#CADÊ MEU CHINELO?
quarta-feira, 30 de março de 2011
[agência pirata] O DIREITO DOS IDIOTAS
::txt::Afonso Vieira::
Há algum tempo ando afastado do meu hobby da escrita. Na semana passada acompanhei uma discussão sobre uns impropérios tecidos por um ator ao estado do Piauí. Logo em seguida, fiquei sabendo de outra asneira proferida por um “cantor” adolescente sobre a região amazônica.
Até ai nada demais, oras, ambos os falantes têm o direito de deslizarem nas palavras. Mas a reação da turba - supostamente ofendida - foi algo completamente desproporcional. Ambos tiveram eventos marcados por aquelas regiões, cancelados.
Quem é que nunca disse uma asneira, daquelas bem cabeludas? Isso é normal que ocorra, e o disparate é inversamente proporcional à quantidade de massa encefálica que possuímos. Pelo que vi, ambos têm deficiência com neurônios.
O ator eu desconhecia, a “banda” eu nunca ouvi – evito rádios e a mídia convencional -, só vi algumas vezes, pois o visual esquisito que me chamou atenção, que não considero algo adequado para meus padrões de vestimentas. Mas o problema é deles, se querem se vestir assim, têm o direito!
Nunca entendi essa relação doentia entre o bairrismo e os idiotas. Começo a enxergar algo além. É comum que os menos favorecidos intelectual, financeira e moralmente, busquem formas de escape para suas frustrações. Daí a explicação do alarde ao que “pensa” ou diz alguém que nem merece muita atenção. Na verdade – para os casos em questão -, ganharam cartaz e visibilidade além do que mereciam.
Há uma frase atribuída ao escritor Paul Johnson: “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Acredito que a referência é justamente para casos como os supracitados. Desculpem-me meus caros, mas as assembléias legislativas, os programas de TV, entre outros, deveriam ter coisas mais importantes do que se incomodar com biltres saltitantes. Deveriam . . .
Eu, assim como qualquer pessoa normal, também tenho meus momentos de idiotia – um deles foi em um comentário infeliz semana passada em meu ambiente de trabalho, mas isso é outra história.
A récua de algozes é pior, muito pior que os novos “inimigos” do Norte e Nordeste. Afinal, eles tiveram tempo para pensar e planejar suas ações. Recordei-me do episódio que ocorreu com o colunista Diogo Mainardi e Cuiabá – cidade lotada de bairristas, frise-se! O que foi escrito foi mal interpretado, mas a manada não raciocina muito quando o assunto fere o “decoro” da terra natal. Mas não dá para pensar em interpretação de texto em uma terra que até o sertanejo é “universitário”.
Temos exemplos diários de babaquices, só que é difícil entender o que move os corações abarrotados de ódio, como o dos “ofendidos”. Acredito que se o comentário fosse o inverso, oriundo de um morador daquelas plagas contra São Paulo ou Rio de Janeiro, passaria completamente despercebido. Mas o coitadismo, o politicamente correto resolveu triunfar na cultura brasilis. Não dá para esperar muito de uma terra onde idiotas criam leis racistas para combater, pasmem, o racismo.
A defesa das liberdades individuais, do direito de sermos idiotas, pode parecer mais uma tolice, mas não é! O patrulhamento tosco e sem fundamento, pode virar algo muito pior que meras churumelas de apresentadores e políticos oportunistas. A história está repleta de exemplos, que o digam os idiotas religiosos de nossa antiguidade, e até mesmo de um passado recente.
O que pensa ou deixa de pensar um ator desconhecido e um “aborrescente” emo, pouco me importa, mas quando formadores de opinião, parlamentares e pessoas influentes se sentem ofendidos por algo banal, começo a me preocupar. É, estamos mal, muito mal.
Já morei em diversos locais pelo país, conheço o Brasil muito melhor que considerável parcela da população. Cada local possui seus encantos, suas particularidades e defeitos. Não é censurando, calando e atacando ignorantes que vamos resolver problemas de autoestima, de egolatria e de carência de afetividade.
Eu, por exemplo, aprendi a amar cada cidade que morei, mas jamais deixei de enxergar suas peculiaridades e deficiências. Afinal, idiotas existem em todos os cantos, seja no meio artístico, político, social ou intelectual. Falta-lhes apenas a hombridade de aceitarem isso.
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