#CADÊ MEU CHINELO?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

TOP 10 AGOSTO 2009




10 termos mais pesquisados na internet e que chegaram até aqui pro blog

1. Foder
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10 músicas mais ouvidas em O DILÚVIO Space Radio

1. Lucas Santtana - Super Violão Mashup
2. Lily Allen - Not Fair
3. Echo Sound System - Do Nada
4. Instituto Mexicano del Sonido - Sinfonia Agridulce
5. Cibelle vs Koçani Orkestar - Maxutu
6. Metamix - Three Bikinis on the Rocks
Michael Jackson vs. Ratatat - Billie Wildcat Jean
7. Mcsleazy - it's gigantic (Pixies vs Run DMC)
8. Michael Jackson n Olodum - They Dont Care About Us
9. Slumdog millionaire - Jai Ho
10. The Prodigy - Omen



10 páginas mais visitadas aqui neste blog


1. Putas a foder
2. TOP 10 Julho 2009
3. Little Joy
4. Marcelo Nova
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7. Jornalismo é arte
8. Revival do vinil ?
9. Sobrado 112
10. São José dos Ausentes


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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

PETROSSÁLVIA



# mandachuva #
Fundo do Poço

txt: Tiago Jucá Oliveira

O petróleo da camanda pré-sal tem uma concentração de gás carbônico de três a quatro vezes maior que o normal. Essa parece ser a cara da sapocracia: discurso ético e crescimento econômico constrastados com o velho coronelismo e antigas práticas nada sustentáveis ao ambiente para manter a tal governabilidade.

A política da pasta de Minas e Energia, desde os tempos da presidenciável Dilma Roussef e agora com Edison Lobão, manteve o padrão energético das grandes represas, em constante conflito com a então Ministra Marina Silva, do Meio Ambiente. A rivalidade entre Dilma e Marina, antes na Esplanada, agora nas urnas, é antiga.
A bipolarição do detabe ecológico nas eleições de 2010 gira em torno da aceleração do crescimento em detrimento da natureza.

Se Marina realmente teria poder de dar uma luz natural na política ambiental deste país, não acredito muito, mas o governo Lula já mostrou o suficiente que precisamos crescer, custe o que custar. Dizem por aí que o petróleo é nosso. Pelo alta percentagem de impostos que batizam cada litro de gasolina, não acredito muito na frase anterior.

Para nós, na real, sobra o peso de sustentar a cara burocracia estatal, ostentada nos carrões que mais bebem gasolina do mercado e peidam gás carbônico no seu pulmão diarimente. Lula diz que nossos filhos vão herdar um outro futuro. Com mais luxo e/ou lixo? Ah, isso depende do cargo que você ocupa na petrossálvia.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

RODAMUNDO



# espeto #
Música de fé

txt n' ntrvst: Marcelo Cabral

Os paulistanos do Rodamundo fazem uma música fácil de gostar e difícil de classificar, duas grandes qualidades. Com essa liberdade de composição, o quinteto trabalha pesado para mostrar seu som de arranjos instrumentais minuciosamente elaborados que abrem caminho para a belíssima voz da cantora Karina Kaufman, em canções cristalinas como “A Busca” ou a forte “Samba de Fé”, novo single do grupo. O primeiro registro da banda, homônimo, apresenta cinco músicas com ótima produção.

Destaque no site Oi Novo Som, vencedores do Festival Mente Aberta de música brasileira, a banda mantêm sua agenda lotada. Entre ensaios, shows e gravações, o estiloso guitarrista Felipe Mancini arrumou um tempinho pra conceder essa entrevista. Sujeito extremamente agradável e talentoso, diga-se de passagem. Segue nossa prosa abaixo.

Quanto tempo de som juntos? Tem uma dissidência do Anjo dos Becos no grupo (o baterista Rafael Cação e o baixista Rodrigo Clemente). E o restante de vocês, como chegou a se reunir?

A banda começou a se juntar pra compor em 2005. Na verdade tocamos juntos como banda de apoio de um compositor aqui de São Paulo, essa banda anterior se chamava Maomedes e não existe mais. A Karina inclusive era backing vocal. Rolou uma certa turbulência na relação, e decidimos seguir nossos próprios caminhos, sem a presença desse compositor. Logo em seguida o George (Domingos, percussionista) entrou e essa é a formação que temos até hoje.

De lá pra cá vocês conseguiram uma boa repercussão com o trabalho, como ser a banda vencedora do Festival Mente Aberta. Que outros retornos positivos vocês receberam até aqui?

Em meados de 2007 ganhamos o Festival. Mandamos um vídeo de ensaio da música "Teu Cais" gravado com apenas uma câmera. Fomos avaliados por um júri composto por nomes de peso, como o Miranda, O Lúcio Maia e o Tom Zé. Ficamos entre os 12 finalistas e por escolha popular em três eliminatórias, acabamos vencedores. No ano seguinte passamos via edital para uma seqüência de sete apresentações no interior de São Paulo. Além de tocarmos em vários lugares importantes como Sesc , por exemplo, entre outros pontos da cidade de São Paulo, como Centro Cultural de São Paulo, e outros espaços culturais.

O primeiro disco foi a premiação do festival certo? Vocês estão gravando material inédito? Quando teremos um novo disco do Rodamundo?

Sim, o primeiro disco foi a premiação do festival. As músicas desse primeiro trabalho estão boas, gravadas no estúdio da Trama e produzidas por Ricardo Zoyo, um ótimo músico e uma pessoa muito sensitiva. Temos muito respeito e carinho pelo resultado desse trabalho. Temos planos de gravar um novo álbum. Estamos pesquisando várias formas de fazer isso. Hoje a banda é mais madura do que em 2007. Queremos mostrar isso. Estamos trabalhando um single que está em mixagem e deve ser finalizado em breve. Se chama “Samba de Fé”.

Recentemente vocês foram destaque no site Oi Novo Som. Sempre vejo notícias de shows, recebo emails com informações sobre a agenda da banda. Vocês estão trabalhando bastante certo? Inclusive, deixando outros trabalhos em outras áreas para se dedicarem exclusivamente a música. É por aí o caminho?

Sim. A gente está como banda que a Oi Novo Som e a Rádio Oi estão apostando. Fizemos FNAC Pinheiros essa semana e dia 09/09 teremos a FNAC Paulista. Já tocamos também no Festival de Inverno de Campos de Jordão no stand da Oi. E em outubro faremos o programa Showlivre, e algumas possibilidades interessantes ainda não completamente concretizadas.

Hoje em dia mais da metade da banda trabalha com música em tempo integral. E mesmo os que ainda mantêm seus empregos ajudam muito. Aproveitamos as profissões que tínhamos para trabalhar a favor da banda. Muitos de nós temos formação de comunicadores. O Rodamundo tem uma equipe muito boa que nada mais é que seus próprios integrantes!

Com tanta coisa acontecendo, quais os planos daqui pra frente?
O plano é tocar. Estar sempre fazendo o que gostamos. Estar nos palcos, conseguir gravar, compor e aparecer para as pessoas de uma forma honesta e justa. Temos amor e respeito pela música e sabemos que trabalhando as coisas acontecem ...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

FREE CAR

# agência pirata #
Fiat promove carro colaborativo licenciado em Creative Commons
txt: Fiat CC

Na era da tecnologia digital e da internet, uma das palavras-chave é "colaboração". E, no futuro, até os carros serão fruto da interação com o consumidor. Pensando nisso, foi lançado o Projeto Fiat Mio, que busca lançar um carro-conceito a partir das ideias enviadas pelos usuários.
O projeto utilizará as licenças Creative Commons, que permitem padronizar a criação e distribuição de conteúdos livres, facilitando o compartilhamento de dados. O mesmo será feito com o conteúdo disponibilizado pelos usuários, que será inteiramente livre.

O carro-conceito será apresentado no Salão Internacional do Automóvel em 2010. Para fazer as suas contribuições, basta acessar o site do projeto (fiat.cc)-, que a partir de hoje se transforma numa ferramenta colaborativa.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O DILÚVIO em FORTALEZA

# noé ae?! #
Uma semana super produtiva

txt: Tiago Jucá Oliveira


Cágados e pombas:
vocês devem ter notado que estamos sem conteúdos novos produzidos por nossa equipe, e mesmos assim os textos livres reproduzidos estão entrando com atraso. O DILÚVIO está neste momento na linda capital cearense, em constante produção jornalística que você terá o prazer de ler, ouvir e assistir.

Durante quatro dias, entre 19 e 22 deste mês, produzimos uma oficina de Radio Web Livre para a Feira da Música 2009. E uma boa parte do material produzido já está no ar na Rádio da Feira, e assim que voltarmos a Porto Alegre, vamos acelerar esse processo. Infeizmente temos pouco acesso a internet, que pra piorar é super lenta.

Entre as entrevistas, vídeos e fotos que estão ou não no ar, há material inédito com diversos artistas: Alessandra Leão, Black Sonora, Mestre Galo Preto, Academia da Berlinda, Músicas Intermináveis Para Viagem, Erika Machado, Soatá, Costa a Costa, Isaac Cândido, Sambahempclube, Babilak Bah, Floresta Sonora, Validuaté, Fulô da Aurora, etc.

Seguimos em terras Alencares pra cobrir a turnê da banda argentina Los Cocineros, que se apresenta esta semana em três diferentes locais em Fortaleza. Arriégua mach, arriba la cociña!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CULTURA DIGITAL

# agência pirata #
Rede social para a cultura digital do Brasil


txt: Leonardo Foletto

Foi amplamente divulgado no fim do mês passado a criação da rede social Cultura Digital, lançada pelo Ministério da Cultura com o objetivo de ser um “espaço público e aberto voltado para a formulação e a construção democrática de uma política pública de cultura digital, integrando cidadãos e insituições governamentais, estatais, da sociedade civil e do mercado“.

É uma rede social que funciona como outras tantas que hoje todos nós conhecemos, com diversas pessoas participando de tópicos, anunciando eventos, sendo “amigas umas das outras”. Mas o foco aqui é a discussão e a reflexão das diversas temáticas presentes no guarda-chuva cultura digital, especialmente para fins de efetiva elaboração de políticas públicas nesta área – que, por sinal, há anos vem merecendo um especial destaque do MinC através de iniciativas de pessoas como José Murilo Jr, gerente de informações estratégicas do ministério, coordenador do Cultura Digital e também editor do blog Ecologia Digital.

O lançamento oficial foi feito no último dia de julho, 31, uma sexta-feira. Nestes quase um mês de funcionamento, mais de 1000 pessoas já adentraram o espaço virtual, alguns já participando dos cerca de 20 tópicos presentes, outros descobrindo o novo mundo que o Cultura Digital abre para quem quer discutir ou conhecer mais sobre o tema.

Dentre os cerca de 20 grupos já criados, destaco três que particularmente interessem ao BaixaCultura e a quem vos escreve. Mas saliento que tem grupo para todos os gostos e interesses

_ Jornalismo colaborativo na web;

Administrado por Nanni Rios, jornalista gaúcha editora do Jornal de Debates, colunista de Cultura Digital do portal Artistas Gaúchos e idealizadora do portal colaborativo sobre artes e cultura Parangolé. Tem por enquanto 44 membros, e uma das principais discussões atuais é com relação a qual seria o modelo de negócios a ser utilizado nas agências de fotografia na era da imagem digital, livre e compartilhada.

