#CADÊ MEU CHINELO?

segunda-feira, 30 de abril de 2012

[agência pirata] O QUE FOI O PUNK?






::txt::Sabrina Kwaszko::

Música? Moda? Ideologia? Revolução cultural ou um movimento que nasceu falido?








A cultura punk foi tudo isso e mais; foi também poesia, cinema e artes plásticas.  Nos anos 70, a década de surgimento do punk, o Brasil se tornou Tri-Campeão da Copa do Mundo no México, a Intel lança o primeiro microcomputador do mundo, em 73 acontece a crise mundial do petróleo - OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) aumenta o preço do barril em mais de 300%, o Brasil vive a fase do "Milagre Econômico", os Bealtes acabam, morre o Rei do rock Elvis Presley, chego ao fim a Guerra do Vietnã com os EUA saindo derrotado, populariza-se a tv a cores e o termo psicodélico entra no vocabulário do dia-a-dia graças aos designers que estavam maravalhados com as belezas que podiam criar com o plástico e o acrílico.
E o Punk com isso?

Pode-se dizer que o punk surgiu por conta de um grande tédio cultural e mudanças causas como por exemplo o fim da guerra do Vietnã, havia acabado o grande motivador do movimento hippie, parecia não haver mais motivos para se pedir paz e amor e os olhos daquela juventude passou a enxergar outras deficiências da sociedade mais dificeis ainda de engolir e se revoltaram; primeiro contra os hippies e depois com o mundo. Uma reação à não-violência dos hippies e a um certo otimismo daqueles.

O movimento punk foi como um acordo insconsciente coletivo de uma juventude que viveu a margem da sociedade não por escolha mas por condições básicas e precárias de vida mesmo. Eles tiveram que lidar com problemas reais como conviver lado a lado com criminalide, desemprego, deficiência na saúde pública para o povo e alimentação escassa. Ser punk nascia de uma situação de vida muito ruim e mesmo assim querer algo melhor para seu destino mas como ter acesso a cultura sem ter dinheiro no bolso e vivendo longe dos grandes centros culturais? "Do it yourself"(faça-você-mesmo).

Musicalmente falando o punk surgiu nos EUA com a banda Ramones e uma apresentação delesinfluenciou Mark Perry a largar seu emprego no banco e lançar o funzine punk Sniffin' Glue ("cheirando cola") de senso humor ácido e visual grosseiro foi o zine que lançou a bandeira "Do it yourself". O Zine circulou por um ano e o seu nome nasceu inspirado na música “now i wanna sniff some glue” do primeiro álbum do Ramones. Sem gramática, sem layout e com palavrões as edições chegaram a atingir 15.000 cópias. Como o punk não circulava nas grandes mídias(ao menos no começo), quem queria saber algo sobre punk e ver fotografias recorria ao zine. Sua última edição foi em 77 e encerrou com um apelo para seus leitores, que eles seguissem os mesmo passos do zine Sniffin' Glue  e criassem seu próprios funzines punks e os colocassem em circulação.

Agora pra quem ficou curioso no conteúdo do zine punk Sniffin' Glue tenho uma boa notícia em 2000 Mark Perry lançou uma compilação de todas as edições e com mais algum material novo escrito por ele, se chama Sniffin' Glue: The Essential Punk Accessory.Você encontra a venda pela internet e também disponível para baixar. Essas e outras histórias sobre o punk a gente segue em outros artigos.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

[do além] EU, ROBÔ?


::txt::Pulitzer::


Leio que, em 2012, a categoria ficção do Pulitzer, prêmio que carrega meu nome, ficou sem vencedor. O júri entendeu que nenhum dos concorrentes era digno de receber a honraria. Outra notícia que capturou minha atenção foi a de que babuínos aprenderam a ler em um experimento na França. Alguém precisa investigar a relação entre esses dois fatos.

Curioso também é o artigo que fala sobre robôs que escrevem textos jornalísticos. Uma empresa chamada Narrative Science desenvolveu uma plataforma de inteligência artificial que, quando alimentada de dados, produz artigos legíveis em questão de segundos. A revista Forbes, uma das mais prestigiadas publicações do mercado financeiro, já está usando esses serviços para produzir matérias sobre finanças, esportes e até política.

Você deve imaginar que um jornalista como eu, que revolucionou a imprensa americana, que ajudou a elevar os padrões de qualidade, que lutou pelas boas práticas jornalísticas, deve estar horrorizado com a perspectiva de automatização do ofício. Pois sabia que penso justamente ao contrário. Muito do que lemos em páginas impressas e virtuais são frutos do mero exercício de preencher formulários. Pegue, por exemplo, a cobertura esportiva. Um processador bem abastecido de dados pode, além de descrever o jogo com objetividade, gerar tranquilamente até as declarações dos atletas, sem necessidade de entrevista-los. “Agora é esquecer essa derrota e pensar no compromisso que temos no próximo domingo”.“Mais importante do que me tornar artilheiro é ajudar meus companheiros a conquistar esse título”.

Na mesma matéria que me apresentou os robôs jornalistas, havia uma outra revelação surpreendente. Muitos sites, que desejam aumentar seus números de audiência, programam robôs para acessarem suas páginas. De tal forma que hoje temos robôs lendo robôs. Algo estapafúrdio e impensável, mas que tem a minha total aprovação. 

Vejam que maravilha. Essas adoráveis máquinas nos poupam de ler textos previsíveis. Já pensou começar o dia com boa parte do jornal já lido, que economia de tempo, que alívio para ansiedade? E de mais a mais, prefiro uma inteligência artificial do que uma burrice natural. 

Do jeito que a coisa está indo, em breve, os robôs farão suas próprias premiações e distribuíram entre si os diplomas de mérito. Com a vantagem de que a cerimônia de entrega dos prêmios será mais curta e os resultados menos polêmicos. Prevejo novas categorias como “Melhor programação Investigativa” e “ Melhor simulação de editorial indignado contra a corrupção”.

Por fim, quero dizer que nada disso é exatamente novo. Aliás, é bem antigo. Por isso, peço calma aos meus colegas. Não há motivo para alvoroço e nem para sentir-se incomodado. Vejam as gravações feitas pela Polícia Federal do Brasil no caso do Carlinhos Cachoeira. Através delas, descobrimos que certos jornalistas estavam programados a atender determinados interesses. E depois que as gravações foram divulgadas, ficou claro também que outros tantos estão igualmente programados para silenciar sobre o fato. 

[domínio público] MINEIRISMO

::txt::Cambada Mineira::


O que se chama de mineirismo no meio político, na realidade, é um traço cultural dos habitantes de Minas Gerais. Uma espécie de estado de espírito. O fato de viver entre montanhas, o que levaria o mineiro a uma contínua auto-análise; o fato de Minas ter abrigado a capital do reino, etc, são apontados como alguns de seus fatores predisponentes. Um exemplo de mineirismo se vê na resposta do poeta Carlos Drummond de Andrade, quando participava de uma cerimônia de plantio de árvores no Rio. Chega um repórter e pergunta quantas daquelas árvores ele já havia plantado:


- Essa é a primeira, diz Drummond.

- Em toda sua vida?, surpreende-se o repórter.

E Drummond, à queima-roupa:

- A primeira. Só que tem uma coisa. Eu nunca derrubei nenhuma.



quinta-feira, 26 de abril de 2012

[labore] HIPNOSE DYLANESCA EM PORTO ALEGRE


E aí pessoal do O Dilúvio!


Sou estudante de jornal, concluinte na Unisinos. Também participo do coletivo antiproibicionista Principio Ativo, que faz a Marcha da Maconha de Porto. Prazer!
Então, fui no show do Dylan e acabei fazendo um texto sobre, no descompromisso. Terminei de escrever  e pensei que talvez fosse massa publicar em algum lugar.. lembrei de vocês. Caso gostem e queiram publicar no site, cedo-o desde que não alterem, citem meu nome e contato de e-mail informados no final do texto.

