#CADÊ MEU CHINELO?

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

[agência pirata] INGLATERRA: EX-PAÍS DA LIBERDADE DE IMPRENSA

Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique.
Todo o resto é publicidade.
George Orwell 
:: txt :: Caue Seigne Ameni ::

As pressões para silenciar as vozes que revelam a maior rede de espionagem da história continuam. Após intimidar o jornalista Glenn Greenwald, detendo seu parceiro no aeroporto de Heathrow por 9 horas, o alvo da vez foi o periódico em que seus textos são publicados, o jornal britânico The Guardian - uma das publicações mais respeitadas do mundo. Ao cobrir o caso seguindo à risca a acidez orwelliana, o diário acabou vivenciando um dos episódios mais sinistros da história do jornalismo da era digital.

Os editores do jornal revelaram nessa terça (20/08) como foram obrigados a destruir os Hard Drivers (onde se armazenam os dados dos PCs) que continham cópias dos documentos vazados pelo ex-agente da Agência Nacional de Segurança (NSA), Edward Snowden. A decisão foi tomada depois de uma série de ameaças desencadeadas em 20 de julho por oficiais da inteligência britânica, entre elas, entrar com ação para congelar judicialmente a série de reportagens sobre a extensão da vigilância das agências de segurança americana e britânica.

Os agentes alegaram que os documentos confidenciais teriam sido roubado e poderiam enquadrar a publicação na a lei de Segredos Oficiais – mas preferiam usar uma rota mais rápida que a Corte. Alan Rusbridger, editor do jornal, explicou que outras cópias espalhadas pelo mundo continuariam alimentando o conjunto de notícias, pois são editadas pela redação de Nova York (protegida pela primeira emenda) e no Brasil por Glenn Greenwald, e portanto, seria em vão destruí-los em solo inglês. O resultado foi “um dos momentos mais bizarros da longa história do Guardian”, segundo o editor. Os agentes da inteligência britânica não entenderam, ou preferiram ver o material sendo mutilado no porão do Guardian, só para ter certeza de que não havia nada que pudesse ser utilizado por “agentes chineses ou russos” na ilha da rainha… A pressão simbólica não funcionou: Rusbridger reafirmou que o jornal vai “continuar fazendo, pacientemente,  o minucioso relato sobre os documentos de Snowden, só não vamos fazê-lo em Londres”. Se a internet possibilitou um esquecido sonho totalitário, ela mostra ser também a rota para a fuga.

Jornalista ou terrorista?
Jornalista ou terrorista?

Ameaças ao futuro do jornalismo 

- Jornalista ou terrorista?
A intensificação da pressão do governo britânico sobre os jornalistas ficou ainda mais evidente com a retenção de David Miranda, o brasileiro parceiro de Glenn Greenwald, em Heathrow, domingo (18/09). Detido nos termos da Lei de Terrorismo de 2000, Miranda foi liberado 9 horas depois de ser exaustivamente interrogado. Glenn expôs a fragilidade da perseguição ao lembrar como as autoridades abusaram da própria lei, por razões que nada têm a ver com terrorismo: “de acordo com documento publicado pelo governo sobre a lei, ‘menos de três pessoas em cada 10 mil são averiguadas quando passam as fronteiras do Reino Unido’. (David não estava entrando no Reino Unido, mas apenas em trânsito para o Rio.) Além disso, ‘a maioria das averiguações, mais de 97%, duram menos de uma hora’ e apenas 0,06% de todas as pessoas detidas são mantidas por mais de 6 horas”. Em outras palavras, era óbvio que a suspeita de que David fosse ligado a uma organização terrorista era zero, e que esse susto não passou de intimidação e alerta para os jornalistas que ousam revelar as entranhas do poder.

Para Glenn, “cada vez que os governos dos EUA e do Reino Unido mostram ao mundo seu verdadeiro caráter – quando impedem o avião do presidente da Bolívia de voar em segurança para casa, quando ameaçam jornalistas, quando se envolvem em atitudes como a de hoje – tudo o que fazem é sublinhar o quão perigoso foi permitir que tenham poder ilimitado para espionar clandestinamente”.

Já o editor do The Guardian, Rusbridger, avisa: “Isso afeta todos os cidadãos, porém os jornalistas devem estar cientes das dificuldades que vão enfrentar no futuro, porque todo mundo deixa  um enorme rastro digital que é facilmente acessado. Espero que [a detenção de Miranda] faça com que as pessoas voltem a ler as denúncias que tanto perturbam o Estado britânico. Snowden está tentando chamar a atenção para a lama em que mergulhamos, caminhando para a vigilância total”.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

[pontodevista] PELAS MULHERES LIVRES DE SEUS TERAPEUTAS

:: txt :: Wladymir Ungaretti ::

 Está se tornando cada vez mais comum as relações afetivas estarem intermediadas por terapeutas. Todas as minhas últimas namoradas discutiam muito mais os “problemas da relação” com eles do que comigo. Sou de uma geração que lia “A arte de amar”, “Meu encontro com Marx e Freud”, “Psicanálise da Sociedade Contemporânea”, “Psicanálise e religião” todos de Erich Fronm; “A função do orgasmo”, “A revolução Sexual”, de Wilhelm Reich; “O segundo Sexo”, “A Convidada” de Simone de Beauvoir e muito Jean-Paul Sartre entre outros. Tempos depois Herbert Marcuse. No Colégio Júlio de Castilhos (Julinho) as mulheres interessantes eram que possibilitavam as discussões “existenciais”. Fui educado nessa tradição. Uma tradição de começar sua vida sexual com a namorada. Orgulhosamente, as chamávamos de companheiras. As farmácias começavam a receber as pílulas anticoncepcionais. Daí minha dificuldade de ter como interlocutor os terapeutas que expressam suas “ideias” sobre quase tudo na fala da namorada. Diagnosticam “minhas dificuldades” e repassam à respectiva a interpretação e o caminho a ser seguido. Esta indústria está associada umbilicalmente à indústria farmacêutica.

