#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 30 de abril de 2009

JUSTIÇA

# media #



txt: Elaine Tavares

O Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina realizou no dia 28 de abril de 2009 uma discussão histórica, colocando no banco dos réus o oligopólio da Rede Brasil Sul, a RBS. Mas, esta proposta de transformar a maior rede de comunicação do sul do país em ré comum não foi privilégio da direção do sindicato, portanto a ela não se pode reputar nenhuma intenção ideológica. O responsável por esta façanha é o Procurador Regional dos Direitos do Cidadão em Santa Catarina, Celso Antônio Três, que apresentou uma ação civil pública ao Ministério Público Federal contra a empresa dos Sirotski, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica e a União.

Baseado exclusivamente na letra fria da lei, o procurador apela para a tutela dos direitos de informação e expressão do cidadão, a pluralidade, que é premissa básica do Estado democrático e de Direito. Com base nisso ele denuncia e exige providências contra o oligopólio da mídia sustentado pela RBS no Estado de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Segundo Três, é comprovada documentalmente a posse de 18 emissoras de televisão aberta, duas emissoras por cabo, oito jornais diários, 26 emissoras de rádio, dois portais na internet, uma editora e uma gravadora. Ele lembra ainda que o faturamento do grupo em 2006 chegou a 825 milhões de reais, com um lucro líquido de 93 milhões, tudo isso baseado no domínio da mente das populações do sul que atualmente não tem possibilidade de receber uma informação plural. Praticamente tudo o que se vê, ouve ou lê nos dois estados do sul vem da RBS.

No debate realizado pelo SJSC o procurador insistiu que filosoficamente ser é ser percebido e isso é o que faz a mídia, torna visível aqueles que ela considera “ser”. Os pobres, os excluídos do sistema, os lutadores sociais, toda essa gente fica de fora porque não pode ser mostrada como ser construtor de mundos. Celso Três afirma que na atualidade o estado é puro espetáculo enquanto o cidadão assume o posto de espectador. Nesse contexto a mídia passa a ser o receptor deste espetáculo diário, ainda que não tenha a menor consistência. “Nós vivemos uma histeria diária provocada pela mídia e o país atua sob a batuta desta histeria”.

No caso de Santa Catarina o mais grave é que esta histeria é provocada por um único grupo, que detém o controle das emissoras de TV e dos jornais de circulação estadual. Não há concorrência para a RBS e quando ela aparece é sumariamente derrotada através de ações ilegais como o “dumping”, como o que aconteceu na capital, Florianópolis, quando da abertura do jornal Notícias do Dia, um periódico de formato popular com um preço de 0,50 centavos. Imediatamente a RBS reagiu colocando nas bancas um jornal igual, ao preço de 0,25 centavos. Não bastasse isso a RBS mantêm cativas empresas de toda a ordem exigindo delas exclusividade nos anúncios, incorrendo assim em crime contra a ordem econômica.

Sobre isso a lei é muito clara. Desde 1967 que é terminantemente proibido um empresa ter mais que duas emissoras de TV por estado. A RBS tem mais de uma dezena. A Constituição de 1988 determina que a comunicação não pode ser objeto de oligopólio. Pois em Santa Catarina é. Segundo Três, na formação acionária das empresas existem “mais de 300 Sirotski” , portanto não há como negar que esta família controle as empresas como quis fazer crer o Ministério das Comunicações, também réu na ação. “Eles alegaram que a RBS não existe, é um nome de fantasia para empresas de vários donos. Ora, isso é mentira. Os donos são os mesmos: os Sirotski”.

O procurador alega que a lei no Brasil, no que diz respeito a porcentagem de produção local que deve ter um empresa, nunca foi regulamentada, mas não é por conta da inoperância do legislativo que a Justiça não pode agir. “Nós acabamos utilizando a lei que trata do mercado de chocolate, cerveja, etc. Nesta lei, uma empresa não pode controlar mais que 20% do mercado. Ora, em Santa Catarina, a RBS controla quase 100% da informação”.

Aprofundando o debate sobre a ação oligopólica da RBS, Danilo Carneiro, estudioso do sistema capitalista e membro do Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, deu uma aula sobre a formação do sistema capitalista e mostrou como atualmente o capitalismo já não consegue mais reproduzir a vida, tamanha a sua dominação sobre a vida das pessoas e sua sanha por lucros. Desde as cidades-estado italianas, onde o comércio impulsiona a acumulação de lucros, até os dias de hoje a consolidação do capitalismo está ligada à exploração dos trabalhadores e da natureza. Para que isso aconteça é necessário manter as gentes em estado permanente de alienação e aí entram os Meios de Comunicação de Massa. Não é à toa, portanto, que instituições governamentais como o CADE e o Ministério das Comunicações façam vistas grossas ao oligopólio da RBS assim como da Globo. Tudo faz parte da manutenção do sistema.

Sobre a ação na Justiça contra a RBS, Danilo lembrou que hoje no Brasil existem mais de 60 milhões de ações em andamento e isso por si só já dá um panorama do que pode acontecer. Sem uma mobilização política efetiva das entidades e do povo catarinense, essa ação pode se perder no sumidouro da Justiça brasileira.

Na platéia do debate um público muito representativo do movimento social de Florianópolis, tais como representantes do Diretório Central dos Estudantes da UFSC, da União Florianopolitana de Entidades Comunitárias (UFECO), Sindicato dos Previdenciários (SINDPREVS), Sindicato dos Eletricitários (SINERGIA), jornalistas, estudantes, professores. Cada um deles compreendeu que à corajosa atitude do procurador Celso Três, devem se somar ações políticas e de acompanhamento da ação. O Sindicato dos Jornalistas deve se colocar como assistente do Ministério Público, abastecendo-o com informações e as demais entidades vão difundir as notícias e fazer a pressão necessária para o andamento da ação.

Conforme bem lembra Celso Três, esta não é uma ação voluntarista ou ideológica, ela é objetiva e se fundamente na lei maior. Oligopólios são proibidos e as populações de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul tem direitos a uma informação plural e diversificada. Não há amparo legal para a propriedade cruzada, o pensamento único e muito menos para a dominação econômica.

Na senda da fala de Danilo Carneiro, que deixou claro que sob a ditadura do capital é impossível a democratização da comunicação, também assomou entre os presentes a necessidade da discussão e da luta por outra comunicação e outro estado que não esse no qual imperam as relações de dominação. Agora é ficar atento e aprofundar a luta. Sem isso, não anda a ação, e tampouco acontecem mudanças estruturais.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

DEMOCRATIZANDO A INFORMAÇÃO

# águas passadas ou boizébuss #
(ou: secando a RBS)

txt: Eduardo Busss
art: Marexal



Há algum tempo, o editor me mostrou um emílio do velho mestre Wladimir -olha, meu, não é qualquer um que dá pra chamar de mestre. Ele dava parabéns pela lição de mau-jornalismo que NOÉ estava dando. Que bom que ele sacou isso. Na real, não tem nada melhor do que escrever um texto livre de regras tipo "piramide invertida". Essa foi a pior técnica que o curso de jornalismo me ensinou - talvez isso tenha contribuido pra desistir da profissão. É a tal da coisa pro cara burro, o texto que tu faz pro neguinho ler duas linhas - porra, ou lê ou não lê, e se não lê tudo, falhou de quem escreveu. Como profissionais da escrita podem usar uma técnica tão medíocre?

