# agência pirata #
Começa a História do MP3
txt: Eric Harvey
tradução: coletiva
A história do mp3 começa, apropriadamente, do mesmo modo subversivo, de baixo para cima, que muitos arquivos acabam na internet hoje: como um vazamento. Em 1988, o coletivo MPEG, (The Moving Picture Coding Experts Group) um grupo de cerca de 25 geeks, tecnicos da indústria da informatica e do cinema, foi encarregado pela Organização Internacional para Normatização – ISO – que define padrões para tudo, desde a engenharia da estrada de ferro a borracha ou plástico – para a elaboração de um padrão funcional para trabalhar filmes digitalmente (e, como antecipado, mais barato). Em julho de 1989 eles apareceriam com o padrão “MPEG-1 Áudio e Vídeo”, que foi colocado em uso em 1992. Logo após isso, um hacker chamado “SoloH” surrupiou o programa codificador de um servidor desprotegido, extraiu a camada dedicada a codificação de áudio, e a espalhou ao redor do globo. Em alguns anos a represa havia estourado. Instantaneamente, parecia, os fãs começaram ripar músicas de CDs para trocas com desconhecidos e os pequenos artistas e empresários começaram a tentar descobrir como transformar mp3 em algo lucrativo. A indústria fonográfica inicialmente viu o mp3 também como uma oportunidade. O diretor de tecnologia da Geffen Records disse ao USA Today em 1997: a Geffen “não vê MPEG como um problema. Nós gostamos de tudo o que aumenta a capacidade dos consumidores de ouvir música de alta qualidade e se isso significa em seu computador, tudo bem. Estamos trabalhando em maneiras de programar e fornecer produtos nesse formato porque os consumidores estão deixando claro que este é um formato de que eles gostam“.
Nem precisa dizer que eles falharam. Por volta de 2003, as coisas tinham chegado ao nível de o senador conservador Orrin Hatch esbravejar contra empresas de tecnologia em audiências do Comitê Judiciário do Senado americano considerando a possibilidade de “advertir” os infratores de copyright, e em seguida – isso não é mentira – destruir seus computadores. “Se essa é a única forma“, disse Hatch, “então sou a favor de destruir suas máquinas. Se você tiver algumas centenas de milhares desses, eu acho que as pessoas perceberiam a gravidade dos seus atos“. Em 1997 os mp3s estavam desorganizados e difíceis de encontrar online, sem contar a dificuldade de baixar arquivos através de uma conexão de linha telefônica. Em 2003 eles estavam por toda parte e impossíveis de serem parados. Em uma virada irônica, as redes peer-to-peer de compartilhamento pelas quais os mp3s começaram a circular eram uma re-engenharia básica de um modelo desenvolvido por uma razão totalmente diferente, se não para uma função semelhante. Originada durante a Segunda Guerra Mundial para melhorar o fluxo de trabalho e fugir da lentidão burocrática entre universidades e agências governamentais, a internet cresceu gradualmente para facilitar a discussão orientada entre comunidades, se tornando finalmente disponivel para todos nos anos 90. Até o final dessa década, essas mesmas idéias encontraram o seu caminho na música online, através de um calouro antenado e cabulador de aula do nordeste americano. Shawn Fanning era um cara difícil, mas o que ele instigou com o Napster na virada do século - ainda mais importante do que os outros fizeram com a sua idéia desde então – foi a inovação mais relevante na distribuição de música desde a gravação em 45 rpm.
Num sentido mais amplo, mp3s preenchem uma função semelhante de distribuição para a era da Internet, que a convergência de compactos de 45 rpm, as vitrolas automaticas e rádio AM fizeram nas décadas de 1940 e 50. Este processo anterior foi colocado em movimento em 1939, quando a ASCAP, organização de licenciamento, não conseguiu chegar a um acordo de royalties com as redes de rádio. Como resultado, os executivos de rádio se uniram para formar a rival BMI e começaram a vasculhar o interior do país procurando por novos talentos. Os caipiras e cantores de blues que eles encontraram foram gravados em estúdios precarios utilizando-se de novos meios e maneiras mais simples de gravação, estampados em discos mais baratos e resistentes que a RCA havia acabado de patentear e divulgados no país todo por meio das vitrolas automaticas e pela programação noturna das radios. Ah, e ao longo do caminho, eles inventaram o rock’n'roll.
A semelhança entre as duas tecnologias e seus efeitos sobre as indústrias são claros: os discos de 45 rpm, os compactos, também eram exemplares individuais de música gravada feitos para fluir através de uma rede mais rapidamente que seus antecessores (os discos de 78 rotações, que os 45 rpm substituíram, eram caros e frágeis). Alem disso, esses discos pequenos também se basearam na música independente para a criação de um novo mercado de música, expansivel, ao alcance dos jovens, o que causou um abalo no mercado das grandes gravadoras. Quando nós pensamos sobre o que mp3s causaram para a versão atual da indústria fonográfica, devemos compará-lo ao que as independentes e 45s fizeram meio século atrás: em 1948, as grandes gravadoras controlavam espantosos 81% do mercado. Em 1959, o número caiu para 34%. Parte da razão pela qual os Beatles tinham as cinco primeiras músicas na parada da Billboard em abril de 1964? Aqueles compactos foram lançadas nos EUA em quatro diferentes selos – Capitol, uma grande gravadora, mas também nos selos independentes Swan, Tollie e Vee-Jay.
Há muitas semelhanças entre discos compactos e mp3, mas é claro que, em termos de relações de poder, investimentos monetários e a grande quantidade de músicas disponíveis como resultado, mp3s são uma coisa muito diferente. Ao mesmo tempo que os compactos ameaçavam o domínio das grandes gravadoras, eles também foram criados dentro do mesmo setor (em uma corrida de patentes entre RCA e Columbia) e, em seguida, foram incorporadas por ela para servir como seu próprio sangue. Como resultado, em vez de se desintegrar, as grandes emergiram como uma força ainda mais poderosa na década de 1960. O mp3, por outro lado, multiplicou-se fora do controle dessa indústria após ter sido arrancado do CD, um formato criado em parte para fazer a música parecer ser um item de luxo, dar um novo sentido aos antigos catálogos e revitalizar uma indústria desarvorada. Junto com as redes de compartilhamento, o mp3 rapidamente fez com que a cópia e distribuição de músicas se tornassem baratas e rápidas, mas transformou algo que costumava ser um processo industrial e distante em uma coisa acessível e fácil que qualquer pessoa poderia fazer. Em outras palavras, não é nada surpreendente que uma indústria sustentável de música independente tenha tomado forma ao lado do mp3. Olhando para trás, é impensável que as coisas pudessem ter acontecido de qualquer outra maneira.
#CADÊ MEU CHINELO?
terça-feira, 29 de setembro de 2009
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