:: psy :: Júlio Freitas ::
acabou o martíni
mas ainda temos
aquele vinho barato.
acabou o fetuccini
mas ainda temos
mortadela naquele prato.
acabou o filme
mas ainda temos
aquele álbum de retratos.
acabou o almoço
acabou a salada,
mas
ainda temos o caroço
ainda temos goiabada.
Como sobra tanto troço
Quando não temos quase nada!
#CADÊ MEU CHINELO?
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
[agência pirata] BURGUESIA É A SOCIEDADE
:: txt :: Alberto Dines ::
Não foi a “imprensa burguesa” a responsável pela prisão de 11 réus condenados pelo escândalo do mensalão no último fim de semana. Mesmo como desabafo indignado ou recurso retórico a denúncia é equivocada. Repetida pelos encarcerados que faziam parte da direção do PT na época em que o caso veio à tona, revela surpreendente inabilidade e falta de inspiração. A explicação de Henrique Pizzolatto, ex-dirigente do Banco do Brasil que escapou para a Itália, é mais lógica e pertinente – alegou ser vítima de um erro judiciário, queria um julgamento justo. Mandou-se.
A “imprensa burguesa” é culpada de inúmeros pecados, aberrações e desatinos, mas o fato de ser burguesa não é sua culpa: burguesa é a sociedade que
a criou e sustenta. O país que lhe fornece valores e mentalidades é espiritualmente burguês. Mais do que isso: pequeno-burguês. Inclusive algumas de suas vanguardas.
O exemplo mais recente e dramático dessa insopitável vocação para o reacionarismo foi a tentativa de um grupo de astros da música popular de embargar a publicação de biografias não-autorizadas. O caso é antológico, paradigma da amnésia burguesa que esquece compromissos do passado em troca do sossego futuro.
Esse burguesismo incrustado nos recônditos do nosso inconsciente resulta das contradições de uma elite incapaz de perceber o seu papel. A submissão ao “rei” Roberto Carlos – ícone de uma pequena burguesia clerical e medíocre – é uma brutal exibição das confrarias e lealdades desprovidas de ideais, assentadas apenas em interesses.
Auto de fé
O próprio objetivo do mensalão – garantir um esquema de sustentação parlamentar na base de compra regular de votos – foi um desvio burguês, reacionário. O certo seria buscar apoios a um projeto de governo, reformista ou revolucionário, cujo sucesso seria a legítima moeda de troca. Pagar em espécie por alianças políticas é um aviltamento do qual só participa quem não acredita no contrato social nem nos deveres democráticos.
Ignorar a exemplaridade do caso do mensalão – pela esfera onde ocorreu, por suas dimensões e dinâmica – para concluí-lo levianamente seria uma opção permissiva, frívola, burguesa. Esta condição dolorosa, trágica, não pode ser abortada, descartada ou contornada. A catarse seria uma solução: se produzir gestos de grandeza, reforçar consciências e criar a noção de reparação.
O que confere à nossa imprensa um ar terrivelmente burguês, falacioso, algo cínico, é a sua irresistível compulsão para comportar-se como um auto de fé. Ou patíbulo. Deveria ser a arena – ou foro – de onde se descortinam, em toda a extensão, a generosidade e miséria da condição humana.
Não foi a “imprensa burguesa” a responsável pela prisão de 11 réus condenados pelo escândalo do mensalão no último fim de semana. Mesmo como desabafo indignado ou recurso retórico a denúncia é equivocada. Repetida pelos encarcerados que faziam parte da direção do PT na época em que o caso veio à tona, revela surpreendente inabilidade e falta de inspiração. A explicação de Henrique Pizzolatto, ex-dirigente do Banco do Brasil que escapou para a Itália, é mais lógica e pertinente – alegou ser vítima de um erro judiciário, queria um julgamento justo. Mandou-se.
A “imprensa burguesa” é culpada de inúmeros pecados, aberrações e desatinos, mas o fato de ser burguesa não é sua culpa: burguesa é a sociedade que
a criou e sustenta. O país que lhe fornece valores e mentalidades é espiritualmente burguês. Mais do que isso: pequeno-burguês. Inclusive algumas de suas vanguardas.
