#CADÊ MEU CHINELO?

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

TEATRO MÁGICO



A Trupe Desencantada

txt e pht: Rodrigo Colla

A trupe Teatro Mágico sobe ao palco do Opinião por volta das 00h. O encarregado de apresentar a banda começa mal: “Saudações tricolores. Do tricolor paulista, é claro. E cadê a torcida do Internacional? E a do Grêmio?”. Apelações típicas das piores bandas de bailão.

O som começa e não foge do bailão. É um grande agregado de gêneros musicais estandardizados que deram certo com arranjos pobres. É puro molde, puro padrão. É uma banda pop fantasiada com algumas letrinhas que dizem alguma coisa mesmo que às vezes de forma muito pueril e superficial. A idéia de fazer da arte e paralelamente de todo grande círculo interativo que são as relações “uma coisa só” é prudente, mas abordada de forma artificial e leviana. A idéia de “uma coisa só” no sentido de associar gêneros artísticos é igualmente interessante, mas quando feita com muito mais qualidade, do contrário é melhor se deter a “uma coisa só”. Mesmo o que a banda de Osasco – SP tenta fazer de mais autêntico ainda é tênue demais e a qualquer momento parece poder se decompor como uma maquiagem que borra com o choro do palhaço. Isso no que se trata de musicalidade, pois algumas interpretações, os malabares – ainda que esporadissíssimos - e acrobacias salvam um pouco a apresentação. Dão a ela a vida que lhe falta.



O Teatro Mágico não é nem mágico nem encantado, me pareceu, sim, deveras dissimulado e frágil. Apela ainda para algumas influências suas obviamente muito mais autênticas e inspiradas, como por exempo: Los Hermanos e Cordel do Fogo Encantado. Atira para todos os lados na tentativa de atingir algum alvo. E consegue. Axé, pop, reggae, rock e algumas menções que lembram literatura de cordel ainda que muito menos originais, são a hibridação pobre que, de certa forma, continua cativando o público e dando certo.

Se considerarmos a apresentação um desfilezinho de carnaval aí vão as notas para os seguintes quesitos:

Carisma: 6,5
Figurino: 5,5
Maquiagem: 4,5
Musicalidade: 3,0
Interpretações: 5,0
Poesia: 4,0
Números Circences: 7,5
Originalidade Musical: 2,0

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

TRISTES RETRATOS DO JORNALISMO

Por Ronaldo Martins Botelho, do Observatório da Imprensa

Imaginemos a que ambiente político estaríamos submetidos se, no lugar de se exercer o debate salutar, entrasse na moda entre os colegas jornalistas processar-se entre si por críticas manifestadas sobre práticas suspeitas, ou eticamente condenáveis, no trabalho alheio. Provavelmente, em um estado de censura explícita. Além de uma meio defesa, a justiça tem sido um instrumento para se impor uma "censura legal", até entre membros de uma mesma categoria.

Mas há outras formas mais sutis de controle do que pode ser dito e mostrado, conforme conveniência: a própria imprensa, por exemplo. Daí a preciosidade democrática dos observatórios e blogueiros que militam diariamente nesse monitoramento de práticas de mascaramento da realidade pela mídia. Ironicamente, o professor gaúcho Wladymir Ungaretti, do qual tenho o orgulho de ter sido aluno nos anos 1990, está sendo processado nesse momento pelo exercício voluntário nesse tipo de atividade e, o mais irônico, por um colega (?) da área de jornalismo (?).

O fotógrafo Ronaldo Bernardi, do jornal Zero Hora, está movendo processo contra Ungaretti por este ter sugerido a possibilidade de uma foto produzida por Bernardi em um fato policial ser uma montagem ("cascata") e por o autor da mesma ser identificado como Fotonaldo em uma de suas análises de imagens, veiculada sobre a edição de 04/11/2008 no Zero Hora, conforme o texto "Não se trata de uma provocação", publicado no blog de Ungaretti.

Leitor e observador voraz

O curioso é que em sua ação o fotógrafo não responde, nem problematiza, o centro da crítica de Ungaretti, que questiona eticamente os procedimentos profissionais em uma suposta montagem na cobertura de um fato policial.

No lugar disso, conforme Ungaretti, o referido fotógrafo apenas se restringe a reclamar, via justiça, codinomes a ele associados. Porém, pelo menos com relação à expressão Fotonaldo, nem isso parece se justificar, já que na ocasião – como pode ser notado no texto contido no link acima – Ungaretti deixa claro se tratar de um apelido difundido por outros colegas a respeito desse profissional e, portanto, não foi invenção sua. Não conheço Ronaldo Bernardi, porém em uma rápida rastreada noto que não é a primeira vez que sua conduta profissional é questionada por blogueiros, como se percebe no texto "Ao lado dos agressores", também veiculado em um blog.

Mas Ungaretti, eu conheço. Há alguns anos o professor Wladymir Ungaretti – ou apenas jornalista, como gosta de se assumir – realiza uma análise diária da grande imprensa gaúcha, estudo reconhecido até internacionalmente por estudantes, professores e jornalistas sérios. Seu trabalho não se resume ao comentário crítico: faz comparações; destaca títulos; avalia enquadramentos, desconstrói argumentos; aponta modelos; produz ensaios – tudo com a autoridade de quem tem a experiência, antes do magistério, de vários anos de ofício, em um momento político em que para exercer a profissão se era vítima de censores menos estranhos. Além disso, cultiva a qualidade típica dos veteranos, de leitor e observador voraz de tudo o que importa para a análise da vida em sociedade, seja na filosofia, nas ciências sociais ou nas artes.

"Práticas profissionais duvidosas"

Ainda nesse mapeamento cotidiano, referência dentro e fora de da sala de aula, Ungaretti disponibiliza em seu site Pontodevista especiais periódicos sobre temas ignorados, ou superficialmente tratados na imprensa tradicional, mas de alta relevância para entender nosso tempo. Trata-se, assim, de um raro exercício de jornalismo em profundidade que relaciona a observação crítica diária da imprensa hegemônica com o comportamento de outros poderes, agregando a isso uma boa dose de ciência e literatura e um claro posicionamento político (que faria bem que todo jornalista manifestasse visivelmente).

Diante dessa situação, resolvi obter um depoimento direto de Ungaretti sobre o assunto, que reproduzo abaixo:

"Desde março de 2004, com a foto `Falcões do Sul´, estou apontando que este cara trabalha em sintonia com a polícia. Sempre com o sentido de criminalizar os movimentos sociais e a periferia. Este cara começou como boy, contínuo da redação (nada contra) quando eu já era subchefe de reportagem da redação de ZH, ou então pauteiro. Sempre me relacionei super bem com o pai dele, o seu Nilo, também contínuo da redação. Passou a boy, contínuo do laboratório fotográfico, passou a laboratorista da madrugada, a fotógrafo de plantão da madrugada e assim sucessivamente. Não sei se esta é a ordem exata. Têm 35 anos de RBS. Passou a fazer as matérias 500, matérias de interesse empresa. Na atualidade, segundo informações de pessoas da redação, após tantas críticas ao seu trabalho, foi colocado no plantão. Na geladeira. A discussão central não é o apelido ou as expressões showtógrafo, zerolândia, fotocampana, fotocascata, termos amplamente usados no meio, mas as fotos `produzidas´. Gostaria que tudo isso possibilitasse uma ampla discussão sobre práticas profissionais, no mínimo, duvidosas."

Solidariedade e apoio

A pergunta que fica, diante disso, é: a quem interessa censurar um trabalho pela transparência e independência na atividade jornalística? Ao jornalismo? Só se for o do discurso único. À justiça? Só se for a que diz que o interesse público está abaixo da discrição profissional. À honra particular? Só se for possível separar o indivíduo político do indivíduo jornalista, piada ainda contada em alguns cursos de comunicologia. Á democracia? Só se for àquela que se legitima através da vontade privada dos grandes grupos de comunicação e seus protetores.

Felizmente, para mim e todos os leitores de seu site/blog, apesar de estranhos acontecimentos recentes que sugerem formas indiretas de intimidação, Ungaretti não se intimidou. Pelo contrário, produziu outro de seus especiais sobre jornalismo, posicionando-se exatamente sobre a questão que enfrenta, através do micro-editorial "De consciência tranqüila"; incluiu ainda, nessa edição, ilustrações do processo de produção da "cascata" na imprensa (denominação tradicional para a criação fantasiosa de fatos ou distorção dos mesmos) que fornecem subsídios para entender as novas formas de manipulação fotográfica no jornalismo. Disponibiliza, com isso, mais subsídios ao debate: limonada farta de um só limão.

Enfim, diante disso e de outros episódios decepcionantes no mundo da grande imprensa, acredito profundamente que a credibilidade profissional reside hoje, muito acima e além de prêmios – sempre convenientes às organizações que os oferecem ou a interesses específicos por legitimação – está, sim, na abnegação e no trabalho diário pelo interesse público, reconhecido, ou perseguido, em momentos como esse. Jornalistas como Mino Carta, Lúcio Flávio Pinto, José Arbex Júnior, Alberto Dines, entre tantos outros de norte ao sul do país, ainda me fazem cultivar essa convicção. Portanto, professor Ungaretti, junto com minha solidariedade manifesto-lhe a certeza de que não está, e nunca estará, sozinho nessa empreitada. Continue firme, e se for preciso, como diria Lênin, "um passo atrás para dois passos à frente"!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

ANULA BRASIL


da Redação

Num caso raro na imprensa tupiniquim, na qual já é difícil os veículos assumirem seus candidatos, O DILÚVIO bate no peito pra dizer que a única opção séria nestas eleições é o voto nulo. A sociedade brasileira passou 20 anos proibida de votar e lutando pra ter esse direito. Pois bem, agora somos obrigados a votar. Não temos o direito de votar e, sim, o dever de participar desse circo eleitoral, repleto de promessas demagogas e cheio de alianças ridículas. Por tudo isso, O DILÚVIO afirma: ANULA BRASIL.

MIDNITE




# connection #

Midnite lota o Opinião
Fotos: Rodrigo Avila Colla
Texto: Rodrigo Avila Colla e Luis Vieira


Ingressos esgotados. Opinião cheio. Meia-noite, Midnite no palco. Os caras das Ilhas Virgens dispensam banda de abertura, já que tem um show que chega à aproximadamente 3h de duração. Além disso, a extensão de cada canção algumas vezes chega a cerca de 10 minutos.