_ Generosidade Intelectual;

Tem 139 membros e é administrado por Bruno Tarin Nascimento, que, dentre outras coisas, foi bolsita do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação na função de Articulador Regional RJ/ES da Ação Cultura Digital do MinC e coordenador da área de audiovisual do Ponto de Cultura Circo Voador. Ainda não teve tópicos para debate, mas há um interessante artigo postado na página do grupo que fala da aplicação dos sistemas wiki em ambientes corporativos e educacionais.

_ Comunicação Digital;

É adminisitrado pelo jornalista André Deak, referência na área de reportagem multimídia, e também colega de Reuben no Mestrado em Comunicação da ECA/USP. Conta com 244 membros e já tem até blog, que funciona como um apêndice para as discussões no grupo. Os eixos para o debate no grupo são:

_ delimitação do campo: o que é comunicação digital?
_ diagnósticos: quais são os problemas? quais as perguntas que precisamos fazer?
_ formulações e propostas: quais políticas públicas devem existir? que ações este grupo deveria tomar? quais pressões deveríamos fazer?

**

Em Novembro, será realizado um primeiro Fórum Fórum da Cultura Digital Brasileira, na Cinemateca, em São Paulo, em data ainda indefinida (provavelmente na segunda quinzena, segundo Andre Deak). Será a oportunidade de dar encaminhamentos concretos para algumas das questões discutidas na rede.

A propósito: mesmo se você não tenha de imediato o que contribuir para o debate, entre lá no Cultura Digital e registre-se; a rede é um bom local para se informar e aprender sobre o que anda se discutindo nesta área. Fuçe pelos grupos, pelos blogs (quando você se registra, ganha também um espaço para criar um blog dentro da rede), pelo perfil das pessoas que lá estão, e participe.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

BISPO GÊ




# agência pirata #
Bispo Gê desiste de copiar o modelo francês de perseguição aos compartilhadores

txt: Aralece Torres

Bispo Gê, como é mais conhecido o deputado federal Geraldo Tenuta Filho (DEM-SP), pediu essa semana a retirada do seu projeto de proibição do compartilhamento via redes P2P. O Projeto de Lei nº 5.361/2009 pretendia copiar o projeto de lei francês aprovado por Sarkozy em maio deste ano.

Segundo o próprio deputado, o projeto é inviável, não há como controlar o conteúdo compartilhado na rede e nem diferenciar quem lucra com este conteúdo de quem não lucra. Ainda bem que ele chegou a essa conclusão sozinho! Apesar de desistir deste projeto, o Bispo Gê ainda continuará tentando proteger os direitos autorais dos pequenos artistas. Ele enviará um outro projeto que vise combater a pirataria, os que se beneficiam financeiramente dos outros, como ele diz.

É, o deputado até que foi sensato ao retirar este primeiro projeto de proibição do P2P, mas parece que vai, de novo, se iludir com a possibilidade de combater uma coisa tão forte quanto a pirataria. A questão da pirataria está vinculada primeiro com os preços abusivos de cd’s e dvd’s originais, o que faz o pessoal optar por uma alternativa para ter acesso às músicas e aos filmes que gostam e depois (por quê não?) ao “jeitinho brasileiro” de sempre querer se dar bem.

Aos que se interessarem, segue abaixo a entrevista dada pelo Bispo Gê à INFO:

INFO Online: A que se deve o pedido de retirada do projeto?

BISPO GÊ: A ideia do projeto era proteger aqueles que fazem o conteúdo. Não as grandes empresas, grandes cineastas, nem nada. Mas aquele produtor, que já tem dificuldade de produzir um primeiro disco, um segundo mais ainda. O Brasil já não valoriza tanto a cultura, imagina ainda se é podada por meio da pirataria. Então tinha esse projeto, que foi feito inicialmente na França, e conversando com algumas pessoas achei que seria adequado. Mas depois do projeto, que me envolvi e conheci um pouco mais, vi a impossibilidade de implantá-lo.

Por quê?

Não estamos falando de um provedor. Por exemplo, YouTube é um provedor. Se colocarem uma coisa sua, você vai lá e toma uma atitude. Mas é a rede, porque ao mesmo tempo, por exemplo, em que estou baixando conteúdo por meio do emulador, alguém já está pegando esse mesmo conteúdo e já está linkando, buscando. Me informei bem melhor e vi que não é simplesmente um provedor, mas é toda a rede que passa de um para outro pelo emulador. Então, vi a impossibilidade de conseguir diferenciar quem se aproveita da pirataria em benefício próprio, lucrando com isso, daquele que é um jovem que usa [a internet e o P2P] para ouvir, como era no passado, quando gravávamos da FM pela fita cassete.

No novo projeto, como você pretende diferenciar esses dois grupos: o que se beneficia monetariamente e o jovem que escuta para se entreter?

Nós estamos fazendo uma boa análise para ver se entramos com um projeto que proteja mais o autor do conteúdo do que, propriamente, se envolver na internet. Quero beneficiar aqueles que me procuraram, que de certa forma, são vítimas da pirataria, e quero tentar ajudá-los de alguma outra forma, protegendo-os como autores.

Pela internet, você sofre muitas críticas, principalmente dos jovens que usam as redes P2P e baixam músicas pela internet. Não acha que isso possa prejudicar sua popularidade como político?

Obviamente, nunca é bom. É claro que tenho preocupação com a imagem pública, aquilo que eles têm como impressão minha como deputado. Mas as pessoas que eu procurei proteger são pessoas tidas como heróis do meu meio gospel, da música gospel. No meio evangélico, não sou mal visto. Em termos de preocupação de votação, no meu meio sou muito bem visto, pois todos que se sentem prejudicados com a pirataria vêm me promovendo mais.

Você já baixou algum disco pela internet?

Nunca. Nunca. E estou falando aqui como um bispo.

Nem pagando?

Para você ver, tentei usar algumas vezes e não consegui. Tinha um custo de 99 centavos, mas não consegui.

E quanto ao compartilhamento de músicas por redes sociais, como o orkut, por exemplo, você visa alguma atitude no novo projeto?
Não. Aí já entra em rede de relacionamento, não tem cabimento. É fora do projeto, não temos porque envolver alguém que não se beneficia financeiramente em cima dos outros.

Há uma data prevista de entrega para o novo projeto?

Não. Queremos fazer algo bem estudado para que não prejudique nosso setor, a ideia como eu falei, é proteger os autores. Em quinze dias já teremos alguma resposta para podemos, de alguma outra forma, proteger os direitos autorais.

Pretende pedir auxílio a especialistas?

Procurei algumas entidades de associação de autores para podemos fazer algo em conjunto.

Você tem conversado com gravadoras?

Gravadoras, não. Tenho falado mais com o povo. Por exemplo, como tudo surgiu, com o DJ Alpiste. Eu caminhei com ele desde o início. Para se ter uma ideia, nós tínhamos um programa de rádio e ele trabalhava como DJ no começo. Depois conseguiu ser respeitado no meio gospel, só que ele é muito prejudicado pela pirataria. Ele me procurou e conversando com outros do meio notei esta problemática. Não é como muitos interpretam que estamos defendendo as grandes gravadoras. Nosso foco é o pequeno artista que pensa em se tornar grande, mas a pirataria, infelizmente, impede, inibe e rouba aquilo que é o futuro. Por isso que solicitei para que o projeto fosse desenvolvido, aí colocaram isso [que estaria favorecendo as gravadoras] e até sem eu ter tanto conhecimento como poderia do P2P. Depois, analisando bem, vi que é impraticável.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O MACHETE

# domínio público

Publicado originalmente em Jornal das Famílias, 1878.
txt: Machado de Assis


Inácio Ramos contava apenas dez anos quando manifestou decidida vocação musical. Seu pai, músico da imperial capela, ensinou-lhe os primeiros rudimentos da sua arte, de envolta com os da gramática de que pouco sabia. Era um pobre artista cujo único mérito estava na voz de tenor e na arte com que executava a música sacra. Inácio, conseguintemente, aprendeu melhor a música do que a língua, e aos quinze anos sabia mais dos bemóis que dos verbos. Ainda assim sabia quanto bastava para ler a história da música e dos grandes mestres. A leitura seduziu-o ainda mais; atirou-se o rapaz com todas as forças da alma à arte do seu coração, e ficou dentro de pouco tempo um rabequista de primeira categoria.

A rabeca foi o primeiro instrumento escolhido por ele, como o que melhor podia corresponder às sensações de sua alma. Não o satisfazia, entretanto, e ele sonhava alguma coisa melhor. Um dia veio ao Rio de Janeiro um velho alemão, que arrebatou o público tocando violoncelo. Inácio foi ouvi-lo. Seu entusiasmo foi imenso; não somente a alma do artista comunicava com a sua como lhe dera a chave do segredo que ele procurara.

Inácio nascera para o violoncelo.

Daquele dia em diante, o violoncelo foi o sonho do artista fluminense. Aproveitando a passagem do artista germânico, Inácio recebeu dele algumas lições, que mais tarde aproveitou quando, mediante economias de longo tempo, conseguiu possuir o sonhado instrumento.

Já a esse tempo seu pai era morto. — Restava-lhe sua mãe, boa e santa senhora, cuja alma parecia superior à condição em que nascera, tão elevada tinha a concepção do belo. Inácio contava vinte anos, uma figura artística, uns olhos cheios de vida e de futuro. Vivia de algumas lições que dava e de alguns meios que lhe advinham das circunstâncias, tocando ora num teatro, ora num salão, ora numa igreja. Restavam-lhe algumas horas, que ele empregava ao estudo do violoncelo.

Havia no violoncelo uma poesia austera e pura, uma feição melancólica e severa que casavam com a alma de Inácio Ramos. A rabeca, que ele ainda amava como o primeiro veículo de seus sentimentos de artista, não lhe inspirava mais o entusiasmo antigo. Passara a ser um simples meio de vida; não a tocava com a alma, mas com as mãos; não era a sua arte, mas o seu ofício. O violoncelo sim; para esse guardava Inácio as melhores das suas aspirações íntimas, os sentimentos mais puros, a imaginação, o fervor, o entusiasmo. Tocava a rabeca para os outros, o violoncelo para si, quando muito para sua velha mãe.

Moravam ambos em lugar afastado, em um dos recantos da cidade, alheios à sociedade que os cercava e que os não entendia. Nas horas de lazer, tratava Inácio do querido instrumento e fazia vibrar todas as cordas do coração, derramando as suas harmonias interiores, e fazendo chorar a boa velha de melancolia e gosto, que ambos estes sentimentos lhe inspirava a música do filho. Os serões caseiros quando Inácio não tinha de cumprir nenhuma obrigação fora de casa, eram assim passados; sós os dois, com o instrumento e o céu de permeio.

