#CADÊ MEU CHINELO?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

[conection ] PROFISSIONALISMO NA INTERNET



::txt::Mauricio Pinzkoski::

Você abre o seu negócio. Pensa no nome, local da loja ou sala, decoração, como e o que vai vender e faz a inauguração. Os clientes que imaginava não entram. As vendas não acontecem e o seu capital de giro está acabando.

Essa é uma simulação do que acontece com diversos empreendedores e empresários em todo lugar, em especial no RS. Não há planejamento mínimo e as coisas começam a ficar tão difíceis que a falência é inevitável. Cenário semelhante acontece na internet.

O “boom” da internet já passou. Quem não se preparou para imprevistos, em um mercado dia a dia mais profissional, vai fechar seu site assim como fechou a loja.

A internet é cheia de armadilhas aos empresários de primeira, segunda...terceira viagem. Por quê? Porque todos os dias novas e dinâmicas ferramentas são disponibilizadas para que o relacionamento com seu público foco seja nutrido. Sim, todos os dias é preciso que haja esse movimento e tudo resulta em números. Essa é a grande vantagem da internet que muitos pensam ser apenas virtual. Não! Ela é tão real quanto a fachada da sua loja que acabou rasgando com o último vento que bateu. Mas é bom deixarmos claro que ninguém é obrigado a entender de tudo. E também os empresários não devem pensar que sabem de tudo. Logo, qual a solução para esse impasse? Investir em profissionais capacitados teórica e tecnicamente.

Por isso, na hora de se “aventurar” empreendendo seu dinheiro suado, pense bem. Pense e evite perdas desnecessárias de tempo e dinheiro. Contrate profissionais que resolverão essas e outras situações. Afinal, médico não conserta motor, livreiro não pesca, contador não entende de propaganda e empresário não precisa saber de comunicação digital. Um Relações Públicas ou Jornalista sim.

[conection] MARIANA E TULIPA EM PORTO ALEGRE


::txt::Aline Dias Bernardes::
::phts n vd::Tais Castro::

A noite da última quinta-feira no Opinião, foi uma noite de estreias. Foi a primeira vez de Tulipa Ruiz e de Mariana Aydar nos palcos gaúchos e a primeira vez que apresentaram um show juntas no Brasil. Apesar do modesto número de pessoas na plateia, as paulistas apresentaram shows descontraídos e demonstraram que o palco é seu habitat natural.

Mesmo sendo uma artista independente, Tulipa já tem seus fãs fiéis. O público cantou junto com ela todas as músicas do seu primeiro e único disco, “Efêmera”. Tulipa garantiu um dos momentos mais descontraídos do show, quando o telão falhou e precisou improvisar, ela mesma foi passando as “plaquinhas” com algumas palavras-chaves da letra de “Às Vezes”.

Interagindo sempre que possível com a plateia, Tulipa comentou a respeito da alegria de finalmente estar se apresentando em Porto Alegre. Contou que Mariana e ela haviam percorrido várias rádios locais durante a tarde e que a fala que mais havia se repetido era sobre “as novas vozes da MPB”. Ironicamente falando em homenagear um desses novos compositores, Tulipa canta “Da Maior Importância” de Caetano Veloso.

Qual não foi a surpresa do público quando no bis, Tulipa chamou ao palco seu amigo e vizinho em São Paulo, Filipe Catto. Repletos de gestos de carinho, juntos cantaram “Cada Voz”, encerrando assim o primeiro show.

Mariana Aydar foi recebida por uma plateia já cansada e que não conhecia assim tão bem suas músicas. Cantando canções do seu mais recente disco “Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo” e sucessos dos dois anteriores, ainda assim Mariana demonstrou estar inteiramente à vontade. Em certo momento disse estar cansada do salto, tirou as botas e seguiu o show de pés descalços.

Também dividiu o palco com Filipe Catto, cantando juntos “Passionais”, música presente no álbum mais recente da cantora. Canções como “Vai Vadiar” de Zeca Pagodinho, “Deixa o Verão” do Los Hermanos e “Zé do Caroço” de Leci Brandão, já consagradas e regravadas pela cantora, foram as mais cantadas pelo público.

No camarim, em uma conversa após o show, Mariana confirmou que irá participar da gravação do DVD de Leci Brandão e que futuramente também pretende lançar um. Confessou que desde o lançamento de seu primeiro disco, em 2006, tinha vontade de vir a Porto Alegre, mas que trazer um show até aqui é muito difícil. Ela acredita que o bairrismo seja um dos motivos de, pelo menos aparentemente, o público gaúcho parecer fechado a artistas pouco conhecidos e de fora do estado.

