#CADÊ MEU CHINELO?
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
TEATRO MÁGICO
A Trupe Desencantada
txt e pht: Rodrigo Colla
A trupe Teatro Mágico sobe ao palco do Opinião por volta das 00h. O encarregado de apresentar a banda começa mal: “Saudações tricolores. Do tricolor paulista, é claro. E cadê a torcida do Internacional? E a do Grêmio?”. Apelações típicas das piores bandas de bailão.
O som começa e não foge do bailão. É um grande agregado de gêneros musicais estandardizados que deram certo com arranjos pobres. É puro molde, puro padrão. É uma banda pop fantasiada com algumas letrinhas que dizem alguma coisa mesmo que às vezes de forma muito pueril e superficial. A idéia de fazer da arte e paralelamente de todo grande círculo interativo que são as relações “uma coisa só” é prudente, mas abordada de forma artificial e leviana. A idéia de “uma coisa só” no sentido de associar gêneros artísticos é igualmente interessante, mas quando feita com muito mais qualidade, do contrário é melhor se deter a “uma coisa só”. Mesmo o que a banda de Osasco – SP tenta fazer de mais autêntico ainda é tênue demais e a qualquer momento parece poder se decompor como uma maquiagem que borra com o choro do palhaço. Isso no que se trata de musicalidade, pois algumas interpretações, os malabares – ainda que esporadissíssimos - e acrobacias salvam um pouco a apresentação. Dão a ela a vida que lhe falta.
O Teatro Mágico não é nem mágico nem encantado, me pareceu, sim, deveras dissimulado e frágil. Apela ainda para algumas influências suas obviamente muito mais autênticas e inspiradas, como por exempo: Los Hermanos e Cordel do Fogo Encantado. Atira para todos os lados na tentativa de atingir algum alvo. E consegue. Axé, pop, reggae, rock e algumas menções que lembram literatura de cordel ainda que muito menos originais, são a hibridação pobre que, de certa forma, continua cativando o público e dando certo.
Se considerarmos a apresentação um desfilezinho de carnaval aí vão as notas para os seguintes quesitos:
Carisma: 6,5
Figurino: 5,5
Maquiagem: 4,5
Musicalidade: 3,0
Interpretações: 5,0
Poesia: 4,0
Números Circences: 7,5
Originalidade Musical: 2,0
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
TRISTES RETRATOS DO JORNALISMO
Por Ronaldo Martins Botelho, do Observatório da Imprensa
Imaginemos a que ambiente político estaríamos submetidos se, no lugar de se exercer o debate salutar, entrasse na moda entre os colegas jornalistas processar-se entre si por críticas manifestadas sobre práticas suspeitas, ou eticamente condenáveis, no trabalho alheio. Provavelmente, em um estado de censura explícita. Além de uma meio defesa, a justiça tem sido um instrumento para se impor uma "censura legal", até entre membros de uma mesma categoria.
Mas há outras formas mais sutis de controle do que pode ser dito e mostrado, conforme conveniência: a própria imprensa, por exemplo. Daí a preciosidade democrática dos observatórios e blogueiros que militam diariamente nesse monitoramento de práticas de mascaramento da realidade pela mídia. Ironicamente, o professor gaúcho Wladymir Ungaretti, do qual tenho o orgulho de ter sido aluno nos anos 1990, está sendo processado nesse momento pelo exercício voluntário nesse tipo de atividade e, o mais irônico, por um colega (?) da área de jornalismo (?).
O fotógrafo Ronaldo Bernardi, do jornal Zero Hora, está movendo processo contra Ungaretti por este ter sugerido a possibilidade de uma foto produzida por Bernardi em um fato policial ser uma montagem ("cascata") e por o autor da mesma ser identificado como Fotonaldo em uma de suas análises de imagens, veiculada sobre a edição de 04/11/2008 no Zero Hora, conforme o texto "Não se trata de uma provocação", publicado no blog de Ungaretti.
Leitor e observador voraz
O curioso é que em sua ação o fotógrafo não responde, nem problematiza, o centro da crítica de Ungaretti, que questiona eticamente os procedimentos profissionais em uma suposta montagem na cobertura de um fato policial.
