#CADÊ MEU CHINELO?
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
[agência pirata] O CHURRASCO COMO SÍMBOLO DO ORGULHO MACHO
::txt::Xico Sá::
No final de semana o país inteiro cheira a churrasco. Já bateu, de longe, a feijoada como a mais popular e nacional das comidas sem frescura.
É tão irresístivel que até modelo e metrossexual churrasqueiam na buena.
Este blog, com sua fome atávica pela cozinha perversa, faz uma breve viagem freudiana a respeito. Segura aí essa brasa!
Quando o carvão começa a pegar fogo, na laje suburbana ou na beira da piscina do Lago Sul, Brasília, os homens automaticamente passam a se sentir mais poderosos.
Mesmo em um banquete de mendigos a carne fortifica as vaidades e espalha, por algumas horas, as brasas da auto-estima.
O mesmo fogo que assa a picanha e a costela chamusca também a testosterona e os básicos instintos do macho, como diria Fausto Fawcett, o poeta-mor de Copacabana e dos arredores fumacentos da Guanabara.
A tese-crônica e carnívora vale para qualquer lugar, até mesmo para a Índia, claro, onde os bois e as vacas são sagrados.
Lá eles preferem estraçalhar outros quadrúpedes. Amam um cordeirinho, por exemplo, sempre com o melhor dos currys.
O ser humano não vale mesmo uma moeda enferrujada de botija. Luta vã embirrar contra isso.
Desde as caçadas dos nossos semelhantes das cavernas, nem um alimento simboliza tanto a macheza quanto ela.
A carne é fraca apenas na concepção do pecado, mas ai já falamos da marvada pele sob os olhares apostólicos romanos.
A carne, desde o canibalismo dos tupinambás e dos caetés -traçaram lindamente jesuítas e outros bispos sacanas- é o que nos há de mais sagrado nos tristes trópicos.
Dos indígenas às calçadas do subúrbio de hoje -motivo de uma tese de mestrado do carioca Rolf Ribeiro de Souza-, a reunião em torno da brasa é um grêmio óbvio ao redor da simbologia do macho, do poder do macho e do algo mais machista, como diria um Jorge Ben das antigas.
A tese rendeu um grande livro deste grande e citado Souza: “A confraria da esquina: o que os homens de verdade falam em torno de uma carne queimando” (ed. Bruxedo).
Seja na rua, onde significa demarcação do território da masculinidade, seja na churrascaria chique, donde representa decisões, convenções partidárias e negócios particularíssimos, a carne é que manda nos homens.
Alguém já testemunhou algo importante ser acertado diante de folhinhas de alface?
Não estamos apenas falando de monta, de dinheiro a perder de vista, meu caro Eike Batista. Estamos falando de importância, do futuro de um grande amor, por exemplo.
Não, o alface não inspira confiança.
Não à toa, reza a mística dos conventos e internatos, a folha serve para acalmar os noviços e seminaristas contra possíveis manifestações dos básicos instintos.
O perigo está na carne. Sempre. O resto é fundamentalismo dos meus queridos amigos vegetarianos que se acham imortais e melhores do que o resto da humanidade.
Mas antes me tragam uma cachaça, que hoje estou amargo demais pra beber cerveja, ora veja, termino aqui ouvindo a banda Eddie:
"E quem não gosta de fumaça, minha querida, não entende de bebida. Nessa vida, eu já caí na desgraça.”
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