#CADÊ MEU CHINELO?

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

[bolo'bolo] SIBI

   Um bolo não precisa só de comida, precisa de coisas. Tudo quanto diga respeito à produção, uso ou distribuição de coisas é chamado sibi. Portanto sibi inclui: edifícios, suprimento de combustíveis, eletricidade e água, produção de ferramentas e máquinas (principalmente para a agricultura), roupas, móveis, matérias-primas, utilidades de todos os tipos, transportes, artesanato, arte, equipamento eletrônico, ruas, esgotos, etc.

    Como a agricultura (kodu), também a fabricultura (sibi) depende da identidade cultural de um determinado bolo. Uma parte básica do sibi será a mesma em todos os bolos: manutenção dos prédios, consertos simples de móveis, máquinas, roupas, encanamentos, estradas, etc. Um bolo será mais independente do que qualquer bairro ou casa atuais. Como não há interesse em produzir peças defeituosas, descartáveis ou de baixa qualidade, haverá menos consertos. Devido ao desenho sólido e simples das coisas, os consertos serão também mais fáceis, os defeitos terão conseqüências menos graves. A habilidade de exercer os ofícios básicos no próprio bolo também é uma garantia de independência e reduz a perda de tempo e de energia (eletricistas ou bombeiros hidráulicos não têm que atravessar a cidade inteira). O bolo é suficientemente grande para comportar um certo grau de especialização entre seus membros.

    O conteúdo principal do sibi será a expressão das paixões produtivas típicas de um bolo. Por sua vez, as paixões produtivas são diretamente ligadas à identidade cultural do bolo. Podem existir pintura-bolos, sapateiro-bolos, guitarrista-bolos, roupa-bolos, couro-bolos, eletrônico-bolos, dança-bolos, xilogravura-bolos, mecânica-bolos, aero-bolos, lítero-bolos, fotográfica-bolos, etc. Certos bolos não se especializarão, fazendo muitas coisas diferentes, outros vão reduzir a um mínimo a produção e o uso de muitos produtos (Tao-bolo). Já que as pessoas não estão trabalhando para um mercado, e só secundariamente para trocas, não há mais distinção alguma entre ofícios/artes, vocação/trabalho, horário de trabalho/horário livre, inclinações/necessidade econômica (com exceção de alguns serviços básicos de manutenção). Naturalmente, haverá intercâmbio desses produtos e performances típicos entre os bolos, como no caso das especialidades agrícolas. Eles vão circular através de presentes, de acordos permanentes, de fundos comuns (mafa) e do mercado local, e serão comparados a outros em feiras especiais.

    No contexto de um bolo ou mesmo de uma tega (bairros maiores, cidades), a produção dos artesãos ou de pequenas indústrias estará sob controle direto dos produtores, e eles poderão conhecer e influenciar todo o processo de produção. Objetos terão características pessoais, o usuário conhece o fabricante. Assim as peças defeituosas podem ser devolvidas, e haverá relação entre o uso e o design, permitindo a possibilidade de melhorias e aprimoramentos. Essa relação direta entre o produtor e o consumidor vai liberar um tipo diferente de tecnologia, não necessariamente menos sofisticada do que a atual tecnologia industrial de massas, mas orientada para aplicações específicas (protótipos feitos para o freguês), independência dos grandes sistemas (capacidade de intercâmbio, pequeno tamanho), baixo consumo de energia, facilidade de reparos, etc.*

    Como o campo para produção e uso de coisas é múltiplo e menos sujeito a limitações naturais do que a agricultura, os bolos vão depender mais de trocas e de cooperação nesse setor. Pense em água, energia, matéria-prima, transportes, alta tecnologia, medicina, etc. Nesses assuntos os bolos têm interesse em cooperar e coordenar em níveis sociais mais altos: cidades grandes e pequenas, vales, regiões, continentes – e, para matéria-prima, o mundo todo. Essa dependência é inevitável, porque nosso planeta é simplesmente populoso demais e essas interações são necessárias. Mas nesse setor um bolo só pode ser chantageado indiretamente, em nível médio. Além disso, há a possibilidade de influenciar diretamente comunidades maiores através de seus delegados (ver dala).

