::psy::Júlio Freitas::
Ele acordou com um aperto na goela
com os latidos da cadela
e tratou de se levantar
Lavou a cara e limpou suas remelas
com seu corpo magricela
um emprego foi procurar
Adão Banguela
como era conhecido
entre rodas de amigos
não era muito de falar
Mas sem cautela
ele mandava, aborrecido,
em função do apelido
todos pra aquele lugar
Entra na fila e o povaréu se acotovela
todo mundo se atropela
pra família sustentar
Leva porrada e tanto chute na canela
sua vista desnivela
e fica a cambalear
Adão Banguela
vai andando indignado
acha o bar de seu agrado
e tenta se recuperar
Por bagatela
ele consegue um destilado
e fica logo baleado
bebendo até fechar
Pega a garrafa e se dirige pra ruela
entra na casa amarela
com a fome a lhe chamar
E na cozinha ele derruba uma panela
engole pão com mortadela
tentando não se engasgar
Adão Banguela
solitário e acabado
desvalido e mal-amado
então resolve se deitar
Apaga a vela
e num vislumbre embaciado
vê com os olhos marejados
mais um dia a terminar.