#CADÊ MEU CHINELO?

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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

[conteúdo livre] A INTERNET NÃO É MEIO DE COMUNICAÇÃO



::txt::Eugênio Bucci::

No início do mês (dia 3 de outubro) a Suprema Corte, nos Estados Unidos, decidiu que baixar uma música da internet não equivale a exibir essa mesma música em público. Portanto, ao copiar o arquivo de uma canção no seu computador, o consumidor não deve ser tratado como alguém que toca essa mesma canção para uma grande audiência, no rádio ou num show.

Ora, dirá o leitor, nada mais óbvio. Baixar uma faixa de CD é mais ou menos como copiar no gravador de casa uma canção que a gente sintoniza na FM. Trata-se de um ato doméstico, que não se confunde com executar uma obra musical para uma plateia de 5 mil espectadores. No entanto, até hoje, o pensamento oficial sobre a internet - em especial o pensamento das Cortes de Justiça - carrega uma tendência de equipará-la aos meios de comunicação de massa. Um erro grosseiro e desastroso. Além de obtusa, essa visão traz consequências perversas, como a que levou parlamentares brasileiros, há coisa de dois anos, a tentarem aprovar uma lei que impedia os cidadãos de manifestarem suas opiniões sobre as eleições em sites e blogs durante o período eleitoral, como se a rede mundial de computadores fosse da mesma família que as redes de televisão e de rádio, que funcionam sob concessão pública.

O furor censório dos parlamentares acabou não vingando, para alívio da Nação, mas o conceito equivocado em que ele plantou seu alicerce continua aí. Por isso a recente decisão da Suprema Corte, negando as pretensões econômicas e intimidatórias da American Society of Composers, Authors and Publishers (Ascap), interessa especialmente a nós, brasileiros. Ela constitui um argumento a mais para que expliquemos aos retardatários (autoritários) que nem tudo o que vai pela internet é comunicação de massa. Aliás, quase nada na internet é comunicação de massa. Para as relações políticas e jurídicas entre os seres humanos essa distinção elementar faz uma diferença gigantesca.

A internet não é televisão, não é rádio, não é jornal, nem revista, assim como não é correio ou telefone. Ela contém tudo isso ao mesmo tempo - mas contém muito mais que isso. Existem canais de TV e de rádio na internet, é bem verdade. Os jornais estão quase todos online, bem como as revistas, sem falar no correio eletrônico: as pessoas trocam mensagens, como trocavam cartas. O Skype e outros programas vieram para baratear e melhorar os velhos telefonemas, com a vantagem de mostrar aos interlocutores a cara um do outro. Logo, dirá a autoridade pública, a rede mundial de computadores internet é uma Torre de Babel em que todos os meios de comunicação se encontram e se confundem, certo?

Errado. A humanidade comunica-se pela internet - só no Brasil já são quase 80 milhões de usuários -, mas isso não significa que ela seja, como gostam de dizer, uma "mídia" que promove a convergência de todas as outras "mídias". Ela é capaz de fornecer ferramentas para que um conteúdo atinja grandes audiências de um só golpe, ao vivo, assim como permite que duas pessoas falem entre si, reservadamente. Acima disso, porém, ela abre outras portas, muitas outras. Pensá-la simplesmente pelo paradigma da comunicação é estreitá-la, amofiná-la - e, principalmente, ameaçar a liberdade que ela encerra.

A internet também é comércio: os consumidores fazem compras virtualmente - mas isso não nos autoriza a dizer que ela possa ser regulada como se fosse um shopping center. Vendem-se passagens aéreas e pacotes turísticos pela rede, mas ela não cabe na definição de agência de viagens. Correntistas acessam suas contas bancárias e pagam contas sem sair de casa, mas a internet não é banco, e, embora quitemos nossos impostos pelo computador, ninguém há de afirmar que a web é uma extensão da Receita Federal. Ela é tão ampla como são amplas as atividades humanas: aceita declarações de amor, assim como aceita lances ousados da especulação imobiliária. Nela a vida social alcança plenamente outro nível, que não é físico, mas é real, tão real que afeta diretamente o mundo físico, sendo capaz de transformá-lo. Mais que meio de comunicação, a internet é, antes, a sociedade num segundo grau de abstração. Se quiserem comparações, ela tem mais semelhança com a rede de energia elétrica do que com um aparelho de TV ou com o alto-falante na praça do coreto.