A boa velha adoeceu e morreu. Inácio sentiu o vácuo que lhe ficava na vida. Quando o caixão, levado por meia dúzia de artistas seus colegas, saiu da casa, Inácio viu ir ali dentro todo o passado, e presente, e não sabia se também o futuro. Acreditou que o fosse. A noite do enterro foi pouca para o repouso que o corpo lhe pedia depois do profundo abalo; a seguinte porém foi a data da sua primeira composição musical. Escreveu para o violoncelo uma elegia que não seria sublime como perfeição de arte, mas que o era sem dúvida como inspiração pessoal. Compô-la para si; durante dois anos ninguém a ouviu nem sequer soube dela.

A primeira vez que ele troou aquele suspiro fúnebre foi oito dias depois de casado, um dia em que se achava a sós com a mulher, na mesma casa em que morrera sua mãe, na mesma sala em que ambos costumavam passar algumas horas da noite. Era a primeira vez que a mulher o ouvia tocar violoncelo. Ele quis que a lembrança da mãe se casasse àquela revelação que ele fazia à esposa do seu coração: vinculava de algum modo o passado ao presente.

— Toca um pouco de violoncelo, tinha-lhe dito a mulher duas vezes depois do consórcio; tua mãe me dizia que tocavas tão bem!

— Bem, não sei, respondia Inácio; mas tenho satisfação em tocá-lo.

— Pois sim, desejo ouvir-te!

— Por hora, não, deixa-me contemplar-te primeiro.

Ao cabo de oito dias, Inácio satisfez o desejo de Carlotinha. Era de tarde, — uma tarde fria e deliciosa. O artista travou do instrumento, empunhou o arco e as cordas gemeram ao impulso da mão inspirada. Não via a mulher, nem o lugar, nem o instrumento sequer: via a imagem da mãe e embebia-se todo em um mundo de harmonias celestiais. A execução durou vinte minutos. Quando a última nota expirou nas cordas do violoncelo, o braço do artista tombou, não de fadiga, mas porque todo o corpo cedia ao abalo moral que a recordação e a obra lhe produziam.

— Oh! lindo! lindo! exclamou Carlotinha levantando-se e indo ter com o marido.

Inácio estremeceu e olhou pasmado para a mulher. Aquela exclamação de entusiasmo destoara-lhe, em primeiro lugar porque o trecho que acabava de executar não era lindo, como ela dizia, mas severo e melancólico e depois porque, em vez de um aplauso ruidoso, ele preferia ver outro mais consentâneo com a natureza da obra, — duas lágrimas que fossem, — duas, mas exprimidas do coração, como as que naquele momento lhe sulcavam o rosto.

Seu primeiro movimento foi de despeito, — despeito de artista, que nele dominava tudo. Pegou silencioso no instrumento e foi pô-lo a um canto. A moça viu-lhe então as lágrimas; comoveu-se e estendeu-lhe os braços.

Inácio apertou-a ao coração.

Carlotinha sentou-se então, com ele, ao pé da janela, donde viam surdir no céu as primeiras estrelas. Era uma mocinha de dezessete anos, parecendo dezenove, mais baixa que alta, rosto amorenado, olhos negros e travessos. Aqueles olhos, expressão fiel da alma de Carlota, contrastavam com o olhar brando e velado do marido. Os movimentos da moça eram vivos e rápidos, a voz argentina, a palavra fácil e correntia, toda ela uma índole, mundana e jovial. Inácio gostava de ouvi-la e vê-la; amava-a muito, e, além disso, como que precisava às vezes daquela expressão de vida exterior para entregar-se todo às especulações do seu espírito.

Carlota era filha de um negociante de pequena escala, homem que trabalhou a vida toda como um mouro para morrer pobre, porque a pouca fazenda que deixou, mal pôde chegar para satisfazer alguns empenhos. Toda a riqueza da filha era a beleza, que a tinha, ainda que sem poesia nem ideal. Inácio conhecera-a ainda em vida do pai, quando ela ia com este visitar sua velha mãe; mas só a amou deveras, depois que ela ficou órfã e quando a alma lhe pediu um afeto para suprir o que a morte lhe levara.

A moça aceitou com prazer a mão que Inácio lhe oferecia. Casaram-se a aprazimento dos parentes da moça e das pessoas que os conheciam a ambos. O vácuo fora preenchido.

Apesar do episódio acima narrado, os dias, as semanas e os meses correram tecidos de ouro para o esposo artista. Carlotinha era naturalmente faceira e amiga de brilhar; mas contentava-se com pouco, e não se mostrava exigente nem extravagante. As posses de Inácio Ramos eram poucas; ainda assim ele sabia dirigir a vida de modo que nem o necessário lhe faltava nem deixava de satisfazer algum dos desejos mais modestos da moça. A sociedade deles não era certamente dispendiosa nem vivia de ostentação; mas qualquer que seja o centro social há nele exigências a que não podem chegar todas as bolsas. Carlotinha vivera de festas e passatempos; a vida conjugal exigia dela hábitos menos frívolos, e ela soube curvar-se à lei que de coração aceitara.

Demais, que há aí que verdadeiramente resista ao amor? Os dois amavam-se; por maior que fosse o contraste entre a índole de um e outro, ligava-os e irmanava-os o afeto verdadeiro que os aproximara. O primeiro milagre do amor fora a aceitação por parte da moça do famoso violoncelo. Carlotinha não experimentava decerto as sensações que o violoncelo produzia no marido, e estava longe daquela paixão silenciosa e profunda que vinculava Inácio Ramos ao instrumento; mas acostumara-se a ouvi-lo, apreciava-o, e chegara a entendê-lo alguma vez.

A esposa concebeu. No dia em que o marido ouviu esta notícia sentiu um abalo profundo; seu amor cresceu de intensidade.

— Quando o nosso filho nascer, disse ele, eu comporei o meu segundo canto.

— O terceiro será quando eu morrer, não? perguntou a moça com um leve tom de despeito.

— Oh! não digas isso!

Inácio Ramos compreendeu a censura da mulher; recolheu-se durante algumas horas, e trouxe uma composição nova, a segunda que lhe saía da alma, dedicada à esposa. A música entusiasmou Carlotinha, antes por vaidade satisfeita do que porque verdadeiramente a penetrasse. Carlotinha abraçou o marido com todas as forças de que podia dispor, e um beijo foi o prêmio da inspiração. A felicidade de Inácio não podia ser maior; ele tinha tido o que ambicionava: vida de arte, paz e ventura doméstica, e enfim esperanças de paternidade.

— Se for menino, dizia ele à mulher, aprenderá violoncelo; se for menina, aprenderá harpa. São os únicos instrumentos capazes de traduzir as impressões mais sublimes do espírito.

Nasceu um menino. Esta nova criatura deu uma feição nova ao lar doméstico. A felicidade do artista era imensa; sentiu-se com mais força para o trabalho, e ao mesmo tempo como que se lhe apurou a inspiração.

A prometida composição ao nascimento do filho foi realizada e executada, não já entre ele e a mulher, mas em presença de algumas pessoas de amizade. Inácio Ramos recusou a princípio fazê-lo; mas a mulher alcançou dele que repartisse com estranhos aquela nova produção de um talento. Inácio sabia que a sociedade não chegaria talvez a compreendê-lo como ele desejava ser compreendido; todavia cedeu. Se acertara aos seus receios não o soube ele, porque dessa vez, como das outras, não viu ninguém; viu-se e ouviu-se a si próprio, sendo cada nota um eco das harmonias santas e elevadas que a paternidade acordara nele.

A vida correria assim monotonamente bela, e não valeria a pena escrevê-la, a não ser um incidente, ocorrido naquela mesma ocasião.

A casa em que eles moravam era baixa, ainda que assaz larga e airosa. Dois transeuntes, atraídos pelos sons do violoncelo, aproximaram-se das janelas entrefechadas, e ouviram do lado de fora cerca de metade da composição. Um deles, entusiasmado com a composição e a execução, rompeu em aplausos ruidosos quando Inácio acabou, abriu violentamente as portas da janela e curvou-se para dentro gritando.

— Bravo, artista divino!

A exclamação inesperada chamou a atenção dos que estavam na sala; voltaram-se todos os olhos e viram duas figuras de homem, um tranqüilo, outro alvoroçado de prazer. A porta foi aberta aos dois estranhos. O mais entusiasmado deles correu a abraçar o artista.

— Oh! alma de anjo! exclamava ele. Como é que um artista destes está aqui escondido dos olhos do mundo?

O outro personagem fez igualmente cumprimentos de louvor ao mestre do violoncelo; mas, como ficou dito, seus aplausos eram menos entusiásticos; e não era difícil achar a explicação da frieza na vulgaridade de expressão do rosto.

Estes dois personagens assim entrados na sala eram dois amigos que o acaso ali conduzira. Eram ambos estudantes de direito, em férias; o entusiasta, todo arte e literatura, tinha a alma cheia de música alemã e poesia romântica, e era nada menos que um exemplar daquela falange acadêmica fervorosa e moça animada de todas as paixões, sonhos, delírios e efusões da geração moderna; o companheiro era apenas um espírito medíocre, avesso a todas essas coisas, não menos que ao direito que aliás forcejava por meter na cabeça.

Aquele chamava-se Amaral, este Barbosa.

Amaral pediu a Inácio Ramos para lá voltar mais vezes. Voltou; o artista de coração gastava o tempo a ouvir o de profissão fazer falar as cordas do instrumento. Eram cinco pessoas; eles, Barbosa, Carlotinha, e a criança, o futuro violoncelista. Um dia, menos de uma semana depois, Amaral descobriu a Inácio que o seu companheiro era músico.

— Também! exclamou o artista.

— É verdade; mas um pouco menos sublime do que o senhor, acrescentou ele sorrindo.

— Que instrumento toca?

— Adivinhe.

— Talvez piano...

— Não.

— Flauta?

— Qual!

— É instrumento de cordas?

— É.

— Não sendo rabeca... disse Inácio olhando como a esperar uma confirmação.

— Não é rabeca; é machete.

Inácio sorriu; e estas últimas palavras chegaram aos ouvidos de Barbosa, que confirmou a notícia do amigo.

— Deixe estar, disse este baixo a Inácio, que eu o hei de fazer tocar um dia. É outro gênero...

— Quando queira.

Era efetivamente outro gênero, como o leitor facilmente compreenderá. Ali postos os quatro, numa noite da seguinte semana, sentou-se Barbosa no centro da sala, afinou o machete e pôs em execução toda a sua perícia. A perícia era, na verdade, grande; o instrumento é que era pequeno. O que ele tocou não era Weber nem Mozart; era uma cantiga do tempo e da rua, obra de ocasião. Barbosa tocou-a, não dizer com alma, mas com nervos. Todo ele acompanhava a gradação e variações das notas; inclinava-se sobre o instrumento, retesava o corpo, pendia a cabeça ora a um lado, ora a outro, alçava a perna, sorria, derretia os olhos ou fechava-os nos lugares que lhe pareciam patéticos. Ouvi-lo tocar era o menos; vê-lo era o mais. Quem somente o ouvisse não poderia compreendê-lo.