Segue o texto, abraços... 


Hipnose Dylanesca em Porto Alegre

Compositor cantou, encantou e emocionou público gaúcho de uma forma que só ele é capaz de fazer

No palco, um Dylan com uma voz que parecia sair das entranhas da alma, bem diferente daquele timbre nasalado de cantor folk de outra vez. Na pista, uma multidão meio quieta, em transe, quero acreditar. A atenção dos porto-alegrenses que lotaram o Pepsi On Stage na tão aguardada noite de 24 de abril buscava compreender o que mais parecia um presente: ver ao vivo clássicos da música e da poesia do velho Bob Dylan cantadas e tocadas em forma de rock blueseiro que mais pareciam ter saídos de um bar do interior dos anos 50. Não era o Bob Dylan que todos queriam, era o Bob Dylan que ele queria ser - um velhote com ar de cansado que se diverte tocando seu teclado progressivo-psicodélico, fazendo surpreendentes solos numa guitarra semi-acústica, cantando com uma voz reflexiva e gutural e tirando solos da sua lendária harmônica renitente.

O culto começou, pontualmente, às 21h. Na mais de uma hora e meia de apresentação, viu-se um artista que se contradiz e se renova eternamente, acompanhado de uma banda competente e recheada por timbres country de guitarras Telecaster e baixo ora elétrico, ora estilo cello. A banda, composta por Charlie Sexton (guitarra), Stu Kimball (guitarra), Tony Garnier (baixo), George Receli (bateria) e Donny Heron (mandolim, trompete, violino e pedal steel), manteve o nível da apresentação criando climas que iam do folk ao rock, com a marca do blues sempre presente.

Robert Allen Zimmerman deu fim à ansiedade gaúcha iniciando o show atrás dos teclados comLeopard-Skin Pill-Box Hat. No primeiro toque da gaita, em Things Have Changed, levou a platéia aos berros. A emoção tomou conta da casa em Ballad of a Thin Man, mesmo com um Dylan cantando de uma forma impossível de ser acompanhada – constante no show. Somente no refrão da clássica Like a Rolling Stone, quando Dylan não cantou, Porto Alegre conseguiu mostrar ao mestre a sua paixão em forma de coro generalizado.

Conhecido como reservado e considerado arrogante por alguns, Bob Dylan demonstrou uma quase simpatia com sorrisos durante o show e na apresentação dos integrantes da banda, quando os mais atentos puderam ouvir o tímido "thank you guys" proferido pelo maestro da noite. No decorrer do concerto, as dancinhas empolgadas do cantautor compensaram qualquer desconfiança de antipatia - aqueles músicos estavam se divertindo sobre o palco.

O show encerrou, falsamente, com All Along the Watchtower. O bis aconteceu, como tem sido na atual turnê. Dylan e sua banda retornaram ao palco após mais de um minuto de um uníssono e inflamado brado clamando por seu nome. Executou o hino do folk de protesto dos anos 60, Blowin’ in the Wind. Na despedida final, momento curioso: a banda formou uma linha no palco para receber as palmas e, antes de sumir atrás das cortinas, Dylan fez pose e cara de quem insinua algo como "sim, foi isso mesmo". É a consciência de quem sabe que é amado e pode fazer o que quiser com suas músicas, de que Dylan é Dylan e jamais vai precisar ter o compromisso de ser apenas um.

Para os curiosos ou para os que não entenderam quais as músicas Dylan cantou no show de Porto Alegre, o setlist foi:

Leopard-Skin Pill-Box Hat
It’s All Over Now, Baby Blue
Things Have Changed
Tangled Up In Blue
Beyond Here Lies Nothin
Simple Twist Of Fate
John Brown
Summer Days
Desolation Row
Blind Willie McTell
Highway 61 Revisited
Love Sick
Thunder On The Mountain
Ballad Of A Thin Man
Like A Rolling Stone
All Along The Watchtower
Blowin’ In The Wind
 (Bis)

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Autor: Marcelo Ferreira

quarta-feira, 25 de abril de 2012

[o bairrista] ARROIO DILÚVIO


[noé ae?!] BAIANA SYSTEM


[agência pirata] CADEIA PRA OPINIÃO PÚBLICA





::txt::Guilherme Fiuza::

A popularidade de Dilma Rousseff bateu novo recorde, chegando a 77% de aprovação, segundo o Ibope. Não dá mais para dourar a pílula. Num cenário como esse, só resta adotar a solução proposta certa vez pelo colunista Tutty Vasques: cadeia para a opinião pública.

E cadeia por vadiagem.

Os especialistas do instituto de pesquisa explicaram a principal causa do impressionante índice: a queda de ministros em série, como nunca antes na história deste país, foi entendida como uma ofensiva de Dilma contra a corrupção.

Tudo bem que a opinião pública, distraída, não tenha notado Dilma correndo atrás do próprio rabo;
Que não tenha se dado conta de que todos os esquemas podres emanavam do padrão Dilma/PT de ocupação fisiológica do Estado;

Que não tenha atinado para o fato de que o modus operandi nos Transportes, no Turismo, nos Esportes, no Trabalho e em todos os outros ninhos parasitários vinha do governo Lula – onde a “coordenadora de todos os projetos” era ela mesma, a chefe da Casa Civil: Dilma Rousseff.

Eleita presidente, o que fez Dilma? Partilhou seu governo entre esses mesmos donatários, seus velhos conhecidos.

Tudo bem que a opinião pública, muito atarefada, não tenha visto nada disso.

Curioso é que não tenha visto também figuras como Carlos Lupi, já afundadas na lama, sendo sustentadas publicamente pela dona dos 77%.

“O passado passou, gente!”, tentou encerrar Dilma, quando o caso Lupi já estava exposto em toda a sua obscenidade – inclusive com flagrante fotográfico do ministro não-governamental.

Lupi só caiu porque a Comissão de Ética da Presidência carimbou a palavra “suspeito” na sua testa. Dilma ainda tentava enquadrar a Comissão, quando surgiu a notícia de que seu protegido tivera duplo emprego público.

Nota da redação: Lupi caiu, mas a rainha da faxina jurou de morte a Comissão de Ética (da qual nunca mais se ouviu falar).

A mordaça foi providencial, porque o consultor Fernando Pimentel, por exemplo, continua tranquilo em sua vida vegetativa no ministério – sem nenhum carimbo na testa.

Nota da redação (2): quem pagou a milionária consultoria fantasma de Pimentel foi o mesmo contratante da pesquisa consagradora para Dilma.

Chega de impunidade: se a presidenta faxineira é inocente, cadeia para a opinião pública.
A alternativa é seguir a recomendação eufórica do ex-presidente petista José Eduardo Dutra, comemorando os 77% de êxito do esquema com um brado poético: “Enfia o dedo e rasga!”
Como se vê, o Brasil está em boas mãos.

terça-feira, 24 de abril de 2012

[cc] A EDUCAÇÃO SERÁ REVOLUCIONADA


::txt::Ronaldo Lemos::

Se São Tomás de Aquino reaparecesse hoje vindo da Idade Média, ficaria surpreso ao ver um hospital ou um prédio em construção. Mas se sentiria em casa ao ver uma escola. As salas de aula até hoje são organizadas como no fim da Idade Média: o professor na frente e os alunos (entediados) ouvindo-o.

A educação, cedo ou tarde, será revolucionada pela tecnologia. Pense no material didático. Se bem transposto para o digital, tudo muda.

Pode se tornar ferramenta em constante transformação. Alunos e professores participando de seu aperfeiçoamento contínuo. Cada tópico gerando uma discussão multimídia, com alunos de diferentes escolas disputando soluções originais.

Um desafio é que a educação ainda é excessivamente baseada no texto. Só que a vida dos alunos é cada vez mais rica em mídias: vídeos, sites, redes sociais, música, remixes etc. Quando chegam na escola, volta o reinado do bom e velho texto.