No lugar disso, conforme Ungaretti, o referido fotógrafo apenas se restringe a reclamar, via justiça, codinomes a ele associados. Porém, pelo menos com relação à expressão Fotonaldo, nem isso parece se justificar, já que na ocasião – como pode ser notado no texto contido no link acima – Ungaretti deixa claro se tratar de um apelido difundido por outros colegas a respeito desse profissional e, portanto, não foi invenção sua. Não conheço Ronaldo Bernardi, porém em uma rápida rastreada noto que não é a primeira vez que sua conduta profissional é questionada por blogueiros, como se percebe no texto "Ao lado dos agressores", também veiculado em um blog.
Mas Ungaretti, eu conheço. Há alguns anos o professor Wladymir Ungaretti – ou apenas jornalista, como gosta de se assumir – realiza uma análise diária da grande imprensa gaúcha, estudo reconhecido até internacionalmente por estudantes, professores e jornalistas sérios. Seu trabalho não se resume ao comentário crítico: faz comparações; destaca títulos; avalia enquadramentos, desconstrói argumentos; aponta modelos; produz ensaios – tudo com a autoridade de quem tem a experiência, antes do magistério, de vários anos de ofício, em um momento político em que para exercer a profissão se era vítima de censores menos estranhos. Além disso, cultiva a qualidade típica dos veteranos, de leitor e observador voraz de tudo o que importa para a análise da vida em sociedade, seja na filosofia, nas ciências sociais ou nas artes.
"Práticas profissionais duvidosas"
Ainda nesse mapeamento cotidiano, referência dentro e fora de da sala de aula, Ungaretti disponibiliza em seu site Pontodevista especiais periódicos sobre temas ignorados, ou superficialmente tratados na imprensa tradicional, mas de alta relevância para entender nosso tempo. Trata-se, assim, de um raro exercício de jornalismo em profundidade que relaciona a observação crítica diária da imprensa hegemônica com o comportamento de outros poderes, agregando a isso uma boa dose de ciência e literatura e um claro posicionamento político (que faria bem que todo jornalista manifestasse visivelmente).
Diante dessa situação, resolvi obter um depoimento direto de Ungaretti sobre o assunto, que reproduzo abaixo:
"Desde março de 2004, com a foto `Falcões do Sul´, estou apontando que este cara trabalha em sintonia com a polícia. Sempre com o sentido de criminalizar os movimentos sociais e a periferia. Este cara começou como boy, contínuo da redação (nada contra) quando eu já era subchefe de reportagem da redação de ZH, ou então pauteiro. Sempre me relacionei super bem com o pai dele, o seu Nilo, também contínuo da redação. Passou a boy, contínuo do laboratório fotográfico, passou a laboratorista da madrugada, a fotógrafo de plantão da madrugada e assim sucessivamente. Não sei se esta é a ordem exata. Têm 35 anos de RBS. Passou a fazer as matérias 500, matérias de interesse empresa. Na atualidade, segundo informações de pessoas da redação, após tantas críticas ao seu trabalho, foi colocado no plantão. Na geladeira. A discussão central não é o apelido ou as expressões showtógrafo, zerolândia, fotocampana, fotocascata, termos amplamente usados no meio, mas as fotos `produzidas´. Gostaria que tudo isso possibilitasse uma ampla discussão sobre práticas profissionais, no mínimo, duvidosas."
Solidariedade e apoio
A pergunta que fica, diante disso, é: a quem interessa censurar um trabalho pela transparência e independência na atividade jornalística? Ao jornalismo? Só se for o do discurso único. À justiça? Só se for a que diz que o interesse público está abaixo da discrição profissional. À honra particular? Só se for possível separar o indivíduo político do indivíduo jornalista, piada ainda contada em alguns cursos de comunicologia. Á democracia? Só se for àquela que se legitima através da vontade privada dos grandes grupos de comunicação e seus protetores.
