#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

[agência pirata] COVIL TROPICAL



::txt::Jana Lauxen::

O debate político, que deveria estar acontecendo nestas três semanas que separam o primeiro do segundo turno, virou uma guerra de travesseiros com direito a penas voando para todos os lados.

Propostas? Quase nenhuma.

Promessas? Aos montes.

Se ambos os candidatos fizessem um terço do que estão dizendo que farão, estaríamos salvos.

Mas ok.

Sabemos que é assim em tempo de eleição, e até já nos acostumamos.

Porém, nesta eleição em especial, presenciamos uma das mais explícitas e ordinárias troca de acusações e baixarias da história deste país, entre as duas pessoas que, dada a importância do cargo que pretendem ocupar, precisavam estar mais preocupadas em discutir soluções e criar alternativas, e menos em coletar pedrinhas para atirar contra o telhado de vidro alheio.

Serra e Dilma - e toda a corja que os acompanha - mais parecem duas garotinhas mimadas disputando a mesma boneca.

Os dez minutos diários a que cada aspirante a presidente tem direito, ao invés de tratarem sobre COMO cada um pretende resolver os problemas deste país (não seria este o objetivo? Sou ingênua?) viraram em travesseiradas e gritinhos.

Cada candidato se transformou numa metralhadora ambulante de apelações, e até deus já apareceu na história – e sem direito de réplica.

Num passe de mágicas, Serra e Dilma vestiram até mesmo a camisa verde da causa ambiental, e nunca pensaram tanto na preservação dos passarinhos amazônicos.
Cada qual apregoando que, se não for eleito, o Brasil estará perdido; como se não estivéssemos perdidos de qualquer maneira.

Agora, sabem o que é o pior?

Nem é constatar que, apesar do meu incorrigível otimismo, nossa política desce, DE FATO, frenética ladeira abaixo.

O pior é ver que os eleitores, que deveriam ser os primeiros a cutucar o ombro de Serra e Dilma e dizer: - Hã, oi? Quando terminarem o bate-boca, podemos começar a falar sério?, são os primeiros a ingressar no batalhão de choque e partir para o ataque, se agarrando com unhas e dentes em discussões que saem do nada e vão para lugar nenhum.

Neste exato momento eles estão discutindo amenidades, no maior estilo ‘sou ruim mas você é pior’, e nós, os maiores interessados, estamos numa platéia batendo palminhas e empunhando bandeirolas.

Não, isto não é um jogo de futebol.

Não somos torcidas rivais, meu povo.

Muito pelo contrário: jogamos todos no mesmo time.

Somos os juizes desta partida, e não o contrário.

Não há Serra versus Dilma. O que existe é Serra & Dilma versus nós.
E afirmo isto com convicção porque eles estarão numa boa de qualquer jeito.

Ganhem petistas, ganhem tucanos, eles continuarão morando em suas casas grandes e bebendo cicuta com azeitona ao entardecer, mamando na teta do governo enquanto eu, você e sua mãe continuaremos aqui, comendo o pão que Dilma e Serra amassaram.

Se PT e PSDB estão protagonizando este circo, acreditem, é porque existem espectadores.

Aliás.

Estas eleições nada mais são do que um perfeito e fidedigno retrato da sociedade onde vivemos: um monte de gente histérica gritando sem parar por causa de nada, enquanto o importante vai passando embaixo de nossas fuças sem que possamos sequer perceber, ocupados que estamos em fazer barulho.

Cada povo tem o governo que merece.

E este é mais um motivo para não votarmos em branco dia 31.

Seja nela, seja nele, quem será eleito para ser nosso representante pelos próximos quatro anos desempenhará com maestria a função para a qual foram eleitos: nos representar.

Afinal, desde já estão, os dois, representando nossa burrice e nossa vulgaridade com muita competência.

Nossos candidatos à presidência nunca serão pessoas sérias e compromissadas porque nós, eleitores e eleitoras deste país, também não somos.

Como poderíamos eleger alguém decente para nos representar, se somos, nós mesmos, tremendamente indecentes?

Parabéns Brasil.

E que vença o menos pior.

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