No entanto, pouco se viu de improviso tanto nas palavras quanto no instrumental da banda. Refrões repetidos à exaustão, poucos solos de guitarra, e poucas variações tanto rítmicas quanto melódicas de baixo e bateria podem ser considerados os fatores que marcaram o show do Midnite. Dentre as tantas músicas executadas, pouquíssimas tiveram participação ativa do público.


O fato é que muita gente, não se importando com a redundância sonora da banda, entra numa espécie de transe e pasma com a música de certa forma “mântrica” do Midnite. Na sua segunda apresentação na capital gaúcha a banda confirmou que tem seu público cativo e corroborou a possibilidade de um retorno breve.

FABIANA MENINI


# entrevista #
TROCANDO UMA IDÉIA
txt: Tiago Jucá Oliveira
phts: arquivo pessoal




"Eu me formei em Administração de Hotéis", diz Fabiana Menini em certo trecho da entrevista. Essa declaração é uma surpresa quando dita por uma mulher sempre envolvida com projetos culturais, arte de rua, grafiteiros, músicos, produtores, dançarinos, etc. Conheço Fabiana dali, daqui e dacolá, mas quase nunca tive uma oportunidade de conversar de fato com ela. Sempre aquele "que legal, vamos se falar, vamos combinar de armar uma parceria e tal", mas, ela e eu, atrolhados cada qual com suas idéias e projetos, nunca tivemos esse papo. Uma dúvida de pauta pro overblog acabou, quando percebi que eu ainda não havia entrevistado uma pessoa muito importante pra cultura local. Dei o recado a ela, que prontamente respondeu: "que massa!".


Como você acabou parando na área na qual trabalha?

Eu me formei em Administração de Hotéis, na Escola Castelli, em Canela. Não tem nada a ver com arte. Eu com 16 anos fiz meu primeiro show, numa noite de natal de 1987 ou 88, um show com Os Cascavelletes, em Alegrete. Aí fui morar em Santa Maria, onde entrei pra faculdade de História. Mas eu tinha um acerto com meus pais. Meus pais são muito legais, se sou o que sou, eu devo a eles. O acerto é que durante os quatro anos na faculdade eu poderia fazer o que quisesse. E quando terminasse eu já teria que estar trabalhando pra me sustentar. Eu fiquei dois anos na UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) fazendo tudo que me dava vontade. Fiz o básico da História, e fiz todas as cadeiras de semiótica na Engenharia, na Comunicação, nas Artes, que era o que me empolgava na época. Entrei na faculdade de Artes, onde fiz várias coisas. E meu tempo estava acabando, então descobri a faculdade de Hotelaria, que durava dois anos. Aí fui pra Canela. Me formei, trabalhei no Laje de Pedra, onde entrei como supervisora de copa e quando saí era assistente do meu gerente. E me especializei na área de comida. Depois fui trabalhar em Angra dos Reis, Curitiba, e vim pra Novo Hamburgo como gerente do Hotel Fenac. O diretor do hotel era muito legal, eu dava umas idéias e ele topava. Então propus criar um espaço de arte dentro do hotel. Criamos uma galeria de arte. Chamamos A Barata Oriental pra cantar só músicas dos Beatles, junto com o Coral da Unisinos. E a direção adorava aquilo, achava lindo e divertido. Mas cansei de trabalhar em hotel, e apesar de todo dia circular pessoas diferentes, eu não aguentava mais a rotina, apesar de inventar tudo aquilo. Pedi demissão e resolvi morar em Porto Alegre, com a intenção de trabalhar com comida. Eu fazia uma vez por mês um jantar temático no Bar Ocidente, criei receitas a partir de livros. Outro mês foi comida medieval, me ligaram: "Fabiana, é verdade que vamos comer com as mãos?". "Não, não, é bobagem, vai ter talher sim". O Fiapo, dono do Ocidente, me liberou os domingos pra fazer festa de rap. E não tinha festa de rap em Porto Alegre. Eu ouvia rap através dos vídeos de skate, não foi pela black music. Então comecei a conhecer as pessoas que ouviam rap, conheci o Thaíde quando fui pra São Paulo e já ficamos amigos. A gente saía junto aqui e lá. Um dia ele perguntou: "por que tu não vende nossos shows lá no sul?". Aí começou tudo. Conheci os guris do Da Guedes, numa festa no Garagem Hermética. Gostei muito deles, era a primeira vez que ouvia rap gaúcho com qualidade. "Esses guris são bons mesmo", pensei. Aí teve a Expo Música em Canela, e me chamaram pra fazer os camarins e o coquetel de abertura. E faltava uma banda daqui pra tocar entre as atrações de fora. Apresentei a Da Guedes, eles foram e fizeram o show. Várias gravadoras estavam lá. Uma delas gostou. Como eu já estava conversando com a banda pra gente se unir e fazer junto. Naquela noite eu fechei o primeiro contrato deles. Mas a gravadora não pagava o estúdio, ficaram de lançar o disco em um ano e nada do disco sair, e a gente com o disco gravado. Aí surgiu a Trama. O Thaíde veio fazer show aqui, e eu coloquei o Da Guedes pra abrir. O Carlos Eduardo Miranda estava lá também e quis contratar os guris. Falei com meu pai, que é advogado, e fui na gravadora. Ou eles gravavam logo o CD, ou encerrava o contrato. Fiz como meu pai disse pra fazer, saí de lá e fui direto na Trama. Fomos pra São Paulo, gravamos tudo de novo em um mês e meio. E finalmente saiu o CD pela Trama. Meses depois eles me demitiram. Mas eu continuei. O Xis me contratou pra produzir ele aqui no RS. Esses dias eu fiz uma lista com todos artistas que já trabalhei. Foram 76 shows de artistas diferentes em 12 anos.

Fabiana tem 36 anos. Mora num apartamento em um gigantesco condomínio no bairro Jardim Botânico, ao lado da Escola Superior de Educação Física da UFRGS. "Vou te esperar com um café", me diz pouco antes de eu sair de casa. Em alguns momentos da conversa, fomos interrompido pelo celular dela. A menina que cuida de seu filho quer saber se Fabiana está em casa, pois está sem chave. São seis horas da tarde quando chegam os dois. Pedro é um bonito e divertido menino de oito anos de idade. A mãe pergunta se tem tema de casa pra fazer. "Só as sete horas", desvia-se Pedro do obstáculo que impede de usar o computador.

Instituto Trocando Idéia existe desde quando?

Desde 1996. A partir de 1999 começamos o Festival Trocando Idéia, que se realiza anualmente, exceto ano passado por falta de patrocínio, e que estamos captando pra que este ano aconteça.

Faltou muita grana pro festival sair ano passado?

Escrevemos em vários editais da Fundação Moreira Salles, da Petrobras, apresentamos pra empresas, mas penso que ainda temos no Brasil uma dificuldade de entendimento da abrangência da arte de rua. Ela está hoje nos comerciais de tv, feita nas agências por publicitários, mas esta exposição não retorna pra quem faz ela na rua. O Trocando Idéia é um encontro, com shows, exposição e oficinas, todas atividades gratuitas, e no último o público foi em três dias de 12 mil pessoas. Jovens do Brasil, foram oito estados presentes, e da América Latina, que se fez presente duas vezes com participantes do Chile, Argentina e Paraguai.

Mas o instituto funciona o ano todo né?

O Trocando Idéia é um associação que tem seis pessoas trabalhando. A gente sabe que em tal lugar tem uma escola de samba com telecentro, que noutro lugar tem uma escola de dança. Então tentamos fazer com que essas pessoas tenham mais informação e que conheçam outras pessoas pra trabalhar juntas.

E teus outros projetos, como o Identidade de Rua?

Tem o Identidade de Rua, há quatro anos, no qual pintamos os trens do Trensurb. Pra fazer as pinturas dos trens foi um ano de convencimento. Uma vez por mês eu ia lá e dizia pra Cristina, chefe de comunicação do Trensurb, que o projeto era legal, mostrava fotos e currículo dos artistas. E eles com medo de fazer aquilo. Voltava no outro mês e no outro até convencer o presidente que ia ser legal. Fizemos a pintura do primeiro trem. O Trensurb foi indicado pra um prêmio na ONU de boas práticas públicas. Aí eles viram que teve um retorno, que as pessoas falavam. Fizemos de novo, mas não só nos trens, pois a proposta é usar o grafite pra fazer suportes diversos. Então teve um leilão de tela grafitada no Santander Cultural; a Ativa liberou as cabines telefônicas, etc. Pra este ano terá um tema e serão pintadas as estações do Trensurb.

E o projeto Palavra?

Os artistas vão em lugares como bibliotecas públicas ou associações, onde lêem suas letras e conversam com as pessoas. A gente está tentando dar uma identidade pra todos esses projetos, tipo num mesmo ano tratar de um mesmo tema. Então o Identidade deste ano vai ser o livro e a leitura. Quando eu fui no Trensurb contar isso, me disseram que estão criando uma biblioteca dentro de uma estação de trem. Fechou tudo! Vamos fazer de novo! Mas até agora eu não tenho cachê pra ninguém. Tem tinta, tem vontade, mas ninguém está ganhando dinheiro até agora. Então tem um tempo ainda pra correr atrás de um cachê pros artistas. É muito difícil fazer esse projeto, ficar escrevendo o tempo todo, achar edital.

E as ferramentas tecnológicas de hoje, se por um lado ajudam a divulgar o trabalho de forma mais rápida e fácil, por outro ainda estamos aprendendo como tirar grana através desses novos conceitos de produção e distribuição. Está mais difícil e fácil ao mesmo tempo?

Sempre foi difícil, não é uma coisa de agora. O que facilita é que temos mais ferramentas pra dizer o que está fazendo e que precisa de dinheiro pra fazer isso. Já cansei de ouvir as empresas dizerem "ah, eu quero". Aí a gente pára, faz um projeto, pega currículo de todo mundo, faz orçamento e apresenta. "Ah, a gente não quer mais, mudamos o foco semana passada numa reunião". Artista e produtor cultural são guerreiros.