 E vai “rivotril”. Existem, também, algumas desonestidades. O cara é convencido pela namorada (está apaixonado e querendo acertar) a procurar “tratamento”. A terapeuta da namorada (prontamente) indica uma profissional amiga. Você não tem em seu círculo psicólogos. E depois trocam as figurinhas. Não é nem considerado falta de ética, mas um elemento de “ajuste” do casal. Funciona como parte do “processo terapêutico, de autoconhecimento”. Tenho um relato de um amigo que testou este esquema mudando o dia da sessão sem avisar a parceira. A sessão da namorada rapidamente mudava de dia. Ficava sempre depois da dele. E ele mudava outra vez. E a dela mudava a seguir. Cheguei a escutar de uma profissional que, de fato, existem pessoas dependentes desse processo de interlocução e que eles (profissionais da área) denominam estes pacientes de “terapeutapisados”. Pessoas que não conseguem “pensar” a não ser pela fala dos seus respectivos terapeutas. Uma sociedade doente que produz pessoas “desequilibradas” produz os mecanismos de ajuste. O importante é pagarmos pelo desequilíbrio e pagamos pelo tratamento. E dá-lhe “rivotril”. A solidão da não comunicação elevando-se ao mais alto grau. Uma sociedade “feique”. Na rebelião do tumulto-desequilíbrio, os verdadeiros amores!!!! PELAS MULHERES LIVRES DE SEUS TERAPEUTAS!!!!!!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

[mídia sem máscara] LUGARES COMUNS QUE SUBSTITUEM O RACIOCÍNIO LÓGICO

:: txt :: Thomas Sowell ::
:: trdç :: Leandro Roque ::

Se algum dia criarem um concurso para aquelas palavras que se passam por pensamento profundo e crítico, "diversidade" e "pluralidade" facilmente iriam para a final e teriam um embate duríssimo.

A beleza destas duas palavras mágicas e encantadoras é que você não necessita de nenhuma nódoa de evidência empírica e nem de nenhum processo de encadeamento lógico para recitar rapsódias sobre os supostos benefícios da diversidade e do pluralismo. A própria ideia de querer testar estes belos termos em relação a algo tão feio quanto a realidade é em si vista como um ato sórdido.

Diversidade e pluralidade são termos que, justamente por englobarem de tudo, dispensam seus promovedores de explicar especificamente o que defendem. Há diversidade e pluralidade de gênero, de cor, de preferências sexuais, de renda, de inteligência, de etnia etc. Sendo assim, perguntar se aquelas instituições que promovem a diversidade 24 horas por dia e sete dias por semanas apresentam melhores resultados do que as instituições que não dão a mínima para estes "pré-requisitos" fará apenas com que você seja visto como um reacionário insensível, malicioso, racista, misógino e "homofóbico".

Citar evidências empíricas que mostram que aquelas localidades obcecadas com pluralidade e diversidade geram relações ruins entre as pessoas forçadas a conviver sob o mesmo ambiente é se arriscar a ser rotulado e marginalizado. O livre pensamento e a liberdade de expressão não são livres.

A moda agora ao redor do mundo é afirmar que os governos devem promover a diversidade e a pluralidade — o que na prática significa que alguns grupos organizados têm mais direitos do que outros, o que por sua vez significa a abolição da ideia de "igualdade perante a lei".

Neste cenário, algumas perguntas se fazem necessárias. Como é possível que um país racialmente homogêneo como o Japão consiga apresentar uma educação de alta qualidade sem ter de recorrer ao essencial ingrediente da diversidade e do pluralismo, uma necessidade "premente" segundo os sociólogos da atualidade?

Inversamente, por que a Índia, uma das mais plurais e diversas nações da terra, apresenta um histórico de intolerância e de violência letal entre seus diversos grupos de pessoas pior do que aquele observado no sul dos EUA durante a vigência da segregação racial?

O simples ato de fazer tais perguntas já é garantia de ser acusado de recorrer a táticas desonestas e de possuir motivações torpes demais para serem dignificadas com uma resposta. Não que os genuínos defensores da pluralidade tenham alguma resposta, é claro.

Dentre os candidatos que disputam a segunda colocação no torneio dos lugares comuns que tornam o pensamento algo obsoleto está o termo "socialmente excluído" e todas as suas variáveis.

Pessoas que não se encaixam nos pré-requisitos básicos exigidos por determinados objetivos e funções, desde admissão em uma universidade a um empréstimo bancário, passando por empregos em cargos que exigem diversas habilidades, são tidas como pessoas socialmente excluídas cuja ascensão social lhes foi "negada pela sociedade". Donde surgem as desculpas de que tais pessoas estão moralmente eximidas de seguirem uma vida pautada pelas mesmas regras aplicáveis ao restante da população — como, por exemplo, não recorrerem à criminalidade.

Tanto o 'pluralismo' quanto a 'exclusão social' deveriam ser corrigidos por políticas públicas, como por exemplo as cotas. Segundo os teóricos, tais políticas equalizariam as "oportunidades de acesso". O problema é que os defensores dessa tese sempre refugam quando instados a explicar por que uma igual oportunidade de acesso seria sinônimo de igual probabilidade de sucesso.

Há um exemplo interessante disso na própria política. Peguemos um estado americano conhecido mundialmente: a Califórnia. Trata-se de um estado majoritariamente progressista. Neste estado, eleitores conservadores e eleitores progressistas têm exatamente a mesma oportunidade de votar. No entanto, as chances de um candidato conservador ser eleito na Califórnia são muito menores do que as chances de um candidato progressista. Será que os progressistas defenderiam cotas e uma lei de "igual oportunidade de acesso" para políticos conservadores na Califórnia?

Similarmente, todas as pessoas podem tentar adentrar uma universidade, pedir um empréstimo bancário ou disputar um determinado emprego. Se todas essas solicitações forem julgadas pelos mesmos critérios, então todos tiveram uma igual oportunidade de acesso. Se aquele sujeito com pouquíssimas qualificações intelectuais não conseguiu o emprego na multinacional ou o ingresso em uma universidade, ou se um sujeito de histórico creditício duvidoso não conseguiu o empréstimo bancário, isso não significa que lhe foi negada a mesma oportunidade de acesso. Simplesmente nunca houve uma igual probabilidade de sucesso.

A 'diversidade' e a 'exclusão social' geram um terceiro lugar comum: 'redistribuição de renda' — ou, sua variável próxima, 'justiça social'.