A esse respeito, ganha força o movimento internacional dos REAs: Recursos Educacionais Abertos. A ideia é fazer com que todos materiais didáticos sejam colocados on-line de forma livre para serem manipulados, adaptados e remixados (o modelo tem apoio da Unesco). Faz sentido.

Nada mais pobre do que colocar textos em PDF, formato que só reproduz limitações do mundo físico no digital. O objetivo é construir novas relações entre a informação e envolver alunos e professores no processo. Com ou sem a benção de são Tomás.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

[agência pirata] INTOLERÂNCIA RELIGIOSA











::txt::Drauzio Varella::

O fervor religioso é uma arma assustadora, disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso

SOU ATEU e mereço o mesmo respeito que tenho pelos religiosos. A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. Os que não sentem necessidade de teorias para explicar a que viemos e para onde iremos são tão poucos que parecem extraterrestres.

Dono de um cérebro com capacidade de processamento de dados incomparável na escala animal, ao que tudo indica só o homem faz conjecturas sobre o destino depois da morte. A possibilidade de que a última batida do coração decrete o fim do espetáculo é aterradora. Do medo e do inconformismo gerado por ela, nasce a tendência a acreditar que somos eternos, caso único entre os seres vivos.

Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos. Para atender esse desejo, o imaginário humano criou uma infinidade de deuses e paraísos celestiais. Jamais faltaram, entretanto, mulheres e homens avessos a interferências mágicas em assuntos terrenos. Perseguidos e assassinados no passado, para eles a vida eterna não faz sentido.

Não se trata de opção ideológica: o ateu não acredita simplesmente porque não consegue. O mesmo mecanismo intelectual que leva alguém a crer leva outro a desacreditar.

Os religiosos que têm dificuldade para entender como alguém pode discordar de sua cosmovisão devem pensar que eles também são ateus quando confrontados com crenças alheias.

Que sentido tem para um protestante a reverência que o hindu faz diante da estátua de uma vaca dourada? Ou a oração do muçulmano voltado para Meca? Ou o espírita que afirma ser a reencarnação de Alexandre, o Grande? Para hindus, muçulmanos e espíritas esse cristão não seria ateu?

Na realidade, a religião do próximo não passa de um amontoado de falsidades e superstições. Não é o que pensa o evangélico na encruzilhada quando vê as velas e o galo preto? Ou o judeu quando encontra um católico ajoelhado aos pés da virgem imaculada que teria dado à luz ao filho do Senhor? Ou o politeísta ao ouvir que não há milhares, mas um único Deus?

Quantas tragédias foram desencadeadas pela intolerância dos que não admitem princípios religiosos diferentes dos seus? Quantos acusados de hereges ou infiéis perderam a vida?

O ateu desperta a ira dos fanáticos, porque aceitá-lo como ser pensante obriga-os a questionar suas próprias convicções. Não é outra a razão que os fez apropriar-se indevidamente das melhores qualidades humanas e atribuir as demais às tentações do Diabo. Generosidade, solidariedade, compaixão e amor ao próximo constituem reserva de mercado dos tementes a Deus, embora em nome Dele sejam cometidas as piores atrocidades.

Os pastores milagreiros da TV que tomam dinheiro dos pobres são tolerados porque o fazem em nome de Cristo. O menino que explode com a bomba no supermercado desperta admiração entre seus pares porque obedeceria aos desígnios do Profeta. Fossem ateus, seriam considerados mensageiros de Satanás.

Ajudamos um estranho caído na rua, damos gorjetas em restaurantes aos quais nunca voltaremos e fazemos doações para crianças desconhecidas, não para agradar a Deus, mas porque cooperação mútua e altruísmo recíproco fazem parte do repertório comportamental não apenas do homem, mas de gorilas, hienas, leoas, formigas e muitos outros, como demonstraram os etologistas. 
O fervor religioso é uma arma assustadora, sempre disposta a disparar contra os que pensam de modo diverso. Em vez de unir, ele divide a sociedade -quando não semeia o ódio que leva às perseguições e aos massacres.

Para o crente, os ateus são desprezíveis, desprovidos de princípios morais, materialistas, incapazes de um gesto de compaixão, preconceito que explica por que tantos fingem crer no que julgam absurdo.
Fui educado para respeitar as crenças de todos, por mais bizarras que a mim pareçam. Se a religião ajuda uma pessoa a enfrentar suas contradições existenciais, seja bem-vinda, desde que não a torne intolerante, autoritária ou violenta.

Quanto aos religiosos, leitor, não os considero iluminados nem crédulos, superiores ou inferiores, os anos me ensinaram a julgar os homens por suas ações, não pelas convicções que apregoam.

domingo, 22 de abril de 2012

[do além] DESAMBIGUAÇÃO


::txt::Demóstenes::

O futebol, o Pepeu Gomes e a Baby do Brasil são pródigos em nos apresentar nomes que desafiam os ouvidos. Deivid, Richarlyson, Arianderson, Dielton, Shayder Zabelê, Nana Shara. É realmente tentador fazer graça com nomes inventados, especialmente quando a grafia tenta emular a sonoridade de um outro idioma. Não acho isso divertido. Cada um que invente a nomenclatura que quiser. Considero muito pior a mania de homenagear as grandes personalidades do passado. Por um simples motivo: não há como prever se o rebento honrará o nome que recebeu. Nem todos possuem a sorte de Sócrates, por exemplo. O ícone da filosofia ocidental teve um homônimo brilhando nos gramados e nas letras. Quantas pessoas devem ter se interessado pelo pensamento socrático por causa do jogador. O.k., reconheço que há ocasiões em que a homenagem não causa nenhum arranhão ao homenageado. O jogador Allan Kardec não desonra seu antecessor, mas tampouco aumenta seu nome. Mas não vim aqui dissertar a respeito de nomes. Vim, sim, comentar a minha falta de sorte. Nunca figurei entre os mais conhecidos pensadores, filósofos e políticos gregos. Não entrei para esse Olimpo. O grande público ignora minha existência. Eu existo para um pequeno grupo de estudantes e acadêmicos. Portanto, o primeiro e único Demóstenes que a população brasileira conhece é o amigo do Carlos Cachoeira. Vejam que tragédia para a glória de grande orador. É como se as pessoas identificassem o Beethoven como aquele cão são-bernardo e ignorassem o compositor clássico. Na real, é até pior. O cachorro atuava bem. Para piorar a situação, há algumas coincidências entre a minha biografia e a de Torres. Tive problemas com a Justiça. Fui condenado por facilitar a fuga de um ministro de Alexandre, o Grande. Trabalhei durante algum tempo como logógrafo, que nada mais é do que redigir discursos para particulares que iam defender suas próprias causas nos tribunais. Algo que o ex-senador do DEM praticou também, só que na via inversa. O Carlos Cachoeira escrevia e o Torres legislava. Desculpem o desabafo e a preocupação excessiva com a imagem. É que me encontro em situação complicada. Não sei o que fazer para impedir o eclipse de meu legado. Qualquer esforço para manter a minha ficha limpa pode aumentar ainda mais a confusão.