    A cooperação em certos setores também é razoável do ponto de vista da energia. Certas ferramentas, máquinas e equipamentos simplesmente não podem ser usados num bolo só. Por que cada bolo teria um moinho de cereais, uma betoneira, laboratórios médicos e caminhões? Duplicações assim custariam caro e exigiriam um monte de trabalho desnecessário. O uso comum desses equipamentos por pequenas fábricas, depósitos de material, oficinas especializadas pode ser organizado bilateralmente pelas vilas e outros organismos (ver tega, vudo, sumi). A mesma solução é possível para produção de bens necessários que não são ou não podem ser manufaturados num bolo (porque acontece de não haver um sapateiro-bolo na vila); então ibus de diferentes bolos podem se combinar, de acordo com suas próprias inclinações, em oficinas do bairro ou da cidade. Se não houver ibus inclinados a fazer esse trabalho, e se ao mesmo tempo aquela comunidade insiste nessa necessidade, a última solução é o trabalho compulsório (kene): todo bolo é obrigado a fornecer uma certa quantidade trabalho para cumprir essas tarefas. Esse poderia ser o caso de trabalhos cruciais mas insatisfatórios, como: proteger usinas nucleares desativadas, limpar o sistema de esgotos, fazer manutenção de estradas, derrubar e remover viadutos e estruturas de concreto inúteis, etc. Já que o trabalho compulsório será excepcional e baseado em rodízios, não vai interferir demais com as preferências individuais do ibu.

* A tecnologia alternativa não tem sentido se for considerada independentemente de estruturas sociais específicas. Uma casa isolada cheia de coletores solares, moinhos de vento e outros recursos semelhantes é apenas um novo e dispendioso hobby. Tecnologia alternativa sem sociedade alternativa significa a abertura de mais um mercado para grandes indústrias (como já é o caso dos computadores caseiros) e o nascimento de uma nova indústria caseira. bolo’bolo não será high tech, eletrônico, químico e nuclear, porque essas tecnologias não combinam com um sistema fragmentado e irresponsável. Se existirem fábricas, dificilmente terão mais de 500 funcionários. Mas é certamente possível que uma ou duas usinas sobrevivam em cada região ou continente para produzir matéria-prima eletrônica, gasolina, produtos químicos de base, etc.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

[copyleft] A NOVA GRANDE MIDIA: A ECOLOGIA MIDIALIVRISTA BRASILEIRA NO FACEBOOK

:: txt ::Fabio Malini::

É só uma pensata. Um provocação. Criei uma fanpage no Facebook. E há meses tenho curtido os sites que se destacam no relato dos protestos brasileiros lá no Facebook. Apliquei o aplicativo do Face chamado Netvizz, que identifica a rede de páginas de uma fanpage. Selecionei 300 canais do Facebook que divulgam informações midialivristas. E o que o Netvizz fez foi identificar as fanpages que cada um desses canais curtem. Assim, consegui visualizar, se não toda, a quase integralidade da nova Grande Mídia. Essa Grande Mídia chegou para se antagonizar com grande parte dos setores dos veículos de comunicação de massa, mas, principalmente, para construir uma narrativa de dentro das manifestações, disputando o passado com as narrativas tradicionais da imprensa. Essa GRANDE MÍDIA não parece ser dialética, não mais depende de qualquer sistema de comunicação de massa para se constituir. E a rede já possui a cerca de 15 milhões de usuários. Mas deve ser mais, porque se estes usuários compartilharem apenas um post de uma dessas páginas, o alcance se multiplica. As páginas são o núcleo da emissão de mensagens no Facebook. E os perfis individuais, as células que ecoam, por meio do compartilhamento, esses conteúdos.

Quando a GRANDE MÍDIA age de modo coordenado (e com forte apoio das células, os perfis) a temperatura política brasileira aquece. Foi o que aconteceu com a divulgação da #GreveDosGAris, que foi uma vitória importante do midialivrismo brasileiro, que, a cada dia, amadurece a sua produção multimídia (e, é claro, mergulha em contradições, afinal, publicar é um exercício de intencionalidades). A uma grande parte da velha Grande Mídia se viu desmentida e humilhada pela corrente de verdades circuladas pelas notícias, streaming, depoimentos em primeira mão, dadas pelos garis aos midialivristas.

Acredito que essa rede é o retrato mais interessante da autonomia obtida pela atual geração de midialivristas. Torço para que essa ecologia se complexifique ainda mais. E que fique sempre do lado dos justos. E não custa lembrar: boa parte dos veículos que estão nessa rede se associavam com Pontos de Cultura, de Mídia Livre e todo um conjunto de políticas culturais que foram jogadas no limbo pelo atual governo federal e muitos outros estaduais.

Na ordem, as páginas mais referenciada (com mais grau de entrada) pela rede midialivrista: MIDIA NINJA, Anonymous Brasil, Anonymous Rio, Black Bloc RJ, Advogados Ativistas, Black Bloc Brasil, Passe Livre SP, Jornal A Nova Democracia, Mães de Maio e Vírus Planetário.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

[agência pirata] VIGIAR, PUNIR E EXIBIR!