O exemplo mais recente e dramático dessa insopitável vocação para o reacionarismo foi a tentativa de um grupo de astros da música popular de embargar a publicação de biografias não-autorizadas. O caso é antológico, paradigma da amnésia burguesa que esquece compromissos do passado em troca do sossego futuro.
Esse burguesismo incrustado nos recônditos do nosso inconsciente resulta das contradições de uma elite incapaz de perceber o seu papel. A submissão ao “rei” Roberto Carlos – ícone de uma pequena burguesia clerical e medíocre – é uma brutal exibição das confrarias e lealdades desprovidas de ideais, assentadas apenas em interesses.
Auto de fé
O próprio objetivo do mensalão – garantir um esquema de sustentação parlamentar na base de compra regular de votos – foi um desvio burguês, reacionário. O certo seria buscar apoios a um projeto de governo, reformista ou revolucionário, cujo sucesso seria a legítima moeda de troca. Pagar em espécie por alianças políticas é um aviltamento do qual só participa quem não acredita no contrato social nem nos deveres democráticos.
Ignorar a exemplaridade do caso do mensalão – pela esfera onde ocorreu, por suas dimensões e dinâmica – para concluí-lo levianamente seria uma opção permissiva, frívola, burguesa. Esta condição dolorosa, trágica, não pode ser abortada, descartada ou contornada. A catarse seria uma solução: se produzir gestos de grandeza, reforçar consciências e criar a noção de reparação.
O que confere à nossa imprensa um ar terrivelmente burguês, falacioso, algo cínico, é a sua irresistível compulsão para comportar-se como um auto de fé. Ou patíbulo. Deveria ser a arena – ou foro – de onde se descortinam, em toda a extensão, a generosidade e miséria da condição humana.
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
[pontodevista] O ÓBVIO. E, AINDA ASSIM, DISCUTÍVEL OU TAMOS FUDIDOS!
:: txt :: Wladymir Ungaretti ::
O óbvio. E, ainda assim, discutível. Em tempos de Internet e redes sociais, os showrnalistas, nas redações, vivem grudados nas informações das redes. Os estudantes de comunicologia, nas faculdades dos diplomas do nada, em sala de aula, permanentemente, são atualizados por milhares de informações confiáveis ou não, assim como NÃO são confiáveis as informações dos “jornalões” da mídia corporativa. Estou dizendo isso como jornalista e professor de jornalismo da UFRGS. E espero não ser patrulhado, pois que respeito, rigorosamente, as opiniões diversas. Aprendi, na cadeia, este respeito pela diversidade de opiniões!
O óbvio. E, ainda assim, discutível. Em tempos de Internet e redes sociais, os showrnalistas, nas redações, vivem grudados nas informações das redes. Os estudantes de comunicologia, nas faculdades dos diplomas do nada, em sala de aula, permanentemente, são atualizados por milhares de informações confiáveis ou não, assim como NÃO são confiáveis as informações dos “jornalões” da mídia corporativa. Estou dizendo isso como jornalista e professor de jornalismo da UFRGS. E espero não ser patrulhado, pois que respeito, rigorosamente, as opiniões diversas. Aprendi, na cadeia, este respeito pela diversidade de opiniões!
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
[bolo'bolo] IBU
De fato, só existe mesmo o ibu, e mais nada. Mas o ibu é
irresponsável, paradoxal, perverso. Só existe um único ibu e ele se
comporta como se fossem quatro bilhões ou mais. O ibu também sabe que
inventou sozinho o mundo e a realidade, mas acredita firmemente que
essas alucinações são reais. Poderia Ter sonhado uma realidade
agradável, sem problemas, mas insistiu em imaginar um mundo miserável,
embrutecido e contraditório.*
Sonhou uma realidade na qual é constantemente atormentado por
conflitos, catástrofes, crises. Fica dividido entre o êxtase e o
tédio, o entusiasmo e a decepção, a serenidade e a euforia. Tem um
corpo que requer 2.000 calorias por dia, que fica cansado, resfriado,
doente; e expele esse corpo a cada setenta anos, mais ou menos – um
monte de complicações desnecessárias.
O mundo externo do ibu também é um pesadelo contínuo. Perigos
enervantes o mantêm entre o heroísmo e o medo. No entanto, ele poderia
encerrar esse drama horroroso suicidando-se e desaparecendo para
sempre. Já que só existem um único ibu e o universo que ele criou para
si mesmo, não tem que se preocupar com dependentes que sobrevivem,
amigos chorosos, contas a pagar, etc. Sua morte seria completamente
sem conseqüências. Natureza, humanidade, história, espaço, lógica,
tudo desaparece com ele. A barra pesada do ibu é completamente
voluntária, e no entanto ele diz que não passa de uma peça do jogo.
