# agência pirata #
Lá vem o homem da gravata florida
txt: Pedro Alexandre Sanches
Apesar de histórica resistência, Wilson Simonal (com Pelé na foto) está enfim de volta às paradas, com a estreia do documentário Ninguém Sabe o Duro Que Dei, de Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, em cartaz desde sexta 15. Irônico é que Simonal atribuía à Rede Globo grande parte da responsabilidade pelo ostracismo que amargou entre 1971 e a morte, e hoje tem sua história resgatada por um funcionário da casa (Manoel, comediante do Casseta & Planeta), sob co-produção da Globo Filmes.
Simonal (1939-2000) foi o artista brasileiro mais popular da virada dos anos 1960 para os 1970, e caiu em absoluta desgraça com a disseminação da suspeita (nunca provada) de que seria informante da ditadura. Atrás do rastilho de pólvora que o implodiu no momento em que encantava Sarah Vaughan e era regravado por Stevie Wonder, estava o jornal de esquerda O Pasquim, onde surgiu a ilustração do "dedo-duro" de Simonal. Eram ligados ao tabloide os ex-parceiros comerciais do cantor Carlos Prosperi, Carlito Maia e João Carlos Magaldi, esse último futuro alto-executivo da Globo.
O tema é espinhoso e o documentário [NÃO *] chega a tocar nos nomes de Magaldi, Prosperi e Maia, todos já falecidos. Ainda assim, é trabalho que avança até onde nunca se chegou em respeito à fabulosa e trágica história do garoto de favela que virou ídolo nacional, depois inocente útil e por fim bode expiatório da esquerda e da direita. O trio diretor preocupa-se em desenhar o personagem sem lhe atribuir inocências nem culpas, e o faz com pleno sucesso.
Chocante e comovente, o filme abre caminho para próximos passos. Deixa em aberto o ambíguo papel da mídia (a Globo, mas não só ela) como coautora da ascensão e mais tarde um dos carrascos na derrocada de um artista crucial.
(*) o termo entre colchetes deveria constar do texto, mas por cochilo meu sumiu e inverteu o sentido da frase.
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