::txt::Pitágoras::
Muita gente se impressiona com os números superlativos do Rock in Rio. Como pai da matemática, eu não me espanto com número nenhum. O que há, sim, de surpreendente nesse evento é a enorme celebração, por parte do público e da imprensa, em torno de algo que caminha para a extinção: a canção popular. Esteja ela sob o rótulo de pop, rock, samba, metal etc. Não interessa. Seu fim parece uma questão de tempo. O próprio Chico Buarque disse em uma entrevista de 2004 que "assim como a ópera, a música lírica, foi um fenômeno do século XIX, talvez a canção, tal como a conhecemos, seja um fenômeno do século XX”. Quem sou eu para discordar do Chico? Sou o fundador da primeira universidade do mundo. Desculpe, não deixo nem de responder perguntas retóricas feitas por mim mesmo.
O Rock in Rio ainda mobiliza imensos rebanhos porque o seu público é formado por pessoas que nasceram no século passado. Basta olhar as atrações para confirmar isso. Por isso, é natural que esses megashows ainda atraiam multidões que gostam de fila, banheiro químico e canções. As pessoas que procuram esse tipo oneroso de tortura cresceram dentro de um sistema cultural em que artistas da música eram figuras de destaque e candidatos à idolatria. Qualquer sacrifício para vê-los no telão é justificado.
Mas por que o homem que se notabilizou pelo teorema que diz que a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa está a falar de Rock in Rio e canções populares? Excelente pergunta, Pitágoras. Às vezes, até fico bobo com a argúcia de meu raciocínio. Pois bem, vamos isolar x para responder. Sendo que x aqui está sendo usado como figura de linguagem. Detalho esse aspecto, antes que alguém saia fazendo contas. E, por favor, pare de anotar feito louco e preste atenção ao que estou dizendo. Que coisa.
A tecnologia hoje está ocupando o palco que era da música. A admiração endereçada a cabeludos, carecas e tatuados portando instrumentos musicais aos poucos vai migrando para jovens que criam aplicativos, desenvolvem sistemas operacionais ou que inventam uma nova rede social. Que podem igualmente ser tatuados, carecas e cabeludos ou de qualquer outra aparência. Ao contrário do roqueiro, o nerd há muito tempo perdeu o uniforme.
Em breve assistiremos festivais de cultura digital de grandes proporções. Onde meninas histéricas desmaiarão na frente de um programador de HTML 18, esmerilhando o seu teclado. Garotos cantarão, como refrões, roteiros de Java Script. Esses "Nerds in Rio" terão também suas noites nostálgicas, aos moldes dos atuais anacrônicos festivais de música. Bill Gates, por exemplo, fará muito bem o papel que hoje cabe a Elton John.
Quando esse dia inevitável chegar, estudantes que sofrem com cálculos, fórmulas, equações vão parar de me maldizer. Séculos de ódio voltados ao homem que transformou uma série de procedimentos empíricos em uma elaborada estrutura lógica, conhecida também como matemática, cessarão.
Encerro este post com um antigo pensamento. Agora você deve anotar. A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se. Ao que, depois de vários dias de show na Cidade do Rock, acrescento: a chegada é um parto e a saída é de matar.
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