Aparentemente, todas as pessoas têm direito a receber uma "fatia justa" da prosperidade da sociedade, não importa se elas trabalharam 16 horas por dia para ajudar a criar essa prosperidade ou se não fizeram nada mais do que viver na mendicância ou recorrer ao crime. No final, tudo indica que devemos alguma coisa a estas pessoas pelo simples fato de elas nos agraciarem com sua existência. Tudo indica que elas "têm o direito" de viver à custa dos pagadores de impostos, mesmo que sintamos que poderíamos viver muito bem sem elas.

No outro extremo da escala da renda, os ricos supostamente devem pagar sua "fatia justa" em altos impostos. Mas para nenhum dos dois extremos da escala da renda há uma definição concreta do que é uma "fatia justa". Há um determinado número ou uma proporção exata? Nunca se soube. 'Justiça social' e 'redistribuição de renda' são apenas sinônimos políticos para "mais poder arbitrário para o governo", cuidadosamente adornado por uma retórica sonoramente moralista.

A intelligentsia vem há décadas promovendo a ideia de que não deve haver nenhum estigma em se aceitar auxílios do governo. Viver à custa dos pagadores de impostos é retratado como um "direito", ou, mais ponderadamente, como parte de um "contrato social".

É claro que você não se lembra de ter assinado qualquer contrato desse tipo, mas tal lugar comum soa poético e pomposo. Ademais, e isso é o que interessa, ele rende muitos votos entre os ingênuos, e este é exatamente o objetivo de políticos que defendem assistencialismo.

Por fim, "acessível" é outro termo popular que substitui toda e qualquer necessidade de pensamento crítico. Dizer que todo mundo tem direito a "moradia acessível" é bem diferente de dizer que todo e qualquer indivíduo deve poder decidir qual tipo de casa quer ter.

Programas governamentais que distribuem "moradias a preços acessíveis" nada mais são do que programas que dão a algumas pessoas o poder de não apenas decidir qual imóvel elas querem ter como também o de obrigar outras pessoas — os pagadores de impostos, os donos dos imóveis etc. — a absorver uma fatia do custo desta decisão, uma decisão da qual elas nunca foram convidadas a participar.

E, ainda assim, a crença de que pessoas que preferem que as decisões econômicas sejam feitas voluntariamente por indivíduos no mercado não são tão compassivas quanto aquelas pessoas que preferem que tais decisões sejam tomadas coletivamente por políticos nunca é vista como uma crença que deveria ser comprovada por fatos.

Mas, por outro lado, isso não é algo recente. A crença na compaixão superior dos políticos é um fenômeno mundial que data ainda do século XVIII. E, em todas as épocas e em todos os locais, nunca houve nenhum esforço genuíno dos progressistas para verificarem se esta pressuposição crucial é sustentada por fatos.

A realidade econômica, no entanto, é que o governo fazer, por meio de decretos, com que várias coisas sejam mais "acessíveis" de modo algum aumenta a quantidade de riqueza na sociedade. Colocar o governo para redistribuir propriedade e determinar seu "valor justo" não faz com que a sociedade seja mais rica do que seria caso os preços dos imóveis fossem "proibitivos". Ao contrário: tais políticas, que nada mais são do que controles de preços e redistribuição de propriedade, reduzem os incentivos para se produzir.

Nada do que aqui foi dito é uma ciência obscura e inacessível. Porém, se você é do tipo que jamais se põe a pensar criticamente e se contenta com a mera repetição de lugares comuns, então não importa se você é um gênio ou um deficiente mental. Palavras fáceis que impedem as pessoas de pensar criticamente reduzem até mesmo o mais reconhecido gênio ao nível de um completo idiota.

domingo, 25 de agosto de 2013

[...] ALGUMAS FUMAÇAS DE HIROSHIMA E OUTRAS ABERRAÇÕES

:: psy :: Ira Buscacio ::

A besta deseja infernos!
Zilhões de detonadores
Ocupam sua mente déspota
O bicho trama guerras por amor
A pele
Rasgada em gozo de brio
Seu corpo é perfeito
Espúrio íntimo que,
Alimentado por vícios cortantes,
Enamora-se do bonito e do medonho
Eis o homem, fera implacável!
Atando cogumelos da morte
Ao chão enfermo de insultos
Nuvens negras, dessas almas finadas,
Que não chovem mais lágrimas,
Sobre as cabeças dos que erguem seus olhos
Ao deus sem rosto
Eis a insuportável ameaça da besta
Pairando sobre nós,
Cadáveres! Cadáveres,
Que ainda choram
Oh, Little Boy!

sábado, 24 de agosto de 2013

[nem te conto] RELATOS DE UM SUICIDA III

:: txt :: Jacson Faller ::

Tarde – sexto dia.

   Ontem passei o dia todo sem sair de casa. Li e reli várias vezes o poema; fiquei muito curioso em relação a seu significado. Eu o encontrei, é claro! Foi fácil a sua compreensão, mas – em quem pensava enquanto escrevia? No que eu pensava? Esta está sendo a parte mais difícil; tive pesadelos à noite, monstros vinham a mim, professavam, insultavam-me – e a loucura foi intensa. Acordei em plena madrugada com os lençóis encharcados de suor, pude jurar que até com febre eu estava. Inevitavelmente lembrei-me da criatura triste, triste e incompreendida. Passei a prestar mais atenção ao tempo; digo, em cada minuto da minha vida; em primeiro lugar revi que foi escrito por mim nestes últimos dias e – senti-me quase um poeta, quase triste, quase vivo, quase morto, quase flor... Um vazio incompreensível se apossou de mim.
   Tudo passou a variar. O vazio não era novidade, eu sabia do que se tratava: era aquela coisa cotidiana, as angústias e temores da vida moderna, ser bem sucedido profissional e financeiramente; ser respeitado pelos amigos; bem quisto pela família; amado pelas mulheres; ter status; todos estes pequenos demônios que atormentaram o homem no final do milênio e continuam a atormentar no início de um novo. Mas algo mudou... Ainda não sei o que pensar: Ver estes míseros relatos dos últimos dias fez-me ver quão insignificante é a minha vida, até mesmo a ironia que vi presente em algumas linhas me chocou com tamanho cinismo. A partir deste ponto também noto que escrevo como se estivesse narrando os fatos a alguém. Fiz um poema!  Em que pensava? Creio em alguém que eu pudesse ter conhecido – alguém que eu anseie em conhecer, alguém que eu necessite para viver... Acho que não pensava... Eu Sentia. Pensar e sentir são coisas distintas? Talvez o significado que eu tenha encontrado para o poema nem exista. Já está ficando complicado demais, pararei por aqui. Espero que não perca minha ironia... Pretendo deixar apenas o cinismo de lado.


