# águas passadas #
A BAILAR
tht e ent: Caio Jobim e Leandro De Nardi
phts: Pindzm
É uma noite de segunda-feira típica do verão carioca na Lapa. O movimento no largo dos arcos em frente ao Circo Voador ainda é pequeno, exceto pelas barracas com suas diversas ofertas de comes e bebes, os ambulantes e os cambistas que oferecem descontos vantajosos à minoria que escapa à condição de estudante. A julgar pela quantidade dos informais, o movimento será grande logo mais, embora não haja fila na bilheteria e quase ninguém lá dentro sob a lona mais quente do Rio de Janeiro.
A entrevista está marcada para as dez horas, já estamos atrasados, mas não conseguimos entrar. Tentamos por trás, pela entrada dos artistas, mas não é o caso, a assessora de imprensa fica na entrada principal informa o segurança. Negativo, lá ela não está. Nosso enviado especial ao Rio de Janeiro não sabe o que fazer, fica nervoso. Pede informação às meninas que cuidam da lista, mas claro, lá estavam nossos nomes e os respectivos convites. Direto aos camarins. Agora estamos no caminho certo, embora ninguém da banda houvesse chegado.
Salvos pelo Super Homem. É tradição Imperial que nos bailes pré-carnavalescos de verão músicos e foliões venham fantasiados e é vestindo uma camiseta de manga curta com o símbolo do homem de aço e os óculos de Clark Kent que Berna Ceppas, um dos idealizadores da Orquestra Imperial, chega ao back stage e nos é imediatamente apresentado para que tenha início a conversa reproduzida abaixo.
À medida que o papo flui, os demais integrantes vão aparecendo. Ouve-se uma buzina e o portão se abre para a chegada de Max Sette em seu Corcel II com Rubinho Jacobina na carona. Domenico chega discretamente e se aproxima da nossa roda para dar um alô. Kassin se dirige ao camarim e volta tomando um Gatorade. Hidratação para agüentar as mais de três horas de show sob o calor da lona, das luzes e da aglomeração humana. O casal Thalma de Freitas e Stephane San Juan chega a bordo de um Monza e uma nova roda se forma atrás do palco.
Um parêntese cinematográfico se abre em nossa conversa. A dupla Berna e Kassin assina a trilha sonora de alguns dos melhores filmes brasileiros recentes, como o Céu de Suely, de Karin Ainouz, e Árido Movie, de Lírio Ferreira, esta ao lado dos pernambucanos Otto e Pupilo. A boa notícia é que provavelmente estes trabalhos, pouco conhecidos até mesmo por aqueles que costumam assistir filmes brasileiros, possivelmente serão lançados em cd acompanhados dos respectivos roteiros.
Berna é chamado ao telefone. É Mario Caldato, produtor de “Carnaval só no ano que vem”, disco de inéditas que será lançado em breve, avisando que está chegando. Nelson Jacobina traz um amigo, Kassin se junta à roda e o assunto passa a ser o show de lançamento do disco “Futurismo”, dali a duas noites, no Teatro Odisséia. Comentam sobre o virtuosismo do baixista e guitarrista Alberto Continentino que substitui o amigo e compenhiro de Orquestra, Pedro Sá, devido aos seus compromissos na banda de Caetano Veloso. Estava encerrada a entrevista. Kassin+2 é um assunto que merece exclusividade. Por hora, fiquem com Berna Ceppas, seu sócio no Estúdio Monaural.
Como amadureceu a idéia de um disco da Orquestra Imperial uma vez que a proposta inicial era apenas fazer apresentações ao vivo?
Na verdade, o bagulho começou há quatro anos atrás, quatro anos e meio, na época da copa de 2002. E era um lance totalmente informal pra gente cobrir quatro datas numa casa de shows que tinha no Rio, chamada Ballroom, era meio projetão, só pra cobrir 04 datas. Aí pintou mais quatro. Só iam os amigos, pra dançar. Não era um lance bombando. O negócio foi pegando, lentamente. Ao mesmo tempo, nessa época, tava rolando um movimento, não só no Rio, mas no Rio também, de um certo resgate de cultura, um negócio assim que a gente nem gosta de se vincular muito, que a gente chama até de Regionazismo (risadas). É tipo uns caras brancos da PUC, que se apropriam da cultura popular e não quer deixar mexer, ficam carregando aquilo de um jeito estranho, mas a gente (Orquestra Imperial) era mó galhofa assim, mas por conta desse momento da música a galera começou a chegar também, com forró, com samba de raiz, isso tudo ao mesmo tempo. A Orquestra começou a vingar, a dar certo. Não sabemos o que a gente fez de tão errado pra ter dado tão certo. Era totalmente improvável que uma banda com 19 pessoas no palco vingasse.
19 pessoas com outras bandas.
