:: txt :: Tiago Jucá ::
Era um vez uma cidade pacífica chamada Cloroquinópolis que num belo dia foi invadida pelos exército de Corona Town, cidade vizinha, pegando todos moradores de surpresa e desarmados.
Os especialistas de Cloroquinópolis alertaram Bozo, o prefeito, que era necessário armar seus soldados com armas e munições para combater o inimigo e disponibilizar aos cidadãos coletes à prova de bala para não morrerem.
Mas Bozo fez ouvido de mercador e não deu bola para o alerta:
- Isso é só uma batalhazinha.
Aos poucos soldados e população civil foram sendo atingidos. Muita gente ficou ferida e várias pessoas morreram. Hospitais cada vez mais lotados e cemitérios quase sem mais espaço pra enterrar os mortos. Bozo, porém, seguia negando os efeitos da guerra durante as entrevistas coletivas à imprensa:
- Eu com meu histórico de atleta...
- Mas, prefeito, tem muita gente morrendo!
- E daí, não sou coveiro.
As mortes e as internações aumentavam à passo de lebre enquanto a prefeitura tratava a coestão em andar de tartaruga. Os ataques de metralhadoras, fuzis, bombas, etc não cessavam. O cenário era desolador. Os secretários de defesa que até então procuravam soluções reais pra guerra foram demitidos. Acabou por nomear um médico pra comandar seu exército. E aos que reclamavam da insana atitude que não salvava a vida de ninguém, ele respondeu:
- Bando de maricas!
Até que um belo dia Bozo reagiu e apresentou à sociedade uma arma pra combater os invasores:
- Esta é a hidroarco-e-flechiquina. Com ela vamos enfrentar esse inimigo que mídia inventou.
A novidade, que na verdade era uma antiga arma pra enfrentar tribos rivais, não deu certo. As pessoas continuavam morrendo. E o número de feridos só aumentava. Mas Bozo, além de negar os fatos, vivia festejanto com os seus amigos como se não houvesse guerra. E aproveitava pra fazer propaganda de uma arma ineficaz contra um poderoso arsenal bélico do inimigo que dizimava o povo cloroquinopolitano. E, contrariando à indústria armamentista, que tinha as melhores armas e munições pra batalhar, o prefeito e seu médico secretário de defesa ignoravam o óbvio:
- No tocante dos preços das munições, enquanto isso dae não diminuir, não vamos comprar nada.
- E vamos esperar enquanto nossa gente morre?
- Por que tanta ansiedade?
Num dia tipo hoje, de verão, finalmente a prefeitura anunciou que vai comprar milhões de armas aprovadas pelas melhores instituições de guerra. Infelizmente, não há ainda munições pra calibrar as metralhadoras. Soldados e cidadãos seguem desamparados. Mortes que não param. Hospitais mega lotados de gente ferida e outras tantas na fila esperando por uma vaga.
Isso que dá um prefeito que nega sua capacitada indústria bélica, ignora os estudos sobre guerra e, ainda por cima, nomeia um médico pra secretário de defesa.
- Malditos direitopatas, acreditam que se chegar alguém na casa deles com um vírus mortal, é só dar um tiro que a pandemia acaba.
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