O que quero é

Alimentar teu girassol
Com poesia e suor
Transpor tuas mãos
(teu corpo para o meu)

Sombrear tua arte
Roubar o teu sol

Velar tua insônia
Em teus dias de mulher


Mascar tuas sementes
Cuspi-las ao renascer

Zombar do sentimento
Que não seja o melhor

Lamber teus temores
Fazê-los são

Ter quase tudo
Que tua vontade tiver

Reduzir teus sonhos
A milagres pequenos

Flutuar em tuas cores
Até me encontrar

Também
Amar-te, apenas

para não querer

O que não É!

sábado, 17 de agosto de 2013

[overmundo] BAIANO E OS NOVOS CAETANOS


:: txt :: Penha de Castro ::

 Os anos de chumbo da ditadura militar e a explosão do Tropicalismo. A arte silenciada, amordaçada pela censura e a arte, extravagante, irreverente, escandalosa e constrangedoramente nacionalista dos tropicalistas em meio a farsa do milagre econômico que maquiava a miséria dominante nas terras tupiniquins, criaram a atmosfera perfeita para o surgimento da dupla virtual (embora pouco usual, a palavra virtual já existia antes da internet) Baiano & Novos Caetanos, composta por Baiano e Paulinho Boca de Profeta, personagens interpretados respectivamente por Chico Anísio e Arnauld Rodrigues, criados para um quadro do humorístico da Globo “Chico City”. O cantor Caetano Veloso e os Novos Baianos serviram de inspiração para criação dos dois personagens.

 A ideia a principio era fazer uma sátira ao movimento tropicalista, que com seus conceitos, retórica, estética, manifesto, impressões e avalanches pós-modernistas, descarrilava tornando-se o óbvio, a peça fora da engrenagem absorvida pelo sistema, saturava-se por não sobreviver aos seus próprios dogmas. Então voltam-se para si os estereótipos, os quais criticava, dos quais eram também uma relevante parcela.
A dupla embarca no tropicalismo do tropicalismo, autocrítica do movimento vinda de fora, ou de dentro, sei lá, depende do ponto de vista, se existir mais de um. Os trejeitos, o figurino, o palavreado, os cacoetes, os silogismos dos expoentes da tropicália eram um prato cheio para os dois humoristas que engrossavam o caldo com a sátira política metafórica própria para os ares de uma ditadura.

 O álbum de 1974, da dupla, é um disco politizado, engraçado e de uma sonoridade surpreendente, bonita e inovadora. Foi além da piada, virou coisa séria. Com pegada que varia do Samba-rock à música rural, carregado de brasilidade, o som viaja pelas origens de nossa musicalidade, visita nossas veias culturais. É um tropicalismo acidental.
Em “Vô batê pa tu”, com participação do personagem do Chico Anísio “Coalhada”, que meio perdido pergunta: “o que que eu tô fazendo neste disco”, a faixa de abertura, cheia de efeitos sonoros, de uma plateia virtual (de novo), toca na feridas dos dedo-duros, gente do meio artístico e intelectual, que entregavam os colegas que não andavam na linha da ditadura, a “entregação com dedo de veludo”; em “Urubu tá com raiva do Boi” o alvo foi o “milagre econômico brasileiro” que era a vedete do regime militar, sintetizada no discurso Delfiniano: “O povo vai mal, mais o pais vai bem”.
“Cidadão da mata”, canção politicamente correta com mensagem ecológica, encerra-se no discurso ativista: "Amo, amo a mata! Porque nela não há preços. Amo o verde que me envolve... o verde sincero que me diz que a esperança, não é a ultima que morre. Quem morre por último é o herói. E o herói, é o cabra que não teve tempo de correr..."
“Dendalei”, com arranjos de flauta que nos remetem aos bang-bangs italianos, faz critica ao conservadorismo e ao conformismo: “ Do que eu vi, muito gostei, tudo perfeito de mais, dendalei, dendalei. Sou fã desse meu firmamento, sou fã da roda em que entro, sou fã do velho testamento”.

 Sarcásticos, visionários e criativos, assim eram Baiano e Paulinho Boca de Profeta, ou melhor, Baiano e Novos Caetanos.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

[do além] SOUTH AMERICAN WAY


:: txt :: Carmen Miranda ::

Lembra quando me acusaram de ter voltado dos EUA americanizada? Fui muito criticada por aqui. Muitos acreditavam que, após ter conquistado a América, eu havia renegado minha identidade brasileira. Naquela época, era mais fácil separar uma da outra. Os tempos são diferentes. Hoje, quem diria, o Brasil virou uma das maiores economias do mundo. Somos nós que estamos com a burra do dinheiro e eles que estão em crise.

E o que resolvemos fazer com nossa grana? Saímos a comprar ícones americanos. Primeiro foi a Budweiser, agora o Burger King. E como sintoma maior dessa nova era, alugamos o Madison Square Garden para uma cantora brasileira fazer um show no estilo americano, para uma plateia brasileira. E depois ainda celebramos o feito na imprensa. Local. Agora só falta a Lojas Americanas comprar o Walmart. Pelo que estou entendendo, o propósito do imperialismo brasileiro é americanizar a América. Antigamente estávamos interessados em ver o Tio Sam pegar o tamborim, o pandeiro e a zabumba. Queríamos, ao menos, uma troca de influências, por menor que fosse. Mas parece que mudamos nossos anseios. Nosso desejo é ser mais americanos que os próprios americanos. Estamos nos comportando como aquele sujeito que recém se converteu a uma religião e precisa mostrar aos antigos fiéis que sua decisão foi tomada com enorme convicção.