Foi um sucesso, — um sucesso de outro gênero, mas perigoso, porque, tão depressa Barbosa ouviu os cumprimentos de Carlotinha e Inácio, começou segunda execução, e iria a terceira, se Amaral não interviesse, dizendo:

— Agora o violoncelo.

O machete de Barbosa não ficou escondido entre as quatro partes da sala de Inácio Ramos; dentro em pouco era conhecida a forma dele no bairro em que morava o artista, e toda a sociedade deste ansiava por ouvi-lo.
Carlotinha foi a denunciadora; ela achara infinita graça e vida naquela outra música, e não cessava de o elogiar em toda a parte. As famílias do lugar tinham ainda saudades de um célebre machete que ali tocara anos antes o atual subdelegado, cujas funções elevadas não lhe permitiram cultivar a arte. Ouvir o machete de Barbosa era reviver uma página do passado.

— Pois eu farei com que o ouçam, dizia a moça.

Não foi difícil.

Houve dali a pouco reunião em casa de uma família da vizinhança. Barbosa acedeu ao convite que lhe foi feito e lá foi com o seu instrumento. Amaral acompanhou-o.

— Não te lastimes, meu divino artista; dizia ele a Inácio; e ajuda-me no sucesso do machete.

Riam-se os dois, e mais do que eles se ria Barbosa, riso de triunfo e satisfação porque o sucesso não podia ser mais completo.

— Magnífico!

— Bravo!

— Soberbo!

— Bravíssimo!

O machete foi o herói da noite. Carlota repetia às pessoas que a cercavam:

— Não lhes dizia eu? é um portento.

— Realmente, dizia um crítico do lugar, assim nem o Fagundes...

Fagundes era o subdelegado.

Pode-se dizer que Inácio e Amaral foram os únicos alheios ao entusiasmo do machete. Conversavam eles, ao pé de uma janela, dos grandes mestres e das grandes obras da arte.

— Você por que não dá um concerto? perguntou Amaral ao artista.

— Oh! não.

— Por quê?

— Tenho medo...

— Ora, medo!

— Medo de nao agradar...

— Há de agradar por força!

— Além disso, o violoncelo está tão ligado aos sucessos mais íntimos da minha vida, que eu o considero antes como a minha arte doméstica...

Amaral combatia estas objeções de Inácio Ramos; e este fazia-se cada vez mais forte nelas. A conversa foi prolongada, repetiu-se daí a dois dias, até que no fim de uma semana, Inácio deixou-se vencer.

— Você verá, dizia-lhe o estudante, e verá como todo o público vai ficar delirante.

Assentou-se que o concerto seria dali a dois meses. Inácio tocaria uma das peças já compostas por ele, e duas de dois mestres que escolheu dentre as muitas.

Barbosa não foi dos menos entusiastas da idéia do concerto. Ele parecia tomar agora mais interesse nos sucessos do artista, ouvia com prazer, ao menos aparente, os serões de violoncelo, que eram duas vezes por semana. Carlotinha propôs que os serões fossem três; mas Inácio nada concedeu além dos dois. Aquelas noites eram passadas somente em família; e o machete acabava muita vez o que o violoncelo começava. Era uma condescendência para com a dona da casa e o artista! — o artista do machete.

Um dia Amaral olhou Inácio preocupado e triste. Não quis perguntar-lhe nada; mas como a preocupação continuasse nos dias subseqüentes, não se pôde ter e interrogou-o. Inácio respondeu-lhe com evasivas.

— Não, dizia o estudante; você tem alguma coisa que o incomoda certamente.

— Coisa nenhuma!

E depois de um instante de silêncio:

— O que tenho é que estou arrependido do violoncelo; se eu tivesse estudado o machete!

Amaral ouviu admirado estas palavras; depois sorriu e abanou a cabeça. Seu entusiasmo recebera um grande abalo. A que vinha aquele ciúme por causa do efeito diferente que os dois instrumentos tinham produzido? Que rivalidade era aquela entre a arte e o passatempo?

— Não podias ser perfeito, dizia Amaral consigo; tinhas por força um ponto fraco; infelizmente para ti o ponto é ridículo.

Daí em diante os serões foram menos amiudados. A preocupação de Inácio Ramos continuava; Amaral sentia que o seu entusiasmo ia cada vez a menos, o entusiasmo em relação ao homem, porque bastava ouvi-lo tocar para acordarem-se-lhe as primeiras impressões.

A melancolia de Inácio era cada vez maior. Sua mulher só reparou nela quando absolutamente se lhe meteu pelos olhos.

— Que tens? perguntou-lhe Carlotinha.

— Nada, respondia Inácio.

— Aposto que está pensando em alguma composição nova, disse Barbosa que dessas ocasiões estava presente.

— Talvez, respondeu Inácio; penso em fazer uma coisa inteiramente nova; um concerto para violoncelo e machete.

— Por que não? disse Barbosa com simplicidade. Faça isso, e veremos o efeito que há de ser delicioso.

— Eu creio que sim, murmurou Inácio.

Não houve concerto no teatro, como se havia assentado; porque Inácio Ramos de todo se recusou. Acabaram-se as férias e os dois estudantes voltaram para S. Paulo.

— Virei vê-lo daqui a pouco, disse Amaral. Virei até cá somente para ouvi-lo.

Efetivamente vieram os dois, sendo a viagem anunciada por carta de ambos.

Inácio deu a notícia à mulher, que a recebeu com alegria.

— Vêm ficar muitos dias? disse ela.

— Parece que somente três.

— Três!

— É pouco, disse Inácio; mas nas férias que vêm, desejo aprender o machete.

Carlotinha sorriu, mas de um sorriso acanhado, que o marido viu e guardou consigo.

Os dois estudantes foram recebidos como se fossem de casa. Inácio e Carlotinha desfaziam-se em obséquios. Na noite do mesmo dia, houve serão musical; só violoncelo, a instâncias de Amaral, que dizia:

— Não profanemos a arte!

Três dias vinham eles demorar-se, mas não se retiraram no fim deles.

— Vamos daqui a dois dias.

— O melhor é completar a semana, observou Carlotinha.

— Pode ser.

No fim de uma semana, Amaral despediu-se e voltou a S. Paulo; Barbosa não voltou; ficara doente. A doença durou somente dois dias, no fim dos quais ele foi visitar o violoncelista.

— Vai agora? perguntou este.

— Não, disse o acadêmico; recebi uma carta que me obriga a ficar algum tempo.

Carlotinha ouvira alegre a notícia; o rosto de Inácio não tinha nenhuma expressão.

Inácio não quis prosseguir nos serões musicais, apesar de lho pedir algumas vezes Barbosa, e não quis porque, dizia ele, não queria ficar mal com Amaral, do mesmo modo que não quereria ficar mal com Barbosa, se fosse este o ausente.

— Nada impede, porém, concluiu o artista, que ouçamos o seu machete.

Que tempo duraram aqueles serões de machete? Não chegou tal notícia ao conhecimento do escritor destas linhas. O que ele sabe apenas é que o machete deve ser instrumento triste, porque a melancolia de Inácio tornou-se cada vez mais profunda. Seus companheiros nunca o tinham visto imensamente alegre; contudo a diferença entre o que tinha sido e era agora entrava pelos olhos dentro. A mudança manifestava-se até no trajar, que era desleixado, ao contrário do que sempre fora antes. Inácio tinha grandes silêncios, durante os quais era inútil falar-lhe, porque ele a nada respondia, ou respondia sem compreender.

— O violoncelo há de levá-lo ao hospício, dizia um vizinho compadecido e filósofo.

Nas férias seguintes, Amaral foi visitar o seu amigo Inácio, logo no dia seguinte àquele em que desembarcou. Chegou alvoroçado à casa dele; uma preta veio abri-la.

— Onde está ele? Onde está ele? perguntou alegre e em altas vozes o estudante.

A preta desatou a chorar.

Amaral interrogou-a, mas não obtendo resposta, ou obtendo-a intercortada de soluços, correu para o interior da casa com a familiaridade do amigo e a liberdade que lhe dava a ocasião.

Na sala do concerto, que era nos fundos, olhou ele Inácio Ramos, de pé, com o violoncelo nas mãos preparando-se para tocar. Ao pé dele brincava um menino de alguns meses.

Amaral parou sem compreender nada. Inácio não o viu entrar; empunhara o arco e tocou, — tocou como nunca, — uma elegia plangente, que o estudante ouviu com lágrimas nos olhos. A criança, dominada ao que parece pela música, olhava quieta para o instrumento. Durou a cena cerca de vinte minutos.

Quando a música acabou, Amaral correu a Inácio.

— Oh! meu divino artista! exclamou ele.

Inácio apertou-o nos braços; mas logo o deixou e foi sentar-se numa cadeira com os olhos no chão. Amaral nada compreendia; sentia porém que algum abalo moral se dera nele.

— Que tens? disse.

— Nada, respondeu Inácio.

E ergueu-se e tocou de novo o violoncelo. Não acabou porém; no meio de uma arcada, interrompeu a música, e disse a Amaral:

— É bonito, não?

— Sublime! respondeu o outro.

— Não; machete é melhor.

E deixou o violoncelo, e correu a abraçar o filho.

— Sim, meu filho, exclamava ele, hás de aprender machete; machete é muito melhor.

— Mas que há? articulou o estudante.

— Oh! nada, disse Inácio, ela foi-se embora, foi-se com o machete. Não quis o violoncelo, que é grave demais. Tem razão; machete é melhor.

A alma do marido chorava mas os olhos estavam secos. Uma hora depois enlouqueceu.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

BLOGAGEM LIVRE







A elite blogosférica brazuca não gosta de compartilhar seu conteúdo 22Mar09

Por Ricardo Cavallini

Esta semana, depois de ter escutado algumas reclamações de posts copiados, resolvi fazer um levantamento informal sobre a blogosfera brazuca. O resultado me surpreendeu, fazendo coro com as reclamações. A maioria dos blogueiros opta pelo uso do Copyright, licença conhecida pela rigidez com que protege o conteúdo e, justamente por isso, amada pela indústria de entretenimento.

Claro que cada um faz o que quer com sua própria obra. De certa forma, muitos já estão contribuindo colocando sua criação de graça na web. Por isso, este post não é uma crítica a estes blogs, mas uma defesa para qualquer modelo de licença que facilite o compartilhamento.


Não escondo minha preferência pelo Creative Commons (CC). Nem teria como, afinal, meus blogs, textos e livros estão saindo usando esta licença. A licença CC é uma ótima opção, permitindo compartilhar o conteúdo e, caso desejado, exigir crédito, negar a alteração do conteúdo (para evitar distorções) e ainda proibir que alguém use o fruto de seu trabalho para ganhar dinheiro.

Tirando os blogs que fizeram acordos comerciais com portais, cuja negociação seria complicada, não consigo ver o uso do CC afetando o modelo de receita dos blogueiros. Também não acredito que o compartilhamento poderia prejudicar a imagem ou a audiência dos mesmos.

O levantamento feito no dia 20/02, quando o texto foi escrito. Através do Google, usei três listas de “melhores” e “maiores” blogs brasileiros. Visitei mais de 100 blogs, por isso, independente da metodologia ou fidelidade de cada lista, acredito ter conseguido uma boa amostragem do que é considerada a elite blogosférica brasileira. A lista dos blogs abaixo, em ordem alfabética. Ah, e por favor me perdoem se comi alguma bola na pesquisa.

