As contradições que fazem a Máquina andar são também contradições internas para todo trabalhador – são as nossas contradições. É claro que a Máquina sabe que a gente não gosta dessa vida, e que não adianta simplesmente oprimir nossos desejos. Se ela se baseasse somente em repressão, a produtividade cairia e subiriam os custos de supervisão. Foi por isso que a escravidão acabou. Na realidade, metade de nós aceita o negócio da Máquina e a outra metade está revoltada contra ela.
E a Máquina tem, sem dúvida, algo a oferecer. A gente dá parte das nossas vidas, mas não tudo. Em troca, ela dá uma certa quantidade de produtos, mas não tanto quanto a gente queria nem exatamente o que a gente queria. Todo tipo de trabalhador tem o seu próprio negócio, e todo trabalhador faz o seu pequeno extra, dependendo das particularidades do emprego e da situação específica. Como todo mundo acha que está melhor do que alguém (sempre tem alguém que está pior), todo mundo se agarra ao seu negócio, desconfiando das mudanças. Assim a inércia interior da Máquina a protege contra reformas e revoluções.
A insatisfação e a disposição para mudar só emergem se o negócio se mostrar muito desigual. A crise atual, que é visível principalmente no plano econômico, se deve ao fato de que todos os negócios que a Máquina tem para oferecer se tornaram inaceitáveis. Trabalhadores A, B e C têm protestado recentemente, cada um à sua maneira, contra seus respectivos negócios. Não apenas os pobres, mas também os ricos estão insatisfeitos. A Máquina está finalmente perdendo a perspectiva. O mecanismo de divisão interna e repulsa mútua está entrando em colapso. A repulsa está se voltando contra a própria Máquina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário