#CADÊ MEU CHINELO?

domingo, 3 de junho de 2012

[rango] MOCOTÓ DO BRASIL






::txt n phts::Diogo::


Um dos lugares que mais ouvimos falar nos últimos tempos, e que foi citado em absolutamente TO-DAS as aulas das duas edições do Food Experience, é o Mocotó. Lembro bem do Riq Freire escrever maravilhas sobre ele, tempos atrás.


Todo mundo sabe da história de vida do Rodrigo Oliveira. Se você não sabe, está no mínimo uns 3 anos atrasado. Trocando em miúdos, tempos atrás ele bateu de frente com o velho dele, o seu Zé de Almeida, assim que decidiu largar a faculdade de engenharia ambiental e estudar gastronomia. Logo depois de uma viagem do seu Zé ao sertão pernambucano (lar-doce-lar da família), o Rodrigo deu um tapa na peruca do Mocotó, estruturou/profissionalizou a parada, mas mantendo a mesma cara de butecão.


E todo mundo sabe também (inclusive virou lenda) da pronta e imediata torcida de nariz que o seu Zé deu, e que até hoje não engole direito essa repaginada, especialmente as releituras que o Rodrigo faz em cima de receitas consagradas da cozinha nordestina.


Mas como tudo tem sempre um final feliz, o Rodrigo foi levando o Mocotó nestes novos moldes à contra-gosto do velho, e hoje já faz girar mais de 20 mil pessoas por mês no buteco, sem jamais deixar de atender o mesmo público de sempre (taxistas, pedreiros, motoboys, imigrantes em busca de um futuro com ar-condicionado e direção hidráulica, domésticas e demais moradores da Vila Medeiros), além de uma nova turma que aprecia a haute cuisine nordestina. O mais límpido e cristalino exemplo de hi-low gastronômico.


Score! A Vila Medeiros havia virado um dos pontos centrais da gastronomia paulistana, que vamos combinar, é uma das capitais com o menu mais extenso e rico do mundo. Chora Itaim! Chora Jardins! Chora Vila Nova Conceição! Chora Higienópolis! Vem pra Vila Medeiros você também.


Finalmente, depois de muito sonhar com esse lugar, me vi no meio de um evento em Sampa rodeado de gente que compartilhava do mesmo sentimento que eu com relação ao Mocotó: Bete Duarte, Zelda e Floriano Spiess. Formou a barca rumo a Vila Medeiros pra conhecer Mocotó-pai e Mocotó-filho :-D


Mesa comunitária, como mandam as regras de etiqueta dos restaurantes mais modernos e descolados. Agora, cumé que esse desprendimento dá certo em plena Vila Medeiros? Vamos falar mais sobre isso ao sabor de torresmos em duas versões. A primeira delas: de barriga.


A segunda versão do torresmo veio numa textura, digamos, crocante. Fica tranquilo que estamos apenas começando. Dá tempo de filosofar bastante sobre o avanço do Mocotó rumo ao primeiro lugar no coração dos principais foodies mundo afora.


Em seguida veio o que pra mim foi uma das grandes surpresas dos últimos tempos: Mocofava, a mais perfeita, suprema e absoluta combinação de mocotó com favada. E olha que até pouco tempo eu nem sequer podia sentir o cheiro de mocotó.


Relaxa, ainda estamos na parte das entradinhas. Tem bastante tempo pra assuntar e enrolar até o final da experiência. Agora foi a vez da porção de dadinhos de tapioca com queijo-de-coalho e molho de pimenta agridoce. Vou evitar os elogios em cima de cada prato na medida em que meu repertório já se foi faz mais ou menos uns nove parágrafos.


Clássico é clássico, e vice-versa: bolinhos de carne-seca. Calibra na pimenta e sijoga, meu garoto!


Iniciando os principais, o Atolado de Bode, que pro Floriano e pra Bete foi o campeão da noite:cabrito guisado ensopado à moda sertaneja, dourado no forno e servido com mandioca, cebolinha e coentroNo comments.


A segunda cartada de mestre do Rodrigo ainda “no que tange” os pratos principais foi um sou-simples-mas-sou-limpinho Baião de Dois. Tá, vamos combinar que foi o menos tchãns da noite, mas meio que escorreu uma lagriminha agora aqui no canto do olho direito ao lembrar dele.


Fechando com chave de ouro a série, carne-de-sol preparada artesanalmente e servida com manteiga-de-garrafa, alho assado e pimenta biquinho. Taqueospariu… E despejar uma farinha de mandioca pra misturar com o molho, na finaleira? Aprende comigo enquanto to aqui!


O que é que a gente vai dizer sobre um lugar que tem “tubaína” junto às opções de bebidas no cardápio? Cara, me dá um abraço apertado e me jura que não é sonho!


Tem coisas que a gente não sabe muito o porquê. Se a gente perceber, o Mocotó pratica o anti-marketing… é longe bagarai, nada convencional, num lugar chamado Vila Medeiros e que pelo nome já pode afugentar marinheiros de primeira viagem, frequentado em grande parte por pessoas que certamente seu pai não aceitaria bem para seu namorado, num clima muito beira de estrada da periferia de Tihuana, sem xexexê nenhum e todo trabalhado na simplicidade. Mesmo assim, virou hit!


Tá, sobremesa porque a gente tem que voltar lá pra São Paulo ainda. Primeiro (segura na cadeira aí e prepara o babador) um brulée de doce de leite.


Segundo, um brownie com cupuaçu. Alô cupuaçu, a tua rima é cretina e eu nem mesmo sei direito quem és, do que te alimentas, onde moras e de que família vens… mas ó, delicia pura viu?!


Sorvete, mesmo sendo sorvete, aparentando sorvete e trajando roupa de sorvete, pode ser muito mais do que sorvete. Entende? O sorvete de RAPADURA do Mocotó taí pra provar essa teoria! #choradiegofabris


Agora, gran finale mesmo foi o mestre Rodrigo Oliveira, na capa da gaita depois de bater perna e braço na cozinha até altas horas da noite, vir sentar conosco e falar que já lavou tanto prato nessa vida que, empilhados, encostariam na lua FÁCIL. E que o seu Zé de Almeida nem anda mais tão contrariado assim… ufa, a clientela agradece e brinda com uma bela talagada de cachaça. Sou bobo de negar um brinde desses?


To conferindo aqui a conta e meio que não acreditei. Fiz um check-list vendo se batia mesmo, se os caras não tinham esquecido de nada…: 65 reais por pessoa. “A receita pra manter uma casa por tanto tempo tem dois ingredientes: boa comida e hospitalidade. Mesmo parecendo simples, é algo que só se consegue com muita dedicação, talento e acima de tudo, paixão”, diz o Rodrigo. Tá explicado!



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