiva.

Entretanto, a produtividade média do milho neste estado na safra de 2005/6, foi de 4.150 kg/ha. E por que até agora estes índices não foram atualizados? Não foram porque não interessa aos latifundiários, pois assim, seus imóveis mesmo com baixas produtividades escapam da desapropriação e da reforma agrária.

Caso o INCRA cumprisse a Constituição de 1988, mesmo com estes índices desatualizados, o Brasil tinha em 2003, um total de 54 mil grandes imóveis rurais ocupando 120 milhões de hectares considerados improdutivos. Portanto, passíveis de desapropriação por não cumprirem a função social. Em São Paulo há mais de 2,5 milhões de hectares improdutivos e, no Mato Grosso mais de 34 milhões de hectares.

No governo FHC, o INCRA solicitou estudos para a Unicamp e depois à Embrapa para fazer a atualização dos índices. Estes estudos indicaram que o índice para São Paulo deveria ser atualizado para 3.000 kg/ha para o milho. Estes novos indicadores foram então, incluídos no documento que a equipe coordenada por Plínio de Arruda Sampaio preparou para o II PNRA, e o governo LULA comprometeu-se a atualizá-los.

Mas, foi somente em meados de abril de 2005, depois das negociações da "Marcha para Brasília" dos movimentos sociais em 2004, que o MDA e o INCRA encaminharam ao Ministério da Agricultura a proposta de portaria para atualização dos índices de produtividade dos imóveis rurais. Entretanto, nem mesmo assim, o então ministro da Agricultura Roberto Rodrigues (e ex-presidente da Associação Brasileira do Agribusiness) concordou com eles. Inclusive, as organizações dos latifundiários protestaram através da mídia afirmando que "o conceito era burro, e que estava tudo errado".

Criado o impasse entre Rosseto e Rodrigues, caberia ao Presidente LULA resolver, isto em abril de 2005. Foi então que prevaleceu a opinião do ministro do agronegócio Roberto Rodrigues, e LULA ficou com os latifundiários, pois, a portaria modificada por técnicos dos dois ministérios desde fevereiro de 2006, não foi assinada, e mesmo assim, Rodrigues saiu do ministério em 2006.

Com a posse de Luís Carlos Guedes Pinto como ministro da Agricultura, todos imaginavam que ele, que fora fundador e presidente da Associação Brasileira de Reforma Agrária - ABRA, iria assinar a portaria conjunta. Ledo engano, pois segundo a mídia no final do ano de 2006, novos estudos teriam sido feitos e os índices propostos estariam sob segredo na Casa Civil da Presidência da República. A conclusão acertada dos jornalistas indicava também, que o presidente LULA pretendia esperar o segundo mandato para aprovar a nova tabela dos índices de produtividade das propriedades rurais.

Mas, a realidade cruel é que com a provável indicação de outro representante do agronegócio para o Ministério da Agricultura, os movimentos sociais e todos os que lutam pela reforma agrária no Brasil, podem, se nada for feito em contrário, continuar a repetirem o mesmo ditado que já viveram no primeiro mandato do governo LULA, "me engana que eu gosto", pois, a portaria com os índices atualizados pode novamente não ser assinada.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

AGORA VAI, MEU BRASIL



::txt::Luciano Viegas::

É desesperador ouvir sempre o mesmo discurso: "Agora temos a oportunidade de escolher novos políticos, de mudar a realidade social do país." Enfiam na cabeça das pessoas que o voto é a arma para a democracia pura, verdadeira, a redenção de toda uma nação,

como se a democracia pudesse se realizar de outro modo que não pela distribuição da autoridade

Entre a velha polarização direita-esquerda, não sei qual é mais repugnante. Os direitosos defendem a manutenção do projeto mundial atual, embora em época de eleições todo mundo concorde que dá pra mudar pra melhor, votando direitinho. No entanto, esse discurso é até compreensível, partindo dessas pessoas.

Agora, aqueles que levantam sua bandeira vermelha autodenominada progressista e que acham que vão mudar uma palha que seja através das urnas, estes me preocupam até mais. Já não se faz mais uma revolução como antigamente, heinhô Batist(ut)a? Eles desapropriarão os meios de produção e as pessoas irão extravasar de pura emoção, nas ruas, os seus orgasmos múltiplos carnavalescos da justiça social. Vão mudar tudo, pacificamente, através do voto.

Como se a coexistência com outros partidos não os obrigassem a formar alianças com quem tem projetos opostos. Como se essa política não fosse essencialmente traçada por interesses econômicos. Dilma e Serra protagonizam a disputa pelo poder (leia-se direito de oprimir) da direita contra a própria direita. Mas poxa vida, não era mais fácil darem as mãos?

Aí dizem que votar nulo é ausentar-se do debate. Primeiramente, eu já estou sendo obrigado a "debater" (entre tantas outras coisas que somos obrigados a fazer). Segundamente, qual é o debate proposto? Se as opções que tenho são essas, me desculpem, já cansei de discutir sempre a mesma coisa. Quem vota nulo propõem um novo debate. No entanto, a maioria das pessoas se recusa a reconhecer a legitimidade dessa decisão, nem estão a fim de debater uma nova proposta de democracia. Ridicularizam o voto nulo, assim como ridicularizam o anarquismo de um modo geral. Aqueles que votam em algum candidato qualquer estão assegurando os seus direitos como cidadãos, veja só. Já aqueles que votam nulo, estão em cima do muro, abdicando do poder de escolha, veja só.

No fundo eu concordo com esse pessoal. Também acho uma palhaçada esse negócio de votar nulo. Só o faço porque sou obrigado. Sabiam que se eu não votar, sem justificar, tenho que pagar multinha básica ? ( além de ficar restrito em outros aspectos mais burocráticos). Querem me falar de democracia sem falar em liberdade.

A política é a ciência de liberdade: o governo do homem pelo homem, sob qualquer nome que se disfarce, é opressão.

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