Resultados:

Não permite: 54 (42 %)
Não permite (via termos do portal): 6 (5 %)
Não permite (não diz seus termos): 40 (31 %)
Permite: 28 (22 %)

Visto que a maior parte destes blogs é mantido por pessoas de uma geração que defende o “Share”, o “Free” e até mesmo a pirataria para si mesmos, esta postura seria contraditória como o Neto defendeu?

Acredito que uma boa parte deles faça por desconhecimento. Inclusive alguns que estão usando o Creative Commons, pois uma das reclamações que escutei veio de um blog que usa CC e teve seu conteúdo copiado por outro que indicou autoria, colocou link e ainda não modificou o conteúdo.

Para não deixar o post no vazio, entrevistei meu ilustríssimo amigo Dr. Eduardo Salles Pimenta. Um dos maiores especialistas em direito autoral no Brasil. A entrevista segue abaixo.
1) É possível descrever rapidamente as principais diferenças entre o Copyright e a Lei de Direito Autoral brasileira?


O Copyright é uma expressão inglesa que significa direito de cópia, que está afeto aos direitos patrimoniais. A lei de direitos autorais brasileira segue a diretriz do direito francês: Droit D’auteur, que prevê além dos direito patrimonial o direito moral do autor (este consiste no direito a paternidade, direito de impedir a transformação e requisição de exemplar único para fins de exposição)

2) Se no Brasil o registro da obra é facultativo, podemos entender que mesmo sem qualquer descrição de termo de uso, o conteúdo publicado em sites/blogs estaria protegido pela lei 9.610/98?

O registro realmente é facultativo, conforme disposto no art.18 da lei 9610/98:

Art. 18 A proteção aos direitos de que se trata esta lei independe de registro.

Cabe ressaltar que os conteúdos de sites e blogs são protegidos como obra intelectual. Vejamos no art. 7 e 29 da lei 9610/98:

Art. 7º. São obras intelectuais protegidas as criações do espírito expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como:
I – os textos de obras literárias, artísticas ou cientificas;
(…)
(aqui lembro a proteção do código fonte e a compilação de dados ou outro material que menciona o Decreto n. 1355/94, cujo o conteúdo é o ACORDO SOBRE ASPECTOS DOS DIREITOS DE PROPRIEDADE INTELECTUAL RELACIONADOS AO COMERCIO (ACORDO DE TRIP’s ASSINADO NO ÂMBITO DO GATT), que em Artigo 10: Programas de Computador e Compilações de Dados
1. Programas de computador, em código fonte ou objeto, serão protegidos como obras literárias pela Convenção de Berna(1971).
2. As compilações de dados ou de outro material, legíveis por máquina ou em outra forma, que em função da seleção ou da disposição de seu conteúdo constituam criações intelectuais, deverão ser protegidas como tal. Essa proteção, que dará sem prejuízo de qualquer direito autoral subsistente nesses dados material.)

§ 1 Os programas de computador são objeto de legislação específica, observadas as disposições desta lei que lhes sejam aplicáveis.
§ 2 A proteção concedida no inciso XIII não abarca os dados ou materiais em si mesmos e se entende sem prejuízo de qualquer direitos autorais que subsistam a respeito dos dados ou materiais contidos nas obras.
(…)

Frisando que o uso é previsto no artigo 29, observado a autorização previa:

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:
I – a reprodução parcial ou integral;
(…)
IX- a inclusão em bancos de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero; (o disco rígido é uma ferramenta de armazenamento)
X – quaisquer outras modalidades de utilização existentes ou que venham a ser inventadas. (aqui se insere a internet)

3) Usar o símbolo © (Copyright) faz alguma diferença prática?

O uso do referido símbolo, indica a reserva de direitos autorais, ou seja demanda autorização. Decerto que por raciocínio lógico, toda criação intelectual demanda autorização prévia, executando aquelas com a indicação do Creative Commons – que também vem indicado.

4) No Brasil, o Creative Commons é levado a sério no mundo jurídico especializado em licenças autorais?

Sim, pois o Creative Commons é uma autorização tácita dada pelo titular de direitos autorais.

5) Se um site/blog usa o Copyright e deixa claro ter todos os direitos reservados, mas também diz usar Creative Commons, outras pessoas podem copiar seu conteúdo?

Podem usar a criação nos limites do Creative Commons indicado, ou seja, para tudo desde não haja restrições especificas e sempre observado os direitos morais do autor.

6) Como a lei entende a cópia não autorizada?

É um ato de PIRATARIA. (termo definido pelo Decreto nº 5.244, de 14 de outubro de 2004, que disposto no:

Art 1º O Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual, órgão colegiado consultivo, integrante da estrutura básica do Ministério da Justiça, tem por finalidade elaborar as diretrizes para a formulação e proposição de plano nacional para o combate à pirataria, à sonegação fiscal dela decorrente e aos delitos contra a propriedade intelectual.

Parágrafo único. Entende-se por pirataria, para os fins deste Decreto, a violação aos direitos autorais de que tratam as Leis nºs 9.609 e 9.610, ambas de 19 de fevereiro de 1998.)

Art. 5º. Para os efeitos desta lei, considera-se:

(…)
VI- reprodução – a cópia de um ou vários exemplares de uma obra literária, artística ou científica, ou de um fonograma, de qualquer forma tangível, incluindo qualquer armazenamento permanente ou temporário por meios eletrônicos ou qualquer outro meio de fixação que venha a ser desenvolvido;
(…)
VIII- obra:
(…)
g) derivada – a que, constituindo criação intelectual nova, resulta da transformação de obra:

7) Se o blogueiro filma os amigos dançando uma coreografia qualquer, mas usando música que não tem direito autoral nem autorização de uso?

Se faz a exibição publica sem a autorização é ato de Pirataria.

8)Se o blogueiro faz uma fotonovela de humor, usando fotografias que não tem direito autoral nem autorização de uso, criando uma historinha via frases em balões (tipo historia em quadrinhos)?

Idem.

9) Se o blogueiro criar um novo conteúdo, mas usando como base um conteúdo que não tinha direito, apesar de estar cometendo o ato de pirataria, ele teria direito sobre o novo conteúdo?

Esta nova obra é classificada como obra derivada. Ela pode ser uma obra fruto de pirataria, porem é violação que só pode ser reivindicada pelo titular de direitos autorais da obra anterior, na qual a obra derivada se baseou. Algo muito difícil na internet.
Sobre a titularidade da obra derivada o autor é titular sobre os direitos autorais dela (direito sobre o novo conteúdo) e brigar com usá-la sem autorização.

10) O avanço trazido pela Internet e outras tecnologias tornou a legislação brasileira obsoleta?

Não posto que a lei prevê a forma intangível no seu art. 7, e o diversos uso no art. 29 de forma exemplificativa, portanto é uma lei de princípios estando atual

11) Qual a leitura recomenda para os leigos que gostariam de se aprofundar no assunto?

O livro Princípios de Direitos Autorais – Livro I : Um século de proteção autoral no Brasil de 1898-1998, ed. Lumen Juris – Rio – 2004.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

RADIO WEB LIVRE

# feira da música #
Oficina Radio Web Livre - Fortaleza, 19 a 22 de agosto de 2009

Instrutor: Tiago Jucá Oliveira (twitter.com/omandachuva)

O TAMBOR TRIBAL

O rádio é o meio de comunicação que mais se parece com o ser humano, pelo menos em um aspecto. Ele reproduz nossa voz, e para ser captado, basta um ou dois ouvidos. Não é necessária a decodificação do alfabeto escrito. Ele não exclui os analfabetos, cegos, crianças. Até mesmo os animais, que não entendem a mensagem da fala, são submetidos aos sons musicais pra relaxar e produzir mais leite, ovos e carne mais macia.

Ao contrário da escrita, que só pode ser lida individualmente e por quem compreende o alfabeto, o rádio inclui as pessoas, de acordo com o volume selecionado. Um aparelho ligado com volume alto, dentro de uma favela, por exemplo, pode ser ouvido por centenas de pessoas ao mesmo tempo. Se várias pessoas fizerem o mesmo em locais com densidade populacional, o rádio tem alcance ilimitado e incalculável. Como bem lembra Marshall Mcluhan, em Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem, “o rádio não é apenas um poderoso ressuscitador de animosidades, forças e memórias arcaicas, mas também uma força descentralizadora e pluralística”.

E também é importante lembrar que você pode ser um receptor das mensagens do rádio sem dar exclusiva atenção a ele como você daria a um livro ou a um programa de televisão. Ouve-se rádio enquanto você cozinha, toma banho, namora, pedala uma bicicleta, lê um livro, trabalha, estuda e até mesmo de olhos fechados, no esperar do sono. É esse fabuloso poder do rádio que faz com que Macluhan diga que o meio é a mensagem, ou seja, não é aquilo que é dito na rádio que o faz poderoso, e sim o seu formato, uma extensão humana dos ouvidos e da fala, e uma extensão social da imaginação coletiva. Segundo Mcluhan, “a famosa emissão de Orson Welles sobre a invasão marciana não passou de uma pequena mostra do escopo todo-inclusivo e todo-envolvente da imagem auditiva do rádio. Foi Hitler quem deu ao rádio o real tratamento wellesiano”.

2.0

No Brasil, há alguns problemas graves em relação à concessão pública de rádio. Primeiro que é preciso ter costas super quentes pra conseguir outorga que autorize o funcionamento de uma emissora. Segundo porque há várias outorgas vencidas, e que deveriam estar fechadas, conforme a lei. E por último, o governo Lula é o que mais fechou rádios comunitárias.

Graças a internet, vislumbra-se alternativas pra não dependência do modelo tradicional de concessão. Se por um lado não há o mesmo alcance, por outro lado existe uma interação nunca vista antes na comunicação. Em vez da programação verticalizada, quem antes era somente ouvinte também passa a ser emissor.

No entanto, o perigo está a vista. Leis e projetos de lei pretendem limitar e punir usuários que violam os direitos autorais de terceiros. Para o sociólogo Sérgio Amadeu, a intenção é outra: “o que está tirando a audiência deles não é o que eles chamam de pirataria, é a diversidade cultural, porque nunca antes nós pudemos produzir tanta cultura como agora na rede. É essa questão que colocam eles em risco”.

CRISE NA INDÚSTRIA INTERMEDIÁRIA

A internet, nas palavras do sociólogo Sérgio Amadeu, “afetou a imprensa e as indústrias fonográfica, cinematográfica e de softwares, com intensidades diferentes”. Ele completa: “a internet colocou em crise todo tipo de intermediação do mundo industrial”. Para Amadeu, o que está em xeque é a “intermediação da mensagem, entre o artista e o público, entre o colaborador e aquilo que ele colabora”.

