O Negócio B é o clássico triângulo indústria-trabalhador-Estado. Os aspectos positivos desse negócio (do ponto de vista dos trabalhadores) são empregos garantidos, renda garantida, seguro social. Podemos chamar esse negócio de socialismo porque ele acontece em sua forma mais pura nos países socialistas ou comunistas. Mas o Negócio B também existe em muitas versões diferentes em países de capitalismo privado (Suécia, Inglaterra, França e até mesmo Estados Unidos).
No centro do Negócio B está o Estado. Comparada com a ditadura anônima do mercado e do dinheiro, a centralização do Estado aparentemente oferece mais segurança para nós. Parece representar a sociedade (isto é, nós) e os interesses comuns, e através dessa mediação muitos Trabalhadores B consideram-se seus próprios patrões. Uma vez que o Estado assume funções essenciais em toda parte (pensões, serviços de saúde, seguro social, polícia), ele parece ser indispensável, e qualquer ataque contra ele soa como suicídio. Mas o Estado é somente uma outra face da Máquina, não a sua abolição. Assim como o mercado, ele constrói seu anonimato através de massificação e isolamento, mas nesse caso são o Partido (ou os partidos), a burocracia, o aparato administrativo, que preenchem a vaga. (Nesse contexto, não estamos falando sobre democracia ou ditadura. Um Estado socialista poderia, de fato, ser perfeitamente democrático. Não há nenhuma razão intrínseca para que o socialismo, mesmo na União Soviética, não venha a se tornar democrático um dia. Entretanto, a formação do Estado em si mesma sempre significa ditadura; tudo depende do quão democraticamente sua organização seja legitimada.)
Encaramos o Estado ("nosso" estado) como indivíduos sem poder providos de "garantias" que são só folhas de papel e não estabelecem nenhuma forma de controle social direto. Estamos sós, e nossa dependência da burocracia-de-estado é só uma expressão da nossa fraqueza real. Em períodos de crise, alguns bons amigos são muito mais importantes que os nossos cartões de seguro social ou a nossa caderneta de poupança. O Estado significa falsa segurança.
Nos países socialistas, onde o Negócio B existe em sua forma mais pura, permanece o mesmo sistema de coação – via salários e via trabalho – que existe no Ocidente. Todos nós continuamos trabalhando para os mesmos objetivos econômicos. Algo como um estilo de vida socialista, pelo qual pode fazer sentido aceitar alguns sacrifícios, ainda não emergiu por aí; nada parecido com isso está nem mesmo planejado. Os países socialistas ainda usam os mesmos sistemas de motivação dos ocidentais: sociedade industrial moderna, sociedade de consumo ocidentalizada, carros, aparelhos de TV, apartamentos individuais, famílias nucleares, chalés de verão, discos, Coca-Cola, jeans sofisticados, etc. Como o nível de produtividade desses países permanece relativamente baixo, esses objetivos só são atingidos parcialmente. O Negócio B é particularmente frustrante, já que propõe sonhos de consumo que está longe de poder realizar.
Mas é claro que socialismo não quer dizer somente frustração. Tem vantagens reais. Sua produtividade é baixa porque os trabalhadores exercem um nível relativamente alto de controle sobre o ritmo de trabalho, as condições e o padrão de qualidade. Já que não há risco de desemprego e a demissão é difícil, os Trabalhadores B vão levando a coisa com uma certa facilidade. As fábricas são superlotadas, todo dia acontece alguma sabotagem, são comuns as faltas para ir às compras, o alcoolismo, o mercado negro e outros negócios ilegais. Os trabalhadores do Negócio B também são oficialmente estimulados a irem mais devagar, já que não há bens de consumo em profusão, logo não há por que trabalhar duro. Assim o círculo da baixa produtividade se fecha. A miséria desse sistema é visível numa profunda desmoralização, numa mistura de alcoolismo com tédio, feudos familiares e carreirismo puxa-saquista.
Como os países socialistas se tornam cada vez mais integrados no mercado mundial, a baixa produtividade leva a conseqüências catastróficas; países do Negócio B só conseguem vender seus produtos por preços abaixo do mercado, e assim os Trabalhadores B acabam sendo explorados em colônias industriais de salários ínfimos. Seus poucos produtos valiosos vão direto para o Ocidente; sua contínua falta no próprio país é uma razão adicional para a raiva e a frustração dos Trabalhadores B.
Os recentes acontecimentos na Polônia mostraram que mais e mais Trabalhadores B estão recusando o negócio socialista. Compreensivelmente, existem grandes ilusões sobre a sociedade de consumo e sobre a possibilidade de conquistá-la através da economia de Estado. (Lech Walesa, por exemplo, ficou fascinado pelo modelo japonês.) Muita gente, nos países socialistas (por exemplo, Alemanha Oriental), começou a perceber que uma sociedade de consumo de alta produtividade é só um outro tipo de miséria, e não escapatória. Tanto as ilusões ocidentais quanto as socialistas estão à beira do colapso. A escolha verdadeira não é entre capitalismo e socialismo – ambas as alternativas são oferecidas pela única e mesma Máquina. Seria necessária uma nova solidariedade, não para construir uma sociedade industrial melhor e chegar à afluente família consumista universal-socialista, mas para estabelecer relações diretas de trocas materiais entre fazendeiros e habitantes das cidades, para ficar livres da grande indústria e do Estado. Os Trabalhadores B, sozinhos, não conseguirão isso.
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