Acho que podemos almejar voos mais altos. Não estou só sugerindo que o Burger King passe a vender pastel de feira. Isso seria o mínimo. Depois do Rock in Rio Lisboa e Madri, tudo é possível. É hora do imperialismo cultural brasileiro. É exportando sua cultura que uma nação fica forte. Só quando uma jovem do interior do Alabama se derreter pelo Luan Santana é que estaremos perto de nos tornar uma grande potência. Claro que para isso precisaremos de atos simbólicos como a Xuxa alugar o Salão Oval da Casa Branca para a festa dos 15 anos da Sasha e a Parada da Macy’s acontecer na forma de um desfile de Parintins. Um passo de cada vez. Impérios não se constroem da noite para o dia. É um tico-tico cá, um tico-tico lá e assim conquistaremos o mundo.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

[bolo'bolo] DYSCO

    Lidando primeiro com a subversão, fica claro que todo tipo de trabalho, qualquer um que sirva à Máquina em qualquer parte do mundo, tem seu potencial específico para subverter. Existem formas diferentes de danificar a Máquina, e nem todos dispõem das mesmas possibilidades. Um menu para a subversão planetária poderia ser mais ou menos assim:

    a) Dysinformação: sabotagem (de hardware ou programas), roubo de horas/máquina (para jogos ou assuntos particulares), desenhos ou planejamentos defeituosos, indiscrições (exemplo: Ellsberg e o escândalo Watergate), deserções (cientistas, oficiais), recusa de seleções (por parte de professores), orientações erradas, traições, desvios ideológicos, informações falsas aos superiores, etc. Os efeitos podem ser imediatos ou a longo prazo – segundos ou anos.

    b) Dysprodução: não participação, baixa qualidade, artesanato, sabotagem, greves, licenças médicas, decisões de grupo, demonstrações nas fábricas, mobilidade, ocupações (por exemplo, os recentes confrontos dos trabalhadores poloneses). Os efeitos são geralmente a médio prazo – semanas ou meses.

    c) Dysrupção: agitações, bloqueio de ruas, ações violentas, fuga, divórcio, conflitos domésticos, saques, tecnologia de guerra, armamentos, invasões de terras, incêndios (por exemplo São Paulo, Miami, Soweto, El Salvador). Os efeitos aqui são curtíssimos – horas ou dias.

    É claro, todos esses atos também têm efeitos a longo prazo; estamos falando apenas sobre seu impacto direto como forma de atividade. Qualquer um desses tipos de subversão pode danificar a Máquina, pode até mesmo paralisá-la temporariamente. Mas cada um deles pode ser neutralizado pelas duas outras formas – seu impacto é diferente conforme o tempo e o espaço. Dysinformação não adianta se não for usada na produção ou circulação física de bens e serviços; de outra forma, torna-se um simples jogo intelectual e só destrói a si mesma. Greves sempre podem ser dispersadas se ninguém, através de ações dysruptivas, impedir a intervenção da polícia. A dysrupção cessa rapidamente assim que a Máquina arranja suprimentos no setor de produção. A Máquina sabe que sempre haverá subversão contra ela, e que o negócio entre ela e os diferentes tipos de trabalhadores sempre vai ter que ser barganhado e batalhado de novo. Ela simplesmente tenta enfraquecer os ataques dos três setores de modo que eles não possam apoiar um ao outro e multiplicar-se, tornando-se uma espécie de contramáquina. Trabalhadores que acabam de vencer uma greve (dysprodução) ficam bravos com demonstrações de desempregados que bloqueiam a rua impedindo o acesso à fábrica a tempo. Uma firma vai à falência e os trabalhadores se queixam dos diretores e engenheiros. Mas e se tiver sido um substrutivo engenheiro que fez de propósito um mau desenho, ou um diretor que queria sabotar a firma? Os trabalhadores ainda perdem seus empregos, participam de demonstrações de desempregados, finalmente se envolvem em agitações e comícios... até que os trabalhadores-policiais cheguem e façam seu serviço. A Máquina transforma os ataques isolados de diferentes setores em movimentos lentos, porque nada é mais instrutivo do que as derrotas, nada mais perigoso do que longos períodos de calma (neste caso, a Máquina perde a capacidade de dizer o que está acontecendo dentro dos seus próprios órgãos). A Máquina não pode existir sem um certo nível de doença e dysfunção. Lutas parciais se tornam o melhor meio de controle – uma espécie de termômetro de febres – suprindo-a de imaginação e dinamismo. Se for necessário, a Máquina pode até mesmo provocar ataques, só para testar seus instrumentos de controle.

    Dysinformação, dysprodução e dysrupção têm que se encontrar a nível de massas a fim de produzir uma situação crítica para a Máquina. Essa conjuntura mortal só poderia acontecer pela superação das diferenças entre as três funções e os três tipos de trabalhadores. Deve emergir um tipo de comunicação que não seja adequado ao desenho da Máquina: dyscomunicação. O nome do jogo final contra a Máquina é, pois, ABC-dysco.

    Onde podem se desenvolver esses nós ABC-dysco? Dificilmente no local de trabalho, no supermercado, no lar, ou seja, onde os trabalhadores se encontram funcionando para a Máquina. Uma fábrica é uma divisão organizada com precisão, e coisas tipo sindicatos apenas espelham essa divisão, não a superam. No trabalho, interesses diferentes são particularmente acentuados: salários, posições, hierarquias, privilégios, títulos, tudo isso ergue barreiras. Nas fábricas e escritórios os trabalhadores são isolados uns dos outros, o nível de ruído (físico, semântico, cultural) é alto, as tarefas são absorventes. ABC-dysco também não se daria melhor no centro econômico da Máquina.

