Tarde – sexto dia.
Ontem passei o dia todo sem sair de casa. Li e reli várias vezes o poema; fiquei muito curioso em relação a seu significado. Eu o encontrei, é claro! Foi fácil a sua compreensão, mas – em quem pensava enquanto escrevia? No que eu pensava? Esta está sendo a parte mais difícil; tive pesadelos à noite, monstros vinham a mim, professavam, insultavam-me – e a loucura foi intensa. Acordei em plena madrugada com os lençóis encharcados de suor, pude jurar que até com febre eu estava. Inevitavelmente lembrei-me da criatura triste, triste e incompreendida. Passei a prestar mais atenção ao tempo; digo, em cada minuto da minha vida; em primeiro lugar revi que foi escrito por mim nestes últimos dias e – senti-me quase um poeta, quase triste, quase vivo, quase morto, quase flor... Um vazio incompreensível se apossou de mim.
Tudo passou a variar. O vazio não era novidade, eu sabia do que se tratava: era aquela coisa cotidiana, as angústias e temores da vida moderna, ser bem sucedido profissional e financeiramente; ser respeitado pelos amigos; bem quisto pela família; amado pelas mulheres; ter status; todos estes pequenos demônios que atormentaram o homem no final do milênio e continuam a atormentar no início de um novo. Mas algo mudou... Ainda não sei o que pensar: Ver estes míseros relatos dos últimos dias fez-me ver quão insignificante é a minha vida, até mesmo a ironia que vi presente em algumas linhas me chocou com tamanho cinismo. A partir deste ponto também noto que escrevo como se estivesse narrando os fatos a alguém. Fiz um poema! Em que pensava? Creio em alguém que eu pudesse ter conhecido – alguém que eu anseie em conhecer, alguém que eu necessite para viver... Acho que não pensava... Eu Sentia. Pensar e sentir são coisas distintas? Talvez o significado que eu tenha encontrado para o poema nem exista. Já está ficando complicado demais, pararei por aqui. Espero que não perca minha ironia... Pretendo deixar apenas o cinismo de lado.
O que quero é
Alimentar teu girassol
Com poesia e suor
Transpor tuas mãos
(teu corpo para o meu)
Sombrear tua arte
Roubar o teu sol
Velar tua insônia
Em teus dias de mulher
Mascar tuas sementes
Cuspi-las ao renascer
Zombar do sentimento
Que não seja o melhor
Lamber teus temores
Fazê-los são
Ter quase tudo
Que tua vontade tiver
Reduzir teus sonhos
A milagres pequenos
Flutuar em tuas cores
Até me encontrar
Também
Amar-te, apenas
para não querer
O que não É!
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