Novos casos de linchamento relembram: transformar violência em espetáculo é uma forma de mascarar a brutalidade oculta que permeia sociedade

:: txt ::Celso Vicenzi::

As pessoas que amarram seres humanos em postes ou os imobilizam com travas de bicicleta – cenas que se repetem de diferentes maneiras pelo Brasil, assim como os linchamentos – têm as mesmas motivações daqueles que pregaram Cristo na cruz. Não há diferenças, por mais cristãos que os contemporâneos imaginem ser. Salvo a distância no tempo, são atos com um mesmo propósito, o de exibir a punição para servir de exemplo.

São os mesmos que queimaram entre 100 mil e 500 mil mulheres nas fogueiras da Inquisição Católica, na Europa, acusadas de bruxaria (há quem fale em 9 milhões).

Não diferem dos que enforcaram Tiradentes, o esquartejaram e penduraram sua cabeça em Vila Rica e pedaços de seu corpo nos lugares em que fizera seus discursos revolucionários.

Para que os exemplos não frutifiquem, é preciso sempre uma dura lição!

São os mesmos que enforcaram ou decapitaram com machados ou guilhotinas milhares de seres humanos em praças públicas. Ou os torturaram com os métodos mais cruéis já inventados pela mente humana, diante de grandes plateias. A crueldade precisa de espectadores. E não são poucos, ontem como hoje, aqueles que se regozijam com esses atos.

Na Revolução Francesa, na Europa da Idade Média, em vários lugares e épocas, o povo comparecia às execuções em praça pública com o mesmo entusiasmo de quem vai a uma festa popular. Era um espetáculo “familiar” em que até as crianças estavam presentes. Lá como cá, a aceitação da pena aplicada pelos algozes sempre foi enorme.

Por isso, não importa o grau de violência perpetrado, em todos esses casos, mais do que punir, o objetivo sempre foi o de exibir a punição à sociedade com o intuito de desencorajar, de amedrontar pelo terror, de inibir atos semelhantes.

Não bastou condenar Jesus à pena de morte, era preciso mostrá-lo pregado à cruz, para que o exemplo pudesse intimidar quem ousasse seguir o mesmo caminho. Como podem concluir, o método tem suas falhas… Os cristãos se espalharam pelo mundo. Junto a Cristo estavam, também pregados a cruzes, dois ladrões. Não muito diferentes desses que hoje são punidos de modo violento pela sociedade, seja pela tortura, pela mutilação ou pela prisão em cadeias superlotadas, piores que as masmorras medievais.

A moderna sociedade brasileira pouco se difere das de épocas tenebrosas ao permitir castigos cruéis aos apenados. A única diferença é que, atualmente, não há no aparato político-jurídico quem os justifique, mas é certo que pouco se faz para impedir que a tortura seja método usual e corriqueiro em delegacias do país, para obtenção de informações e como instrumento de poder. Para os “homens e mulheres de bem”, como boa parte se autoidentifica, não basta privar o sentenciado da liberdade, é preciso infligir castigos cruéis. E, se possível, a pena capital: “bandido bom é bandido morto”. (E depois vão à missa, ao culto, às orações, para pedir paz e um lugar reservado no céu…).

Cerca de 55 mil pessoas são assassinadas anualmente no Brasil. A maioria, 39 mil, são negros. Para os pesquisadores, o racismo e as condições econômicas e sociais são as principais causas.

A pena de morte, na cruz, na fogueira, na cadeira elétrica, na forca, na guilhotina, por injeção ou pelas balas da PM – não importa o método – nunca funcionou para deter nenhum tipo de violência. E muito menos para calar ideias e ideais. Mas serve para o júbilo dos que assistem e para aqueles que assumem, por alguns momentos, o papel de carrasco.

Segundo Priscila Lessa (“A tortura no Ocidente: atrocidade cultural ou exercício do poder”), o carrasco tinha uma posição de status no Antigo Regime, na França, entre os séculos XVI e XVIII, e era uma profissão bem remunerada e hereditária. “A arte do ofício da tortura e da execução passava, por tradição, de pai para filho. O jovem carrasco tinha sua iniciação desde muito pequeno, aos cinco ou seis anos, quando já estava apto a ajudar o pai em pequenos castigos, como banhar o acusado em óleo quente ou queimar-lhe a sola dos pés.”