sábado, 21 de abril de 2012

[agência pirata] TRABALHO EMBURRECE

::txt::Emil Cioran:: O trabalho é uma maldição que o homem transformou em volúpia. Trabalhar apenas por trabalhar, aproveitar um esforço infrutífero, imaginar que você pode preencher a si mesmo através do labor assíduo: tudo isso é desprezível e incompreensível. Trabalho permanente e ininterrupto emburrece, trivializa e despersonaliza. O centro de interesse do indivíduo desloca-se do seu meio subjetivo em direção a uma insossa objetividade. Em consequência, o homem não mais se interessa pelo próprio destino, por sua evolução interior, para se ligar a qualquer outra coisa: o que deveria ser uma atividade de permanente transfiguração torna-se um meio de exteriorização que lhe faz abandonar o mais íntimo de seu ser. No mundo moderno, trabalho significa uma atividade puramente externa; o homem não mais faz a si mesmo através dele, ele faz coisas. O fato de que todo mundo sente-se obrigado a exercer uma atividade e a adotar um estilo de vida que, na maior parte dos casos, não lhe convém, ilustra esta tendência ao emburrecimento pelo trabalho. No trabalho, o homem se esquece de si; isto não o conduz, apesar disto, a uma doce inocência, mas a um estado vizinho da imbecilidade. O trabalho transformou o sujeito humano em objeto e fez do homem uma besta que trai suas origens. Ao invés de viver por si mesmo - não no sentido do egoísmo, mas do florescimento -, o homem torna-se escravo impotente da realidade exterior. Onde encontrar o êxtase, a visão, a exaltação? Onde está a loucura suprema, a volúpia autêntica do mal? A volúpia negativa que se encontra no culto ao trabalho prende-se antes à miséria, à insipidez e a uma mesquinhez detestável. Por que os homens não se decidem por bruscamente dar fim ao seu labor, a fim de iniciar um novo trabalho sem qualquer semelhança com aquele a que se dedicaram inutilmente até então? Será que a consciência subjetiva da eternidade resistiu? Se a atividade frenética, o trabalho ininterrupto e a trepidação destruíram algo, isto foi o verdadeiro sentido da eternidade - uma vez que o trabalho é a sua maior negação. Quanto mais a perseguição pelos bens materiais e o trabalho cotidiano aumentam, mais a eternidade torna-se distante e inacessível.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

[forévis] RU'S BÉDIS?

[agência pirata] A FALÊNCIA MÚLTIPLA DOS ÓRGÃOS PÚBLICOS



::txt::Arnaldo Jabor::

Os corruptos ajudam-nos a descobrir o País. Há sete anos, Roberto Jefferson nos abriu a cortina do mensalão. Agora, com a dupla personalidade de Demóstenes Torres, descortinamos rios e florestas e a imensa paisagem de Cachoeira. Jefferson teve uma importância ideológica.

Cachoeira é uma inovação sociológica. Cachoeira é uma aula magna de ciência política sobre o Sistema do País. Vamos aprender muito com essa crise. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras, de palavras que eclodiram diante de nossos olhos nas últimas semanas. Meu Deus, que riqueza, que profusão de cores e ritmos em nossa consciência política! Que fartura de novidades da sordidez social, tão fecunda quanto a beleza de nossas matas, cachoeiras, várzeas e flores.

Roberto Jefferson denunciou os bolchevistas no poder, os corruptos que roubavam por "bons motivos", pelo "bem do povo", na base dos "fins que justificam os meios". E, assim, defenestrou a gangue de netinhos de Lenin que cercavam o Lula que, com sua imensa sorte, se livrou dos mandachuvas que o dominavam. Cachoeira é uma alegoria viva do patrimonialismo, a desgraça secular que devasta a história de nosso País. Sarney também seria 'didático', mas nada gruda nele, em seu terno de 'teflon'; no entanto, quem estudasse sua vida entenderia o retrato perfeito do atraso brasileiro dos últimos 50 anos.

Cachoeira é a verdade brasileira explícita, é o retrato do adultério permanente entre a coisa pública e privada, aperfeiçoado nos últimos dez anos, graças à maior invenção de Lula: a 'ingovernabilidade'.

Cachoeira é um acidente que rompeu a lisa aparência da 'normalidade' oficial do País. Sempre soubemos que os negócios entre governo e iniciativa privada vêm envenenados pelas eternas malandragens: invenção de despesas inúteis (como as lanchas do Ministério da Pesca), superfaturamento de compras, divisão de propinas, enfrentamento descarado de flagrantes, porque perder a dignidade vale a pena, se a grana for boa, cabeça erguida negando tudo, uns meses de humilhações ignoradas pelo cinismo e pela confiança de que a Justiça cega, surda e muda vai salvá-los. De resto, com a grana na 'cumbuca', as feridas cicatrizam logo.

O governo do PT desmoralizou o escândalo e Cachoeira é o monumento que Lula esculpiu. Lula inventou a ingovernabilidade em seu proveito pessoal. Não foi nem por estratégia política por um fim 'maior' - foi só para ele.

Achávamos a corrupção uma exceção, um pecado, mas hoje vemos que o PT transformou a corrupção em uma forma de governo, em um instrumento de trabalho. A corrupção pública e a privada é muito mais grave e lesiva que o tráfico de drogas.

Lula teve a esperteza de usar nossa anomalia secular em projeto de governo. Essa foi a realização mais profunda do governo Lula: o escancaramento didático do patrimonialismo burguês e o desenho de um novo e 'peronista' patrimonialismo de Estado.

Quando o paladino da moralidade Demóstenes ficou nu, foi uma mão na roda para dezenas de ladrões que moram no Congresso: "Se ele também rouba, vamos usá-lo como um Omo, um sabão em pó para nos lavar, vamos nos esconder atrás dele, vamos expor nosso escândalo por seu comportamento e, assim, seremos esquecidos!"

Os maiores assaltantes se horrorizaram, com boquinha de nojo e olhos em alvo: "Meu Deus... como ele pôde fazer isso?..."

Usam-no como um oportuno bode expiatório, mas ele é mais um 'boi de piranha' tardio, que vai na frente para a boiada se lavar atrás.

Demóstenes foi uma isca. O PT inventou a isca e foi o primeiro a mordê-la. "Otimo!" - berrou o famoso estalinista Rui Falcão - "Agora vamos revelar a farsa do mensalão!" - no mesmo tom em que o assassino iraniano disse que não houve holocausto. "Não houve o mensalão; foi a mídia que inventou, porque está comprada pela oposição!" Os neototalitários não desistem da repressão à imprensa democrática...

E foi o Lula que estimulou a CPI, mesmo prejudicando o governo de Dilma, que ele usa como faxineira também das performances midiáticas que cometeu em seu governo. Dilma está aborrecida. Ela não concorda que as investigações possam servir para que o Partido se vingue dos meios de comunicação e não quer paralisar o Congresso. Mas Lula não liga. "Ela que se vire..." - ele pensa em seu egoísmo, secretamente, até querendo que ela se dane, para ele voltar em 14. Agora, todo mundo está com medo, além da presidente. O PT está receoso - talvez vagamente arrependido. Pode voltar tudo: aloprados, caixas 2 falsas, a volta de Jefferson, Celso Daniel, tantas coisinhas miúdas... A CPI é um poço sem fundo. O PMDB, liderado pelo comandante do atraso Sarney, também está com medo. A velha raposa foi contra, pois sabe que merda não tem bússola e pode espirrar neles. Vejam o pânico de presidir o Conselho de Ética, conselho que tem membros com graves problema na Justiça. Se bem que é maravilhoso o povo saber que Renan, Jucá, Humberto Alves, Gim Argello, Collor serão os 'catões', os puros defensores da decência... Não é sublime tudo isso? Nunca antes, em nossa história, alianças tão espúrias tiveram o condão de nos ensinar tanto sobre o Brasil. A cada dia nos tornamos mais sábios, mais cultos sobre essa grande chácara de oligarquias. E eu estou otimista. Acho que tudo que ocorre vai nos ensinar muito. Há qualquer coisa de novo nessa imundície. O mundo atual demanda um pouco mais de decência política. Cachoeira, Jefferson, Durval Barbosa nos ensinam muito. Estamos progredindo, pois aparece mais a secular engrenagem latrinária que funciona abaixo dos esgotos da pátria. A verdade está nos intestinos da política.

Mas, o País é tão frágil, tão dependente de acasos, que vivemos com o suspense do julgamento do mensalão pelo STF.

Se o ministro Ricardo Lewandowski não terminar sua lenta leitura do processo, nada acontecerá e a Justiça estará desmoralizada para sempre.

terça-feira, 17 de abril de 2012

[noé ae?!] GUSTAVO TELLES

[forévis] PIRULITANDO



- EU VOU ME PIRULITAR!