    Mas existem áreas da vida – para a Máquina, as mais marginais – que são propícias para dysco. A Máquina não racionalizou e digitou tudo: freqüentemente, na verdade, lhe escapam as religiões, experiências místicas, linguagens, culturas nativas, natureza, sexualidade, desejo, todos os tipos de melancolia, fixações neuróticas ou a pura fantasia. A vida como um todo ainda consegue escorregar do padrão básico da Máquina. Naturalmente, a Máquina está consciente há muito tempo da sua insuficiência nessas áreas, e tentou encontrar funções econômicas para elas. A religião pode virar um bom negócio, a natureza pode ser explorada por esportes e turismo, o amor ao lar pode degenerar em pretexto ideológico para indústrias de armamentos, a sexualidade pode ser comercializada, etc. Basicamente, não há necessidade ou desejo que não possam ser comercializados, mas como mercadoria é claro que eles ficam diminuídos ou mutilados, e os verdadeiros desejos e necessidades se transportam para outra coisa. Certas necessidades são particularmente inadequadas para produção em massa: acima de todas, as experiências autênticas, pessoais. Aí a mercantilização se dá apenas parcialmente, e mais e mais pessoas se tornam conscientes do resto. O sucesso dos movimentos ambientais, dos movimentos pacifistas, dos movimentos étnicos ou regionalistas, de certas formas de nova religiosidade (igrejas progressistas ou pacifistas), das subculturas homossexuais, provavelmente se deve a essa insuficiência. Onde quer que sejam encontradas ou criadas identidades fora da lógica da Máquina, aí existe um nó ABC. Intelectuais, vendedores, homens e mulheres se encontram em manifestações contra a guerra. Homossexuais se aproximam sem pensar em suas identidades profissionais. Navajos, bascos ou armênios lutam juntos; um tipo de novo nacionalismo ou regionalismo supera as barreiras de educação ou trabalho. A Madona Negra de Czestochowa contribuiu para unir igualmente fazendeiros, intelectuais e trabalhadores poloneses. Não é acidental que nos últimos tempos os movimentos tenham ganho certa força graças a esse tipo de aliança. Seu poder substrutivo é baseado na multiplicação dos encontros ABC possíveis em suas estruturas. Uma das primeiras reações da Máquina sempre foi jogar os elementos desses encontros uns contra os outros, restabelecendo o velho mecanismo de repulsa mútua.

    Os movimentos mencionados até aqui só produziram ABC-dyscos superficiais e efêmeros. Na maioria dos casos, os diferentes tipos apenas se tocaram em poucas ocasiões e deslizaram rumo às divisões cotidianas, como antes. Criaram mais mitologias do que realidades. Para existir por mais tempo e exercer influência substancial, eles deveriam também ser capazes de assumir tarefas cotidianas fora da Máquina, teriam que incluir também o lado construtivo da substrução. Precisariam organizar a ajuda mútua, sem intercâmbio de dinheiro, no que se refere a serviços e funções concretas de vizinhança. Nesse contexto seriam antecipação dos bolos, dos acordos de permuta, de suprimentos alimentares independentes, etc. Ideologias (ou religiões) não são suficientemente fortes para superar barreiras como renda, educação, posição. Os tipos ABC deve comprometer-se no cotidiano. Certos níveis de auto-suficiência, de independência do Estado e da economia, devem ser atingidos para estabilizar esses dysco-nós. Você não pode trabalhar quarenta horas por semana e ainda ter tempo e energia para iniciativas de bairro. Os nós ABC não podem ser apenas decorações culturais, têm que ser capazes de compensar ao menos uma pequena fração da entrada de dinheiro, para que se tenha algum tempo livre. Como esses nós ABC vão parecer, isso só se saberá na prática. Podem ser associações de moradores, conspirações alimentares, intercâmbios entre artesãos e fazendeiros, comunidades de rua, bases comunais, clubes, trocas de serviços, cooperativas de energia, banhos comunitários, transporte compartilhado, etc. Todos os tipos de pontos de encontro – juntando os três tipos de trabalhadores em torno de interesses comuns – são possíveis ABC-dyscos.

    A totalidade desses nós ABC desintegra a Máquina, produzindo novas conjunturas subversivas, alimentando toda sorte de movimentos invisíveis. Diversidade, invisibilidade, flexibilidade, ausência de nomes, bandeiras ou rótulos, recusa de orgulho ou honra, o cuidado de evitar comportamentos políticos e tentações de "representatividade" podem proteger esses nós dos olhos e das mãos da Máquina. Informações, experiências e instrumentos práticos podem ser partilhados assim. Os nós ABC-dysco podem ser laboratórios para novas, intrigantes e surpreendentes formas de ação, podem usar todas as três funções e respectivas dysfunções da Máquina. Mesmo o cérebro da Máquina não tem acesso a esse poder de informação, já que deve manter dividido o pensamento sobre si mesmo (o princípio da cisão entre responsabilidade e competência). Os nós ABC-dysco não são um partido, nem mesmo um tipo de movimento, coalizão ou organização abrangente; são apenas eles mesmos, o somatório de seus efeitos individuais. Podem se encontrar em eventuais movimentos de massa, testar sua força e a reação da Máquina, e desaparecer de novo na vida cotidiana. Eles combinam suas forças quando se encontram em tarefas práticas. Não são um movimento anti-Máquina, mas são o conteúdo e a base material para a destruição dela.

    Devido à sua consciente não-organização, os nós ABC são sempre capazes de criar surpresas. A surpresa é vital (já que ficamos em desvantagem básica quando enfrentamos a Máquina) para impedir uma recuperação rápida, pois sempre poderíamos ser chantageados pelas constantes ameaças de morte ou suicídio vindas da Máquina Planetária. Não se vai negar que a guerra poder ser necessária como meio de subversão em certas circunstâncias (principalmente quando a Máquina já está ocupada em matar). Quanto mais nós, tramas e tecidos ABC houver, mais os instintos de morte da Máquina serão despertados. Mas já seria parte da nossa derrota termos que encarar a Máquina com heroísmo, prontos para o sacrifício. De alguma forma, vamos ter que aceitar a chantagem da Máquina. Onde ela comece a matar, temos que bater em retirada. Não devemos assustá-la; ela tem que morrer quando menos espera. Soa derrotista, mas é uma das lições que aprendemos no Chile, na Polônia, em Granada. Quando o nível da luta envolve a polícia ou os militares, estamos a ponto de perder. Ou, se vencermos, serão justamente nossas partes policiais ou militares que terão vencido, não nós; e acabaremos numa daquelas manjadas ditaduras "revolucionárias". Quando a Máquina começa a matar cruamente, é obvio que nós cometemos um erro. Não podemos esquecer nunca de que nós também somos quem atira. Nunca estamos enfrentando o inimigo, nós somos o inimigo. Esse fato não tem nada a ver com as ideologias de não-violência; as ideologias mais violentas freqüentemente evitam matar. Nem, entretanto, é o caso de colocarmos florzinhas nos botões dos uniformes, ou de sairmos do caminho para ser gentis com a polícia. Eles não se deixam iludir por simbolismos embusteiros, argumentos ou ideologias – eles são como nós. Mais: talvez o guarda tenha alguns bons vizinhos, talvez o general seja gay, talvez o soldado da linha de tiro tenha ouvido a irmã dele falar de algum nó-dysco-ABC. Quando houver dyscos suficientes, a segurança da Máquina estará tão furada quanto uma peneira. Teremos que ser cuidadosos, práticos, discretos.