Os filhos desses jovens e adultos que atualmente se deliciam em fazer justiça com as próprias mãos também já estão aptos a aprender o ofício? Aprenderão, desde cedo, como tratar adolescentes e jovens envolvidos em furtos e assaltos? Afinal, quem aprende mais com quem? Quem pratica eventual ato ilegal ou violento aprende a não fazê-lo mais depois de espancamento, tortura e prisão num poste, ou o aprendizado é maior para aqueles dispostos a ingressar nessa cruzada por justiçamento, que, sem demora, corre o risco de “sentenciar” pequenos “marginais” à morte, amarrados em postes?

Indivíduos são estimulados desde cedo pela ideologia autoritária, pelos telejornais e programas de TV especializados em exibir violências de todos os tipos, menos aquelas cometidas pelos donos do poder. Afinal, também não é violência o modelo de sociedade onde 0,7% de seus habitantes detêm 41% de toda a riqueza mundial? E que leva milhões à morte? E empurra milhares ao crime? No caso brasileiro, não é uma violência a mesma sociedade ostentar o sexto maior PIB e a quarta maior desigualdade social do planeta? Por que não ocorre aos “justiceiros” amarrar aos postes os responsáveis por tamanha crueldade contra toda a população – ela, classe média, incluída? Tão próxima de um dia se juntar aos que estão mais abaixo?

O aparato de controle da escola, dos meios de comunicação, das igrejas, das tradições familiares, do Estado, ou seja, toda uma ideologia que se aprende desde o nascimento, tem justamente essa função de manter a maioria da população na ignorância sobre quem, de fato, são os seus principais verdugos. Quem são os maiores responsáveis pela inexistência de políticas públicas que poderiam evitar a maior parte das brutalidades cotidianas? Boa parte dos cidadãos, sem acesso à informação de qualidade, a uma boa formação humanística, só consegue enxergar como inimigo direto, o “marginal” que pratica vários delitos.

E contra ele descarrega toda a sua torta ideia de justiça, deixa-se assombrar por vontades arcaicas que o colocam a um passo da barbárie. Séculos, milênios de civilização permitiram ao ser humano construir obras monumentais e desenvolver tecnologias próximas da ficção, mas não o afastaram muito das emoções mais primitivas, de raiva, ódio, vingança, egoísmo, medo e crueldade.

Da cruz ao poste, Estado e cidadãos, numa relação dialética que se retroalimenta, mantêm o modelo ineficaz para conter a violência: vigiar, punir e exibir.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

[a vida como ela noé] A DESCOBERTA DO SEGREDO DA COCA-COLA

::txt ::Dark Night ::

Em um mundo distante aparentemente próximo da irrealidade existem um bando de focas marítimas, mas não estamos aqui para falar das focas e sim das Fadas Cor-de-rosa-azuis que vivem em Marte.

As Fadas não possuem asas. Elas são diferentes. Elas voam, mas sem as asas. Elas usam um mecanismo quântico fotônico de neutros onde acionam as partículas da mecânica clássica Newtoniana. É complicado explicar isso sem os termos na língua.

Elas possuem mais que fama de serem as criadoras da famosa marca da Coca-cola. O refrigerante é feito a partir de vômito dessas fadas que foram capturadas depois de um encontro acidental na Rússia em uma expedição. Dos excrementos é fabricado o leite em pó.

O DNA delas contém o gene que produz em humanos a enzima enzimática do vício. Alguns seres humanos não possuem a proteína necessária para produzir esta enzima e por isso tem aversão á coca-cola, leite ninho ou coca- cola com leite ninho. O DNA foi extraído da coca-cola por um pesquisador Russo da Rússia chamado Povskolvisck Vodka, mais conhecido por Catuaba entre seus amigos.

O Dr. Vodka teve a ideia depois de sonhar com isso. Pegou uma alíquota de coca, detergente e sal, isolando assim o DNA. Em sua observação ele se surpreendeu quando o DNA ao ser observado em microscopia eletrônica de Varredura (MEV ou SEM no inglês) se desintegrava. Um rosto era formado durando a desintegração. O rosto lembrava Jesus Cristo.

Dr. Vodka ao publicar suas ideias foi rechaçado e hoje passa o resto de vida que ainda lhe resta tomando Vodka embutida.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

[copyleft] MANIFESTO DA POESIA SAMPLER

“O plágio é necessário. O progresso o implica” Lautreamont


Que as idéias voltem a ser perigosas.

Vivemos um momento de impasse poético (comecemos com frases de efeito). A poesia brasileira contemporânea está estilhaçada em todos os caminhos possíveis e sofre de uma falta de identidade sem parecer. A poesia brasileira contemporânea (que é bom frisar nem sempre é moderna) não sabe como se comportar. Não há mais (des)caminhos claros e definidos.