Para que mentir tanto assim?
Aparentemente, o ibu está apaixonado por seu tortuoso pesadelo
masoquista. Ele até protegeu cientificamente esse pesadelo contra o
nada: define o sonho como irreal, assim o pesadelo se torna o sonho da
irrealidade de sonhar.
O ibu se trancou na armadilha da realidade.
Leis naturais, lógica, matemática, fatos científicos e
responsabilidades sociais formam as paredes dessa armadilha. Enquanto
o ibu insiste em sonhar sua própria impotência, o poder vem de
instâncias superiores às quais ele deve obedecer: Deus, Vida, Estado,
Moral, Progresso, Bem-Estar, Futuro, Produtividade. Com base nessas
pretensões ele inventa o sentido da vida, que, é claro, nunca pode
alcançar. Sente-se constantemente culpado, e se mantém numa tensão
infeliz na qual esquece de si mesmo e de seu poder sobre o mundo.
Para se impedir de reconhecer a si mesmo e descobrir o caráter
onírico da sua realidade, o ibu inventou "outros". Imagina que esses
seres artificiais são iguais a ele. Como num teatro do absurdo, mantém
relações com eles, amando ou odiando, até pedindo conselhos ou
explanações filosóficas. Assim escapam de sua própria consciência,
delegando-a aos outros para se ver livre dela. Ele concretiza os
outros ibus organizando-os em instituições: casais, famílias, clubes,
tribos, nações, humanidade. Inventa a sociedade para si mesmo, e a
sujeita às suas regras. O pesadelo é perfeito.
O ibu só vê a si mesmo se houver brechas acidentais em seu mundo de
sonho. Mas em vez de terminar essa perversa existência ele tem pena de
si, morre permanecendo vivo. Esse suicídio reprimido é deslocado para
fora, para a realidade, e volta para o ibu na forma de apocalipse
coletivo (holocausto nuclear, catástrofe ecológica). Fraco demais para
se matar, o ibu quer que a realidade faça isso por ele.
O ibu gosta de ser torturado, então imagina utopias maravilhosas,
paraísos, mundos harmônicos que, evidentemente, nunca podem ser
alcançados. Só servem para fixar o pesadelo, dando ao ibu esperanças
natimortas e instigando-o a todos os tipos de iniciativas políticas e
econômicas, agitações, revoluções e sacrifícios. O ibu sempre morde a
isca dos desejos e ilusões. Não compreende a razão. Esquece que todos
os mundos, todas as realidades, todos os sonhos e sua própria
existência são infinitamente chatos e cansativos, e que a única
solução consiste em retirar-se imediatamente para o confortável nada.
*<i>O caráter onírico do meu universo (quem conhece outro?) não é
somente uma piada filosófica, mas uma das conclusões da moderna física
quântica. Não há nenhum mundo aí fora para nos dar uma orientação
"real": a realidade é apenas um padrão retórico.
Michael Talbot (Mysticism and the New Physics, Routledge & Kegan
Paul, 1981, p. 135) coloca a coisa assim: "No paradigma da nova física
nós sonhamos o mundo. Sonhamos como ele sendo duradouro, misterioso,
visível, onipresente no espaço e estável no tempo, mas permitimos
tênues e eternos intervalos completamente sem lógica em sua
arquitetura para sabermos que ele é falso." Depois de Heisenberg,
Schrodinger, Bell, etc., ninguém pode clamar a realidade para si em
nome da ciência. Físicos como Fritjof Capra (O Tao da Física,
Berkeley, 1975) abandonaram o otimismo de Bacon e Descartes e se
voltaram para o misticismo oriental. "Realidade" é uma fórmula de
bruxaria, assim como "Santíssima Trindade". Os realistas são os
últimos adeptos de uma velha religião, charmosa mais ingênua.</i>
irresponsável, paradoxal, perverso. Só existe um único ibu e ele se
comporta como se fossem quatro bilhões ou mais. O ibu também sabe que
inventou sozinho o mundo e a realidade, mas acredita firmemente que
essas alucinações são reais. Poderia Ter sonhado uma realidade
agradável, sem problemas, mas insistiu em imaginar um mundo miserável,
embrutecido e contraditório.*
Sonhou uma realidade na qual é constantemente atormentado por
conflitos, catástrofes, crises. Fica dividido entre o êxtase e o
tédio, o entusiasmo e a decepção, a serenidade e a euforia. Tem um
corpo que requer 2.000 calorias por dia, que fica cansado, resfriado,
doente; e expele esse corpo a cada setenta anos, mais ou menos – um
monte de complicações desnecessárias.