A sábia decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a obrigatoriedade do diploma de jornalismo, uma exigência criada pelo AI-5 militar para censurar a oposição, é apenas um “detalhe”, diz Amadeu. Mesmo que o artigo 5º inciso IX da constituição seja clara, “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”, a internet já havia dado essa liberdade muito antes. A internet, antes do STF, acabou com a ditadura do diploma e eliminou barreiras geo-jurídicas. Que lei nacional poderá impedir uma reportagem hospedada num site ou blog estrangeiro? Seria algo tipo a Ordem dos Músicos do Brasil exigir que artistas como a M.I.A. ou a Amy Winehouse tenha carteirinha pra cantar.

O jornalismo tradicional, feito em redações, perdeu a exclusividade. O advogado Ronaldo Lemos acredita que a internet, “em toda a sua diversidade e complexidade, estabelece um canal direto muito mais rápido para a produção de notícias. Cada vez mais, ela terá impacto mais direto na esfera pública”. Um notável exemplo disso é o povo iraniano, que está a desmascarar a versão intermediária da imprensa oficial. Através de imagens feitas por amadores e colocadas no Youtube, o mundo pode assistir a cruel repressão por parte do governo do Irã. Como bem observa Sérgio Amadeu, “você pode, num governo autoritário ou numa situação difícil como a do Irã, colocar toda imprensa sobre controle, mas não vai colocar a rede sobre controle”.

No ponto de vista de Lemos, “a criação de notícias, antes privilégio da mídia tradicional, tornou-se e irá se tornar cada vez mais descentralizada, valendo-se de Twitter, Facebook, Youtube, blogs, celulares e o que vier depois”. Amadeu vai adiante: “inverte-se a idéia de notícia. O jornalista ou repórter que fazia a notícia perde essa condição exclusiva. E isso passa a ser feito pelo cidadão comum, que pode fazer um blog, pode mandar por e-mail uma informação, pode usar um celular pra fotografar, pra filmar. Ou seja, isso cria uma outra situação”, conclui.

LICENÇAS LIVRES E A MULTIPLICAÇÃO DO CONHECIMENTO E DA CULTURA

Se fazer download de arquivos com conteúdo protegido por copyright é ilegal, que alternativa legal podemos buscar e oferecer. A licença Creative Commons é um caminho viável. Através dele, você pode disponibilizar a sua música, o seu blog, a sua foto, o seu livro ou o seu vídeo para que qualquer pessoa tenha acesso gratuito. Também, dependendo da vontade do autor, é possível deixar a obra aberta para que surjam obras derivadas, sem ser preciso a burocrática autorização, pois ela já está pré-autorizada pelo autor. A intenção final desta oficina é que o código da rádio esteja disponível para ser copiada e colada em qualquer site, blog ou rede social, com o objetivo de difundir os artistas que se apresentam no evento e compartilhar as reportagens feita pelos participantes desta mesma oficina.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

LITTLE JOY



# noé ae #
Música para os ouvidos

txt: Tiago Jucá Oliveira
phts n' vds: Fernanda Scur


O início de uma banda sempre é cheio de dificuldades, que no decorrer da carreira são vencidas. No caso do Little Joy, a lógica não é essa. Um trio que tem um membro dos Strokes e o outro do Los Hermanos, inverte-se totalmente a teoria de "começo de banda". Em sua segunda passagem por Porto Alegre, o bar Opinião lotou de novo e entoou as onze faixas do álbum como se fossem velhos clássicos do rock.

Após a abertura de uma bandinha chata, finalmente Little Joy sobe ao palco e levanta o povo com "Next Time Around", seguida por "How to hang a Warhol". Fabrizio Moretti tenta roubar o monopólio da babação por Amarante, mas é Binki Shapiro quem rouba a cena quando assume os vocais em "Unattainable", fazendo lembrar Nico ao lado de Reed e Cale. "Shoulder To Shoulder" é a conhecida canção que precede as inéditas, que o público obviamente (ainda) não sabe decor: "Frankenstyle", "Sambabylon" e "I Agree. Mas com "With Strangers" e "Keep Me in Mind" o trio retoma o controle da massa, que delira, grita, desmaia e urra "Amarante" a cada intervalo entra uma música e outra. Quase no final do curto show, a já clássica "Brand New Start", depois a chatíssima "Evaporar", a bela "Don't Watch Me Dancing" e a surpresa final: "Procissão", de Gilberto Gil, numa pegada rock de tirar o fôlego

Brand New Start (assista ao vídeo abaixo)



Rodrigo Amarante é um ótimo cantor e compositor, mas é o seu jeito carismático que comanda a orquestra de fãs. É verdade que o público se comporta de maneira idiota, beirando ao ridículo. E o curioso é não encontrar nenhum amigo ou conhecido, exceto Rodrigo Susin (percussão da banda Zumbira) e seu amigo Fernando, entre aquelas centenas de meninos e garotas com rótulo emo-patricinha. Será que nós, com mais de 30 anos, não estamos acompanhando o novo rock and roll, e sua constante reformulação? Sob nova ótica: ou os teenagers é que estão super antenados nas novidades, ainda mais com a facilitação da internet?



Pra quem já sepultou o bom e velho rock'n'roll, Little Joy prova que é justamente o contrário. O gênero vive o seu melhor momento. Nunca tivemos tantos artistas e a qualidade musical está mil anos luz a frente. E Little Joy não chega a ser exactamente uma novidade sonora que revolucionou o rock. É de maneira simples, com canções envolventes e deliciosas, que hoje são uma das melhores bandas do planeta. A receita é fácil, difícil é ser um bom cozinheiro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

REVIVAL DO VINIL ?



# agência pirata #
Lado B

txt: Leonardo Foletto


Você, caro cidadão sobrecarregado de informação do século XXI, já deve ter escutado alguma informaçãozinha que seja sobre a onda de revival do disco de vinil, o velho Long Play que muito fez a alegria das (antigas) jovens tardes de domingo e que, com a popularização do CD ali pelo início da década de 1990, passou de produto extremamente popular à artigo de colecionadores, DJs e aficcionados por música em geral. Ouve-se falar seja com saudosismo, recuperando histórias para mostrar o quanto era bom a época em que ninguém nem imaginava o que viria a ser um MP3, seja com entusiasmo, afirmando que o disco de vinil é a redescoberta do universo musical no fim desta década. Os números parecem dar conta de que, sim, há um revival do vinil; só nos Estados Unidos, houve um aumento de 90% da venda de discos entre 2007 e 2008. Em 2007, a receita com a venda de vinil somou US$ 23 milhões, um aumento de 46,2% em relação a 2006, segundo a nossa velha conhecida RIAA. No Brasil, ainda que não existam estatísticas precisas dando conta do fenômeno, presidentes de gravadoras percebem o novo velho mercado como muito promissor, enquanto que, não raro, produtores/jornalistas e o público vêem a questão com uma curiosidade renovada.

Artistas pop, como Pitty, estão gostando da ideia de lançar seus novos álbuns também em vinil, colocando o bolachão no arsenal de formatos de disponibilização de suas músicas (CD, MP3, DVD, LP até pen drive). Mesmo outros mais respeitados do que Pitty – Bruce Springsteen, Radiohead, Elvis Costello, Raconteurs, Cat Power, Los Hermanos, Caetano Veloso, Ed Motta e outros tantos – também adotam o formato como forma de agradar um nicho específico de público, e um nicho que parece crescer tanto não é de ser desprezado por ninguém. Todos estes novos discos, somados às também cada vez mas frequentes reedições de LPs clássicos, formam um espaço em grandes lojas que não se duvide que em pouco tempo seja maior que o dos CDs – se já não o é, como mostra o acervo de mais de 600 discos que a Livraria Cultura têm em suas lojas.

Vendo e analisando todas estas informações e estatísticas, não me canso de pensar que o vinil caiu bem demais no papel (solitário, praticamente) de buscar uma sobrevida para as falidas gravadoras. Leia esta matéria do Globo Online e tente não pensar isso também. Nela, Cris Ashworth, dono da United Record Pressing, uma fábrica de LPs de Nashville que é uma das maiores dos Estados Unidos, fala coisas do tipo: “Meu filho esteve muito preocupado por dez anos. Ele meio que olhava para mim, balançava a cabeça e dizia ‘Pai, você não tem vida’. Agora ele diz ‘Bem, talvez papai seja um pouco mais esperto do que eu pensava“. Outro dono de gravadora, Luke Lewis, presidente do selo de Elvis Costello, Lost Highway, é igualmente cara-de-pau: “É uma revolução? Não. Mas nossas crenças foram um pouco renovadas, sem mencionar que fizemos um pouco mais de dinheiro. É difícil fazer isso na indústria hoje em dia“.

Como é tão fácil baixar música e todo mundo pode ter tudo que quiser a sua disposição em não muitos cliques, o vinil faz seu sucesso porque vai na contramão disso tudo. É um produto que vem com arte caprichada, muito melhor e maior (e também mais difícil de reproduzir) do que nos pobrezinhos dos cds; só pode ser escutado por um seleto grupo de consumo que tem um toca-discos, o que dá um caráter de exclusividade ao produto, em claro contraponto à putaria do MP3, que hoje todo mundo escuta seja num celular ou num player que cada vez custa menos. O fato de ser um produto exclusivo ainda agrega um “conceito” ao vinil, o que instiga o consumo como um ato necessário para se sentir pertecendo a um determinado grupinho.



Falas como “o vinil tem vida, cheiro, imagem, cor. O CD é frio” dão o tom de quem é fã do vinil. O CD e outros formatos digitais como o MP3 são conhecidos por seu áudio límpido mas excessivamente “magro”, enquanto que no vinil o som é mais “gordo” e propenso a nuâncias das mais variadas origens. Segundo Paulo Assis, que trabalha como produtor de áudio e é colaborador de revistas como Cover Guitarra e Teclado & Piano, isso acontece porque o som de um disco de vinil vem de um sulco no plástico; a onda não está representada por cálculos matemáticos ou algo semelhante, mas está lá, fisicamente presente. A agulha vibra nessas lombadas musicais e essa vibração é o som.

Nas mídias digitais como o CD e o MP3, o som é gerado a partir de informações que representam a onda sonora; para fazer isso, a digitalização vai transformar a curva sonora em uma espécie de “escada”, retirando alguns detalhes (ou erros) da gravação, deixando o som mais “quadrado” e “frio” em relação ao do vinil. É o velho embate do analógico X digital; no vinil, o som é real, original, não sofre nenhm processo ligado à computação de dados, enquanto que o CD (e no MP3 ainda mais) é a cópia da cópia, porque o processo de digitalização não é possível ser feito diretamente da gravação, uma vez que o microfone não transforma o som em zero e um (linguagem de computação).

Acontece que, na maioria dos casos, os “detalhes” perdidos do CD e do MP3 em relação ao vinil não são perceptíveis para o ouvido humano, e muito menos reproduzidos pelos aparelhos convencionais de áudio. O que ocorre, então, é que a questão torna-se um embate mais, digamos, subjetivo, entre aqueles saudosistas que escutaram (pela primeira vez) a música em vinil e não toleram os “cortes” inevitáveis na reprodução para o CD e os que acham que as vantagens do digital – como a possibilidade de armazenar mais informação e a reprodução do áudio mais simples – superam e muito o velho Long Play.