Voltando ao assunto, a gente ainda está esperimentando uma linguagem pra texto, uma mistura de carta, emílio e jornal sensacionalista, sei lá, é um jeito de escrever que não se preocupa com regras gramaticais ou de acentuação ou pontuação (como os profissionais do jornalismo se preocupamn com essas bobagens... pra isso tem editor, e que bom que o nosso não revisa porra nenhuma), não quer saber se as frases são curtas ou longas, ou se a pirâmide tá pra cima ou pra baixo - é quase uma fala escrita. Demonstra honestidade. Como é bom poder dizer "merda" no meio de um texto. A ZH diria: salário mínimo tem um aumento irrisório. NOÉ diria: salario mínimo tem um aumento de merda.

A línguagem da mídia não-marrom ainda está distante da linguagem popular, mas a tecnologia está modificando essas regras. Começam a surgir lternativas à imprensa tradicional, fora de todos os esquemas dos grandes veículos. Em alguns canais alternativos da internet, estão voltando a aparecer textos com opinião, deixando de lado a pretenciosa imparcialidade do jornalismo tradicional - provavelmente porque quem está escrevendo não é do ramo. Sorte da imprensa que ainda precisamos democratizar a tecnologia nesse país. Ainda vão ganhar dinheiro por algum tempo. Mas vão cair ladeira abaixo. O tombo está só começando. Vamos acompanhar toda a trajetória.

Buss

(N.do E.) texto públicado no saudoso Noé Leva Dor, edição 36 e 38, e-zine tosco que deu origem ao atual império O DILÚVIO. Acredita-se que este texto tenha sido publicado no começo de 2002. Talvez o Buss não pense mais desse jeito, mas o que ele disse continua muito atual. Buss pensou bem e não quis completar o curso de jornalismo. Pena que desistiu DO jornalismo. Ele tinha ótimas inversões de lógica e uma sarcástica pena. Observe o gancho "mau-editor" e como ele se refere ao editor.

terça-feira, 28 de abril de 2009

CONEXÃO VIVO



# beagá conection #
Raposas, Galos e Coelhos

txt e phts: Alan Lopes

phts: Fernanda Toquetti

Black Sonora subiu no palco ainda cedo, por volta das 20:00, mas contou com um público gigantesco que agitou desde o primeiro momento. Mandaram o baião funkeado (por definição dos mesmos) de "Yo No Quiero Stress", "Poesia Urbana", "Madêra". Quando Bnegão subiu no palco foi uma loucura total na platéia, mandaram "V.v", falaram logo após, além da camaradagem existente entre o grupo e ele, e do denominador comum que os une, Tim Maia, mandaram "Energia Racional", finalizaram com 'Treta' emendando em "Muito Além", música do Turbo Trio, recente banda de BNegão.



Otto



Talvez um dos shows mais aguardados pelos belorizontinos, Otto subiu no palco cheio de descontração, e logo de cara, apresentou o que seria o grande trunfo da noite, ter ao seu lado, dividido o palco durante o show Pupillo, baterista da Nação e Catatau, do Cidadão Instigado na guitarra, levando o público ao delírio com os clássicos "Samba Pra Burro", "Sem Gravidade" e "TV a Cabo". Ainda mandou ver com duas canções de seu novo trabalho, "Crua" e "Seis Minutos".



Num show de tirar o fôlego do começo ao fim, Otto superou as expectativas, levando muita empolgação pro palco, tendo ainda, no final do show, a participação o cantor paulista Curumin, ou seja, muita expectativa do público, nomes de peso no palco e um show que levou todos ao delírio.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A MORTE DO JORNALISMO

# republic #
Ameaçado por todos os lados, o jornalismo vai acabar?

txt: Alex Primo



É claro que não. O jornalismo não acabará. O que vem morrendo é um certo modelo industrial de jornalismo. Outros modelos precisam ser desenvolvidos para a reinvenção do jornalismo.

Os debates, contudo, são alarmistas, já que as ameaças vem de todos os lados.

O acesso instantâneo e gratuito vem desafiando os jornais em papel (de notícias estáticas sobre um longínquo ontem). Muitos tem fechado suas portas, entrado com pedidos de falência (como fez o Chicago Sun-Times nesta semana), convivido com dívidas crescentes (como o New York Times) ou até mesmo reduzido seus dias de circulação. Este é o caso dos jornais The Detroit Free Press e The Detroit News. Por cancelarem a entrega de jornais nas segundas, terças, quartas e sábados, só hoje (quinta-feira) os seus assinantes poderão ler sobre a queda do presidente da GM, forçada pela Casa Branca. Jornal de hoje com notícia de segunda!

A multiplicação de sites de jornalismo participativo, os blogs, os sites abertos de fontes primárias e as fotos e vídeos de cidadãos comuns parecem estar enfraquecendo a primazia das instituições jornalísticas. As ameaças ao diploma (em votação no Supremo) e a livre publicação na rede por qualquer "amador" parecem também colocar em xeque o papel das faculdades de jornalismo. Será?

A partir de uma perspectiva sistêmica, acredito que os desequilíbrios são o motor da transformação. Acho que o jornalismo e os jornalistas ficaram muito acomodados com um modelo industrial que parecia dar certo na área por tanto tempo. De fato, os salários permaneciam ruins e as vagas insuficientes para todos os formados. Mas, até há pouco tempo, o movimento inercial do jornalismo não parecia muito perigoso.

Enquanto isso, os jornais, revistas e programas de rádio e TV foram ficando iguais demais. Os textos e imagens ficaram pasteurizados. A própria criatividade parecia sofrer com as imposições das técnicas e workflows consagrados.

Quero crer, enfim, que todas as ameaças movimentarão o jornalismo, forçarão sua reinvenção. O jornalismo ficou velho como o jornal de ontem (ou, no caso de Detroit, como o jornal de domingo passado!). Novos modelos de negócios precisarão ser implementados e novos papéis e técnicas precisarão ser incorporados pelos jornalistas.

Logo, acho bobagem qualquer interpretação alarmista. Eu mesmo não poderia sobreviver sem jornalismo! Eu assino dois jornais impressos, assino revistas semanais e mensais, ouço notícias no rádio diariamente e leio de tudo na rede. Desse pout-pourri monto minhas visões de mundo. Só espero que ninguém venha pré-julgar o que leio, impondo que este ou aquele blog ou Twitter não pode ter credibilidade ou é escrito por um "amador". Deixa essa decisão comigo, OK?

sábado, 25 de abril de 2009

BOOM GAIA CAFÉ



# sem destino #

O bar do Zé

txt: Arlei "Xuxu Beleza" Arnt
phts: Melissa Orsi dos Santos


José Luís há três anos e meio montou o próprio bar. Isso mesmo! Tal qual um pedreiro, habilidade que tem e que lhe rende serviços extras, e com a ajuda da esposa e da amiga Isabella Falcetta, que ajudou na decoração, José criou o Boom Gaia Café. Simpático e bem localizado bar que fica numa das pontas externas do Parque da Redenção.

O Boom Gaia tem uma decoração rústica que é tri interessante. Tem iscas de violinha, rara alternativa de comer peixe numa cidade banhada por um rio e há poucos quilômetros da maior lagoa do Brasil. Outro lance legal no bar são as três alternativas para ficar: na frente (calçada), dentro do bar e em cima (terraço).