O mundo externo do ibu também é um pesadelo contínuo. Perigos
enervantes o mantêm entre o heroísmo e o medo. No entanto, ele poderia
encerrar esse drama horroroso suicidando-se e desaparecendo para
sempre. Já que só existem um único ibu e o universo que ele criou para
si mesmo, não tem que se preocupar com dependentes que sobrevivem,
amigos chorosos, contas a pagar, etc. Sua morte seria completamente
sem conseqüências. Natureza, humanidade, história, espaço, lógica,
tudo desaparece com ele. A barra pesada do ibu é completamente
voluntária, e no entanto ele diz que não passa de uma peça do jogo.
Para que mentir tanto assim?
Aparentemente, o ibu está apaixonado por seu tortuoso pesadelo
masoquista. Ele até protegeu cientificamente esse pesadelo contra o
nada: define o sonho como irreal, assim o pesadelo se torna o sonho da
irrealidade de sonhar.
O ibu se trancou na armadilha da realidade.
Leis naturais, lógica, matemática, fatos científicos e
responsabilidades sociais formam as paredes dessa armadilha. Enquanto
o ibu insiste em sonhar sua própria impotência, o poder vem de
instâncias superiores às quais ele deve obedecer: Deus, Vida, Estado,
Moral, Progresso, Bem-Estar, Futuro, Produtividade. Com base nessas
pretensões ele inventa o sentido da vida, que, é claro, nunca pode
alcançar. Sente-se constantemente culpado, e se mantém numa tensão
infeliz na qual esquece de si mesmo e de seu poder sobre o mundo.
Para se impedir de reconhecer a si mesmo e descobrir o caráter
onírico da sua realidade, o ibu inventou "outros". Imagina que esses
seres artificiais são iguais a ele. Como num teatro do absurdo, mantém
relações com eles, amando ou odiando, até pedindo conselhos ou
explanações filosóficas. Assim escapam de sua própria consciência,
delegando-a aos outros para se ver livre dela. Ele concretiza os
outros ibus organizando-os em instituições: casais, famílias, clubes,
tribos, nações, humanidade. Inventa a sociedade para si mesmo, e a
sujeita às suas regras. O pesadelo é perfeito.
O ibu só vê a si mesmo se houver brechas acidentais em seu mundo de
sonho. Mas em vez de terminar essa perversa existência ele tem pena de
si, morre permanecendo vivo. Esse suicídio reprimido é deslocado para
fora, para a realidade, e volta para o ibu na forma de apocalipse
coletivo (holocausto nuclear, catástrofe ecológica). Fraco demais para
se matar, o ibu quer que a realidade faça isso por ele.
O ibu gosta de ser torturado, então imagina utopias maravilhosas,
paraísos, mundos harmônicos que, evidentemente, nunca podem ser
alcançados. Só servem para fixar o pesadelo, dando ao ibu esperanças
natimortas e instigando-o a todos os tipos de iniciativas políticas e
econômicas, agitações, revoluções e sacrifícios. O ibu sempre morde a
isca dos desejos e ilusões. Não compreende a razão. Esquece que todos
os mundos, todas as realidades, todos os sonhos e sua própria
existência são infinitamente chatos e cansativos, e que a única
solução consiste em retirar-se imediatamente para o confortável nada.
*<i>O caráter onírico do meu universo (quem conhece outro?) não é
somente uma piada filosófica, mas uma das conclusões da moderna física
quântica. Não há nenhum mundo aí fora para nos dar uma orientação
"real": a realidade é apenas um padrão retórico.