[agência pirata] PERSEGUIÇÃO AOS GAYS

::txt::Mario Vargas Llosa::

Na noite de 3 de março, quatro neonazistas chilenos, liderados por um valentão chamado Pato Core, encontraram caído nas cercanias do Parque Borja, em Santiago, o jovem Daniel Zamudio, ativista homossexual de 24 anos que trabalhava como vendedor numa loja de roupas. Durante seis horas, enquanto bebiam e pilheriavam, os quatro se dedicaram a dar pontapés e socos no jovem homossexual, golpeá-lo com pedras e marcar suásticas no seu peito e costas com o gargalo de uma garrafa. Ao amanhecer, ele foi levado a um hospital, onde agonizou por 25 dias antes de morrer em decorrência dos traumatismos.

O crime causou uma vivo impacto na opinião pública chilena e sul-americana. Multiplicaram-se as condenações à discriminação e ao ódio contra as minorias sexuais, profundamente enraizados em toda América Latina. O presidente do Chile, Sebastián Piñera, exigiu pena exemplar e pediu que se acelere a aprovação de um projeto de lei contra a discriminação, que vegeta no Parlamento chileno há sete anos, parado nas comissões por temor dos parlamentares conservadores de que a lei, se aprovada, abra caminho para o casamento entre gays.

Esperemos que a imolação de Daniel Zamudio sirva para trazer à luz a trágica condição dos homossexuais, lésbicas e transexuais nos países latino-americanos onde, sem uma única exceção, são objeto de escárnio, repressão, marginalizados, perseguidos e alvo de campanhas de descrédito que, no geral, contam com o apoio declarado e entusiasmado da maioria da opinião pública.

Nesse caso, o mais fácil e mais hipócrita é atribuir a morte do jovem apenas a quatro canalhas pobres diabos que se denominam neonazistas e, provavelmente, nem sabem o que é isso. Eles não são mais do que a guarda avançada mais crua de uma cultura antiga que apresenta o gay ou a lésbica como pessoas doentes ou depravadas que devem ser mantidas à distância dos seres normais, pois corrompem o corpo social saudável, induzindo-o a pecar e a se desintegrar moral e fisicamente em práticas perversas e nefandas.

Esta noção do homossexualismo é ensinada nas escolas, difundida no seio das famílias, pregada nos púlpitos, divulgada pelos meios de comunicação, aparece nos discursos de políticos, nos programas de rádio e televisão e nas comédias teatrais onde os homossexuais são sempre personagens grotescos, anômalos, ridículos e perigosos, merecedores do desprezo e da rejeição dos seres decentes, normais e comuns. O gay é sempre "o outro", o que nos constrange, assusta e fascina ao mesmo tempo, como o olhar da cobra assassina para o passarinho inocente.

Num tal contexto, o surpreendente não é que se cometam atos abomináveis como o sacrifício de Zamudio, mas o fato de que sejam tão pouco frequentes, ou talvez seja mais correto dizer tão pouco conhecidos, pois os crimes provocados pela homofobia que vêm a público são só uma pequena parte dos que realmente são praticados. Em muitos casos, as próprias famílias das vítimas preferem colocar um véu de silêncio sobre eles para evitar a desonra e a vergonha.

Tenho comigo, por exemplo, um relatório preparado pelo Movimento Homossexual de Lima, que me foi enviado pelo seu presidente, Giovanny Romero Infante. De acordo com uma pesquisa realizada entre 2006 e 2010, foram assassinadas no Peru 249 pessoas por "sua orientação sexual e identidade de gênero", ou seja, uma a cada semana. Entre os casos mais horripilantes está o de Yefri Peña, que teve o rosto e o corpo desfigurado com um pedaço de vidro por cinco "machões", os policiais se negaram a socorrê-la por ser travesti e os médicos de um hospital não quiseram atendê-la por considerá-la um "foco infeccioso" que se poderia transmitir aos que estavam em torno.

Os casos extremos são atrozes, mas o mais terrível para uma lésbica, gay ou transexual em países como Peru ou Chile não são casos mais excepcionais como esse, mas é a sua vida quotidiana condenada à insegurança, ao medo, a percepção constante de ser considerado perverso, anormal, um monstro.

Ter de viver na dissimulação, com o temor constante de ser descoberto e estigmatizado pelos pais, parentes, amigos e todo um círculo social preconceituoso que ataca furiosamente o gay como se ele tivesse uma doença contagiosa. Quantos jovens atormentados por esta censura social foram levados ao suicídio ou sofreram traumas que arruinaram suas vidas? Somente no círculo de amigos meus tenho conhecimento de muitos exemplos que não foram denunciados na imprensa nem apareceram nos programas sociais dos reformadores e progressistas.

Porque, no que se refere à homofobia, a esquerda e a direita confundem-se como uma única entidade devastada pelo preconceito e a estupidez. Não só a Igreja Católica e as seitas evangélicas repudiam o homossexual e opõem-se obstinadamente ao matrimônio de gays. Os dois movimentos subversivos que nos anos 80 iniciaram a rebelião armada para instalar o comunismo no Peru, o Sendero Luminoso e o MRTA - Movimento Revolucionário Tupac Amaru - executavam os homossexuais de maneira sistemática nos povoados que controlavam para libertar a sociedade de semelhante praga.

Libertar a América Latina dessa tara ancestral que são o machismo e a homofobia - as duas faces da mesma moeda - será demorado e difícil, e provavelmente o caminho até essa libertação estará repleto de muitas outras vítimas semelhantes ao desventurado Daniel Zamudio. O tema não é político, mas religioso e cultural. Fomos acostumados desde tempos imemoriais à ideia de que existe uma ortodoxia sexual da qual apenas os pervertidos, os loucos e enfermos se afastam e vimos transmitindo esse absurdo monstruoso para nossos filhos, netos e bisnetos, auxiliados pelos dogmas da religião, os códigos morais e os hábitos instaurados. Temos medo do sexo e nos custa aceitar que, neste incerto domínio, há opções e variantes que devam ser aceitas como manifestações da diversidade humana. Nesse aspecto da condição de homens e mulheres deve reinar a liberdade, permitindo que na vida sexual cada um escolha sua conduta e vocação sem outra limitação senão o respeito e a aquiescência do próximo.

Minorias começam a aceitar que uma lésbica ou um gay são pessoas tão normais como um heterossexual e, portanto, devem ter os mesmos direitos - como contrair matrimônio e adotar filhos -, mas ainda hesitam em lutar em favor das minorias sexuais porque sabem que, para vencer, é necessário mover montanhas, lutar contra um peso morto que nasce na rejeição primitiva do "outro", daquele que é diferente, pela cor de sua pele, seus hábitos, sua língua e suas crenças, que é a fonte que nutre as guerras, os genocídios e os holocaustos que enchem a história da humanidade de sangue e de cadáveres.

Sem dúvida, avançamos muito na luta contra o racismo, mas não o extirpamos totalmente. Hoje, pelo menos, sabemos que não se deve discriminar ninguém e é de mau gosto alguém se proclamar racista. Mas nada disso existe no que se refere a gays, lésbicas e transexuais. Quanto a eles, podemos desprezar e maltratar impunemente. Eles são a demonstração mais reveladora de quão distante boa parte do mundo ainda está da verdadeira civilização.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

[forévis] NEGRITUDE FORÉVIS

[agência pirata] O TEMPO FECHOU EM BRASÍLIA




::txt::Suzana Singer::

Na cobertura do caso Cachoeira, a imprensa precisa evitar a armadilha do PT, mas precisa dar exemplo de transparência

As nuvens carregadas do novo escândalo político que tomam Brasília são um tremendo desafio para a imprensa. Personagens tidos como probos estão sendo revistos, um sem-número de interesses emerge a cada nova revelação, não é fácil entender a posição do governo e a própria mídia está sob escrutínio.