    Quando a Máquina mata, é que não existem dyscos ABC suficientes. Muitas partes de seu organismo ainda estão com boa saúde, e ela está tentando se salvar com cirurgia preventiva. A Máquina não vai morrer devido a ataques frontais, mas poderá morrer de câncer-ABC, tomando consciência disso quando for tarde demais para operar. Estas são apenas as regras do jogo; os que não as respeitam fazem bem em sair (deixemos que sejam heróis).

    Substrução como estratégia (geral) é uma forma de meditação prática. Pode ser representada pelo seguinte yantra, combinando substrução (o aspecto do movimento) com bolo (a futura comunidade básica):


sábado, 10 de agosto de 2013

[agência pirata] ESPERANÇAS NO NOVÍSSIMO CINEMA BRASILEIRO

:: txt :: José Gerado Couto ::

Dois notáveis longas-metragens de estreia de jovens diretores brasileiros entraram em cartaz há duas semanas: O que se move, de Caetano Gotardo, e Cores, de Francisco Garcia. Quem gosta de cinema fará bem em vê-los antes que sejam expelidos de um mercado exibidor cada vez mais imediatista e predatório.

Para falar de O que se move, talvez seja o caso de retomar a velha expressão moving pictures. De modo saborosamente literal, ela define o cinema como “imagens que se movem”. Mas o adjetivo moving tem também o significado de comovente, de modo que o cinema, desde as origens, traz embutida a faculdade de comover. Em seu melhor, o cinema é um fenômeno em que moção e emoção se fundem numa coisa só, intraduzível em outras linguagens. É isso, nada menos, que ocorre no filme de Caetano Gotardo.



Assistimos ali a uma tragédia em três atos independentes, interligados subterraneamente pelo motivo recorrente da perda. É difícil abordar o enredo sem prejudicar as surpresas e descobertas do espectador, mas digamos apenas que são histórias que envolvem pedofilia, um bebê roubado na maternidade e outro esquecido dentro de um carro.

A partir de temas assim, um Todd Solondz (o americano que dirigiu Felicidade e Histórias proibidas) se refestelaria no sensacionalismo e no inventário de aberrações. Gotardo e seus parceiros do coletivo paulista Filmes do Caixote trilham o caminho oposto, de aproximação ao íntimo e silencioso drama de cada um. Como expressar a dor? Como dizer o indizível?

Presença e ausência

A opção adotada por O que se move é a da elipse, da entrelinha, do fazer de conta que está falando de outra coisa. A dialética entre presença e ausência no filme foi examinada com muita argúcia por Filipe Furtado, na revista digital Cinética. Mas há também o jogo sutil entre o movimento e a fixidez, bem como entre o silêncio e a fala.

Um dos traços mais originais e desconcertantes de O que se move é o fato de cada uma das três histórias terminar com sua protagonista feminina (pela ordem, Cida Moreira, Andrea Marquee e Fernanda Vianna) entoando uma canção que sintetiza seu drama, numa ruptura radical com o naturalismo da encenação.

Como explicar essa aparente extravagância? Meu palpite é que a estratégia de “esconder” o drama, ou de mostrá-lo de modo elíptico e indireto, cria uma atmosfera quase insuportável de emoção calada, diante da qual a música surge não propriamente como catarse, mas como sublimação. Nesses momentos, sobretudo no magnífico final da última história, com a canção se sobrepondo a imagens de corpos de atletas em movimento numa tela de tevê de churrascaria (o que poderia haver de mais prosaico?), música e cinema são uma coisa só, e Caetano Gotardo realiza o sortilégio de converter a dor em poesia.

Vidas sem cor

Mais que uma mera boutade, a ironia de intitular de Cores um filme rodado em preto e branco certamente encerra uma intenção mais profunda, a de contrastar as aspirações do trio de jovens protagonistas com seu cotidiano estagnado e sem perspectivas. Eles moram em bairros periféricos de São Paulo e vivem de subempregos: Luca (Pedro di Pietro) é tatuador e mora com a avó; Luiz (Acauã Sol) trabalha numa farmácia e sua namorada Luara (Simone Iliescu) é vendedora numa loja de peixes de aquário.



O contexto social e existencial não difere muito do mostrado em Um céu de estrelas (1996), de Tata Amaral, outro filme centrado na classe média baixa paulistana e que também traz um título irônico. Mas, se no huis clos de Tata a concentração espacial e a progressão dramática conduziam para um paroxismo de tragédia e violência, em Cores a opção é por um acentuado esvaziamento do drama, por uma tentativa de expressar na própria dramaturgia rarefeita o desalento das vidas fracassadas que retrata.

Como outros críticos já observaram, a referência óbvia com que o diretor trabalhou para contar sua história são os primeiros filmes de Jim Jarmusch, em especial Estranhos no paraíso, cujo cartaz aparece em dado momento de Cores. A narrativa é episódica, distensionada, acumulando tempos mortos. Os personagens, como em Jarmusch, estão como que à margem do mercado e da vida social. Passam seu tempo tomando cerveja, fumando maconha, eventualmente fazendo um sexo sem entusiasmo. Seus esboços de reação ao marasmo que os cerca dão em nada: uma tentativa atrapalhada de assalto à farmácia, uma viagem ao litoral que acaba antes de começar. Volta-se sempre ao mesmo lugar.



A viagem como promessa

A iluminação, os enquadramentos e os movimentos de câmera do diretor de fotografia Alziro Barbosa são tão belos quanto precisos e “necessários”, evitando a estetização graças a uma integração orgânica com a proposta geral do filme. Alguns planos são memoráveis: uma tartaruga atravessa lentamente um quintal debaixo de chuva; um avião aterrissa na pista e a câmera, ao acompanhar seu movimento, acaba enquadrando o casal que observa a cena de uma janela.

Tudo conflui para a tensão entre movimento (virtual ou potencial) e paralisia (real). Não é por acaso que Luara mora ao lado do aeroporto e flerta com um piloto de avião que frequenta sua loja. De sua janela ela vê os aviões decolando ou aterrissando, o que faz lembrar o verso de Manuel Bandeira: “Todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir”. Mas essas lições, os três amigos não têm como aprender. O voo permanece como promessa não cumprida.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

[nem te conto] IDEIA PARA UM FILME DE TERROR

:: txt :: Paulo Wainberg ::

Jorge, trinta anos, dirige tranquilo, à noite, pela avenida, escutando o Noturno número dois de Chopin, um de seus favoritos.

