#CADÊ MEU CHINELO?
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
APPETITE FOR SELF-DESTRUCTION
# remixtures #
Criadores de The Wire produzem filme sobre a auto-destruição da indústria discográfica
txt: Miguel Caetano
Numa altura em que se fazem filmes sobre tudo e mais alguma coisa, porque não fazer um sobre a decadência das grandes editoras discográficas? Foi o que pensaram os produtores da série televisiva The Wire da HBO quando adquiriram os direitos do livro Appetite for Self-Destruction: The Spectacular Crash of the Record Industry in the Digital Age.
Escrito pelo jornalista da revista Rolling Stone Steve Knopper, a obra é uma autêntica crónica de todos os tiros no pé dados pela indústria discográfica ao longo dos últimos 30 anos, começando com a moda do disco sound do final dos anos 70, passando pelo surgimento dos CDs bem como pela campanha levada a cabo pelas majors para convencer as pessoas a “actualizarem” as suas discotecas pessoais em vinil e terminando no combate contra a tecnologia de partilha de ficheiros já no século XXI, após o surgimento do Napster.
E o cenário traçado por Knopper relativamente à evolução da indústria do disco não é nada animador: de cada vez que as editoras discográficas tiveram que enfrentar novas evoluções tecnológicas elas acabaram quase sempre por escolher as soluções que ofereciam uma maior rentabilidade a curto prazo.
Mas na prática essas opções vieram mais tarde a colocar em causa o equilíbrio e a sustentabilidade do seu negócio. A sua estratégia foi sempre a de tentar travar a inovação tecnológica de modo a manter o mais possível uma escassez artificial que lhes garantia o controlo sobre o circuito de distribuição. Veja-se o exemplo das medidas de restrição tecnológica, vulgo DRM.
Daí aos inúmeros processos judiciais contra os programadores de aplicações de P2P foi um pequeno passo. Daí ao início da interminável perseguição dos seus maiores clientes foi outro pequeno passo. É assim sem surpresa que as editoras discográficas são hoje alvo da desconfiança não só do grande público mas também dos artistas que descobriram que existem outras formas mais eficientes, rápidas e económicas de distribuírem as suas obras.
Após constatarem que era impossível continuar a concorrer segundo as regras do mercado, as editoras são hoje forçadas a pressionar governos nacionais e fornecedores de acesso à Internet de modo a instituir uma teia de vigilância em redor de todas as ligações online, muitas vezes sem o respeito pelas regras fundamentais de um Estado de direito.
Embora não existam até ao momento grandes detalhes a respeito deste filme, sabe-se pelo menos para já que a argumentista Victoria Stewart foi encarregada de escrever a adaptação do livro para o filme, estando a produção a cargo de Robert Cooper.
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