Tulipa Ruiz e Mariana Aydar já haviam se apresentado juntas outras duas vezes, em Lisboa e em Bogotá. Como amigas estão acostumadas até mesmo a dividir a banda. Com timbres e estilos musicais não assim tão parecidos, ambas cativam o público à sua maneira. Lamentável foi só o fato de Opinião estar praticamente vazio mesmo servindo de palco para duas cantoras tão talentosas.

assista ao vídeo abaixo


*essa reportagem é dedicada a Carolina, do Opinião, pela falta de profissionalismo em relação à imprensa. O local mais apropriado pra ela trabalhar é num puteiro. Grossa, e sem a mínima humildade pra admitir que errou. A reportagem d'O DILÚVIO também queria cobrir o show de Felipe Catto, mas graças a essa cadela não foi possível. 

Comentário de Tiago Jucá Oliveira. Pode processar. Au au.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

[do além] ÍNTIMO DE BILHÕES



::txt::Julio Verne::


Li que cientistas conseguiram transmitir eletricidade sem fio. Encontrei essa notícia num canto de uma página de um jornal e depois a vi sem grande destaque em um portal. Cliquei para ler os comentários sobre essa auspiciosa descoberta. “Agora que a gente vai fritar mesmo kkkkkkk.” “Finalmente a bateria do meu celular não vai acabar antes do meio dia.” “Onde compra?”.
Não encontrei ninguém espantado. Nenhum comentário especulou sobre o impacto que essa descoberta poderá ter no desenvolvimento de novos produtos, no desenho das cidades e na ocupação de áreas remotas do planeta. Todos já dão como certo que esse era um passo inevitável dos avanços científicos. Assim como ninguém mais se deslumbra com as milhares de maravilhas tecnológicas que fazem parte do cotidiano do habitante do século XXI. Pelo menos é isso que descobri, recorrendo a uma ferramenta de pesquisa que no intervalo de 0,23 segundos me ofereceu 358.4560000 resultados.

A vida do escritor de ficção científica não está fácil. Não que ela tenha sido algum dia. Mas esse gênero que ajudei a construir e consagrar, dependia das impossibilidades tecnológicas para manter o seu fascínio. Se tudo é possível de ser realizado, não há mais ficção científica, mas apenas ficção.
Muitas das predições contidas em meus livros, como viagens à lua e submarinos, não só se concretizaram, como se sofisticaram ao extremo, superando até a minha prodigiosa imaginação. O problema é que hoje você imagina algo e quando vai pesquisar ela já existe. Por isso, vou abandonar as engenhocas e me dedicar a prever ficcionalmente comportamentos sociais. Esses ainda causam espécie.

É o caso da privacidade. A vida íntima já teve valor. Hoje ela é exposta voluntariamente nas redes sociais, nos programas de TV e nas revistas de fofocas. Até a reprodução é assistida. Meus contemporâneos ficariam de queixo caído em saber que virou um hábito, tão corriqueiro como escovar os dentes, informar, para conhecidos e desconhecidos, a onde está, o que está fazendo, o que está vendo e o que está pensando.

Prevejo que, num futuro não distante, a privacidade não será uma questão para a maioria das pessoas. Ninguém se importará em preservá-la. Pudores serão deixados de lado. Haverão redes sociais, baseadas em geolocalização, para compartilhar a realização das necessidades fisiológicas. “Simone acabou de urinar 102 ml em Ribeirão Preto.” Mães acompanharão a feitura da lição de casa dos filhos pelo feed de pensamentos. Tratamentos de canal serão transmitidos ao vivo e com espaço para comentários. “Vamos ver se agora ele cuida mais dos dentes”. Aplicativos medirão e postarão a performance sexual dos praticantes com gráficos que analisarão o desempenho do dia, mês e do ano, para os casados.

Quando esse dia chegar, seremos todos íntimos e desinteressantes. Pois já não representaremos mais nenhum mistério para o outro.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

[agência pirata] XUXA, A NOVA VÍTIMA DO SENSACIONALISMO DO FANTÁSTICO



::txt::Nina Lemos::

Antes de tudo, eu não vou ser analista da Xuxa. O Brasil inteiro já se coloca nesse papel agora. Todas as pessoas do país falam hoje (em tom de especialistas ou de julgadores) sobre a entrevista que a apresentadora deu ontem para o Fantástico.


Xuxa chorou e disse que foi abusada sexualmente com câmera dramática, cenário dramático e trilha dramática. Tudo ali cheirava a sensacionalismo. A chamada, de que Xuxa revelaria coisas inéditas, já soava como puro circo sensacionalista barato armado pelo ainda mais “importante” programa dominical do Brasil.


Xuxa ter sofrido abuso é muito triste. Mesmo. Ela chorar na TV também. Mas isso não é exatamente novidade. Ela sempre usou a mídia como divã. E ela não é a única. Muitas celebridades usam, sim, a imprensa, a TV, para tentar se resolver. Não sou capaz de dizer por que uma pessoa faz isso. Mas sou capaz de entender que a culpa não é só dela.


A mídia e os fãs, esses “amigos da onça”, estão sempre apontando as câmeras para você. São sempre carinhosos, afinal, te amam, se importam e querem saber ABSOLUTAMENTE TUDO SOBRE VOCÊ. Só que essa mesma gente que te ama um dia vai te usar e pode te matar.