Michael Talbot (Mysticism and the New Physics, Routledge & Kegan
Paul, 1981, p. 135) coloca a coisa assim: "No paradigma da nova física
nós sonhamos o mundo. Sonhamos como ele sendo duradouro, misterioso,
visível, onipresente no espaço e estável no tempo, mas permitimos
tênues e eternos intervalos completamente sem lógica em sua
arquitetura para sabermos que ele é falso." Depois de Heisenberg,
Schrodinger, Bell, etc., ninguém pode clamar a realidade para si em
nome da ciência. Físicos como Fritjof Capra (O Tao da Física,
Berkeley, 1975) abandonaram o otimismo de Bacon e Descartes e se
voltaram para o misticismo oriental. "Realidade" é uma fórmula de
bruxaria, assim como "Santíssima Trindade". Os realistas são os
últimos adeptos de uma velha religião, charmosa mais ingênua.</i>
terça-feira, 12 de novembro de 2013
[...] A FELICIDADE NÃO TEM ENDEREÇO
:: txt :: Franck Santos ::
Recebi a visita de uma tia que mora no Sudeste. Fomos a uma vila de pescadores comprar artesanatos, frutos do mar e olhar os barcos. No fim de tarde, choveu e uma neblina atípica para a cidade e um lindo arco-íris nos saudou na volta para casa. Paramos na auto-estrada, numa chácara, para apreciarmos o espetáculo da natureza e tomarmos chocolate quente, saborear bolos típicos e nossas presenças. Falamos do jantar que faríamos com os peixes e os camarões, frescos, recém-comprados, do vinho que nos esperava, do calor e do colorido que nos encantou das mantas, redes e roupas embrulhadas para presentes.
Recebi um telefonema de um amigo, no domingo, quase noite. Estava no aeroporto, minha tia ia partir, talvez retorne no próximo ano e teremos o mesmo ritual de passeios, compras e jantares. Como se com isso tivéssemos um acordo, um pacto silencioso. Mas o meu amigo convidava-me para irmos ao circo, convite incomum desse que curte baladas e outros leros. O ir ao circo me remeteu a infância, no interior, quando ia ao circo ou cinema com meu pai; quando voltávamos de mãos dados, calados, nas ruas quase desertas daquela cidade pequenina, daquelas noites, tudo pra mim tão mágico e encantador.
Recebi um convite para viajar. Uma semana viajando com amigos, de carro, até uma praia quase deserta no litoral do Piauí, Delta do Parnaíba. Quero essa aventura de sol, sal, brisa, areia; quero uma semana regada com papos e companhia e aconchego de amigos de décadas. Assim, sem lenço e sem documentos, mas a sensação da busca da felicidade...
Essa mesma felicidade que recebi de três formas distintas nesta semana, sem receitas, sem menu. Ela, a felicidade, chegou com uma pessoa querida, com um circo e suas lembranças, com uma viagem de amigos. Recebi a felicidade e ela não tem endereço, reside na casa das possibilidades, essa semana ela aportou por aqui.
Recebi a visita de uma tia que mora no Sudeste. Fomos a uma vila de pescadores comprar artesanatos, frutos do mar e olhar os barcos. No fim de tarde, choveu e uma neblina atípica para a cidade e um lindo arco-íris nos saudou na volta para casa. Paramos na auto-estrada, numa chácara, para apreciarmos o espetáculo da natureza e tomarmos chocolate quente, saborear bolos típicos e nossas presenças. Falamos do jantar que faríamos com os peixes e os camarões, frescos, recém-comprados, do vinho que nos esperava, do calor e do colorido que nos encantou das mantas, redes e roupas embrulhadas para presentes.
Recebi um telefonema de um amigo, no domingo, quase noite. Estava no aeroporto, minha tia ia partir, talvez retorne no próximo ano e teremos o mesmo ritual de passeios, compras e jantares. Como se com isso tivéssemos um acordo, um pacto silencioso. Mas o meu amigo convidava-me para irmos ao circo, convite incomum desse que curte baladas e outros leros. O ir ao circo me remeteu a infância, no interior, quando ia ao circo ou cinema com meu pai; quando voltávamos de mãos dados, calados, nas ruas quase desertas daquela cidade pequenina, daquelas noites, tudo pra mim tão mágico e encantador.
Recebi um convite para viajar. Uma semana viajando com amigos, de carro, até uma praia quase deserta no litoral do Piauí, Delta do Parnaíba. Quero essa aventura de sol, sal, brisa, areia; quero uma semana regada com papos e companhia e aconchego de amigos de décadas. Assim, sem lenço e sem documentos, mas a sensação da busca da felicidade...