A primeira surpresa do caso Cachoeira foi a descoberta de sua relação com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM), até então uma espécie de arauto da moralidade, sempre disponível para repercutir denúncias de corrupção. Só nas páginas da Folha, ele se pronunciou contra juízes, o PC do B, Palocci, Arruda, José Sarney, Renan Calheiros...

Figura importante na denúncia do "mensalão", o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), também aparece nas investigações, que apontam uma influência do bicheiro em seu governo.

Mas não sobrou apenas para a oposição. Sombras foram lançadas sobre o governador petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, e sobre um assessor que dava expediente no Palácio do Planalto.

Em meio à confusão, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, detectou uma "operação abafa" de setores políticos e veículos de comunicação para tentar impedir que "se esclareçam plenamente" as relações entre Demóstenes e o bicheiro.

Falcão incitou também a futura CPI do Cachoeira a investigar "os vínculos obscuros" de "Demóstenes e sua quadrilha" com a imprensa.

Não sei o que o presidente do PT anda lendo para achar que estão querendo colocar panos quentes no caso, já que os principais jornais e revistas do país não param de publicar grampos e denúncias. Sobre os tais "vínculos obscuros", o que veio a público, por enquanto, foi um diálogo entre Carlos Cachoeira e um de seus auxiliares, citando um jornalista da "Veja". Na conversa, publicada pela própria revista, Cachoeira diz que os "grandes furos" dados pelo jornalista foram passados por ele, mas que não recebeu nenhum favor em troca.

A Folha enxergou na fala do PT a intenção de investir, uma vez mais, contra a mídia. E saiu em defesa da imprensa, ao afirmar que a "produção de reportagens investigativas naturalmente envolve contato de jornalistas com fontes de informação de vários matizes".

Não se sabe se algo comprometedor envolvendo a imprensa surgirá desse lamaçal. Para o PT, interessa usar o caso Cachoeira para empastelar o "mensalão", que poderá ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal nos próximos meses. O presidente do partido fala em desfazer a "farsa do mensalão" montada por "supostos moralistas".

A imprensa não pode cair na armadilha de permitir que um escândalo anule o outro. Tem o dever de apurar tudo -mas sem se poupar. É hora de dar um exemplo de transparência.

domingo, 15 de abril de 2012

[agência pirata] CRIOLO



::txt::Caetano Veloso::

Um dia vinha ouvindo rádio no carro e Jorge Ben cantou “Cadê Teresa?”. Adoro essas músicas de Jorge para Teresa, Domingas, Teresinha, Domenica, Tetê-Teteretê, todas essas mulheres que são a mesma loura paulistana com quem ele se casou. Na canção ele busca sua amada e, sem saber por onde ela anda, se pergunta se ela não terá arranjado “outro crioulo”. Naquele dia eu tinha lido numa manchete que Rick Santorum teria quase chamado Obama de “crioulo”, num discurso de campanha. Imaginei que a palavra que assim traduziam fosse “nigger” e senti múltiplas revoltas. Conferi na página indicada e, de fato, “nigger” era o que o candidato republicano tinha começado a dizer. Ou isso se supunha. Pensei que Santorum poderia ter feito isso para mostrar à parte reacionária fanática do Partido Republicano, que é a que o apoiava, que ele estava a ponto de pronunciar o xingamento que ela tem preso na garganta.

Seja como tenha sido, terminei pensando mais na tradução oferecida pelo jornal brasileiro (pode ter sido este) do que na história em si. Fazia uns três dias que eu comentara com meu filho Zeca sobre a impropriedade de se traduzir “nigger” por “crioulo” nas legendas dos filmes americanos que passam na TV. Ao me ouvir dizer que “crioulo” não tinha essa conotação pejorativa de “nigger”, ele mostrou dúvidas. Mas o fato é que não há em português brasileiro nenhuma palavra que indique ao mesmo tempo aspecto racial e desqualificação absoluta automática. A palavra “crioulo” cantada por Jorge Ben tem toda a doçura natural e a carga afirmativa que um xingamento não pode ter, a não ser por uma torção, como quando chamamos alguém admirável de filho da puta.

Os negros americanos se chamam de “nigger” entre si, com carinho, como quem toma o que foi sempre usado como ofensa por brancos contra si e vira pelo avesso, mas ninguém que não seja negro (e não esteja na mesma onda de quem profere a palavra) tem o direito de fazê-lo. Nos raps, eles se chamam de “nigger” como chamam as garotas de “bitch”. Ouço muitos veados brasileiros chamarem uns aos outros de “veado”, mostrando intimidade e carinho: não é o mesmo que um ogro passar na rua e te chamar de veado. Mas “crioulo” nunca esteve nessa posição. Quando Jorge Ben fala de crioulo, não há sombra, nem remota, de tratamento ofensivo. Suponho que as legendas dos filmes venham contribuindo para o progresso do nosso racismo. Progresso tão desejado pelos racialistas. Mas por que foi essa a palavra escolhida por Drei Marc e cia.?

Quando era novo, eu não gostava do “Samba do crioulo doido”. Sentia (ainda sinto) racismo ali dentro daquela gracinha meio sem-graça de Sérgio Porto. Aliás, Paulo Francis, num artigo de sua coluna na “Folha de S.Paulo”, narrou um diálogo racista que teve com Porto por causa da presença de pretos nas praias da Zona Sul (não leio essas antologias que saem das crônicas de Francis, mas parece que essas desmunhecadas racistas não são selecionadas pelos organizadores, já que nunca ouvi comentários a respeito). A caricatura do samba-enredo feita ali nunca me pareceu engraçada. Lembrei-me dela ao ouvir as letras das canções dos blocos afro de Salvador declamadas com sarcástica pedanteria pelo grupo teatral Os Catedrásticos. O que faz esse grupo é, a meu ver, muito melhor do que o samba de Stanislaw: eles dizem “a sério” letras de músicas de carnaval da Bahia, para o irresistível efeito cômico. “Abre a rodinha, por favor”, dito em tom sóbriodramático fica sensacional. As descrições de egitos e madagascares dos sambas-reggae do Olodum parecem mais nonsense do que a famosa paródia. Mas nesses casos, sempre surge uma frase que se sustenta por si mesma em sua força épica — e o riso some. É que são as letras que foram escritas a sério que estão ali sendo ridicularizadas. E a seriedade que lhes é pano de fundo leva o espectador a pensar que Moreno cantando “Deusa do Ébano 2” é que desnuda mais o sentido do repertório desses blocos.

O charmoso rapper paulista tomou para si o pseudônimo de Criolo Doido, enobrecendo tanto cada uma das duas palavras quanto a união delas na piada amarela de Sérgio. (Este, não nos esqueçamos, de cara desgostou da bossa nova). Criolo é o nome derivado de crioulo, palavra que, segundo pude sentir no livrão “Um defeito de cor” (recomendado por Millôr), era usada para designar os negros nascidos no Brasil. Estes mostravam superioridade sobre os africanos que chegavam: seu domínio do português, seu conhecimento do cristianismo, tudo isso eram coisas que os envaideciam. Nos países de língua espanhola das Américas, “criollo” designa sobretudo descendentes de europeus nascidos no Novo Mundo. Na Louisiana, EUA, “creole” teve originalmente essa acepção, depois passou a significar descendente de franceses e, finalmente, mestiço. A palavra saiu do português. No Brasil, terra de sua língua de origem, ela se grudou aos pretos. Por que vamos usar TV e jornais para transformar “crioulo” num xingamento? Nosso racismo progride. Com dificuldades, mas sim. Sem negros nas escolas privadas ditas boas e com essas distorções em manchetes e legendas, chegamos lá. Liv Sovik pode ficar descansada.