De novo. Eu não vou analisar a vida da Xuxa. Essa hora mesmo, enquanto escrevo, todo mundo já está fazendo isso. E tem mais. O que ela disse não me assusta. Faz parte da trajetória de alguém que sempre se expos. O que assusta é o sensacionalismo do Fantástico e da TV Globo com uma das suas funcionárias mais rentáveis (se não está rendendo tanto, desculpem, já rendeu mais que o suficiente por muito tempo).


Mas não. É preciso aumentar o ibope. É preciso ganhar dinheiro. Faça um exercício. Imagine tudo o que a Xuxa disse escrito em uma revista ou em um jornal. Ela contar que sofreu abuso continuaria triste. Mas não seria tão chocante. O Michael Jackson ter a pedido em casamento seria apenas uma historia curiosa e quase engraçada. Ela ser solitária? Normal. Quantas estrelas solitárias existem por aí?


Mas com aquela luz. Aquela câmera próxima. Aquela trilha. Tudo pode virar filme de terror. E virou. No twitter, as pessoas BRIGARAM por causa da entrevista. Se brigamos por causa de uma entrevista dada por uma apresentadora de TV para um programa dominical, quem somos nós para chama-la de louca?


Pelo jeito não foi só a Xuxa que caiu no jogo do Fantástico. Nós, telespectadores, também caímos. E, na dúvida, saímos chamando a mulher de maluca. E esquecemos que aquilo era um programa de televisão usando o sensacionalismo mais barato.
Na internet, as pessoas dizem que estão com vergonha alheia da Xuxa. Eu também estou com vergonha alheia. Só que é do Fantástico.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

[agência pirata] CULTO AOS HERMANOS




::txt::Mariana Peixoto::


A hora é de correr para o abraço. Cinco meses depois de anunciada, a turnê comemorativa dos 15 anos do Los Hermanos chega a Belo Horizonte. Depois de tanta expectativa, não há muito mais o que dizer, tanto que Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante, Rodrigo Barba e Bruno Medina pararam de dar entrevistas desde que a temporada de 24 shows começou, em 20 de abril. Por aqui, no Chevrolet Hall, a partir de amanhã, serão três shows todos com ingressos esgotados (a procura foi tanta que a primeira noite esgotou-se em poucas horas do início da venda oficial, em janeiro).

E desde o primeiro show a mesma história vem se repetindo nas capitais em que a banda toca. Apresentação de quase duas horas que abrange o repertório dos quatro álbuns – Los Hermanos, 1999; Bloco do eu sozinho, 2001; Ventura, 2003; e 4, 2005 –, traz alguma coisa da fase solo de Camelo e também de Amarante (músicas inéditas, ainda sem nome, que devem estar no disco que ele lança no segundo semestre). Entre os hits – O vencedor, Retrato pra Iaiá, Todo carnaval tem seu fim, Pierrot – há espaço para lados B (como Do sétimo andar e Conversa de botas batidas). 

Mesmo que obedeçam a esses critérios, cada show vem ganhando um “momento”. Em Brasília, por exemplo, a noite terminou ao som de Tempo perdido. Não deixa de ser uma escolha certeira, uma vez que Los Hermanos, desde o fim da Legião Urbana, foi a única banda que se tornou objeto de culto em todo o território nacional. Há espaço para algum improviso, tanto que em Recife a banda tocou três canções a mais do que o planejado (foram quase três dezenas de músicas).

Imprevisibilidade O tecladista Bruno Medina, em seu blog, vem atualizando a temporada. Sobre a apresentação em Fortaleza, a segunda da turnê, escreveu: “Uma noite fresca, após um dia inteiro de chuva, palco pertinho do mar, público com os pés na areia. Atmosfera intimista, algo semelhante a um luau, só que para 11 mil pessoas! Nesta segunda apresentação resolvemos mexer um pouco no set, não porque havia algo de errado com o primeiro, mas sim porque nossa intenção durante a turnê é variar a lista de músicas apresentadas, e assim preservar a possibilidade de tirar alguns coelhos da cartola.”

O que quer dizer que, ainda que sejam três shows em BH, cada um deve ser diferente do outro. A única coisa que não muda, independentemente de histeria e casa cheia, é a intenção de a banda tocar apenas eventualmente. Quando esteve aqui no início do ano para seu próprio show, Camelo, que lança DVD ainda neste ano, afirmou: “A graça em fazer esses shows com a banda está na imprevisibilidade deles, o que nos garante liberdade e leveza. Os encontros são sempre excepcionais porque não temos muito compromisso.” 

LOS HERMANOS
Show amanhã, às 22h; domingo, às 19h; e segunda-feira, às 21h, no Chevrolet Hall, Avenida Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989. Ingressos esgotados.


