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O premiado filme peruano
txt: Ale Lucchese
Ontem fomos assistir A Teta Assustada, tá lá em cartaz na Casa de Cultura Mario Quintana, sala Paulo Amorin, se não me engano – confirmem no google e já aproveitem para ver os horários. O filme é peruano, e ganhou o Urso de Ouro em Berlim. Ou seja, é um peixe grande feito pelos nossos vizinhos latinos: não iria me perdoar de não vê-lo no cinema.
A história é de uma menina que teria o tal mal da “teta assustada”, considerado na crença indígena uma enfermidade que passa pelo leite das mulheres que foram abusadas sexualmente – coisa bastante corriqueira para uma geração que teve de conviver com a guerrilha. O mal deixaria filhos e filhas medrosos, assustados, sempre inseguros. Continua dando o clima de realismo mágico o fato de a protagonista criar uma batata dentro da vagina como método para evitar estupros.
Sim, realismo mágico. O filme tem um clima de encantamento, mas um encantamento profano, cheio de areia, de dor, de alegria, de ruído e música. Para completar, há um certo humor na família da heroína, que prepara casamentos para noivos muito pobres. Mas é um humor repleto de poesia, não de barbarismo e zombaria. Um equilíbrio muito bonito de ser visto nas telas.
Mas o mais impressionante disso tudo é o que esse filme tem causado no Peru. Segundo o relato de uma amiga nossa que mora por lá, a repercussão é comparável ao que Cidade de Deus representou para o Brasil – talvez até maior, visto que a cinematografia peruana é ainda mais diminuta.
O fato é que Magaly Solier, atriz e cantora que interpreta o papel central da trama, é uma descendente de indígenas, e que deixa isso bem claro na cor de sua pela, na maneira de se vestir, de usar o cabelo… Depois ter sido sucesso nos maiores festivais de cinema do mundo e de estar lotando teatros com seus shows, Magaly é o ídolo midiático mais parecido com o que a maioria das mulheres peruanas enxergam em seus espelhos. Isso tem reforçado a auto-estima desta população, gerando um sentimento de saudável orgulho em relação às suas raízes e identidade.
Aém disso, Magaly levou para as rádios e telas canções em quechua – língua herdada do Império Inca e falada cotidianamente por mais ou menos 10 milhões pessoas na América do Sul. Pessoas essas que muitas vezes se envergonham de falar a língua de seus antepassados fora de casa, apesar de se comunicarem basicamente por ela entre os seus amigos e parentes. Agora, com Magaly invadindo as caixas de som de lá e de além, parecem se envergonhar um pouco menos – e levarem a cabeça um pouco mais erguida
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