Nossa conversa se deu um dia antes de Fabiana ir viajar pro Recife, onde participou do Festival Abril Pro Rock deste ano. Além de CDs, resenhas, projetos e idéias, Fabiana carrega o acentuado sotaque 'e', típico dos habitantes da fronteira gaúcha com Argentina e Uruguai. Ela conta que quando morava lá, era mais fácil ir pra Montevideo e Buenos Aires do que vir para Porto Alegre, por causa da distância. Tive sorte, pois se bobeasse mais um dia pra entrar em contato, perderia a oportunidade deste papo interessante.

O que você vai fazer no Abril Pro Rock?

Vou pro Recife pois inscrevi o Trocando Idéia pra participar daAbrafin. O Trocando Idéia é o único festival de hip-hop no Brasil com tanto tempo. Quando vi que lá estarão o pessoal dos festivais e como eu me envolvo com muitos artistas, eu preparei um material de oito artistas pra levar, pois os festivais de rock começaram a abrir pra outros estilos musicais. Minha proposta vai ser que alguns possam ter um palco alternativo de rap e hip-hop. Vai ter muita gente interessante por lá pra manter contato pra depois continuar a conversa.

Você está levando material de oito artistas daqui?

Não, não são todos daqui. Como faz bastante tempo que trabalho com rap, eu acabo trabalhando com gente de tudo que é lugar. Eu tenho um contato no Chile, e eu distribuo as músicas deles aqui no Brasil. Por exemplo, o Moleque de Rua, que é uma banda que já tem muitos anos, eles há quase dez anos ficam seis meses por ano na Europa fazendo shows, e aqui eles não fazem shows. A intenção é conseguir shows pra eles no Brasil. Além do Moleque de Rua, levarei o Proffeta, o Solo Damant, e o Emepê 4, todos de Porto Alegre.

Sim, mas você vai levar somente material né, não vai levar artistas?


Eu fiz um CD com um encarte, onde tem duas músicas e uma página de cada artista, que vou entregar pras pessoas. Tem também uma página falando o que é o Trocando Idéia. E uma trilha do espetáculo de um grupo de break, o Hackers Crew, primeira companhia de dança de rua indicada ao Prêmio Açorianos de 2006 em três categorias.

Você ainda é produtora de bandas?


Não produzo mais. 

Por que não?


É um saco, é muito chato, é muito trabalhoso. Eu trabalhei três anos com o Da Guedes. Foram três anos até conseguir a gravadora, pra começar a conhecerem o som deles.

A última vez que eu havia encontrado Fabiana foi dentro do estúdio da rádio Ipanema FM, por poucos minutos. Tejo Damasceno, do Coletivo Instituto, e eu estávamos saindo do ar, depois de uma entrevista no programa do Piá, enquanto ela entrava com um pelotão de mulheres. Elas estavam lá pra divulgar o Universo Feminino 2008, evento que promove e discute as ações das mulheres. Antes de eu sair do estúdio, Fabiana me disse que estava indo pra França novamente.

Como começou esse intercâmbio com a França?

A gente começou nas edições do Fórum Social Mundial de Porto Alegre. Eu fazia a parte cultural do palco do Movimento Nacional de Luta pela Moradia. Então tinha um espaço chamado No Vox, que era para os sem-documentos, os sem-tetos, os sem-terras, pessoal do Japão, França e Estados Unidos. Conheci o MNLM através de um produtor francês, chamado Jaques Pasquier, ex-empresário do The Doors, o cara que faz a programação do Fórum Social Europeu. Ele me disse que precisava de alguém que fizesse a estrutura e que montasse a programação. Eu montei tudo isso. Dentro desse espaço tivemos uma reunião mundial do Trocando Idéia, na mesma época que estávamos organizando o festival pra sair aqui do RS, pois tinha gente pedindo. Naquele espaço tinha muitas pessoas, produtores culturais e tal. O Jaques me propôs montar algo pra levar essas pessoas pra França, pra mostrar o hip-hop do Brasil lá. A gente ficou três anos conversando. Mas começou mesmo a andar ano passado. Fomos eu e dois artistas da Hackers Crew. Foi muito legal, o retorno foi ótimo pra essa associação da França - Les Gamins de l’Art Rue -, pois eles viram o trabalho de crianças com idade entre 12 e 14 anos, em quatro cidades. Deu tudo certo. Agora eu vou com 12 pessoas.

Que semelhanças e diferenças você notou entre as periferias francesas e brasileiras? E qual o grande problema deles?


O problema deles é trabalho, né. Os caras não tem trabalho, pois eles não têm papel. São os sem-papel, que fazem parte do No Vox. Eles têm identidade, mas não podem trabalhar, não podem se formalizar no país. A periferia da França é feita de imigrantes. Paris pra mim foi reveladora. Em volta da Torre Eiffel, naquele centrinho ali, é tudo muito branco, limpo, cheiroso. Aí tu vai indo e vai ficando mais preto, mais turco, mais marroquino, mais sujo, mais pichado, mais pessoas na rua, mais bolinhos de pessoas conversando, mais tráfico. Quanto mais pra longe do centro, mais se acentuam as diferenças sociais. E a Les Gamins de l’Art Rue aproximam jovens de periferias pra conversarem e tentar achar o que tem em comum e quais as lutas que se fazem pra que isso possa se tornar visível.

Pergunto se falta algo que não perguntei. Ela me tranquiliza. Nas quase três horas que tivemos de papo, o som que vinha do computador é basicamente rap. Fabiana me diz que ouve muito rap, mas também curte outros gêneros musicais. Só não se acostumou nem consegue gostar de música eletrônica, "destas que tocam nas raves, me dizem que é legal, pra eu prestar atenção, mas não adianta". No computador, Fabiana me mostra fotos da França, conta dos carros que são grafitados espontaneamente por artistas de rua e sem a permissão dos donos. Relata os casos de rebeldia francesa: "eles murcham ou furam os quatro pneus de um carro de luxo com o objetivo de conseguir mais empregos pra borracheiros". Tomo um copo d'água antes de ir embora. Pedro sorri: "mas essa água aí é da torneira". Não faz mal garoto. Eu queria matar era a sede de informação.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

TRIBO DE JAH



# connection #
REGGAE TRIBAL
txt e phts: Rodrigo Colla

A abertura da noite no Opinião ficou por conta da banda Profetas de Zion. O grupo aproveitou a oportunidade para mostrar um pouco do rockers reggae (sub-gênero do reggae no meio dos anos 70) e outras vertentes do reggae roots. A Profetas apresentou músicas próprias que já foram gravadas e que ainda não foram registradas.

A Tribo de Jah foi ao palco do Opinião por volta da meia-noite e meia. A banda liderada por Fauzi Beydoun executou grandes sucessos dos últimos 20 anos tais como “Morena Raiz”, “Reggae na Estrada”, “Bruxaria”, “Regueiros Guerreiros”, entre outros hits. Outra ênfase forte da apresentação foi na releituras de clássicos históricos do reggae que a Tribo de Jah já registrou, incluindo Bob Marley. Ainda que os “magnatas” (termo utilizado com bom-humor por Fauzi) da Tribo não disponham mais de tanta criatividade como no princípio da carreira, a banda permanece com forte prestígio em Porto Alegre.

domingo, 10 de agosto de 2008

ECHO AND THE BAUNNYMEN


# connection #
Echo em Porto
txt e phts: Rodrigo Colla

Apesar de ainda ser considerada uma banda undergound, a Echo & The Bunnymen esteve no Brasil e, em Porto Alegre, pela sétima vez. O grupo britânico lotou o Opinião no dia 3 de julho com público de diversas idades.

Uma das grandes virtudes do Echo & The Bunnymen para um show são as canções de curta duração e variadas em suas roupagens, ora acústicas, ora com ênfase acentuada nas guitarras distorcidas. No entanto, o Echo embalou mesmo a noite com hits consagrados nos anos 80 como “Lips Like Sugar” e “Killing Moon.”

Não há como não reconhecer que a banda apresentou uma boa performance técnica e bastante vitalidade, visto que o Echo & The Bunnymen iniciou sua carreira em 1977 e seus integrantes já passaram dos 40 anos.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

RAFAEL CRESPO

# que conversa é essa ?! #



De outro planeta

txt: China
pht: arquivo pessoal



Rafael Crespo, 35, guitarrista. Foi o responsável pelos hits mais importantes do Planet Hemp. Hoje em dia ele é sócio de um estúdio no Humaitá-RJ, e tenta montar uma banda de country/folk/rock no Rio de Janeiro. “A tarefa mais árdua que Deus me deu”.

Porque é tão difícil montar banda no Rio de Janeiro? Os músicos estão impregnados de clichês?

Primeiro porque tem pouco músico, mas rola um pouco disso que você falou também. Já ouvi não mais de uma vez que o Rio é o túmulo do rock, assim como dizem que São Paulo é o túmulo do samba, mas não acredite nas coisas que você ouve.

Eu acho que os cariocas num são bons pra cantar rock. Acaba sempre com aquela sonoridade B rock, anos oitenta.

Pode ser. Tem umas coisas boas mas o que se sobressai é mais isso mesmo. Talvez pelo fato de todas as grandes gravadoras, as emissoras de tv e rádio estarem concentradas aqui, criou-se essa cultura pop no Rio de Janeiro, enquanto São Paulo sempre foi mais underground, e os estados estavam muito distantes para se preocuparem com isso.

Tu acha que os anos 80 fizeram mal a cena rock que se criou depois?


A que veio depois não porque quem veio depois, veio puto com o que rolava antes. Falo de Raimundos, Planet Hemp, Chico Science...foi uma ruptura com aquela coisa de Blitz, Barão Vermelho Kid Abelha, o rock de mauricinho.

Nessa época tu já tinha banda ou foi no Planet Hemp que começou tua carreira?

Não. Comecei a tocar razoavelmente, o suficiente para ser aceito numa banda, lá pelo meio dos anos 80.

Guitarra?

Isso, guitarra. Lembro até hoje do Rock in Rio I, o Herbet Vianna chamando o Angus Young (ACDC) de mão dura. Me deu uma raiva, mas hoje eu entendo.

Porque ele disse isso?

Porque ele achava que o Angus Young só sabia tocar aquele som, que ele não tinha swingue para tocar um reggae ou um ska. Mas quem disse que o Angus precisa tocar ska, o cara tocava numa das maiores bandas de rock da época, era um guitarrista showmen, o cara não tava nem aí. Cada um faz o seu som.

