O caipira é nosso punk
txt: Junior Bellé
phts: Aline Vessoni
A culpa é do Tião Carreiro. E do pagode do Pardinho. Doze anos após se encontrarem no Circo Rapa Rapa em 1954 e formarem a mais inovadora dupla do sertanejo de raiz, resolveram abrir a porteira para o "Boi Soberano". Ele galopou por trinta e sete primaveras até atropelar os tímpanos dos primos Leandro Delmonico e Igor Filus. Os dois jovens acabavam de desatolar da rebeldia punk ao descobrirem que aquela história de romper padrões era, na verdade, o padrão da rebeldia. Foi então que em 2003 a viola de Pardinho dilatou os acordes eletrificados de Clash, Cohen, Bowie, Smiths e Legião que embalavam as sinapses musicais dos primos. Tudo acabou misturado num liquidificador paranaense e assim nasceu o Charme Chulo: "a gente escutou uma moda do Tião Carrero e falou 'meu deus, isso tem a ver com a banda'. Não foi Bob Dylan nem Johnny Cash, foi Boi Soberano, uma música que marcou muito o começo da banda", explicou Leandro, fundador, guitarrista, violeiro e junkie box brega da banda.
É por isso que dizem por aí que a curitibana Charme Chulo é uma mistura do punk inglês dos 1980 com a viola do interioRzão véio. Vem desta mistura escandalosa o embrião original da banda: é rock – mas caipira -, é caipira – mas cosmopolita -, é indie – mas nem tanto -, é moderno – mas chulo -, é chulo – mas charmoso -, é Charme Chulo – mas sem clichês baratos como este! É por isso que os etiquetam nas resenhas musicais como pós-punk rural, folk tupiniquim, rock caipira. Grande parte do charme vem das dez cordas em cinco pares, A Viola, "que foi inserida dentro do conceito da banda, ela é um dos elementos do nosso som", anotou Igor, vocalista, arquiteto, fundador e o penteado oitentista charmoso do Charme.
"A gente tinha a necessidade de algo paranaense, o que a gente enxerga como caipira. Porque, bem, tem o fandango no litoral, e a gente tem alguma coisa que lembra o fandango, mas não é algo significativo no Brasil. Por exemplo, Londrina e Maringá, o noRtão ali é muito caipira, e o sul é gaúcho, então a gente fez algo com sanfona, acordeão também", Leandro comenta sobre a raiz caipira que originou o Charme, e que será o tutano do segundo álbum da banda. Sem produtor, data ou nome definidos, a única certeza é que a partir deste próximo disco, o Charme vai soar mais "Mazzaropi Incriminado" e "Polaca Azeda" e menos "Não deixe a vida te levar". Ou seja, nada de bipolaridades como "Romaria dos Desvalidos" e "Barretos".
Além disso, a trupe paranaense pretende mexer num detalhe interno importante: é possível que Rony Jimenez – baterista e a aura punk da banda – e Peterson Rosário – baixista e aquele brado Helena Meirelles do back vocal – "já nesse segundo disco comecem a compor junto, talvez já tenha música deles também", explica Igor. Mas enquanto os dois vão se integrando à banda e assimilando a chulice charmosa, melodia e letra permanecem a cargo de Igor, e o instrumental com Leandro: "bem no comecinho o Igor compunha muito mais, depois a gente começou a ver que eu vindo com uma idéia e ele pegando essa idéia e desenvolvendo ficava melhor, se tornou meio que uma fórmula pra gente, com exceções de músicas que eu componho inteiras, mas essas são exceções. E é claro que o Rony e o Peter arranjam com a gente, cada vez mais a banda vem absorvendo as influências deles e futuramente eles vão assinar musicas também". O objetivo, pontua Leandro, era chegar ao primeiro disco com algo definitivo, Peterson e Rony são essa definição, "hoje não dá pra imaginar a banda sem eles, a gente formou uma banda MESMO".
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