Alguns clientes já criaram raízes no Boom Gaia, e ficaram amigos do dono. É o caso da dupla Luís e Luciano, que além da cerveja gelada e do papo sobre cinema, ouvem as malucas histórias de José. Tipo aquela do Opala ... bem, deixa assim, isso é conversa entre amigos.



Onde Fica
Rua Vieira de Castro, 02, bairro Farroupilha.

Por Que Ir
Por vários motivos: é do lado da Redenção, a cerveja tem preço acessível, a decoração é caprichada, as iscas de peixe de tira-gosto e v dá pra escolher onde se sentar: na calçada, dentro do bar ou na área descoberta do andar de cima.

Quando Ir
De terça a sexta, a partir das 18h até às 24h; e aos sábados e domingos, das 10h até as 24h

Quem Vai
Durante a semana vai principalmente quem mora por perto e amigos do dono, como o Luís e o Luciano. Como fica ao lado do Parque da Redenção, grande ponto de encontro dos porto-alegrenses no fim de semana, o bar acaba ficando bem movimentado sábados e domingos. A maioria dos frequentadores são jovens.

Quanto Custa
Cervejas por R$ 4,50 e por R$ 5,00.

Contato
51.3331.8511

sexta-feira, 24 de abril de 2009

JOÃO GATO

# a arca de noé #
O incrível animal que ensinava matemática

txt: Jucazito
ilstrç: Henrique Bittencort

“Eu adoro a democracia, sou um professor democrático: eu mando, vocês obedecem”. Assim João Gato miou na primeira aula do sétimo livro, lá no Ginásio. O professor era quase tudo que um professor não poderia ser. Bom de copo, Gato trazia pra aula o bafo da noite. Um fedor de ceva. Muita ceva. Muito fedor. Diz a lenda que numa mañana de carnaval ele sentou no bar do Batata Palha e só vazou após beber 48 cervejas, no dia seguinte.

Além do cheiro de bira, somava-se e multiplicava-se o fedor de crivo. Filtro vermelho. “Dois maços de oliú por dia”. João fumava feito cão, melhor, feito gato. Inclusive na sala da aula. Ninguém reclamava. Nem as freiras. As gatinhas sofriam mais. João era todo carinhoso com elas. Parava do lado de uma, alisava o cabelo com as mesmas mãos que aparava seus espirros, encostava a cabeça dela naquele imenso barril de chopp que ele chamava de barriga e ficava ali, no gozar democrático.

Se as gatinhas sofriam com o assédio e fedor, as ratinhas feiosas e os urubus malandros sofriam com o mau humor do Gato. A vítima mais constante era o Vareta, vulgo Alex. Aquele tipo de aluno que não sabia nada, a não ser falcatruar a prova pra não repetir de ano. Mas quando o professor o chamava para o quadro negro, ficava difícil enganá-lo. Certo dia, Vareta foi ao quadro resolver uma equação. Notando que a conta não ia adiante, João Gato foi mostrando a ele o caminho da roça. “Soma aqui, multiplica ali, isso, vinte e cinco”. Vareta finalizou feliz da vida. João dava risada: “Tudo errado”. “Mas o senhor disse que era assim”. O professor deu sua lição de moral: “Quando eu era pequeno e tinha um gatinho, ensinei ele a não comer. Dois dias depois ele morreu”.

Apesar da cerveja, do cigarro, da brabeza, dos espirros, da pança de fora e da moléstia nas gatas, João era um excelente professor. A aula era dividida em dois períodos: antes e depois do recreio. No primeiro ele ensinava e passava as tarefas, no segundo ele roncava enquanto a gente ria bem baixinho no calcular das contas. Mas aquela pérola de professor democrático, “eu mando, vocês obedecem”, é impossível esquecer. Assim são nossos governantes.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

MAX DE CASTRO



# conection #

Samba + Funk

txt: Luis Henrique Vieira
phts: Rodrigo Avila Colla


Se há algo que deve ser dito sobre o show de Max de Castro, é sobre sua capacidade de interagir com o público de suas apresentações. Pelo menos em seu show no Drakkar (do dia 17.04) em Porto Alegre, Max de Castro utilizou todos os recursos possíveis: repetição de repetição de refrões à exaustão, bate-papo com os músicos e a citação de times de futebol e bandas gaúchas.



Apesar disso, não se pode afirmar que seu trabalho não tem conteúdo. A banda de Max de Castro, com formação enxuta de apenas cinco integrantes, não deixa a desejar. A música do grupo é basicamente uma fusão de funk norte-americano com o samba. O teclado destacou-se pelos timbres, bem como a cozinha demonstrou forte pega e harmonia e o trombone com sua intensidade sonora.

O show ainda mostra muita descontração na execução de temas como “Three Little Birds” e “Don´t Worry, be happy”, onde Max de Castro fecha o show que protagoniza.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

[ponto de vista] SUICÍDIO DE KURT COBAIN É A VITÓRIA DO SISTEMA




txt: Wladymir Ungaretti

“Para a sociedade de consumo, a pobreza é o que pode ser reduzido em termos de consumo. Do ponto de vista do espetáculo a redução do homem a consumidor é um enriquecimento: quanto mais coisas e papéis temos, mais somos. Mas, do ponto de vista da realidade vivida, aquilo que se ganha em poder é o quanto se perde em vontade de realização autêntica. Aquilo que se ganha em parecer se perde em ser e em se tornar.”

Sofremos uma derrota no dia oito de abril de 1994. O corpo de Kurt Cobain é achado por um eletricista que iria realizar consertos na casa onde ele costumava dormir. Um bilhete de adeus é encontrado ao lado do corpo. Acabava de se dissolver o Nirvana. Em 1985 Cobain organizava sua primeira banda, a Fecal Matter (matéria fecal). Teve uma curta existência. É, em abril de 1987, acompanhado por mais dois caras, se apresentava ao vivo na Rádio Comunitária Kaos. Desta apresentação saiu a primeira fita demo da banda. É preciso criticar as revoluções e exaltar as rebeliões.

A editora Conrad, a mesma da coleção Bardena – a arte da subversão para as novas gerações, lançou recentemente “Fragmentos de uma Autobiografia de Kurt Cobain”, de Marcelo Orozo. O autor é um jornalista formado em 1989. Já passou por várias redações em São Paulo. Estes fragmentos são construídos a partir, basicamente, de um outro livro. Estamos falando de “Mais pesado que o Céu – uma biografia de Kurt Cobain”, de Charle R. Cross, da editora Globo. Charle Cross é um jornalista que foi durante algum tempo editor da The Rocket, uma das mais importantes revistas da região noroeste dos EUA, tendo sido a primeira a sacar a importância do Nirvana e a dar uma matéria sobre o grupo com chamada de capa. Ele é autor dos livros “Le Zeppelin: Heaven and Hell”, “Backstreets: Springsteen”, entre outros. Seus textos são seguidamente publicados na Rolling Stone, Esquire e Spy. Cross mora em Seattle. O cara conhece o assunto. Como li em algum lugar, recentemente, o enterro prematuro é a lei do consumismo. Pena que o tema não seja estudado nos cursinhos de publicidade.

Não há nenhuma razão para que se estabeleçam comparações entre os dois livros. São idéias diferentes. O livro do brasileiro, sem qualquer juízo de valor, é de leitura rápida. Traz as letras das músicas em inglês com uma tradução ao lado, o que facilita o entendimento. Com uma contextualização. Enquanto que o livro do jornalista de Seattle é uma biografia no seu sentido mais tradicional. Não são fragmentos. A leitura de um não invalida a leitura do outro.