Termômetro de popularidade 

Na plateia dos três shows de Los Hermanos não faltarão pessoas com um olhar que vai além do simples fã. Raphael Oliveira, vocalista e guitarrista do Los Otros; Ícaro Lugão, guitarrista da Paquetá; e Renan Oliveira, guitarrista e vocalista da Ventura, vão muito além. Como os próprios nomes indicam, fazem cover do grupo carioca, ótimo termômetro de popularidade de qualquer banda que se preze.

Mesmo de cidades diferentes – o primeiro mora em BH, o segundo em Governador Valadares e o terceiro em São João del-Rei – têm histórias semelhantes. Foram criadas pós-4 (2005), o último álbum de estúdio da banda. Boa parte dos integrantes de cada uma delas usa barba (mas admitem que não é obrigatório). E têm um repertório de 30 a 40 músicas, passando por todas as fases. Com a turnê dos ídolos, a demanda por shows, é claro, aumentou. 

No fim de semana passado, o Los Otros fez show para 250 pessoas no Estudio B, como um aquecimento para a maratona dos próximos dias. “A gente começou a fazer show a partir de 2007. Tocamos em bares de BH e Contagem e, nos últimos tempos, temos nos apresentado mais no interior do que aqui”, conta Raphael, que vai à apresentação de domingo no Chevrolet. No show passado, o grupo apresentou 37 músicas, Anna Júlia uma delas. “Foi uma das mais animadas”, conta ele, que já viu a banda em cena pelo menos em 15 shows. 

Já para Renan Oliveira, que assume certa idolatria em torno de Marcelo Camelo, esta será a primeira vez que ele verá os quatro em ação. “Comecei a banda com a Suellen Campos em 2008. No começo, a ideia era fazer uma coisa mais acústica, de voz, violão e flauta”, conta ele. Até que houve o convite para um show maior e a banda foi montada. Hoje, conta com sete integrantes (tem inclusive naipe de metais, só não conta com teclados), que vivem entre São João, Perdões e Lavras. “A gente quer que a banda pareça o máximo possível. Tocamos, além de músicas do Los Hermanos, também as de Camelo e do Little Joy.”

E Ícaro Lugão resolveu unir o útil ao agradável. Criou, ao lado do baixista da Paquetá, uma excursão que sai amanhã de manhã de Valadares, com 18 pessoas (no domingo, sai outra van da cidade, capitaneada pelo baterista da banda cover). Todos vêm no esquema de bate e volta e assim que o show do Los Hermanos terminar, vão direto para a estrada. Também vai ser a primeira vez que vai ver a banda em cena. “Em 2004, eles iam tocar em Valadares, mas houve aquela briga do Chorão com o Camelo (que levou um soco do líder do Charlie Brown no aeroporto de Fortaleza) e a apresentação foi cancelada dois dias antes”, lembra ele, que é guitarrista do grupo Gramofônicos, este só de músicas autorais. “Com banda cover é diferente. Você toca é pelo gosto. Então, com a Paquetá, não tem problema. A gente toca barato ou até de graça.”

Na estrada 


Depois dos três shows de BH, a turnê segue para Rio (seis apresentações) e São Paulo (duas datas). Todas com ingressos esgotados. O último show dessa temporada será em 9 de junho, no Festival de Alegre, Espírito Santo, com ingressos ainda disponíveis. O último show do Los Hermanos antes da separação foi no réveillon do Recife de 2006. Depois disso, a banda voltou aos palcos para despedida na Fundição Progresso (2007, que rendeu CD e DVD), a abertura dos shows do Radiohead (2009), o festival SWU e quatro apresentações no Nordeste (2010). 





quarta-feira, 16 de maio de 2012

[...] SONO REPARADOR




::psy::Júlio Freitas::

Tu finge que goza
Eu finjo que foi bom
Trocamos algumas palavras
Fingimos que acreditamos um no outro
Então dormimos.

E isso fazemos bem.

terça-feira, 15 de maio de 2012

[jucazito] ZÊUXIS E PARRASO



::txt::Tiago Jucá Oliveira::


Atenas antiga era uma moldura pintada por muitos artistas. São eles os inventores de técnicas como a perspectiva, por exemplo. E por lá habitavam, àquela época, talvez os dois maiores pintores da Grécia: Zêuxis e Parraso. Em torno deles giravam seus fãs, que os idolatravam como verdadeiros deuses, mas com o gosto popular polarizado nos dois, surge uma rivalidade suficientemente forte pra se convocar um confronto entre os dois pincéis.

É marcado um duelo. Domingo a praça será palco do desafio entre os pintores; cada qual deverá se retirar em seus respectivos ateliês, pintar um quadro novo, guarda-lo em segredo, cobri-lo com um pano ou tecido e só o descobrir domingo na praça. Um juri formado pelos cidadãos mais respeitados da cidade irá eleger qual quadro é o melhor.

Parraso e Zêuxis isolam-se em suas criações, e o povo começa a apostar no vencedor. Como nas vésperas de um grande clássico decisivo do futebol brasileiro, Atenas vivia dias de expectativa e euforia, com a população dividida entre seus dois heróis da pintura.