Dentro da Orquestra tem varias bandas. A gente pode, por exemplo, ir pra Porto Alegre e fazer o Festival Imperial. Ficamos lá uma semana. A gente faz show da Thalma, show da Nina, do +2, show do Dupplex, eu e Kassin temos um projeto de som eletrônico, o Monoaural, o Artificial, projeto solo do Kassin. Fazer vários shows só rearranjando essa galera da Orquestra. No disco, chegamos a tocar estimulados pelo estilo e começou naturalmente a acontecer parcerias internas. Sambas. Musicas desse universo. Não somos uma banda de gafieira. Somos uma banda pop que se meteu a tocar musica de gafieira. Isso por toda uma vontade, por achar legal isso. As pessoas começaram a fazer sambas. A chegada do Seu Wilson foi muito importante (Wilson das Neves) pra estimular a galera. O cara é totalmente velha guarda, um cara que gravou com todo mundo, inventou o estilo praticamente, estava dentro do surgimento do estilo. Começamos a ver que a gente era uma banda de cover. A Orquestra era uma banda de cover. Má pô! Vamos dar o passo. Esse primeiro EP na verdade são regravações de musicas já existentes. Mas o disco mesmo, que sai em março, abril, vai ser o disco com as inéditas, 11 musicas inéditas que a gente garimpou dentro dessa produção da Orquestra. O disco é muito isso. Um divisor de águas, de certo jeito.
Fale do disco faixa a faixa, os autores das composições, quais as parcerias que se formaram dentro da Orquestra Imperial?
Tem várias parcerias. Tem uma do Wilson das Neves com o Max Sette, com o Steffan San Juan, francês marido da Thalma. Tem uma que foi engraçada. Fomos pra Comandatuba, ficamos meio ilhados num Resort lá, pra fazer vários shows de lançamento de um carro da Fiat. Estavam lá Sandra de Sá, Ney Matogrosso, Beth Carvalho. Tinha um certo clima lá. Aí os neguinhos começaram a fazer um som em conjunto, a partir de uma frase do Dômenico de que “A Orquestra podia causar ereção”. Ai nasceu uma musica, numa noite louca, todo mundo fascinado no lugar. Aí nasceu essa parceria, a Sandra de Sá também faz parte dela. Outra é uma música do Domenico com a Beth Carvalho, que ele trouxe pra Orquestra. Outra é uma parceria do Rodrigo Amarante com o Kassin e o Domenico. Tem uma música maravilhosa, só da Thalma, “Não foi em Vão”. Tem uma música do Rubinho, “Salamaleque”, junto com, o Max Sette. Acho que não vou lembrar das onze (risos). Tem o “Ela Rebola” com o Mautner (Jorge Mautner). Tem outra do Bartollo com o Mautner também. “Ela Rebola” é uma parceria do Nelson Jacobina com o Jorge Mautner. “O Supermercado do Amor” é do Bartollo com Jorge Mauter.
Essas musicas tão rolando nos shows?
Não. Algumas. Tocamos “Era Bom” que é uma parceria do Wilson com o Max e tocamos “Ereção”, essa criada em conjunto. E a gente tá tocando “Ela Rebola” também.
A OI se apresentou em algumas capitais brasileiras como Belo Horizonte, São Paulo e Recife. Como foi a recepção do público longe de casa?
Foi bem legal. Foram só essas cidades. Porto Alegre dançou em cima do laço. Foi uma pena. Estávamos afimzão de ir. É um trampo pra quem ta produzindo. É muita gente. Quando a gente ta viajando são 25 pessoas, com passagens, hotéis, diárias.
Mas agora, com o lançamento do disco, tem chance de outras capitais assistirem ao baile-show?
Tem chance sim, lógico. Mas é preciso fazer um negócio germinado, tipo, entre praças. Se a gente chegou a Porto Alegre, faz Punta del Este, Buenos Aires, Florianópolis e Curitiba.
Como que vocês pretendem divulgar o disco? Qual a importância da Internet, Myspace, Youtube, etc..?
Estamos com uma página na internet (www.orquestraimperial.com.br). No You Tube é tudo espontâneo, neguinho que filma no meio do show e bota lá. Nada que a gente faça. Eu até fiz um link na página do My Space e botei. É meio estranho. A gente pagando mico. Nem tão sóbrio né. (risos) Podia até filtrar um pouco. Mas é isso aí, faz parte.
E os shows no exterior como foram? Portugal, Estados Unidos. Como foi a recepção? Havia muitos brasileiros?
Foi impressionante realmente a gente ter conseguido ir pra essas praças, visto a dificuldade de produção. Em Portugal não havia muitos brasileiros não, porque a facilidade da língua aproximava. Em Chicago tinha mais brasileiros, Seu Jorge abriu a noite lá pra gente. Em Londres a gente estava inserido na “Tropicália”, foi bem legal, a receptividade foi bem grande, aí a colônia de brasileiros não era tão grande.
Há algum tempo vocês se associaram ao DJ Marlboro, expoente do funk, e juntos fazem um baile que agrega duas vertentes de origem popular, o samba e o funk, mas que na opinião de alguns, inclusive alguns fãs, são incongruentes. Vocês fazem essa união que para uns parece muito distante. Mas pra vocês parece próximo....
É misturado mesmo né. Não tem como não ser misturado. Acho até que vários sambistas, de vários autores de sambas que a gente toca, se eles ainda fossem vivos ainda, eles estariam falando de coisas cotidianas como a internet, a viagem do homem a lua, sei lá... é da natureza desse tipo de musica comentar o cotidiano, e o fato do Marlboro e o funk que está aí é a mesma coisa de um certo jeito. É o comportamento, a atitude, é comentar o cotidiano. É muito próximo o universo do funk e do samba.
Cara... valeu pelo papo aí e vamos a todos a bailar !
#CADÊ MEU CHINELO?
segunda-feira, 7 de julho de 2008
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2 comentários:
that's really cute..wish i had one too.
bah
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