Em 23 de janeiro de 1988, numa sessão demo, no Reciprocal Studios, em Seattle, o Nivarna num dos climas mais pesados de toda a carreira do grupo gravava “Paper Cuts”, cuja tradução é “retalhos de jornal”.

A letra da música foi escrita a partir de um episódio real. Uma família mantinha os filhos isolados em um quarto escuro, com as janelas pintadas de preto. A porta só era aberta para empurrar pratos de comida e para retirar os jornais espalhados pelo chão para absorver urina e fezes. A letra de Retalhos de jornal diz: “Na hora da refeição/ela empurrava comida pela porta/E eu me arrasto rumo à brecha de luz/às vezes não consigo achar o caminho/Jornais espalhados em volta/Sugando tudo que podem/ Está na hora de nova faxina/ Uma boa lavada/ A senhora que amo como mãe/Não consegue me olhar nos olhos/Mas eu vejo os delas e eles são azuis/ E se erguem e se torcem e se masturbam/ É o que disse/Nirvana/.

Ao contextualizar a história e a letra, o jornalista brasileiro destaca o fato de que a solidariedade de Kurt Cobain com os jovens envolvidos ocorreu muito em função dele também se sentir um rejeitado. Cobain, na ocasião, teria declarado que conhecia um dos aprisionados no quarto, pois que comprava dele pequenas quantidades de maconha. A letra segue: “Janelas negras de tinta/Que raspei com minhas unhas/Vejo outros como eu/ Porque eles não tentam fugir/ Eles levam pra fora os mais velhos/Apontam na minha direção/Eles chegam como um facho de luz/ E levam minha família embora/.

Kurt encerra letra apontando para a solidariedade com os excluídos e condenando aqueles que apenas ridicularizam a situação: E bem depois eu aprendi/A aceitar alguns companheiros de ridículo/Toda a minha existência é para sua diversão/E é por isso que eu estou aqui com vocês!/ Para levá-los comigo/Direto para o Nirvana/.

O progressivo abandono de todo o radicalismo, o abandono de todos os elementos, de fato insurrecionais, em todos os planos, nos joga no reformismo. Nos tempos atuais, este abandono de todas as tradições radicais nos empurra, crescentemente, para a idéia de que as reformas são salvadoras. Nos empurra na manutenção (apenas) das formas de sobrevivência. Sobreviver é a palavra de ordem. Até quando a vida será apenas a luta pela sobrevivência?

Busco a vida. Agradeço aos meus alunos por aprender, por me possibilitarem descobertas: a história de Kurt Cobain e do Nirvana é recente. Peço desculpas (é verdadeiro o que estou dizendo) não consigo escrever de forma mais anárquica. Cada vez mais tenho dificuldades para encenar o papel de professor. É um paradoxo.

“A violência mudou de sentido. Não que o rebelde tenha se cansado de combater a exploração, o tédio, a pobreza e a morte: o rebelde simplesmente resolveu não combatê-los mais com as armas da exploração, do tédio, da pobreza e da morte. Já que a primeira vítima de tal luta é aquele que se compromete em desprezar sua própria vida. O comportamento suicida se inscreve na lógica do sistema que tira seu proveito do esgotamento gradual da natureza terrestre e da natureza humana.”

Nem revolução, nem reforma. Rebelião sempre.

Em um muro de Chiapas está escrito: somos um exército de sonhadores, por isso somos invencíveis.

Mesmo quando perdemos Kurt Cobain.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

BLOGUISMO E JORNALISMO



# jornalismo b #
Um novo caminho ou mais do mesmo ?

txt: Tiago Jucá Oliveira
phts: Thais Brandão
ctrlC+ctrlV: Ale Lucchese
(Jornalismo B on Twitter)

Um importante debate foi promovido pela equipe do blog Jornalismo B semana passada na livraria Letras&Cia. Pra conversar sobre blog e jornalismo, foram convidados os jornalistas/ blogueiros Adriano Marcello, do Celeuma, Marco Aurélio Weissheimer, do RS Urgente, e Roger Lerina, da Zero Hora. Adriano é um dos caras mais talentosos pra expressar uma opinião, seja escrevendo ou falando em público. Marco peca por defender uma visão política que já tomou do povo um chute na bunda. E Roger é um dos exemplos clássicos da medíocre imprensa gaúcha: falar bosta nenhuma sobre nenhuma bosta, e por causa disso virar cult.

Inicialmente cada um relatou a experiência como blogueiro. Weissheimer tomou a frente e começou o debate: “é fundamental tirar o debate só da tela do computador e discutir frente a frente". Segundo ele, "os blogs pode ajudar a qualificar o trabalho dos grande meios de comunicação, oxigenando e estabelecendo novos canais de comunicação". Roger Lerina defendeu que os blogs são um novo caminho e mais do mesmo ao mesmo tempo. Representa o novo mas também alicerça o que está estabelecido. Ele também se mostrou antenado com a mudança dos blogs de fora do país, geralmente liberais e independentes, agregando conteúdos, e se disse satisfeito em ver esta pluralidade aparecendo aqui também. Adriano lembrou que o Cele3uma surgiu com uma insatisfação de não ver em Porto Alegre espaços que publicassem muitas das coisas que queria ver nas mídias estabelecidas.



A parte boa começou quando vieram as perguntas do bom (bom em termos de números, porém em termos de idéias foi possível sentir o cheiro de mofo comunista de alguns). De bate pronto alguém tocou no assunto que eu também pretendia levantar: a atual moda de jornalista processar jornalista, que podemos melhor traduzir como censura. Weissheimer afirmou: "é um absurdo". Lerina, pra não se queimar com a galera nem com a máfia na qual trabalha, se absteve de dar opinião sobre casos específicos, diz que qualquer cerceamento de imprensa é odioso, mas acredita que a Justiça brasileira geralmente age de maneira sóbria nesses casos. Sua meiga opinião logo foi contraposta por Adriano: "não acredito na Justiça brasileira". Cita o caso de Ungaretti como emblemático. De acordo com o blogueiro do Cel3uma, "é pura burrice uma pessoa não aceitar críticas ao seu trabalho, não deve ser caso de justiça".



Os processos movidos contra o blog A Nova Corja também foram debatidos. Um senhor, que poderia ser caracterizado como um espião enviado especialmente pra fiscalizar o debate e defender os da Velha Corja, soltou sua desinformação: "processo de Felipe Vieira contra o Nova Corja aconteceu porque, segundo o blog, Vieira receberia um 'mensalinho' de Prefeituras". Foi preciso que Marco deixasse claro: "quem falou primeiro em mensalinho, sem dizer nomes, foi o próprio Ministério Público". Escuta, vagabundo !