Tu acha que o cara pra viver de música tem que ser, digamos assim, versátil?

Aqui no Brasil, sim. Já ouvi uma definição de malandragem que era o seguinte: Malandro era o cara que conseguia viver bem e se divertir sem dinheiro, ou seja, foi o jeito que o pobre inventou para viver melhor. Foi aí que surgiu a malandragem. Acho que o músico brasileiro é meio assim, se vira como pode para fazer o que gosta.

É, tu poderia ter feito parte de outras bandas rentáveis, mas você sempre investiu no underground.

É, eu fiz parte de uma banda que acho que vai ficar marcada na história de algum jeito, não sei se bom ou ruim. Podia ter me acomodado com o que tinha conseguido, mas não ia me sentir feliz e realizado enquanto visse tantas bandas boas e de qualidade serem desprezadas e subestimadas.

Porque tu saiu do Planet no meio do caminho? Só pra não ser preso? (Os músicos do Planet Hemp foram presos pela polícia em 1997, época em que Rafael se afastou da banda).

Pois é, você já viu aquele filme, Matchpoint, do Woody Allen?

Não.

Então vai ver! Ele diz que na vida tudo é uma questão de sorte. Acho que foi isso. Saí num momento em que não concordava com os rumos musicais que a banda tava tomando. Não consigo fazer uma coisa e olhar na cara das pessoas se eu não tiver tendo prazer no que faço e no convívio com eles. Então rolou aquilo, mas depois a gente amadurece, cresce e...sei lá, morre um dia, né?

Mas tu voltou pela grana ou porque se entendeu com os caras?

Eu me entendi com os caras no momento que eu tava mais duro, essas coincidências são foda, né?

Tu tem muita composição nos discos do Planet, mas ao mesmo tempo, você tem essa coisa de colocar os teus sons na internet . Aqui em Recife, os compositores que ganham bem com direito autoral, não querem botar as músicas na rede por medo de perder grana. O que tu acha? O cara perde, ou ganha na frente liberando as músicas?

Bom, eu não vejo música por esse ângulo. É como se o Picasso cobrasse pelo número de vezes que alguém visse um quadro dele. Acho que primeiro, música é uma arte(mas pode ser que eu esteja enganado), logo me considero um artista, e o que eu mais quero é que as pessoas ouçam minhas músicas, conheçam a minha arte. Dinheiro é conseqüência de vários fatores. Não é nisso que eu penso quando faço um som, nem quando tento achar um meio para que as pessoas possam, ter acesso. Acho que quem vive de música, quem tem um nível de vida elevado, não quer perder nunca o que conquistou. Desse ponto de vista eu ate entendo(embora não concorde), mas para o artista que ta começando, que não tem porra nenhuma, não faz diferença. É uma questão complicada, não é tão simples assim.

Gostei da analogia com os quadros de Picasso. Se ele cobrasse ia ser complicado mesmo. Tu agora tá tocando em quantas bandas? Quando eu te conheci, você tinha pelo menos umas seis.

Pois é, eu era jovem, né? Cheio de energia. Agora eu só toco com o Polara, e faço umas músicas que eu tô tentando divulgar sob o nome de Poniboy. Acho que é isso, não tenho mais nenhum plano ambicioso para conquistar o mundo, mas também não me contento com o que tenho. Então a questão é: Enquanto eu tiver criatividade para fazer música, enquanto não me provarem que o que eu faço e ruim, eu vou continuar fazendo e divulgando da maneira mais ética possível o meu trabalho.

Tu já se vendeu (ou se rendeu) a pressões de gravadora alguma vez?

Depende.

Como assim?

O q isso significa? Assinar um contrato e se render? Não. Nunca.

Fazer coisas que a gravadora insistiu e que não eram legais para a banda, essas coisas.


Eu já quebrei um disco de ouro uma vez na festa de entrega do nosso disco de ouro, acho que depois disso os caras ficaram meio com medo de mim.

Porque tu fez isso?

Pra começar porque eu tava completamente embriagado. E depois porque o nosso primeiro disco de ouro era igual aqueles que você vê em filme. Era um lp de 12 polegadas dourado, lindo. Tenho ate hoje. O segundo era um cdzinho mixuruca, e ainda por cima com um design de muito mau gosto. Como eu já tava insatisfeito por varias coisas que vinham ocorrendo. Acho que isso ficou no inconsciente, e a bebida ajudou a trazer tudo isso a tona. Na época eu achei engraçado. Hoje em dia eu acho muito mais engraçado ainda.

Pelo menos vai ter história pra contar pros netos.

Bom, algumas é melhor eles não saberem.

Hahahahahahahahahaha. E agora dono de estúdio? Deve ser chato ficar alugando equipamento pra galera destruir.

Até que não. Eu tenho me aprimorado bastante gravando, mixando, fazendo algumas experiências. Mas eu to me concentrando nessa história de tirar bons timbres, de tentar ser original, sei lá. Coisas que eu sempre questionei também quando era músico. Lembro que na gravação do nosso primeiro cd, ninguém sacava muito de estúdio nem nada, aí eu levei um cd de uma banda para o engenheiro de som e mostrei pra ele um som que começava parecendo que você tava ouvindo um ensaio da banda, e de repente entrava a gravação porrada. Eu achei aquilo foda. Falei pro cara que queria fazer igual. O cara ficou olhando pra mim e achando que eu tava brincando ou que eu era maluco, até que ele sacou que era sério, que ele ia ter que fazer aquilo mesmo. Ele ficou umas três horas para descobrir como fazia aquilo, e eu não tinha a menor idéia...só sei que depois que ele descobriu, eu disse que ia gravar a musica inteira daquele jeito.
Bom, depois que gravamos o som, o cara me chamou de canto e falou bem sério comigo. “Olha, quando você mostrar isso pros caras da gravadora, você explica pra eles que a intenção que você queria era essa mesmo. Fala aquilo que você falou pra mim, diz que não é defeito e nem que foi má qualidade do estúdio”. Hahahahahahahaha. Eu fiquei rindo da cara dele.
Não tava entendendo porque ele tava se preocupando, tinha ficado do caralho, fodasse o resto.
Hoje em dia eu me dou conta, de como as pessoas eram atrasadas e retrógradas naquela época. Nesse mundo de gravadoras e produtores ainda são, mas hoje as pessoas ousam mais. Naquela época era proibido você fazer alguma coisa diferente. Depois disso eu comecei a me interessar por produção e por todos os recursos que um estúdio oferece e que não é aproveitado.

Qual era essa música?

Skank. Era uma música instrumental. E tem uma escondida também, a última do cd que rola isso. Por mim, eu teria gravado o disco inteiro desse jeito.
Pega pra ouvir o primeiro disco do Defalla. O som é muito foda. O disco é de 1984, sei lá, por ai. Quando eu fui tocar com os caras perguntei pra eles como que os caras da gravadora deixaram eles fazer aquilo. O Edu K me contou história. Disse que o técnico de som, que também era o produtor do disco, era um porra louca e curtiu as idéias da banda, então fez tudo do jeito que eles queriam. Eles só mostraram o disco pra gravadora quando já tava tudo pronto.

Então, o primeiro disco deles lembra muito o usuário, do Planet, até os rifffs de guitarra são parecidos. Tu vivia ouvindo isso, né?

Esse disco me marcou muito. Foi a primeira vez que eu vi alguém fazer rock de verdade na minha frente, a um metro de distância, fazendo loucura, tirando uns sons loucos. Aquilo mudou minha vida de verdade, tipo, eu devia ter uns 15 anos. Eu falei isso pra eles depois porque eu entendi que você não precisava ser nenhum virtuoso pra fazer um som bom, bastava ter bom gosto, atitude...é isso aí.

Tu acha que o Brasil pode se tornar referência mundial no quesito rock?

Acho, de verdade. Aqui é o único país do mundo que tem banda de tudo quanto é estilo, tudo mesmo, e com talento. O que falta é incentivo e estrutura. Nenhum lugar do mundo tem a variedade que tem no Brasil.
Aqui você tem desde country a black metal, desde forró, a milonga, ou seja, tem de tudo, é só incentivar.
Eu li uma entrevista do Millencollin (banda de hardcore melódico da Suécia) quando eles vieram ao Brasil a primeira vez. O jornalista perguntou se foi muito difícil para eles, porque eles não eram americanos e tal. Eles disseram que não. Eles montaram a banda e ganharam do governo os instrumentos, e depois que eles tinham gravado disco, o governo patrocinou a tour deles pelos EUA e Europa. Ele disse que lá isso é comum.

Tu concorda com a postura de Marcelo D2? Meter o pau em Faustão e Gugu e depois ir lá cantar. Tu iria no Faustão?

Olha, a gente uma vez ia no Ratinho, ai eu fui lá no apartamento do Marcelo e do Lobato (empresário do Planet Hemp) e disse que não queria ir.Disse que eu não concordava com ele, não apoiava aquele programa dele, não deixava minha filha assistir aquele tipo de programa, porque aquilo é um desserviço a cultura. Então eu não podia ir lá porque era contra meus ideais. Não sei o que eles acharam, mas a gente não foi.
Agora sobre o D2, acho que ele é dono do nariz dele, ele sabe o que é melhor pra ele. Não cabe a mim dizer se eu acho certo ou não.

Se tua filha quiser seguir carreira musical tu vai achar bom?

Lógico. Mas ela tem mais jeito para desenhar. Puxou a mãe.

Garota sensata.

Hehehehe. Mas uma coisa hoje eu me arrependo: De não ter estudado mais
Antes. Achava besteira, mas hoje acho que me faz falta.

Conhecimentos gerais?

Não, conhecimento específico mesmo. Eu estudei jornalismo, mas queria ser musico. Hoje em dia acho que poderia escrever melhor se tivesse levado mais a serio os meus estudos. Isso é uma coisa que eu sinto falta.

É, o ruim é ver tanto jornalista que estudou escrevendo besteira por aí...

Pois é, isso é o que mais tem.

Tem previsão pra sair esse disquinho de Poniboy?

Não. Um dia.

Não se sente seguro pra lançar esse material ainda?

