#CADÊ MEU CHINELO?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

[mandachuva] ABRE O PONCHO DESTA ALMA

 

:: txt :: Tiago Jucá ::

A morte de um artista, às vezes, me faz revisitar sua obra e procurar entender um pouco mais sobre o ser humano que habitava aquela pele e tentar compreender o legado cultural deixado ao mundo. Foi assim com uns que eu era mega fã, tipo Lou Reed, Michael Jackson e David Bowie. E muitas recordações de atmosferas passadas vinham à tona, embaladas ao som das caixas.
 
Outros artistas revisito com eles ainda vivos. Odair José e Reginaldo Rossi são uns dos exemplos de eu voltar a ouvir algo que antigamente não dava muita orelha. E acabo por me dar conta de suas respectivas genialidades e da crucial importância deles para o cancioneiro popular.
 
Dou graças aos meus pais pelo meu apreço musical desde piá. Não era toda casa que tinha toca-discos e toca-fitas nos anos 80. Nem sempre por questão financeira, muito por desapreço cultural mesmo. E nossa humilde residência tinha dezenas de LPs para acompanhar cervejadas e churrascadas aos amigos que nos visitavam.
 
No crescer das pernas fui "confiscando" alguns vinis pra mim, somando à minha emergente coleção iniciada com Plunct-plact-zum. Um deles, uma coletânea com grandes sucessos de Jorge Ben, foi morar comigo em Porto Alegre depois de adulto. No apartamento no qual morei com dois amigos no Partenon, começo dos anos 90, um dia coloquei o babulina pra tocar. Jorge já era Ben Jor e havia caído num relativo ostracismo desde o boom do rock nacional oitentista. Ambos piraram com aquela guitarra swingada e com a sequência interminável de hits. Pouco tempo depois Jorge reaparecia com o político WBrasil e caíria novamente no gosto popular, com seus antigos sucessos revigorados. Os amigos não cansavam de realçar que o "Tiagão já ouvia antes de virar moda".
 
A recente morte de Telmo de Lima Freitas trouxe-me, primeiramente, esses vagos e remotos flashbacks infantis, de meu pai escutando a bolacha num domingo esfumaçado. Porém, há porém, o resgate das letras do xiru missioneiro me tem causado um despertar de angústias perante o atual e talibânico quadro político sanitário brasileiro. Me sinto um plebeu em plena idade média, com todo aquele obscurantismo científico cercado de pragas contagiantes e, surrealmente, desgovernado por um déspota fascista. O cheiro da fumaça parece de bruxas sendo queimadas pelo santo inquisitor.
 
Na avenida paralela à minha rua, a sirene da ambulância ecoa de hora em hora, transportando memórias passadas pra tentar salvar sonhos futuros. Não há nenhuma esperança de um iluminismo no fim da curva. E o verão fica cada vez mais gelado. Como diria Telmo, "abre o poncho desta alma, prenda minha, que eu preciso me abrigar, se o inferno for intenso, como eu penso, muito frio eu vou passar".

[noé ae] O DILÚVIO ETERNO


 

A revista O DILÚVIO circulou durante uns 7 anos, período que foram impressas 16 edições e distribuídas pelo Brasil. Tive a honra de ser o editor manda-chuva nesse tempo, levando cultura à leitura de milhares de olhos. E, apesar de seu fim em 2009, deixou um legado importante para o jornalismo underground.

Hoje recebi a notícia que um projeto com o objetivo de digitalizar o conteúdo de todas edições e disponibilizá-lo virtualmente num site, deixando a obra ao acesso do mundo para pesquisa, foi contemplado pela Lei Aldir Blanc e Fundação Marcopolo para realizar esse sonho, eternizando ao livre conhecimento da sociedade.

Ao longo dessa jornada, muita gente qualificada contribuiu para o sucesso da revista, e fica difícil listar todos aqui pra agradecer pela trajetória dO DILÚVIO. Mas, neste momento, deixo o muitíssimo obrigado ao Bacana @fernandobacanagomes pela ideia do projeto e à sua concretização. Dentre os mais de 6.500 projetos apresentados, ficamos entre os 106 aprovados e classificados, na posição 49, o que comprova a importância de sua história.

O DILÚVIO, a revista que não chove no molhado... foi tanta água que meu boi nadou.

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