Outros papos mais monótonos foram surgindo, e opiniões mofadas deram o ar da graça através de alguns dinossauros presentes: "bah, a Folha de São Paulo tá ficando de direita". Arriégua, macho! A Folha sempre foi a mais elaborada visão das elites, lido por gente tipo Marta Suplicy, Paulo Maluf, José Serra, José Dirceu, Orestes Quércia. Só a cidadã cubana presente ao debate não sabia disso ainda, por isso ficou surpresa que a Folha "agora tá de direita". Já no fim dei meu ar: "esse couso de censurar alguns blogs, e o total descaso e omissão de órgãos como ARI, ABI, FENAJ, Sindicato dos Jornalistas e dos grandes meios de comunicação, podemos afirmar então que bloguismo não é jornalismo?". Adriano tomou as palavras, muito bem, como é de seu costume: "desses órgãos não se pode esperar nada mesmo. A ARI é patronal, e o Sindicato dos Jornalistas está mais preocupado em não perder emprego nas grandes empresas de comunicação".

domingo, 19 de abril de 2009

CAFÉ DAS FADAS



# sem destino #
Outra dica pro feriadão

txt: Arlei "Xuxu Beleza" Arnt
phts: Melissa Orsi dos Santo
s


Que me desculpem os refinados cafés coloniais de Gramado e Canela. O melhor café colonial que já provei está em Rodeio Bonito, no caminho entre Taquara e São Francisco de Paula, localizado nas proximidades do templo budista. Chama-se Café das Fadas. Pães e cucas caseiros, queijos e salames fresquinhos, leite de vaca e ovos caipiras, doces de frutas plantadas na região, suco de uva e vinho naturais, polenta, batata e aipim fritos. Tudo é delicioso, fresco e natural. O atendimento é simples e generoso.



O dono, Carlinhos, nascido na cidade de Estrela (município gaúcho de colonização alemã), se aproxima simpaticamente da mesa e oferece: "se vocês quiserem uma sopinha de legumes e verduras, um chá de boldo ou macela, é só pedir, fiquem a vontade". Na real Carlinhos é figuraça conhecida dos veraneios em Garopaba-SC, porém nunca imaginaríamos que fosse dono de um café no Rio Grande do Sul. Ele também se surpreende quando vê pela primeira vez a mesa em que estamos sentados: "nossa, parece que estou em Garopaba". Com Carlinhos trabalham a mulher, os filhos e alguns empregados.



onde fica
RS 020 - Parada 178
por que ir
Digamos assim: por que parar no caminho para fazer uma refeição. Bem, o lugar já é lindo por natureza. O Café das Fadas é uma simpática cabana, o preço é super bom e o café da colônia uma delícia, somente com produtos naturais da região.
quando ir
Sábados, domingos e feriados. Atendimento a grupos com reserva antecipada durante a semana.
quem vai
Budistas e curiosos que visitam o templo budista (que fica bem pertinho, cerca de 1 km); viajantes; moradores da redondeza; turistas que vão a Serra Gaúcha.
quanto custa
Café da Colônia por 13 reais. Lanches diversos com variados preços, mas tudo baratinho.
contato
51.9983-4919

sábado, 18 de abril de 2009

TEMPLO BUDISTA



# sem destino #
Uma dica pro feriadão

txt: Arlei "Xuxu Beleza" Arnt
phts: Melissa Orsi dos Santos


Não sou o cara mais apropriado pra explicar e aprofundar qualquer religião. O templo budista em Três Coroas atrai por outras diversas razões. O lugar onde se situa é explêndido, o panorama é um remédio natural que alivia o cotidiano urbano. Lava a alma, a melhor definição. É um pedaço da história. O feriado estava movimentado no dia de nossa visita. Negativamente se diria que virou uma disneylândia. Não. Que bom que as pessoas saiam de seu mundo e vão conhecer o que há. E não necessariamente devam se converter. Talvez aí pode haver casos de modismo. Mas sim admirar, pesquisar, interagir com qualquer cultura estranha a nossa. Por esse motivo já vale a visita.



Quem der uma de olho clínico verá muita arte. Desenhos e esculturas estão em vários pontons. Visão mais atenta levaria horas, dias, analisando cada detalhe. Neste momento está em construção o novo templo. O atual é um teletransporte a outro mundo. Há gavetas e portas que despertam a curiosidade. Sem calçados, nem ruídos metropolitanos, há a impressão de ouvir a história. Assim como os aspectos religiosos, não iremos nos ater a aos fatores históricos. Existem, no entanto, vídeos e textos impressos que dão uma pequena noção através do tempo. Quem tem interesse pesquisará facilmente com as tecnologias de hoje. Mesmo assim, você está cético quanto a uma visita ao tempo, seus aspectos históricos e culturais. Então não aprecie nada da expressão do budismo. Sente em algum banco e aprecie o vale. É garantia de uma paz interior.



Para os que curtem um turismo, há uma loja, embaixo do templo, que vende produtos como incenso, CDs, DVDs, roupas. Ao comprar qualquer produto, você auxilia na sobrevivência da comunidade.

onde fica
RS 020 - Parada 177
por que ir
Pra relaxar, pra passsear, pra uma energia pacífica, pra conhecer.
quando ir
Qualquer dia da semana, entre 9h e 17h
quem vai
Difícil definir, mas muitos moradores da região.
quanto custa
Acesso gratuito.
website
http://templobudista.org/

sexta-feira, 17 de abril de 2009

FRUET E OS COZINHEIROS



# encarte #

O som do fim ou tanto faz

txt: Leandro de Nardi
phts: Fernanda Scur



Na edição # 14 da revista O DILÚVIO trazemos pra você o primeiro disco da banda Fruet e Os Cozinheiros, que conquistou quatro categorias no Prêmio Açorianos 2008. Fruet foi escolhido melhor compositor, tendo ganho também, o prêmio de revelação do ano, melhor projeto gráfico e menção honrosa pela qualidade da obra, o álbum “O Som do Fim ou Tanto Faz”.

A mistura musical e culinária dos Cozinheiros de Fruet tem capacidade de captar muitas sonoridades e transformá-las em outras várias, sem definir um rótulo ou tipo musical. Um disco pra ser ouvido de traz pra frente. Não linear.

Assim como a canção título “Samba da Conexão”, visita musicalidades diversas, o tempo todo, deixando os ouvidos a vontade. Temas do coração com alguma pitada MPB. Uma música para ser lida. A trilha sonora do fim ou, tanto faz!




Ficha técnica


I - Todo Tempo
II - El Mariachi
III - Samba da Conexão
IV - Que se Faz?
V - Despluguei
VI - O Som do Fim ou Tanto Faz

Fruet e Os Cozinheiros:

Marcelo Fruet: voz, violões de aço e nylon, moogs adicionais
Leonardo “Brawl” Marques: contrabaixo
André Lucciano: bateria
Nicola Spolidoro: guitarra

Participações especiais:
Mateus “Mapa do Chile”, Tuti Sagüi, Sassá, Jú Dariano, Daniel Namkhay

Produzido e Arranjado por Fruet e Os Cozinheiros

Artes gráficas e origâmicas: Everson Nazari



REVISTA + CD = R$ 12,00

Onde encontrar:

Livrarias Cultura
São Paulo
Brasília
Porto Alegre
Recife

Banca da República
Cidade Baixa, Porto Alegre

Outros locais:

Confira os endereços e novos locais em odiluvio.com

Encomendas:
odiluvio@gmail.com

quinta-feira, 16 de abril de 2009

SIRVAM NOSSAS GISELES BÜNDCHEN



# manda chuva #

De modelo a toda terra

txt: Tiago Jucá Oliveira



Abordar a cultura gaúcha nem sempre é fácil. Por vários motivos. Boa parcela da sociedade local traz a tona o cidadão orgulhoso da terra, cultivador das tradições, bem letrado e politizado. E dentro dessa parcela há aqueles que acreditam cegamente que aqui é o melhor estado do Brasil. Alguns inclusive idealizam uma pátria independente. Outro dia recebi um e-mail no qual um gaúcho, "dusbom", provava o dito. O Rio Grande do Sul é "bagual" pois aqui nasceram o melhor técnico do mundo (Felipão), a melhor ginasta (Daine dos Santos), a modelo mais bonita e famosa (Gisele Bündchen), o melhor jogador de futebol (Ronaldinho, o Gaúcho, óbvio), seis presidentes da República, o atual técnico da seleção brasileira (Dunga), enfim, uma lista enorme de conquistas do povo rio-grandense. Claro, ele não sabia que quase todos ex-presidentes não foram eleitos pelo voto, nem que o melhor jogador do mundo é um outro Ronaldo, o português. Já o Dunga ...