Queremos então aqui, levar ao máximo a falta de perspectiva, usar ao máximo a queda das utopias (política, existencial, artística) para apresentar a poesia sampler. A poesia sampler ou sampleadora é e se quer ser ilegal. Usando os princípios e termos da música eletrônica que literalmente rouba trechos de outras músicas para se compor, a poesia sampler rouba idéias, trechos, citações, põe palavras em outros contextos. A sua originalidade é a falta de tê-la.

O problema da linguagem é o cerne da poesia sampler. É a constatação do esgotamento total da linguagem, é a constatação de não ter mais saída para a linguagem, que já foi (des) (re) construída ao máximo. É se emaranhar no labirinto (in)finito das experimentações e das brincadeiras. É poesia irresponsável. É a volta da morte do Copyright (viva o Copyleft). É a volta da morte da autoria. É a volta do plágio. Como disse Lautreamont, o progresso o implica. A poesia deve ser escrita por todos.

A poesia sampler pode servir como uma ponte para uma possível nova poesia e novos poetas. Ela pega esses cacos que todos já destruíram e brinca com eles e os muda de lugar e os troca, os confunde, os cita, os leva ao extremo da brincadeira poética.

Saturação da informação. Não mais novidades. Contra o mercado de novidades, contra a globalização e a mercantilização da novidade. O pensador moderno precisa saber escolher a informação. O poeta moderno precisa deslocar as mesmas palavras que conhece há séculos para outros contextos. Nem mesmo essa idéia é novidade. A poesia sampler, felizmente, está fadada ao jornal de ontem. Duchamp desce das escadas nu.

Desabando, logicamente, em Oswald de Andrade, nosso grande poeta antropófago: “Tudo que não é meu me pertence”. Lema do poeta e base da poesia mais inventiva e criativa brasileira. Diferente da chamada linha evolutiva da vanguarda poética brasileira fincada no concretismo, a poesia sampler não é original ou melhor não se quer (é aí que tá o ovo de colombo). É poesia de poesias ou melhor, poesia que tira outras poesias do contexto e as coloca com outros sentidos, outras características, outra vida, incorporando até novas palavras, tanto é a liberdade da poesia sampler.

A poesia sampler já nasce velha. É criminosa, é pagã, é lírica, é crítica, é publicitária. Como no poema de um dos poetas sampler escrito em cima de um dos poemas mais (re)conhecidos de Oswald de Andrade: Erro de Português. O poeta sampler subverte a idéia original do poema, ou melhor, encontra nele, uma possível (re)interpretação. Eis:

Erro de Brazileiro

O português
quando aqui chegou
as índias todas ele comeu
o problema é que
elas continuam gozando
até hoje

A poesia sampler leva a tradição pra outro lugar, usando-a, anarquicamente. É a contradição máxima que vivemos. É seguir a tradição, negando-a. Não há mais diferenças entre nada. Tudo pode ser usado. Guerrilha Cultural. Abalar os conceitos das afirmações. São poetas sem poemas. Esses conceitos, além de terem surgido com a música eletrônica, também são influenciados pelos grupos filosóficos anarquistas, principalmente por Luther Blisset e os artistas neo-dadaístas e os situacionistas. Somos todos.

Somos um. Somos nenhum. Não temos reflexo em espelho algum. Literatura pra nossa geração. Somos poetas burros escrevendo para uma geração burra. Assassinamos jornalistas culturais com poemas de Eliot. Somos o oco da oca tupiniquim interplanetária. Soy loco por ti, America. Vivemos a era do não-criador. Era do sampleador. Acumulamos citações como heróicos saqueadores de túmulos. Sempre voltamos ao mesmo ponto: não há nada de novo debaixo do sol. O que podemos fazer é mudar o sol de lugar (terminemos com frases de efeito).

Assinado pelo Círculo de Poetas Sampler de São Paulo

e terminemos com mais um poeminha: “Quando nossos poetas vão cair na vida? deixar de ser broxas para ser bruxos?”
Roberto Piva

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

[que conversa é essa?!] AS CALÇADAS

:: txt :: Valter F. Santos ::
:: pht :: Júlio Freitas ::

Calçadas? A minha luz, a minha nostalgia, alegria enrustida, intimista, mas que me motiva a chegar em algum lugar. São pisadas, todavia a base de todos. Algumas limpas, outras sujas, talvez futuristas em uma avenida soturna. Calçadas? A vida, a morte, a cultura. Viva a vida, a morte da cultura, que talvez um dia voltará no violão de algum bêbado sacana que perdeu a sua esposa amada ou se revoltou com o esquema que diz como é a vida terrena, egoísta e efêmera. Calçadas? Elas caminham em meu coração, vivendo num eterno verão.

#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

Você pode:

  • Remixar — criar obras derivadas.

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