Para efeitos da regulamentação e da regulação, a internet não cabe num regime. Ela é capaz de abrigar tantos regimes quanto a própria vida em sociedade - e, assim como a vida em sociedade, é maior que o direito positivo. Ela, sim, pode conter e processar decisões judiciais e trâmites processuais, mas estes não podem contê-la, explicá-la ou discipliná-la por inteiro. Pretender controlá-la, taxá-la, pretender instalar pedágios em cada nó seria equivalente a começarmos a cobrar direitos autorais de quem empresta um livro de papel à namorada, ou, pior ainda, seria como sujeitar as conversas de botequim à legislação do horário eleitoral na televisão e no rádio.

A rede de computadores trouxe uma expansão sem precedentes a uma categoria que, nos estudos de sociologia e de comunicação, ganhou o nome de "mundo da vida". Trata-se de um conceito contíguo a outro, mais conhecido, o de "esfera pública". Nesta se encontram os temas de interesse geral dos cidadãos. No "mundo da vida" moram as práticas sociais mais arraigadas, a rotina mais prosaica, os nossos modos de amar, de velar os mortos ou, se quiserem, de conversar no botequim. Não por acaso, daí, desse mundo da vida, é que brota a esfera pública democrática; a própria imprensa nasceu dos saraus e das tabernas, quando aí se começou a criticar o poder.

Por isso, enfim, as formas de livre expressão na internet precisam estar a salvo do poder do Estado e da voracidade dos grupos econômicos. Por isso a decisão da Suprema Corte é bem-vinda.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

[cc] TSUNAMI E OS JORNAIS ESCRITOS À MÃO

::txt::Andrew Higgins::

Ninguém se comunica pelo Twitter, blogs ou e-mail. As pessoas também não usam telefone. Sem eletricidade, gasolina e gás, a cidade, traumatizada pelo tsunami, está fazendo as coisas realmente à maneira antiga: usando papel e caneta. Incapaz de operar sua impressora do século 20 – os computadores, então, nem pensar –, website ou celulares 3G, os jornalistas do único jornal de Ishinomaki, o Hibi Shimbun, escrevem seus artigos à mão com canetas hidrográficas em grandes folhas de papel branco. Ao contrário do que ocorre com a mídia moderna, o método tem funcionado. "As pessoas que sofrem uma tragédia como essa precisam de alimentos, água, mas também de informação", disse Hiroyuki Takeuchi, chefe de reportagem do Hibi Shimbun. "Elas estavam habituadas a se informar pela TV e pela internet, mas quando não há eletricidade, a única coisa que têm é o nosso jornal."

Embora a recente agitação política que toma conta do mundo árabe tenha realçado o poder das novas mídias, a miséria no Japão, um dos países mais conectados do mundo, fez a comunicação retroceder no tempo. Durante alguns dias, pelo menos, a palavra escrita à mão e impressa atingiu o auge. Depois de escrever e editar os artigos, Takeuchi e outros da equipe copiam suas matérias à mão em folhas de papel para distribuí-las em centros de ajuda de emergência que acolhem os sobreviventes do pior terremoto sofrido pelo país e do tsunami que se seguiu. "Eles estavam desesperados por informações", disse Takeuchi, que durante dez dias após o tsunami dormiu na redação do jornal, uma vez que as águas inundaram o andar térreo de sua casa. Com a eletricidade de volta para um terço dos 160 mil moradores da cidade, o jornal deixou de lado a caneta e voltou a ser impresso.

Informações vitais

O acesso à internet, porém, ainda não está disponível. Na segunda-feira (21/3), a capa do jornal elogiava um "resgate milagroso": a história de uma senhora de 80 anos e de seu neto de 16, retirados de sua casa destroçada.

Na costa, em Sendai, uma cidade antes próspera de mais de 1 milhão de habitantes, a irresistível força digital também ficou interrompida. "Em condições como essas, nada tem o poder do papel", disse Masahiko Ichiriki, presidente e dono do Kahoku Shimpo, principal jornal da cidade.