Na metade do século passado nascia o gaúcho. Não o homem e sua cultura. E sim o mito, a lenda. Numa verdadeira "invenção das tradições", como já bem escreveu Eric Hobasbawm em seu livro de mesmo nome, estava criado a partir de então o gaúcho. E com ele todo um acessório folclórico, cultural e gastronômico que o imortalizava. Claro, tendo como pano de fundo a vergonhosa Guerra dos Farrapos como a grande façanha do nosso povo, embora tenha sido movida por interesses comerciais da elite estancieira da metade sul do estado. E meio século depois toda a invenção estava montada em Centros de Tradições Gaúchas, espalhadas por todas cidades do RS. Conservador, o CTG nunca aceitou misturar coco gelado no chimarrão, numa paródia ao "Chiclete com Banana", de Gordurinha e bem incorporada por Jackson do Pandeiro. Ou seja, ali se cultiva uma parte do tempo, pois o de antes foi sintetizado a partir da imaginação de alguns, e o de depois era um desrespeito ao tradicional.

Esse desserviço que o CTG faz a nós é de um estrago sem igual. Excluíram o passado e a diversidade cultural de variados povos, e hoje não dialogam com as novidades externas e modernas. Por externa entenda-se também os negros, alemães e índios do RS. Irton Marx, o mobilizador do movimento separatista, não é bem aceito pelo CTG, e vice-versa. Persona non grata por ser de origem alemã e não trazer a identidade pampeana na face, Marx também não tem razões para querer "bugres", mestiços, em defesa da superioridade branca em relação a outros mestiços, que são a cara do país do qual quer se separar. Mas a culpa não cabe somente aos tradicionalistas e separatistas. A forte e onipresente mídia da capital é incentivadora de alguns ícones da cultura urbana porto-alegrense. E de modo constante induz seus preferidos. E da-lhe Tangos e Tragédias, Bailei na Curva, Luis Fernando Verissimo, Reação em Cadeia, Paulo Santana, José Fogaça, Nenhum de Nós. Mas, e nós?

Bem, nós também existimos. Não somos os melhores, não queremos deixar de ser brasileiros, não vestimos bombacha (em castelhano bombacha quer dizer calcinha), nem estamos no Jornal do Almoço. Há muita coisa legal sendo feita aqui no estado, e alguns espaços marginais para divulgar e ser visto. Boas bandas locais não tiveram vergonha de pesquisar nosso verdadeiro folclore - não no CTG, mas em quilombolas, por exemplo - e recria-lo vivamente. Como o Serrote Preto, Richard Serraria e a Bataclã FC, que viram no sopapo, um tambor de origem escrava, um instrumento que os torna originais e genuínos.

Este é o Rio Grande às margens do Guaíba: a rica e diversa confusão étnica que aqui se cruzou - de negros a japoneses, passando por guaranis, polacos e vênetos - não pode ser ignorada em nome do fantasioso gaúcho dos pampas. Mas, de modo algum, será dado a entender que nossas riquezas culturais sejam melhores em relação a qualquer outra. É apenas uma iniciativa de mostrar e provar que podemos ser diferentes do modelo padrão, sem querer ser melhor ou verdadeiro ou definitivo. E sem excluir qualquer tentativa de mesclar culturas, seja ele tradicional ou moderno, uruguaio ou brasileiro. Creio que deu pra notar a intenção. Não espere vibração minha se um dia a Gisele Bündchen desfilar dentro de uma mini-blusa com uma bandeira do Rio Grande do Sul estampada no peito e logo acima a frase mais famosa de nosso hino: "sirvam nossas façanhas de top-model a toda Terra".

quarta-feira, 15 de abril de 2009

GERAÇÃO COCA-COLA

# over12 #
O Futuro da Nação




txt: Tiago Jucá Oliveira

A humanidade está cercada de vícios. Todos nós temos algum tipo de consumo cotidiano, sejam eles legais ou não. Uns desafiam a lei pra cheirar, fumar, tomar e injetar suas drogas prediletas. Outros, no entanto, são usuários compulsivos de remédios, chocolates, igrejas, cigarros, novelas e... coca-cola. E talvez não exista no mundo produto mais consumido do que esse líquido preto de fórmula secreta. Quem nunca tomou um gole sequer da bebida ícone do capitalismo? Você? Não minta que é feio!

Mas, por que? Somos vítimas da propaganda diária, onipresente e constante da coca-cola? Ou somos refém do sabor inimitável? E como um produto pode ser ao mesmo tempo tão amado e odiado, tão usado e evitado? Aquilo que a sociologia define ser “esquerda”, no espectro ideológico, é, sem dúvida, o grande inimigo do refrigerante. O acusam de poluir águas, explorar mão de obras infantis, monopolizar o consumo, elaborar mensagens subliminares, etc. Se duvidar existem até provas, relatórios e o escambau para abrir os olhos da rapaziada.

O problema, nesse caso, é que o discurso politicamente correto soa contraditório. Se tudo que causa danos a nossa saúde, à sociedade e ao meio ambiente, ninguém mais andaria de carro, comeria carne, compraria livro. Transar com camisinha... nem pensar, pois além do preservativo em si, há pelo menos duas embalagens de plástico para jogar fora antes de você cobrir o pinto. Mais do que contraditório, é chato pra cacete ficar ouvindo qualquer ladainha. Se a intenção fosse somente informar os malefícios do produto, tudo seria mais assimilado. Num mundo de livre opiniões, é normal e válido expor os pensamentos. Porém o policiamento ostensivo é o grande defeito da esquerda marlborista. Cada um de nós deve ter consciência do que consumimos e de suas consequências. E não um policial dos bons costumes azucrinando no que devemos ou não fazer. Ou então começar a liçao no quintal de casa, lá na China comunista, onde mais de um bilhão de pessoas tem todo direito pra beber coca-cola e nenhum pra reclamar.

Somos os filhos da revolução



Renato Russo já havia eternizado a principal característica de nossa geração, que “desde pequenos comemos lixo comercial e industrial”. A coca-cola é o melhor lixo produzido nos últimos cem anos. No entanto, não é só o inigualável sabor que nos fascina. Ninguém até os dias de hoje soube unir o intangível do sabor, da sensação e da marca com o tato da garrafa e de seus itens marketeiros. Crescemos juntando tampinhas para trocar por ioiôs e mini-garrafinhas (que os amiguinhos mais sem noção não resistiam e bebiam sabe-se lá o que). As campanhas publicitárias, na maioria das vezes, são de um refinado acabamento e indução ao consumo e idolatria. Sempre coca-cola, emoção pra valer, e outras pérolas tão simples e claras, e, paradoxalmente, envolventes. A própria garrafa vazia, com suas curvas pegajosas, é um monumento.