Eu tô fazendo músicas novas. Aquelas músicas que estão no site da trama...aquilo foi só um retrato de um momento que eu passei. Nunca tinha pensado em fazer nada além daquilo. Hoje eu tenho feito muito mais músicas, e as músicas estão mais consistentes, mas ainda não tenho os arranjos prontos, queria gravar com uma estrutura, uma banda, tipo violino, piano, banjo, acordeom. Isso leva tempo, e sem dinheiro...leva mais ainda.
Primeiro, preciso montar a banda, mas tá clareando aqui a situação, dia 17 agora vou fazer o meu primeiro show.

Tu devia catar esses caras em faculdades de música. Gente nova, sangue novo.

Essa foi a idéia inicial, mas músico de faculdade, músico que estuda, tem outra filosofia. Eles põem notas demais. Prefiro pegar a molecada que tem mais o espírito punk mesmo. É só domar um pouco a testosterona deles que rola.

Tu gosta do Rio de Janeiro? Sempre achei que você odiava esse lugar. Até por tu ter ido morar em São Paulo um tempo.

Eu já odiei muito o Rio. Hahahahahaha. É sério, mas hoje em dia eu não odeio mais nada. Se pudesse escolher moraria em SP, acho que tem mais haver comigo. A cidade, as pessoas, o clima, tudo. Na verdade o fato é que eu não odeio o Rio, mas eu amo São Paulo. Mas pelo menos aqui eu tô perto da minha família, da minha filha, isso é importante também.

Tu acha que o Planet Hemp tem volta?

Não. Só se for daqui a uns 25 anos, tipo encontro de amigos.

Só pra ganhar uma grana.

Cara, espero que não. Espero resolver esse problema muito antes disso.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

EDDIE C. CAMPBELL

# connection #



Mississipi vive

txt e pht: Luís Vieira

Por volta das 22h30min do dia 10 de julho, o cantor Eddie C. Campbell rumava ao palco do Abbey Road trocando a bengala pela sua guitarra. Campbell estava acompanhado da The Special Blues Band, formada por Gaspo Hamônica (gaita), Edu Meireles (baixo), André Tubino (guitarra) e Adrian Flores (baterista e líder da banda).

Apesar de ter deixado o Mississipi para viver Chicago em 1949 aos 10 anos, o cantor carrega o estilo mississipiano na vestimenta, no modo de falar e, principalmente, na música. O show de Campbell e sua banda foi marcado pela crueza nas execuções das músicas. Além disso, o cantor mostrou que merece respeito não apenas por seus cabelos brancos. A voz aveludada não deixou nada a desejar.

Um dos maiores clichês do mundo da música é a saudade de décadas passadas. No entanto, não se pode deixar de dizer isso quanto se vê o show de Eddie Campbell. O lamento a respeito das dificuldades do cotidiano, a simples criatividade e bom humor para relatar histórias e, ainda, um pouco mais de poesia para tratar do romantismo de um artista que teve seu auge na década de 70.

Após provavelmente ter gastado as unhas tocando sua guitarra por mais de uma hora, Campbell mostrou o que mais usa para tocar guitarra, mostrando mais uma forma de interação com o público. Ele ainda abriu um grande sorriso para justificar porque não toca mais com os dentes.

terça-feira, 8 de julho de 2008

PITO KARCOMA

Descobrindo Pito Karcoma



txt e phts: Junior Bellé

Ele não tem carro nem celular. Mas é vegetariano. Semanalmente ajudante num hospital público em Elche, Espanha. Musico multiuso nos domingos e feriados religiosos. Anarquista em epílogo e epígrafe insurrecional. Libertário em estilo integral. Não move os calcanhares um milímetro se no horizonte brilhar “MAINSTREAM”, como o néon importado de um pub granfino. Advogado da Pirataria Caseira. Há um tempo atrás tinha o cético hábito de invadir o palco todo encapuzado, apontando o violão para a têmpora dos inocentes e gritando: “Yo Soy Julio Bustamante”. Muita gente captou a idéia. E decodificou. Sua turnê girou os maiores e menores okupas e ateneus da Espanha reverberando seus acordes pirotécnicos. Felizmente ninguém saiu ferido. Na pele. Pra quem ainda não conhece, abaixo vai um bate papo virtual com o “Elvis Callejero das Partituras Libertárias”. Pito Karcoma!



Na sua página na Internet a biografia começa no ano de 1993, mas o que você fez antes dessa data, antes mesmo dos Black Carcomas? Dá uns pitacos da tua história, juventude, o contato com o punk e com o anarquismo.

Nasci em 1961, em plena ditadura franquista, a morte do ditador e, o que aqui se chamou “transição democrática”, me tomou em plena adolescência. Foi uma época de intenso ativismo na esquerda, ali eu comecei, conheci o anarquismo – também outros movimentos políticos –, através dos livros e da história primeiramente, depois já militando em múltiplos coletivos, tanto políticos como culturais, comecei a tentar depositar meu grãozinho de areia nessa tarefa coletiva que é a revolução. Queria começar a ser anarquista, acredito que nunca somos completamente, é um caminho a seguir. Então me filiei a anarcosindicalista CNT, lutei contras as usinas nucleares, contra o ingresso na OTAN, nas greves, contra o serviço militar, pelas okupações, contra mil coisas, sempre onde havia uma oportunidade para se mobilizar. De uma forma ou outra sempre perdemos aquelas batalhas, algumas vezes triunfamos, pouquíssimas... as vezes também fraquejamos, mas sempre voltávamos novamente para primeira linha e assim seguíamos, sem nos rendermos jamais frente ao capitalismo. Também, paralelamente ás atividades políticas, participei em fazines e publicações, tanto políticas quanto musicais. Fizemos durante dois anos um programa de rádio chamado “Barrikada” em uma emissora livre, a “Radio Punxa”. Também estive em algumas experiências teatrais, mas na musica comecei desde muito jovem escutando os cantores que resistiam à ditadura. Logo já se podia escutar ao menos outras vertentes musicais, primeiro o rock ou o heavy - aquele feito aqui possuía um compromisso social que hoje desapareceu quase completamente – e assim chegou o punk. Ou melhor, chegou todo o rock radikal Vasco, e de outros lugares do país, tudo muito rápido, e isso marcou um método de fazer as coisas que ainda atualmente perdura, tanto em novos grupos como no público. Para mim, o punk não é uma moda ou uma forma de vestir. É uma atitude. Faça você mesmo. Tome seu próprio poder e comece a fazer as coisas que queira. Isso é o que há de realmente revolucionário no punk, o resto não deixa de ser as vezes apenas moda, ainda que, seguramente, é uma moda bastante selvagem. (risos)


Sobre os Black Carcomas. Vocês eram um grupo de punk, mas qual era a influência musical, ideológica? A distância do mainstream era proposital? E, outra coisinha, pra emendar, o Black era um projeto temporal?

O Black Carcomas nasceu por casualidade, já no ano de 1993, e foi formado por quatro amigos: Txno, Kurro, Tado e eu. Totalmente diferentes quanto à personalidade, gosto musical e projetos de grupo. Se bem que não havia nenhum projeto de grupo no começo. Simplesmente no juntamos para tocar, para nos divertirmos e fazer barulho. Então enfiamos um ideário e aquilo começou a rodar. Por isso nos chamaram de “um grupo de punk rock”, porque decidimos fazer as coisas por nós mesmos, sem necessidade de grandes músicos, sem aspirar ser uma estrela do rock, e neste ponto sim, estávamos todos de acordo. Por outro lado, o fato de sermos todos tão diferentes trouxe uma criatividade especial e coletiva. Se você ouve as canções, somos um grupo de guitarras, baixo, bateria e voz, que tem a atitude punk, mas que musicalmente era só o que podíamos e sabíamos tocar. Aqueles cinco anos foram A Bomba! (risos). Como todo grupo que se preze, éramos terríveis em cima e em baixo do palco.
Na hora de compor éramos somente em dois, normalmente: Tomas Rometo – “El Txino”, que tinha as influências do power punk e do pop mas cru, feito na guitarra -; e eu. Me seduzia mais o punk com a mensagem política, ainda que não tivesse nojo de outros estilos menos ortodoxos. Algumas canções compúnhamos meio-a-meio, acho que isso é perceptível nas diferente musicas. A experiência comercial do grupo foi mínima, já que atuávamos geralmente em circuitos políticos e alternativos, ou em bares de rock. Até fizemos algumas apresentações com empresário para edição do CD... eu não gostava daquilo, era uma empresa a mais, algo para se vender, ainda que na época eu tivesse que mentir, etc. Sinceramente, não gostei nada de tratar com esse tipo de gente. E nisso o grupo se dissolveu e alguns deixaram a musica. E aqui estou eu já há 10 anos como Pito Karcoma.
Assim eu produzi o cassete “Música del baile, vol.1” e o CD “En el corazón de la calle”, mais algumas musicas ao vivo em alguma compilação. Porque a verdade é essa, nunca conseguimos no estúdio a força e a raiva que tínhamos ao vivo, nem a velocidade. (risos). Era no palco que os Black Carcomas eram os azes, eram os mais rápidos. Simples, mas rápidos. E esse é o truque do punk!


Agora ventilando o leque. Como foi participar da encenação da “Resistencia” do Edilio Peña?