Edição especial. Com muitas lojas fechadas, as pessoas não conseguem comprar baterias para seus rádios. O colapso do sistema elétrico provocou o desligamento de computadores e aparelhos de TV, mas o jornal continua sendo publicado o tempo todo. Chegou até a trazer uma edição especial, de uma página, na noite do tsunami. "Os moradores, famintos por informação, dependem do nosso jornal como um salva-vidas", disse. O Kahoku Shimpo fornece não apenas notícias sobre a catástrofe, mas também informações vitais sobre que lojas têm alimentos, quais estradas já estão transitáveis, que bancos têm dinheiro em caixa e quais filiais de uma conhecida loja de bebidas foram reabertas.

"O pior é não ter nenhuma informação"

Em Ishinomaki, cidade menor do que Sendai, porém mais destruída, o Hibi Shimbun não foi publicado por dois dias após o tsunami. Um dos seis jornalistas foi arrastado dentro do carro pelas águas quando voltava de um compromisso. Ele sobreviveu e, depois de alguns dias no hospital, voltou ao trabalho. Hiroyuki Takeuchi estava em seu escritório na hora do terremoto, às 14h46n do dia 11 de março. Tinha acabado de concluir a edição do dia, que trazia um artigo de capa sobre os "encantos ocultos" de Ishinomaki e as promessas das autoridades para a reforma do hospital e outras instalações. O terremoto sacudiu de maneira tão forte os dois andares do prédio do jornal que as lâmpadas fluorescentes caíram do teto e os armários tombaram no chão.

A primeira edição escrita à mão, preparada no dia 13 de março, trouxe como manchete a promessa de "tentar e obter informações mais precisas possíveis sobre a tragédia". E informou sobre a chegada de equipes de socorro de todo o Japão e sobre a extensão da devastação. Casas e empresas situadas à beira-mar foram destruídas. Mais de 30 mil pessoas procuraram refúgio em abrigos. "Agora, conhecemos a extensão total dos danos", era um dos títulos da edição.

No dia seguinte, o jornal trouxe o nome e a idade de 34 moradores da área cujos corpos haviam sido identificados. Informou também sobre um roubo em um supermercado, um sinal do desespero da cidade. "Os jornalistas, porém, procuraram levantar o ânimo da população", disse Takeuchi. "Procuramos coisas que dessem esperança. Essa é a nossa filosofia." Segundo ele, o jornal deixou de publicar nomes de pessoas mortas porque o número de vítimas continuou crescendo. Mais de 1,3 mil corpos foram encontrados. Todo o esforço ajudou a preencher o vazio deixado pela ausência da mídia eletrônica. "Viver sem eletricidade ou água e pouca comida é muito duro", disse Yutaka Iwasava, de 25 anos, morador de Ishinomaki. "Mas o pior é não ter nenhuma informação." Iwasava disse que, desde o tsunami, não conseguiu mais acessar seu e-mail nem navegar na internet.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

[agência pirata] A NOVA ERA DO RÁDIO?

Jabá e medo da internet abrem espaço nas rádios para uma nova era de criatividade

::txt::Leonardo Lichote::

Mais com a discrição de locutor clássico do que com o alarde de FM jovem, de forma lenta e gradual, uma mudança vem se afirmando nas ondas do dial nos últimos anos, como se elas estivessem enfim em sintonia com o século XXI - programas originais, novas linguagens se estabelecendo, ousadia e qualidade na seleção musical com os quais o público já se desacostumara. E, apesar de (quase) silenciosa, ela foi percebida. O Ibope aponta um crescimento contínuo no número de ouvintes - 10% desde 2003, uma cifra aparentemente modesta, mas que ganha expressividade quando se pensa que ela se refere a um meio que parecia ultrapassado pelas novas tecnologias. Estatísticas à parte, um levantamento informal com amigos, a observação de conversas nas ruas e nos tweets - e o testemunho de artistas e radialistas - mostra que um público que estava afastado do rádio desde a década de 1990 - não por acaso, o auge da era dos jabás - está voltando a ele.