Quando domingo amanheceu, a praça já estava cheia. Os dois famosos pintores finalmente chegam; cada um deles a trazer seu quadro escondido por detrás da embalagem. Por sorteio, Zêuxis é quem vai primeiro destapar sua obra. No retirar do pano, um cacho de uvas reluz aos olhos da plateia. Um quadro tão lindo e perfeito atraiu a atenção de um par de pássaros, que o bicaram como se fosse real.

O público vai ao delírio. O próprio Zêuxis se comove e é ovacionado. Até mesmo os fãs de Parraso admitem a perfeição da obra. Zêuxis havia enganado dois passarinhos. O juri o condecora vencedor, mas, como todos curiosos pela obra do derrotado, pede a ele para o desembalar: “Parraso, o segundo lugar numa cidade com tantos ótimos pintores é uma colocação honrada, portanto nos deixe ver sua obra, destape-o!”.

Parraso lamenta não poder cumprir a ordem. É mais fácil enganar duas aves do que centenas de homens: “não há nenhum pano, tecido ou embalagem cobrindo meu quadro”.

[agência pirata] A PRIMEIRA ARTE





::txt::Cesar Baima::

Uma equipe de antropólogos encontrou numa caverna no Sul da França o que podem ser os exemplos mais antigos de arte humana conhecidos. Segundo eles, as imagens pintadas e gravadas em alto relevo em um bloco de calcário de 1,5 tonelada que ruiu do teto do sítio de Abri Castanet teriam ao menos 37 mil anos de idade, o que faz delas tão velhas ou mais do que as pinturas descobertas na gruta de Chauvet, também no Sul da França, em 1994.

Os pesquisadores destacam, no entanto, que as figuras encontradas em Castanet – uma representação do que seria uma genitália feminina e a imagem incompleta de um animal, possivelmente um bisão, uma espécie de bovino –, por estarem em uma área de convivência do antigo abrigo de rochas usado por caçadores de renas, teriam uma função decorativa. De acordo com eles, isso demonstraria a importância da arte e da ornamentação para aquela população, integrante da chamada Cultura Aurignaciana. Eles estariam entre os primeiros descendentes dos homens modernos que se acredita terem migrado da África para a Europa há cerca de 40 mil anos e que povoaram diversas áreas do continente até 28 mil anos atrás.

— Esta arte parece ser um pouco mais antiga do que as famosas pinturas das gruta de Chauvet, no Sudeste da França — diz Randall White, professor de Antropologia da Universidade de Nova York e um dos autores do estudo sobre a descoberta de Castanet, publicado na edição desta semana do periódico científico “ Proceedings of the National Academy of Sciences”. — Mas, diferentemente das pinturas e gravações em Chauvet, que estão no fundo do subterrâneo e longe das áreas de convivência, as pinturas e gravações de Castanet estão diretamente associadas com a vida do dia a dia, dada a proximidade de ferramentas, fogueiras, da produção de ferramentas de ossos e chifres e oficinas para fabricação de ornamentos. Em outras palavras, a arte em Castanet parece ser uma arte do cotidiano.

Abri Castanet e o vizinho de Abri Blanchard são reconhecidos como alguns dos mais antigos sítios na Eurási com artefatos do simbolismo humano pré-histórico. Neles foram encontradas centenas de peças de ornamentos corporais, como dentes e conchas perfuradas, contas de marfim e pedra sabão, e gravuras e pinturas em pedaços de calcário.

— Os humanos do período Aurignaciano funcionavam mais ou menoscomo os humanos de hoje — explica White. — Eles tinham identidades sociais relativamente complexas comunicadas por meio de ornamentos pessoais, e praticavam artes de escultura e gráficas.

Ainda de acordo com o antropólogo, a descoberta de Castanet, combinada com outras aproximadamente do mesmo período na Alemanha, no Norte da Itália, na Espanha e na própria França, levanta novas questões sobre o significado adaptativo e evolucionário da arte e outras formas de representação gráfica na vida destas primeiras populações de homens modernos. Como as imagens de vulvas e animais de Castanet são muito diferentes dos desenhos com carvão e ocre de Chauvet e de outros sítios já encontrados na Europa, aparentemente mais sofisticados, os pesquisadore acreditam estar diante das primeiras obras feitas pelo Homo sapiens no continente, e não apenas de um caso de diferentes estilos adotados por diferentes grupos, apesar de os arqueológos já terem identificado variações nos ornamentos pessoais e outros artefatos que refletem o pertencimento a tribos específicas da mesma forma como nos vestimos hoje.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

[copyleft] MUROS



txt::Konstantínos Kaváfis::



Sem piedade e sem pudor, sem dó e sem cuidado
à minha volta espessos muros tão altos quem teceu?

E eis­‑me agora aqui na sorte a que fui dado,
em mais não penso: não me sai da ideia o que aconteceu.

Lá fora há tanto que fazer - tudo ruído!
E, se estes muros construíram, porque não dei por tal?