Foi uma oportunidade única. Na minha cidade, Elche, há um grupo de teatro chamado “La Carátula”, já com quarenta anos de trajetória. No ano de 1996 eles decidiram colocar em prática o projeto “Resistencia”, um texto do escritor venezuelano Edilio Peña. Queriam fazer algo novo e, ao mesmo tempo, que aproximasse duas facetas culturais que poucas vezes se encontravam, o teatro e o mundo do rock. Todo mundo se conhecia, inclusive o Txino era um dos atores numas montagens anteriores. Pensaram no Black Carcomas para fazer a musica ao vivo de uma plataforma, e participar no cenário tocando. Não éramos os melhores músicos, mas éramos quem podia se identificar com o texto, um texto que fala de poder, de sua relação, de como realmente utiliza seus mecanismos para perpetuar-se, fala do controle ideológico, da ambição, da tortura e da morte se for necessário, e como, ao mesmo tempo, a resistência, a dignidade e a ética acabam renascendo no indivíduo de uma forma ou de outra. Quando li o texto do Edilio me apaixonei pela obra, então participamos atuando, compondo a trilha sonora, compomos uma canção que tem o mesmo nome do texto e que interpretávamos ao finalizá-la. Além de grandes efeitos especiais, também levávamos uma tela gigante para passar vídeos, onde projetávamos, paralelamente ao teatro, imagens realmente duras e demolidoras que carregavam o espetáculo com um sentido de denúncia ainda maior.
Durante um ano fizemos uma dezena de atuações em grandes teatros, que para nós era um cenário desconhecido, e penso que para o público teatral era realmente impactante todo aquele desenvolvimento. Também acredito que conseguimos que o público dos shows percebesse que existiam espetáculos teatrais que podiam ser tão interessantes como um concerto de rock, em nível ideológico ou mesmo ao transmitir algumas sensações. A obra era dura, algumas pessoas não puderam suportar as cenas mais cruas de tortura, levantando da cadeira e saindo, e nós lá atuando e sabendo que não estávamos inventando nada.
Infelizmente era uma obra complexa e cara, com muito pessoal: atores, músicos, técnicos de vídeo, luzes e som, etc. Além do mais, incomodava as empresas de teatro e os teatros públicos, geridos por políticos, pelo conteúdo que possuía. Aqui na Espanha, ao contrário da música, quase todos os grupos teatrais são profissionais. Mas, sobretudo, recomendo a leitura do texto “Resistencia”, de Edilio Peña, que tivemos o prazer de conhecer já que veio à estréia. Até tentamos levar a peça para a Venezuela, mas o custo econômico, somente da viagem, era enorme, éramos mais de 15 pessoas além de todo o equipamento da obra.
Para mim foi muito gratificante, sempre utilizei todos os meios possíveis em nível cultural para expressar minhas idéias: zines, musica, teatro, rádio, cartazes ou debates. Como agora, que respondo a esta entrevista, esta foi uma grande oportunidade, o melhor de tudo é que sempre se acaba aprendendo algo novo para utilizar no futuro.


“Comando X” e a canção “Ya soy Julio Bustamante” é como um prelúdio musical, uma partitura identitária que abarca posturas como a dos coletivos Wo Ming e Luther Blisset. Você concorda com isso? E como surgiu a idéia de mesclar agitação política direta e música? Como foram os primeiros passos do “Comando X”?

Ano de 1997. A canção “Yo Soy Julio Bustamante” é uma brincadeira, mas foi a esquiva para que um grupo de encapuzados praticassem a guerrilha cultura. Gravamos essa canção em umas fitas cassetes editadas artesanalmente, e que vendíamos muito barato para animar as pessoas a utilizar os 30 minutos de fita virgem que sobrava para gravar e piratear seus artistas preferidos. Mas além da canção single, difundíamos manifestos e comunicados anarquistas, anti-sistema, animando as pessoas a interagirem com a ação direta cultural, política, pessoal, etc. Lançávamos santinhos e proclamávamos esses comunicados em concertos, tanto nossos como de amigos, em manifestações, em institutos de ensino, etc. Fazíamos ações, painéis, ações teatrais de guerrilha. Também fizemos um texto intitulado “Para esta canción no me hace falta la guitarra”. Foi um manifesto musical insurgente que debatia sobre o papel revolucionário da cultura e seus participantes. Algumas revistas nacionais fizeram eco para aquilo tudo, como “El Jueves”, “La Letra A”, também alguns zines, etc.
Pode parecer estranho, mas para mim não é, não me considero um músico, me considero um agitador cultural e político. E era divertido, o humor como arma anti-capitalista. Ao mesmo tempo, era um pouco arriscado, pois inúmeras vezes estava rompendo as fronteiras da legalidade e gritando coisas que não se podia gritar. Mas já que não podemos mudar o mundo nesse momento, gostamos muito de rir dos que nos oprimem com o respeito que merecem.
Sobre a influência, tínhamos meios precários, mas ainda assim, graças à difusão que comentei anteriormente, nossa mensagem chegou as pessoas, e pôde semear o debate do papel do artista que se sente revolucionário. Também foi possível interagir com diferentes componentes da ação de rua, e da ação artística, tudo ao mesmo tempo, utilizar o humor como arma frente á alienação ideológica a que nos submeteram os meios de propaganda. Um debate que, de qualquer forma, ainda está presente. E acredito que, a respeito deste da pirataria contra as grandes gravadoras, nós fomos um dos pioneiros ao reivindicar isso abertamente. Isso é o Comando X!



Como surgiu a idéia do “Hacer Reír, Hacer Bailar, Hacer Pensar”? Era um lance diferente do Black Carcomas, mas ainda tinha um vinculo com o “Comando X”, certo? Dá umas pinceladas sobre seu tur pela Espanha, de ônibus e trem, cantando em okupas, ateneus, etc. Era musica e propaganda, descarado, quase uma ação direta cultural, mas como foi a receptividade do público?


Sim, era uma continuação, na linha que marcou o “Comando X”, agora já atuando sozinho. O “Comando X” saia de cena com uma balaclava, através do público, a partir de qualquer lugar, de improviso, envolto em explosões pirotécnicas nem sempre bem controladas, com a nova canção “Cuidadano Terrorista”, ressonando pelo equipamento de som da sala, lançando um míssil desde o cenário e continuando com canções e scketchs humorísticos contra o Estado, a monarquia, os políticos, empresários, igreja, contra o fascismo, etc. Todos os nossos inimigos estavam na mira, dessa vez não para que fizéssemos sisudas análises críticas e artigos de opinião, senão simplesmente para rimos deles e ridicularizá-los com toda nossa gana e com toda nossa força!
O espetáculo [Hacer Reír, Hacer Bailar, Hacer Pensar] mantive girando por dois anos, ao redor de todo o país, muitas vezes viajando de ônibus ou de trem, eu não tenho carro nem celular, é uma opção tão política quanto possa ser a escolha pelo vegetarianismo, e com o público tive um êxito incrível. E isso aconteceu principalmente porque eu unia musica, teatro e ação, as pessoas estavam acostumadas a ver grupos de rock, ou cantores, mas meu espetáculo tinha uns 50% de teatro, com disfarces, pirotecnia, elementos vários, tudo com um humor que também poderíamos chamar de punk. Talvez um palhaço punk. Ou um cômico punk, essa poderia ser uma boa definição para o que eu fazia. Por isso digo que nos discos há sempre uma falta. No boca-a-boca aquilo se espalhou como espuma, e até hoje me perguntam, quando chego a algum lugar, se vou fazer o espetáculo com os petardos. Milagrosamente ninguém nuca saiu ferido com o fogo, nem sequer eu, mesmo fazendo aquelas maluquices em qualquer boteco pequeno. Bem, a fumaça asfixiava as pessoas, mas eu estava acostumado com a pólvora, vivo em um lugar onde há essa tradição popular, e é espetacular.
Durante minhas viagens, na maleta eu levava uma parafernália com meia dezena de balaclavas, já que sempre fazia um concurso e repartia elas com o público, todos os petardos pirotécnicos, armas simuladas, navalhas, também um par de narizes de palhaço, disfarces, perucas, etc. Mas também levava material político para distribuir, e também recolhia materiais para levar para minha região: publicações, cartazes, panfletos, etc. Felizmente a polícia nunca me pegou, senão, queria ver que explicação eu iria arrumar. (risos)


Desde 2001 a sua musica tem se aproximado de uma certa latinidade, do acústico também, é bastante perceptível no disco “Inventario”, e especialmente com o “Kilombo Agitación”. Houve uma guinada na sonoridade?

Cronologicamente falando, depois de dois anos no “Comando X”, encontrei um pessoal para fazer umas bandas de musica, totalmente instáveis quanto à duração, e delas saíram discos, uso as musicas para atuar, as vezes sozinho, outras com o “Kilombo Agitación”. Eles eram tremendos, sempre é mais divertido tocar com outras pessoas, com formação acústica, percussão, ventos, vozes, etc. Minhas musicas são tão latinas como eu mesmo, nunca gostei das fronteiras, mas me sinto mais próximo da cultura da América do Sul do que da cultura anglosaxã. Não apenas pelo idioma, mas também pela forma de viver a vida, aliás, essa é uma boa explicação.
Além do mais, a cultura musical, e não somente musical, que acontece na América do Sul, para mim, é muito mais rica, variada e alegre que os três acordes do rock and roll e todos seus derivados. Por um lado isso se impõe na cultura juvenil por vir oferecendo seu modelo faturado desde suas multinacionais. Para comparar, é o mesmo que acontece no cinema, as projeções de Hollywood tomam as telas, mas existe muito cinema para se descobrir em muitos outros países.
Também existe o fato de eu ser amigo e companheiro de latinos de muitos países, e dos que vivem aqui. Alguns deles também foram parte do “Kilombo Agitación”, “Kato y Karola”. E outros conheci por cartas ou Internet. Assim tenho muitos amigos e contatos lá, como por exemplo neste momento, nesta entrevista. E também graças a isso vou conhecendo um pouco melhor a realidade da América do Sul, recebendo e intercambiando zines, revistas, agora já com páginas web. Essa é uma das partes boas da Internet. Alguns projetos foram adiante por conta desses contatos.
Creio que tenho essas influências latinas, não sei muito bem como, mas, por exemplo, quando todos meus colegas escutavam punk nos 80 e começo dos 90, eu curtia mesmo as toadas dos velhos intentos revolucionários mexicanos, pra mim eram grandes canções.


Foi você quem criou a Kiriki Récords? Como é o trabalho numa “produtora ilegal”?

Assim surgiu, um desenho de uma companheira, uma imagem que era apenas um papagaio toatalmente tropikal, com uma bonita crista punk de cor vermelha. Ninguém negou que era bonito. O nome é Kiriki, o grito do galo briguento, é uma estupenda forma de definirmos.
Kiriki Récords é uma produtora de cultura, por isso não é nenhuma empresa. A idéia surgiu quando comecei a editar cassetes e depois CDs. Tanto dos grupos em que participava, quanto compilações, e coisas de outros grupos. Tampouco são muitos. Uma coisa que me iludiu foi co-editar um livro, o tema eram os presidiários, mas fazer um suporte como o livro, para mim foi uma batalha ganha. A Kiriki Récords é uma maneira para que as pessoas reconheçam que existe uma continuidade nos trabalhos, não apenas como Pito Karcoma, mas agora está difícil editar, o melhor é a web. Mas estamos aí ainda.