Nesse meio-tempo, Santorum dançou, Demóstenes serve a Rui Falcão (amparado pela mídia e pelo Cachoeira) como água sanitária do mensalão — e me prometi ler “Classes, raças e democracia”, de Luis Sérgio Alfredo Guimarães.

sábado, 14 de abril de 2012

[rango] A PIMENTA CAMBUCI



::txt::Neide Rigo::

Como é de se supor, a pimenta cambuci (Capsicum baccatum Var. pendulum) é membro da família das Solanáceas, do gênero Capsicum, tal qual todas as outras pimentas (menos as especiarias como pimenta-do-reino, de macaco, da jamaica e similares). Da mesma família, embora gêneros diferentes, pertencem ainda o tomate, a berinjela e até a batata.

Ela tem o formato gracioso de uma cabacinha e o sabor agradável que combina o aroma das pimentas ardidas com a doçura de um pimentão. Também pode ser conhecida como "chapeu de bispo", mas parece que o nome cambuci é mais popular. É que, quando verde, a pimenta lembra o formato da fruta cambuci. Em tupi guarani, a palavra cambuci ou cambuhi significa jarro. O nome é então uma alusão a esse formato globular e cônico, tanto da fruta como da pimenta, similar a uma miniatura das talhas usadas pelos índios como recipiente para água ou como urna funerária.

Assim como os pimentões, ela é do tipo doce, não causando ardência (às vezes pode acontecer) e pode ser encontrada facilmente nos meses de calor, já que costuma ser plantada entre primavera e verão e colhida depois de 110 dias em média. A planta é um pequeno arbusto vigoroso e produtivo que pode chegar a até 1 metro, com frutos de coloração verde quando imaturos e vermelhos quando amadurecem. Quase sempre são colhidos verdes, pois assim têm uma vida útil maior no comércio. Mas às vezes podemos encontrar vermelhos, como estes da foto, que já estavam assim meio murchinhos quando comprei, mas, desde que estejam íntegros, o murchamento não é ruim, especialmente para fazê-las recheadas, pois a desidratação faz concentrar o sabor e ficam ainda mais adocicadas.

Desde quando eu era pequena, minha mãe gostava de fazê-la frita só com sal e pimenta e este era o jeito que mais gostava, perfumada e se desmanchando, para comer com arroz ainda molinho recém-cozido. Ela também colocava grandes pedaços no arroz durante o cozimento. Agora inventou de fazer bolinhos salgados com as poucas pimentas que dão no sítio - algumas até meio ardidas. De resto, elas podem ser usadas no lugar pimentão. Pode ser frita no azeite e servida como antepasto ou como acompanhamento de peixes. Verdes e vermelhas, cortadas em tirinhas, assadas e depois temperadas com azeite, pitada de sal e de açúcar, salsinha, vinagre e pimenta-do-reino, fazem deliciosa salada.

E, lógico, sem as sementes a pimenta transforma-se em excelente recipiente para os mais diversos recheios como de carnes suína ou bovina, bacalhau desfiado, linguiças esmigalhadas, ricota, tomate com queijo etc., podendo assim ser cozida no vapor ou assada no forno. Com ela também se pode fazer, combinando-a com outras pimentas ardidas, uma geleia de pimenta para servir com torradas, queijos ou carnes assadas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

[forévis] FORÉVIS YOUNGUIS



- Casa, comida, três milhão por mês, fora o bafo!

[agência pirata] REIS E RISOS



::txt::Cristovam Buarque::

No espaço de poucas horas de 2012, a história do Brasil registrou a perda de dois de seus maiores gênios: Chico Anísio e Millôr Fernandes. A morte deles tem a repercussão de um tsunami empobrecendo a cultura do país. Mas essas perdas não aparecerão, quando, no começo de 2013, o Brasil tomar conhecimento de seu desempenho baseado apenas no crescimento da economia. Ao contrário, o que ficará marcado é a renda per capita que aumentará, porque a população brasileira perdeu duas pessoas.

Não faz sentido levar a sério um indicador de progresso que mostra a morte de gênios ou de pessoas simples como fato positivo porque aumenta a renda per capta. Ainda pior: se as pessoas fossem assassinadas por bandidos armados, o PIB mostraria um aumento equivalente ao valor das balas. Na civilização do crescimento, a bala que mata uma pessoa aumenta o PIB e a renda per capita.

Se no lugar da morte de gênios, considerássemos a destruição de uma floresta, o PIB indicaria um aumento porque para o progresso uma árvore em pé não tem valor. Ela só é valorizada quando transformada em madeira ou fumaça pela queima de carvão para virar aço.

Ao longo de 2012, milhões de pessoas dedicarão suas vidas para cuidar de crianças, de velhos e doentes. Mas, se for voluntária, essa dedicação não entrará na medida do PIB, só valerá se for monetarizada pelo trabalho assalariado. Pela economia, um ato de amor só tem valor se for pago.

Ao longo do ano, milhões perderão preciosos dias de vida em engarrafamentos e por estarem presos no trânsito. Em vez de angústia, da vida desperdiçada, o PIB aumentará porque os carros gastarão mais combustíveis, poluirão ainda mais a atmosfera e, consequentemente, elevarão a temperatura do planeta, causando as trágicas consequências advindas das mudanças climáticas tão nefastas como todos nós já conhecemos.

De acordo com a economia, se um país está em guerra e milhares de soldados morrem, o país progredirá porque as armas produzidas aumentarão o PIB e as mortes dos soldados elevarão a renda per capita.

Algo está errado em uma civilização que mede seu progresso com base em indicadores tão cínicos e desumanos quanto o PIB e a renda per capita, mas é assim que ele é medido na sociedade consumista dos tempos atuais.

No mesmo ano em que o Brasil perde dois gênios, a humanidade se reunirá no Rio de Janeiro, na Cúpula chamada Rio+20. Durante alguns dias, os presidentes, reis e primeiros-ministros vão discutir o futuro do mundo. Mas, em vez de pensarem na substituição do PIB, a fim de redefinir o progresso como sendo o caminho para um mundo com mais gênios, produção cultural, florestas, tempo livre para os trabalhadores e trabalho voluntário, eles vão discutir como salvar a economia atual usando recursos renováveis, a chamada economia verde.

A Rio+20 - a Conferência da ONU, 20 anos depois da Rio 92 - seria o grande momento para a humanidade se encontrar na cidade do Chico e do Millôr, a fim de pensar um novo conceito de progresso na Terra de todos para todos. O Brasil deveria aproveitar a oportunidade para liderar um movimento mundial por esta revisão do propósito civilizatório. Um neoprogresso que leve em conta o valor da cultura, por si, não por sua venda; o valor do trabalho, por si, não pelo salário recebido; que assegure renda ao tempo livre de uma pessoa; um progresso que não inclua a produção, a venda e o uso de armas, seja no crime de rua ou no crime de guerras, como indicadores de avanço civilizatório.

Mas, lamentavelmente, não parece ser esse o caminho a ser adotado no Rio de Janeiro. A agenda em preparação não pensa em sugerir uma inflexão no rumo do progresso, nem mesmo uma reflexão no conceito de progresso; apenas a continuação dos mesmos métodos de produção usando novos meios de produção. Parece que será uma chance desperdiçada pela humanidade, pelo Brasil e nossos líderes no mundo. Felizmente ainda é possível uma esperança de que o bom-senso prevaleça e os líderes mundiais se comportem como estadistas mundiais e não apenas como políticos locais.

Até porque, dessa vez, não teremos Millôr para fazer humor filosófico que nos desperte e distraia ao mostrar o ridículo dos dirigentes; e também não teremos Chico para nos fazer rir, com toda a sua capacidade de dramatizar a hipocrisia dos dirigentes em uma escolinha dos reis do mundo.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

[forévis duplis] MUSSUM TELÓZIS




[agência pirata] SÃO PAULO É UMA CALAMIDADE PÚBLICA




::txt::Arnaldo Jabor::

Será que ninguém vai tomar uma providência? Imaginem um terremoto ignorado, sei lá, um tsunami despercebido: "Terremoto, onde? Não estou vendo..." Pois é o que está acontecendo na cidade de São Paulo. Ninguém vê o óbvio: a cidade vai parar com 680 carros entrando por dia nas ruas.