Figura presente no rádio desde 1982 (com a lendária Fluminense FM), o DJ Mauricio Valladares, apresentador do "roNca roNca" na Oi FM (uma das pontas de lança do atual bom momento), percebe a volta do interesse e a relaciona com outra retomada:

- Posso comparar com a percepção que as pessoas têm mostrado do vinil, que é o único suporte que cresceu na década - conta o DJ. - O vinil foi redescoberto porque as pessoas cansaram de ouvir som ruim, não saber o que é uma capa bonita. O rádio passa pelo mesmo processo. Quando chegou a internet, houve o fascínio pela possibilidade de acesso a todas as informações e músicas. Mas esse fascínio tem uma validade, que expira no momento em que você não tem uma luz te dizendo para onde ir, para onde não ir e para onde ir mesmo sabendo que será uma roubada. É o comunicador o camarada que vai dizer o que você está ouvindo. E só o rádio transporta essa sensação de que, naquele momento, você está incluído num grupo. O cara que ouve meu programa em Porto Alegre se sente irmão gêmeo do cara que está no Alto José do Pinho, em Recife. Outro exemplo: eu odiava samba, mas adorava ouvir o programa do Adelzon Alves. Gostava daquela mágica de ele falar com os motoristas de ônibus, era fisgado pela dinâmica. A internet não vai ter isso nunca. O rádio é algo novo, apesar de muito velho.

Vista a princípio como rival, a internet tem papel importantíssimo para a redefinição do rádio.

- Nos anos 1960, a rádio consegue se levantar depois do baque da televisão, para onde migraram os programas humorísticos, os de auditório, as novelas. E aí vem o ostracismo dos anos 90. E a internet, que foi um susto um pouco menor do que o da TV - avalia Eliana Caruso, presidente da Rádio Roquette Pinto FM.

Eduardo Andrews, gerente de programação da MPB FM, concorda:

- Foi o empurrão que faltava para as rádios acordarem. Ou elas inovavam no formato e conteúdo ou morriam de vez.

Elas decidiram inovar. Hoje, se afirmam reforçando suas marcas pela atuação em diversas frentes, como selo e promoção de shows (a MPB FM seguiu esse caminho e a Oi FM, filha de uma telefônica, já nasceu sob essa égide); apostando na nova música brasileira de uma forma que não se via desde a geração 1980 do rock brasileiro, com Fluminense FM à frente; e explorando as novas ferramentas oferecidas pela internet (novamente ela). Redes sociais como Twitter e Facebook deram nova força ao velho formato de participação de ouvintes. A tecnologia ofereceu outras aberturas, como transmissão ao vivo por streaming, programas disponíveis para serem ouvidos em podcasts, vídeos com os bastidores da rádio, informações mais completas sobre os artistas que ocupam a programação... E há ainda outras possibilidades menos óbvias.

- O celular virou uma espécie de rádio de pilha - nota Eliana Caruso.

Os próprios caminhos da internet a levaram até mais próximo da linguagem do rádio - afinal, a prática de baixar músicas vem perdendo popularidade para a de ouvi-las simplesmente em sites como YouTube e MySpace.

- É uma tendência que vem se consolidando no mercado de música, a priorização do acesso ao conteúdo, no lugar da posse desse conteúdo - diz Flávia da Justa, diretora de Comunicação de Mercado da Oi, falando da versão on-line da rádio.

Além da tecnologia, fatores econômicos ajudam a entender o renascimento do rádio. A prática abusiva do jabá - com os lucros astronômicos das gravadoras pré-pirataria - homogeneizavam as emissoras, lembram radialistas e programadores. A crise da indústria fonográfica, portanto, abriu espaço para a recuperação que se consolida agora.

- O jabá devastador trouxe a perda de credibilidade. E a credibilidade num meio de comunicação vem antes da música. Hoje, como as vacas gordas do mercado fonográfico estão raquíticas, a criatividade e a qualidade podem prevalecer - defende Mauricio Valladares.

Os exemplos de criatividade e qualidade no dial hoje são muitos (alguns deles estão na página 2 desta edição). Mas Pitty - que foi premiada pela Associação Paulista dos Críticos de Arte como revelação na categoria Rádio com o programa "Segunda-feira sem lei" (rádio Transamérica Pop), que ela apresenta com Beto Bruno e Daniel Weskler - torce para que sejam muitos mais:

- Existem programas bem legais, mas ainda são pontos de luz nesse oceano imenso. Mas já considero isso algo muito bom e torço pra que se espalhe. Gosto muito de entrar no carro e ligar o rádio, ficar à mercê do shuffle do DJ - diz Pitty, pondo conceitos da cultura digital e do rádio na mesma frequência.

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