:: txt :: Paulo Wainberg ::
A comunidade científica resolveu dividir o Grande Sanatório em alas independentes e incomunicáveis, para evitar más influências.
A ala do Povão abrigou trabalhadores e operários, nada ou pouco
qualificados, desempregados e miseráveis de toda a ordem. As
manifestações dos internos são primitivas, não vão além de fantasias dos
que pensam ser motoboys, catadores de lixo, um que outro acredita ser
mestre de obras.
Nada há, ali, que interesse a comunidade científica.
A ala dos Ricos e Classe média poucos problemas causa, os empresários
e prestadores de serviços ali internados possuem ambições semelhantes,
os ricos querendo mais classe média para gastar e os da classe média
querendo ser ricos. Os casos mais graves são os prestadores de serviços,
especialmente advogados com surtos agressivos contra juizes e o poder
judiciário em geral. Vivem sob fortes tranquilizantes, muitos
imobilizados com camisas de força.
O acompanhamento e tratamento dessa ala está a cargo do baixo clero da comunidade científica.
A ala dos Intelectuais é de longe a mais interessante e, para ela, a
comunidade científica dedica atenção integral, seus expoentes máximos
absortos no estudos daquelas mentes extraordinariamente perturbadas.
O nome da ala – Intelectuais – foi escolhido não pela qualidade
pessoal de internos e sim pelos cargos e funções que exerciam na
sociedade, antes dos seus debacles mentais.
O relatório inicial, preparado pelo presidente da comunidade
científica, traz a descrição de alguns casos extremos e foi elaborado a
partir da identidade que cada interno julga ter assumido:
NAPOLEÃO BONAPARTE: Um ex ministro do Supremo Tribunal Federal,
querido pelos colegas de toga e de partido político, começou a votar em
Francês. Os colegas, nobres e excelentes, atribuiram o fato ao humor que
caracterizava o ministro, com suas tiradas engraçadas e carinhosamente
corrosivas, durante as sessões de julgamento. Daquela data em diante o
ministro passou a votar só em Francês. Mais do que isto, ordenou a cinco
de seus vinte ou trinta secretários, que compilassem todos os votos que
proferira, durante seus dez anos de atuação na corte suprema do país.
Depois disto traduziu todos os votos para o Francês e mandou imprimir.
Encadernou o calhamaço e distribuiu entre todos os colegas. O título
era: O Novo Código Civil de Napoleão, elaborado por Napoleão Bonaparte.
Deu para andar com a mão direita enfiada sob a lapela do casaco ou,
quando estava de toga, com a mão direita segurando as costelas
esquerdas. Quando lhe perguntaram o motivo de proferir seus votos em
Francês, esclareceu que a língua portuguesa era por demais primitiva
para abranger os conceitos jurídicos que sua mente imperial concebia.
Foi encaminhado para o Sanatório quando chegou à a corte vestido de
general, com o chapéu triangular na cabeça e ordenou a imediata invasão
da Argentina.Conquistando o país vizinho, daria início à retomada das
Ilhas Malvinas, declarando guerra à Inglaterra e, assim vingar-se da
derrota em Waterloo. Ainda hoje, em seu gabinete no sanatório, passa o
tempo elaborando planos de batalha, rodeado de mapas e maquetes
estratégicas. Nunca mais falou português.
STALIN: Quando José Dirceu deixou o bigode crescer, o pessoal achou
que era apenas mais uma mudança de aparência, das tantas que ele já
experimentara. Pelo menos agora não fizera plástica. No início era uma
penugem quase imperceptível que foi crescendo até tornar-se um grosso
bigode que quase lhe cobria a boca e que ele pintava de preto,
religiosamente. Dizem que a degradação mental começou quando fazia as
unhas, numa de suas inúmeras residências de luxo em condomínios fechados
ainda mais luxuosos. A manicure, ao tirar-lhe uma cutícula, machucou
aquele pedacinho que fica entre o dedo e o início da unha. Ele teve um
acesso de fúria e ordenou a um dos seus mil e quinhentos seguidores que
deportassem imediatamente a incompetente para a Sibéria, onde passaria o
resto da vida sob trabalhos forçados. No dia em que enviou emissários
pelo mundo até encontrar e eliminar seu inimigo mortal e inimigo mortal
dos ideais comunistas, um arrivista radical chamado Trostky, fornecendo a
cada um a fotografia de um ex-deputado chamado Jefferson, foi enviado
para o Sanatório onde, até hoje, através de e-mails, pergunta se sua
ordem foi executada. Nunca mais fez as unhas.