Porém saco vazio não fica em pé. De nada adiantaria a propaganda se o produto fosse uma baré-cola. O fato é que o lixo dos lixos é um luxo. Para uns é remédio que cura ressaca, caimbra, dor de cabeça e outros males. Se há 30 anos uma garrafa de um litro satisfazia toda família na feijoada de domingo, hoje todo dia é de encher a geladeira com as pets de, por enquanto, três litros. O vício aumentou e seu consumo parece estar desenfreado, descendo a lomba em ritmo alucinado. Mais alucinante quando era misturada com cachaça e formar o famoso tubão, a tal bebida da revolução, que nossos guerrilheiros escondiam do policiamento da pepsi, na tentativa de enlouquecer durante as noites de algum fórum social realizado em Porto Alegre nos últimos anos.

Você não tá entendendo nada do que eu digo?



Nenhuma marca de qualquer produto que seja foi tão cantada que nem a preta bebida. O mito se faz também por quem o consome. E principalmente por aqueles que o imortalizam. Se “você traz a coca-cola”, o mano Caetano toma, antes de você botar a mesa. Ou a titânica e non sense “ babi índio enjoy selva coca cola”. Nara Leão também já cantou sobre a pérola negra: “laranja da terra, coca-cola da China”.
Uma outra vertente trocou o chiclete com banana de Gordurinha, pioneira alusão á fusão cultural entre brasileiros e americanos, por uma outra mistura de sabores conceituais. Um exemplo disso é a letra de “Caboco.com.br”, de Erivan Araújo, Mário Filho e Naldinho Braga. “Caboco me dê seu e-mail ligeiro / Vamos navegar na mistura com-fusão / Vou mandar rapadura made in nova york / Me mande mc´donald com carne de bode / É coca-cola, é cajuína”.

No mesmo estilo de mistura maluca encontra-se a composição de Arleno Farias, “Coca Cola com Cocada”: “E nessa fusão de coca-cola com cocada / Descriminação cultural não tá com nada”. Um novo gênero musical, o “coke bit”, a incentivar a junção anteriormente propagada por Pixinguinha, Jackson do Pandeiro, Novos Baianos e Chico Science, porém com outros elementos.

Somos burgueses sem religião, o futuro da nação




A lendária banda A Barata Oriental, do dharma lover Nenung, brincava com a bebida no final dos anos 80. “Coca ou cola, é só questão de nível social / cola ou coca, tudo se cheira igual”. E dá barato sim. É o grande e legitimado e combatido e idolatrado vício de nossa geração. No Brasil o caso se acentua pela antropofagia cultural que está no DNA da nação. Criamos o caminho inverso, do qual ainda não sabemos o significado das consequências.

A Legião Urbana sabia disso. Queria isso. Ao rivalizar nosso costume contra nossa vocação antropofágica, Renato Russo conclamou após os goles de coca-cola de seus contemporâneos: “Mas agora chegou a nossa vez / Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês”. Nem mesmo o inventor da coca-cola imaginou o vômito azedo de uma ressaca secular. Quem não a coca aí na geladeira, que atire a primeira pedra!

terça-feira, 14 de abril de 2009

FÁBRICA DE MENTIRAS

# conection #
A injustiça e o privilégio no reino da comunicação
txt: Repórter Popular



Mídia ilegal chama comunitárias de piratas

A comunicação social brasileira vive momentos difíceis. Se na ditadura militar tive-mos de enfrentar a censura, agora, na democracia neoliberal, confrontamos a injustiça e o privilégio. A maior parte das emissoras comerciais de rádio e TV estão com suas outorgas vencidas. Ou seja, são ilegais. Embora estejam fora da lei, continuam a receber patrocínio público e não sofrem repressão da Anatel.

É o inverso do que acontece com as rádios comunitárias. Campeãs de audiência nas classes C, D e E, estas emissoras, reguladas pela Lei 9612/98, levam de cinco a sete anos para ter sua outorga provisória e sofrem pelo menos quatro repressões ao longo deste período. A cada batida da Anatel, equipamentos são roubados, a propriedade coletiva é invadida e comunicadores populares são intimidados e freqüentemente presos.

A comunicação comunitária é um direito constitucional. A criação de um sistema público não-estatal de comunicação está garantida no Capítulo 5º, Artigo 223 da Constituição. Como o Estado não garante de forma justa o direito à informação, comunicação e cultura, o povo faz valer na marra.

Acreditando no papel do jornalismo como essencial para a democracia, enviamos 11 perguntas para 38 dos mais conhecidos jornalistas do Rio Grande do Sul. Simplesmente nenhum profissional da notícia emitiu sua opinião. Sequer nos responderam. Isso só comprova o que já sabíamos. Existem “jornalistas” e JORNALISTAS! Na mídia comercial impera o jabá (matéria e opinião pagas), a chantagem e a postura chapa branca (puxação de saco dos governos para não perder privilégios).

Uma vergonha para o nobre ofício de informar e formar opinião. Mas não há de ser nada. Do lado de cá, sobra valentia diante de tanta covardia e omissão.


Lista das maiores empresas de comunicação gaúcha com outorga vencida segundo a Anatel:


- Entidade
- Data Outorga
- Data Validade

Rádios AM – Ondas Médias


NORTE SUL RADIODIFUSAO LTDA
01/11/1993
01/11/2003
PORTAL RADIODIFUSAO LTDA
01/05/1994
01/05/2004
RADIO E TV PORTOVISÃO LTDA
01/05/1993
01/05/2003
RADIO ESPERANCA LTDA
01/05/1994
01/05/2004
RADIO GAUCHA SA
01/11/1993
01/11/2003
RADIO GUAIBA LTDA
01/05/1993
01/05/2003
RADIO PIONEIRA STEREO LTDA
01/11/1993
01/11/2003
REDE POPULAR DE COM. LTDA
01/05/1993
01/05/2003
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RS
01/11/1973
01/11/1983

Rádios FM – freqüência modulada

DIGITAL RADIODIFUSAO LTDA
13/07/1998
13/07/2008
FUND. CULT. PIRATINI RADIO E TELEVISAO
24/06/1985
24/06/1995
FUNDACAO PASTORAL INTER MIRIFICA
30/09/1988
30/09/1998
NORTE SUL RADIODIFUSAO LTDA
19/03/1995
19/03/2005
RADIO ATLANTIDA FM DE PORTO ALEGRE LTDA
19/03/1995
19/03/2005
RADIO E TELEVISAO BANDEIRANTES LTDA
06/07/1987
06/07/1997
RADIO E TV PORTOVISÃO LTDA
05/12/1984
05/12/1994
RADIO GUAIBA LTDA
09/08/1986
09/08/1996
RADIO ITAPEMA FM DE PORTO ALEGRE LTDA
01/05/1994
01/05/2004
RADIO PIONEIRA STEREO LTDA
01/05/1994
01/05/2004
RADIO PORTO ALEGRE FM LTDA
27/09/1988
27/09/1998
RADIO UNIVERSITARIA METROPOLITANA LTDA
01/05/1994
01/05/2004