Essa mesma felicidade que recebi de três formas distintas nesta semana, sem receitas, sem menu. Ela, a felicidade, chegou com uma pessoa querida, com um circo e suas lembranças, com uma viagem de amigos. Recebi a felicidade e ela não tem endereço, reside na casa das possibilidades, essa semana ela aportou por aqui.
sábado, 9 de novembro de 2013
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
[overmundo] SOM NA VITROLA
:: txt :: Carlos Emerson Jr ::
"Vamos ser realistas: o vinil não renasceu, há poucas pessoas ouvindo
esses discos. O vinil depende do petróleo para a sua produção, então
não há justificativa para que ele volte. Mas os Lps ainda soam
maravilhosamente bem. Os CDs têm um som aceitável, mas só se forem bem
produzidos. E o som dos MP3s também passa, não é nada de mais. Quando
comecei a minha carreira, nós ouvíamos música pelo rádio, e era sempre
ruim. Nossas primeiras vitrolas eram uma porcaria, e aí os discos
também não soavam bem. Mas era a música que importava – procurá-la,
encontrá-la, tomar posse dela. E a tecnologia fez com que isso ficasse
muito melhor hoje."
Com essas palavras, Pete Towsend, o eterno guitarrista do The Who, em
entrevista para o O Globo, resumiu a relação com a música
(principalmente o rock) e os meios físicos para ouvi-la, a partir dos
anos 60. Meu primeiro disco foi um compacto simples dos Beatles, que
toquei à exaustão numa vitrola semiportátil Emerson (nada a ver
comigo, por favor), verde e branca e um som de... vitrolinha mesmo.
Poucos amigos tinham em casa um aparelho de som de qualidade, os
famosos Hi-Fi (High Fidelity), como dizíamos à época. E mesmo assim,
ainda havia o problema do vinil, eternamente de baixa qualidade em
nossa terra brasilis. Até hoje lembro de minha surpresa quando fui
apresentado a um LP "Made in England", no Telefunken de um colega de
escola. Aquilo era inacreditável!
A evolução do rock, de uma certa maneira, acabou provocando uma
reação da indústria de áudio e, de repente os equipamentos de som era
tão importantes quanto a música. Aliás, acho que foi nessa época que
surgiram os chamados "audiófilos", pessoas fanáticas por som,
inclusive, acima da própria música.
Cheguei a ter em casa uma parafernália enorme com duas loudspeakers
gigantescas, pré e power amplifier, tuner FM, belt-drive turntable com
Shure cartdrige, tapedeck Dolby e, é claro, headphones. Tudo em
inglês, por favor. Mas nem tudo eram flores: A vizinhança vivia
reclamando da altura do som e os preços dos equipamentos, importados
nem Deus sabe como, eram estratosféricos.
Bons tempos, mas sinceramente não sei se tenho saudades. A tecnologia
avançou de tal modo, que hoje nem me dou mais ao trabalho de baixar ou
comprar um arquivo de música digital. Simplesmente assino serviços de
música streaming, ou seja, por um valor mensal bem baixo, tenho acesso
pelo computador, tablet ou smartphone a mais de vinte milhões de
canções de todos os gêneros possíveis.
E tem mais, posso montar coleções e playlists e ouvi-las offline pelo
iPhone, principalmente quando estou correndo. O mais bacana é que
consegui, finalmente, recuperar discos que mal tinha ouvido nos anos
60, verdadeiras raridades que sumiram completamente do catálogo das
gravadoras. Resumindo, voltei a ouvir música como fazia nos anos 60,
mas com alguma educação musical e um acervo gigantesco à disposição.
Tenho pesquisado muito as primeiras gravações de bossa nova de
artistas brasileiros e estrangeiros, um gênero que abominava na época!
Descobri algumas pérolas de Odete Lara, Maysa, João Donato, Baden
Powell. Voltei a curtir Chopin, Debussy, Mozart. E, é claro, foi com
enorme alegria que separei toda a discografia de grupos progressivos
alternativos para
ouvir com todo o cuidado.