Não ouvi de pedreiro nem voz nem ruído


terça-feira, 8 de maio de 2012

[agência pirata] A CPI SERÁ UMA FEIRA DE VAIDADES






::txt::Arnaldo Jabor::

O País não pode ser dividido em "esquerda e direita", nem em corrupção e honestidade. Esta CPI que raia no sujo horizonte vai nos mostrar mais que essas dualidades simplistas. (Demóstenes foi um exemplo de perigosa 'ambivalência'; ladrões mais coerentes e sólidos se escandalizaram. Há no ódio a Demóstenes uma crítica velada a seu 'amadorismo'.) Veremos um desfile de perversões políticas e até sexuais que traçam um retrato mais complexo do País. Esquerda e direita dividia um mundo linear e óbvio. A esquerda achava que era sujeito da História, mas a Direita sempre soube que a História não tem sujeito; só "objeto" - o lucro.

Nossa vida social é movida por outras categorias. Há paranoicos, esquizofrênicos, histéricos - um vasto catálogo de patologias. Vejamos.

A burrice - Nelson Rodrigues dizia que a burrice é uma "força da natureza". Antigamente, os cretinos se escondiam pelos cantos, roídos de vergonha; hoje, andam de fronte alta e peito estufado. Nunca a estupidez fez tanto sucesso. Forrest Gump, o herói idiota do filme, foi o precursor; Bush seguiu-o e se orgulhava de sua ignorância. Uma vez em Yale, ele disse: "Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA." E nosso Lula que tem títulos de doutor 'honoris causa', se gabando de não ter lido nada? Inteligência é chato; traz angústia, com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola. A burrice está na raiz do populismo. Para muitos, a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de "sagrado" na parvoíce dos pobres, uma 'sabedoria' primitiva que desmascara a mentira "de elite". A burrice é a ignorância em busca de 'sentido'; burrice no poder chama-se "fascismo".

A caretice - O careta é antes de tudo um forte. Está sempre atrás de certezas. Olha o mundo com um olho só e só vê o que já sabia. A caretice é uma posição política. A diversidade da vida é recusada como um desvio, a dúvida como fraqueza. Sua cara é uma careta - daí, o nome-, uma máscara fixa com uma única ideia na mente. Careta odeia novidades, ideias complexas. O careta é linear - tem princípio, meio e fim.

O careta tende mais para o que se chamava de "direita". Mas, há também muitos caretas de "esquerda", que querem uma sociedade sob controle, pois só eles sabem o que é bom para nós, os 'alienados'. Existe até o careta drogado, o 'bicho grilo' chamado "muito louco". Como disse alguém: "Pior que careta, só o "muito louco"...

A incompetência é uma maldição nacional, secular. Existe mais na chamada "esquerda" do que entre os "neoliberais". Os "ideológicos" não se interessam por nada prático, administrável, que chamam de 'epifenômenos' menores. Nada mais chato para eles do que a realidade, apesar de falarem nela o tempo todo. A realidade brasileira para eles é um delírio, com meia dúzia de "contradições" óbvias.

Antigamente, era 'latifúndio, burguesia nacional e imperialismo'. Agora, é a tentativa de tomar o Estado por dentro da democracia, instalando 'companheiros' oriundos da massa pelega no poder para fazer uma revoluçãozinha vulgar. Eles dizem que a 'competência' é perigosa porque pode ocultar uma política de direita, mascarar "táticas" do capitalismo. Leram um negocinho do Heidegger sobre a 'técnica' e usam-no para justificar suas trapalhadas gerenciais.

Mas, há mais...

A liberdade é outra doença que nos rói. Por um lado, é um ar puro que amamos depois de 21 anos de ditadura; por outro, provoca vertigens em gente que prefere a submissão. Poderosos sempre falam em democracia, mas muitos planejam impedir que a sociedade julgue o país. Se a crise nos atingir, a patuleia também vai sonhar com um bom tirano, um guia. De resto, a liberdade pode virar um vulgar produto de mercado - celebridades saltitantes e livres dentro de um chiqueirinho de irrelevâncias: o sucesso sem trabalho, o marketing sexual, bundas querendo subir na vida, próteses de silicone na alma.

Imaginação falta-nos também. Não há. Na política, ela é vista como desvio da norma, como perigosa utopia que atrapalha a muralha patrimonialista que nos rege. Imaginação é considerada demagogia ou espetáculo barato. No Brasil, a política do espetáculo foi inventada por Jânio Quadros; Lula foi um bom aluno. Na CPI veremos shows esfuziantes.

O "passadismo rancoroso" é praticado por muitos esquerdistas renitentes. Vivem a nostalgia de heranças malditas, ossadas do Araguaia e nenhum projeto claro para o futuro, como se a vida social de hoje fosse a decadência de um passado que estava certo. Nacionalismo e terceiro-mundismo nascem daí: fome de voltar para a taba ou para o casebre com farinha, paçoca e violinha.