Um caminhão desgovernado atinge sua lateral direita e arrasta o carro contra um poste.

O carro se parte em dois.

(Corta para sala de cirurgia do hospital – “Corta” é a palavra que nós, cineastas, usamos para indicar uma mudança de cena).

Os médicos discutem, são três, com seus tapapós, máscaras e toucas verdes, uma enfermeira com a mesma indumentária, porém branca. Todos usam óculos e só se percebe, do rosto deles, o reflexo da luz nas lentes.

Decidem que as pernas e braços de Jorge, esmagados, deverão ser amputados (expressão usada por nós, médicos).

O cirurgião chefe entra no banheiro. A enfermeira abre duas torneiras e ele estica os braços como se estivesse carregando um balaio, ou um cesto, ou um berço de bebê. Coloca as mãos e os braços sob as torneiras e deixa a água escorrer por um tempo indefinido. Em seguida seca-se sob o aparelho de vento e a enfermeira coloca-lhe as luvas de borracha, num gesto rápido e único, como se elas fossem pré-moldadas para as mãos do médico.

(Corta para o quarto de hospital, claro e arejado)

Sobre a música de fundo, que pode ser uma balada do Gun’s and Roses, ouve-se o ruído de um teclado de computador sendo digitado, enquanto em primeiro plano, na tela, surgem letras que formam as palavras “Cinco dias depois”, método bastante original que nós, cineastas, utilizamos para indicar ao espectador a passagem do tempo.

Sobre a cama repousa Jorge. Dele só aparece o rosto tranquilo que, milagrosamente não sofreu um arranhão, no acidente.

Ele está perfeitamente barbeado.

A câmera afasta-se, verticalmente, para que o pública perceba que, de Jorge resta apenas a cabeça e o tronco, moldado pelo lençol cujas dobras casualmente revelam o formato do corpo do jovem.

Entra Júlia, namorada de Jorge, sorridente como um dia de primavera, linda e gostosa, e acorda Jorge com um beijo na boca.

Ele sorri e levanta da cama.

Está intacto, como se seus membros não tivessem sido amputados. Ele pega Julia pela mão e os dois saem do quarto.

A câmara fixa nos dois, andando pelo corredor calmamente, a bunda de Jorge aparecendo inteira na abertura do avental que ele veste.

Esta cena é uma discreta intervenção do Diretor, que utiliza a metáfora para revelar que caga e anda para a opinião da platéia.

As sequências seguintes são editadas através do recurso, bastante original, que nós cineastas denominamos de flashback and go, de sorte que o espectador não sabe se o que está assistindo se passa no presente, no passado ou no futuro.

Corta para Jorge e Julia transando sob um parreiral de uvas rosas. Os raios de sol contribuem para ressaltar as partes mais gostosas do corpo de Julia, com ênfase nas pernas entrelaçadas e nas mãos de Jorge nos seios de Julia.

(Nota para os roteiristas: Convêm que de repente Jorge fique sem os braços e as pernas? Em caso afirmativo, Julia empurra o tronco de Jorge para longe, com um agudo grito de horror, ou continua transando com o tronco dele, como se fosse tudo muito natural?)

Em uma sequência especialíssima, Director cult’s, aparentemente fica revelado o terrível segredo que deu origem à tragédia: Jorge seria o filho bastardo de um lobisomem com uma vampira. Para seu desespero, nas noites de lua cheia, não consegue decidir se vira lobo ou vira morcego. Tal ambivalência produziu o terrível conflito de identidade que nós, psiquiatras, definimos como hermafroditismo licantrópico, gerados dos traumas psíquicos profundos que o inconsciente nega, mas o consciente não perdoa.

O anticlímax do suspense absoluto surge quando o público toma conhecimento de que Jorge estava lendo o quarto volume de uma Saga ou assistindo ao quarto filme da mesma Saga (Nota para os roteiristas: decidir se é livro ou filme).

As interfaces de Jorge amputado e Jorge intacto sucedem-se com velocidade impressionante, fazendo com que o filme se aproxime do ritmo do thriller, ora passeios de bicicleta noturnos em cemitérios, ora correndo pelos campos dourados de trigo, em tardes de outono. Sempre acompanhado por Julia, cujo sorriso faz qualquer homem suspirar.

É na cena final que tudo se revela. As peças do quebra-cabeças encaixam-se como se fossem massinha de moldar. Neste momento surge o misterioso e sinistro personagem.

Ocupando a tela inteira, a silhueta de um homem de capa e capuz, elementos que nós, cineastas, utilizamos para mostrar ao espectador que aquele personagem é misterioso e sinistro.

Com voz doce e tom didático, ele apresenta um resumo do filme, deixando na obscuridade algumas partes obscuras, sugerindo que a franquia da Saga admite continuações, para quem quiser comprar.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

[gonzo drópis] OS NENIS DA PANTINHA A MACEDUSSS & AS DESAJUSTADOS BANDO SE PREPARAM PARA LANÇAR UMA TAPE (SIM, UMA FITA K-7)

:: txt :: Macedusss ::

    O conjunto de música de São Leopoldo (cidade chamada amavelmente por estes bondosos jovens colonos como São Hell) foi urgentemente contratado pelo selo Dente Pôdi Records, de Fortaleza. A “Dente Pôdi” é um selo especializado em música experimental/noise/grind e tem como proposta tecnológica lançar seus grupos apenas em tapes (fita k-7) e em disquete (sim, oi tecnologia total!). O cassete a ser lançado por estes nenis-capilé, possivelmente no final de agosto/inicio de setembro, levará o elegante título de “Não São Hell ao vivo uma vez, live” e é destinado apenas aos fãs mais extremados e apaixonados pela bando profético de Macedusss, já que é será uma edição limitada de apenas 69 cópias. Fique atento, pois a música do salvador estará disponível em tapes cabalisticamente limitadas seis/nove exemplares.






 Mais informações em: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=179774365536121&id=152203534959871



 A Macedusss & As Desasjustados Bando em: https://www.facebook.com/macedusss




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