Lendo um tanto sobre você, me pareceu que tem uma afinidade grande com a Venezuela. Em 2004, você gravou o clipe “Siempre Ciudad”, do disco “Em Busca y Captura”, com o Maracaibo Teatro. Depois “El Libertario” de Caracas edita aquele pitelzinho do “Notas de Libertad”, compilação em que você participa. Você tem mesmo uma conexão especial com a Venezuela, amigos ou uma afinidade com o pessoal de lá?

É verdade, aquí em Elche, minha cidade, no começo por conta de um grupo chamado La Carátula, que tem uma longa trajetória de atuações na Venezuela, conhecemos pessoas e textos de lá. La Carátula organiza anualmente um festival de oralidade, onde há falas de contos, oradores, etc. Tudo na base da palavra. Mas não apenas da Venezuela, gente de quase todos os países latinos tem passado por aqui, e temos nos empapado mutuamente de histórias, textos, poesias que nos trazem os sentimentos daqueles lados. É lindo, e também interessante.
O Maracaibo Teatro é um grupo que saiu do La Carátula e iniciou sua própria trajetória, dirigida ao teatro de rua, de animação, etc. Apenas optaram por esse nome. Com Juan Carlos García, um dos criadores, fizemos o vídeo-clipe “Siempre Ciudad”. Nele participaram pessoas de outros grupos de teatro daqui, o negócio é que os participantes são todos amigos, nos conhecemos não apenas do movimento cultural, mas por nos encontrarmos bastante nos bares, e esse é um lugar onde há tempo de imaginar e colocar em prática muitas coisas.
Em contra partida, o contato com o periódico “El Libertario” surgiu por carta, e num contexto mais ativista. Conheci o Rafael Uzcategui e aceitei seu oferecimento. Com isso pude convidar e recopilar alguns dos músicos espanhóis que aparecem, já que havíamos participado juntos em alguns projetos, e tocado em festivais libertários, e nisso surgiu um grande trabalho, o CD “Notas de Libertad, “Recompilatorio Internacional de Trovadores Libertarios ”. Tenho muito orgulho de ter participado deste trabalho, da pequenina colaboração que tive, para que isso tudo nascesse, primeiro o disco e depois, na Internet, na direção Notas de Libertad. Ainda seguimos em contato regularmente com o Rafael, através de blogs, webs e correios eletrônicos.
Mas, como disse, tenho contato com gente de toda América Latina. No México, com a Biblioteca Social Reconstruir, editei minha primeira k7 “Komando X Tropikala”, envio regularmente discos para lá, tenho correspondência, fiz algumas entrevistas, agora a Biblioteca está fazendo duas recompilações e me pediram algumas canções. Esses contatos, nos quais troco informações, zines, webs, como disse, me permitem conhecer essas realidades, ou, pelo menos, ter uma idéia delas. Por fim, se o contato se mantém acaba chegando na amizade, ainda que seja através das letras.

Uma perguntinha de café no boteco: como está a vida, a música, a política libertária, os jornais e livros?

Bem, essa pergunta me permite dizer que eu não sou um artista ou um musico profissional, eu sou um trabalhador que trabalha para ganhar o salário. Quase todos os dias, como quase todo mundo. Trabalho em um hospital público como ajudante, no mais baixo escalão. Assim me sobra pouco tempo para fazer as coisas, tocar violão, cantar, e também escrever, ler, informar-me. Além do mais, é preciso limpar a casa, fazer comida, fazer um pouco de exercício físico para se manter ágil e forte. Some-se a isso que todo fim de semana rola alguma atuação própria, ou algum ato político, ou algum show interessante. Ainda assim sobra um tempo para o ativismo social. Mas não posso contar tudo (risos). Há um ano fui preso enquanto apoiava uma greve e me processaram (risos). Isso que só estávamos pintando! A gente faz o que pode!
Eu, como Pito Carcoma, cantor e compositor, ou algo assim, armado com seu violão e sua voz, me sinto mais próximo à literatura que à musica, mas também mais próximo à política que à musica. Isso se nota no meu trabalho, meu cenário não é rock, meu cenário é a revolução, ou seus espaços, e para notar isso é só ver onde toco normalmente. É ali onde se luta, quase sempre para companheiros e cobrindo economicamente os gastos de viagem, nada mais. Não há nada mais que falar.
O que produzo se pode acompanhar na minha página http://pitokarcoma.org , onde há as datas das apresentações, informações biográficas mais detalhadas para os que tenham mais curiosidade. Além do mais, é possível baixar gratuitamente todos meus discos e meu último trabalho em DVD – “Cosas Que Pasan”, editado recentemente. A web, além das informações, oferece um meio de difusão e distribuição muito mais eficiente e barato do meu trabalho. É um instrumento básico no meu trabalho diário, como o de outras tantas pessoas. Mas o mais importante de tudo é que existe uma filosofia não-comercial, de não fazer da cultura, da música, um negócio. Arte e Dinheiro são termos antagônicos, o dinheiro apodrece a arte e a liberdade. Evidente que tudo isso é uma atitude anti-capitalista, não somente no terreno cultural, mas também no econômico. É arte livre, não depende do que vão pagar ela, isso seria dar todo o poder ao mercado.
Sobre escrever, já me dediquei a isso em algumas vezes. Têm horas que sinto o impulso de escrever sobre coisas que vejo que passam em branco, mas há outras pessoas que escrevem. O certo é que, se um dia eu deixasse de tocar, me dedicaria a escrever. Mas no momento isso não está nos meus planos, é necessário dedicar muito tempo para ter a experiência para escrever bem. Por enquanto, leio muito o que os outros escrevem, há escritores e jornalistas que adoro ler, pessoas com as quais me sinto identificado, com quem aprendo, e isso me tranqüiliza.


Pra encerrar, um pedido ingrato: faz um Top 5 dos melhores grupos atualmente.

(risos) Impossível. Muitos me ajudaram para que eu esteja aqui, entre os que têm mais culpa, creio eu, estão “La Polla Récords”, agora tenho escutado bastante o “Evaristo canta con Gatillazo” – pura sociologia incendiária nas letras. Já disse um, mas a lista seria eterna, e com certeza já os conheceriam. Dessa forma, para atender seu pedido, vou apresentar um projeto que vai mais além do formato canção-grupo musical.
Eu falei sobre a Internet, e nela há uma página bacana, a http://masquepalabras.org/, onde se pode encontrar e escutar um monte de grupos com conteúdo social: cantores-autores, mestiços, HC, punk, Hip-hop. Totalmente recomendável, todos com algo em comum, com muito em comum. O administrador é o Bene, antigo componente da dupla “Paso a Paso”, um grande ativista e amigo, agora em alguns grupos musicais muito mais agressivos, mas ainda assim levando adiante este projeto que oferece uma seleção de grupos que, certamente, não serão os melhores da atualidade, mas que recomendo que conheçam. Estão esperando, todos na órbita anti-comercial, fazendo cultura, arte, reivindicação. Nada de business. Para mim, estes músicos são muito mais interessantes, os melhores, independente da própria música – www.masquepalabras.org.

Um Saludo aos leitores e muito obrigado pela paciência, nos vemos em www.pitokarcoma.org

Salud y libertad!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

BERNA CEPPAS

# águas passadas #

A BAILAR




tht e ent: Caio Jobim e Leandro De Nardi
phts: Pindzm


É uma noite de segunda-feira típica do verão carioca na Lapa. O movimento no largo dos arcos em frente ao Circo Voador ainda é pequeno, exceto pelas barracas com suas diversas ofertas de comes e bebes, os ambulantes e os cambistas que oferecem descontos vantajosos à minoria que escapa à condição de estudante. A julgar pela quantidade dos informais, o movimento será grande logo mais, embora não haja fila na bilheteria e quase ninguém lá dentro sob a lona mais quente do Rio de Janeiro.

A entrevista está marcada para as dez horas, já estamos atrasados, mas não conseguimos entrar. Tentamos por trás, pela entrada dos artistas, mas não é o caso, a assessora de imprensa fica na entrada principal informa o segurança. Negativo, lá ela não está. Nosso enviado especial ao Rio de Janeiro não sabe o que fazer, fica nervoso. Pede informação às meninas que cuidam da lista, mas claro, lá estavam nossos nomes e os respectivos convites. Direto aos camarins. Agora estamos no caminho certo, embora ninguém da banda houvesse chegado.

Salvos pelo Super Homem. É tradição Imperial que nos bailes pré-carnavalescos de verão músicos e foliões venham fantasiados e é vestindo uma camiseta de manga curta com o símbolo do homem de aço e os óculos de Clark Kent que Berna Ceppas, um dos idealizadores da Orquestra Imperial, chega ao back stage e nos é imediatamente apresentado para que tenha início a conversa reproduzida abaixo.

À medida que o papo flui, os demais integrantes vão aparecendo. Ouve-se uma buzina e o portão se abre para a chegada de Max Sette em seu Corcel II com Rubinho Jacobina na carona. Domenico chega discretamente e se aproxima da nossa roda para dar um alô. Kassin se dirige ao camarim e volta tomando um Gatorade. Hidratação para agüentar as mais de três horas de show sob o calor da lona, das luzes e da aglomeração humana. O casal Thalma de Freitas e Stephane San Juan chega a bordo de um Monza e uma nova roda se forma atrás do palco.

Um parêntese cinematográfico se abre em nossa conversa. A dupla Berna e Kassin assina a trilha sonora de alguns dos melhores filmes brasileiros recentes, como o Céu de Suely, de Karin Ainouz, e Árido Movie, de Lírio Ferreira, esta ao lado dos pernambucanos Otto e Pupilo. A boa notícia é que provavelmente estes trabalhos, pouco conhecidos até mesmo por aqueles que costumam assistir filmes brasileiros, possivelmente serão lançados em cd acompanhados dos respectivos roteiros.

