#CADÊ MEU CHINELO?
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
[do além] CULPA DE NATAL
::txt::Dickens::
Dezembro não nos dá trégua. Ficamos nos despedindo como se não fôssemos nos encontrar em janeiro. É festa e troca de presentes todo dia. Acabei de chegar do amigo secreto do pessoal da editora. Dei um sabonete fino e uma loção para as mãos e ganhei um exemplar do livro Quem Mexeu no Meu Queijo, acompanhado da seguinte explicação: sei que você gosta de ler.
Nesta época do ano bate-me um sentimento de culpa insuportável. Vejo as pessoas gastarem o que têm e o que não têm e me sinto responsável por arruinar suas finanças. Pode ser até um delírio de grandeza (ou excesso de Prosseco) achar que a influência de algo que fiz em 1843 possa afetar ainda o comportamento das pessoas em pleno século XXI.
Mesmo que você não tenho pedido, eu preciso me retratar. Quando escrevi Um Conto de Natal (A Christmas Carol) não imaginei que essa pequena história se tornaria o maior dos clássico natalinos e um dos textos mais divulgados da literatura universal. Foi algo que fiz despretensiosamente para um folhetim. Despretensiosamente em termos, porque, no conto, embuti algumas críticas à moral inglesa protestante que não considerava a avareza um pecado em si e encorajava todos a poupar e acumular capital. E o que há de mau nisso? Ora, nesse época a Inglaterra se tornara a principal indústria do mundo à custa de sofrimento da população. E apenas um pequeno grupo usufruía do conforto gerado pela acumulação de capital. Não sei se vocês conseguem imaginar um absurdo desses.
Por isso, construí a trama de maneira a criar um contraste entre esses dois grupos. Lembra da história? O sovina Ebenezer Scrooge é um velho empresário, rabugento e solitário que só pensa em dinheiro e detesta o Natal. Seu funcionário, Bob Cratchit, é um rapaz pobre, torcedor do Atlético Paranaense, pai de quatro filhos, dos quis o caçula sofre paralisia. Mesmo com a vida não lhe sorrindo, Bob é feliz e gosta do Natal.
Na véspera do dia 24, o velho mão-fechada se depara com o fantasma de seu ex-sócio, Jacob Marley, parceiro de sovinice. Marley lhe diz estar penando por ter sido avarento em vida e avisa que o mesmo destino está reservado para Scrooge. Mas lhe dá uma esperança ao dizer que ele receberá a visita de três espíritos: o Espírito do Natal Passado, o Espírito do Natal Presente e o Espírito do Natal Futuro. Eles aparecem e fazem revelações. Ao amanhecer, Scrooge está irreconhecível. Passou a amar o Natal, tornou-se generoso com os necessitados, ajudou até o o empregado Bob Cratchit e seu filho com problema nas pernas.
E porque motivo, então, estou culpado? Por ter escrito algo que nos leva a exaltação sentimental e sobe o tom (já alto) da pieguice que assola os meios de comunicação no mês de dezembro? Nada disso, meu problema é que as pessoas foram levadas a acreditar que para combater a falta de generosidade, não basta só ser generoso. É preciso ser perdulário, comprar muito, presentear muito. Viraram o fio.
Só não reescrevo o raio desse conto porque não há mais empresários sovinas. Pelo que vejo nos anúncios, todas as empresas são socialmente responsáveis, pautam-se pelas práticas sustentáveis e acreditam num mundo melhor. Que lindo.
*Dickens é o crriador do personagem Scrooge que inspirou a Disney a criar o Tio Patinhas e a Steve Jobs a moldar seu estilo de vida.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS
blog O DILÚVIO by
O DILÚVIO is licensed under a
Creative Commons Atribuição-Compartilhamento pela mesma Licença 3.0 Brasil License.
Você pode:
- Compartilhar — copiar, distribuir e transmitir a obra.
- Remixar — criar obras derivadas.
Sob as seguintes condições:
-
Atribuição — Você deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).
-
Compartilhamento pela mesma licença — Se você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob licença similar ou compatível.
Ficando claro que:
- Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais.
- Domínio Público — Onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
- Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
- Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
- Os direitos morais do autor;
- Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
- Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página.
Nenhum comentário:
Postar um comentário