Televisões

EMPRESA PORTOALEGRENSE DE COM. LTDA
17/11/1992
17/11/2007
FUND. CULT. PIRATINI RADIO E TELEVISAO
10/12/1989
10/12/2004
RADIO E TV PORTOVISÃO LTDA
05/10/1992
05/10/2007
TELEVISAO GAUCHA SA
05/10/1992
05/10/2007
TELEVISAO GUAIBA LTDA
19/04/1989
19/04/2004

Para consultar quais emissoras de Rádio e TV estão com a outorga vencida, basta acessar >>>> AQUI <<<<<:

segunda-feira, 13 de abril de 2009

CHARME CHULO

# conection #
O caipira é nosso punk



txt: Junior Bellé
phts: Aline Vessoni


A culpa é do Tião Carreiro. E do pagode do Pardinho. Doze anos após se encontrarem no Circo Rapa Rapa em 1954 e formarem a mais inovadora dupla do sertanejo de raiz, resolveram abrir a porteira para o "Boi Soberano". Ele galopou por trinta e sete primaveras até atropelar os tímpanos dos primos Leandro Delmonico e Igor Filus. Os dois jovens acabavam de desatolar da rebeldia punk ao descobrirem que aquela história de romper padrões era, na verdade, o padrão da rebeldia. Foi então que em 2003 a viola de Pardinho dilatou os acordes eletrificados de Clash, Cohen, Bowie, Smiths e Legião que embalavam as sinapses musicais dos primos. Tudo acabou misturado num liquidificador paranaense e assim nasceu o Charme Chulo: "a gente escutou uma moda do Tião Carrero e falou 'meu deus, isso tem a ver com a banda'. Não foi Bob Dylan nem Johnny Cash, foi Boi Soberano, uma música que marcou muito o começo da banda", explicou Leandro, fundador, guitarrista, violeiro e junkie box brega da banda.

É por isso que dizem por aí que a curitibana Charme Chulo é uma mistura do punk inglês dos 1980 com a viola do interioRzão véio. Vem desta mistura escandalosa o embrião original da banda: é rock – mas caipira -, é caipira – mas cosmopolita -, é indie – mas nem tanto -, é moderno – mas chulo -, é chulo – mas charmoso -, é Charme Chulo – mas sem clichês baratos como este! É por isso que os etiquetam nas resenhas musicais como pós-punk rural, folk tupiniquim, rock caipira. Grande parte do charme vem das dez cordas em cinco pares, A Viola, "que foi inserida dentro do conceito da banda, ela é um dos elementos do nosso som", anotou Igor, vocalista, arquiteto, fundador e o penteado oitentista charmoso do Charme.

"A gente tinha a necessidade de algo paranaense, o que a gente enxerga como caipira. Porque, bem, tem o fandango no litoral, e a gente tem alguma coisa que lembra o fandango, mas não é algo significativo no Brasil. Por exemplo, Londrina e Maringá, o noRtão ali é muito caipira, e o sul é gaúcho, então a gente fez algo com sanfona, acordeão também", Leandro comenta sobre a raiz caipira que originou o Charme, e que será o tutano do segundo álbum da banda. Sem produtor, data ou nome definidos, a única certeza é que a partir deste próximo disco, o Charme vai soar mais "Mazzaropi Incriminado" e "Polaca Azeda" e menos "Não deixe a vida te levar". Ou seja, nada de bipolaridades como "Romaria dos Desvalidos" e "Barretos".



Além disso, a trupe paranaense pretende mexer num detalhe interno importante: é possível que Rony Jimenez – baterista e a aura punk da banda – e Peterson Rosário – baixista e aquele brado Helena Meirelles do back vocal – "já nesse segundo disco comecem a compor junto, talvez já tenha música deles também", explica Igor. Mas enquanto os dois vão se integrando à banda e assimilando a chulice charmosa, melodia e letra permanecem a cargo de Igor, e o instrumental com Leandro: "bem no comecinho o Igor compunha muito mais, depois a gente começou a ver que eu vindo com uma idéia e ele pegando essa idéia e desenvolvendo ficava melhor, se tornou meio que uma fórmula pra gente, com exceções de músicas que eu componho inteiras, mas essas são exceções. E é claro que o Rony e o Peter arranjam com a gente, cada vez mais a banda vem absorvendo as influências deles e futuramente eles vão assinar musicas também". O objetivo, pontua Leandro, era chegar ao primeiro disco com algo definitivo, Peterson e Rony são essa definição, "hoje não dá pra imaginar a banda sem eles, a gente formou uma banda MESMO".

quarta-feira, 8 de abril de 2009

ZEROLÂNDIA PROMOVE UMA GUERRA

# ponto de vista #
Os verdadeiros criminosos de guerra



txt: Wladymir Ungaretti

Observem com atenção. Existe uma idéia e uma subjetividade sendo passada aos leitores. As duas fotos acima são da contracapa de Zerolândia (jornal Zero hora), edição de 12.09.2008. A palavra GUERRA esta associada à cidade do RIO. E a palavra PAZ está associada à cidade de NOVA YORK, aos americanos. O país mais violento do mundo está associado à palavra PAZ. É uma piada. E, o Rio de Janeiro, cidade cuja imagem tem sido trabalhada como sendo símbolo da violência, passa por mais uma GUERRA. Não importa qual é a GUERRA. GUERRA É GUERRA.

No entanto, na página interna, a matéria descreve uma situação e o título é "SEM CONFRONTO, tropas ocupam favelas no Rio". Uma GUERRA SEM CONFRONTO. Uma situação que poderia estar ocorrendo em Alagoas, por exemplo. Ou em Pernambuco. A foto é de soldados em posição de tiro. Não tem como o leitor não introjetar uma determinada subjetividade, reacionária. Pela repressão.

Observem, agora, como os jornais "O Estado de São Paulo" e "Folha de São Paulo" tratam da mesma questão, em suas respectivas capas. Não estamos afirmando que um jornal seja melhor do que outro.



A foto acima é da capa do jornal "Estadão", edição de 12.09.2008. Os soldados não estão, em princípio, em posição de combate. O cenário ao fundo é de miséria. E o título: "RIO: TROPAS PARA GARANTIR O VOTO." Não passa a idéia de GUERRA. Não estabelece uma comparação com a PAZ reinante em Nova York. Na página A11 temos uma foto de blindados com soldados em posição de patrulhamento. O título é "Exército nas favelas não atrai candidatos.”



A foto acima é da capa do jornal "Folha de São Paulo", edição de 12.09.2008. O título é "Operação Belezura". A imagem de fundo é um cartaz que passa uma idéia "bonita". De PAZ. O texto é "soldado patrulha bairro pobre da zona oeste do Rio, no primeiro dia do 'manto de segurança' formado por Exército e Marinha para garantir processo eleitoral em 7 favelas (...)" E a foto (interna) é de um soldado em de atitude patrulhamento, tendo ao fundo crianças brincando. Um clima de PAZ.

JORNALISTA trabalha, permanentemente, com noções de comparação. Nunca é demais lembrarmos que o leitor médio não lê mais do que um jornal. E, por isso mesmo, o leitor médio tem poucas chances de sacar a sacanagem, diária.

É o pessoal diplomado que produz essa merda. São criminosos de GUERRA.


#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

Você pode:

  • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

  • AtribuiçãoVocê deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

  • Compartilhamento pela mesma licençaSe você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob licença similar ou compatível.

Ficando claro que:

  • Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais.
  • Domínio Público — Onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
  • Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
    • Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
    • Os direitos morais do autor;
    • Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
  • Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página.

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