Felizmente, para mim e todos os leitores de seu site/blog, apesar de estranhos acontecimentos recentes que sugerem formas indiretas de intimidação, Ungaretti não se intimidou. Pelo contrário, produziu outro de seus especiais sobre jornalismo, posicionando-se exatamente sobre a questão que enfrenta, através do micro-editorial "De consciência tranqüila"; incluiu ainda, nessa edição, ilustrações do processo de produção da "cascata" na imprensa (denominação tradicional para a criação fantasiosa de fatos ou distorção dos mesmos) que fornecem subsídios para entender as novas formas de manipulação fotográfica no jornalismo. Disponibiliza, com isso, mais subsídios ao debate: limonada farta de um só limão.
Enfim, diante disso e de outros episódios decepcionantes no mundo da grande imprensa, acredito profundamente que a credibilidade profissional reside hoje, muito acima e além de prêmios – sempre convenientes às organizações que os oferecem ou a interesses específicos por legitimação – está, sim, na abnegação e no trabalho diário pelo interesse público, reconhecido, ou perseguido, em momentos como esse. Jornalistas como Mino Carta, Lúcio Flávio Pinto, José Arbex Júnior, Alberto Dines, entre tantos outros de norte ao sul do país, ainda me fazem cultivar essa convicção. Portanto, professor Ungaretti, junto com minha solidariedade manifesto-lhe a certeza de que não está, e nunca estará, sozinho nessa empreitada. Continue firme, e se for preciso, como diria Lênin, "um passo atrás para dois passos à frente"!
Imaginemos a que ambiente político estaríamos submetidos se, no lugar de se exercer o debate salutar, entrasse na moda entre os colegas jornalistas processar-se entre si por críticas manifestadas sobre práticas suspeitas, ou eticamente condenáveis, no trabalho alheio. Provavelmente, em um estado de censura explícita. Além de uma meio defesa, a justiça tem sido um instrumento para se impor uma "censura legal", até entre membros de uma mesma categoria.
Mas há outras formas mais sutis de controle do que pode ser dito e mostrado, conforme conveniência: a própria imprensa, por exemplo. Daí a preciosidade democrática dos observatórios e blogueiros que militam diariamente nesse monitoramento de práticas de mascaramento da realidade pela mídia. Ironicamente, o professor gaúcho Wladymir Ungaretti, do qual tenho o orgulho de ter sido aluno nos anos 1990, está sendo processado nesse momento pelo exercício voluntário nesse tipo de atividade e, o mais irônico, por um colega (?) da área de jornalismo (?).
O fotógrafo Ronaldo Bernardi, do jornal Zero Hora, está movendo processo contra Ungaretti por este ter sugerido a possibilidade de uma foto produzida por Bernardi em um fato policial ser uma montagem ("cascata") e por o autor da mesma ser identificado como Fotonaldo em uma de suas análises de imagens, veiculada sobre a edição de 04/11/2008 no Zero Hora, conforme o texto "Não se trata de uma provocação", publicado no blog de Ungaretti.
Leitor e observador voraz
O curioso é que em sua ação o fotógrafo não responde, nem problematiza, o centro da crítica de Ungaretti, que questiona eticamente os procedimentos profissionais em uma suposta montagem na cobertura de um fato policial.
No lugar disso, conforme Ungaretti, o referido fotógrafo apenas se restringe a reclamar, via justiça, codinomes a ele associados. Porém, pelo menos com relação à expressão Fotonaldo, nem isso parece se justificar, já que na ocasião – como pode ser notado no texto contido no link acima – Ungaretti deixa claro se tratar de um apelido difundido por outros colegas a respeito desse profissional e, portanto, não foi invenção sua. Não conheço Ronaldo Bernardi, porém em uma rápida rastreada noto que não é a primeira vez que sua conduta profissional é questionada por blogueiros, como se percebe no texto "Ao lado dos agressores", também veiculado em um blog.
Mas Ungaretti, eu conheço. Há alguns anos o professor Wladymir Ungaretti – ou apenas jornalista, como gosta de se assumir – realiza uma análise diária da grande imprensa gaúcha, estudo reconhecido até internacionalmente por estudantes, professores e jornalistas sérios. Seu trabalho não se resume ao comentário crítico: faz comparações; destaca títulos; avalia enquadramentos, desconstrói argumentos; aponta modelos; produz ensaios – tudo com a autoridade de quem tem a experiência, antes do magistério, de vários anos de ofício, em um momento político em que para exercer a profissão se era vítima de censores menos estranhos. Além disso, cultiva a qualidade típica dos veteranos, de leitor e observador voraz de tudo o que importa para a análise da vida em sociedade, seja na filosofia, nas ciências sociais ou nas artes.