Polêmicas à parte, o certo é que o nicho dos que consomem discos de vinil é cada vez maior. Pega desde audiófilos interessados em escutar todos os detalhes da música em aparelhos ultrapotentes até a gurizada nova que não era nascida na época em que todo mundo só tinha o LP e as fitas k7 como opção para escutar música e agora redescobre o velho bolachão como um ótimo produto a ser comprado, difundido, curtido – o que também coloca o vinil como um conceito interessantíssimo a ser explorado, pois é retrô ao mesmo tempo que torna-se cada vez mais moderno, para alegria dos seguidores de tendências profissionais.

Quem ganha com isso? Muita gente, em especial as fábricas de vinil, que em fins da década de 1990 e início de 2000 estavam por fechar e agora ganham uma sobrevida, e, principalmente, as gravadoras, que sustentam mais um pouquinho um modelo de negócio que muito dinheiro deu à elas durante todo o século passado e que, desta forma, adiam a sua (saudável) morte por pelo menos algum tempo.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

FABICULDADE

# over12 #
Faculdade de Comunicação da UFRGS assina parceria com empresa de comunicação

txt: Arlei 'xuxubeleza' Arnt

Tá pensando que é piada? Parece que é sério. Em função do fechamento da edição #15 da revista O DILÚVIO, e também por carecência de mais informações e fontes consultadas, vamos comentar o facto em breve. Mais hilário que o casamento entre museu de showrnalismo com o próprio showrnalismo, somente o vídeo abaixo:

O efeito das drogas ao volante

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

SÃO JOSÉ DOS AUSENTES



# sem destino #

O interior abandonado
txt n' pht: Alexandre Haubrich

Estive por alguns dias em São José dos Ausentes, norte do Rio Grande do Sul, a cidade mais frio do Estado mais frio do país. Entre paisagens inacreditáveis, uma acolhida inacreditável na pousada onde fiquei e outras muitas coisas inacreditáveis, encontrei um problema que sei que assola boa parte das pequenas cidades brasileiras: a falta de imprensa.

São José dos Ausentes é uma cidade de pouco mais de três mil habitantes, cerca de dois terços deles vivendo na área rural. E é aí que está o principal problema. A rádio local é a Rádio Nevasca FM, de São Joaquim, cidade catarinense – ou seja, está em outro Estado – a 60 quilômetros do Centro de Ausentes. Essa rádio, como se pode perceber, não é exatamente local. Além disso, não pega na área rural.

Jornal? Nem pensar. Há também um jornalzinho local, que também não chega aos locais mais distantes, ao interior da cidade, onde moram mais de duas mil pessoas. Os maiores jornais do Rio Grande do Sul – Zero Hora, Correio do Povo, O Sul… – também não chegam na parte rural de São José dos Ausentes.

A pousada onde fiquei tem uma antena da Sky e uma parabólica. E estes são os únicos canais de comunicação com o resto do mundo. De certa forma, isso é ótimo, pois os moradores destes locais não sofrem com a enxurrada de informações, desinformações, mentiras, publicidade, etc. que tornam os moradores dos grandes centros urbanos máquinas idiotizadas. Por outro lado, demonstra uma falha no alcance dos meios de comunicação, um isolamento social – talvez os isolados sejamos nós mesmos, isolados do mundo real, isolados do que realmente é uma vida digna, não sei.

E esse não é o caso apenas de São José dos Ausentes, obviamente. Rincões por todo o Brasil têm casos idênticos. Considero o mais grave a falta de jornais locais, o que dificulta a integração entre os indivíduos da comunidade. As cidades do interior um pouco maiores também sofrem com esse tipo de problema. Mesmo as que possuem jornais locais sofrem com a falta de qualidade destes. O interior não pode ser deixado de lado.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O DILÚVIO

# umbigada #
A revista que nunca pára de cantar

txt: João Xavi


Tudo começou quando um estudante gaúcho saiu de sua terra pra participar do ENECOM (Encontro nacional de estudantes de comunicação) em Brasília. O encontro de 2001 ficou marcado pela tal Cannabis Cup, uma competição, digamos, não muito convencional. Um dos responsáveis pela “bagunça” era Tiago Jucá Oliveira, então estudante de jornalismo da UFRGS. O jovem estudante voltou pra casa entusiasmado pela troca de idéias proporcionada pelo evento e disposto a colocar parte da efervescência daqueles dias pra fora. Assim, através do bom e velho fanzine, começou sua história no mundo das mídias alternativas.

O primeiro zine produzido por Jucá já nasceu no formato digital, NOÉ LEVA A DOR, circulava pelo e-mail da galera da faculdade, a mesma que havia participado do ENECOM. Os conflitos entre Jucá, a reitoria e os professores inspiraram o trocadilho que batizaria a nova empreitada. Mesmo sem nenhum recurso gráfico, contando apenas com textos, o zine recebeu muitos elogios. O interesse e a curiosidade da rapaziada foi crescendo, a lista de e-mails que recebiam o zine aumentando.

O número seguinte já sairia com o nome de ARCA DE NOÉ, e a numeração passou a ser contada de dois em dois (#2, #4, #6), “porque na Arca só entra par” explica Jucá. Os colaboradores assumiam alcunhas de animais, reais ou ficcionais como o Xuxu, aquele gato da turma do Manda Chuva. O zine era uma ode à boa malandragem, à negação das tradições e ao inconformismo. O número de colaboradores, leitores e desafetos cresceu rápido demais. Em 2002 o zine pediu a colaboração de fotógrafos, escritores e rapidamente apareceu muita gente. Mantendo a referência a Noé, com inspiração no local (existe em Porto Alegre um riacho chamado Dilúvio), somada a inspiração global (a lama e o caos de Chico Science & Nação Zumbi) o web-zine entrou no ar rebatizado como O DILÚVIO.

Daí pra frente rolou uma evolução quase natural. O zine se tornava revista, mas mantinha seu caráter anárquico e questionador. Na quinta edição já havia o esquema de encartar um CD de uma banda independente junto à revista. As primeiras encartadas foram bandas locais, mas logo passou a chover música de todo canto do país. Na sexta edição a revista passou a trabalhar com o sistema copyleft, mas logo depois optariam pelo creative commons: “não gosto da idéia de dono de obras culturais ou informativas, ou científicas. Tem autor, mas não tem dono. É que nem filho, depois que põe na rua ele já não é mais seu. Aprende palavrão, a comer porcaria, a torcer pro time rival. Eu sempre gostei dessas coisas marginais”, sentencia Jucá. Atualmente a distribuição da revista é gratuita. O leitor opta por pagar se quiser levar o disco encartado pra casa.

Operar esses novos e diferentes formatos surgiu como uma alternativa pra Jucá, que nunca se sentiu à vontade pra trabalhar na grande mídia, pois acha a mídia gaúcha muito conservadora.

Atualmente a revista circula por toda Porto Alegre, em um sistema de distribuição em bancas de jornal, e algumas capitais do país, vendida no corpo-a-corpo em festas, universidades, espaços culturais e afins. Além do formato físico, a vida da revista na internet segue intensa. A revista conta com um blog constantemente atualizado, e uma ativa comunidade no orkut.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

VÍDEO REMIX




# agência pirata #
Uma plataforma para a remixagem online de vídeos

txt: Sergio Amadeu da Silveira

Encontrei Jimmy Wales, criador da Wikipedia, no programa RodaViva da TV Cultura, no final do ano passado. Ao perguntar por que a Wikimedia não desenvolvia uma ferramenta para permitir a recombinação de vídeos, Jimmy respondeu prontamente que eles estavam preparando uma plataforma para remixar vídeos, ou seja, para fazer com as imagens em movimento o que já é feito com os textos. Sim, vem aí uma revolução da remixagem.

A plataforma online de recombinação e sampleamento de vídeos provavelmente terá um impacto semelhante ao que ocorreu com os blogs. Antes dos templates, as pessoas precisavam conhecer o mínimo da linguagem html para escrever na web. A invenção dos blogs foi responsável pela explosão da produção de conteúdos na rede. O Kaltura, nome da plataforma de remixagem de vídeos, permitirá que qualquer cidadão recrie histórias, promova a fusão de cenas, torne-se um fanfic de primeira. Os educadores poderão preparar vídeos específicos com imagens que interessam a sua exposição em aula. A ferramenta terá mil e uma utilidades.

Kaltura é uma plataforma para remixagens de vídeos com licenças livres , tais como a Creative Commons. É também desenvolvida como open source e permite a criação, gestão, interação e produção colaborativa de vídeos. Ela permite a edição de vídeos na própria web, o que representa um grande avanço para a criatividade e para a diversidade cultural.

A nova plataforma inclui um conjunto de widgets (componentes de interface gráfica com o usuário) facilmente personalizáveis que podem integrar as aplicações de outras plataformas web de qualquer espécie. Também é possível criar novas interfaces e aplicações aproveitando o grande potencial de interoperabilidade da arquitetura aberta.

A comunidade Kaltura tomou a decisão de exigir que todos os usuários que utilizarem a plataforma tenham que licenciar suas criações em Creative Commons, CC BY-ShareAlike, que exigirá a manutenção a mesma licença para as obras feitas no Kaltura. A idéia é criar uma grande repositório para as novas criações , formando uma verdadeira comunidade de partilha e remixagem. Um imenso território dos commons.

Segundo David Kaplan, da Agência Reuters, a Wikipedia espera lançar o projeto com centenas de milhares de arquivos de vídeos. Para isso já conta com três parceiros: o Internet Archive, que armazena cerca de 200.000 vídeos, incluindo documentários e vídeoclipes; a Wikimedia Commons, que detém 4 milhões de arquivos multimídia e o Metavid, que arquiva os discursos e audiências do Congresso norte-americano.

Se 1983 foi o ano do software livre, a partir da iniciativa de Richard Stallman, 2009 será o ano do vídeo livre, acreditam muitos dos participantes da última Open Video Conference. Sem dúvida, a paisagem do áudio-visual será bastante alterada com o lançamento da plataforma online de vídeo-remix. Para ter uma remota idéia do que poderemos encontrar é interessante observar o trabalho de um músico israelense chamado Kutiman.

A blogueira Lalai descreveu em seu post o brilhante trabalho de remixagem que Kutiman. O música juntou centenas de “pedacinhos de vídeos do Youtube, jogou no liquidificador e transformou em música de primeiríssima. Os vídeos são aleatórios, ele usou sem pedir licença, e sugere que você dê uma olhada nos créditos para ver se você não aparece sem querer em algum deles. O projeto foi honestamente entitulado Thru You.” O slogan do Thru You é “what you see is what you hear”, ou seja, o que você vê é o que você ouve.

Atualmente é preciso muitas habilidades para produzir uma remixagem como a que encontramos no Thru You. Vale a pena navegar pelos remixes de Kutiman no endereço http://thru-you.com/ e ver a sofisticação dos novos arranjos. Com uma plataforma aberta e amigável de recombinações online certamente haverá uma explosão de obras de grande criatividade. O fenômeno do machinima — mini-vídeos gravados no cenário de um game — ocorreu a partir do momento que a empresa que desenvolvia o game Dom lançou um recurso que permitia o jogador gravar sua ação para visualização posterior. Logo, os gamers passaram a utilizar essa aplicação para filmar pequenas histórias dentro do game, usando seus personagens e avatares.