JOSÉ SARNEY – Um obscuro poeta do Maranhão publicou um livro de
poemas chamado Abelhas no Cio. Ninguém leu o livro e ele, então,
Reeditou a obra, mudou o título para Marimbondos de Rogo e assinou José
Sarnão. Passou a comandar o Brasil, depois de invadir uma residência de
luxo, numa ilha de sua propriedade. Nomeou milhares de assessores e
declarou, numa matéria paga publicada no Correio de São Luiz, ao que se
sabe também de sua propriedade, um manifesto à nação, afirmando que era
vítima de conspirações literárias e que, como membro da Academia
Brasileira de Letras, não suportava não ser presidente de alguma coisa,
nem que fosse do Senado. Descobriu-se que seu nome de batismo é Ribamar e
suas atitudes, frases e pensamentos são objeto de um estudo comparado
de suas atitudes com as do próprio José Sarney, estudo este que está
provocando uma dissidência na comunidade científica, promovida pelo
grupo que deseja substituir o falso José Sarney pelo próprio.
MUSSOLINI – Quando Paulo Maluf revelou ao Jornal Nacional que era a
reencarnação de Benito Mussolini e que ia transformar o país numa Itáli
moderna, independente, onde o trabalhador teria leis que o garantisse
que seus opositores seriam tratados com mãos de ferros e seus seguidores
com doçura, nem conseguiu chegar em casa. Saiu dos estúdios numa camisa
de força e está, até hoje, fazendo propaganda de seus feitos, nos
corredores do Sanatório. Sua última declaração foi que pretende formar
um Eixo democrático com Angola, Sérvia e Irã, para extirpar a Coreia do
Norte do planeta e alguns outros paises menores, que só incomodam. Nega
que a fortuna existente em seu nome seja dele: “De Mussolini, talvez,
mas minha não.”
LULA – O caso mais interessante do Sanatório, Lula, o próprio, está
lá internado com o diagnóstico de múltipla personalidade. O que deixa a
comunidade científica perplexa é que uma personalidade não tem
conhecimento da existência das outras, cada uma age por conta própria
como se as demais não existem. Quando a personalidade de torcedor de
futebol assume, ele só pensa no Corinthians, xinga o juiz, mesmo que não
seja juiz de futebol, e oferece estranhas vantagens se, durante o jogo,
o juiz beneficiar o seu time. Quando assume o retirante nordestino, ele
afirma o seu orgulho em ser analfabeto, filho e neto de analfabetos.
Quando o Doutor Lula assume o comando, ordena medidas econômicas
destinadas a enriquecer seu filho e à sua família em geral, além dos
colegas de Academia. E, finalmente, a personalidade mais curiosa de
Lula, é quando ele afirma ser um cômico de televisão, especializado em
imitar Lula. Ele pensa estar num popular programa de humor, onde tudo ao
seu redor é cenário, inclusive Brasília e seus palácios. Sua imitação é
perfeita, nos mínimos detalhes e trejeitos. Seu bordão que, segundo
ele, arranca gargalhadas da platéia e de milhões de telespectadores é:
Nunca antes neste País…
O relatório da comunidade científica possui, ainda muitos outros
ítens, um inclusive de um sujeito que afirma ser o maior narrador
esportivo do Brasil, seja lá o esporte que for, e que seu melhor amigo é
qualquer um que possua programas de auditório na TV Globo.
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