A preguiça é um dos cacoetes mais comuns. Administrar dá trabalho. A burocracia nos defende da 'urgência', da 'emergência', ritmos desconhecidos entre nós, criando a vida pública em câmera lenta, onde a única coisa que acontece é que não acontece nada.

A vaidade também será visível na CPI, nos bigodes e cabelos acaju ou negros como a asa da graúna, visível também no amor ao luxo cafajeste de batucada em restaurantes de Paris, lanchas, vinhos de dez mil dólares e prostitutas em cargos de confiança.

A amizade é outro vício comum, que enlaça cinturas de jaquetões e batuca palmadinhas nas costas, justificando presentes de geladeiras, carrões e bilhões roubados.

Mas, há mais... há mais... Temos os egoístas, os psicopatas (muito em moda...), os "fracassomaníacos", temos as imensas multidões dos "babacas" (serei um deles?...), comandados pelos boçais, cafajestes, oportunistas, ladrões de todas as cores.

De modo que não podemos nos contentar com a velha dualidade "direita/esquerda". O mundo é muito mais vasto, oh "raimundos" e vagabundos!...

E mais - não podemos esquecer os batalhões que crescem a cada dia, os exércitos invencíveis: a brilhante plêiade dos "F.D.P.'s".

segunda-feira, 7 de maio de 2012

[do além] LUZ SEM SOMBRA




::txt::Caravaggio::


Como todo bad boy, sempre gostei mais de jogar do que treinar. Tanto é que deixei poucos estudos e esboços. Preferi sempre partir para a tela final. Talento é algo que combina com preguiça e indisciplina. Não gostamos de pensar dessa maneira. Preferimos enaltecer o esforço dos pouco dotados porque talvez isso conforte a maioria. 

Por falar em esforço, é importante que fique claro que nada do que fiz exigiu me pouco. Pelo contrário, cada quadro que pari exprime com perfeição a intensidade de minha dedicação. A técnica que desenvolvi, batizada de tenebrismo, que contrastava tons terrosos com fortes pontos de luz impunha uma rotina de horas de observação e pinceladas. Tempo que gostaria de ter despendido em salões de baile. Houve esforço também fora das telas. Uma das características mais importantes de minha pintura é retratar o aspecto mundano dos eventos bíblicos. Enfrentei as convenções da época e usei como modelos, no lugar de nobres e altos membros do clero, pessoas comuns das ruas de Roma, como vendedores, músicos ambulantes, ciganos, prostitutas. Coisa que nem a publicidade, em 2012, conseguiu fazer.

Por isso, fico com dois corações quando deparo me com esses aplicativos paratablets e celulares que auxiliam artistas e aspirantes a realizar suas criações. São ferramentas de trabalho fantásticas que oferecem inúmeros instrumentos, simulam as mais diferentes técnicas e realizam tarefas complicadíssimas em questão de segundo. Se Michelangelo tivesse esses recursos, quando esculpiu a estatua de Moisés, ao bater no seu joelho e pronunciar “parla”, teria ouvido como resposta “inquale lingua?”

A maioria desses aplicativos usa como ícone de identificação elementos tradicionais do mundo das artes plásticas. Paletas sujas de tintas, pinceis, brochas, telas de tecido, cavaletes, lápis, canetas. Pergunto-me se, em vinte anos, esses ícones não serão auto-referentes. Você identificará um aplicativo de pintura pela imagem de um aplicativo de pintura.

Não sei se, tivesse oportunidade, usaria alguns desses apps. Sempre levei em consideração o ambiente e a iluminação em que meus quadros seriam exibidos. Acho excessiva a luz das telas dos tablets e dos computadores. O tenebrismo fica tenebroso naqueles retângulos luminosos. Como brincar com a luz e a sombra com todo aquele brilho?

É lógico que as novas gerações tirarão proveito das últimas possibilidades. Não tenho dúvida que novas obras primas estão surgindo. Uma pena que os olhos que consumirão essas obras não se deslumbrarão mais pelas qualidades artesanais e nem pelas técnicas empregadas, uma vez que tudo é possível de ser feito e até com certa facilidade. O fascínio que arte exercia se transferiu para as ferramentas quepopularizam os artistas. Assim como prestígio migrou dos artistas para os engenheiros/programadores, vide Steve Jobs. Não vejo problema com isso. Cada época tem seus personagens e suas questões. Só acho que apps, ao contrário da arte, mexem mais com nossos bolsos do que com nossas almas.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

[agência pirata] A ARTE DA GUERRA






::txt::Xico Sá::

Amigo torcedor, amigo secador, ou o Corinthians acaba com esta história de espírito de Libertadores ou o espírito de Libertadores desencarna o Corinthians, mais uma vez, da competição continental.
O time mosqueteiro, de origem operária, já nasceu aguerrido. É uma característica natural. Mais que isso, vira fúria, avexamento e desequilíbrio, como na noite de anteontem em Guayaquil.