Ou melhor, vê sim, mas com olhos burocráticos, entreabertos, com tédio de trabalhar: "Sim, vamos formar comissões, estamos consultando os técnicos em urbanismo e tal".

É isso - estamos diante de uma calamidade pública e ninguém se toca. Em poucos meses, as cidades japonesas arrasadas já foram limpas.

E aqui? Aqui, "cidade" é considerada uma coisa inferior, "prefeitura", idem. Num país formado pela abstração lusitana, brotam ideologias e teorias que justificam a inação; "prefeitura" só cuida de "coisas menores", como água, esgotos, chuvas, enchentes, transporte, trânsito, ou seja, as coisas mais importante da vida, muito além de votos, de busca de hegemonia política como quer o PT, ou de discursos inflamados pelo poder.

No entanto, São Paulo é um país. São Paulo é o lugar mais importante do Brasil. "Ahhh..., mas vai melhorar", diz o vulgar desejo brasileiro de protelação e autoengano. Não vai melhorar não. Vai piorar; aliás, o pior já aconteceu... "Ah... o Rodoanel vai ficar pronto..." Quando? Por que não ficou antes? Porque, na época do Lula, não mandavam dinheiro federal para o metrô...

Claro que eu reclamo como um burguês; tenho carro, me incomoda levar duas horas para ir ao trabalho. Mas, e a população que sofre agarrada em ganchos de ônibus ou esmagada dentro dos trens? Os milionários compram helicópteros e a classe média muge, reclama com aquele tom de desesperança conformada, tipo: "Ah… isso não tem jeito mesmo… que se há de fazer?" A verdade é que ninguém sabe o que fazer e a cidade está virando um retrato trágico do País; é o inverso da miséria nordestina ou da seca, é a esclerose múltipla da riqueza, é o câncer da pujança econômica, a doença do crescimento desorganizado. Só que essa morte anunciada prejudica o País todo. Calcula-se que o prejuízo anual dos engarrafamentos eternos seja de R$ 30 bilhões/ano. Esses R$ 30 bilhões seriam uma solução. Mas, instalou-se aqui uma nova prática : já que quase nada tem solução, porque o patrimonialismo corrupto não deixa, já que nada se resolve, cuidaremos de "desnecessidades". "Ah... não pode fumar no bar, ah... temos de combater a obesidade, ahh... vamos construir um trem-bala", diz o governo federal. Trem-bala faz vista, causa boa impressão e tem no Japão.. "Ah... vamos gastar uns (exatamente) 30 bilhões para unir São Paulo ao Rio"...

Ninguém quer atacar os problemas principais do País. Aí, os técnicos aparecem na TV: "Temos de terminar o Rodoanel, temos de criar novas linhas de metrô, temos de criar pedágios para o centro da cidade, temos de fazer rodízio no par ou ímpar das chapas, o dia inteiro... temos de tirar os caminhões das ruas, temos de..."

São até boas sugestões, mas elas morrem depois da entrevista, elas somem no dia a dia da preguiça burocrática. Por quê? Porque o poder político no Brasil odeia administrar, porque a coisa mais chata do mundo é cuidar do bem público. O sujeito entra para a política para subir na vida, é eleito vereador e já pensa em ser presidente.

Mas fiquemos no engarrafamento transcendental que nos ronda. A situação de São Paulo precisa despertar um sentimento inexistente entre nós: a urgência. São Paulo não é apenas um problema urbano; é um fato gravíssimo até em termos ecológicos, tão grave como o desmatamento de florestas ou a violência do tráfico. Existem milhares de motoqueiros fazendo o serviço das empresas da cidade. Dizem que morre um por dia. Chego a desejar que esses pobres homens mal pagos, batalhando na "vida lôca", organizem um sindicato para fazer greves de "motoca". A cidade parava. Os escritórios fechavam e talvez aí nossa burguesia alienada percebesse o drama.

Aliás, a grande dificuldade seria desfazer a aura preciosa que atribuímos aos automóveis: poder fálico, quase sexual, como vemos nos anúncios de TV, em que carrões prateados pescam louras e morenas, carros que nos trazem a ilusão de superioridade com que contemplamos com vaga malignidade os passageiros apinhados em ônibus que passam. Vai ser muito difícil convencer as classes médias emergentes a utilizarem transportes coletivos.

Talvez só um engarrafamento definitivo possa conscientizar os cidadãos da bolha brasileira a participar da vida comunitária - temos horror ao coletivo, somos individualistas patéticos, sem causas. Outro dia, vi no filme sobre a Pina Bausch os trens elevados que circulam em Wuppertal, na Alemanha. Movem-se suavemente sobre armações de aço que atravessam a cidade toda e devem ser muito mais baratos que os túneis cavernosos dos metrôs. São soluções civilizadas de países inteligentes. Por que não se podem fazer coisas imaginosas como essa?

Os motoristas de táxi são excelentes projetistas de soluções. Um deles me falou no meio da Marginal do Pinheiros, imprensado entre uma escavadeira e um caminhão de lixo: "Por que não fazem barcas pelos rios da cidade? Acabava esse inferno aí..."

Por que não? Ferrry boats descendo os Rios Tietê e Pinheiros... Talvez seja uma bobagem, mas é um exemplo de imaginação que nos falta. E não é só criatividade, mas também a coragem de contrariar interesses: desapropriar casas e abrir novas ruas, prejudicar, sim, gente como eu mesmo que só anda de carro, criar regras coletivas que choquem os egoístas enfatuados que somos. "Ah... não podemos fazer isso porque a gente perde votos..." Ah... bom, então danemo-nos todos.

A crise de São Paulo não é problema do município apenas; é do governo do Estado e do Planalto. Nos anos 20, o presidente Washington Luis lançou a frase famosa: "Governar o Brasil é abrir estradas". O mesmo vale para São Paulo: governar a cidade é resolver a calamidade do trânsito. Para começar.

domingo, 8 de abril de 2012

[...] O QUE VEM COM O VENTO...



::txt::Tania Orsi Vargas::

O vento soprou pelas janelas
a velha cadeira nem se moveu.
Há sempre um gato dormindo
ao pé do antigo fogão
há sempre um leve tremor
entre as mãos e o coração.

Vento frio cortou os tempos
em pedaços e misturou
saudades velhas
com olhares novos
braços erguidos em súplica
e pés de velhas estradas.

O limo do muro
guarda segredos.
E seu acre cheiro
voa para longe o pensamento.

Há sempre uma mesa tosca
naquela casa fugidia
estrada de chão batido
e um estranho pão
que não se acaba.

Nos campos de dentro
cavalgam rumores
toca o sino do meio dia
o sino do fim da tarde
assobios,
ô de casa,
vem cá menina!

Há sempre uma mão
que ampara
e trança meus cabelos.

Há sempre esse ruído
na vidraça
das minhas noites

o silêncio dos ventos
da madrugada
rompendo as carnes
fechando a garganta
e chovendo dos olhos
as minhas lágrimas...

segunda-feira, 2 de abril de 2012

[noé ae?!] QUEREMOS

[...] RODA VIVA



::psy::Apé Produções::
::pht::Jucazito::

Não entendi o sentido de sua resposta!
Qual seu candidato preferido a presidencia?
Existe alguem capaz de governar o pais?
A fome é fundamental para a imprensa!

A lei geral da copa é menos importante
que a escalação da seleção!
Aprender ingles é o mínimo,
aprender portugues o máximo!

defendendo ideias atraves da palavra.
hoje em dia as arvores não se mexem e não dão fruto!
o verde e a fauna afundam no desequilibrio da ética e do dollar.

a palavra é um produto assustador!
uma imagem vale mais que mil palavras...

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