O streaming é isso, um tipo de rádio com muita música. Será a mídia
"física" do futuro? Ou já é a do presente? De qualquer maneira, o que
importa mesmo é que músicos como os do The Who, Pink Floyd, Beatles,
Stones, a turma do Jazz e Blues e tantos outros continuarão nos
emocionando com seus belíssimos trabalhos, mesmo que para ouvi-los
precisemos de uma velha vitrolinha.
O que importa é a arte. Sempre.
"Vamos ser realistas: o vinil não renasceu, há poucas pessoas ouvindo
esses discos. O vinil depende do petróleo para a sua produção, então
não há justificativa para que ele volte. Mas os Lps ainda soam
maravilhosamente bem. Os CDs têm um som aceitável, mas só se forem bem
produzidos. E o som dos MP3s também passa, não é nada de mais. Quando
comecei a minha carreira, nós ouvíamos música pelo rádio, e era sempre
ruim. Nossas primeiras vitrolas eram uma porcaria, e aí os discos
também não soavam bem. Mas era a música que importava – procurá-la,
encontrá-la, tomar posse dela. E a tecnologia fez com que isso ficasse
muito melhor hoje."
Com essas palavras, Pete Towsend, o eterno guitarrista do The Who, em
entrevista para o O Globo, resumiu a relação com a música
(principalmente o rock) e os meios físicos para ouvi-la, a partir dos
anos 60. Meu primeiro disco foi um compacto simples dos Beatles, que
toquei à exaustão numa vitrola semiportátil Emerson (nada a ver
comigo, por favor), verde e branca e um som de... vitrolinha mesmo.
Poucos amigos tinham em casa um aparelho de som de qualidade, os
famosos Hi-Fi (High Fidelity), como dizíamos à época. E mesmo assim,
ainda havia o problema do vinil, eternamente de baixa qualidade em
nossa terra brasilis. Até hoje lembro de minha surpresa quando fui
apresentado a um LP "Made in England", no Telefunken de um colega de
escola. Aquilo era inacreditável!
A evolução do rock, de uma certa maneira, acabou provocando uma
reação da indústria de áudio e, de repente os equipamentos de som era
tão importantes quanto a música. Aliás, acho que foi nessa época que
surgiram os chamados "audiófilos", pessoas fanáticas por som,
inclusive, acima da própria música.
Cheguei a ter em casa uma parafernália enorme com duas loudspeakers
gigantescas, pré e power amplifier, tuner FM, belt-drive turntable com
Shure cartdrige, tapedeck Dolby e, é claro, headphones. Tudo em
inglês, por favor. Mas nem tudo eram flores: A vizinhança vivia
reclamando da altura do som e os preços dos equipamentos, importados
nem Deus sabe como, eram estratosféricos.
Bons tempos, mas sinceramente não sei se tenho saudades. A tecnologia
avançou de tal modo, que hoje nem me dou mais ao trabalho de baixar ou
comprar um arquivo de música digital. Simplesmente assino serviços de
música streaming, ou seja, por um valor mensal bem baixo, tenho acesso
pelo computador, tablet ou smartphone a mais de vinte milhões de
canções de todos os gêneros possíveis.
E tem mais, posso montar coleções e playlists e ouvi-las offline pelo
iPhone, principalmente quando estou correndo. O mais bacana é que
consegui, finalmente, recuperar discos que mal tinha ouvido nos anos
60, verdadeiras raridades que sumiram completamente do catálogo das
gravadoras. Resumindo, voltei a ouvir música como fazia nos anos 60,
mas com alguma educação musical e um acervo gigantesco à disposição.
Tenho pesquisado muito as primeiras gravações de bossa nova de
artistas brasileiros e estrangeiros, um gênero que abominava na época!
Descobri algumas pérolas de Odete Lara, Maysa, João Donato, Baden
Powell. Voltei a curtir Chopin, Debussy, Mozart. E, é claro, foi com
enorme alegria que separei toda a discografia de grupos progressivos
alternativos para
ouvir com todo o cuidado.
O streaming é isso, um tipo de rádio com muita música. Será a mídia
"física" do futuro? Ou já é a do presente? De qualquer maneira, o que
importa mesmo é que músicos como os do The Who, Pink Floyd, Beatles,
Stones, a turma do Jazz e Blues e tantos outros continuarão nos
emocionando com seus belíssimos trabalhos, mesmo que para ouvi-los
precisemos de uma velha vitrolinha.
O que importa é a arte. Sempre.
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