Sim, o juiz fez algumas trapaças de varejo que prejudicaram o alvinegro, mas não ao ponto de ter decidido o destino do jogo. Se for perder a razão cada vez que isso ocorrer fora de casa, em alguma cordilheira da América, melhor desistir da taça.

Há uma versão brasileira errada do que seria esse tal de espírito copeiro dos adversários latino-americanos. O que eles sempre usaram, principalmente os argentinos e uruguaios, donos do maior número de títulos, foi a catimba, que vem a ser o espírito de porco. Não o afobamento.

Eles têm a arte de minar a paciência dos brasileiros a cada lance. Nós caímos feito uns patinhos de tiro ao alvo de parque de diversões. A catimba é o avesso do repetido, ad nauseam, espírito de Libertadores.

Catimbar também não é recomendável, até porque esta patente não é verde-amarela, exige aprendizado e cátedra. O máximo que os times daqui conseguem é fazer cera -apenas um dos itens do pacote antijogo. Isso não quer dizer que os boleiros tupiniquins sejam inocentes. Na hora de bater, por exemplo, batem tanto quanto ou mais.

Voltemos ao mundo fantasma. Quantas vezes os brasucas triunfaram somente com o espírito de Libertadores? Sempre que esta pergunta incendeia o botequim, alguém lembra do bicampeão Grêmio, equipe que desperta em nosso imaginário a ideia de "guerras" e "batalhas".

É certo que o tricolor gaúcho contava com o espírito de cruzada medieval do Dinho em 1995, mas a gente esquece do quanto jogavam Arce e Carlos Miguel, sempre deixando Jardel pronto para dar boa noite Cinderela aos arqueiros inimigos. O título de 1983 nem se fala: De Leon, Renato, Tarcísio...


O São Paulo dos 90 tinha espírito de Libertadores? Batia era um bolão, isso sim, seu Telê que o diga. Os outros campeões idem. Galeria que tem, entre outros timaços, o Fla de Júnior e Zico e os Santos de Pelé, Neymar e uma maternidade inteira de meninos.

Sem essa de espírito de Libertadores.

Vale o mantra das antigas: o jogo é jogado, o lambari é pescado.





quinta-feira, 3 de maio de 2012

[cc] INTERNET É EXTENSÃO DA CIDADE





::txt::Ronaldo Lemos::


“Não me tires o que não me podes dar!”, disse o cínico Diógenes para Alexandre, o Grande, quando este lhe fez sombra ao se posicionar em frente ao sol que banhava o filósofo. Milênios depois a anedota ainda ajuda a pensar sobre os limites da convivência. Questão que fica mais complexa à medida que a internet vai virando uma extensão da cidade: uma camada adicional do espaço público, igualmente permeada por regras de coexistência forjadas a duras penas nos embates do dia a dia.
Um exemplo fascinante desse embate é a recente moda dos bloqueadores portáteis de celular. Isso mesmo: aparelhos que cabem no bolso (ou na bolsa, dependendo do modelo) e criam um raio de até 15 metros onde é impossível usar o celular para falar ou acessar a internet. No Brasil os mais baratos são vendidos por R$ 90. O recurso vem caindo nas graças dos vigilantes do cotidiano, gente que pega ônibus (ou trem) e se cansou de ouvir conversas gritadas pelo celular durante a viagem. Solução: tapar o “sol” de todos para punir alguns.
Esse tipo de medida, além de ser uma modalidade de colapso da cidadania, expõe também a fragilidade do espaço digital. Se a moda pega, pode ganhar contornos de tragédia grega. Quem foi bloqueado hoje vai querer bloquear amanhã. Com isso o convívio vai se tornando inviável. Levada ao extremo, grupos articulados ou um governante mal-intencionado (como Mubarak fez no Egito) conseguem interromper partes da rede. Isso faz lembrar que, por incrível que pareça, a internet depende enormemente da ética de quem a utiliza para funcionar.
Três anos de prisão
Tal como nas cidades, ações de interrupção do espaço digital vão ganhando conotação política. É só pensar no Anônimos, o grupo hacker que consegue chamar a atenção derrubando sites como forma de protesto. Para além, não seria improvável protestos com base na nova onda. Por exemplo, um grupo segue para a avenida Paulista não para interromper o trânsito, mas para estrategicamente bloquear a comunicação por celular ao longo da avenida. O artista plástico Marcelo Cidade tentou fazer algo parecido na Bienal de 2006: interromper o sinal de todo o prédio da exposição, o que foi vedado pelo jurídico da Bienal. Bloqueadores de celular são ilegais no Brasil (exceto em presídios e em poucos casos permitidos). E o Código Penal estabelece pena de prisão de até três anos para quem “interrompe ou perturba serviço telefônico”.
Para a internet continuar a ser extensão da cidade, aberta e porosa, ela depende de um pacto social mais delicado do que se imagina. Se gentileza gera gentileza, a máxima pode ser multiplicada por cada byte que compõe a rede.

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