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# escrituras marginais #
Factos fictícios. Ou não
txt: Arlei "Xuxu Beleza" Arnt
Locovil sofre de esquizofrenia, com esporádicos surtos de violência. Há 19 anos, desde que nasceu, vive na maior favela da capital e convive com violência familiar, comunitária, social e policial. O Complexo da Raposa é uma academia anárquica que vai moldar a já agressiva personalidade de Locovil. Apesar do bigode acadêmico, Locovil ainda não completou o quarto livro escolar. Este ano largou o be-a-bá e o dois-mais-dois no primeiro mês de aula.
Os dois últimos e bons empregos que teve recentemente ele acabou desistindo de trampar. Voltou pro velho bico de sempre: lavar carros, num posto de gasolina, à noite – quando o dono não está presente. Pelo menos pra vida bandida ele não voltou mais.
Loco andava armado e roubava caranga. Sua maior roubada foi cair na mãos dos porquinhos durante uma fuga. Ironicamente aquela caranga roubada lhe destinou para a Febem. De lá saiu meses depois e manteve a paixão por carangas.
Hoje ele não rouba, prefere lava-las. Numa dessas limpezas Locovil deu um azar danado. Os tiras deram uma batida no posto em busca do famigerado Batista, assaltante de bancos e traficante foragido da cadeia. Locovil havia lavado e estava manobrando a caranga de Batista no exato momento da blitz policial. Para seu infortúnio, uma bucha de pó sujou a caranga recém limpa.
Batista retornou a viver no presídio. E Locovil passou a madruga inteira na delegacia, de onde só saiu de manhã. Graças à sinceridade de Batista, que assumiu a sujeira. Esse gesto de Batista mostra a fidelidade da lei anárquica marginal: não adianta só dar remédios pras senhoras, cerveja pra malandragem e cadernos e brinquedos pra meninada se você entrega o companheiro.
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