:: txt :: Carlos Emerson Jr ::
"Vamos ser realistas: o vinil não renasceu, há poucas pessoas ouvindo
esses discos. O vinil depende do petróleo para a sua produção, então
não há justificativa para que ele volte. Mas os Lps ainda soam
maravilhosamente bem. Os CDs têm um som aceitável, mas só se forem bem
produzidos. E o som dos MP3s também passa, não é nada de mais. Quando
comecei a minha carreira, nós ouvíamos música pelo rádio, e era sempre
ruim. Nossas primeiras vitrolas eram uma porcaria, e aí os discos
também não soavam bem. Mas era a música que importava – procurá-la,
encontrá-la, tomar posse dela. E a tecnologia fez com que isso ficasse
muito melhor hoje."
Com essas palavras, Pete Towsend, o eterno guitarrista do The Who, em
entrevista para o O Globo, resumiu a relação com a música
(principalmente o rock) e os meios físicos para ouvi-la, a partir dos
anos 60. Meu primeiro disco foi um compacto simples dos Beatles, que
toquei à exaustão numa vitrola semiportátil Emerson (nada a ver
comigo, por favor), verde e branca e um som de... vitrolinha mesmo.
Poucos amigos tinham em casa um aparelho de som de qualidade, os
famosos Hi-Fi (High Fidelity), como dizíamos à época. E mesmo assim,
ainda havia o problema do vinil, eternamente de baixa qualidade em
nossa terra brasilis. Até hoje lembro de minha surpresa quando fui
apresentado a um LP "Made in England", no Telefunken de um colega de
escola. Aquilo era inacreditável!
A evolução do rock, de uma certa maneira, acabou provocando uma
reação da indústria de áudio e, de repente os equipamentos de som era
tão importantes quanto a música. Aliás, acho que foi nessa época que
surgiram os chamados "audiófilos", pessoas fanáticas por som,
inclusive, acima da própria música.
Cheguei a ter em casa uma parafernália enorme com duas loudspeakers
gigantescas, pré e power amplifier, tuner FM, belt-drive turntable com
Shure cartdrige, tapedeck Dolby e, é claro, headphones. Tudo em
inglês, por favor. Mas nem tudo eram flores: A vizinhança vivia
reclamando da altura do som e os preços dos equipamentos, importados
nem Deus sabe como, eram estratosféricos.
Bons tempos, mas sinceramente não sei se tenho saudades. A tecnologia
avançou de tal modo, que hoje nem me dou mais ao trabalho de baixar ou
comprar um arquivo de música digital. Simplesmente assino serviços de
música streaming, ou seja, por um valor mensal bem baixo, tenho acesso
pelo computador, tablet ou smartphone a mais de vinte milhões de
canções de todos os gêneros possíveis.
E tem mais, posso montar coleções e playlists e ouvi-las offline pelo
iPhone, principalmente quando estou correndo. O mais bacana é que
consegui, finalmente, recuperar discos que mal tinha ouvido nos anos
60, verdadeiras raridades que sumiram completamente do catálogo das
gravadoras. Resumindo, voltei a ouvir música como fazia nos anos 60,
mas com alguma educação musical e um acervo gigantesco à disposição.
Tenho pesquisado muito as primeiras gravações de bossa nova de
artistas brasileiros e estrangeiros, um gênero que abominava na época!
Descobri algumas pérolas de Odete Lara, Maysa, João Donato, Baden
Powell. Voltei a curtir Chopin, Debussy, Mozart. E, é claro, foi com
enorme alegria que separei toda a discografia de grupos progressivos
alternativos para
ouvir com todo o cuidado.
O streaming é isso, um tipo de rádio com muita música. Será a mídia
"física" do futuro? Ou já é a do presente? De qualquer maneira, o que
importa mesmo é que músicos como os do The Who, Pink Floyd, Beatles,
Stones, a turma do Jazz e Blues e tantos outros continuarão nos
emocionando com seus belíssimos trabalhos, mesmo que para ouvi-los
precisemos de uma velha vitrolinha.
O que importa é a arte. Sempre.
#CADÊ MEU CHINELO?
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