O filósofo Pierre Lévy escreveu no livro Cibercultura que “a obra virtual é aberta por construção”, daí a importância da remixagem para a criatividade. Lévy continua: “participação ativa dos intérpretes, criação coletiva, obra-acontecimento, obra-processo, interconexão e mistura dos limites, obra emergente — como uma Afrodite virtual — de um oceano de signos digitais, todas essas características convergem em direção ao declínio (mas não ao desaparecimento puro e simples) das duas figuras que garantiram, até o momento, a integridade, a substancialidade e a totalização possível das obras: o autor e a gravação”. Pierre Lévy escreveu isto em 1997, mas a tendência recombinante dos segmentos expansivos da rede já era evidente.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

BLACK SONORA




# pinga chuva #
DJ Yuga

pngchv: Tiago Jucá Oliveira
pht: Marcus Santiago


O que a Black Sonora vai apresentar na feira? quais os eventos que participará?

A gente ainda está fechando os eventos que vamos participar. 2 fechados já, um é na feira da musica mesmo e outro é no circuito de bares que estão participando do evento. Vamos tocar no Acervo Musical. O que vamos apresentar é o nosso trabalho que estamos batalhando estes 4/5 anos. Som autoral, com influências na black music mundial.

Que momento da carreira vive hoje a Black Sonora?

Velho... estamos passando por um momento muito legal como banda independente. Acabamos de captar patrocinio para lei de incentivo municipal de gravação do nosso primeiro Album. Fomos selecionados para participar do Edital de Circulação Musica MInas, programa bancado pelo governo estadual (www.programamusicaminas.com.br). Recentemente fomos citado pelo Jorge Ben Jor em entrevista para jornal local (Beagá), isso foi mais que ganhar prêmio, saber que nosso maior idolo e referência musical ouve o nosso som e ainda curte, isso é foda. Além de participar do Feira da Música, evento bacana que dá uma visibilidade legal para bandas que participam. Este ano a gente está focado no CD e de participar dos Festivais Independentes que rola pelo Brasil afora, principalmente os da ABRAFIN.

O que você já pode antecipar em relação ao CD?

Segredo de estado... rs. Então, o cd será de música autoral e mais duas releituras que já fazemos nos shows que são Zum Zum Zum imortalizada na voz do Rei do Ritmo Jackson do Pandeiro e Cassius Marcelo Clay do band leader Jorge Ben Jor e Toquinho, que por sinal adoram nossa versão para essa música. O Jorge ficou super feliz quando ficou sabendo que fizemos uma versão de uma música sua obscura e de um disco mais obscuro ainda rs.. o Negro é Lindo. Estamos na fase de pré-produção. Acertando com produtor musical, participações e outras burocracias de projeto de lei de incentivo.

O tema da feira este ano é tecnologia. você, como músico, o que pensa e enxerga na palavra tecnologia?

O que seria de nós pobres bandas mortais se não fosse a tecnologia. É por causa dela que estamos participando do Feira da Música. O avanço tecnologico tem mudado a cabeça de muita gente, ou virado a cabeça, né? Hoje em dia vc é capaz de gravar e produzir seu disco em casa, com custo quase zero, e com uma qualidade bem legal. Com isso abriu várias possibilidades para todos. O que notamos é que a cena independente é a que mais tem feito coisas legais, não só sonoramente falando como atitude diante dos novos tempos. E isso é graças a tecnologia. Hoje nossa música pode ser ouvida aqui em Beagá como tbm no Acre, Tocantins, India, Senegal, Sri Lanka... não existe mais fronteiras. E quem está antenado com as novas tendencias tecnologicas está um passo a frente.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

JORNALISMO É ARTE




# agência pirata #
O resto é conversa fiada

txt: Antonio Vieira

Um acadêmico resolveu descrever em um livro suas experiências no mundo da matemática. O fato é que morava em um país, onde para exercer a atividade, obrigatoriamente teria que possuir “Diploma de Escritor”. Impossibilitado, a solução foi escrever, verter para outra língua e publicar no estrangeiro. Lançado nestas circunstâncias o livro teve enorme sucesso, sendo, então, traduzido e editado em diversos países, inclusive no seu.

Afinal, para escrever deveríamos ter diploma? O que se esconde neste exército a favor do Diploma obrigatório?

Ao contextualizarem exaltando tal fonte como única indutora da ética, da capacitação: tropeçam feio, pior, nos próprios pés. Inacreditável, a pasmaceira em plena aldeia global, onde novas conectividades e tecnologias, dinamizam os conceitos, os formatos, os meios e modelos, quebrando paradigmas. Porque impedir que alguém escreva seja ou não profissional, se este é um dos princípios basilares da liberdade de expressão?

A intenção de vender a imagem de que o jornalismo é uma profissão essencialmente técnica é absurda, irreal. Fatos sociais ou políticos sempre terão a possibilidade jornalística de expor diversidade conceptiva e textual. Entendo o jornalismo como arte, nobre arte, conceitualmente livre, mesmo quando encerra equívocos interpretativos, faz parte da liberdade que se prega e que deve ser protegida. Escrever é a expressão de um dom: e tal condição não foi, não é, nunca será restrita apenas a diplomados.

Óbvio, nada temos contra o bom ensino, o valor do diploma, as boas faculdades, os bons docentes, muito pelo contrário, somos contra o que aí está, uma máquina de sonhos iludindo jovens. Aprendem pouco da realidade do mercado, das grandes redações, da liberdade restrita, dos interesses envolvidos. Nos espantamos com tantos arautos da Ética e lembramos do Cazuza, “sua piscina está cheia de ratos, suas palavras não correspondem aos fatos...”.

A grande imprensa é permeada pelo viés político, pelo interesse privado e muito poucas vezes pelo real interesse público. A mídia pública sofre ingerência política de toda ordem. A decisão do STF muito mais do que libertar o exercício do jornalismo libertou a criatividade e a arte no escrever. Cabe a nós exercer bem este papel.

Tivemos nossa experiência com a ditadura militar, basta! Herdamos um sindicalismo dos anos 40, viciado, casuísta, basta! Lutaremos contra as imposições absurdas de uma legislação perdida no tempo, que na verdade atua “contra” os profissionais como esclareceremos gradativamente.

O mundo transforma a relação patrão e empregado, no futuro seremos parceiros, frilas, surgem novos rumos e possibilidades. A Internet, a rede, são exemplos da liberdade transformadora, os blogueiros, sem lenço, documento ou diploma, estão pautando as noticias. O engraçado é que são eles a fonte da grande mídia.

Viva a arte de escrever! Viva a terceira onda! Viva o visionário Alvin Toffler, ele previu: os rápidos engolirão os lentos, o resto é conversa fiada.

(*)Antonio Vieira é contabilista, administrador de empresas, com especialização em matemática financeira, jornalista “sem diploma” por amor a arte de escrever. Presidente da Associação Brasileira dos Jornalistas – ABJ - Entidade que associa jornalistas com e sem diploma.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

TOP 10 JULHO 2009



10 termos mais pesquisados na internet e que chegaram até aqui pro blog

1. Putas a foder
2. Foder
3. huuu Michael Jackson
4. O DILÚVIO
5. Foder putas
6. O DILÚVIO blog
7. Rafael Crespo
8. Zerolandia
9. Tecnobrega
10. Dilúvio


10 músicas mais ouvidas em O DILÚVIO Space Radio

1. Richard Cheese - Beat It
2. Lily Allen - Not Fair
3. Michael Jackson e Olodum - They Dont Care About Us
4. Jackson 5 - The Love You Save
5. Lucas Santtana - Super Violao Mashup
6. Michael Jackson vs. Ratatat - Billie Wildcat Jean
7. Marcelo D2 - Desabafo
8. Rick Astley - Never gonna give you up
9. Metamix - Three Bikinis on the Rocks
10. Cibelle vs Koçani Orkestar - Maxutu



10 páginas mais visitadas aqui neste blog


1. Putas a foder
2. Instituto e Thalma de Freitas
3. TOP 10 JUNHO 2009
4. A nova música brasileira
5. Dama da Noite
6. Contra a obrigatoriedade do diploma de prostituto
7. Pública
8. Clayton Barros
9. Alexandre Pato
10. Jupiter Maçã


10 cidades que mais leram este blog

1. Porto Alegre
2. São Paulo
3. Rio de Janeiro
4. Lisboa
5. Belo Horizonte
6. Porto
7. Recife
8. Santos
9. Fortaleza
10. Brasília


10 fontes que mais acessaram este blog

1. Google
2. Twitter
3. Orkut
4. direct
5. Facebook
6. Yahoo
7. O Globo
8. Jornalismo B
9. O DILUVIO
10. Pendurado Para Secar

terça-feira, 4 de agosto de 2009

SOBRADO 112




# pinga chuva #
Um breve bate papo com Victor Gottardi, do Sobrado 112

ntrvst: Bruno Freitas


A Feira da Música de 2009 promete. São 60 artistas de 18 estados
diferentes, culturas diferentes e principalmente referências musicais
diferentes. Isso tudo colabora muito pra que os artistas da nova
geração se inspirem uns nos outros, aprendam com as experiencias dos
outros. Temos lá o grande mestre Marku Ribas, Chico Correia e Eletronic
Band, Academia da Berlinda, Wado e muito mais.

A maioria desses novos grupos chegaram num momento diferente no
mercado fonográfico,um momento onde a mídia física não tem mais tanta
importancia,onde a internet pode fazer a diferença,a tecnologia cada
vez mais avança e nos trás mais maneiras de divulgar as bandas,e quem
cordena isso tudo somos nós.

Estamos muito felizes em participar da Feira pois tivemos uma
experiencia muito boa com a internet e as plataformas digitais. Nossa
primeira ação quando o primeiro disco do Sobrado 112 ficou pronto foi
coloca-lo num blog. A partir daí, os outros blogs começaram a se ligar e
postar nosso disco também. Hoje o sobrado está em mais de 15 blogs e num
período de um ano mais ou menos, tivemos uma media de 8.000 discos
baixados. Vendidos nós temos uns 500. Isso da pra mostrar como essa
coisa do download mudou a história.

Vai ser bacana participar da Feira e dividir o palco com essa galera
que usufrui dessas plataformas e estão cada vez mais atreladas a
tecnologia e novas formas de divulgação da musica independente.

#ALGUNS DIREITOS RESERVADOS

Você pode:

  • Remixar — criar obras derivadas.

Sob as seguintes condições:

  • AtribuiçãoVocê deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante (mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra).

  • Compartilhamento pela mesma licençaSe você alterar, transformar ou criar em cima desta obra, você poderá distribuir a obra resultante apenas sob a mesma licença, ou sob licença similar ou compatível.

Ficando claro que:

  • Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais.
  • Domínio Público — Onde a obra ou qualquer de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença.
  • Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença:
    • Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis;
    • Os direitos morais do autor;
    • Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade.
  • Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página.

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