Berna é chamado ao telefone. É Mario Caldato, produtor de “Carnaval só no ano que vem”, disco de inéditas que será lançado em breve, avisando que está chegando. Nelson Jacobina traz um amigo, Kassin se junta à roda e o assunto passa a ser o show de lançamento do disco “Futurismo”, dali a duas noites, no Teatro Odisséia. Comentam sobre o virtuosismo do baixista e guitarrista Alberto Continentino que substitui o amigo e compenhiro de Orquestra, Pedro Sá, devido aos seus compromissos na banda de Caetano Veloso. Estava encerrada a entrevista. Kassin+2 é um assunto que merece exclusividade. Por hora, fiquem com Berna Ceppas, seu sócio no Estúdio Monaural.

Como amadureceu a idéia de um disco da Orquestra Imperial uma vez que a proposta inicial era apenas fazer apresentações ao vivo?

Na verdade, o bagulho começou há quatro anos atrás, quatro anos e meio, na época da copa de 2002. E era um lance totalmente informal pra gente cobrir quatro datas numa casa de shows que tinha no Rio, chamada Ballroom, era meio projetão, só pra cobrir 04 datas. Aí pintou mais quatro. Só iam os amigos, pra dançar. Não era um lance bombando. O negócio foi pegando, lentamente. Ao mesmo tempo, nessa época, tava rolando um movimento, não só no Rio, mas no Rio também, de um certo resgate de cultura, um negócio assim que a gente nem gosta de se vincular muito, que a gente chama até de Regionazismo (risadas). É tipo uns caras brancos da PUC, que se apropriam da cultura popular e não quer deixar mexer, ficam carregando aquilo de um jeito estranho, mas a gente (Orquestra Imperial) era mó galhofa assim, mas por conta desse momento da música a galera começou a chegar também, com forró, com samba de raiz, isso tudo ao mesmo tempo. A Orquestra começou a vingar, a dar certo. Não sabemos o que a gente fez de tão errado pra ter dado tão certo. Era totalmente improvável que uma banda com 19 pessoas no palco vingasse.

19 pessoas com outras bandas.

Dentro da Orquestra tem varias bandas. A gente pode, por exemplo, ir pra Porto Alegre e fazer o Festival Imperial. Ficamos lá uma semana. A gente faz show da Thalma, show da Nina, do +2, show do Dupplex, eu e Kassin temos um projeto de som eletrônico, o Monoaural, o Artificial, projeto solo do Kassin. Fazer vários shows só rearranjando essa galera da Orquestra. No disco, chegamos a tocar estimulados pelo estilo e começou naturalmente a acontecer parcerias internas. Sambas. Musicas desse universo. Não somos uma banda de gafieira. Somos uma banda pop que se meteu a tocar musica de gafieira. Isso por toda uma vontade, por achar legal isso. As pessoas começaram a fazer sambas. A chegada do Seu Wilson foi muito importante (Wilson das Neves) pra estimular a galera. O cara é totalmente velha guarda, um cara que gravou com todo mundo, inventou o estilo praticamente, estava dentro do surgimento do estilo. Começamos a ver que a gente era uma banda de cover. A Orquestra era uma banda de cover. Má pô! Vamos dar o passo. Esse primeiro EP na verdade são regravações de musicas já existentes. Mas o disco mesmo, que sai em março, abril, vai ser o disco com as inéditas, 11 musicas inéditas que a gente garimpou dentro dessa produção da Orquestra. O disco é muito isso. Um divisor de águas, de certo jeito.

Fale do disco faixa a faixa, os autores das composições, quais as parcerias que se formaram dentro da Orquestra Imperial?

Tem várias parcerias. Tem uma do Wilson das Neves com o Max Sette, com o Steffan San Juan, francês marido da Thalma. Tem uma que foi engraçada. Fomos pra Comandatuba, ficamos meio ilhados num Resort lá, pra fazer vários shows de lançamento de um carro da Fiat. Estavam lá Sandra de Sá, Ney Matogrosso, Beth Carvalho. Tinha um certo clima lá. Aí os neguinhos começaram a fazer um som em conjunto, a partir de uma frase do Dômenico de que “A Orquestra podia causar ereção”. Ai nasceu uma musica, numa noite louca, todo mundo fascinado no lugar. Aí nasceu essa parceria, a Sandra de Sá também faz parte dela. Outra é uma música do Domenico com a Beth Carvalho, que ele trouxe pra Orquestra. Outra é uma parceria do Rodrigo Amarante com o Kassin e o Domenico. Tem uma música maravilhosa, só da Thalma, “Não foi em Vão”. Tem uma música do Rubinho, “Salamaleque”, junto com, o Max Sette. Acho que não vou lembrar das onze (risos). Tem o “Ela Rebola” com o Mautner (Jorge Mautner). Tem outra do Bartollo com o Mautner também. “Ela Rebola” é uma parceria do Nelson Jacobina com o Jorge Mautner. “O Supermercado do Amor” é do Bartollo com Jorge Mauter.

Essas musicas tão rolando nos shows?


Não. Algumas. Tocamos “Era Bom” que é uma parceria do Wilson com o Max e tocamos “Ereção”, essa criada em conjunto. E a gente tá tocando “Ela Rebola” também.

A OI se apresentou em algumas capitais brasileiras como Belo Horizonte, São Paulo e Recife. Como foi a recepção do público longe de casa?

Foi bem legal. Foram só essas cidades. Porto Alegre dançou em cima do laço. Foi uma pena. Estávamos afimzão de ir. É um trampo pra quem ta produzindo. É muita gente. Quando a gente ta viajando são 25 pessoas, com passagens, hotéis, diárias.

Mas agora, com o lançamento do disco, tem chance de outras capitais assistirem ao baile-show?


Tem chance sim, lógico. Mas é preciso fazer um negócio germinado, tipo, entre praças. Se a gente chegou a Porto Alegre, faz Punta del Este, Buenos Aires, Florianópolis e Curitiba.


Como que vocês pretendem divulgar o disco? Qual a importância da Internet, Myspace, Youtube, etc..?

Estamos com uma página na internet (www.orquestraimperial.com.br). No You Tube é tudo espontâneo, neguinho que filma no meio do show e bota lá. Nada que a gente faça. Eu até fiz um link na página do My Space e botei. É meio estranho. A gente pagando mico. Nem tão sóbrio né. (risos) Podia até filtrar um pouco. Mas é isso aí, faz parte.

E os shows no exterior como foram? Portugal, Estados Unidos. Como foi a recepção? Havia muitos brasileiros?


Foi impressionante realmente a gente ter conseguido ir pra essas praças, visto a dificuldade de produção. Em Portugal não havia muitos brasileiros não, porque a facilidade da língua aproximava. Em Chicago tinha mais brasileiros, Seu Jorge abriu a noite lá pra gente. Em Londres a gente estava inserido na “Tropicália”, foi bem legal, a receptividade foi bem grande, aí a colônia de brasileiros não era tão grande.

Há algum tempo vocês se associaram ao DJ Marlboro, expoente do funk, e juntos fazem um baile que agrega duas vertentes de origem popular, o samba e o funk, mas que na opinião de alguns, inclusive alguns fãs, são incongruentes. Vocês fazem essa união que para uns parece muito distante. Mas pra vocês parece próximo....

É misturado mesmo né. Não tem como não ser misturado. Acho até que vários sambistas, de vários autores de sambas que a gente toca, se eles ainda fossem vivos ainda, eles estariam falando de coisas cotidianas como a internet, a viagem do homem a lua, sei lá... é da natureza desse tipo de musica comentar o cotidiano, e o fato do Marlboro e o funk que está aí é a mesma coisa de um certo jeito. É o comportamento, a atitude, é comentar o cotidiano. É muito próximo o universo do funk e do samba.

Cara... valeu pelo papo aí e vamos a todos a bailar !

terça-feira, 1 de julho de 2008

5 ANOS SE QUEIMANDO NA CHUVA

# umbigada #

Cozinhando a xilarmonia


txt: Arlei Arnt
phts: Fernanda Scur


Foi uma festa daquelas. O novo em emergência e o velho consagrado. Antes muitos diziam: "esse Fruet, ouvi falar, quero ver ao vivo". Pois Fruet e Os Cozinheiros não deixaram o público ficar decepcionado. Em pouco mais de meia hora de apresentação, exibiram as músicas do CD "O Som do Fim ou Tanto Faz" e mostraram que há uma excelente cozinha por trás daquele escolhido o melhor compositor pop segundo o Prêmio Açorianos. E é verdade. A maioria dos elogios ouvidos foram justamente pra boa performance da banda. A nova revelação da música gaúcha tae, mostrando que tem talento pra manter o nível conquistado.

Bem, hora do intervalo entre as bandas. Muralha, grande Muralha, percussionista do Zumbira e Os Palmares, é nosso apresentador. Além de chamar as bandas pro palco, cumpre uma missão de sortear brindes, cortesias das Cachaça Chica e da Menina Vinil. Um dos números sorteados demora a aparecer. Logo logo uma garota se diz ser a premiada. Muralha confere o número. E não é. A garota sai reclamando: "com os jãos antes era diferente, me perguntavam meu número antes e faziam de conta que era o número sorteado". Hehehehe.

Mudanças sempre vem a calhar. E nesta festa deu pra notar isso. O DILÚVIO desde que saiu da Feevale vem se reestruturando. E apesar das dificuldades iniciais, é incrível como conta com novos colaboradores, dispostos a ver O DILÚVIO na linha de frente da imprensa marginal. Aqui vale os agradecimentos a quem acredita em imprensa sem politicagem: Melissa Orsi dos Santos, Cielito Rebellato, Rafael Rubim, Iur Marcelo, Fernanda Scur, Guilherme Carlin, Leandro de Nardi, Fernando Gomes, Pablo Zborowski, Diego Jucá, Rodrigo Colla, Fabrício Coutinho, Pimpa, Muralha, Fruet.

Mas enfim, sobe a Graforréia Xilarmônica ao palco. E de lá não descem por mais de duas horas. Impressiona a todos o carisma da banda. Parece que não falta música a ser tocada. E no palco é uma banda de primeira, exceto a horrorosa camiseta que Carlo Pianta veste. Ok, uma semana antes de empatarem o Gre-nal com ajuda do juiz, entende-se a euforia pelo time que briga pra não ficar na zona de rebaixamento. O público curte, dança e canta. Vibra com os "amigos punks" que atravessaram a Goethe. O DILÚVIO agradece a todos presentes. E vem mais por ae. É só abrir o guarda-chuvas.





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