"Práticas profissionais duvidosas"
Ainda nesse mapeamento cotidiano, referência dentro e fora de da sala de aula, Ungaretti disponibiliza em seu site Pontodevista especiais periódicos sobre temas ignorados, ou superficialmente tratados na imprensa tradicional, mas de alta relevância para entender nosso tempo. Trata-se, assim, de um raro exercício de jornalismo em profundidade que relaciona a observação crítica diária da imprensa hegemônica com o comportamento de outros poderes, agregando a isso uma boa dose de ciência e literatura e um claro posicionamento político (que faria bem que todo jornalista manifestasse visivelmente).
Diante dessa situação, resolvi obter um depoimento direto de Ungaretti sobre o assunto, que reproduzo abaixo:
"Desde março de 2004, com a foto `Falcões do Sul´, estou apontando que este cara trabalha em sintonia com a polícia. Sempre com o sentido de criminalizar os movimentos sociais e a periferia. Este cara começou como boy, contínuo da redação (nada contra) quando eu já era subchefe de reportagem da redação de ZH, ou então pauteiro. Sempre me relacionei super bem com o pai dele, o seu Nilo, também contínuo da redação. Passou a boy, contínuo do laboratório fotográfico, passou a laboratorista da madrugada, a fotógrafo de plantão da madrugada e assim sucessivamente. Não sei se esta é a ordem exata. Têm 35 anos de RBS. Passou a fazer as matérias 500, matérias de interesse empresa. Na atualidade, segundo informações de pessoas da redação, após tantas críticas ao seu trabalho, foi colocado no plantão. Na geladeira. A discussão central não é o apelido ou as expressões showtógrafo, zerolândia, fotocampana, fotocascata, termos amplamente usados no meio, mas as fotos `produzidas´. Gostaria que tudo isso possibilitasse uma ampla discussão sobre práticas profissionais, no mínimo, duvidosas."
Solidariedade e apoio
A pergunta que fica, diante disso, é: a quem interessa censurar um trabalho pela transparência e independência na atividade jornalística? Ao jornalismo? Só se for o do discurso único. À justiça? Só se for a que diz que o interesse público está abaixo da discrição profissional. À honra particular? Só se for possível separar o indivíduo político do indivíduo jornalista, piada ainda contada em alguns cursos de comunicologia. Á democracia? Só se for àquela que se legitima através da vontade privada dos grandes grupos de comunicação e seus protetores.
Felizmente, para mim e todos os leitores de seu site/blog, apesar de estranhos acontecimentos recentes que sugerem formas indiretas de intimidação, Ungaretti não se intimidou. Pelo contrário, produziu outro de seus especiais sobre jornalismo, posicionando-se exatamente sobre a questão que enfrenta, através do micro-editorial "De consciência tranqüila"; incluiu ainda, nessa edição, ilustrações do processo de produção da "cascata" na imprensa (denominação tradicional para a criação fantasiosa de fatos ou distorção dos mesmos) que fornecem subsídios para entender as novas formas de manipulação fotográfica no jornalismo. Disponibiliza, com isso, mais subsídios ao debate: limonada farta de um só limão.
Enfim, diante disso e de outros episódios decepcionantes no mundo da grande imprensa, acredito profundamente que a credibilidade profissional reside hoje, muito acima e além de prêmios – sempre convenientes às organizações que os oferecem ou a interesses específicos por legitimação – está, sim, na abnegação e no trabalho diário pelo interesse público, reconhecido, ou perseguido, em momentos como esse. Jornalistas como Mino Carta, Lúcio Flávio Pinto, José Arbex Júnior, Alberto Dines, entre tantos outros de norte ao sul do país, ainda me fazem cultivar essa convicção. Portanto, professor Ungaretti, junto com minha solidariedade manifesto-lhe a certeza de que não está, e nunca estará, sozinho nessa empreitada. Continue firme, e se for preciso, como diria Lênin, "um passo atrás para dois passos à frente"!
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